Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/19 GOVERNANÇA CORPORATIVA E COMPLIANCE AULA 6 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/19 Profº Luiz Eduardo Lanzini CONVERSA INICIAL Entender o conceito de compliance e sua relação com as designações da governança corporativa é ter clareza de que estão diretamente relacionados. A complexidade de algumas situações específicas exige maiores detalhamentos e entendimentos a respeito do tema. Para esta aula, foram escolhidos temas que impactam diretamente na necessidade de cumprimentos ou conformidades legais, além dos impactos econômicos que o não cumprimento das regras podem causar nos negócios. Também há um despertar para a necessidade de se estar alinhado às tendências de inovação, que trazem desafios permanentes de atualização e agilidade às organizações. Ao identificar desafios para os empresários e administradores de negócios, temas como questões tributárias, fiscais e trabalhistas são predominantemente apontados como um obstáculo ao crescimento e desenvolvimento dos negócios, assim como as condições de financiamento e o acesso a benefícios de tecnologia. Dada essa importância, nesta aula vamos abordar temas específicos para os programas de compliance. Iniciamos com Compliance Fiscal e Tributário, destacando as novas regulações do ambiente concorrencial através do programa de Compliance Concorrencial. Em relação ao sistema bancário, vamos apresentar o Compliance Empresarial e Bancário. Também vamos mencionar o Compliance Digital e suas designações para o tema da inovação. Finalmente, vamos abordar a relação da empresa com seus colaboradores através de uma descrição do Compliance Trabalhista. CONTEXTUALIZANDO A partir das definições da estrutura de governança corporativa das empresas, uma preocupação das ações das partes interessadas envolvidas no conselho de administração do negócio é a 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/19 elaboração de condutas por meio dos programas de compliance específicos. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC destaca essa preocupação no texto a seguir. Sistema de Compliance: Pontos de Atenção para o Conselho de Administração Os conselhos de administração tendem a se dedicar muito ao passado: empenham tempo considerável na análise das demonstrações financeiras e empreendem inúmeros esforços nas discussões sobre o desempenho dos negócios. Nesta época em que as inovações prometem ser avassaladoras, no entanto, a prioridade dada ao que já passou, também conhecida como o “olhar pelo retrovisor”, possivelmente já não será suficiente para permitir que o órgão exerça o seu papel de definir o rumo estratégico das organizações. O crescente peso da inovação e da tecnologia no ambiente de negócios deve provocar mudanças não só na forma como consumimos e produzimos bens e serviços e nos relacionamos com as empresas, mas também na governança corporativa e as práticas de compliance. Nesse cenário de transformações velozes, o olhar para o passado ainda é relevante, mas a visão de futuro se torna crucial. E esse futuro que já se avista inclui um poder crescente das informações e das redes, da tecnologia, da ética, da transparência e das preocupações socioambientais. Os conselhos de administração não devem passar incólumes por todas as mudanças tecnológicas e comportamentais em curso: a inovação gera vários impactos nos negócios e também deve modificar a governança corporativa. O papel do conselho tende a ser ampliado e seu olhar deverá ser mais prospectivo, sob o risco de o órgão se tornar defasado e incapaz de lidar com as complexas demandas de um novo tempo. Para manter a competitividade e a legitimidade das operações da empresa perante a sociedade, é fundamental que o conselho seja instado a olhar para a frente com mais frequência, a olhar para os lados e até para possibilidades que ainda não se materializaram, para o que não existe, sob o risco de comprometer a sobrevivência da empresa. Deve ser ressaltada a importância do conselho como um guardião da visão de longo prazo da organização. Enquanto os gestores estão mais ligados ao dia a dia e visam a atingir metas de curto prazo, o órgão colegiado tem o papel de pensar sobre questões e tendências que podem impactar a atuação e 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/19 