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SP.2 – NEM EXISTE MAIS? MÓDULO: DOR 1. DIFERENCIAR ANALGESIA E ANESTESIA Embora analgesia e anestesia tenham objetivos semelhantes, que é eliminar a dor eles são procedimentos bem diferentes. Anestesia refere-se à cessação induzida da percepção dolorosa. É dividida em 3 tipos diferentes: 1. Anestesia geral: implica na perda reversível e controlada da consciência, o que significa que o paciente não consegue sentir, ouvir ou lembrar-se de nada. Vamos ter a suspensão se algumas funções fisiológicas como a respiração, que deve ser mantida artificialmente. Ao mesmo tempo, o paciente vai receber drogas que desfazem o tônus muscular e paralisam os movimentos. No final da anestesia geral, os pacientes recebem agentes para reverter esse estado. Esse tipo de anestesia é utilizado em cirurgias de grande porte. 2. Anestesia regional: ela vai tornar uma região do corpo insensível à dor, sem abolir a consciência. É o caso da anestesia raquidiana ou peridural, em que a pessoa fica anestesiada da cintura para baixo. É bastante utilizada em partos. 3. Anestesia local: ela deixa uma pequena área incapaz de sentir dor. É utilizada em pequenas cirurgias como extração de dentes. O estado neurofisiológico produzido pelos anestésicos gerais caracteriza-se por 5 efeitos principais: perda da consciência, amnesia, analgesia, inibição de reflexos autônomos e relaxamento da musculatura esquelética. Nenhum dos anestésicos disponíveis é capaz de produzir todos esses efeitos desejados. A prática baseia-se no uso associado de fármacos que permitem uma analgesia profunda com manutenção de vias respiratórias desobstruídas. Para procedimentos cirúrgicos mais extensos, a anestesia pode começar com a administração pré- operatória de benzodiazepínico, ser induzida com anestésico intravenosa (tiopental ou proporfol) e mantida com uma associação de fármacos inalatórios (oxido nitroso) ou IV (proporfol, opioides...). Os anestésicos afetam os neurônios em vários locais celulares, porem o principal foco tem sido a sinapse. Eles podem produzir uma inibição reforçada ou diminuição da excitação dentro do SNC. Já a anestesia local refere-se à perda de sensação em uma região limitada do corpo. É obtida pela interrupção do fluxo neural aferente por meio da inibição da geração ou propagação de impulsos. Esse bloqueio pode induzir outras alterações fisiológicas como paralisia muscular e supressão de reflexos somáticos ou viscerais. No entanto, o principal objetivo é a perda de sensação, ou pelo menos a obtenção de analgesia localizada. Embora os anestésicos locais sejam frequentemente utilizados como analgésicos, a sua característica diferencial consiste na capacidade de produzir uma perda completa de todas as modalidades sensoriais. Um detalhe importante é que na anestesia local o fármaco é administrado diretamente no órgão alvo, seja na aplicação tópica, seja nas proximidades de terminações nervosas periféricas, injeção nos espaços epidural ou subaracnóideo circundando pela medula espinal. ANALGESIA: A analgesia é definida simplesmente como alívio da dor, sem afetar os níveis de consciência dos pacientes. Os analgésicos são uma classe extensa de medicamentos, que se dividem em dois tipos básicos: 1. Os analgésicos centrais: reduzem a percepção da dor e diminuem a atividade cerebral, provocando sono. São os analgésicos mais fortes, utilizados em dores de maiores intensidades. O mais potente deles é a morfina. A grande desvantagem desses analgésicos é a possibilidade de causarem rápida dependência. 2. Os analgésicos periféricos: esses analgésicos inibem a produção de determinadas substâncias e, com isso, diminuem a sensação de dor. 2. EXPLICAR O MECANISMO DA DOR NEUROPÁTICA, TIPOS E ENTENDER SEU QUADRO CLÍNICO (SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL E PERIFÉRICA E MODULAÇÃO, RELACIONANDO HIPERALGESIA E ALODÍNEA) A dor neuropática resulta de dano ao SNC ou sistema nervoso periférico. Não é necessária a estimulação dos nervos para que o paciente informe que sente dor. A dor pode ser leve ou muito intensa, sendo descrita, muitas vezes, como uma sensação de queimação ou cauterização. Tem localização pouco definida e não responde às intervenções convencionais. Comumente, a dor neuropática é contínua, e não intermitente. Pode ser acompanhada por parestesias, sensações de calor ou frio, formigamento, dormência ou paralisia. Como o resultado da lesão dos nervos, é comum a dor neuropática se transformar em um sintoma crônico que pode ser gravemente debilitante. De acordo com a International Association Study of Pain (IASP), dor neuropática é aquela desencadeada ou causada por lesão primária ou disfunção do sistema nervoso. Recentemente, um comitê do IASP passou a concentrar a dor neuropática como aquela decorrente da lesão das estruturas do sistema nervoso somatossensitivo. Os neurônios sensitivos têm a função de conduzir informações para vários centros do SNC envolvendo grau elevado de especialização regional. As terminações nervosas são especializadas em codificar a informação sensitiva e originar potenciais de geração e de ação nos nervos periféricos. Via tais estruturas, as informações alcançam o CDME (corno dorsal da medula espinhal) sem modificações qualitativas ou quantitativas marcantes. As projeções centrais e suas sinapses são especializadas na transferência das informações do SNP para os sistemas de processamento central. As propriedades funcionais dos axônios e das unidades centrais devem ser mantidas íntegras para que a informação sensitiva seja processada de modo adequado. Havendo modificações da função ou da anatomia das terminações nervosas, troncos nervosos periféricos ou das vias de condução e de processamento central da informação sensitiva, podem manifestar-se dor espontânea ou produzida por estímulos não nocivos devido à instalação de focos ectópicos de potenciais de ação nas fibras nervosas periféricas, gânglios das raízes sensitivas e nas unidades neuronais centrais, atividade anormal das unidades de processamento central das aferência sensitivas periférica e central, sensibilização dos nociceptores pelas substâncias algiogênicas produzidas nos tecidos ou neles liberadas, e atividade do SNNVS (sistema nervoso neuro vegetativo periférico) ou das vias sensitivas, sensibilização dos neurônios nociceptivos no SNC, reorganização sináptica e desenvolvimento de sinapses aberrantes no CDME e reações físicas, psíquicas, neuroendócrinas e neurovegetativas associadas à dor e à incapacidade. A dor neuropática é um estado de má adaptação provocada por alterações funcionais e estruturais das vias sensitivas centrais e periféricas que produzem modificações no processamento das informações nociceptivas. A dor neuropática pode ser provocada por qualquer lesão nas raízes e nervos periféricos, na medula espinal, no tronco cerebral e no encéfalo. É uma entidade complexa e heterogênea, com sinais e sintomas que podem flutuar em intensidade com o tempo. Suas características principais são a presença de dor espontânea ou dor provocada por estímulos não-nocivos nos locais afetados; uma combinação de perda sensitiva e hiperalgesia na área dolorosa. As condições etiológicas associadas à dor neuropática estão relacionadas com o comprometimento do sistema nervoso central e periférico. SINAIS E SINTOMAS Os dois tipos principais de dor neuropática são aquelas desencadeada por estímulos e independente de estímulos. A dor desencadeada por estímulos caracteriza-se por sinais de hiperalgesia e alodinia, que resultam da estimulação mecânica, térmica ou química. Já a dor independente de estímulos pode ser persistente ou paroxística, e em geral é descrita como pontadas, fisgadas ou queimação. As parestesiase as disestesias podem ser espontâneas ou provocadas. ↳ Dor desencadeada por estímulos Hiperalgesia: É uma resposta dolorosa exagerada produzida por um estimulo que normalmente provoca dor. Ela pode ter