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A indústria cultural

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TEORIAS DA
COMUNICAÇÃO
Rafaela Queiroz 
Ferreira Cordeiro
Revisão técnica:
Deivison Moacir Cezar de Campos
Especialista em História contemporânea
Mestre em História Social
Doutor em Ciências da Comunicação
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147
T314 Teorias da comunicação / Rafaela Queiroz Ferreira Cordeiro
 [et al.] ; [revisão técnica: Deivison Moacir Cezar de
 Campos]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
 295 p. il. ; 22,5 cm.
 IISBN 978-85-9502-236-2
 1. Comunicação - Teoria. I. Cordeiro, Rafaela Queiroz
 Ferreira. 
CDU 007
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A indústria cultural
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Definir o que é indústria cultural.
 � Descrever as características da indústria cultural.
 � Identificar críticas feitas à indústria cultural.
Introdução
O surgimento da indústria cultural se deu durante o contexto de indus-
trialização da sociedade. A expressão indústria cultural, no entanto, só 
apareceu por volta da década de 1940. Foram os estudiosos Theodore 
Adorno e Max Horkheimer (2000), da Escola de Frankfurt, que a cunharam 
para explicar a produção em série e a padronização dos objetos culturais. 
Estes, na sociedade capitalista liberal, passaram a ser produzidos sob a 
ótica do lucro, cujo fim é meramente o seu consumo. Embora o acesso 
a esses produtos tenha se alargado globalmente e chegado a milhares 
de pessoas, uma das suas consequências é a “coisificação” da própria 
vida humana.
Neste texto, você vai saber o que é indústria cultural. Também vai co-
nhecer algumas de suas características e, por fim, identificar algumas críticas 
que pode fazer a respeito do funcionamento dessa indústria na sociedade.
O que é indústria cultural?
O termo indústria cultural foi criado em 1942 por Theodore Adorno e Max 
Horkheimer (2000), estudiosos da teoria crítica, da Escola de Frankfurt. 
Essa expressão aparece pela primeira vez na obra Dialética do Iluminismo, 
publicada em 1947. Os autores desse livro descrevem o suposto “progresso 
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cultural” a partir da análise dos fenômenos sociais realizada entre as décadas 
de 30 e 40 (WOLF, 1999). Conforme Wolf (1999), essa expressão foi usada 
para substituir a de cultura de massa, em virtude de indústria cultural se 
referir mais adequadamente a uma cultura que nasce “espontaneamente” das 
próprias massas.
Segundo Adorno e Horkheimer (2000, p. 169), “[...] a civilização atual a tudo 
confere um ar de semelhança”. Os livros, as músicas, os filmes, os objetos, as 
arquiteturas, os projetos urbanísticos, os monumentos, todos foram tocados 
pela indústria cultural. Isso pode ser mais bem observado em viagens, por 
exemplo. Quando você viaja, caso as paisagens não se refiram a momentos 
específicos da história do local, é possível notar muitas semelhanças no projeto 
da modernidade de cada uma. Além de construções similares, a segregação 
riqueza vs. pobreza também é algo que circula em muitas localidades. 
Nas feiras de Caruaru, em Pernambuco, há souvenires que trazem personagens da 
história local, como o do Mestre Vitalino, mas também há aqueles do Mickey Mouse. 
Death Note, famosa série de mangá japonesa, foi adaptada para a indústria internacional 
pela empresa norte-americana Netflix. E o que falar dos milhares de enredos de 
filmes que são numerosamente replicados pelos estúdios de Bollywood e da indústria 
cinematográfica brasileira? Há ainda os best-sellers que, por sua própria natureza, se 
impõem aos leitores como obrigatoriedades da lista de leitura do momento.
Ora, o rádio, o cinema, o jornal, a internet e, hoje, as redes sociais se 
harmonizam entre si e constituem a indústria cultural. Esse sistema oferece 
ao público produtos dentro de uma hierarquia de qualidade em “série”, ou 
seja, produtos simbólicos são fabricados de forma homogênea. A diferença 
entre eles resta apenas sob a identidade de “fundo mal disfarçada”. Dentro 
da ótica do lucro pregada pelo capitalismo, é estabelecido o tipo e a função 
do consumo, além da qualidade da produção e a autonomia do sujeito que a 
consome (WOLF, 1999). A mira é a eficácia e o seu posterior consumo. Logo, 
o que fugir do que é determinado pelo próprio consumo faz parte do risco e,
portanto, deve ser excluído.
