Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Consciência e suasConsciência e suas alteraçõesalterações Referências: DALGALARRONDO. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. CAP 11 e 12 Apesar de ser absolutamente necessário o estudo analítico das funções psíquicas isoladas e de suas alterações, nunca é demais ressaltar que a separação da vida e da atividade mental em distintas áreas ou funções psíquicas é um procedimento essencialmente artificial. Que fique claro: não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatológicas compartimentalizadas desta ou daquela função. Cada função parcial na vida psíquica e cada aspecto da realidade psíquica só existem em vinculação estreita com toda a vida e com a realidade psíquica total. A definição neuropsicológica emprega o termo “consciência” no sentido de estado vígil (vigilância), o que, de certa forma, iguala a consciência ao grau de clareza do sensório. Consciência, aqui, é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Trata-se especificamente do nível de consciência. Já a definição psicológica a conceitua como a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. Nesse sentido, consciência é o que se designa campo da consciência. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciência é a capacidade do indivíduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos. Todo estado de consciência vem acompanhado de um sentimento qualitativo especial. A experiência de beber uma cerveja com os amigos é muito diferente da de ouvir uma sinfonia de Beethoven, e ambas são distintas de sentir o perfume de uma mulher bonita ou ver o crepúsculo na praia. Esses exemplos revelam o caráter qualitativo das experiências conscientes. Experimentar os estados de consciência é também algo essencialmente subjetivo. A experiência da consciência é sempre realizada em um sujeito, vivenciada na primeira pessoa. Searle (2000) afirma que sem subjetividade não há experiência consciente. Neuropsicologia da Consciência O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito está inserido (p. ex., em situações de ameaça, alguns estímulos podem ser ignorados, e, ao mesmo tempo, a sensibilidade para outros, pode estar aumentada, expressando o chamado estado de alerta). O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, como pensamentos. O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o estímulo implica para o indivíduo em questão. O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). Segundo o RDoC, deve-se salientar que o nível de consciência é o continuum de sensibilidade e alerta do organismo perante os estímulos, tanto internos como externos. As principais características e propriedades do nível de consciência são: Alterações normais da Consciência As alterações normais da consciência ocorrem no contexto dos chamados ritmos circadianos. Esses são oscilações endógenas autossustentadas do ritmo biológico no período de um dia de 24 horas, as quais, nesse intervalo, organizam os sistemas biológicos do organismo e otimizam a fisiologia, o comportamento e a saúde. O RDoC define sono e vigília (wakefulness) como estados comportamentais endógenos e recorrentes que expressam mudanças dinâmicas na organização da função cerebral e que otimizam aspectos como fisiologia, comportamento e saúde. Pode-se, portanto, descrever o sono como um estado especial da consciência, que ocorre de forma recorrente e cíclica nos organismos superiores. O sonho, fenômeno associado ao sono, pode ser considerado uma alteração normal da consciência. Alterações patológicas da Consciência Obnubilação: turvação da consciência ou sonolência patológica leve. Trata-se do rebaixamento da consciência em grau leve a moderado. Há sempre diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão e dificuldade de concentração. No geral, o indivíduo diminui a atenção para as solicitações externas, dirigindo-se para a sonolência. Torpor: é um grau mais acentuado de rebaixamento da consciência. O paciente está evidentemente sonolento; responde ao ser chamado apenas de forma enérgica e, depois, volta ao estado de sonolência evidente. Na obnubilação e no torpor, o paciente pode ainda apresentar traços de crítica e pudor. Sopor: é um estado de marcante e profunda turvação da consciência, de sonolência intensa, da qual o indivíduo pode ser despertado apenas por um tempo muito curto, por estímulos muito enérgicos, do nível de uma dor intensa. Coma: é a perda completa da consciência, o grau mais profundo de rebaixamento de seu nível. No estado de coma, não é possível qualquer atividade voluntária consciente. Em diversos quadros neurológicos e psicopatológicos, o nível de consciência diminui de forma progressiva, desde o estado normal, vígil, desperto, até o estado de coma profundo, no qual não há qualquer resquício de atividade consciente. Os diversos graus de rebaixamento da consciência são: 1. 2. 3. 4. Vários fatores e condições médicas e/ou psicopatológicas podem produzir a perda abrupta da consciência. Tal perda pode ser causada por fatores emocionais, neuro funcionais ou orgânicos de diversas naturezas. Podem também ser rapidamente reversíveis ou irreversíveis, indicando quadros orgânicos mais graves. Delirium é o termo atual mais adequado para designar a maior parte das síndromes confusionais agudas (o termo “paciente confuso”, muito usado em serviços de emergência e enfermarias médicas, refere-se a tais síndromes confusionais, ou seja, ao delirium. O delirium diz respeito, portanto, aos vários quadros com rebaixamento leve a moderado do nível de consciência, acompanhados de desorientação temporoespacial, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade em graus variáveis, agitação ou lentificação psicomotora, discurso ilógico e confuso e ilusões e/ou alucinações, quase sempre visuais. Trata-se de um quadro que oscila muito ao longo do dia. Geralmente, o paciente está com o sensório claro pela manhã, e, no início da tarde, o nível de consciência “afunda”, piorando no fim da tarde e à noite.
Compartilhar