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Aula 6 - Doença de Chagas

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LIII Gleice 
Parasitologia – Aula 6 
 
Doença de Chagas 
 
Definição 
É uma doença infecciosa causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, que é um protozoário flagelado. 
É transmitida por insetos triatomíneos 
Conhecidos popularmente como barbeiro, chupão, procotó ou bicudo 
 
História da Doença de Chagas 
Carlos Chagas descobriu o agente etiológico, forma de transmissão, tudo... 
 
Importância 
é uma antropozoonose de elevada prevalência e expressiva morbimortalidade (causa muita doença e muita 
mortalidade) 
Apresenta curso clínico bifásico, composto por uma fase aguda e uma fase crônica, que pode se determinar nas 
formas: indeterminada, cardíaca, digestiva 
Também é chamada de Tripanossomíase americana 
 
Agente etiológico: protozoário flagelado Trypanosoma cruzi 
Gênero Trypanosoma 
- centenas de espécies no mundo todo 
- grande variabilidade de hospedeiros vertebrados (mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios) 
- grande variabilidade de hospedeiros invertebrados (moscas, mosquitos, pulgas, carrapatos) 
- espécie-especificidade ou não 
 
Espécies de importância médica humana: 
T. cruzi 
T. brucei gambiense 
T. brucei rhodesiense 
T. rangeli 
 
O protozoário 3 formas de se apresentar: tripomastigota, amastigota e a epimastigota. 
 
A multiplicação dos parasitas se dá na forma amastigota. A epimastigota vai fazer sua multiplicação binária no 
inseto. A forma tripomastigota não tem forma de multiplicação, ela não se multiplica. A amastigota é intracelular. 
 
RESERVATÓRIO 
Centenas de espécies de mamíferos (silvestres e domésticos): 
Exemplos de reservatórios: mucura, tatu, macaco, veado, preguiça, cachorro, gato, rato, entre outros 
 
Esses animais podem ser encontrados em ambientes: silvestre, peridomicílio e intradomicílio. 
 
Uma mesma espécie de mamífero pode ter importância como reservatório em uma região, mas não em outra. Não 
há um predomínio destacado de importância, depende da região. 
 
VETORES 
Existem 18 gêneros de triatomíneos, mas 3 são importantes: Panstrogylus, Triatoma e Rhodnius. Incluem as espécies 
mais comuns que transmitem o parasito Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. 
 
VETOR 
 
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Possui hábitos noturnos. Durante o dia, são encontrados nas fendas das paredes de casas não rebocadas, telhados 
de palha. Vivem no domicílio e região peridomiciliar. Longevidade do adulto: 9 a 20 meses. 
Tanto os machos quanto as fêmeas, em todas as fases de seu desenvolvimento, são hematófagos. Não há 
transmissão vertical do T. cruzi no vetor. Uma fêmea fecundada e alimentada pode realizar posturas por todo o seu 
período de vida adulta. 
 
transmissão vertical do vetor: quando ele coloca ovos já infectados e o outro inseto que vai nascer desse ovo, já 
nasce infectado 
 
O CICLO DE VIDA DO TRIATOMÍNEO 
O desenvolvimento dos triatomíneos apresenta 3 fases: ovo, ninfa e adulto. 
O ovo leva cerca de duas a três semanas para eclodir (nascimento da ninfa de primeiro estádio). A ninfa se 
alimentará de sangue e sofrerá uma muda, passando para o segundo estádio e assim sucessivamente, até o quinto 
estádio. A última muda originará o adulto (macho ou fêmea) que apresentará asas e genitália. 
A ninfa é diferente do adulto porque possui asas e genitália; não nasce contaminada, se contamina após alimentação 
de sangue contendo o Trypanosoma cruzi. 
 
DESENVOLVIMENTO DO CICLO DO TRYPANOSOMA CRUZI NO INTESTINO DO BARBEIRO 
Quando o barbeiro pica o mamífero infectado, as formas tripomastigotas que estão no sangue são sugadas e se 
transformam em epimastigotas. Dentro do intestino do barbeiro, as formas epimastigotas se multiplicam e se 
diferenciam em tripomastigotas metacíclicas (formas infectantes). Essas formas são eliminadas nas fezes do barbeiro 
quando ele se alimenta. 
 