A estandardização ou padronização é a palavra de ordem dessa indústria: 
“[...] a participação de milhões em tal indústria imporia métodos de reprodução 
que, por seu turno, fazem com que inevitavelmente, em numerosos locais, ne-
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cessidades iguais sejam satisfeitas com produtos estandardizados.” (ADORNO; 
HORKHEIMER, 2000, p. 170). Em outras palavras, para satisfazer a todos os 
gostos, a indústria cultural faz uso de técnicas que pasteurizam os desejos e 
anseios dos diversos sujeitos em certos esquemas (estereótipos, clichês, etc.) 
para nivelar o universal e o particular. É desse modo que, elaborada a unidade 
entre o macro e o microcosmo – entre povos e homens, respectivamente –, a 
produção da indústria cultural passa a se concentrar.
É importante você lembrar que a teoria crítica também faz parte dos estudos dos 
meios de comunicação de massa reunidos sob o título de Mass Communication Rese-
arch. Apesar disso, ela traz pontos que contrastam com os da pesquisa administrativa 
representada pela Escola Norte-americana. O instituto que ficou conhecido como 
Escola de Frankfurt foi fundado em 1923 e se tornou um espaço importante de pesquisa 
a partir da nomeação de Horkheimer como seu diretor. Na época da dominação 
nazista, esse instituto foi obrigado a fechar e os seus representantes migraram para 
Paris e, posteriormente, para Nova Iorque. Lá, eles passam a participar do Institute of 
Social Research. 
A teoria crítica analisa os fenômenos sociais de forma conjunta, não por meio de 
disciplinas setorizadas, tendo em vista que a sociedade é observada como um todo. 
Além disso, a base crítica dessa escola se fundamenta na dialética da economia política, 
isto é, no materialismo marxista, o qual se caracteriza por analisar concretamente a 
história a partir de suas práticas concreta e atuais, pois é na prática que a filosofia e 
a história se realizam. Para Chauí (2004 [1980]), a matéria referida no materialismo 
histórico-dialético é a dos homens produzindo em certas condições o modo de se 
reproduzirem como homens e de organizarem suas vidas. Portanto, a reflexão dos 
teóricos da Escola de Frankfurt se centra nas tensões que existem entre as instituições 
e a vida, sem dissolver o social no inato/natural, mas refletindo sobre os processos que 
constituem as formas de organização da própria vida (WOLF, 1999).
Há alguns pontos de extrema relevância que você precisa considerar sobre 
a indústria cultural. Eles respondem à seguinte pergunta: por que a indústria 
cultural funciona e faz tanta eficácia? Primeiro, porque a adesão a tal sis-
tema ocorre com bem pouca ou quase nenhuma reflexão crítica. Isso se dá 
porque, conforme explicam Adorno e Horkheimer (2000), ela nos leva a um 
conflito íntimo entre impulsos e consciência. A indústria cultural estabelece 
uma relação de promessa com os seus espectadores/consumidores: ela lhes 
promete beleza na divulgação do vestido floral a la moda francesa, promete 
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magreza na nova propaganda do diet shake delicioso de morango, oferece 
status de sucesso no conversível automático prateado usado no último filme 
Missão Impossível estrelado por Tom Cruise, apresenta uma noite de sonhos 
e prazeres para o público feminino em 50 Tons de Cinza. A indústria cultural 
é plena de promessas, mas é aí que ela prende os seus consumidores no que 
lhes promete continuamente. E é nesse momento que o sujeito acredita estar 
“magicamente” sendo agraciado e preenchido pelos produtos(e sentimentos) 
que ela lhes oferece. Ora, não sabe o sujeito que ele não é o rei dessa indús-
tria, como poderia pensar, mas reinado por ela. No assalto indefinido entre 
promessas, sonhos e espetáculos, a sua rotina diária e no trabalho continua a 
lhe massacrar. Isso porque, e você pode considerar este o segundo ponto da 
resposta para a pergunta feita no início deste parágrafo, a indústria cultural 
alimenta a ideologia do sistema capitalista.
