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Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva BIÓPSIAS DE PELE CONCEITO Retirada de células ou fragmentos de tecido do organismo vivo para exame. Biópsia do grego bios (vida) e opsis (aparência, visão). É fundamental para diagnóstico e tratamento de diversas doenças INDICAÇÕES São indicações para realizar biopsia: 1. Diagnóstico de doenças que cursam com alterações morfológicas como hiperplasia e neoplasia. Por isso, é o principal método diagnóstico na oncologia 2. Diagnósticos diferenciais ajuda na exclusão de doenças, caso não haja alterações morfológicas específicas 3. Grau de diferenciação 4. Extensão da lesão neoplásica 5. Verificar a totalidade da ressecção de uma lesão, por exemplo, examinando as margens de segurança em lateralidade e em profundidade para avaliar se há células tumorais 6. Eficácia terapêutica, como nos casos para avaliar neoplasia residual 7. Identificar estruturas normais difíceis 8. Função normal tecidual de certos tecidos e órgãos (testículo, endométrio) 9. Etiologia, comportamento e resposta terapêutica de doenças com evolução progressiva 10. Rejeição de órgãos (presença e intensidade) PRINCÍPIOS BÁSICOS Há 11 passos a serem realizados: 1. Avaliar clinicamente: apesar de ser procedimento cirúrgico de pequeno porte, pode ocorrer complicações, por isso avaliar Alergias aos produtos a serem usados Coagulação sanguínea, em geral a anamnese (história de hemorragia espontânea ou após cirurgias prévias) e o exame físico são suficientes (equimoses ou hematomas). Se houver alterações pode realizar exames laboratoriais (plaquetas, INR, atividade de protombina e tempo de tromboplastina parcial) OBS: avaliação laboratorial deve ser feita em biópsias percutâneas de órgãos internos e biópsias excisionais com grande deslocamento tecidual Hipertensos e diabéticos devem estar com doença controlada OBS: DM não controlado apresenta risco maior de distúrbio de cicatrização e infecção, já no hipertenso tomar cuidado com uso de anestésico local com vasoconstritor 2. Ter cuidado de pequena cirurgia: antissepsia rigorosa. Realizar anestesia de acordo com tipo de biópsia: Punção aspirativa: quase sempre desnecessári Punção biópsia, biópsia com punch, incisionais e grande parta das excisionais: infiltração local ou bloqueio de campo é suficiente Biópsia excisionais de grandes lesões: pode ser necessário usar bloqueio troncular, sedação ou anestesia geral 3. Retirar amostra significativa Punção aspirativa: colher material de diversos pontos da lesão Punção biópsia: retirar mais de um fragmento Excisional: realizada em lesões pequenas com margem de segurança Incisional: amostra deve abranger tecido doente e sadio Linfonodos e pequenos tumores do subcutâneo (SC) devem ser retirados inteiros, junto com capsula 4. Evitar áreas de queimadura, fibrose, esmagamento, cicatrizes ou com infecção secundária 5. Incluir em lesões inflamatórias porção significativa da erupção: se erupção ter lesão do mesmo tipo em vários estágios de desenvolvimento, selecionar uma bem desenvolvida. Evitar áreas de escoriação em doenças inflamatórias OBS: evitar lesões em fase inicial e em fase tardia (em regressão), exceto vesículas, bolhas ou pústulas, pois deve-se preferir lesão recente e intacta, com cerca de 24-48h de evolução, após isso pode ter reepitelização subepidérmica, causando erro diagnóstico Erupções com lesões diversas, realizar biópsias em diferentes tipos de lesões, aumentando as chances de diagnóstico histológico preciso 6. Biopsiar em lesões difusas a área mais representativa: não deve haver alterações regionais que posso atrapalhar interpretação. Se generalizada, realizar em tronco, braços e coxas. Dermatite por uso de drogas é preferencial lesões do tronco (melhor cicatrização), em pernas pode haver estase vascular causando erro diagnóstico Evitar mãos e planta dos pés, sempre que possível, pela difícil aproximação e cicatrização. Além