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1 
INDÚSTRIA CULTURAL: UM DEBATE INESGOTÁVEL. 
 
Eduardo Henrique M. L. de Scoville1 
 
RESUMO: Este artigo apresenta uma breve análise dos aspectos fundamentais dos 
conceitos de indústria cultural e reprodução mecânica da arte, apresentados por T.W. 
Adorno, M. Horkheimer e Walter Benjamin. Também pretende abordar os limites do 
conceito de indústria cultural. 
 
PALAVRAS-CHAVE: T.W. Adorno; M. Horkheimer; W. Benjamin; Indústria Cultural; 
Reprodução Mecânica da Arte. 
 
 
ABSTRACT: This article presents a brief analysis of fundamental insights of concepts of 
cultural industry and mechanical reproduction of art as conceived by T. W. Adorno, M. 
Horkheimer and Walter Benjamin. It also tries to access the limits of concept of culture 
industry 
 
 
KEYWORDS: .W. Adorno; M. Horkheimer; W. Benjamin; Cultural Industry, Mechanical 
reproduction of art. 
 
 
Introdução 
 
 
O conceito de indústria cultural, apresentado pela primeira vez por ADORNO; 
HORKHEIMER (1985) em 1947 detém uma série de críticas feitas por analistas 
afastados da dialética hegeliana e marxista e por outros que avistam nele, um caráter 
determinista, como COHN (1990), que afirma que a recepção planificada não ocorre. 
Entretanto, no início do século XXI, onde o neoliberalismo político e econômico tornou-
se praticamente dominante no Ocidente, nota-se como a indústria do entretenimento se 
pôs a favor do status quo. Esta constatação leva a crer que o conceito ainda se 
 
1
 Eduardo Henrique Martins Lopez de Scoville. Bacharel em Ciências Econômicas, UFPR. Mestre em 
Sociologia, UFPR. Doutorando em História, UFPR. Professor das cadeiras de Sociologia, Economia 
Política, História Econômica Geral e História do Pensamento Econômico da UNIFAE (Curitiba, Paraná). 
 
 2 
apresenta como um respeitável instrumento analítico da conjuntura e da estrutura da 
sociedade e das relações econômicas capitalistas. 
Pretende-se, neste artigo, verificar o conceito de indústria cultural e salientar 
alguns aspectos teóricos de ADORNO; HORKHEIMER (1985) no seu célebre texto “A 
indústria Cultural: O Esclarecimento Como Mistificação das Massas”, extraído de “A 
Dialética do Esclarecimento” e “A Indústria Cultural”, publicado em 1968 individualmente 
por ADORNO (1978). Este último trabalho foi baseado em algumas conferências 
radiofônicas realizadas por Adorno e constitui uma síntese teórica geral de todos os 
conceitos desenvolvidos tanto no texto citado anteriormente, publicado em parceria com 
Horkheimer, como em “Sobre o Caráter Fetichista da Música e a Regressão da 
Audição”, publicado em 1938 e “Sobre a Música Popular” de 1941. 
O trabalho de ADORNO; HORKHEIMER (1985) foi um contra-ataque a um texto 
de BENJAMIN (1994) publicado em 1936. A visão de BENJAMIN (1994) acerca da 
relação reprodução técnica e cultura de massa era parcialmente positiva enquanto que 
ADORNO; HORKHEIMER (1986) consideravam que a cultura de massa não é cultura e 
não provém da massa. As mensagens produzidas pela indústria cultural são planejadas 
e visam exclusivamente o consumo. A indústria cultural frustra a arte erudita e reprime a 
popular. A área industrializada acaba por manipular o receptor e recria a ideologia 
dominante. A reprodução técnica tornou-se primordial no processo de comercialização 
da obra de arte, portanto a existência da industria cultural, de acordo com os 
argumentos dos dois filósofos frankfurtianos, somente é possível através deste 
processo. Posta tal constatação, deve-se abordar também as considerações feitas por 
BENJAMIN (1994) no trabalho “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade 
Técnica” escrito em 1936, uma das mais relevantes e densas análises sobre a obra de 
arte dentro do modo de produção capitalista. 
Como já citado, o conceito de indústria cultural sofre inúmeras críticas, 
principalmente pelo caráter determinista apontado por COHN (1990). No entanto, 
devemos salientar que o conceito de cultura na tradição alemã é díspar em relação ao 
conceito inglês, francês entre outros. O conceito de cultura alemã (Kultur) aponta que a 
arte – música, artes plásticas, filosofia e literatura - deve ser gerada pela inquietude do 
 
 3 
espírito e simultaneamente deve representar a realidade. Ela deveria expressar os 
valores morais, estéticos e intelectuais de uma sociedade. A arte é um processo de 
humanização (ELIAS, 1990, p. 23-49). Portanto, verificando o conceito de cultura alemã, 
as considerações de Adorno, Horkheimer e Benjamin ainda despertam um grande 
debate. 
 
