Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP BIÓPSIA DEFINIÇÃO Biópsia, termo derivado do grego bios (vida) e opsis (aparência, visão), é a retirada e exame de células, fluidos ou tecido do organismo vivo. INDICAÇÕES Está indicada nos processos inflamatórios, degenerativos e imunológicos, nas doenças infecciosas e parasitárias e quando há suspeita de alterações morfológicas nos tecidos (hiperplasias, displasias e neoplasias). Diagnóstico de doenças que provocam alterações morfológicas específicas, tais como hiperplasias, displasias, neoplasias, granulomas etc; Diagnóstico diferencial de doenças; Quantificação do grau de displasia e diferenciação de um tumor; Avaliação da extensão de lesão neoplásica; Verificação da totalidade da ressecção de uma lesão; Avaliação do resultado de um tratamento (pacientes tratados com quimioterapia ou radioterapia); Identificação de estruturas normais que são difíceis para o cirurgião dar o diagnóstico de certeza macroscopicamente; Avaliação do funcionamento normal de certos tecidos ou órgãos: endométrio, células do epitélio vaginal, testículo etc. Avaliação da etiologia, comportamento e resposta terapêutica de doenças de evolução progressiva (tireoidites, doenças autoimunes, hepatites, cirrose hepática, glomerulonefrites, etc.); Avaliação da presença e intensidade de rejeição em órgãos transplantados. PRINCÍPIOS BÁSICOS 1. Realizar avaliação clínica minuciosa do paciente - Pesquisar alergia a produtos que serão utilizados (antissépticos, iodo, anestésicos locais, látex, talco de luvas, esparadrapos) - Avaliar se há necessidade da realização de procedimentos complementares no mesmo tempo cirúrgico e programar antecipadamente a operação. - Avaliação da coagulação sanguínea sempre deve ser feita (história de hemorragia e pesquisa de equimoses ou hematomas). - Solicitar contagem de plaquetas, tempo de tromboplastina parcial ativado, atividade de protrombina e RNI para pacientes que apresentam alterações ao exame clínico e também antes de biópsias percutâneas de órgãos internos (pulmão, fígado, baço, pâncreas, rim) e de biópsias excisionais que requeiram grande descolamento de tecidos. - Hipertensos e diabéticos devem estar bem controlados. 2. Usar cuidados inerentes às operações de pequeno porte - Ambiente cirúrgico e instrumental compatíveis com a magnitude do procedimento. - Antissepsia da região e os campos cirúrgicos estéreis devem cobrir uma área ampla ao redor da lesão. 3. Retirar amostra significativa - Nas punções aspirativas, deve-se colher material de diversos pontos da lesão. - Nas punções-biópsias, deve-se retirar mais de um fragmento. - Nas lesões pequenas, deve-se realizar exérese total (biópsia excisional), com margem de segurança de tecido sadio, que varia de acordo com a suspeita clínica. - Nas lesões grandes submetidas a exérese parcial (biópsia incisional), a amostra deve abranger os tecidos doente e sadio. - Nas afecções dermatológicas, é importante conhecer o nível em que se encontra a lesão, se na epiderme, derme ou tecido subcutâneo, bem como as características da região a ser biopsiada. - Os linfonodos ou pequenos tumores do tecido sub-cutâneo devem ser retirados por inteiro, junto com a cápsula. 2 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP 4. Evitar áreas de esmagamento, queimadura, fibrose, cicatrizes ou infectadas 5. Nas doenças inflamatórias, incluir porção significativa da erupção - Evitar lesões em fase inicial, bem como lesões em fase tardia, já em regressão. O ideal é em áreas bem desenvolvidas. Exceção: vesículas, bolhas ou pústulas que deve-se preferir uma lesão recente e intacta. 6. Nas lesões difusas, biopsiar a área mais representativa - Nas erupções generalizadas, o tronco, braços e coxas (regiões proximais das extremidades) são os locais preferidos, visto que as regiões distais, particularmente dos membros inferiores, apresentam processos inflamatórios mais leves. - A palma das mãos e a planta dos pés devem ser evitadas, sempre que possível, pela dificuldade tanto de aproximação dos tecidos quanto de cicatrização. Os joelhos e cotovelos também devem ser evitados, por serem áreas de tensão. 