mecanismos centrais, periféricos ou ambos. No sistema nervoso periférico, o que explica esse mecanismo é a sensibilização dos nociceptores pode ser atribuída à liberação de mediadores inflamatórios. Outro mecanismo periférico envolvido nesse processo é a formação de um neuroma que vai gerar um foco de hiperexcitabiliade. Alodinia: Significa uma dor provocada por um estimulo que normalmente não é doloroso. Isso pode ser atribuído à sensibilização periférica, devido à liberação persistente de substancias inflamatória no local. Além disso, podem ocorrer alterações nas células do corno dorsal da medula que resultam em sensibilização e reorganização centrais que podem provocam alodinia. Outra alteração central que contribui para o desenvolvimento de alodinia é a perda dos controles inibitórios que se projetam para as camadas superficiais dos cornos dorsais. ↳ Dor independente de estímulos A dor espontânea pode ocorrer sem um estimulo desencadeante, de modo que os sintomas podem ser contínuos ou intermitentes. As parestesias e as disestesias podem ter origem periférica em virtude dos impulsos ectópicos que percorrem as fibras AB, Adelta e C que se originam como atividade espontânea devido aos vazamentos dos canais de sódio. Os disparos paroxísticos ou dor em choque elétrico, bem como a dor em queimação continua se originam das descargas ectópicas ou efápticas geradas por qualquer tipo de fibra. Essa dor também pode ser causada pela depressão das vias inibitórias descendentes. SENSIBILIZAÇÃO PERIFÉRICA Após uma lesão, seja traumática ou patológica ocorre uma sucessão de eventos, com a liberação de diversas substancias com presença de peptídeos, neurotransmissores, citocinas, íons dentre outras. O que essas substancias vão ter em comum é a capacidade de gerar inflamação, que é a resposta natural dos tecidos corporais na tentativa de eliminar a lesão e tentar estimular o processo de cura. Porem alguns componentes dessa inflamação tem a capacidade de modular a excitabilidade dos nociceptores, tornando essas estruturas mais sensíveis aos estímulos térmicos e mecânicos, como por exemplo, temos as prostaglandinas originadas do ácido araquidônico vindo de membranas de células lesionas. A bradicinina que é originada pela clivagem de proteases de tecidos lesionados e também os íons K+ que são liberados por células danificados. Essas três substâncias são chamadas de álgicas, pois tem a capacidade de causar excitação na fibra nociceptiva e consequentemente deflagrar sinal nocivo que é percebido como dor. Em relação a essa excitação neuronal na fibra nociceptiva que está no local da lesão, vamos perceber que existe um fluxo elétrico que vai em direção ao cérebro levando a informação dolorosa, mas também há um reflexo axônico local, ou seja, além de conduzir o sinal nocivo, a fibra no local da lesão vai liberar uma serie de substancias, como por exemplo, a Substância P que tem efeitos pró-inflamatórios, já que ela se liga aos vasos, causando vasodilatação e aumento da permeabilidade. Além disso, essa substancia também está envolvida na deagranulação de mastócitos que libera histamina, que também vai estar envolvida na excitação neuronal. Todas essas substancias álgicas vão participar do processo de sensibilização periférica, ou seja, elas vão reduzir o limiar de dor dessas fibras, disparando cada vez mais a estímulos menores. Além disso, elas também vão estar envolvidas na ativação de nociceptores que até então estavam silenciados, mas que agora vão passar a disparar estímulos dolorosos. No local da lesão traumática do nervo vamos ter o coto do axônio. Esse estado é classificado como deaferentação, no qual o neurônio esta privado das suas aferencias, pois a continuidade do axônio foi rompida por uma lesão. Dentro de alguns dias ocorre nesse local o brotamento, que é uma reação normal do neurônio lesionado. Sendo que o coto proximal vai emitir vários brotos em direção ao coto distal na tentativa de reestabelecer a continuidade do axônio. Só que nem sempre isso vai acontecer. E quando esses brotos que estão crescendo rapidamente, não encontram a continuidade do axônio, eles tendem a se enrolar e formar uma massa que é constituída por vasos sanguíneos, tecido fibroso, grumos de axônios não mielinizados e células de Swuahn formando o que chamamos de Neuroma. E a formação desses neuromas a partir do brotamento favorece as aferencias nociceptivas, já que esse neuroma é fonte de potencial elétrico espontâneo dando origem ao fenômeno de Descargas ectópicas. A partir desse momento, impulsos elétricos vão ser disparados espontaneamente ou a partir de estímulos que não são considerados dolorosos. E a explicação para essas descargas ectópicas está tanto na sensibilização periférica quanto em relação ao aumento da densidade dos canais de sódio e cálcio que agora vão se acumular no neuroma. E esse aumento da expressão e efetividade dos canais na lesão gera uma redução crônica do limiar de excitabilidade desses neurônios, uma vez que facilita bastante o influxo de cálcio e de sódio do meio extracelular para o meio intracelular no sentindo da despolarização desses neurônios, perpetuando a dor. Portanto, temos descargas ectópicas sendo acionadas a todo o momento por neurônios lesionados e por neurônios que estão próximos a estes lesionados. E é aqui que entra o conceito de transmissão Efática onde neurônios lesionados estão disparando muitos impulsos, e essa corrente elétrica tende a passar lateralmente para os neurônios adjacentes. Então, todos os neurônios próximos a essa lesão passa a disparar, como se houvesse um curto circuito local. Outro fator de facilitação da dor diz respeito na atuação do sistema nervoso autônomo simpático. O que observamos é um brotamento de fibras pós- ganglionares simpáticas para o local da lesão e também para o corpo celular da fibra aferente primaria lá no gânglio dorsal. E através dessa ligação entre sistema simpático e nociceptivo, a norepinefrina vai ser causadora de dor. Isso porque, outro mecanismo é a proliferação dos receptores alfa-adrenérgicos no local da lesão e também no corpo celular do neurônio lesionado. Portanto, observa-se que o simpático através da liberação de norepinefrina no gânglio dorsal da medula vai agora causar dor, o que define o quadro de dor simpaticamente mantida, que faz parte da síndrome complexa de dor regional que é um tipo de dor neuropática. Por fim, lembrando que a lesão neural envolve a infiltração e ativação de leucócitos nos tecidos neurais. E a ativação especial de macrófagos é importante, uma vez que as substancias liberadas por essa célula podem ajudar no sentindo da hiperexcitabilidade dos neurônios, como por exemplo, o TNF-alfa pode estar associado ao favorecimento das descargas ectópicas, conferindo maior facilidade para o processo doloroso. Portanto, todas essas alterações fazem do neurônio lesionado, uma célula explosiva, pois ele vai disparar mesmo sem estímulos ou estímulos baixos, mandando informações para o corno dorsal da medula espinhal. SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL Como já vimos, os neurônios explosivos vão disparar bastante impulso elétrico e consequentemente vai estar chegando muito neurotransmissor excitatório no corno dorsal. Esses neurotransmissores podem ser aminoácidos como o glutamato e o aspartato, mas também pode ser peptídeo como a substancia P. No ponto de contato de uma fibra nociceptiva aferente primaria e um neurônio de largo espectro do corno dorsal da medula espinhal vamos ter a despolarizaçãoda porção proximal da fibra liberando glutamato. Na fenda sináptica, o glutamato ele tem dois receptores esperando por ele na membrana pós- sináptica, que é o receptor AMPA e NMDA. Quando o glutamato se acopla no receptor AMPA, ele se abre e permite o fluxo iônico de sódio para dentro da célula. Isso porque o AMPA é um receptor dependente de ligante. Isso vai gerar uma despolarização no neurônio de segunda ordem Já o NMDA é