Assim, em segundo lugar, a indústria cultural funciona e faz tanto sucesso 
porque pouco se nota a relação que existe entre ideologia e cultura. Ou seja, 
a indústria cultural não está a serviço do consumidor, mas do maquinário 
capitalista. Aquela, ao produzir em massa os produtos culturais, se guia pela 
ordem do lucro do capitalismo. Ou seja, ela alimenta e é alimentada pela 
ideologia da sociedade capitalista, incutindo nas “massas” falsas necessidades 
e desejos – necessidades essas, é importante que você perceba, criadas para 
satisfazer reciprocamente o capitalismo. Ou, ainda, se poderia dizer que tais 
necessidades passam a ser controladas a serviço do próprio sistema. Portanto, 
a indústria cultural engrena a base estrutural socioeconômica capitalista ao 
criar o que se chamam “falsas” necessidades e desejos. 
Na alienação vivida pelas pessoas, elas acabam se sentindo vazias, sem 
referenciais e valores indentitários. Desse modo, são facilmente sugadas pela 
grande indústria e compelidas a realizar os desejos estrategicamente criados 
para “manipulá-las” e “docilizá-las”. É por isso que a maioria acaba por se 
acomodar a cumprir as exigências do mercado sem uma reflexão crítica 
sobre o mesmo. Afinal, o espaço crítico é o primeiro a ser destituído de 
importância: imposições à atividade do pensamento são feitas para que não 
haja impedimento ao sucesso da indústria cultural. Nesse processo, a ideologia 
tem papel fundamental.
A relação ideológica da indústria cultural com o sistema capitalista é muito 
pouco perceptível, pois as pessoas estão imersas em uma ordem econômica 
cujos meios de comunicação de massa alimentam a ideologia. Isto é, nutrem o 
conjunto de valores e ideias propagadas pelas classes dominantes para manter 
e perpetuar a diferença entre classes sociais, como se estas fossem naturais, 
parte “imanente” da história. Ora, e o que faz a ideologia? “A ideologia se 
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esconde atrás do cálculo das probabilidades” (ADORNO; HORKHEIMER, 
2000, p. 192). É por meio dela que se aceita que a fortuna não vem para todos, 
mas “[...] apenas para algum felizardo, ou antes aos que um poder superior 
designa — poder que, com frequência é a própria indústria dos divertimentos, 
descrita como na eterna procura de seus eleitos” (ADORNO; HORKHEIMER, 
2000, p. 192). Em outras palavras, a ideologia camufla as práticas da história 
e as possibilidades do homem de lutar pela mudança.
Assim, a ideologia é o cimento do funcionamento da indústria cultural. Ela 
mantém a exploração das classes dominadas de tal forma que isso pareça não 
ocorrer nas práticas sociais e econômicas cotidianas. Mesmo que a mensagem 
veiculada por alguns desses meios pareça ser explícita e democrática, os 
meios de massa operam numa estrutura multiestratificada e, principalmente, 
por meio de efeitos de mensagens ocultas. Logo, o que realmente há é a 
produção e reprodução do espetáculo, de valores totalitários e de inércia e 
mediocridade intelectual: “[...] através do material que observa, o observador 
é continuamente colocado, sem o saber, na situação de absorver ordens, indi-
cações, proibições” (WOLF, 1999, p. 91). Assim, todos têm que mostrar que 
se identificam integralmente com o poder, poder esse que não para de lhes 
dar pancadas (ADORNO; HORKHEIMER, 2000).
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O conceito de alienação a que os teóricos da Escola de Frankfurt fazem referência é 
tomado a partir do que defende Marx em O Capital. Este, por sua vez, ressignifica essa 
noção já em uso por Hegel e Feuerbach. Você precisa, assim, retroceder um pouco a 
esses dois filósofos para entender a concepção marxista de alienação. 
Hegel considera que o exterior (as coisas naturais, os produtos do trabalho, a so-
ciedade, etc.) e o interior (a consciência, o sujeito) são dois momentos da vida que 
aparecem de forma separada por causa do trabalho do espírito. Assim, quando o sujeito 
não se reconhece como produtor das obras nem como sujeito da história, mas toma 
essas obras como exteriores a ele, como se elas o dominassem, existe a alienação. 