os resultados em um horizonte mais amplo, e de tomar decisões sobre o rumo dos negócios e dos investimentos. Fonte: IBGC, 2018, p. 247. Algumas áreas específicas são desafios pela complexidade e possibilidade de impactar os resultados, e outras são puxadas pelas tendências globais. Essas situações sugerem um olhar mais atento aos programas de compliance, e podem ser organizadas separadamente. O tema a seguir apresenta alguns dos principais programas específicos de compliance, e suas particularidades. TEMA 1 – COMPLIANCE FISCAL E TRIBUTÁRIO O compliance fiscal e tributário é composto de programas importantes, devido aos impactos financeiros graves que tais procedimentos, quando inadequadamente realizados, podem trazer para as empresas. Constante atualização, planejamento tributários e cuidados quanto às fraudes são linhas de atuação desse programa. O assunto sobre o peso da carga tributária no país não é novidade para no Brasil. A respeito de matéria tributária, foram editadas 363.779 normas, o que representa mais de 1,88 normas tributárias por hora em um dia útil, segundo o cálculo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação – IBPT, o que torna o Brasil uma das legislações mais complexas, confusa e de difícil interpretação do mundo (Quantidade..., 2018). Blok (2017) ainda destaca outro aspecto que aumenta a complexidade tributária em nosso país, que é a necessidade de constituição de várias filias espalhadas pelos estados brasileiros, pois um dos tributos mais relevantes para o sistema tributário é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, cujas alíquotas e procedimentos operacionais variam entre os estados, gerando uma dificuldade adicional ao compliance tributário. O quadro a seguir facilita a compreensão da atual divisão das competências tributárias e as categorias econômicas sobre os quais recaem os tributos previstos em nossa legislação: Quadro 1 – Espécies tributárias por categoria econômica X competência tributária dos entes federativos 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/19 Fonte: Barau, 2019. As condições apresentadas a respeito do tema ressaltam a necessidade de atuar com profissionais capacitados para a adequada utilização dos programas de compliance, fazendo com que suas atribuições atinjam posições estratégicas na empresa, definindo inclusive políticas comerciais, fontes de financiamento, alianças estratégias e parcerias específicas. Por conta desse contexto, as empresas vêm adotando, cada vez mais, formas eficientes de otimizar a sua carga tributária, mediante incentivos legais prescritos em benefícios da lei, sem a ocorrência de riscos futuros causados por práticas não adequadas. Entre outros programas específicos, o compliance fiscal e tributário deve considerar a adoção de soluções tecnológicas para tributos diretos e indiretos, que ajudam a empresa a operar o compliance fiscal, conferindo segurança às informações fornecidas e maior adequação ao ambiente tributário. Nesse sentido, um programa de compliance efetivo para a área fiscal e tributária deve atuar preventivamente na identificação de eventuais riscos; portanto, deve ser capaz de diagnosticar atuações e procedimentos da empresa. Como já ressaltamos, a atuação prevista para esse programa, além de se posicionar perante o tema e participar da elaboração do planejamento estratégico das 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/19 empresas, tem comopremissa a permanente qualificação dos seus quadros atuantes, desenvolvidos internamente ou ainda na busca por consultorias pontuais. TEMA 2 – COMPLIANCE CONCORRENCIAL Os termos que se referem às condições de concorrência, ou sua ausência pela concentração de negócios, por conta de fusões e aquisições, são tratados pelo Ministério da Justiça, mais especificamente pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica. A respeito das regras de compliance, o guia para programas de compliance divulgado pelo órgão traz (Cade, 2016, p. 5): O compliance concorrencial é debatido A Lei 12.529/2011 (Lei de Defesa da Concorrência – LDC) instituiu no Brasil a nova organização do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC). Tal promulgação foi um passo importante na consolidação do que restringe ou se opõe à formação de trustes, cartéis e combinações monopolísticas