diferente, pois a sua simples ligação com o glutamato não permite que ele realize sua função, uma vez que esse receptor é dependente de voltagem e no potencial de repouso ele vai estar bloqueado pelo Mg+. Então não faz diferença se o glutamato se acoplar a ele ou não. Porém, o receptor AMPA está aberto permitindo influxo iônico e isso vai levar a uma despolarização, que gera um aumento do potencial de repouso culminando na abertura do NMDA, fazendo com que o íon Ca++ entre. Esse grande influxo de cálcio para dentro do neurônio vai gerar uma potenciação de longa duração (LTP) nesse neurônio de segunda ordem sendo responsáveis por uma maior responsividade aos estímulos dolorosos. Portanto, o cálcio consegue ativar proteinoquinases C. Estas por sua vez, vão exercer uma série de funções dentro do neurônio. Um desses mecanismos seria através da indução de inserção de novos receptores AMPA na membrana desse neurônio. Então vamos ter glutamato sendo liberado e também tem muitos receptores. Desse modo, está chegando o impulso nervoso e agora o neurônio de 2º ordem tem o aparato para amplificar esse sinal. Essa amplificação é chamado de Wind up, onde observamos a amplificação dos sinais dolorosos transmitidos. Então, em nível de corno dorsal, esses neurônios vão responder cada vez mais intensos aos estímulos. Outras alterações em nível de SNC dizem respeito ao brotamento de fibras AB na medula espinhal. Em condições normais as fibras AB que são de grande diâmetro, de alta velocidade são fibras táteis. Elas chegam ao corno dorsal e inervam as regiões mais profundas. Enquanto as fibras dolorosas Adelta e C inervam as regiões mais superficiais do corno dorsal. O que acontece é que a lesão das fibras nervosas periféricas pode induzir o brotamento das fibras AB para regiões mais superficiais do corno dorsal, e esse processo se dá através da indução de fatores de crescimento nervoso (GNF) e pelas própria células do SN. Portanto a consequência clinica disso é que os estímulos táteis vão ser interpretados como dolorosos na medula espinhal, justamente por conta dessa reorganização das fibras AB, que vão entrar como constituintes do sistema nociceptivo. Outra alteração está relacionado à proliferação da micróglia na medula espinhal. Essas células estão associadas à ativação do sistema imune no local levando a liberação de citocinas inflamatórias e substancias citotóxicas. Isso vai estar relacionando com a excitabilidade local e alterações neuroplasticas. Outra alteração central diz respeito à inibição da modulação da dor. E isso vai acontecer quando interneuronios inibitórios mediados por GABA, glicina e encefalina, além das vias inibitórias descendentes mediadas por transmissores como a serotonina e a norepinefrina que vão ter as suas funções deprimidas. Isso aumenta a chance de que os neurônios do corno dorsal disparem espontaneamente ou dispare com mais vigor aos estímulos aferentes primários, pois não vai haver o equilíbrio desse sistema com a via descendente de modulação da dor. Por fim, todos esses mecanismos de hiperexcitabilidades, alterações neuroplásticas que aconteceram na periferia e na medula também vão acometer os neurônios encefálicos: talâmicos e corticais; Então, nessas estruturas vamos ter a perpetuação dos estímulos dolorosos. 3. IDENTIFICAR O FENÔMENO WIND-UP E SUA RELAÇÃO COM SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL O Wind-up é desencadeado pela permanência a estímulos nociceptivos. Ele consiste na amplificação do sinal pela sensibilização de neurônios de segunda ordem ao glutamato. Muitos estímulos em certo período de tempo pelas fibras C promovem liberação de glutamato, substância P e peptídeo do gene de calcitonina. Esses, atuam nos receptores de NMDA, NK1 e CGRPr. A ativação do receptor NMDA ocorre após ligação do glutamato ao receptor AMPA, que despolariza a membrana, abre o canal iônico e promove um influxo de sódio e um efluxo de potássio, junto com a despolarização por ativação de receptores NK1 e CGRPA. Após atingir certa voltagem, canais de cálcio dependentes de voltagem, abrem-se, amplificando a depolarização. Cálcio intracelular atinge cascatas de sinalização responsáveis pelo inicio da sensibilização central. Esse fenômeno tem duração limitada, desaparecendo em alguns segundos após finalização do estimulo de sinapses ativadas de curto prazo. O glutamato pelos aferentes primários ativa receptores de AMPA, a estimulação frequente e intensiva também ativa o NMDA. Isso desloca o magnésio que bloqueia esses receptores, permitindo entrada de cálcio, prolongando a despolarização e levando ao Wind-up. Esse aumento de cálcio tranduz a cascata intracelular e leva a alterações de propriedades funcionais nos neurônios nociceptivos, ativa ainda o NOS, que promove maior expressão de canais de cálcio que responsivos a glutamato e substancia P. OUTRO A duração prolongada dos potenciais lentos permite que, durante estímulos repetitivos dos aferentes, esses potenciais possam ser somados temporalmente, produzindo um aumento cumulativo na despolarização pós-sináptica (poucos segundos de impulsos pelas fibras C resulta em vários minutos de despolarização). Esse aumento progressivo na descarga do potencial de ação às estimulações repetidas é conhecido como o fenômeno de WIND UP. Para que esse fenômeno ocorra é necessário que haja a ativação dos receptores NMDA. As condições necessárias para ativação desses receptores são complexas e envolvem além de sua ligação ao glutamato, a remoção do íon magnésio (que normalmente bloqueia o canal) e a ação moduladora de taquicininas. O wind up e sensibilização central, apesar de semelhantes, são fenômenos diferentes. Uma grande diferença é que wind up não persiste após o estímulo que o condiciona, enquanto a sensibilização central é duradoura. Outro aspecto a ser considerado é que a sensibilização central está freqüentemente associada a um aumento das respostas evocadas pelas fibras A, o que não parece ocorrer durante wind up, sugerindo que este fenômeno por si não é suficiente para produzir todas as características observadas na sensibilização como o aumento do impulso aferente pelas fibras C, expansão de campos receptivos e recrutamento de sinapses previamente não efetivas. A sensibilização central pode ocorrer na ausência de wind up, uma vez que haja elevação do cálcio intracelular, mesmo sem qualquer mudança no potencial de ação. Wind up ocorre em uma situação muito particular e artificial, em resposta a estímulos lentos e repetidos. Ele é um fenômeno implicado nos mecanismos que produzem dor, e não deve ser considerado equivalente à sensibilização central. O fenômeno Wind up é uma forma de plasticidade de curta duração que ocorre no corno dorsal da medula espinhal. Nessa situação, o potencial de ação de alguns neurônios de largo aspecto aumenta progressivamente. O Wind up não é necessário, nem suficiente para indução de sensibilização central ou hiperalgesia, entretanto pode facilitar a indução de LTP (long term potentiation) em sinapses de fibras C, por uma despolarização pós-sináptica progressiva, aumentando o influxo de cálcio, tanto através dos receptores NMDA, como dos receptores dos canais de cálcio). 