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EMPRESAS TRANSNACIONAIS AULA 6 Prof.ª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula será analisada a internacionalização de empresas brasileiras em alguns setores. Primeiro, iremos estudar a internacionalização de uma empresa do setor de transportes, a Marcopolo. Depois, investigaremos a inserção externa de uma empresa do setor de alimentos, a JBS-Friboi. Essas empresas se destacam não apenas na exportação, mas também no investimento direto exterior (IED), isto é, no estabelecimento de subsidiárias de outros mercados. A terceira empresa estudada será O Boticário, líder no setor de cosméticos, que adotou a estratégia de abrir lojas e franquias no exterior. Algumas dessas empresas começam sua internacionalização na exportação e firmam parcerias externas com joint ventures e, posteriormente, estabelecem filiais em outros países da América Latina e em outros continentes. TEMA 1: ESTUDOS DE CASO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA EMPRESA DO SETOR DE TRANSPORTES: MARCOPOLO A empresa Marcopolo, fundada em 1949 no Rio Grande do Sul, é a maior produtora de carrocerias de ônibus do mundo, detendo aproximadamente 40% de participação no mercado. A Marcopolo abriu indústrias em Portugal, Argentina, México, Colômbia e África do Sul, atuando em transferência de tecnologia para a China. Aproximadamente 60% da produção é feita no Brasil e 40% em outros países. Dessa forma, o mercado brasileiro ainda é o mais central para essa empresa, contudo, as suas atividades externas são importantes (Marcopolo, 2016). A teoria comportamental defenderia que alguns elementos foram importantes na decisão de onde investir, a experiência de exportação da Marcopolo, o assessoramento técnico oferecido aos importadores e a proximidade psíquica. Isso se observou pelo fato de a primeira fábrica ter sido instalada em Portugal, país que fala português e tem uma afinidade cultural e identitária com o Brasil. A entrada da empresa nos mercados exteriores respeitou a sequência de etapas proposta (cadeia de estabelecimento) pela Escola de Uppsala, pois primeiramente iniciou as atividades exportadoras e gradativamente aumentou seu comprometimento com o exterior, nomeando agentes que a representassem. 3 Posteriormente estabeleceu contatos de licença e assistência técnica, através da abertura de joint ventures com empresas locais e na sequência instalou filiais no exterior (Rosa, 2006). TEMA 2: O CASO DA EMPRESA JBS-FRIBOI A empresa JBS-Friboi foi a primeira a entrar no ramo de atividades do setor frigorífico no Brasil, no ano de 1945. Em 2007 se tornou a primeira empresa do setor de alimentos a abrir seu capital na Bolsa de Valores (JBS, 2016). Em 1997, a empresa passou a exportar carnes in natura, porém, apenas em 2005 realizou seu primeiro investimento externo direto, com a instalação de fábricas. A JBS S/A adquiriu três plantas da Swift Armour S/A, a maior produtora e exportadora de carne bovina da Argentina e duas plantas da Companhia Elaboradora de Produtos Alimentícios. Além da Argentina, a firma possui duas fábricas no Paraguai e uma no Uruguai. Após aquisições nos Estados Unidos, essa empresa se tornou a maior corporação mundial no setor de alimentos de proteína de origem bovina, bem como a maior empresa brasileira na área alimentícia. A JBS-Friboi é considerada uma das empresas brasileiras mais internacionalizadas de todas. Com relação às vantagens competitivas, a JBS-Friboi se aproveitou de suas vantagens de propriedade, que era a tecnologia que possuía no setor de carnes, a qual foi avançando a partir de suas aquisições, primeiramente na Argentina, quando se pôde acessar insumos de excelente qualidade (Fornati, 2010). De acordo com Fornati (2010): A JBS conquistou novos mercados, promoveu a eficiência e adquiriu ativos estratégicos. Os esforços de internacionalização possibilitaram expandir a carteira de clientes e superar as barreiras comerciais e não-comerciais nos maiores mercados consumidores externos. Atualmente a JBS atua com unidades produtivas e canais de distribuição nos cinco continentes, explorando