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UCA001_Sociedade_Contemporanea_Tema8

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O europeu e a ocupação territorial
Adriana Duarte de Souza Carvalho da Silva
Introdução
A colonização portuguesa no Brasil faz parte do processo de consolidação do capitalismo 
mercantil e, portanto, a utilização da terra e a exploração de metais preciosos também faziam 
parte da necessidade de acumulação de capital. Dessa forma, perceba que tudo o que era feito 
aqui no Brasil tinha como fundamento o enriquecimento da Corte portuguesa.
Enquanto na colônia inglesa na América – os Estados Unidos – estabeleceu-se uma colô-
nia de povoamento, no Brasil, é estabelecida uma colônia de exploração. Mesmo que tempos 
depois o Brasil tenha sido povoado, ainda assim o território era para atender os interesses colo-
nizadores. Essa é a principal reflexão que propomos realizar nestaaula. Vamos começar? Então, 
acompanhe-nos!
Objetivos de aprendizagem:
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • analisar o processo de colonização do Brasil;
 • compreender a influência portuguesa na nossa formação social e cultural.
1 Aspectos da sociedade colonial açucareira
Se compararmos o colonizador português com outros povos colonizadores, é possível per-
ceber que eles foram pioneiros em tornar a colônia uma produtora de riquezas (FREYRE, 2002). 
Enquanto os demais colonizadores se desgastavam em busca de metais precisos, os portugueses 
iniciaram o cultivo da cana-de-açúcar. Freyre (2002, p. 91) mostra as primeiras características da 
sociedade colonial açucareira:
[…] a colônia de plantação, caracterizada pela base agrícola e pela permanência do colono-
na terra, em vez do furtuito contato com o meio e com agente nativa […]. A utilização e o 
desenvolvimento de riqueza vegetal pelo capital e pelo esforço particular; a agricultura; a 
sesmaria; a grande lavoura escravocrata.
Figura 1 – Escravidão
Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com.
O autor explica que foi justamente a união dessas características que possibilitou que Portu-
gal tivesse aqui no Brasil uma colônia agrícola e estável, fornecedora de riquezas para a metrópole. 
Assim, explica Freyre (2002), ao contrário das colônias espanholas, no Brasil formaram-se muitas 
famílias e, com isso, grande mistura de raças. O autor ainda explica que:
[…] a formação brasileira tem sido, na verdade [...], um processo de equilíbrio de antagonis-
mos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura europeia e a indígena. A Africana e 
a indígena. A economia agrária e a pastoral. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O 
jesuíta e o fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. (FREYRE, 2002, p. 115).
FIQUE ATENTO!
Gilberto Freyre foi um grande pesquisador sobre a vida colonial brasileira. Sua obra 
“Casa-grande e Senzala”, que estamos estudando aqui, é uma das mais importan-
tes pesquisas sobre o Brasil colônia.
Marquese (2006) explica que no período de construção dos engenhos do açúcar, o coloni-
zador utilizou a mão de obra indígena de forma mais sistemática. Contudo, depois da metade do 
século XVI, os primeiros africanos chegaram à colônia e passaram a ser utilizados na lavoura da 
cana. Com o crescimento do tráfico negreiro, milhares de escravos chegaram ao Brasil e sabemos 
que os engenhos da cana renderam muito dinheiro para Portugal naquela época.
SAIBA MAIS!
Para conhecer mais sobre a sociedade colonial açucareira, sugerimos a se-
guinte leitura do artigo “A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, trá-
fico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX”, de Rafael de Bivar Marquese. O 
material está disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0101-33002006000100007&lng=en&nrm=iso>.
Agora, vejamos como funcionava a relação de dominação que existia entre os europeus e os 
povos dominados? Continue conosco!
2 Relação de dominação: europeus, 
indígenas e negros
Perceba que o homem europeu que chegou ao Brasil era belicamente mais forte que os povos 
indígenas que habitavam o território. Evidentemente, não era interessante para Portugal que os 
povos nativos se considerassem donos da terra, já que, assim, não poderiam explorá-la como dese-
jassem, não é mesmo? A solução para isso foi a dominação dos povos indígenas habitantes do ter-
ritório por meio do extermínio ou da escravidão. As ações de catequização também tinham como 
objetivo torná-los mais dóceis aos interesses da metrópole. Sobre isso, Fausto (2002, p. 49) explica
Ela consistiu no esforço em transformar o índio, através do ensino, em ‘bons cristãos’, reu-
nindo-os em pequenos povoados ou aldeias. Ser ‘bom cristão’ significava também adquirir 
os hábitos de trabalho dos europeus, com o que se criaria um grupo de cultivadores indíge-
nas flexível às necessidades da Colônia. 