4. COMPREENDER O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DOR NEUROPÁTICA COM ÊNFASE NOS ANTICONVULSIONANTES Três principaismecanismos parecem ser importantes na ação dos fármacos antiepiléticos: • potencialização da ação do GABA ; • inibição da função do canal de sódio; • inibição da função do canal de cálcio. Outros mecanismos que podem operar com alguns fármacos são a inibição da liberação de glutamato e o bloqueio de receptores de glutamato. Muito dos fármacos antiepiléticos atuais foram desenvolvidos empiricamente na base de modelo de animais, como o teste da convulsão por eletrochoque. Seu mecanismo de ação ao nível celular não é completamente entendido. Com o com os fármacos usados para tratar as arritmias cardíacas, o objetivo é prevenir a descarga paroxística, sem afetar a transmissão normal. É claro que as propriedades como a dependência de uso e a dependência da voltagem dos fármacos bloqueadores de canal são importantes em alcançar esta seletividade, mas nosso entendimento permanece fragmentado. POTENCIALIZAÇÃO DA AÇÃO DO GABA Os vários fármacos antiepiléticos (p. ex., fenobarbital e benzodiazepínicos) potencializam a ativação dos receptores GABA, assim, facilitando a abertura dos canais de cloreto mediada pelo GABA. Um fármaco recentemente introduzido, vigabatrina, atua por inibir a enzima GABA transaminase, que é responsável pela inativação do GABA, e a tiagabina, inibe a captação de GABA ; ambas portanto, potencializando a ação do GABA , como um transmissor inibitório. A gabapentina foi apontada como um agonista dos receptores GABA , mas ironicamente foi encontrada uma substância antiepiléptica eficaz, apesar de ter pouco ou nenhum efeito sobre os receptores de GABA ou sobre o transportador de GABA ; seu mecanismo de ação permanece incerto. INIBIÇÃO DA FUNÇÃO DO CANAL DE SÓDIO Vários dos mais importantes fármacos antiepiléticos (p. ex., fenitoína, carbamazepina, valproato, lamotrigina) afetam a excitabilidade da membrana por uma ação sobre os canais de sódio dependentes de voltagem, que carreiam a corrente de entrada necessária para a geração de um potencial de ação. Sua ação bloqueadora mostra a propriedade da dependência de uso; em outras palavras, eles bloqueiam preferencialmente a excitação das células, que estão disparando repetitivamente e quanto maior a freqüência de disparo, maior o bloqueio produzido. Esta característica, que é relevante à capacidade dos fármacos em bloquearem a descarga de alta freqüência que ocorre em um ataque epiléptico sem indevidamente interferir com o disparo de baixa freqüência dos neurônios no estado normal, surge da capacidade de os fármacos bloqueadores descriminarem entre os canais de sódio em seus estados de repouso, aberto e inativado. A despolarização de um neurônio (tal como ocorre no PDS descrito anteriormente) aumenta a proporção dos canais de sódio no estado inativado. Os fármacos antiepiléticos ligam-se preferencialmente aos canais neste estado, impedindo-os de retornarem ao estado de repouso e, assim, reduzindo o número de canais funcionantes disponíveis para gerarem potenciais de ação. INIBIÇÃO DOS CANAIS DE CÁLCIO Vários fármacos antiepilépticos têm efeitos menores sobre os canais de cálcio, mas somente a etosuximida especificamente bloqueia o canal de cálcio do tipo T, ativação da qual acredita-se desempenhar um papel na descarga rítmica associada com os ataques de ausência. A gabapentina pode atuar sobre os canais de cálcio do tipo L, mas é incerto, se isto é importante para as suas propriedades antiepilépticas. OUTROS MECANISMOS A ação de muitos fármacos antiepilépticos permanece mal entendida. O fenobarbital é um barbiturato, que tem um efeito antiepiléptico muito maior e relativamente menor ação sedativa do que outros barbituratos, embora sua ação potencializadora do GABA seja semelhante. Contudo, o fenobarbital é tão eficaz contra as convulsões induzidas eletricamente, como as induzidas pelo PT Z em ratos ou camundongos, enquanto os benzodiazepínicos que atuam de modo semelhante sobre a transmissão mediada pelo GABA não têm efeito sobre as convulsões induzidas eletricamente. O fenobarbital reduz a atividade elétrica dos neurônios dentro de um foco epiléptico induzido quimicamente no córtex, enquanto o diazepam (um benzodiazepínico) não suprime a atividade focal, mas, previne que ela se espalhe. Portanto, a ação do fenobarbital não pode ser somente resultado de sua interação com o GAB A e é provável que ele também atue por inibir as respostas sinápticas excitatórias, embora pouco se conheça sobre o mecanismo. A fenitoína foi estudada em grandes detalhes. Ela não somente causa bloqueio dependente de uso dos canais de sódio, mas também afeta outros aspectos da função da membrana, incluindo os canais de cálcio e a potenciação pós-tetânica, assim como a fosforilação protéica intracelular pelas quinases ativadas pela calmudolina, o que poderia também interferir com a excitabilidade da membrana e com a função sináptica. Os alvos óbvios para os fármacos antiepiléticos potenciais são os receptores para os aminoácidos excitatórios e antagonistas agindo sobre os receptores NMDA , AMPA (a-amino-3-hidroxi-5-metil-4- isoxazolepropionato) ou receptores metabotrópicos de glutamato, todos mostrando atividade anticonvulsivante em vários modelos de animais. Poucas destas substâncias ainda foram testadas em seres humanos, mas em geral mostram uma margem estreita entre o efeito anticonvulsivante desejado e os efeitos colaterais inaceitáveis, como a perda da coordenação motora. Em resumo: Mecanismo de ação dos fármacos antiepilépticos Acredita-se que os fármacos antiepilépticos atuais agem por três mecanismos principais: reduzindo a excitabilidade elétrica das membrana s celulares, principalmente pelo bloqueio dependente do uso dos canais de sódio; potencializando a inibição sináptica mediada pelo GABA , isto pode ser alcançado por aumentar a ação pós-sináptica do GABA , por inibir a GAB A transaminase ou por fármacos com propriedades agonistas diretas do GABA ; inibindo os canais de cálcio do tipo T (importantes no controle dos ataques de ausência). GABAPENTINA A gabapentina foi planejada como um análogo simples do GABA, que por ser suficientemente lipossolúvel para penetrar a barreira hematoencefálica. É anticonvulsivante eficaz em vários modelos animais, mas de modo surpreendente não age sobre os receptores de GABA. Não tem efeito sobre os canais de sódio. Pode inibir os canais de cálcio e também se liga com alta afinidade a um local específico no cérebro que parece ser o sistema transportador de aminoácido, que ocorre em muitos neurônios e outras células. As implicações mecanísticas disto são desconhecidas e o seu modo de ação permanece um mistério intrigante. Os efeitos colaterais da gabapentina, principalmente (sedação e ataxia) são menos severos do que com muitos fármacos antiepilépticos. A absorção intestinal da gabapentina depende do sistema carreador de aminoácidos e mostra a propriedade de saturabilidade, o que significa que aumentando a dose, proporcionalmente não aumenta a quantidade absorvida. Isto torna a gabapentina relativamente segura e livre de efeitos colaterais associados com a dose excessiva. Sua meia-vida plasmática é cerca de seis horas, necessitando que seja tomada duas a três vezes ao dia. E excretada na urina inalterada e é livre de interações com outros fármacos. Ela tem eficácia limitada quando usada sozinha, portanto é usada principalmente em terapia associada a outros fármacos. É também usada como analgésico para tratar a dor neuropática. Um pró-fármaco, pregabalina, que é mais potente que a gabapentina, está em desenvolvimento. 