similares, denominado de "lei antitruste". Promoveu uma serie de invocações na legislação e estabelecendo um novo desenho institucional, mais eficiente para os fins pretendidos pela autoridade, do qual por exemplo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é parte, tendo seu funcionamento e suas atribuições determinados pela normativa e reiterando a importância de seu cumprimento. Dentre as principais orientações do órgão, após a avaliação de estudos econômicos, a Lei n. 12.529, de 30 de novembro de 2011, no seu capítulo II, art. 36, referente às infrações, descreve: basicamente é tipifica os seguintes atos como uma infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; dominar mercado relevante de bens ou serviços; aumentar arbitrariamente os lucros; e exercer de forma abusiva posição dominante. A movimentação ou aglomeração de empresas é um fato que pode vir a ser mais intenso com a expansão ou estabilização de mercados em determinados locais, despertando o interesse econômico pela oportunidade econômica. Segundo o Cade (2016), a fusão é um ato societário pelo qual dois ou mais agentes econômicos independentes formam um novo agente econômico, deixando de existir como entidades jurídicas distintas. Já a aquisição ocorre quando um agente econômico adquire controle ou parcela substancial da participação acionária de outro agente econômico. 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/19 Há outras denominações para o arranjo entre as empresas, como incorporação, joint-venture, entre outras, que se diferem pelas regras das questões societárias e pela sua finalidade. Talvez tão importante quanto a modalidade, sejam os tipos de arranjos organizacionais entre as empresas e suas características, de acordo com o quadro a seguir. Quadro 2 – Arranjos organizacionais A atualização da tipificação das inflações pelos órgãos competentes estabelece para as empresas uma maior preocupação em relação ao assunto e uma postura mais proativa em relação aos seus programas de compliance. O compliance concorrencial organiza normas que agrupam procedimentos para regular a concentração de mercado por parte de poucas empresas, e ainda estabelece regras quanto às relações de concorrência, como práticas de dumping, que é ação ou expediente de pôr à venda produtos a um preço inferior ao do mercado para se desfazer de excedentes ou para derrotar a concorrência). Adotar programas específicos para essa área em determinados segmentos é fundamental, pois pode prejudicar a imagem da empresa, caso estes comportamentos esperados sejam infringidos. A diferença principal entre o programa de compliance empresarial e o compliance de concorrência é a abrangência. Conforme a demonstração da legislação apresentada no início deste tema, um programa de compliance concorrencial busca, em primeiro lugar, reduzir o risco de ocorrência de violações específicas à Lei n. 12.529 e, posteriormente, oferecer mecanismos para que a empresa possa, rapidamente, detectar e lidar com eventuais práticas anticoncorrenciais que não tenham sido evitadas preliminarmente. Independentemente do tamanho do negócio, todas as empresas podem se beneficiar de um programa de compliance concorrencial. Porém, os riscos podem variar, de acordo com porte, posição 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/19 de mercado, setor e objetivos. Por essa razão, não existe um modelo único de programa de compliance; deve-se respeitar as particularidades e momento de cada empresa. Em cartilha pública da autarquia federal, responsável pela orientação do tema (Cade), foram relacionados alguns benefícios para as empresas a partir de um programa de compliance, a saber: prevenção de riscos; identificação antecipada de problemas; reconhecimento de ilicitudes de outras empresas; benefício reputacional; conscientização dos funcionários; redução de custos e contingências. Para o pleno funcionamento do programa, e para que não se elabore um documento de “fachada”, a empresa deve assegurar o comprometimento das partes interessadas, orçamento para a estruturação e manutenção do programa, e alinhar pontos em comum das empresas que buscam a associação. Incluindo o tema em reuniões administrativas e deliberando ações assertivas para garantir um programa concorrencial estruturado e eficiente. Saiba mais Para