 
1 Indústria cultural 
 
 
A indústria cultural, segundo ADORNO (1978), é um instrumento de opressão 
que camufla as contradições do capitalismo apontadas por MARX (1989). Portanto, sua 
função é homogeneizar e estimular o indivíduo à produção. 2 
O termo indústria cultural foi apresentado por ADORNO; HORKHEIMER (1985) 
para distinguir a cultura popular e a cultura de massa. A formulação do conceito foi 
decorrente de uma reflexão sobre a cultura industrializada durante o período do 
nazismo. ADORNO; HORKHEIMER (1985) conceberia o conceito sob o impacto da 
ascensão nazista na Alemanha, onde todos os ramos da indústria cultural eram 
totalmente dirigidos para a estruturação daquele regime. Ao se refugiar Estados Unidos, 
ADORNO depara-se com uma indústria cultural enrustida, onde o objetivo maior era a 
camuflagem das contradições sociais e produtivas do capitalismo. O papel da indústria 
do entretenimento norte-americana possuía, segundo ADORNO (1978), características 
semelhantes ao da Alemanha do período do nazismo. Na depressão da década de 
1930, o cinema, setor que foi exaustivamente explorado pela ideologia dominante, teve 
e têm como função, planificar os sentidos, desviando as atenções da população de 
suas condições. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 149) 
 
2
 Cabe ressaltar que o intuito deste trabalho não é adentrar nos conceitos de mais-valia absoluta e 
relativa e de acumulação primitiva e de capital formulados por Marx. Na analise da criação da mais-valia 
na esfera da produção (valor-trabalho), da concentração de capital e da queda da taxa de lucro, 
verificam-se, segundo Marx, as contradições do capitalismo. Para uma leitura básica destes conceitos, 
ver: COGGIOLA (1998). 
 
 4 
Portanto, um dos pontos fundamentais para a análise de ADORNO (1978) foi o 
amadurecimento da indústria cinematográfica presenciado pelo autor. Tais impactos 
são fundamentais para a formação de sua teoria. A rigidez das empresas americanas 
voltadas para a comunicação era da mesma estirpe das empresas nazi-fascistas no que 
diz respeito à dominação. Apesar da primeira estar intimamente ligada a esta questão, 
a indústria cultural americana tinha também como característica, além da afirmação do 
modo de produção, o consumo de massa. 
A realidade vista por ADORNO (1978) foi que a maior parte das entidades 
culturais já haviam se transformado em mercadorias, e a cultura em uma indústria. 
Tudo havia se transformado em produto de consumo. Assim, não há necessidade de 
disfarçar o caráter puramente mercadológico, pois a cultura tornou-se um negócio. O 
termo indústria refere-se a uma padronização da produção, portanto há uma perda de 
individualização do objeto de arte, sendo que a diferenciação de tais objetos ocorre de 
forma marginal (ADORNO, 1978, p.288). 
 
 
Sob o peso dos monopólios, toda a civilização é idêntica e a ossatura de seu esqueleto 
conceitual fabricado por este modelo começa a se revelar. Os dirigentes não se preocupam 
mesmo em dissimula-las; a sua violência cresce à medida que sua brutalidade se mostra à luz 
do dia. O cinema e o rádio não têm mais a necessidade de se passar por arte. Não passam 
de um negócio, aí está a sua verdade e sua ideologia, queeles usam para legitimar o lixo que 
produzem propositalmente. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 114) 
 
 
 
ADORNO; HORKHEIMER (1985) abandonam o termo cultura de massa para 
designar a indústria cultural, pois este esconde o verdadeiro interesse que seria a 
própria submissão e afirmação da sociedade capitalista e sua estrutura. Como a 
definição de massa diz respeito a uma homogeneidade, a cultura é transformada então 
pela lógica do capital. 3 Na verdade, ADORNO; HORKHEIMER (1986) consideram que 
 
3
 Há uma dificuldade na definição de cultura popular. De uma forma geral, a cultura popular está 
relacionada com o folclore de um povo, o seu cotidiano. A cultura de massa é a não folclórica, é a cultura 
transformada em consumo. Para uma maior discussão ver: BÓSI, 1977, p. 53 – 72. 
 