5. DEFINIR A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO MANEJO DA DOR NEUROPÁTICA. Os pacientes com dores crônicas podem ser tratados em diferentes locais, incluindounidades básicas de saúde, hospitais gerais e mais recentemente em centros e clínicas especializadas em dor. O tratamento em Centros Interdisciplinares de Dor vem sendo fortalecido devido aos resultados alcançados com o tratamento tradicional não serem satisfatórios e por estes centros serem mais custo-efetivos que as intervenções cirúrgicas e médicas convencionais. Além disso, a dor crônica, por ser multidimensional, precisa realmente ser tratada por uma equipe multidisciplinar. O tratamento da dor neuropática varia de acordo com a doença e o estágio em que ela se encontra. O objetivo poder ser tratar especificamente o nervo, a doença que está causando a lesão indiretamente e/ou a dor oriunda dessas lesões; ou somente buscar o alívio da dor. Os tipos de tratamento usados são: AINEs Há evidências que sustentam que a causa inflamatória implica mudanças patofisiológicas sobre o sistema nervoso central e periférico, posterior dor neuropática e o aumento da dor mediada pelos prostanóides espinhais. Se aconselha o uso de AINEs para a dor neuropática. Opioides Os opioides podem ser incluídos em um protocolo multimodal para o tratamento da dor neuropática mas não devem ser usados isoladamente. Os opioides podem ter efeito reduzido na dor neuropática, devido à alodinia tátil (estímulo em fibras A beta) e redução ou inativação dos receptores opioides da via inibitória descendente. Por sua vez, quanto mais próxima do sistema nervoso central está a lesão nervosa, menor é o efeito dos opioides; os danos nos nervos periféricos respondem melhor aos opioides que os danos nas raízes nervosas que, por sua vez, respondem melhor que os danos na medula espinhal. Os opioides têm efeitos adversos comuns: náusea, vômitos e sedação que toleram, mas para a constipação há tolerância, sendo prudente a associação de laxantes. O controle de adaptação dos efeitos é fundamental para adesão dos tratamentos. A prescrição de opioides de abuso prolongado e em horário marcado provocam menos sensações psíquicas (sedação, euforia ou intoxicação) proporcionam analgesia mais estável, maior adesão ao tratamento e menor risco de adicção ou abuso13. A morfina é um fármaco padrão e o padrão de comparação para outros. Os opiobides massem um perfil farmacológico similar, diferenciam na dose analgésica relativa-fármaco de promoção, biotransformação (farmacológica ativa) e no mecanismo de ação (receptores opioides, receptoresgicaA, vias serotoninérgicas e dopaminérgicas) )14. Todos os os opioides podem ser eficazes, na DN, mas alguns, devido ao mecanismo de ação, apresentam a melhor analgesia, metadona como oxicodona e buprenorfina Antagonistas NMDA A quetamina em dose baixa é utilizada para prevenir a dor neuropática no pré, intra e pós operatório. Em conjunto com a administração de opioides e AINEs (quando não há contra-indicações). Anestésicos locais São medicamentos estabilizadores de membrana, que geralmente aliviam dor neuropática, como a lidocaína, administrada via endovenosa ou subcutânea. Deve-se estar atento a riscos cardíacos, e o paciente não deve estar tomando antidepressivos tricíclicos. Usualmente, tais drogas são iniciadas com orientação de especialistas A lidocaína administrada por via sistêmica tem sido efetiva no manejo de vários distúrbios que levam à dor neuropática. Os emplastros cutâneos de lidocaína 5% podem ser aplicados onde se origina a dor. Anti-epilépticos Estudos em humanos indicam que a administração perioperatória de gabapentina em indivíduos com lesões nervosas pode reduzir o potencial desenvolvimento ou a progressão da dor neuropática. O limite para aumento da dose é a sedação ocasionada pelo fármaco. São drogas usadas em casos de dor neuropática, particularmente dor lancinante, como neuralgia do trigêmeo, pós-herpética e dor associada com compressão medular e esclerose múltipla. Sua ação no alívio da dor se dá pela supressão de circuitos hiperativos da medula e do córtex cerebral e estabilização das descargas neuronais nas membranas das vias aferentes primárias. Como exemplo destas drogas utilizadas tem-se a carbamazepina, útil nos quadros de dor neuropática lancinante, com efeitos colaterais como náusea, vômitos, ataxia e letargia. A gabapentina apresenta bons resultados em dor pós- herpética e em alguns casos de síndromes neuropáticas GABAPENTINÓIDES Os gabainóides, pregabalina e gabapentina, atuam como ligantes à subunidade alfa-2-delta dos canais de cálcio voltagem-dependentes pré-sinápticos. Esses regulam a entrada de cálcio no neurônio neurônio pré- adição de remédios de neurotransmissores excitatórios na fenda sináptica. Ambos são bem tolerados e têm a necessidade de controle de farmacológicas, pois não fazem metabolismo, são excretados via renal, necessitando de administração de doses em medicamentos. Os gabapentes têm sido empregados com sucesso na DN de várias doenças, na profilaxia da dor eventos agudos, e também crônicas após o consumo de opioides intraoperatório. São fármacos de primeira linha da farmacoterapia do DN. Agonistas alfa 2 adrenérgicos. A medetomidina e a dexmedetomidina podem ser acrescentadas ao protocolo analgésico multimodal. Outro exemplo é o tratamento intra e o pósoperatório da dor causada por hérnia de disco intervertebral. Não se tem informações sobre os efeitos adversos causados pelos agonistas alfa 2 adrenérgicos utilizados em doses baixas, com exceção do aumento do volume urinário. Acupuntura e massagens terapêuticas. Devem ser incorporados ao protocolo analgésico sempre que possível. A dor neuropática é difícil de administrar somente com uso de fármacos, desta forma, a acupuntura e outras técnicas integradas devem ser incluídas como coadjuvantes ao tratamento farmacológico multimodal. Antidepressivos Não produzem alívio da dor revertendo depressão coexistente, uma vez que o alívio da dor ocorre com doses menores e maior rapidez do que seu efeito antidepressivo. Muitos neurotransmissores envolvidos na nocicepção são afetados pelos antidepressivos tricíclicos, bloqueando a recaptação de serotonina e noradrenalina. Também podem melhorar a analgesia, aumentando os níveis de morfina plasmática. Os antidepressivos tricíclicos (TCAs) são de grande valia para os casos de dor constante, com sensação de queimadura ou parestesia, embora também tenham papel importante nas dores neuropáticas lancinantes. O uso destes medicamentos (amitriptilina, imipramina, citalopran, sertralina) pode levar a efeitos colaterais anticolinérgicos, como boca seca e ainda visão embaçada, constipação, retenção urinária, hipotensão postural e confusão mental. Para minimizar os efeitos colaterais, deve-se iniciar com baixas doses e aumentar gradativamente. No caso de sedação ser um efeito colateral desejado, deve-se usar a amitriptilina. Fisioterapia Estudos recentes demonstram que pacientes com fibromialgia, lombalgia crônica, SCDR e dor fantasma apresentam mudanças corticais estruturais e funcionais importantes como atrofia cortical e hiperatividade neuronal excessiva. Acredita-se que estas alterações facilitem a manutenção da dor, do estado de alerta e da sensibilização central. A fisioterapia pode reorganizar o córtex de forma positiva, por meio de modalidades ativas e integradas com abordagens cognitivas comportamentais. Tratamentos como o controle motor, biofeedback, imagética, terapia do espelho, tarefas de distração, treino de tarefas funcionais, exercício físico, fortalecimento muscular e estratégias de educação, além do efeito placebo conseguem ativar áreas corticais relevantes para a reorganização cortical positiva. O toque na pele pode ser um poderoso meio de modulação e a velocidade dos estímulos proprioceptivos pode facilitara inibição de estímulos dolorosos no sistema nervoso central (SNC). Em casos como na síndrome complexa de dor regional (SCDR) ou em outras lesões de nervos periféricos, a fisioterapia utiliza a estimulação na pele com materiais de diversas texturas para aumentar a tolerância ao toque, diminuindo a hiperalgesia e alodínia7. Outras técnicas como as bandagens e o uso de órteses que promovem o alinhamento articular, minimizam a ativação dos nociceptores. 