Feuerbach defende que a religião é a forma suprema de alienação do homem. Desse 
modo, segundo Feuerbach, a alienação se dá na religião porque nela há a projeção 
da essência do sujeito num ser que lhe é superior e exterior. 
Opondo-se a Hegel, Marx afirma que a alienação não é do espírito, mas do homem 
em suas condições reais. Já se opondo a Feuerbach, Marx afirma que o homem é um 
ser histórico que se constitui nas diferentes condições históricas, assim não há uma 
essência humana. Logo, a alienação religiosa que Feuerbach tratara é apenas uma 
manifestação da alienação real que é a do trabalho.
A concepção marxista do trabalho alienado é aquela cujo produtor não consegue 
se reconhecer no próprio produto do seu trabalho. Afinal, as condições, as finalidades 
e os valores do trabalho não dependem nem são acessíveis ao trabalhador, mas 
dependem do proprietário. Além de não se reconhecer no produto, nem de vê-lo como 
um resultado do seu esforço, o produto aparece para o produtor de forma separada, 
como um poder que o ameaça. A transformação se deve dar na prática dos homens 
para que as ideias se tornem diferentes. 
Fonte: Chauí (2008).
Características da indústria cultural
Individualismo ou pseudoindividualismo
Existe uma famosa frase de Adorno e Horkheimer (1967 apud WOLF, 1999, p. 86) 
que vai auxiliar você a refletir sobre como o indivíduo é visto pela indústria cultural: 
“[...] o consumidor não é soberano, como a indústria cultural queria fazer crer, não 
é o seu sujeito, mas o seu objeto”. Esse enunciado aponta para o espaço ideológico 
no qual o homem é colocado, isto é, no da manipulação, e não no da autonomia. 
Logo, esses teóricos falam em uma pseudoindividualidade: “[...] a ubiquidade, a 
repetitividade e a estandardização da indústria cultural fazem da moderna cultura 
de massa um meio de controle psicológico inaudito” (WOLF, 1999, p. 87).
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Os sujeitos do mass media – considerados anônimos, isolados, homogêneos, indife-
renciados e sem vínculos sociais (BLUMER, 1978) –, quanto mais indistintos fossem, 
mais integrados eram. Ou, ainda, mais manipulados serão: “[...] a influência da indústria 
cultural, em todas as suas manifestações, leva a alterar a própria individualidade do 
consumidor, que é como o prisioneiro que cede à tortura e acaba por confessar seja 
o que for, mesmo aquilo que não fez” (WOLF, 1999).
Figura 1. Na era da indústria cultural, o indivíduo não é visto como o dono de suas próprias 
decisões: ele é antes “decidido” pelo que a própria indústria determina.
Fonte: AntonKarlik/Shutterstock.com.
Homogeneização dos gostos
A partir da indústria cultural, os gostos do público passam a ser padroniza-
dos e organizados conforme determinados esquemas (como estereótipos). 
Além disso, são marcados por uma produção de baixa qualidade. Ademais, 
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qualquer traço de espontaneidade, quando não controlado e programado, é 
imediatamente absorvido. Os produtos da indústria cultural são construídos 
propositadamente para serem consumidos rapidamente e de forma descontraída. 
Tanto os filmes como os livros e as músicas, por exemplo, são consumidos 
pelo espectador de uma forma que já se sabe como se chega ao seu fim. Eles 
reproduzem a lógica da dominação que é própria de toda a indústriacultural 
e do seu papel na sociedade (WOLF, 1999). 
É importante você lembrar que a produção e a distribuição desses produtos está 
concentrada nas mãos dos monopólios e das corporações internacionais. É também 
por isso que já se reconhece na indústria cinematográfica, por exemplo, algumas 
empresas, como a Walt Disney, a Fox, a Universal Studios etc., que insistem em repetir 
as suas fórmulas de sucesso; e muitos continuam acriticamente a consumi-los.
Nesse processo, a arte também passa a ser um produto comercial, de consumo, cujo 
objetivo é o lucro. E, embora ela passe a ser colocada em circulação e, desse modo, 
democratizada e visibilizada por públicos que antes não tinham acesso a ela, a arte 
perde o seu valor de arte e se torna um produto sem “aura”, conforme aponta Benjamin 
(2000). Logo, a arte é usada como um bem cultural e simbólico, comercializada em 
larga escala. 