 5 
cultura de massa não é nem cultura e nem provém das massas. Ela é regida pela 
repetição e pela novidade. Acaba por não expressar reflexão e nem “inquietude de 
espírito” e sim consolidar hábitos e expectativas. A cultura de massa é imediatamente 
legível para a grande maioria dos expectadores e leitores. O conteúdo tem que ser 
compreensível, sem qualquer complexidade, onde a interpretação é obrigatoriamente 
literal. 
A indústria cultural não trabalha com Kultur e sim com entretenimento. O 
significado de cultura para ADORNO; HORKHEIMER (1986) é exatamente o oposto. 
Cultura é a não aceitação, é questionamento, é a reflexão. Assim, a indústria cultural 
jamais promoveria algo que não estivesse de acordo com o modo de produção, ou seja, 
um produto que promovesse a reflexão. Sendo assim, os meios de comunicação não 
trabalham com a imaginação, pois “pensar” significa não obedecer e sim buscar 
respostas. No lugar da cultura foi posta a necessidade de consumo criada pelo sistema 
capitalista. A cultura de massa não representa nenhuma manifestação de identidade, 
mas sim um produto, logo fator de reprodução capitalista. A cultura retornaria ao 
domínio de uma elite, paradoxalmente em relação às promessas da era das luzes. O 
conhecimento e a arte estariam confinados, tornando-se inacessíveis, portanto, a 
tomada de consciência não ocorreria, pois a cultura massificada esconderia as 
contradições e as diferenças sociais. Assim, ADORNO; HORKHEIMER (1985) apontam 
para a necessidade de desmascarar o papel da indústria cultural como um instrumento 
democratizante do conhecimento. 4 
Outra característica é a despreocupação com a integridade de uma forma 
artística autêntica, pois há o interesse pelo efeito que o produto proporciona. Visa-se a 
criação de diversões que promovam uma fuga temporária das pressões cotidianas e da 
monotonia. O produto desta indústria reforçaria a convicção de que a negatividade do 
cotidiano é uma “fatalidade inquestionável”. As pessoas são obrigadas a conviver com 
esta ”fatalidade”, e com isso, buscam na diversão uma forma de se esquivarem da 
mecanização do cotidiano. Essa diversão isenta de esforços intelectuais, tanto de 
caráter intimista quanto de consciência coletiva, atuam como estimulante à reprodução. 
 
4
 Esta condição determina, segundo BENJAMIN (1995 b), o surgimento da barbárie. 
 
 6 
O indivíduo, em seu momento de lazer, somente tem acesso á reproduções do próprio 
trabalho e, portanto, acaba por identificar-se com elas. 
 
 
A diversão é o prolongamento do trabalho (...) é procurada por quem quer escapar ao processo 
mecanizado do trabalho (...) mas a mecanização atingiu um tal poderio sobre a pessoa (...) que 
ela determina (...) a fabricação das mercadorias destinadas à diversão, que esta pessoa não 
pode perceber outra coisa se não as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho. 
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 128) 
 
 
A indústria cultural padroniza e unifica para o modo de produção capitalista de 
forma a integrar o indivíduo à produção e ao consumo. Assim, torna-se possível o 
controle tanto das crenças como dos impulsos individuais. A indústria cultural 
homogeneíza para a atual ordem social e produtiva. Segundo ADORNO (1978, p. 288), 
“é uma integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores.” 
As atividades culturais são dirigidas e controladas, pois houve um processo de 
concentração econômica e administrativa (ADORNO, 1978, p. 289). A produção e o 
consumo determinam o processo de integração do indivíduo na sociedade, pois há um 
controle total em relação à vontade de consumir que simultaneamente legitima a 
dominação. Uma subserviência voluntária. O desejo de consumo seria renovado pelo 
progresso técnico e científico e por fim haveria um total planejamento racionalizado da 
sociedade (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.130). 
Em todos os ramos da indústria cultural é atribuído à arte características que 
adicionam uma qualidade que promove um produto adaptado ao consumo das massas. 
A indústria assimila uma arte ou manifestação popular e atribui características que 
garantam o seu consumo e mantenha consolidada a dominação. Segundo ADORNO 
(1978), esta indústria especula com a consciência e a inconsciência das pessoas e, 
estas constituem um elemento de cálculo para a produção. A indústria cultural parece 
sondar as camadas sociais e delas retirar as tendências e manifestações culturais que, 
ao adentrarem no processo produtivo, são destituídas de suas características 
 