6. ABORDAR A FISIOPATOLOGIA DA DOR FANTASMA, BEM COMO SEUS SINAIS E SINTOMAS Independente da etiologia da amputação, a manifestação clinica do paciente amputado vai além das adaptações funcionais pela ausência de segmento, ou de características associadas ao pós-operatório: como edema, infecção da ferida operatória, contraturas/atrofias musculares, alteração/perda de sensibilidade no coto, deiscências e/ou aderências cicatriciais, neuromas, alterações posturais e do equilíbrio. Manifestações de origem psicológicas também devem ser destacadas, entre elas a dificuldade de aceitação/negação, ansiedade, estresse, depressão, isolamento social e até mesmo o suicídio. Cabe lembrar que a sensação fantasma não é exclusiva ao membro, mas pode manifestar-se em qualquer segmento amputado, mama fantasma, bexiga fantasma, entre outros. Dor no membro fantasma (DMF) A DMF é conceituada como uma dor manifestada no membro ou em parte do membro que fora amputado, geralmente predominante em sua porção distal, e pode ser pontual ou disseminada, sendo sua percepção bastante individual com caráter multidimensional. Assim como muitos pacientes relatam DMF nas primeiras semanas após a cirurgia de amputação. outros descrevem o sintoma meses após a cirurgia. Alguns descrevem que a DMF reduz nos primeiros seis meses, assim como outros assumem que a dor após os seis meses seria a de manuseio mais difícil e limitado, com pior prognóstico. Muitos pacientes apresentam uma forma crônica de DMF incapacitante, podendo estar associada a diversos tipos de sensações como: facadas, sensação de esmagamento contínuo, batidas, queimação, descargas elétricas, formigamento, cãibras, entre outros. Sua ocorrência independe nos adultos dos fatores: sexo, idade, lado da amputação, sendo mais frequente após amputações de membros inferiores, com menor incidência em crianças e amputações congênitas. A Síndrome da dor do membro fantasma (SDMF) se traduz como a apresentação associada de características reunidas da sensação e DMF. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da DMF ainda não está elucidada, embora a literatura seja extensa desde a década de 1960. A dor em amputados é induzida por sua vasta manifestação clinica. Questiona-se por que há casos clínicos que não relatam dor nem se queixam da ausência do membro, enquanto outros relatam dor extrema, constante, intrigante, intensa, assim como a percepção de ausência do segmento corporal? Modelos teóricos de origem periférica contrapõem-se e complementam-se às hipóteses de origem em sistema nervoso central (SNC) na expectativa de explicar a dor no amputado. Desinibição do neurônio e sensibilização central Ruptura do plexo braquial, lesão do nervo por avulsão ou lesões na medula espinhal também podem manifestar clinicamente a DMF relatada por pacientes amputados. A presença do segmento corporal não parece proteger a DMF. Sugere-se que a perda de informação aferente e desinibição do neurônio no corno posterior da medula espinhal seriam responsáveis por desencadear a DMF. Estudos experimentais em modelos animais observam que após ruptura do nervo ciático há comportamento de dor com fenômenos de alodínea e hiperalgesia que se estendem além dos dermátomos desservidos pelo nervo. A cascata de alterações fisiológicas e metabólicas que seguem a lesão do nervo ainda tem seu impacto clinico parcialmente explicado. O fenômeno do membro fantasma é geralmente percebido no segmento distal e o estímulo no coto parece induzir essa sensação. Uma possível explicação seria que os neurônios do corno dorsal medial na medula espinhal cujo suas terminações estavam localizadas na parte distal do membro apresentariam após a amputação uma atividade elétrica espontânea que seria redirecionada a áreas proximais como, por exemplo, o coto propriamente dito. O mecanismo na medula espinhal para justificar o fenômeno da DMF permanece incompleto. Embora a sensibilização central no corno posterior da medula, induzida por estímulos repetitivos de dor, por exemplo, no coto, possa ser inibida pelo uso de queratina, antagonista do receptor NMDA. Dor no coto induz a dor no membro fantasma A dor no coto, pela lesão nas terminações nervosas no local ou em função da própria secção do nervo aferente juntamente com a sensação fantasma, poderia ser modulada a partir da manipulação do coto, ou anestesia local. A DMF ocorre com maior frequência em pessoas cuja dor no coto perdurou por muito tempo, que naquelas sem essas dores crônicas. Alterações vasculares no coto, como mudança no fluxo sanguíneo, também poderiam ser a causa da dor e percepção do membro fantasma. Dor no membro fantasma como dor crônica pós- operatório A intensidade da dor em fase pré, peri e pós-operatória está associada a excessivas informações de dor ao SNC assim com estima-se uma correlação entre a dor pré- amputação e o grau de dor em membro fantasma. A dor pré e pós-operatória pode influenciar a DMF. As dores após amputação podem ser de diversas causas, origens, desde lesões de pele, cicatrizes, lesões de nervo, de tecidos profundos que foram seccionados durante a cirurgia, assim como o bombardeio de informação nociceptiva anterior e posterior ao procedimento, induzindo a sensibilização central. Dor no membro fantasma por alterações no sistema nervoso simpático Seguindo uma lógica similar ao observados no manuseio da dor operatória, Katz, em 1992, propõe que a informação nociceptiva intensa anterior à amputação seria processada em regiões específicas do córtex e seria responsável pela persistência da dor referida no membro fantasma. Correlaciona-se o fenômeno da DMF a características neuropsicológicas de atividade do sistema nervoso simpático em nível periférico bilateralmente, ou seja, no membro amputado (coto) e no membro contralateral (teoricamente integro). Em seus experimentos, Katz observa uma alteração na atividade do sistema nervoso autonômico simpático acessada pela baixa temperatura no coto comparada ao membro contralateral, e esse sinal estaria presente apenas em pacientes com dor ou sensação fantasmas. Pacientes amputados, sem essas queixas, não apresentariam essa vasoconstricção no coto. Seguindo os estudos de Katz, Jensen e col, em 1995 encontram baixa associação entre as caracteristicas pré-operatórias e as presenças de DMF com o passar dos anos. Dor no membro fantasma pela reorganização cortical Como os avanços nos estudos de mapeamento cortical, pesquisadores puderam testar as teorias de metaplasticidade do SNC. Desde a década de 1990 a DMF está associada à reorganização funcional em regiões corticais e estima-se que isso ocorra sobretudo no córtex sensoriomotor. Entende-se que haja correlação entre a amputação do segmento corporal e ausências de informações do sistema nervoso periférico ao SNC com a reorganização topográfica da representação corporal no córtex sensoriomotor. Assim como estima-se também que a dor pré, peri e pós-operatória possam ter influência sobre a metaplasticidade no SNC em pacientes que sofreram amputação. Em uma amputação considera-se que a reorganização da representação cortical seja adaptável a cada pessoa de acordo com suas experiências anteriores e pelo contexto pré, peri e pós- operatória à amputação, ou pelo momento do trauma, assimcomo pela presença de amputações anteriores, a exemplo do pé diabético e suas sucessivas mutilações. Embora essa teoria inspire a reabilitação do paciente amputado, recorrendo-se a utilização de interfaces de realidade virtual para reabilitar os pacientes com DMF, elas ainda são questionadas por sua manifestação variada. Há indicativos de reflexos de redução da DMF e alteração na reorganização do córtex motor e somatossensório por meio de estudos de ressonância magnética funcional (RMf). Um dos primeiros estudos sugestivos da reorganização cortical foi realizado em 1993, onde a dor evocada em uma região cortical representativa de membros superiores reproduziu dor em membro fantasma. Exames complementares de imagem, o aprimoramento de técnica de imagem neuromagnética permitiu maior grau de correlação e compreensão entre a reorganização cortical e a presença de dor em membro fantasma. Relata-se um aumento nas medidas de fluxo sanguíneo cerebral em regiões cortical durante períodos de intensificação da DMF. Incongruência entre informação sensorial e motora Pacientes que sofreram amputações apresentam, além da redução na massa cinzenta nas áreas do córtex motor, um aumento na massa cinzenta em regiões do campo visual, direcionam hipóteses de compensação da perda sensoriomotora com mecanismos de adaptação visual para manter função e integridade corporal. Ramachandran, Rogers-Ramachandran e Cobb