saber mais sobre as normativas, processos em andamento, calendários de deliberações entre outros assuntos, o portal eletrônico da entidade é transparente e acessível a todos pelo endereço. CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Disponível em: <http://www.cade.go v.br/>. Acesso em: 31 mar. 2019. TEMA 3 – COMPLIANCE EMPRESARIAL E BANCÁRIO O compliance, assim como a governança corporativa, envolve benefícios empresariais fundamentais, que colaboram com o aumento da competitividade e da rentabilidade, aliando boas práticas, organização, métodos, ética e procedimentos que garantem segurança jurídica às corporações (Blok, 2017, p. 153). http://www.cade.gov.br/ 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/19 Para o ambiente empresarial, a preocupação com o programa de compliance empresarial se refere à forma de se fazer negócios. O setor bancário, por ser um agente financeiro intermediário entre os agentes superavitários e deficitários, e por sua importância ao sistema financeiro, já apresenta normas e regulações balizadas pelos acordos da Basiléia. Vejamos um breve contexto do mercado bancário. A cada reunião do Comitê de Políticas Econômicas (Copom), instaura-se no mercado um clima de apostas sobre a Selic e o viés a ser definido pelas autoridades monetárias. Isso não é sem motivo, afinal, depois de longos períodos de elevadas taxas de juros, somados ao conturbado cenário internacional e ao baixo crescimento doméstico dos últimos anos, formou-se um conjunto de eventos que ampliou, significativamente, a expectativa dos agentes econômicos, que aguardam por condições favoráveis para a retomada dos investimentos e do consumo. Embora com redução significativa no último ano, devido a condições macroeconômicas relacionadas à austeridade monetária para conter a inflação, as taxas de juros brasileiras estão entre as mais elevadas do mundo. Também no ambiente macroeconômico, cabe destacar que os recolhimentos compulsórios sobre depósitos à vista no Brasil se configuram assimétricos em relação ao que é praticado no resto do mundo, não estando de acordo com os requisitos da globalização financeira. Sem dúvida, a redução desses instrumentos macroeconômicos é uma grande balizadora para a economia, mas o crédito não é parâmetro suficiente para a desoneração, de modo a promover sua expansão no volume de recursos e na maior abrangência de brasileiros. Por essa importância, o setor bancário precisa seguir requisitos de compliance sobas condições de expor as empresas e a economia como um todo ao chamado risco sistemático; ou seja, afetando a todos, como observamos na crise norte-americana de 2008. Com a globalização e a chance de riscos locais afetarem o sistema como um todo, foram definidas, no setor bancário, certas normas, através de acordo entre os principais Bancos Centrais do mundo, estabelecidos na Basileia, Suíça. Segundo o Banco Central do Brasil, “o Acordo de Basileia I (1988) estabeleceu recomendações para as exigências mínimas de capital para instituições financeiras internacionalmente ativas para fins de mitigação do risco de crédito” (Bacen, 2018). 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/19 Esse acordo tem por objetivo minimizar os riscos da atividade bancária, gerando maiores garantias de solvência e liquidez do sistema bancário internacional. Para tanto, utiliza um padrão comum de determinação de capital dos bancos, o que reduz as diferenças entre as normas financeiras de diversos países. O Brasil aderiu ao Acordo da Basileia, pois esta era uma exigência da comunidade internacional. Em agosto de 1994, o Banco Central criou a Resolução n. 2.099, com o intuito de regulamentar os Limites Mínimos de Capital Realizado e Patrimônio Líquido para Instituições Financeiras. Ao aderir a esse acordo, o Banco Central assumiu o compromisso de exigir que os bancos tivessem um nível de capital compatível com o volume de operações ativas. Os bancos com alta proporção de ativos de risco seriam obrigados a manter mais capital do que se possuíssem ativos de risco menor. Após esse primeiro ato, o acordo vem sendo aprimorado e suas práticas são organizadas em recomendações, que podem ser apresentadas resumidamente de acordo com a figura a seguir. Figura 1 – Recomendações de Basileia 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/19 