 7 
autênticas através de atributos inseridos pela grande indústria. Estes atributos 
promovem o consumo de massa. A comercialização de seus produtos é feita segundo 
as posses das camadas sociais, o que determina uma planificação da produção. 
Segundo ADORNO (1978, p. 289), "as mercadorias culturais da indústria se orientam 
segundo o princípio de sua comercialização e não segundo seu próprio conteúdo e sua 
figuração adequada.” 
A dedicação por parte da indústria aos ganhos do produto é visível. Mas além 
dos ganhos, a indústria tem que atribuir elementos que promovam a alienação e a 
efemeridade. A conciliação entre lucro e efeito fez do produto de consumo de massa 
um importante instrumento de dominação que embarca também o próprio produtor. 
Com isso, as “criações espirituais”, como ADORNO; HORKHEIMER (1985) prefere 
definir, estão fadadas ao desaparecimento. O produtor referido passa a ser considerado 
como um elemento chave para a indústria. Ele passa a adequar a sua arte e a 
racionaliza, segundo o modo de produção capitalista. Ou seja, ele incorpora 
características que propiciam o consumo de massa. Tornando-se uma mercadoria 
consumida em larga escala a obra proporcionaria lucros tanto para a indústria 
fonográfica, através da venda de seu produto, quanto para o produtor, que alcança os 
ganhos desejados pelos direitos autorais. “Toda a práxis da indústria cultural transfere, 
sem mais, a motivação do lucro às criações espirituais. A partir do momento em que 
essas asseguram a vida de seus produtores, elas já estão contaminadas por essa 
motivação.” (ADORNO, 1978, p. 290) 
Com a reprodução, o papel do produtor se intensifica, pois os ganhos se tornam 
ainda maiores. No caso da música, o papel da reprodução é extremamente visível. O 
ato “sagrado” de ouvir um concerto ao vivo e o prazer proporcionado por isto, é 
substituído através da execução mecânica. O produtor vê possibilidades de lucros cada 
vez maiores através da reprodução de sua obra e a “criação espiritual” acaba por ser 
transformada em mercadoria. Não importa mais o que se faz e sim o que se ganha. Por 
fim, o produtor massifica a sua obra, adicionando atributos que permitam 
concomitantemente resultar em consumo e alienação (ADORNO, 1978, p. 291). 
 
 8 
O conteúdo massificado da música foi amplamente teorizado por ADORNO 
(1996). Muitos criticam os aspectos elitistas impressos neste, principalmente na questão 
da recepção.Mas a contribuição de ADORNO (1996) é inegável e a 
contemporaneidade de vários aspectos de suas análises é visível. ADORNO (1996) 
abandona a questão do gosto musical como o verdadeiro objeto de análise da música 
de massa. O gosto se reduziu, na visão de ADORNO (1996), ao mero reconhecimento 
da música de sucesso. O reconhecimento da massa no que é familiar, segundo 
ADORNO (1996), é a essência da audição. As fórmulas de sucesso populares são 
repetidas no mesmo padrão. Ou seja, se um determinado padrão tornou-se um êxito 
comercial, esta fórmula será repetida de forma que o consumo ocorra de forma pacífica. 
A música padronizada exemplifica a padronização de todos os objetos da indústria 
cultural. ADORNO (1996) justifica esta padronização pelo fato de que as necessidades 
se tornaram iguais. 
 Como citado anteriormente, a obra contém características que permitam o 
“ócio” intelectual, assim, ocorre uma pacificação social e o aniquilamento da “música 
séria”. O comportamento valorativo é quase impossível para um indivíduo cercado de 
música padronizada. Para o indivíduo, gostar de música é reconhecer se ela é um 
sucesso reconhecido pelos outros. 
 
 
O comportamento valorativo tornou-se uma ficção para quem se vê cercado de mercadorias 
padronizadas. Tal indivíduo não consegue subtrair-se ao jugo da opinião pública, nem 
tampouco pode decidir com liberdade quanto ao que lhe é apresentado, uma vez que tudo o 
que se lhe oferece é idêntico ou semelhante que a predileção, na realidade, se prende apenas 
ao detalhe biográfico, ou mesmo na situação concreta em que é ouvida. (ADORNO, 1996, p. 
66) 
 
 
A “música séria”, apontada por ADORNO (1996), é descartada com facilidade 
do gosto popular, através de rótulos que promovem antecipadamente a objeção por 
parte do ouvinte. E, por fim, o entretenimento da música desaparece, assim como o 
 
 9 
comportamento valorativo. A música acaba por contribuir para o emudecimento dos 
homens (ADORNO, 1996, p. 68). 
 