de joelho e cotovelo por ser áreas de tensão 7. Realizar em lesões pigmentares com suspeita clínica de malignidade, sempre que possível, biopsia excisional 8. Respeitar margens de segurança em biópsia diagnóstica e curativa 9. Manipular adequadamente material Punção aspirativa: não espalhar material com força na lâmina nem esmagá-lo entre 2 lâminas Punção biópsia: retirar material com delicadeza de dentro da agulha, sem fragmentar Excisional e Incisional: não esmagar tecido com pinças, usar material delicado como dente de rato OBS: identificar frascos com nome do paciente, registro, data e tipo de fixador usado 10. Usar fixador adequado: entre as opções há Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva Formol 10%: fixador universal, sua quantidade deve ser 10-20 x o volume do material. Sendo que o tempo necessário para fixação depende da espessura do material, sendo que ela ocorre de fora para dentro, por isso seccionar lesões maiores OBS: não deve ser usado quando for pesquisar melanócitos pela coloração DOPA Álcool absoluto 95%: indicado para exame citológico, esfregaço de secreções, punções aspirativas e outros materiais para citodiagnóstico. Fixação rápida, pode proceder coloração em 15-20 min Glutaraldeído 3%: microscopia eletrônica OBS: quando é preciso usar coloração para enzimas ou imuno-histoquímica não fixar o material, sendo transportado em nitrogênio líquido ou solução de transporte de Michel. Se biópsia for para exame de congelação, transportar imediatamente em solução salina 0,9% 11. Informar anatomopatologista: informar clínica e cirúrgica, tempo de evolução da doença, achados clínicos, aspecto macroscópico da lesão e hipóteses diagnóstica TIPOS Biópsia incisional Retira somente parte da lesão ou órgão. São exemplos desse tipo de biopsia: punção com agulha fina e especial, biópsia com pinça saca-bocado e biópsia com punch de diâmetro pequeno Indicação: biópsia de músculos, ossos, tecido SC e processo inflamatório ou infeccioso disseminado da pele ou órgão. Também é indicada para estabelecer diagnóstico definitivo no pré-operatório de cirurgia extensa ou multilante Método: sempre que possível deve ser realizada nas bordas da lesão, retirando fragmento com tecido doente e sadio OBS: células tumorais de tumores de partes moles e ossos são capazes de passar por entre os planos tissulares. Equimose PO pode significar possível disseminação tumoral para SC Biópsia incisional de lesão de pele, retirando fragmento da borda da lesão englobando tecido doente e sadio Complicações: similar a procedimento cirúrgico de pequeno porte como infecção de ferida, hemorragia per ou pós-operatória, distúrbio cicatricial, disseminação local de células tumorais Biópsia excisional Retira-se totalmente a lesão a ser estudada, além de diagnóstica é, na maioria das vezes, terapêutica Margem de segurança: todas lesões com suspeita de malignidade devem ter excisão cirúrgica completa (biopsia excisional) com margem de segurança entre 2,5 e 5 mm, exceto se suas dimensões tornem impossível o fechamento da pele ou impeçam resultados cosméticos aceitáveis. Nesse caso, opta-se pela biopsia incisional, aguarda diagnóstico anatomopatológico e a partir disso programa cirurgia mais extensa Complicações: mesmas da biópsia incisional Biópsia excisional de lesão de pele. Técnica cirúrgica das biópsias incisionais e excisionais 1. Princípios das biópsias Antissepsia + campos cirúrgicos + material delicado 2. Linhas de incisão da pele: são paralelas às linhas de força Linhas de força da pele do corpo inteiro Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva Desenhar uma incisão em forma de eplipse/cunha ao redor da lesão, com eixo maior paralelo às dobras ou às linhasde força da pele. Linhas de força da pele do rosto e demarcação do local da incisão Determinação das linhas de Langers OBS: para melhor efeito estético, o maior eixo deve ser cerca de 3x o tamanho do menor eixo, fazendo com