Fonte: BACEN, 2018. O Brasil, como membro do comitê, tem cumprido o compromisso de aplicar as recomendações aos Sistema Financeiro Nacional e, dessa forma, tem estabelecido recomendações ao mercado financeiro. O mercado financeiro pode ser definido como o conjunto de instituições e de instrumentos destinados a oferecer alternativas de aplicação e de captação de recursos financeiros. Basicamente, é o mercado destinado ao fluxo financeiro entre poupadores e tomadores. Dessa forma, 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/19 otimiza a utilização de recursos financeiros e cria condições de liquidez e de administração de riscos. Para as instituições financeiras, seguir as recomendações do acordo da Basileia é uma forma de normatizar as regras de compliance institucional para as instituições bancárias. Naturalmente, para cumprir as normas, foram estabelecidos procedimentos de atuação dos agentes que operam as atividades bancárias. Tais normas podem ser complementadas com regras de compliance relativas a produtos específicos, além de comportamentos relacionados a sigilo e proteção das informações, também protegidos por leis e normas. Finalmente, para complementar o tema em relação aos bancos, também é recomendado adotar regras de compliance para a comercialização, divulgação e manutenção de produtos bancários. Neste ponto, destacam-se as recomendações e ainda as certificações específicas de profissionais que trabalham com investimentos. Estabelecer o cumprimento dessas situações também contribui para uma boa norma de compliance. Uma prática desaprovada e que ainda se percebe em algumas situações é a chamada “venda casada”, quando o profissional bancário condiciona um produto necessário ao cliente com outros produtos que a princípio não são de seu desejo. Com certeza, uma política de conduta nesse aspecto contribui para a transparência e a boa relação entre as partes. TEMA 4 – COMPLIANCE DIGITAL O compliance digital visa garantir a compreensão das estruturas da empresa e dos impactos do emprego das novas tecnologias como mecanismos úteis ao programa de anticorrupção, por exemplo, entre outras séries de procedimentos que envolvem os negócios atualmente. É importante entender as principais leis que tratam de questões de Tecnologia da Informação e suas exigências. As empresas devem compreender a importância da informação, em um período em que big data, computação na nuvem e internet das coisas estão se tornando termos comuns. Com o aumento da informação e sua importância para os negócios, é necessário que as empresas encontrem valor para os seus negócios. Somente investir em tecnologias não é o suficiente. É necessário ampliar o processo e considerar que, para um bom sistema de gestão da informação, deve-se ir além das máquinas. O foco do sistema são as pessoas. Nesse contexto, surge o conceito de governança da informação, e como consequência a necessidade de se fornecer condições para que seja implantado também o compliance específico dessa área, que é o compliance digital. 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/19 O compliance digital suporta outras duas situações para o tema: o valor da informação e naturalmente a qualidade da informação. As três situações combinadas possibilitam uma governança “digital”. A partir dessas condições, um programa de compliance digital deve fornecer normas, diretrizes e controles para as empresas garantirem valor e sucesso neste novo ambiente informacional. O primeiro ponto a ser considerado neste contexto é a proteção dos dados dos indivíduos, ou ainda, como as empresas devem se preparar para proteger os dados de pessoas que usam plataformas eletrônicas para, entre outras situações, garantir transações comerciais. No dia 14 de agosto de 2018, foi sancionada em nosso país a Lei n. 13.709/2018, que criou a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que dispõe sobre a proteção de dados pessoais, alterando a Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014, também conhecida como o Marco Civil da Internet. As empresas deverão estabelecer condições para garantir o cumprimento da lei e se adaptar à norma, sob o risco de sofrerem sanções administrativas, como multa de 2% sobre o faturamento ou outras sanções jurídicas em casos mais graves. A considerar que o maior desafio