 
 
 
2 A reprodução da arte 
 
 
No célebre trabalho “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica”, 
BENJAMIN (1994) expõe que a arte ao ser difundida através de sua reprodução 
permitirá uma maior difusão da cultura por todas as classes sociais e com isso 
proporcionará o surgimento de um novo tipo de arte que romperia com os conceitos 
tradicionais. Segundo BENJAMIN (1994), a estrutura já está modificada e não 
poderíamos voltar para trás. Portanto, a “nova arte” seria inevitável, pois a reprodução 
técnica já alterou inclusive o conceito tradicional de arte. 
A visão de BENJAMIN (1994) a cerca do papel do cinema demonstrava um 
otimismo não verificado pelos demais frankfurtianos em relação à reprodução e a 
cultura de massa. O público poderia ser extremamente conservador em relação a um 
quadro de Klee ou a uma obra de Kafka. No entanto, era receptivo e progressista a um 
filme de Chaplin. O público do cinema, segundo Benjamin, poderia unir distração e 
crítica.5 Ou seja, poderia ser capaz de unir o entretenimento com o exame desta 
 
5
 Os conceitos de BENJAMIN (1994), nitidamente provindos dos prognósticos de MARX (1989), 
demonstram-se consistentes, principalmente no que se refere à transitoriedade da percepção das 
massas (BENJAMIN, 1994, p. 165). A partir desta constatação, o autor adentra pioneiramente na 
percepção do que é “modernidade”. O caráter pioneiro de BENJAMIN (1994) na questão da 
“modernidade” é visível principalmente no desaparecimento da tradição cultural na sociedade capitalista, 
na conjugação “tempo” e “espaço” vindo do conceito de “aura”, nas mudanças estéticas e na concepção 
do indivíduo desamparado e sem crença. É a figura do flaneur, o que foi marginalizado dentro da 
ascensão do capitalismo e que é relegado dentro de uma modernidade que assistiu o nascimento dos 
sistemas totalitários. O flaneur não se engaja em nenhuma atividade produtiva. Seu andar é lento, ele não 
tem objetivo, não chegou ao mercado, fez da ociosidade uma arte - seu ócio é o tempo que leva no 
labirinto, antes de chegar ao mercado, onde ele reluta em chegar, perdendo-se na cidade que conhece 
tão bem. “No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas 
se transforma ao mesmo tempo do seu modo de existência. O modo pelo qual se organiza a percepção 
humana, o meio que ela se dá, não é apenas condicionado naturalmente, mas também historicamente” 
 
 10 
distração. “A recepção através da distração, que se observa crescentemente em todos 
os domínios da arte e constitui o sintoma de transformações profundas nas estruturas 
perceptivas, tem no cinema o seu cenário privilegiado.” (BENJAMIN, 1994, p. 194) 
Assim, a arte cinematográfica possui a capacidade de estimular uma recepção 
mais crítica. O cinema, segundo o autor, é capaz de mostrar características que 
dominam nossas vidas e que antes não eram possíveis de serem vistas. A arte sempre 
estimula nossas sensibilidades para conseguirmos visualizar novas possibilidades e 
para enfrentarmos novos desafios. Este estímulo provém exatamente da expansão do 
mundo de objetos que podemos observar. 
Portanto, através da reprodução a difusão da cultura por todas as classes 
sociais promoveria uma “desparticularização” da obra e com isso perderia a sua função 
“parasitária” como define o autor. A reprodução permitiu que a obra perdesse o seu 
valor de culto ou “ritualidade” e o seu valor agora é medido pelo alcance proporcionado. 
Ou seja, o seu valor será verificado pelo grau de exposição. 
A reprodução da arte inseriu a cultura dentro do processo de desenvolvimento 
capitalista e, por muitas vezes, o ajudou a afirmar-se, escondendo as suas contradições 
internas. No decorrer deste século, demonstrou-se que o processo de reprodução é 
inerente à grande indústria, adotando todas as características do modo de produção 
vigente. Como já mencionamos, para ADORNO (1978) é impossível o surgimento de 
uma arte autêntica que não esteja relacionada com a reflexão. A arte, agora 
transformada em produto de consumo, irá atender ás exigências do mercado e às suas 
atribuições ideológicas. Com isso o valor de uso da arte transformou-se em valor de 
troca. Toda a mercadoria é resultado de um processo de alienação, onde se escondem 
todas as contradições do capitalismo e contém em si o valor de troca, que é à base do 
sistema capitalista. Segundo ORTIZ (1986, p. 55), a crítica de ADORNO (1978) em 
relação às considerações de BENJAMIN (1994) recai na concepção da dialética. “Em 
sua crítica, Adorno dirá que Benjamin esquece o lado dialético da questão: subestima a 
arte tradicional no que ela tem de negadora da sociedade real, e supervaloriza a 
dimensão crítica de uma cultura massificada.” 
 
