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Análise de constitucionalidade da retenção de CNH e passaporte a fim de compelir o devedor ao pagamento de dívidas

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Laboratório de Direito Privado 
 
QUESTÃO 
É possível a retenção de CNH/passaporte para compelir o devedor ao pagamento? 
Fundamentem com a lei e a jurisprudência, mas quero que vocês reflitam sobre 
as várias questões envolvidas! 
 
A possibilidade da medida atípica de retenção de CNH/ passaporte a fim de 
compelir o devedor ao pagamento de dívidas é tema de intensa discussão tanto na 
doutrina quanto na jurisprudência. 
 
É fato notório que as medidas atípicas coercitivas de execução (p.ex. 
suspensão da CNH) são uma novidade do Código de Processo Civil de 2015 (art. 139, 
IV) para assegurar o direito do credor no recebimento de seu crédito, sendo um conjunto 
de possibilidades coercitivas, indutivas, mandamentais e sub-rogatórias, à disposição 
das partes e do juiz, e que não estão especificamente previstas na lei processual. 
 
Decisões que aquiescem pela inconstitucionalidade das medidas se 
baseiam, sobretudo, na limitação desproporcional do direito fundamental à liberdade de 
locomoção, previsto no artigo 5º, inciso XV, da CRFB/88. 
 
Em 2018, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu em 
Habeas Corpus que a apreensão do passaporte é ilegal, nas palavras do ministro Luis 
Felipe Salomão: “A retenção do passaporte enseja embaraço à liberdade de locomoção 
do particular”. 
 
Contudo, não significa que tal medida não possa ser utilizada, contanto que 
seja devidamente fundamentada e analisada caso a caso. Nesse sentido evidencia o 
ministro: “A medida poderá eventualmente ser utilizada, desde que obedecido o 
contraditório e fundamentada e adequada a decisão, verificada também a 
proporcionalidade da providência” (grifo nosso) 
 
Dessa feita, entendeu que a suspensão da CNH não se caracterizaria como 
uma limitação ao direito de locomoção, visto que o devedor continua sendo capaz de 
exercer seu direito de ir e vir de outras maneiras. Consoante o ministro: “Com a 
decretação da medida, segue o detentor da habilitação com capacidade de ir e vir, para 
todo e qualquer lugar, desde que não o faça como condutor do veículo”. 
 
Em 2020, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou em 
Habeas Corpus 597.069/SC a viabilidade da aplicação das medidas atípicas de 
suspensão da carteira nacional de habilitação e retenção do passaporte do devedor pelo 
juiz do processo. 
 
A Relatora Nancy Andrighi explicou que tais diligências são pertinentes ao 
artigo 139, inciso IV, do CPC, contanto que sejam tomadas de maneira subsidiária, ou 
seja, que haja um esgotamento prévio dos meios típicos; ocorra por meio de decisão 
devidamente fundamentada e adequada às especificações do caso concreto; haja 
observância do contraditório e da proporcionalidade; e a presença de indícios de 
patrimônio expropriável do devedor, isto é, existência de indícios de que o devedor 
possua patrimônio apto a cumprir a obrigação a ele imposta. 
 
Convergindo com o entendimento do STF, temos alguns julgados do Egrégio 
Tribunal de Justiça de São Paulo, o maior TJ do país, firmando o seguinte 
posicionamento: 
 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – Pedido de suspensão da CNH e de 
passaporte, bem como de bloqueio de cartões de crédito e débito – 
Indeferimento – Necessidade – Medidas que extrapolam os liames de 
proporcionalidade e razoabilidade, não tendo relação direta com o débito 
reclamado, atingindo a pessoa do devedor e não o seu patrimônio, tendo 
caráter meramente restritivo de direitos – Precedentes – Recurso 
improvido. (TJSP; Agravo de Instrumento 2117613- 12.2020.8.26.0000; 
Relator (a): Alvaro Passos; Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado; Foro 
Regional III - Jabaquara - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 10/11/2020; Data 
de Registro: 10/11/2020). 
 
EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – Medidas coercitivas/restritivas 
(art.139, V, NCPC) –Suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e 
apreensão do Passaporte – Impossibilidade – As medidas não se afiguram 
razoáveis e proporcionais e violam garantias constitucionais – 
Precedentes deste Egrégio Tribunal – Decisão mantida – Recurso não provido. 
(TJSP; Agravo de Instrumento 2220211- 44.2020.8.26.0000; Relator (a): Mario 
de Oliveira; Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível 
- 8ª Vara Cível; Data do Julgamento: 29/10/2020; Data de Registro: 
29/10/2020). 
 
Agravo de instrumento – Ação monitória – Contrato de mútuo (empréstimo) – 
Cumprimento de sentença – Determinação de suspensão da CNH em nome 
do devedor – Medida inadequada – Coercitividade que não assegura o 
cumprimento da obrigação ora discutida. No caso ora sob exame, a r. 
decisão que determinou a suspensão da CNH do devedor, ora agravante, 
não merece prosperar no caso vertente, pois tal medida coercitiva não 
assegura o cumprimento da obrigação ora discutida. Em que pese a nova 
sistemática trazida pelo art. 139, IV, do CPC/2015, deve-se considerar que a 
base estrutural do ordenamento jurídico é a Constituição Federal. Agravo 
provido. (TJSP; Agravo de Instrumento 2225355-96.2020.8.26.0000; Relator 
(a): Lino Machado; Órgão Julgador: 30ª Câmara de Direito Privado; Foro de 
Campinas - 4ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 28/10/2020; Data de Registro: 
28/10/2020). 
 
O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou em 2019, sem adentrar a fundo 
no tema, o caso do jogador Ronaldinho Gaúcho. No caso mencionado, a ministra Rosa 
Weber indeferiu a liminar e manteve a decisão do TJ/RS que estabeleceu a apreensão 
do passaporte, fundamentando não haver qualquer violação ao direito à liberdade de 
locomoção. 
 
Atualmente o tema é pauta do Supremo Tribunal Federal na ADI 5941 
apresentada em 2018 pelo PT, que questiona normas do CPC que autorizam os 
magistrados determinem medidas indutivas e coercitivas “necessárias para assegurar o 
cumprimento de ordem judicial”, tais como as medidas em análise. 
 
Por fim, têm-se que a tal discricionariedade na fase executiva, em especial 
a utilização de medidas atípicas, é constituída como um aspecto imprescindível para o 
efetivo e eficaz manejo do direito. 
 
Isto porque, se bem aplicada, a cláusula geral executiva do artigo 139, inciso 
IV, será de grande valia para o andamento e conclusão do principal objetivo jurídico do 
processo, contribuindo, de igual modo, para o esvaziamento da excessiva demanda 
processual que obstrui o desempenho desejável e idealmente célere da Justiça 
brasileira.

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