é tanto no quesito procedimentos quanto estrutura, a responsabilidade das empresas passa pela coleta de dados, manipulação, guarda e todos os atos próprios definidos na lei. Isso cabe ao agente que controla a informação, e também a eventuais parceiros de negócios que processam as informações. Ainda, em tempo: tratamos aqui não apenas de dados digitais, mas também físicos. As empresas se deparam com grandes desafios relacionados a armazenamento e proteção dos dados coletados, passando por comportamentos humanos, naturalmente, e por investimentos em tecnologia da informação ou TI. A integração da área jurídica com a tecnológica será importante para entender os novos contratos, alguns deles estabelecidos com fornecedores do exterior. Antes, as condições tratadas no âmbito da tecnologia eram tidas como um suporte ao negócio principal das empresas; atualmente, o processamento de dados é a atividade principal do negócio, independentemente do segmento. Nesse sentido, equalizar os melhores fornecedores, estruturar a arquitetura de informação e protegê-las, é um horizonte que se delineia para as empresas. A proteção a acesso, vazamento ou até mesmo obtenção por falha no procedimento humano define um modelo de atuação preventivo e forte. 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/19 A atuação se faz presente nos termos de uso de sites, aplicativos e plataformas digitais, implicando, ainda que tacitamente, em contratos eletrônicos. Propagar essa cultura entre os funcionários, manter uma vigilância permanente, e simplesmente adotar práticas legais, como a utilização de softwares licenciados, e investimento em TI, podem conjuntamente prover soluções eficazes e minimizar os riscos relacionados aesse tema. Afinal, na era da informação, os dados pessoais têm muito valor no “mercado negro”; ter uma boa política de compliance é o mínimo que se espera das empresas. Outra situação relacionada ao compliance digital se refere a procedimentos e adequações das empresas e suas obrigações com os entes reguladores. A integração dos sistemas e a responsabilidade das empresas em informar órgãos controladores de atividades empresariais, como Receita Federal, Ministério do Trabalho, entre outros, faz parte de um programa de compliance. Nesse aspecto, a segurança de senhas corporativas, o procedimento adequado para a transmissão da informação, e o cuidado quanto a programas ou ações que visam capturar os dados da empresa, devem estar no delineamento das normas de atuação. Há recomendações que mencionam o local adequado para acessar os dados, a assinatura digital e os procedimentos de segurança preventivos, como trocas de senhas, entre outras situações relativamente simples, mas que podem evitar sérios problemas para as empresas. O próximo passo do compliance digital é a predição, ou responder, de modo rápido e assertivo, a questões que hoje são respondidas pelo viés pessoal, e que em breve poderão ser respondidas por máquinas. A Inteligência Artificial é um tema relacionado ao avanço tecnológico, que envolve capital financeiro, conhecimento e também tecnologias que ainda estão um pouco à frente da realidade da maioria das empresas. A quantidade inimaginável de informações diárias, proveniente de diversas formas de captação (IoT, celulares, sensores, câmeras digitais etc.) acelera o aprendizado de computadores. Podemos destacar exemplos de sucesso na atualidade, como é o caso do Watson (Plataforma cognitiva da IBM), que auxilia médicos em diagnósticos e tratamentos oncológicos . TEMA 5 – COMPLIANCE TRABALHISTA O compliance trabalhista prevê o cumprimento das normas trabalhistas vigentes. Também neste programa são estabelecidos procedimentos éticos em relação aos desafios atuais dos negócios, como assédio sexual e moral, harmonização das gerações e flexibilização das relações trabalhistas. [1] 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/19 No Brasil, existem sanções específicas para obrigações sociais, como recolhimento de impostos trabalhistas. Considera-se que podem ocorrer mudanças nessas práticas, que exigem a constante atualização dos responsáveis, para não gerar passivos trabalhistas. O contexto para este programa específico em nosso país torna-se ainda mais urgente. Iniciativas importantes, como a reforma trabalhista e a implementação do