propõem que a DMF ocorre pela incongruência de informações entre a intensão motora e resposta proprioceptiva pela quebra desse ciclo. Para testar essa teoria, McCabe faz experiências com sujeitos saudáveis, eles deviam mover os braços em um sobe e desce (como as lâminas de uma tesoura) e a informação motora era influenciada por um espelho entre os membros, fazendo com que houvesse incongruência entre a informação proprioceptiva e a visual durante a execução do movimento. Os participantes descreveram parestesia não dolorosa ou de dor leve (inferior a 2). ABORDAGEM TERAPÊUTICA As modalidades terapêuticas para a abordagem da DMF carecem de evidências científicas e clinicamente são classificadas como insatisfatórias. A taxa de sucesso aos tratamentos variam entre 67% e 21% nas abordagens farmacológicas com opioides a esteroides, respectivamente. Tratamentos intervencionistas podem ter taxa favorável de 58% para bomba subaracnoídea de opioide ou 20% para anestesia contralateral. O relaxamento apresenta resposta de sucesso de 41%, a corrente estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), de 28%, e a hipnose tem a menor taxa de sucesso, com 19%'“. Na década de 1980, Sherman identificou 43 diferentes tratamentos para a DMF, dentre elas as cirurgias ablativas que foram suspensas por não demonstrar nível de evidência de sucesso, além de serem procedimentos agressivos associados a diversos efeitos colaterais e cognitivos. Contudo, do exaustivo levantamento alguns procedimentos persistem apropriados como: terapia farmacológica, cirurgias, fisioterapia e psicoterapia. Assim como em dores neuropáticas, não há um tratamento padrão-ouro, visa-se o bem-estar do paciente e permite que este adquira estratégias para o manuseio da DMF. Tratamentos invasivos As cirurgias ablativas foram progressivamente suspensas por baixo grau de evidência. Entretanto, avanços em neurocirurgia permitiram a implantação de eletrodos em nível espinhal dorsal para estimular o mecanismo endógeno de controle da dor, assim como na possibilidade de implantes no córtex motor com sucesso no tratamento de DMF refratária. Contudo, nem todas as dores fantasmas respondem favoravelmente a esses tratamentos. Uma recente revisão sistemática e meta-análise considera baixo o efeito a curto e longo prazo do cateter perineural [PNC] utilizado em fase operatória, sem alteração na dor pós- operatória, dor no coto ou DMF. Terapia farmacológica A terapia farmacológica da DMF é similar ao manuseio da dor neuropática. Inicia-se com fármacos que envolvem antidepressivos triciclicos e anticonvulsivantes, e outros analgésicos convencionais como opioides. Anestesias com bloqueio local ou epidural com administração de lidocaína, fentanil, ou outros anestésicos. Essas estratégias terapêuticas são utilizadas em larga escala no manejada DMF, embora com evidências ainda baixas, mesmo quando associadas à abordagem multidisciplinar. Psicoterapia Aspectos emocionais são avaliados em casos de dores crônicas, assim como no paciente amputado, embora as evidências de melhora na DMF sejam escassas. Dentre os objetivos gerais da psicoterapia, destaca-se a aceitação da perda de um segmento corporal, considera-se que a negação da amputação, a dramatização da dor, a perda de esperança sejam fatores que prejudicam o manuseio da DMF. Embora haja evidências da influência de emoções no manuseio da dor crônica, a literatura carece de estudos que evidenciem os efeitos da psicoterapia no tratamento especifico da DMF. Como toda experiência de perda, a amputação pode facilitar transformações tanto para a superação como, ao contrário, facilitar a manutenção de estados depressivos. O evento de “ter sofrido uma amputação” costuma ter caráter marcante e mobilizador para a busca de ressignificação, adaptações, referenciais orientadores para a vida do indivíduo e de seus familiares. Uma revisão sistemática demonstra elevada prevalência de depressão )entre 20,6% e 63%) e ansiedade (25,5% e 57%) em pacientes com amputação pós-traumática, sem resultados prospectivos favoráveis nos dois anos que seguem a amputação. Além de ressignificar sua vida e superar as barreiras inicialmente físicas, diversos são os relatos de quão sofrimento há embutido quando da persistência de DMF notadamente o remetendo a estados depressivos de ansiedade, fadiga, estresse e punição. “Fui caminhar na rua, ruídos de freio de um carro... me dei conta de que eu estava envolvido em um grave acidente... então perdi os sentidos... quando acordei no hospital após a anestesia, constatei de que havia perdido minha perna, mas minha maior surpresa foi sentir uma forte dor na perna que foi amputado. Se eu pudesse voltar no tempo, nunca estaria naquela rua naquele dia fatidico... Atualmente ter que conviver com essa dor é como um castigo." (Sexo masculino, 4- 2 anos, Espanha/2011). Aspectos intrigantes da DMF também podem ser explicados pela visão psicológica do amputado. As teorias psicológicas da dor crônica associada a transtornos de personalidade, culpa, depressão e trauma devem ser trabalhados. A abordagem biopsicossocial para o tratamento da dor persistente deve essencialmente trabalhar sobre o desconforto gerado (medo, pensamentos negativos, crenças sobre a gravidade do problema, na sensação de culpa e na penalidade frente ao problema). Para quebrar o ciclo vicioso da dor é necessário enfatizar a participação ativa e capacitar o paciente durante todo o processo de tratamento, estimulando o enfrentamento, respeitando os limites do paciente e buscando fornecer competências acrescidas e capacidades de gestão da dor buscando proporcionar o aumento de suas habilidades e manuseio autônomo da dor. No entanto, o enfrentamento da DMF como uma questão de "convivência" é mais difícil de aceitar porque leva à interpretação de paliativa e não curativa. Entretanto, pode resultar em termos emocionais e comportamentais em grandes mudanças, melhorando a qualidade de vida dos pacientes porque, entre muitas conquistas, a intensidade e a frequência da dor são reduzidos. Fisioterapia Perceber e relatar a presença do membro fantasma difere amplamente da representação do movimento do mesmo. Estímulos mais dinâmicos como a representação de movimentos estruturados com o membro fantasma quanto mais incongruente, maiora percepção da DMF. Alguns autores estimam que para reabilitação da DMF deve haver treinamento e reprogramação da representação dinâmica do membro. Experiências dinâmicas de cinestesia tendem a reduzir a sensação de DMF. Uma recente revisão sistemática e meta-análise investiga o efeito terapêutico dos protocolos de representação do movimento em dor em membro fantasma, síndrome de dor regional complexa (SDRC) e em pacientes que sofreram acidente vascular encefálico. Suas conclusões são mais motivadoras para o tratamento da dor neuropática em pacientes com SDRC, porém a redução da dor pelo treinamento da representação do movimento do membro acometido ainda resta inconclusiva. Pacientes amputados de um membro superior com dor crônica intratável submetidos a 12 semanas de treinamento através de realidade virtual com a projeção do membro em uma tela de televisão, com um modelo interativo que decodifica padrões neuromusculares no coto ou membro residual apresentaram redução na intensidade da DMF, melhora na qualidade de vida e redução no consumo de fármacos. Ao contrário das expectativas, o treinamento da representação dinâmica do membro fantasma com o uso de uma interface virtual demonstra que o treinamento visando sincronismo com o membro fantasma aumenta a dor, ao contrário do treinamento para dissociação que apresentou redução da dor. A reabilitação com o uso do espelho parece ser mais efetiva em pacientes cuja DMF está associada a qualidades motoras, como dores em câimbras. O tratamento com projeção visual para mimetizar o membro fantasma visa promover a sensação virtual de "ter de volta seu membro amputado" na projeção do espelho. O