FIQUE ATENTO!
Enquanto o homem europeu desenvolvia uma economia de produção de excedente 
para obtenção de lucros, o índio tinha uma economia de subsistência e de caráter 
comunitário. Ou seja, produziam aquilo que era necessário para suas necessidades, 
sem que fosse preciso a exploração comercial.
Por outro lado, os negros chegaram da África ao Brasil por meio do tráfico. Como não eram 
considerados seres humanos, então, eram vendidos como mercadoria e considerados propriedade, 
assim como gado e terra. A Igreja Católica não impunha obstáculos à escravidão dos negros, por isso, 
não havia problemas para a utilização dessa mão de obra. Sobre isso Fausto (2002, p. 50) explica que
(...) ao percorrer a costa africana no século XV, os portugueses haviam começado o tráfico 
de africanos, facilitado pelo contato com sociedades que, em sua maioria, já conheciam o 
valor mercantil do escravo. Nas últimas décadas do século XVI, não só o comércio negreiro 
estava razoavelmente montado como vinha demonstrando lucratividade. 
O processo colonizador, não apenas o português, mas a colonização de maneira geral, acentuou 
o chamado etnocentrismo europeu. O que é isso? Etnocentrismo é uma percepção que define que 
determinada etnia é superior às demais. O etnocentrismo europeu definia o índio e o negro inferiores 
aos povos europeus e, com isso, justificavam todo tratamento desumano dado àqueles indivíduos.
Figura 2 – O etnocentrismo europeu e a dominação dos povos indígenas e africanos
Fonte: RomoloTavani/Shutterstock.com.
Atualmente, vivemos em uma sociedade de valorização da diversidade e que, consequente-
mente, condena a discriminação. Mas o etnocentrismo deixou marcas até hoje na sociedade brasi-
leira, que ainda traz o preconceito em sua bagagem e faz a distinção entre pessoas negras e indígenas.
3 Características de ocupação e urbanização dos sé-
culos XVI e XVII
Primeiramente, saiba que os índios que habitavam o Brasil na época da chegada do europeu eram 
povos tribais e não viviam em cidades. Eles moravam em meio à selva, de onde tiravam seu alimento.
Figura 3 – Florestas eram o território dos indígenas
Fonte: GalynaAndrushko/Shutterstock.com.
Dessa forma, podemos dizer que a urbanização e a criação de cidades são empreendimen-
tos típicos do colonizador português.Além disso, a ocupação do Brasil e, posteriormente, o pró-
prio processo de urbanização, ocorreram porque era economicamente interessante para a Corte. 
Assim, Maricato (2000) enfatiza que o Brasil já possui cidades grandes no período colonial, ao 
contrário de outras colônias americanas. 
É fundamental compreendermos que o processo de ocupação do Brasil seguiu o da explora-
ção comercial do território. Como assim? Significa que iniciou na costa do Atlântico, na região da 
lavoura da cana e, posteriormente, seguiu para Minas Gerais, na região do ouro. Oliven (2010, p.9) 
explica a importância da criação de cidades para o desenvolvimento do capitalismo: “Para Weber, a 
cidade é pré-condição do capitalismo na medida em que é necessária para a existência do mesmo, 
mas mais tarde o desenvolvimento do capitalismo intensifica o crescimento das cidades”. Por 
isso, para Portugal acumular capital e, consequentemente, ampliar as receitas da monarquia, per-
ceba que foi fundamental ocupar e urbanizar o país.SAIBA MAIS!
Conheça mais sobre a formação do povo brasileiro a partir dodocumentário “O Povo 
Brasileiro”, de Darcy Ribeiro, com base na obra homônima de um dos mais impor-
tantes antropólogos brasileiros. O material está disponível em: <https://www.you-
tube.com/watch?v=wfCpd4ibH3c&list=PLyz4LUAInoJJgiAJBM-MqfA69gClLt1uz>.
Continue conosco para aprendermos mais sobre a expansão da fé católica e a sua relação 
direta com o europeu. Vamos lá?
4 O europeu e a expansão da fé católica
No período colonial, não havia separação entre Igreja e Estado em Portugal (FAUSTO, 2002). 