7. Nas lesões pigmentares, suspeitas clinicamente de malignidade, realizar, sempre que possível, biópsia excisional 8. Respeitar as margens de segurança quando a biópsia for, ao mesmo tempo, diagnóstica e curativa 9. Manipular adequadamente o material - Nas punções aspirativas, não espalhar o material com força na lâmina nem esmagá-lo entre duas lâminas. - Evitar fragmentar o material - Quando for necessária a realização de vários tipos de exames (citológico, anatomopatológico, microbiológico, bioquímico, sorológico, microscopia eletrônica, imuno-histoquímica), o material deve ser dividido e acondicionado em frascos contendo solução de conservação apropriada para o tipo de exame solicitado. - O material deve ser acondicionado rapidamente, evitando-se exposição prolongada ao ar. - A requisição deve conter, além da identificação do paciente e informes clínicos (indispensáveis), a data e o horário da coleta do material, para melhor controle da fixação. - Os frascos devem ser identificados com o nome do paciente, registro, data e tipo de solução utilizada. 10. Usar fixador adequado - Formol a 10% – considerado o fixador universal para tecidos. - A proporção ideal de formol com relação ao volume da amostra deve ser de 20:1, e a proporção mínima aceitável é de 5:1 - Como a fixação ocorre sempre de fora para dentro, as lesões maiores devem ser seccionadas ao meio para permitir que ela aconteça mais rapidamente. - As peças maiores devem ser abertas e presas com alfinete em papelão para evitar que retraiam. - Álcool a 95% (álcool absoluto) – indicado para realização de exame citológico, esfregaços de secreções, punções aspirativas e outros materiais para citodiagnóstico. - A fixação deve ser feita imediatamente antes da secagem do esfregaço ao ar, podendo-se proceder à coloração em 15 a 20 min. - Quando forem necessárias colorações não se deve fixar o material – acondicionar em solução salina 0,9%. 11. Proporcionar o maior número possível de informações ao anatomopatologista - Informações clinicas e cirúrgicas detalhadas - Tempo de evolução da doença - Achados clínicos - Aspecto macroscópico da lesão - Hipóteses diagnósticas 3 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP TIPOS DE BIÓPSIA BIÓPSIAS POR PUNÇÃO Existem dois tipos: Punção com agulha fina: retira-se material para exame citológico. Análise de líquidos de cavidades corporais (tórax, abdome, articulações) ou de lesões císticas, de lesões superficiais (mama, tireoide, massas cervicais) e, em menor frequência, de lesões em órgãos intracavitários (pulmão, baço, pâncreas). Punção com agulha calibrosa (agulhas especiais): retira-se material para exame histológico. Retirar material para estudo de órgãos intracavitários (fígado, rim, próstata, pâncreas, pulmão), podendo também ser utilizadas em lesões superficiais (mama, tireoide). Essas agulhas podem ser manuais (Menghini, Vim Silverman, Cope, Abrams) ou automáticas (tru-cut®, biopty gun®). Métodos para localização das lesões As punções podem ser guiadas por: palpação, ultrassom (US), estereotaxia, tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM). PALPAÇÃO: Utilizada em lesões localizadas nos tecidos subcutâneo e muscular, e em órgãos superficiais (mama, tireoide, linfonodos) ou acessíveis ao toque (próstata). Desvantagem: depender do tato em detrimento da visão. Não é possível diferenciar áreas de fibrose, necrose, hemorragia ou reação desmoplásica. Geralmente, a lesão é imobilizada entre os dedos da mão não dominante, enquanto a mão dominante realiza a biópsia daárea central. ULTRASSOM: Útil na localização de praticamente qualquer lesão, seja superficial ou profunda. Utilizado para guiar punções do fígado, próstata, mama, tireoide, etc. Entretanto, não é adequado para guiar punção de lesões do pulmão. A punção pode ser feita pela mesma pessoa que opera o US, ou por outro profissional. Mesma pessoa → técnica da mão livre ESTEREOTÁXICA: Utilizam-se imagens obtidas por aparelhos de radiografia, TC ou RM em diferentes planos, e calcula-se o ângulo, o trajeto e a distância a ser percorrida pela agulha para atingir o centro da lesão. Utilizada em lesões que não são bem identificadas ao US, lesões profundas de mamas grandes, lesões cerebrais, dentre outras. Limitações: necessidade de o paciente permanecer imóvel durante todo o procedimento e o grande período de tempo necessário para a sua realização. Tipos de punção PUNÇÃO ASPIRATIVA COM AGULHA FINA: Vantagens: baixo custo, feita em regime ambulatorial. Bem tolerada pelo paciente, leve desconforto. Sem anestesia Baixa incidência de complicações Complicações: hematoma (mais frequente), pneumotórax na biópsia pulmonar ou lesão de outros órgãos, como, por exemplo, lesão de vísceras ocas durante biópsia de órgãos sólidos intra-abdominais. Limitação: diagnóstico citológico em vez de histológicos. Desse modo, o resultado é, em geral, de afecção benigna, maligna ou infecciosa. Excepcionalmente, o citopatologista