(BENJAMIN, 1994, p. 169). Para maiores detalhes sobre a figura do flaneur, ver: ARENDT (1987, p.133-
176) e BENJAMIN (1995b, p.33-101). 
 
 11 
Perceptivelmente, ADORNO (1978) está se referindo ao papel da “técnica” e 
seus efeitos. Para o autor, o conceito de “técnica” guarda dentro de si a racionalidade 
instrumental e esta permitiu o aprimoramento da técnica. Com isso, a técnica é a 
própria racionalidade da dominação. Ela é um processo que homogeneíza a obra de 
arte e, através da produção em série, faz com que a obra perca a sua relação com a 
realidade social. Assim a obra de arte massificada acaba por carregar um conteúdo 
ideologizado que é fruto da racionalidade técnica. 
No entanto, BENJAMIN (1994) não concede à reprodução da arte uma visão 
totalmente positiva. Ao contrário do que ADORNO (1978) propôs, BENJAMIN (1994) 
compreendeu que a reprodução pôs de lado a autenticidade, a criatividade,o gênio e a 
forma, sendo que, de modo descontrolado, conduz ao que o autor definiu como meio de 
elaboração de dados no sentido fascista (BENJAMIN, 1994, p. 168). As observações 
feitas por BENJAMIN acerca da autenticidade e da criatividade vão além das 
formulações de ADORNO (1978). BENJAMIN (1994) considera o caráter subjetivo da 
arte de maneira mais concreta e a insere na reprodução capitalista analisada por MARX 
(1986). Além disso, é visível para o autor que a reprodução promoveria uma 
“estetização da política” e poderia também gerar uma banalização da obra se não 
houvesse o surgimento de novas expressões artísticas (BENJAMIN, 1994, p. 195). Para 
compreendermos melhor esta questão torna-se necessário verificar o conceito de “aura” 
e o seu desaparecimento como fenômeno da modernidade. 
A obra sempre foi reprodutível, no entanto, a reprodução técnica representa um 
novo processo. A importância do talento humano para a reprodução é eliminada sendo 
que a técnica a substitui de forma mais eficaz e perfeita. Segundo BENJAMIN (1994, p. 
167), “a reprodução técnica do som iniciou-se no fim do século passado. Com ela, a 
reprodução técnica atingiu tal padrão de qualidade que ela não somente podia 
transformar em seus objetos a totalidade das obras de arte tradicionais, submetendo-as 
a transformações profundas, como conquistar para si um lugar próprio entre os 
procedimentos artísticos.” 
Há uma perda na obra, mesmo na reprodução mais perfeita. A perda refere-se 
ao que o autor definiu como “o aqui e agora da obra de arte”. Ou seja, a perda de uma 
 
 12 
existência única, do “todo”. Esse “todo” é o que constitui a autenticidade da obra, sua 
visão e compreensão mais completa e isso escapa da reprodutibilidade técnica 
(BENJAMIN, 1994, p. 167). A obra original preserva a sua autenticidade. E a 
autenticidade, como afirma o autor, “é a quitenssência de tudo o que foi transmitido pela 
tradição, a partir de sua origem, desde sua duração material até o seu testemunho 
histórico. Como este depende da materialidade da obra, quando ela se esquiva do 
homem, através da reprodução, também o testemunho se perde.” (BENJAMIN, 1994. 
P.168) 
A reprodução, no entanto, possui algumas características apontadas pelo autor: 
a reprodução tem maior autonomia, pois ela pode ajustar o seu ângulo de observação, 
acentuando certos aspectos; ela pode fixar arbitrariamente uma situação impossível ao 
original. Assim, BENJAMIN (1994) conclui que o conteúdo total pode ficar intacto ou 
mesmo, não observável. A reprodução pode também fixar certos pontos que impedem 
ou simplificam a compreensão total da obra. Assim, é destruída a “aura”. Segundo o 
autor, a “aura” é uma figura singular, a aparição única de uma coisa distante, por mais 
perto que ela possa parecer. Ele exemplifica como um galho que projeta sua sombra 
sobre nós. “Neste momento estaríamos assimilando o galho através de sua sombra. 
Retirar o objeto do seu invólucro, destruir a sua aura, é a característica de uma forma 
de percepção cuja capacidade de captar o semelhante no mundo é tão aguda, que 
graças à reprodução ela consegue captá-lo até no fenômeno único.” (BENJAMIN, 1994, 
p. 171) 
A emancipação da obra que, através da reprodução técnica, perde a sua 
função ritual; ritualidade esta definida como uma característica “teológica”, constitui 
outro ponto de reflexão (BENJAMIN, 1994, p. 173). A obra passa a ser produzida a 
partir de uma obra criada para ser reproduzida. Neste ponto, BENJAMIN (1994) atinge 
o ápice de sua análise, onde a “contemporaneidade” de suas considerações se tornam 
visíveis. A eliminação da “aura” e da autenticidade projeta na obra de arte o caráter de 
um objeto, este destituído das “virtudes” anteriormente citadas. Portanto, desaparece a 
referência original da obra e suas funções críticas. A função social da obra se 
transforma em uma função política e, com isso, prevê-se uma difusão maciça com uma 
 