Figura 2. O ícone da revolução cubana, Che Guevara, tornou-se um souvenir da indústria 
cultural.
Fonte: DayOwl/Shutterstock.com.
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Banalização da arte
Um dos pontos importantes levantados a partir dessa temática está na discussão 
sobre a arte, a sua característica e o seu papel na sociedade moderna à luz 
de Benjamin (2000). Esse teórico observa que a arte se tornou um produto 
comercial, pois perdeu a sua originalidade e o seu status e/ou caráter de ob-
jeto artístico: “[...] na época da reprodutibilidade técnica, o que é atingido na 
obra de arte é sua aura. Esse processo tem valor de sintoma; sua significação 
ultrapassa o domínio da arte. É possível dizer, de modo geral, que as técni-
cas de reprodução destacam o objeto reproduzido do domínio da tradição” 
(BENJAMIN, 2000, p. 225). Esse domínio é abalado conforme o avanço da 
indústria cultural. Além disso, há, nas massas, a tendência de tornar as coisas 
espacialmente mais próximas e, ao fazer isso, o caráter daquilo que só é dado 
uma única vez é depreciado, porque passa a ser reproduzido.
Com a indústria cultural, a arte passa a ser produzida como um produto em série. 
Destitui-se o objeto de seu véu, de sua aura, e ele se torna idêntico ao anterior. Graças 
a essa reprodução, se padroniza infinitamente e se chega ao que não existiu mais de 
uma vez (BENJAMIN, 2000). Desse modo, como consequência, percebe-se menos a 
arte em si (e o seu status correspondente). No entanto, ainda para Benjamin (2000), a 
popularização da arte trouxe um aspecto positivo: descentralizada das galerias de arte 
e prateleiras dos museus, a arte se torna democratizada e acessada por outros públicos. 
Ausência da reflexão crítica
Essa indústria acaba por eliminar a capacidade do sujeito de reflexão, de 
pensar, pois o pensamento é a base da consciência crítica e, desse modo, a sua 
saída para a liberdade. Esse é, na opinião de Adorno e Horkheimer (2000), um 
dos maiores malefícios da indústria cultural: o consumo puro e simples se dá 
por meio de um processo acrítico, fora da reflexão e, desse modo, se impõe 
autonomamente ao próprio sujeito como estando fora dele.
Em outras palavras: divertir-se significa estar de acordo com a indústria 
cultural e, portanto, significa estar no não pensar. O pensamento é resumido 
à ordem do trabalho, pois é lá que a dor do sujeito é exibida. Ora, a partir 
desse ponto de vista de Adorno e Horkheimer (2000), você pode notar que 
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existe uma mística de uma racionalidade interna bem mais profunda a respeito 
da indústria cultural que não se resume apenas à produção em massa e em 
série de produtos. E tem ainda mais: a indústria cultural não está apenas no 
discurso de negar o pensamento, mas no da sua própria libertação. Envolve se 
libertar do pensamento para que se anule a última semente de possibilidade 
de resistência na sociedade.
Fabricação de mitos e happy endings
A indústria cultural transforma as massas em deuses absolutos, mas, ao 
fazer isso, Adorno e Horkheimer (2000) destacam que ela os manipula: os 
sujeitos passam a sentir que é preciso fazer o que todos fazem, isto é, ler o 
que todos querem ler, ver o que todos estão vendo, comer o que todos estão 
comendo. Esse é o caminho da felicidade. Ao fazer isso, essa indústria ad-
ministra a potência do desejo, adestrando-o e docilizando-o. Assim, anseios 
e angústias são apaziguados por meio da difusão de soluções pré-prontas. 
Ora, as perguntas dos sujeitos podem até mudar – e muitas vezes mudam 
de ângulo e perspectiva –, mas as respostas circulam a partir dos mesmos 
esquemas e padrões subjetivos definidos, isto é, fórmulas que fizeram e 
continuam a fazer sucesso. 
Uma outra característica da indústria cultural que é uma de suas muitas 
“fórmulas de ouro” é a criação e perpetuação artificial de mitos, pois tal 
invenção consegue reduzir arquétipos a estereótipos.