e-Social, que é o sistema da Receita Federal que unifica informações fiscais trabalhistas e previdenciárias, por exemplo, deixam empresas desatentas em situação de vulnerabilidade. Além disso, é sabido o número elevado de demandas trabalhistas em nosso país, em relação a outras importantes economias. Muitas ações são discussões no ambiente de trabalho, e geralmente são pontos divergentes não resolvidos de forma administrativa, o que efetivamente poderia ser solucionado com medidas preventivas eficazes. Blok (2017) destaca que é mandatório, de um programa de compliance trabalhista, minimizar os futuros passivos trabalhistas, e criar ambientes de trabalho mais saudáveis. Assim como outros programas de compliance, o programa trabalhista deve ser adotado nas empresas, independentemente do porte ou da atividade. Respeitar os direitos e deveres individuais leva a uma gestão de pessoas mais correta. O primeiro ponto de um programa para esta área é o desenvolvimento de procedimentos que permitam um maior controle sobre a relação que envolvem as pessoas e a empresa, com a extinção de condutas discriminatórias, corrupção, assédio (moral e sexual), problemas de risco à saúde, bem como uma melhor relação entre gestores e colaboradores. É válido destacar que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê, desde a Lei n. 13.467/17, a possibilidade de a empresa imputar dano de natureza extrapatrimonial a funcionário que, com sua ação, ofenda a moral ou a existência da instituição, o que evidencia ainda mais a importância de um bom programa de compliance. Por outro lado, a premissa contrária também é verdadeira: situações de ofensa moral por parte do empregador também devem ser combatidas pelo programa de compliance. Junto a essas situações normativas, o tradicional departamento de recursos humanos passa a atuar em duas frentes: a posição administrativa, com suas políticas de descrição de funções, salários, benefícios e outros procedimentos administrativos; e a postura de desenvolver o time de colaboradores com foco em capacitação e melhoria das pessoas nas empresas. 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/19 Atualmente, a contribuição do RH para a gestão estratégica de pessoas se pauta em algumas frentes: gerir pessoas com foco no futuro dos negócios; contribuição para que pessoas autônomas planejem e administrem o seu próprio plano de carreira; otimizar resultados, e não somente processos; postura ativa e focada no que realmente importa para a empresa. Em resumo, o programa de compliance trabalhista abrange a análise detalhada dos processos de recrutamento e seleção executados pela empresa, como por exemplo ações discriminatórias, todo o trâmite de documentos e a identificação de regras legais. Inclui também a observação de políticas internas da empresa, voltadas para o seu quadro de colaboradores, e se estão alinhadas nos quesitos práticas de gestão, liderança, relacionamentos interpessoais, mobilizações, progressões, premiações, pagamentos e tratamentos pessoais, visando identificar e eliminar toda e qualquer situação que sinalize desequilíbrio nas relações humanas dentro da empresa, tais como práticas de assédio moral e/ou sexual. TROCANDO IDEIAS Os temas apresentados nesta aula enfatizam o êxito dos programas de compliance, principalmente na esfera econômica. Porém, cabe a ressalva de que é necessário equilibrar o desenvolvimento financeiro com a preservação ambiental. É importante destacar que essa situação não envolve somente a responsabilidade da empresa. Consumidores, fornecedores em geral, órgãos ambientais e terceiro setor estão atentos e preocupados, fiscalizando o cumprimento de regras também para a área ambiental. Estar presente nesta discussão e agir de acordo com certas premissas envolve a elaboração de um programa de compliance também para a área ambiental. NA PRÁTICA Vejamos um caso envolvendo a Sadia e a responsabilidade dos administradores. A crise financeira iniciada em 2008, nos Estados Unidos, que se alastrou para todo o mundo, expôs a fragilidade da governança corporativa das empresas em todo mundo. Um dos casos mais 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/19 emblemáticos foi marcado pela comunicação do fato relevante da companhia Sadia S/A, então listada na bolsa de valores, e uma importante empresa