Assim, a Igreja Católica foi uma importante instituição na organização da vida colonial.
EXEMPLO
O Brasil, atualmente, é um país em que Estado e Igreja estão separados. Nenhu-
ma religião pode interferir em assuntos de Estado e o Estado não pode utilizar ar-
gumentos religiosos para escrever uma lei. Mas não era assim durante o período 
colonial. Estado e Igreja católica mantinham profundas relações de interferência.
Um dos mais importantes papéis que a Igreja Católica exerceu no Brasil foi de catequização 
dos povos indígenas, por meio da Companhia de Jesus e de seus padres jesuítas. Shigunov Neto 
e Maciel (169, p.172) enfatizam que
O trabalho de catequização e conversão do gentio ao cristianismo, motivo formal da vinda 
dos jesuítas para a Colônia brasileira, destinava-se à transformação do indígena em “ho-
mem civilizado”, segundo os padrões culturais e sociais dos países europeus do século XVI, 
e à subsequente formação de uma “nova sociedade”. Essa preocupação com a transforma-
ção do indígena em homem civilizado justifica-se pela necessidade em incorporar o índio 
ao mundo burguês, à “nova relação social” e ao “novo modo de produção”. Desse modo, 
havia uma preocupação em inculcar no índio o hábito do trabalho [...].
Portanto, perceba que os objetivos da Companhia de Jesus estavam alinhados aos objetivos 
da metrópole portuguesa, ou seja, utilizar a mãodeobra indígena na lavoura da cana-de-açúcar e, 
com isso, tornar os empreendimentos portugueses mais lucrativos.
Figura 4 – Padre Antônio Vieira, missionário no Brasil no século XVI 
Fonte: Olga Popova/Shutterstock.com.
Perceba que a imagem retrata Padre Antônio Vieira, que esteve no Brasil no século XVII. Ele era 
um dos jesuítas que se manifestava contra a escravidão, mas era a favor da catequização dos índios.
FIQUE ATENTO!
Qualquer ação que obrigasse o indígena a abandonar a sua própria cultura para 
interesses de outros, que não seus próprios, é uma ação de violência, ainda que a 
violência física propriamente dita não fosse utilizada.
Hoje as políticas públicas brasileiras em relação aos índios manifestam-se justamente no 
oposto daquilo que fez o colonizador. Hoje os índios têm sua cultura valorizada e até ensinada nas 
escolas. Ninguém pode obrigar um índio a ser cristão. Os índios têm o direito a escolher sua religião. 
Mas, ainda há muito o que se fazer na direção da construção de um mundo mais respeitoso 
entre as diferentes culturas que habitam o território brasileiro. E precisamos lidar com as conse-
qüências nefastas do massacre imposto aos indígenas pelos colonizadores e aos povos africanos 
que foram escravizados no Brasil, se quisermos construir uma nova história.
Fechamento
Estudamos mais detalhes da História do Brasil colônia, dando ênfase à sociedade que se 
estabeleceu no Nordeste, com o cultivo da cana. 
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 • analisar o processo de colonização do Brasil;
 • compreender a influência portuguesa na nossa formação social e cultural.
Referências
FAUSTO, Bóris. História do Brasil.São Paulo: Edusp, 2002. 
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. São Paulo: Record, 2002. 
MARICATO, Ermínia. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras. São Paulo 
Perspec., São Paulo, v. 14, n. 4, p. 21-33, Out. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?s-
cript=sci_arttext&pid=S0102-88392000000400004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 11 jan. 2017.
MARQUESE, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro e alforrias, 
séculos XVII a XIX. Novos estud. - CEBRAP, São Paulo, n. 74, p. 107-123, Mar. 2006. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002006000100007&lng=en&nrm=iso>. 
Acesso em: 11jan. 2017.
OLIVEN, Ruben George. Urbanização e mudança social no Brasil [online]. Rio de Janeiro: Centro Edels-
tein, 2010. Disponível em: <http://static.scielo.org/scielobooks/z439n/pdf/oliven-9788579820014.
pdf>. Acesso em: 11 jan. 2017. 
SHIGUNOV NETO, Alexandre. MACIEL, Lizete Shizue Bomura. O ensino jesuítico no período colonial 
brasileiro: algumas discussões. Educ. rev., Curitiba, n. 31, p. 169-189, 2008. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602008000100011&lng=pt&nrm=iso>. 
Acesso em: 11 jan.2017.

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