e aumentando as vantagens de propriedade, internalização e localização. (Fornati, 2010, p. 42) TEMA 3: O CASO DE O BOTICÁRIO O Boticário é uma firma criada em Curitiba que teve a expansão de suas atividades no mercado brasileiro nos anos 2000. Em 2004, um empresário alemão que vivia no Brasil buscou uma parceria comercial com os Estados Unidos para abrir a primeira loja O Boticário nos Estados Unidos. A matriz de O 4 Boticário concordou com a criação da loja, mas desde que não fosse em sistema de franquia, mas como loja exclusiva da marca. Esse empresário alemão possui 30 pontos de venda da empresa nos Estados Unidos. A empresa demonstrou pouco interesse em se internacionalizar e estabelecer filiais no mercado externo. Importante destacar que existe uma autonomia entre a matriz brasileira e a loja nos Estados Unidos. Assim, a loja norte-americana define se utilizará as estratégias recomendadas pela matriz nesse mercado. Em relação às teorias comportamentais, O Boticário passou pelas etapas definidas pelos teóricos da abordagem eclética de não exportação, para exportação de produtos por meio de agentes, para na sequência realizar o investimento externo direto. A primeira ação internacional de O Boticário fora do Brasil foi o estabelecimento de uma franquia em Portugal. A empresa opta por estabelecer alianças estratégicas no exterior, o que reduz o risco dos investimentos. TEMA 4: HISTÓRIA DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS BRASILEIRAS Caseiro (2002) apresenta que “Após a abertura da economia brasileira, na década de 1990, as empresas brasileiras ampliaram o seu o processo de internacionalização” (Caseiro, 2002, s/p). O autor continua afirmando que: O processo de evolução histórica da expansão externa das empresas brasileiras pode ser dividido em três etapas. A primeira etapa de investimentos no exterior, entre 1960 e 1982, ocorreu preponderantemente concentrado na Petrobrás, em bancos e em empresas de engenharia e construção, que almejavam o mercado externo para assegurar a sua sobrevivência devido à paralisação dos investimentos públicos em grandes obras. A segunda etapa ocorreu entre 1983 e 1992, contou com apenas US$ 2,5 bilhões no exterior nos últimos três anos. A terceira etapa que vai de 1993 até os dias atuais, é definida pela expansão do IED brasileiro, sobretudo no Mercosul. (Caseiro, 2002, s/p) TEMA 5: APLICAÇÃO DAS TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO AOS 3 CASOS ESTUDADOS As teorias comportamentais da Escola de Uppsala e o paradigma eclético de Dunning fornecem elementos centrais para a análise do processo de inserção internacional da Marcopolo. As teorias de internacionalização 5 demonstram que a Marcopolo se utilizou de suas vantagens de propriedade, internalização e localização e avança o seu processo ao longo de etapas e se comporta baseado na distância psíquica. Embora o processo de internacionalização da JBS-Friboi tenha sido rápido, a partir da teoria comportamental, observa-se que a empresa passou por etapas, começando nas exportações até atingir o investimento externo direto. Diferentemente da Marcopolo, que formou uma série de joint ventures, a JBS-Friboi realizou aquisições e estabeleceu subsidiárias em países vizinhos e posteriormente se lançou em outros mercados, baseada na distância psíquica. O Boticário se inseriu baseado na teoria de redes, pois optou por conhecer o franquiado. Esse fato também corrobora a tese da ausência de uma estratégia de internacionalização por parte de O Boticário (Freire, 2001). Observou-se um comportamento retrógrado de O Boticário em relação à sua atuação internacional, pois mesmo depois de mais de trinta anos no mercado externo, não tem essa atuaçãocomo prioridade estratégica. NA PRÁTICA A empresa eBay atua oferecendo um serviço para compra em todo o mundo. Os servidores estão localizados em sua sede nos Estados Unidos. Portanto, não há necessidade de estabelecer subsidiárias no exterior para que conduza suas atividades no mercado externo. Contudo, os lucros com as operações no resto do mundo são elevados. Desse modo, a estratégia para a empresa