 13 
criação para a coletividade. Ressalta o autor que esta difusão atinge todos os ramos 
produtivos e políticos da sociedade. Ela não só atende determinados fins políticos como 
também os aspectos econômicos que passam a ser dominantes. 
BENJAMIN (1994), ao contrário de ADORNO (1978), releva a questão da 
percepção do público. Enquanto ADORNO (1978) verificava que a reprodução técnica 
determinou uma padronização do produto, BENJAMIN (1994) permitiu que o receptor, 
no caso, o espectador, pudesse ter uma noção crítica do produto massificado. Ambos 
autores visualizaram o caráter repressivo que a produção em massa poderia assumir. 
BENJAMIN (1994) jamais descartaria este fator. A obra de arte quando entra no 
processo de produção através da reprodutibilidade técnica, pode perder a sua 
compreensão total perante as massas através da distorção de seus significados 
promovida pela indústria. No entanto, o receptor não é um ser totalmente passivo. 
 
 
3 A limitação do conceito de adorno 
 
 
Para COHN (1990, p.6), ADORNO (1978) cai em uma teoria determinista onde 
não ocorrem reações isoladas, e o que ele definiu como “consciência reificada".6 
determina que a consciência do indivíduo é um mero reflexo das condições sociais 
vigentes. A consciência, ainda segundo COHN (1990, p. 7), não é um mero reflexo 
destas condições, apesar de não ser concebida isoladamente destas. O conceito 
adorniano de cultura (o protesto perene do particular frente à generalidade) omite 
relações isoladas e auto-suficientes. Historicamente, os períodos transitórios de 
estabilidade para os períodos de mudanças promoveram relações em que o “velho” 
ainda não desapareceu e o “novo” ainda não se consolidou. Nestas condições, nem 
todas as atividades se relacionam ou se reproduzem conforme os padrões 
 
6
 Que consiste na conjugação entre a articulação que furta a consciência e a incapacidade de reflexão 
através da subordinação, segundo COHN (1990,. p.7). 
 
 14 
determinados. São momentos históricos não consolidados, mas não completamente 
desvinculados do processo de formação total. 
COHN (1990) aponta para o fato de que as definições de ADORNO (1978) 
estão presas a um sistema fechado onde todas as relações são recíprocas. No conceito 
de indústria cultural, ocorrem determinações que generalizam a produção e distribuição 
sendo que a cultura perde totalmente sua autonomia. No entanto, não se deve supor 
que a cultura seja totalmente subordinada à indústria. 
 
 
Para além de reconhecer as implicações da impossibilidade de pensar-se a cultura sem 
considerar as determinações da produção econômica, trata-se de examinar como se realiza, 
nas condições próprias do capitalismo, a circunstância de que a supremacia da lógica 
econômica do mercado sobre as determinações culturais afetam ambos os termos da unidade 
ao se umbricarem no interior do próprio processo cultural (COHN, 1990, p. 11). 
 
 
O autor desvincula o termo cultura de indústria, sendo que uma afeta 
diretamente a outra tanto no processo de formação cultural como o da própria produção 
capitalista. Outro ponto relevante apontado por COHN (1990), é de que a própria obra 
de arte, que se encontra nos produtos da indústria cultural, apresenta-se em inúmeros 
níveis de efeito. Não há uma tendência por parte dos que dominam a indústria cultural 
em operar com vistas a um mercado indiferenciado, e sim estratificado. Esse mercado 
estratificado impõe limites ao planejamento dos efeitos, pois os consumidores reagem 
diferentemente. Portanto, não há diferenças superficiais de consumo, o que há é uma 
especificidade deste. 
 