que após a sutura o resultado fique o mais próximo possível de linha reta, evitando “orelhas” nas bordas Biópsia excisional de lesão de pele, maior eixo deve ser 3x maior que o tamanho do menor eixo. A incisão da pele deve ser perpendicular à superfície até atingir SC OBS: o desenho da incisão deve ser antes da injeção do anestésico local, pois este produz intumescimento do SC e dificulta a avaliação das linhas de força Desenho da incisão 3. Anestésico local: deve ser injetado superficialmente, elevando o local a ser biopsiado OBS: NÃO usar anestésico com vasoconstritor em extremidades (lóbulo da orelha, ponta do nariz, dedos, mamilos, grande lábios e pênis) pelo risco de necrose distal 4. Incisar a pele previamente demarcada e aprofundar a lâmina de bisturi perpendicularmente à superfície até atingir o tecido SC: usar sempre lâminas novas de bisturi, nº 11 ou 15, minimizando trauma cirúrgico 5. Elevar uma das extremidades da elipse com ajuda de pinça ou gancho: usar material delicado, como pinça dente de rato delicada, para não esmagar a pele 6. Liberar a base da lesão: manter a extremidade elevada para liberar a base com tesoura ou bisturi em direção à outra extremidade. O plano de clivagem para lesões cutâneas é o SC, que pode ser retirado parcialmente, caso necessário 7. Realizar hemostasia: compressão local, eletrocautério ou ligadura com fios 8. Suturar incisão: pode ser usado ponto simples, Donatti ou intradérmico, aproximando as bordas sem tensão OBS: caso não seja possível aproximar bordas sem tensão, pode liberar a pele adjacente do SC através de dissecção OU realizar sutura subdérmica com fio absorvível, iniciando das bordas para o centro. Caso essas medidas não resolvam, optar por enxerto, retalho e, em alguns casos, cicatrização por 2ª intenção 9. Realizar curativo oclusivo com gaze 10. Colocar peça: em frasco com fixador adequado e devidamente identificado A: posicionamento + anti-sepsia. B: anestesia local. C: demarcação da área de exérese. D: ressecção da tumoração com lâmina. E: eletrocoagulação da superfície. F: curativo Biópsia com Punch Comum na dermatologia Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva Indicações: geral empregada na pele, mas pode ser realizada em mucosa oral Instrumento e método: utiliza instrumento com lâmina circular cortante na ponta (punch), sendo que seu diâmetro pode variar de 1,5 a 10 mm, mas geralmente usa-se as de 3 a 4 mm. A lesão deve ser retirada junto com área de tecido sadio OBS: a depender do tamanho da lesão, a biópsia com punch pode ser incisional ou excisional Desvantagem: pequeno tamanho do material retirado e isso pode dificultar a interpretação histopatológica Contraindicação: áreas sobre artérias como sobrancelhas (a. temporal), área nasolabial (a. angular), devido risco de lesões das mesmas É inadequada para diagnóstico de doença do tecido adiposo (paniculite), pois retira quantidade insuficiente de tecido para diagnóstico histopatológico, sendo indicado biopsia incisional Não é indicada em lesão suspeita de melanoma, pois com frequência suas células periféricas são amelanocíticas, dificultando diagnóstico. Indica-se a biópsia excisional com margem de segurança Não deve ser realizada em lesões muito espessas, como pele hipertrófica, líquen plano e blastomicose. Além de calosidades das plantas dos pés, pois não é suficientemente profunda para promover o diagnóstico correto da doença primária Complicação: a principal é sangramento, especial nos casos em que não realiza sutura Técnica cirúrgica da biópsia com Punch 1. Realizar antissepsia, demarcar lesão e anestesia local por infiltração da pele 2. Esticar pele perpendicular ao de suas dobras e aplicar punch firme e perpendicular à superfície 3. Realizar movimentos de rotação, fazendo com que o SC seja cortado Aplicação do punch e realização dos movimentos circulares 4. Levantar a peça com ajuda de agulha ou gancho e retirar cuidadosamente, seccionando-se a base com