O famoso happy ending é uma fórmula de sucesso da indústria cultural. Esta passa a 
ser largamente difundida pelos filmes produzidos pelos estúdios da empresa norte-
-americana Walt Disney. Entre as várias mensagens veiculadas está a do herói que, visto 
como um indivíduo corajoso, belo e dotado de humanidade, além de bom coração, 
sempre vencerá no final. Além dessa fórmula, você pode encontrar também a da
donzela em perigo que está em apuros, nas mãos do antagonista, e espera ser salva 
pelo herói. Esses esquemas atribuídos à estruturação de personagens na literatura
ao longo da história da humanidade acabaram por se transformar em estereótipos
e clichés, sendo repetidos não apenas nos desenhos animados, mas também em
muitos filmes e séries de televisão. 
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Tempo livre para o entretenimento
O tempo da indústria cultural é produzido como “aparentemente” oposto ao 
tempo de trabalho da fábrica ou do escritório. Desse modo, a indústria cultural 
parece estar de um lado e o processo do trabalho, de outro. No entanto, os 
produtos de divertimento não são consumidos como objetos autênticos, mas 
como cópias e reproduções fetichizadas do próprio processo do trabalho. 
Observe como essa indústria está a serviço da ótica capitalista: tenta-se fugir 
do trabalho, na medida em que se adapta a ele nos tempos livres. Em outras 
palavras, para se consumir os objetos que ela “nos oferece”, é preciso fazer 
acreditar que o trabalho fornecerá o dinheiro para usufruir desse tempo livre.
Críticas à indústria cultural: reificação e alienação
Na medida em que os meios de comunicação de massa adquirem um espaço 
onipresente na vida dos sujeitos, se fazem muitas críticas ao consumo e à 
indústria cultural. A seguir, você vai conhecer algumas das mais importantes, 
a saber, a reificação e a alienação que se difundem na era dessa indústria. 
Primeiramente, é importante você lembrar que a teoria crítica, conforme 
aborda Wolf (1999), analisa a indústria cultural a partir da contradição entre 
indivíduo e sociedade. Essa contradição é um produto histórico da divisão de 
classes, influenciado, assim, pela forma que os marxistas materialistas tomam 
a produção da história. Ao fazer isso, os estudiosos dessa vertente se opõem às 
doutrinas que descrevem essa contradição como um dado natural. À luz dessa 
teoria, há uma crítica ao modo como o sujeito se encontra nessa encruzilhada. 
Encruzilhada, sim, porque desde a industrialização ocorreram mudanças 
no modo de produção e na forma de realizar o trabalho humano. Portanto, a 
sociedade passa a exigir um tipo particular de indústria, que é a cultural, e 
um tipo de cultura, que é a de massa. Assim, são implantados princípios nessa 
indústria e cultura que se associam aos da produção econômica em geral. A 
muitos deles a população já está familiarizada: o uso crescente da máquina, 
a submissão do ritmo humano de trabalho ao ritmo da máquina, a exploração 
do trabalhador e a divisão do trabalho (COELHO, 1993). 
Na sociedade capitalista liberal, a oposição de classes é premente e, nesse 
seio,surge a cultura de massa. A esse respeito, se destacam dois aspectos 
estimulados pela indústria cultural, os quais merecem destaque de crítica: a 
reificação, que é o mesmo que coisificação, e a alienação. O primeiro diz 
respeito ao padrão de avaliação dos objetos, dos bens e dos produtos: quanto 
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mais se tem, maior o padrão de quem se é. Tudo se transforma em coisa: a 
arte, o conhecimento, o alimento, a felicidade e até o próprio homem. Julga-se 
tudo por meio da coisificação que se faz. E é nesse momento que a alienação 
tem o seu lugar: o homem coisificado ou reificado, transformado em coisa e, 
portanto, em posse, tem sua força de trabalho trocada por um valor bastante 
inferior ao que ela realmente representa (COELHO, 1993). Contudo, a aliena-
ção do trabalho não se subscreve apenas nessa atividade: o homem é também 
alienado do seu tempo, da sua vida, do produto que fabrica e que não pode 
comprar, dos seus desejos que são agora fabricados pela mágica máquina 
cultural. O homem é alienado de si mesmo.