(colocar imagem da tabela epimastigota, tripomastigota, metacílico...) 
 
O tripomastigota metacíclico: 
- é a forma infectiva encontrada no intestino posterior do inseto vetor 
- mede cerca de 17 um de comprimento 
- é fina e com cinetoplasto grande 
- membrana ondulante estreita 
- curto flagelo livre 
- tem capacidade invasiva para atravessar mucosas e a conjuntiva, ou penetrar pelas soluções de continuidade da 
pele 
 
O tripomastigota sanguíneo: 
- é capaz de infectar diferentes tipos de celulares 
- mede cerca de 20 um de comprimento por 2 um de largura 
- apresenta cinetoplasto grande e redondo, bastante saliente 
- o flagelo representa cerca de 1/3 do comprimento total 
- há duas formas distintas: 
finas, que penetram rapidamente nas células do hospedeiro e são mais sensíveis às reações imunológicas 
largas, que não penetram nas células do hospedeiro e são mais resistentes às reações imunológicas 
São bastante infectivas para os triatomíneos 
 
As formas tripomastigotas são capazes de invadir diferentes tipos celulares, especialmente: 
- células do sistema fagocítico mononuclear 
- fibras musculares estriadas (tanto cardíacas como esqueléticas) 
- fibras musculares lisas 
- células nervosas 
 
Interação T. cruzi – célula hospedeira 
 
 
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O AMASTIGOTA 
É a forma encontrada dentro da célula parasitada. É ovoide e mede 4 um no maior diâmetro. Não possui flagelo ou 
membrana ondulante. Núcleo ovoide e compacto e cinetoplasto com aspecto de disco convexo-côncavo próximo ao 
núcleo. Multiplica-se por divisão binária simples. 
 
TRANSMISSÃO 
1. Vetorial clássica – ao picar a pessoa, o barbeiro defeca, e em suas fezes está a forma infectante (tripomastigota 
metacílica) do T. cruzi. Ao se coçar, os parasitos invadem células da região da picada. 
2. Oral – ao ingerir alimentos contaminados, o T. cruzi infecta células da boca e do estômago 
Também pode haver transmissão por acidentes em laboratório, gestantes infectadas podem transmitir para o feto, 
transfusão de sangue contaminado e transplante de órgãos contaminados. 
Hipoteticamente existem outros meios de infecção, como sexual: infecção do homem mais vulnerável com mulher 
infectada em período menstrual e ou, infecção da mulher, através do sêmen de um parceiro infectado. 
Hipoteticamente também, o compartilhamento de seringas entre usuários de drogas injetáveis. 
 
PERÍODO DE INCUBAÇÃO 
Transmissão vetorial clássica: de 4 a 15 dias 
Transmissão oral: de 3 a 21 dias 
Transmissão congênita: qualquer período da gestação ou durante o parto 
Transmissão por transfusão ou transplante: de 20 a 40 dias ou mais 
Transmissão por acidente em laboratório: aproximadamente 20 dias 
 
MECANISMOS DE PATOGENICIDADE 
Destruição das células parasitadas pelo T. cruzi 
- antígenos T. cruzi expressos membrana de células do hospedeiro 
Destruição células não parasitadas pelo T. cruzi 
- antígenos T. cruzi “depositados” na membrana 
- autoimunidade: antígenos T. cruzi e de células hospedeiras – reatividade cruzada 
 
Eventos fisiopatológicos da doença de Chagas 
30% dos pacientes são sintomáticos 
70% são assintomáticos 
 
PATOGENIA 
 
Fase aguda 
- Sintomática ou assintomática 
- Manifestações locais 
- Sinal de Romana (edema na região da pálpebra) 
- Chagoma de inoculação (resposta inflamatória no local de entrada do parasito) 
- Manifestações gerais: Parasitemia potente 
- Outros sintomas: febre, mal estar, cefaleia, anorexia, linfonodomegalia e hepatoesplenomegalia sutis, miocardite 
aguda com alterações eletrocardiográficas (raramente) e meningocefalite (raramente). 
 