tesoura pequena 5. Hemostasia: realizar compressão local ou usar agentes químicos (solução de Monsel, cloreto de alumínio 25%) por 5 a 10 min Pode ser usado Gelfoam sobre a área cruenta, sendo que nesse caso a cicatrização será por 2ª intenção. Além disso, pode suturar as bordas, na maioria das vezes, necessita de 1 a 2 pontos OBS: desvantagem da cicatrização por 2ª intenção é que ocorre mais lentamente e a cicatriz é oval, ao invés de linear Retirada do fragmento e hemostasia Placa escamosa, avermelhada. Local para biópsia incisional por “punch” 6 mm, delineado. Linhas de tensão da pele demonstradas Pele distendida perpendicular as linhas de tensão antes da biópsia Biópsia com “punch” aplicado perpendicularmente à superfície da pele e rodado diretamente para baixo Centro do espécime elevado gentilmente com o gancho de pele Espécime removido pelo corte da gordura na base conectada Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva Defeito oval resultante Resultado final depois de sutura Biópsia de congelação = método diagnóstico histopatológico em tecido fresco congelado no menor tempo possível, permitindo decisão imediata durante o procedimento cirúrgico. Precisão diagnóstica variável de acordo com sitio anatômico Indicação: realizada intraoperatória, permite informação em tempo real, logo há uma melhor definição da margem de segurança. Para lesões não melanocíticas, a biópsia congelada tem até 90% de concordância com a biópsia convencional; mas, há controvérsias nas indicações para recomendá-la Contraindicações: lesões muito pequenas, lesões grandes e macroscopicamente benignas e casos de suspeita de doenças com potencial risco biológico Vantagens: obtenção de resultados rápidos e maior quantidade de tecido livre preservado Limitações: tipo de amostra e artefatos Técnica cirúrgica da biópsia de congelação O tecido coletado na biópsia de congelação é enviado imediatamente da sala de cirurgia para um patologista. O procedimento de análise da amostra durante o ato cirúrgico, geralmente, é de 10 a 20 min 1. Retirada do tecido 2. Criostato 3. Cortes no micrótomo 4. Coloração HE Biópsia em Barbear (Shaving) = remove a porção da pele elevada, acima do plano do tecido adjacente (lesão exofítica), sendo realizada entre a camada papilar profunda da derme e a camada médio-reticular Indicações: lesões exofíticas como ceratose seborreica, ceratose solar, verrugas e outros Contraindicação: não deve ser usada para avaliar doenças inflamatórias da pele, pois não permite estudar plexos profundos, derme reticular e tecido SC. Também é contraindicada em neoplasias que clinicamente parecem infiltrar a derme e lesões pigmentares Falha para diagnóstico diferencial entre ceratose solar, ceratoacantoma e carcinomas Técnica cirúrgica da biópsia em barbear 5. Antissepsia + campos cirúrgicos 6. Injetar anestésico local: abaixo da lesão para elevá-la acima da pele circunjacente 7. Posicionar lâmina de bisturi em plano horizontal, paralelo à superfície da pele 8. Seccionar lesão em sua base: através de movimentos de vaivém com a lâmina de bisturi Injeção de anestésico local para elevação da lesão acima da pele. Secção da lesão por movimento de vaivém 9. Comprimir local: para realizar hemostasia 10. Realizar curativo oclusivo com gaze 11. Colocar peça em frasco: com fixador adequado e devidamente identificado Remoção por shaving de neurofibroma REFERÊNCIAS Fonseca FP, Savassi-Rocha PR. Cirurgia Ambulatorial. 3 Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1999 Kabunc B, et al. Tratado de Cirurgia Dermatológica, Cosmiatria e Laser. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013 Wolff K, et al. Fitzpatrick: Tratado de Dermatologia. 7 Ed. v. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2011 Nunes D, et al. Cicatrização por segunda intenção no tratamento de carcinoma basocelular nasal. Rev. Bras. Cir. Plást., 2016; 31 (2): 209-215.
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