consegue dar diagnóstico do tipo e do grau de diferenciação tumoral. Principal indicação: diferenciação entre tumores benignos e malignos. Útil na avaliação de massas cervicais → preserva os planos teciduais. Nessa região, as biópsias incisionais e excisionais devem ser evitadas, pois uma incisão em local impróprio compromete a cirurgia definitiva e pode afetar negativamente o prognóstico do paciente. Exceções incluem as lesões cervicais primárias da pele e/ou mucosas, que são 4 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP mais bem diagnosticadas por biópsias tipo shave, punch, incisional ou excisional. Técnica cirúrgica Agulhas utilizadas são de calibre entre 20G e 25G. Áreas vascularizadas (linfonodos, nódulos tireoidianos) → agulhas de calibre 25G ou mais fino, para minimizar a diluição da amostra com sangue. As seringas utilizadas são as de 10 mL ou 20 mL. 1. Inicialmente, a lesão é localizada por um dos métodos descritos anteriormente. 2. Preparar a pele da região a ser puncionada com solução antisséptica, geralmente álcool a 70%. Quando são utilizadas soluções contendo polivinilpirrolidona-iodo (PVP-I), este deve ser retirado para não impregnar o material aspirado e interferir na coloração. 3. Aspirar pequena quantidade de ar (entre 1 mL a 2 mL), que é mantida no interior da seringa. 4. Introduzir a agulha (conectada na seringa) até o centro da lesão. 5. Retrair o êmbolo da seringa para produção de vácuo e realizar movimentos de vaivém pelo interior da lesão. De preferência, a agulha deve ir e vir pelo mesmo trajeto, porque desse modo os fragmentos celulares são mais facilmente retirados das paredes laterais do túnel formado pela passagem da agulha. 6. Com a agulha ainda posicionada no interior na lesão, liberar o êmbolo da seringa, para que o vácuo seja desfeito. Desse modo, mantém-se o material aspirado dentro da agulha. Caso a agulha seja retirada com o êmbolo da seringa ainda retraído, ocorrem aspiração de ar e dispersão do material para o interior da seringa. 7. Retirar a agulha. 8. Empurrar o êmbolo para expulsar o ar previamente armazenado no interior da seringa, e, com isto, expelir o material coletado que se encontra no interior da agulha. A saída desse material é direcionada para uma lâmina. 9. Realizar esfregaço com o auxílio de outra lâmina, espalhando delicadamente o material. 10. Colocar rapidamente a lâmina em frasco com álcool a 95% (álcool absoluto) para fixação. 11. Rotular devidamente o frasco e encaminhá-lo ao laboratório de anatomia patológica, junto com a solicitação contendo as informações descritas anteriormente. Figura 14.1 Punção aspirativa com agulha fina de lesão de mama. A, Aspiração de uma pequena quantidade de ar. B, Introdução da agulha até o centro da lesão. C, Realização de vácuo e movimentos de vaivém através da lesão. D, Liberação do êmbolo da seringa para que o vácuo seja desfeito antes da retirada da agulha. E, Coleta do material em uma lâmina. 5 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP PUNÇÃO-BIÓPSIA COM AGULHAS ESPECIAIS Calibre maior (entre 14G e 20G) Fornece material para estudo histológico. Baixo custo Regime ambulatorial Como o calibre das agulhas é maior, o desconforto para o paciente é maior, sendo necessária realização de botão anestésico no local da punção. Incidência de complicações é pequena Complicações: sangramento (principal), hematoma, punções inadvertidas de órgãos ou estruturas interpostas entre a pele e a lesão durante biópsia de órgãos intra-abdominais (alças intestinais, vesícula biliar), pneumotórax durante biópsia de nódulo pulmonar etc. Existem dois tipos distintos de agulhas: Manuais: necessária a realização de movimentos coordenados para retirar o fragmento de tecido após a agulha ter atingido o alvo. Agulhas de Cope ou Abrams: biopsia pleural Automáticas: são armadas antes da punção e disparadas ao se atingir o alvo. Esse disparo produz movimento automático da agulha, que secciona e captura o material. São mais fáceis de manusear e podem ser disparadas somente com uma mão. Biopsia de fígado, próstata, pâncreas, rim ou de outros órgãos. Biópsias percutâneas de órgãos intracavitários → paciente permanecer algumas horas em repouso, em decúbito lateral do mesmo lado da punção para compressão do local, e ser avaliados quanto à presença de sangramento. Contraindicações: pacientes com ascite (biópsias percutâneas de órgãos intra-abdominais), distúrbios da coagulação. Técnica cirúrgica Os métodos para a localização da lesão são os mesmos utilizados para punção aspirativa com