Fase crônica 
- duração de 5 a 30 anos 
- formas indeterminadas 
- cardiopatia chagásica crônica 
- formas digestivas (megas), megaesôfago e megacólon 
 
Forma digestiva 
- repercussões da doença no trato GI, dentre as quais sobressaem as alterações de motilidade do esôfago e do cólon, 
 
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resultando em megaesôfago e megacólon 
- destruição dos neurônios dos plexos mioentéricos (parassimpático) 
- esfíncteres em contração permanente (simpático) 
- dificuldade de trânsito de alimentos/fezes 
- cárdia: acumulo dealimentos – megaesôfago 
- reto-sigmoide: acúmulo de fezes – megacólon 
 
CARDIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA 
- arritmias 
- remodelamento ventricular 
- trombos 
- aneurisma apical 
- infiltrado inflamatório 
 
Manifestações clínicas: 
- insuficiência cardíaca 
- arritmias 
- tromboembolismo 
- morte súbita 
 
Aparecimento cerca de 15-20 anos após a infecção inicial. É a mais importante forma de limitação ao doente 
chagásico e principal causa de morte. Pode apresentar-se sem sintomatologia, mas com alterações 
eletrocardiográficas. Caracterizada por miocardite crônica progressiva, dilatação de cavidades e hipertrofia 
ventricular, distúrbios de condução elétrica, arritmias. 
 
1. Forma indeterminada ou de latência 
- ausência de manifestações clínicas, radiográficas e eletrocardiográficas 
- a maioria dos pacientes permanece na forma indeterminada, sem apresentar sintomatologia, por toda a vida 
- parasitemia – subpatente 
 
Fase crônica 
 
DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO 
 
Diretos – fase aguda 
- exame a fresco em lâmina 
- gota espessa ou esfregão corado com Giemsa ou 
 
Leishman (morfologia) 
- centrifugação em tubos capilares (micro-hematócrito) – baixa parasitemia 
 
Indiretos – fase crônica 
- xenodiagnóstico (alimentação de ninfas de triatomíneos não infectadas com o sangue de paciente) 
- hemocultura (cultura do sangue em meio LIT) 
leitura: 30, 60, 90 e 120 dias 
 
Diagnóstico sorológico 
 
Testes convencionais 
fase aguda: detecção de IgM 
fase crônica: detecção de IgG 
- pelo menos dois testes sorológicos 
 
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Outros métodos disponíveis 
- teste de aglutinação em partículas de gelatina 
- sorologia (western blot) 
- sorologia (ELISA) 
- PCR 
 
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA DOENÇA DE CHAGAS 
Resumindo o diagnóstico 
Fases da infecção 
Fase aguda 
- Parasitológico - exame microscópico, hemocultura, xenodiagnóstico ou PCR 
- Sorológico - detecção de IgM 
Fase Crônica 
- Parasitológico - hemocultura, xenodiagnóstico ou PCR 
- Sorológico - detecção de IgG 
 
 
TRATAMENTO 
 
Tratamento específico 
O benznidazol é o fármaco de escolha disponível. O nifurtimox pode ser utilizado como alternativa em casos de 
intolerância ou que não respondam ao tratamento com benznidazol. O tratamento etiológico tem como objetivo 
curar a infecção, prevenir lesões orgânicas ou sua. 
 
PROFILAXIA 
 
Transmissão vetorial: controle químico de vetores com inseticidas quando a investigação entomológica indicar a 
presença de triatomíneos domiciliados; melhoria habitacional em áreas de alto risco suscetíveis a domiciliação 
Transmissão transfusional: manutenção do controle de qualidade rigorosos de hemoderivados 
Transmissão vertical: identificação de gestantes chagásicas na assistência pré-natal ou de recém-nascidos por 
triagem neonatal para tratamento precoce 
Transmissão oral: cuidados de higiene na produção e manipulação artesanal de alimentos de origem vegetal 
Transmissão acidental: utilização de equipamento de biossegurança 
 
Vacina?? Inúmeras tentativas de parasitas atenuados a recombinantes 
Problemas: como avaliar? Autoimunidade?

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