da área de alimentos. Em resumo, o comunicado informava que a Diretoria Financeira realizou operações no mercado financeiro relacionadas à variação do dólar americano em relação à moeda local (real) em valores superiores à finalidade de proteção das atividades da Companhia expostas à variação cambial, o que ocasionou perda superiores a 760 milhões de reais, à época. Naquele ano, a receita líquida da empresa foi de aproximadamente R$ 10 bilhões e seu prejuízo foi de R$ 2,5 bilhões. Segundo Silveira (2012) a companhia apresentava uma estrutura organizacional disfuncional, que contribuiu para os problemas da empresa. Considerando esse caso, quais foram as principais falhas do programa de governança corporativa? Como um programa de compliance poderia ter evitado essa situação crítica? Haveria algum programa de compliance específico para este tema? FINALIZANDO Nesta aula, estudamos a relação dos temas de compliance com o mercado. Apresentamos programas específicos paraa área fiscal e tributária, bancária, digital, concorrencial e trabalhista. O objetivo foi contextualizar os programas específicos de acordo com a realidade das condições do país, também pela necessidade de suprir as empresas com orientações seguras para o processo de inovação. Praticamente toda recomendação apontada nesta aula descreveu uma modificação ou atualização de leis recentes para todas as áreas aqui dispostas. Não raro, essa situação demonstra a preocupação das empresas de estar sempre na vanguarda e antecipar a movimentos e tendências que modificam consideravelmente as condições atuais de negócios. Assim, embora em alguns casos pareça redundante falar sobre temas específicos, alguns programas merecem atenção superior, devido ao impacto possível de práticas não satisfatórias nos resultados da empresa. REFERÊNCIAS ALENCASTRO, M. C. S.; ALVES, O. F. Governança, Gestão Responsável e Ética nos negócios. Curitiba: InterSaberes, 2017. 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/19 BACEN – Banco Central do Brasil. Recomendações de Basileia, 2018. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/recomendacoesbasileia>. Acesso em: 31 mar. 2019. BARAU, V. O Sistema Tributário Nacional. Escola de governo, 2019. Disponível em: <http://www.escoladegoverno.org.br/artigos/1734-o-sistema-tributario-nacional>. Acesso em: 31 mar. 2019. BLOK, M. Compliance e Governança Corporativa. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017. BRASIL. Lei n. 12.529, de 30 de novembro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 nov. 2011. CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programas de Compliance, jan. 2016. Disponível em: <http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes- institucionais/guias_do_Cade/guia-compliance-versao-oficial.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2019. FROTA, A.; SENS, D. F. Globalização e Governança Internacional: Fundamentos Teóricos. Curitiba: InterSaberes, 2017. HART, S. L.; MILSTEIN, M. B. Criando valor sustentável. Academy Management Executive, v. 17, n. 2, p. 56-69, maio 2003. IBGC – Instituto Brasileira de Governança Corporativa. Governança corporativa e inovação: tendências e reflexões. São Paulo: IBGC, 2018. QUANTIDADE de normas editadas no Brasil: 30 anos da constituição federal de 1988. IBTP, 15 out. 2018. Disponível em: <https://ibpt.com.br/noticia/2683/Quantidade-de-NORMAS-EDITADAS- NO-BRASIL-30-anos-da-constituicao-federal-de-1988>. Acesso em: 31 mar. 2019. ROSSETTI, J. P. et al. Finanças Corporativas: Teoria e Prática empresarial do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. SILVA, E. C. da. Governança corporativa nas empresas: guia prático de orientação para acionistas, investidores, conselheiros de administração e fiscal, auditores, executivos, gestores, analistas de mercado e pesquisadores. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2016. SILVEIRA, A. D. M. O Caso Sadia. Revista Capital Aberto, São Paulo, 2012. 18/05/2022 15:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 19/19 SLOMSKI, V. et al. Governança corporativa e governança na gestão pública. São Paulo: Atlas, 2008. VERÍSSIMO, C. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2017. Saiba mais: <https://www.tecmundo.com.br/software/121669-4-coisas-ibm-watson-fazendo- brasil.htm>. [1]
Compartilhar