paciente acompanha o reflexo e visualiza seu segmento fantasma e, por meio de comandos motores para ambos os segmentos, realiza movimentos simétricos e percebe que seu membro fantasma "obedece" aos seus comandos, permitindo dessa forma a reconstrução da imagem corporal e em alguns casos a redução parcial da dor. A terapia consiste em desenvolver habilidade voluntária de movimentos no membro fantasma e vários protocolos são descritos, desde movimentos leves a movimentos complexos, realizados lentamente ou de forma rápida, associação de estímulos táteis ao movimento, exercícios supervisionados ou não. Pacientes devem ser orientados a parar a atividade em casos de efeitos adversos, como tonturas e desconforto emocional pela sensação visual do membro fantasma até incremento na intensidade da dor. Alguns pacientes descrevem câimbras ao "realizar movimento voluntário de membro fantasma" (confirmado pela projeção no espelho), visto o risco ao incremento da dor, alguns fisioterapeutas optam por evoluir para movimentos voluntários apenas após atingir amplitude de movimento sem dor na projeção da imagem do membro fantasma. A projeção da imagem mental influenciaria o córtex sensorial e motor e sua prática regular promoveria a reorganização cortical e potencialmente influenciaria a DMF. Curiosamente, ao final de seis semanas, a frequência semanal de prática de relaxamento, percepção corporal e imaginar movimentos também demonstram redução na intensidade de dor constante correlacionada com reorganização cortical por meio de imagens de RMF. 7. EXPLICAR A SÍNDROME COMPLEXA DE DOR REGIONAL E SUA RELAÇÃO COM SNA. Introdução A Síndrome Complexa de Dor Regional (SCDR) consiste numa tríade de sinais e sintomas sensoriais, neurovegetativos e motores. De acordo com suas características, a SCDR pode ser classificada em dois tipos. A SCDR tipo I é constituída por um complexo de afecções dolorosas associadas a alterações neurovegetativas simpáticas, motoras e sensitivas, que acometem o organismo sem gerar lesão nervosa. A tipo II difere-se do tipo I pela presença de lesão nervosa. Apresenta dor em queimor associada à alodínea e à hiperpatia (reação dolorosa aumentada por estímulos repetitivos sublimiares ou pós-sensações dolorosas prolongadas) na mão ou no pé, após a lesão parcial de um nervo ou de seus ramos principais. Esta dor não se limita ao território de inervação do nervo lesado. Manifestações clínicas A apresentação clínica da SCDR consiste numa tríade de sinais e sintomas sensoriais, neurovegetativos e motores. Apesar de não estar bem definida a sua epidemiologia, alguns estudos mostram uma média de idade que oscila entre 36 a 42 anos, com predomínio no sexo feminino. Estatisticamente não existe predomínio de acometimento dos membros direito ou esquerdo, mas há prevalência dos membros superiores em relação aos inferiores. Encontra-se maior incidência da SCDR do tipo I. Na área de ortopedia, é bastante depois de uma fratura distal de rádio (fratura de Colles). Enquanto na neurologia, está presente, por vezes, nos casos de Acidente Vascular Encefálico (AVE). Os distúrbios de motricidade presentes na SDCR caracterizam-se por fraqueza, distonias, espasmos musculares, tremores, aumento do tono e dificuldade de movimentação do membro. As alterações vasomotoras, quando presentes, manifestam-se como diferenças de temperatura e coloração de um membro, em relação ao seu contralateral. Como desordens sudomotoras, a sudorese ou anidrose estão presentes na região acometida. O edema varia de intensidade, desde discreto até intenso e as alterações tróficas da pele e fâneros podem ou não estar presentes. As alterações psiquiátricas são pouco frequentes, mas quando presentes, os distúrbios afetivos são os mais comuns. Entre as mulheres, os quadros de depressão são mais frequentes, enquanto que entre os homens são os quadros de ansiedade. Fisiopatologia A fisiopatologia não está clara, mas a sensibilização central e nociceptiva periférica e a liberação de neuropeptídeos (substância P, peptídeo relacionado com o gene da calcitonina) ajudam a manter a dor e a inflamação. O sistema nervoso simpático está mais envolvido na SDRC que em outras síndromes de dor neuropática: a atividade simpática central está aumentada e os nociceptores periféricos estão sensibilizados para noradrenalina (um neurotransmissor simpático); essas alterações podem causar sudorese anormal e fluxo sanguíneo deficiente decorrente de vasoconstrição. Apesar de tudo, apenas alguns pacientes respondem à manipulação simpática (i. e., bloqueio simpático central ou periférico). Há autores que postulam que o fenômeno inicial seja o processo inflamatório desproporcional desencadeado após a lesão tecidual. Os componentes da resposta inflamatória como o edema, calor, rubor, eritema e a perda da função se fazem presentes em seguida à lesão, resultantes da liberação de mediadores químicos no local. A sensibilização dos nociceptores no local da lesão se estabelece por causa de mediadores liberados como bradicinina, leucotrienos, serotonina, histamina e prostaglandinas. Há evidências, também, de que radicais livres de oxigênio podem estar envolvidos com a patogênese da SDCR, embora novos estudos tenham que ser realizados para que esta hipótese seja comprovada e validada. Como a resposta inflamatória é local, a propagação dos sinais e sintomas para áreas distantes da lesão sugere o envolvimento do sistema nervoso central e periférico. Aceita-se que mudanças adaptativas ocorram no sistema nervoso central após a lesão, sejam elas agudas ou crônicas. Desta forma, a lesão periférica de um nervo ou outro tecido, causa alterações neuroplásticas no cérebro ,podendo ocorrer fenômeno semelhante na medula espinhal. Em 1994, a Associação Internacional para o Estudo da Dor (AIED), elaborou um consenso para estabelecer os critérios de diagnóstico da SCDR, os quais se baseiam nos seguintes aspectos: a) presença de lesão inicial pode ser desconsiderada; b) o paciente deve ter pelo menos dois dos seguintes sintomas: sensoriais (hiperestesia),vasomotor (alteração da temperatura, coloração ou ambos), sudomotor/balanço líquido (edema, sudorese ou ambos) e motor (diminuição da motricidade, fraqueza, tremores, “amputação funcional do membro”, dor miofascial, pontos gatilhos). Diagnostico Embora o diagnóstico seja clínico, podem ser solicitados exames subsidiários que auxiliam tanto na confirmação como na sua exclusão. Exame radiológico simples pode identificar diminuição da calcificação óssea, embora essa alteração não seja específica para SDCR, pois a desmineralização óssea pode ser causada pelo desuso do membro. A eletroneuromiografia indica lesão de nervo nos caso de SDCR Tipo II; porém, não se mostra útil no controle evolutivo da doença. Outros exames laboratoriais de imagem podem ser realizados para que o componente autonômico possa ser identificado. A termografia determina a diferença de temperatura entre o membro afetado e o normal e a pletismografia evidencia as diferenças de perfusão entre os membros. Diversos fármacos são utilizados, por diferentes vias de administração, como a guanetidina, a fentolamina e a lidocaína entre outros, por variadas técnicas tais como, infusões venosas simples e bloqueios regionais. Estes testes são utilizados para se comprovar se o Sistema Nervoso Simpático está envolvido na gênese da dor e nos sinais e sintomas da SDCR; portanto, auxiliam na elaboração do diagnóstico como também orientam a terapêutica adequada e efetiva. Tratamento A SDCR por suas características peculiares mostra-se de tratamento difícil e pouco eficaz. Embora muitos trabalhos tenham sido realizados com propostas terapêuticas , poucos são confiáveis para que possam ser aplicados na clínica. De qualquer forma, o mais importante para que haja boa resposta é o tratamento ser instituído em fase precoce da doença, com o objetivo primário de aliviar a dor.
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