abrir filiais em outros países se baseia em análises de marketing, além da demanda de governos que exigem o estabelecimento de empresas para operação nos seus países. Nesse sentido, os cidadãos locais são considerados mais capazes para saber como a estrutura do site deve ser, com o objetivo de atrair mais consumidores. Assim, a firma aumentou sua participação externa com a finalidade de oferecer um serviço mais adaptado às realidades locais. SÍNTESE Nesta aula foram analisados três estudos de caso de internacionalização de empresas brasileiras de diferentes setores, de transportes (Marcopolo), alimentação (JBS-Friboi) e cosméticos (O Boticário). Foram identificadas 6 similaridades e distinções nos processos de inserção internacional dessas três empresas. Foram aplicados os pressupostos teóricos apresentados na aula 3. A JBS-Friboi teve um processo de internacionalização intenso e bem- sucedido. Esta empresa entrou no mercado externo por meio da aquisição de ativos estratégicos, como canais de distribuição e comercialização, expandindo sua produtividade e reforçando sua competitividade no Brasil. A Marcopolo estabeleceu uma série de joint ventures que diminuíram os custos do processo de internacionalização. A empresa O Boticário não possui uma estratégia bem definida para ingressar no mercado externo, optando pelas franquias e não por inserir filiais. REFERÊNCIAS CASEIRO, L. Internacionalização de empresas brasileiras: estratégias e alternativas de política industrial. Anais do IX Workshop Empresa, Empresários e Sociedade, Niterói, UFF, 2014. Disponível em: <http://www.uff.br/9wees/trabalhos/papers/Caseiro_IXWEES_2014_08_10%20( 3).pdf>. Acesso em: 8 jun. 2016. FREIRE, C. A internacionalização de empresas brasileiras: o caso de O Boticário. Dissertação de Mestrado em Ciências da Administração. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. JBS. Relatório da Administração, 2016. Disponível em: <http://www.jbs.com.br/pt-br/investidores>. Acesso em: 10 abr. 2016. MARCOPOLO. Resultados do exercício de 2015 - Relatório da Administração. 2016. Disponível em: <http://ri.marcopolo.com.br/ptb/2828/Relatrio%20da%20Administrao%202015.p df>. Acesso em: 4 abr. 2016. 7 CONTEÚDO COMPLEMENTAR TEMA 1 Leitura complementar: Para entender melhor o processo de internacionalização da empresa Marcopolo leia o texto Internacionalização da empresa Marcopolo S. A.: 50 anos no mercado externo. Acesse em: <http://www.aahe.fahce.unlp.edu.ar/jornadas-de-historia-economica/iii-cladhe- xxiii-jhe/ponencias/Rodrigues.pdf>. TEMA 2 Leitura complementar: Para compreender melhor a internacionalização da empresa JBS-Friboi leia o texto Estratégias de internacionalização de uma grande empresa brasileira: o caso JBS-Friboi. Acesse em: <http://www.puc- rio.br/Pibic/relatorio_resumo2011/Relatorios/CSS/ADM/ADM- Anelise%20Vieira%20Carneiro.pdf>. TEMA 3 Leitura complementar: Para conhecer mais detalhes sobre a internacionalização de O Boticário leia o texto O processo de internacionalização da rede de franquias “O Boticário” no mercado norte- americano. Acesse em: <http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/facefpesquisa/article/view/106/17>. TEMA 4 Leitura complementar: Para um estudo mais aprofundado da internacionalização das empresas brasileiras leia o estudo sobre Os impactos da política externa na internacionalização de empresas brasileiras. Acesse em: <https://www.fdc.org.br/imprensa/Documents/2013/ranking_multinacionais_bra sileiras2013.pdf>. 8 TEMA 5 Leitura complementar: Leia o texto A distância psíquica no processo de internacionalização de uma empresa na Índia, para entender melhor a aplicação de uma teoria ao caso da internacionalização de uma empresa indiana. Acesse em: <http://www.espm.br/download/Anais_Simposio_2014/Trabalhos/AT- 2Estrategia_Internacional/1633_ESPM-Estrategia.pdf>. http://www.espm.br/download/Anais_Simposio_2014/Trabalhos/AT-2Estrategia_Internacional/1633_ESPM-Estrategia.pdf http://www.espm.br/download/Anais_Simposio_2014/Trabalhos/AT-2Estrategia_Internacional/1633_ESPM-Estrategia.pdf
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