Nesse contexto, a cultura, padronizada e produzida em série e distribuída 
estrategicamente para públicos diversos, deixa de ser o mecanismo libertador 
e crítico do sujeito. A cultura é moeda de troca; é, acima de tudo, consumo. É 
uma coisa, assim como o homem o é. Cultura e homem são ambos coisas ou 
objetos. E como sair desse sistema? Talvez a crítica ao sistema não seja suficiente, 
mas é um início para que o sujeito possa resgatar a si mesmo nesse processo. 
Conhecendo que ele é parte importante do jogo de “manipulação” promovido 
por alguns meios de comunicação, poderá ter mais consciência na tomada de 
decisão. Afinal, embora Adorno e Horkheimer (2000) sejam mais pessimistas 
quanto a isso, é possível usar os meios de comunicação de massa de forma 
favorável ao homem, e não contra o desenvolvimento de sua consciência crítica. 
Questionar o próprio ambiente de trabalho, os objetos que consome, os desejos que 
o atrai, a organização da sua vida pública e privada podem ser os primeiros passos
para uma ação crítica de amplitude coletiva e social.
Por fim, entender sobre esse tema é fundamental para refletir sobre as 
relações ideológicas entre dominantes vs. dominados na sociedade a partir 
do ponto de vista desses teóricos. Além disso, você não pode deixar de es-
quecer que atualmente há uma gama de indústrias culturais. Ou seja, com a 
segmentação do mercado, inevitavelmente passa a haver uma segmentação 
também na forma de a própria indústria cultural se manifestar. Existe, assim, 
a indústria cultural da felicidade, da alimentação, da estética, do sexo, da 
música, do conhecimento, da educação, etc. 
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O filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin (2012), 
faz uma excelente crítica à sociedade de massa. 
Também critica o contexto e os valores que ela re-
presenta, tais como a industrialização progressiva, a 
difusão de valores abstratos de igualdade e liberdade, 
o enfraquecimento dos laços tradicionais – como os 
de família, comunidade, religião etc. –, o isolamento e
a alienação dos indivíduos (BLUMER, 1978). O filme, de 
1936, foi aclamado pela crítica como uma bela obra 
de arte. Você pode conferi-lo neste link: 
https://goo.gl/dYTLU9
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https://goo.gl/dYTLU9
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ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação 
de massa. In: LIMA, L. C. Teoria da cultura de massa. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 
p. 169-220.
BENJAMIN, W. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In: LIMA, L. 
C. Teoria da cultura de massa. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 221-258.
BLUMER, H. A massa, o público e a opinião pública. In: COHN, G. (Org.). Comunicação 
e indústria cultural. São Paulo: Nacional, 1978. cap. 9, p. 177-186.
CHAPLIN, C. Tempos modernos (1936) legendado. [S.l.]: Vimeo, 2012. 1 vídeo. Disponível 
em: <https://vimeo.com/46815391>. Acesso em: 24 ago. 2017.
CHAUÍ, M. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Primeiros Passos, v. 13).
COELHO, T. O que é indústria cultural? 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. (Primeiros 
Passos, v. 8).
WOLF, M. A teoria crítica. In: WOLF, M. Teorias da comunicação. 5. ed. Lisboa: Presença, 
1999. p. 82-99.
Leituras recomendadas
FADUL, A. Indústria cultural e comunicação de massa. São Paulo: CRE, c2017. Disponível 
em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/c_ideias_17_053_a_059.pdf>. Acesso 
em: 20 ago. 2017.
RODRIGUES, S. M.; CANIATO, A. M. P. Subjetividade e indústria cultural: uma leitura 
psicanalítica da cumplicidade dos indivíduos como lógica da mercadoria. Psicologia 
em Revista, Belo Horizonte, v. 18, n. 2, p. 227-246, ago. 2012. Disponível em: <http://
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682012000200005>. 
Acesso em: 20 ago. 2017.
RÜDIGER, F. Comunicação e indústria cultural: a fortuna da teoria crítica nos estudos 
de mídia brasileiros. Intercom, São Paulo, v. 21, n. 2, p. 13-25, jul./dez. 1998. Disponível 
em: <http://www.portcom.intercom.org.br/revistas/index.php/revistaintercom/
article/view/968>. Acesso em: 20 ago. 2017.
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