 
Considerações Finais 
 
 
A definição de ADORNO; HORKHEIMER (1985) é válida para a produção 
dirigida ao consumo em massa. Apesar das limitações apontadas por COHN (1990), ela 
é pertinente no que diz respeito a esse tipo de consumo. Estaslimitações ligam-se à 
 
 15 
possibilidade de ADORNO (1978) ignorar fatos como a resistência ao consumo e a arte 
não massificada, que subsistem em meio à demanda do consumo de massa. Apesar de 
constituir uma produção paralela, ligada a pequenos nichos, ela foge, em parte, dos 
conceitos adornianos. Essas “resistências” descomprovam a definição de ADORNO 
(1978) que tem sua validade apenas à produção ligada a uma estrutura totalmente 
planificada e com relações recíprocas e horizontais e sem a formação de “nichos 
culturais”, apontados por COHN (1990). 
Destarte, COHN (1990) apresenta uma situação onde ocorre uma não 
aceitação, por parte de um pequeno número de pessoas das imposições culturais e das 
distorções. Como já descrito, a indústria cultural procura unificar a sociedade para a 
ideologia e para o modo de produção vigente. A indústria cultural na medida do possível 
procura homogeneizar a sociedade na ideologia da ordem existente. O surgimento da 
reprodução técnica permitiu que a arte se estabelecesse como instrumento da política, 
na visão de BENJAMIN (1994), e possuir um caráter repressivo como enfoca ADORNO 
(1978). No entanto, lhe escapa o controle total. 
A proposta de ADORNO (1978) é pertinente à produção massificada. As suas 
considerações acerca da aceitação por parte da maioria das pessoas das formulas 
padronizadas impostas pela indústria e a forma como é desvinculada a identidade 
cultural mostram-se verdadeiras e atuais. No entanto se eliminarmos o comportamento 
valorativo ele também está eliminando o papel do receptor. O mesmo ocorre se 
considerarmos que todo o imaginário social é unificado e padronizado assim como as 
suas relações simbólicas. 
Cabe ao produtor e ao receptor fazer esta distinção. Neste ponto, BENJAMIN 
(1994) deixa um campo aberto para a questão da expressão da arte, devido ao caráter 
de prognóstico que ele mesmo assume. As alterações são possíveis devido ao fato de 
que a percepção das massas se altera com os anos. O conceito de arte já foi alterado 
devido à reprodução técnica. BENJAMIN (1994) está correto ao afirmar que não 
podemos mais retroceder. A reprodução está presente e ela faz parte da obra. A 
difusão da obra permitiu que milhares de pessoas pudessem ter acesso a ela. Assim o 
papel do produtor e do receptor se alterou e não há como retornar. 
 
 16 
ADORNO (1978) ainda vislumbrava o papel da música executada ao vivo e a 
possibilidade de todos admirarem as notas dissonantes de Schoenberg. A música ainda 
é executada em concertos e Schoenberg é reconhecido até os tempos atuais devido ao 
processo de reprodução de suas obras. A obra sobrevive de acordo com o seu caráter 
estético, que depende do produtor, e da sensibilidade de alguns receptores em 
absorver o conteúdo. O produtor que adapta a sua obra ao consumo de massa existe e 
provavelmente é regra. No entanto existem outros que não estão preocupados 
exclusivamente com o que se ganha. 
Quando MARX (1989) argumentou que a partir do momento em que a cantora é 
contratada para dar concertos, ela se torna um trabalhador produtivo, pois gera capital, 
ela não foge de uma realidade incontestável. Mas o papel do produtor não pode ser 
eliminado. Se o produtor está inserido na padronização da indústria e atende os seus 
objetivos, ele massifica a sua arte. No entanto, sempre há os que não atendem às 
pressões mercadológicas, mesmo sendo trabalhadores produtivos. A obra de arte pode 
se vincular ou não à produção de massa. O que pode haver é uma estratificação no 
mercado. 
A sobrevivência no mercado não é restrita única e exclusivamente no consumo 
de massa. Existem áreas de atuação, promovidas por uma série de receptores que não 
estão dispostos a consumir o produto massificado, que podem garantir a existência do 
produtor independente. Estes “nichos”, recorrendo a COHN (1990), não estão 
desvinculados do modo de produção capitalista, no entanto eles comprovam que 
ADORNO (1978) não observou a possibilidade da sobrevivência simultânea da “alta 
cultura” com a “cultura de massa”. Mas elas não são postas juntas e não significam a 
mesma coisa. Elas acabam por ser direcionadas, mesmo sendo mercadorias. 
A comunicação de massa pode garantir a difusão da obra ideologizada, mas 
não reprime por completo a que não atende aos preceitos do modo de produção 
vigente. A falta de difusão pode relegar a obra a uma pequena audiência, mas ela 
sempre existirá, por mais restrita que esta audiência seja. O problema é que o interesse 
pela arte que busca uma maior independência em relação ao modo de produção é cada 
vez menor, devido à atuação dos medias. Assim, podemos afirmar que as 
 
 17 
considerações de ADORNO (1978) podem ser plenamente direcionadas para a análise 
do consumo de massa totalmente planificado. 
 
 
 
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