agulha fina. A antissepsia da região é feita com solução contendo PVP-I ou clorexidina. Quando se utiliza agulha automática, após atingir o centro da lesão dispara-se a agulha e esta é retirada com fragmento de tecido em seu interior. Quando se utiliza agulha manual, a maneira de colher o fragmento de tecido varia de acordo com o tipo de agulha. As agulhas manuais mais utilizadas no nosso meio são as de Vim Silverman, Menghini e Cope. Biópsia hepática percutânea. A biópsia hepática pode ser realizada para o diagnóstico de doença focal (nódulo, tumor, metástase), para avaliação de doença parenquimatosa difusa do fígado (esteatose, inflamação, hepatite, fibrose, cirrose), na colestase sem causa evidente, na presença de testes de função hepática que se mantêm persistentemente alterados e nas doenças sistêmicas ou infiltrativas (amiloidose, hemocromatose, sarcoidose, tuberculose miliar, febre de origem indeterminada). A biópsia do fígado pode ser realizada por via percutânea transjugular, laparoscópica ou laparotômica. A biópsia hepática percutânea de doença 6 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP parenquimatosa pode ser orientada pela percussão ou por métodos de imagem. A biópsia de lesão focal, por sua vez, sempre deve ser feita com o auxílio de métodos de imagem (US, TC, RM). A biópsia guiada por US é o método preferido atualmente, mesmo nas doenças difusas, pois o US proporciona maior segurança, com menor risco de lesão de estruturas intraparenquimatosas (ramo arterial ou portal, via biliar) e de órgãos vizinhos (pulmão, cólon, vesícula biliar). Contraindicações: pacientes não cooperativos, alteração da coagulação sanguínea, colangite séptica, suspeita de lesão vascular, ascite, obstruçãobiliar e infecção do espaço pleural direito (as três últimas são contraindicações relativas). Complicações: dor local ou no ombro ipsilateral, hemorragia (hemotórax, hemoperitônio, hematoma intraparenquimatoso ou subcapsular, hemobilia), hipotensão arterial, fístula arterio-venosa intra-hepática, sepse, coleperitônio, pneumotórax, lesão de órgãos adjacentes (pulmão, vesícula biliar, cólon) e óbito. Figura 14.6 Técnica de biópsia hepática percutânea. A, Introdução da agulha até o peritônio parietal. B, Injeção de 1 mL a 2 mL de solução salina a 0,9% para limpar a agulha. C, Criação de vácuo. D, Introdução da agulha no parênquima hepático (4 cm a 5 cm). E, Retirada da agulha. Biópsia da pleura. A biópsia da pleura parietal é indicada para avaliar pacientes com derrame pleural sem causa evidente. É utilizada principalmente para diferenciar tuberculose de neoplasia maligna. As agulhas utilizadas são as de Cope ou Abrams, e é necessária a realização de radiografias de tórax antes e depois do procedimento. Às vezes, pode também ser feita em casos de espessamento pleural na ausência de derrame, não devendo, entretanto, ser utilizada rotineiramente como método de avaliação de derrames muito pequenos e/ou loculados. É contraindicada nos pacientes não cooperativos, com distúrbios de coagulação ou com infecção cutânea na região da punção. Figura 14.8 Técnica de biópsia pleural. A, Cânula interna posicionada no interior da cânula externa, com ranhura direcionada para baixo. B, Pleura parietal aprisionada pela ranhura. C, Avanço da cânula externa com secção do fragmento. 7 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP BIÓPSIA INCISIONAL E EXCISIONAL BIÓPSIA INCISIONAL Retira-se somente parte da lesão ou de órgão. As punções com agulhas finas e especiais, as biópsias com pinça saca- bocado e várias biópsias com punch de diâmetro pequeno são alguns exemplos de biópsias incisionais. Indicado: biópsia de músculos, ossos, tecido subcutâneo e processos inflamatórios ou infecciosos disseminados da pele ou de outros órgãos. Também para estabelecer diagnóstico pré-operatório em operações extensas ou mutilantes, como amputações. Deve ser feita nas bordas, retirando-se fragmento que englobe tecido doente junto com tecido sadio. Complicações: infecção de ferida, hemorragia per-ou pós-operatória, distúrbios da cicatrização, além da possibilidade de disseminação local de células tumorais. Figura 14.9 Biópsia incisional de lesão de pele. Deve-se retirar um fragmento da borda da lesão englobando tecido doente e sadio. Biópsia muscular. A biópsia muscular é uma biópsia incisional, pois retira-se somente um pedaço de músculo para exame. É indicada na avaliação de doenças musculares primárias (miopatias, distrofias) e secundárias (neurogênicas, endócrinas, induzidas por medicamentos) ou de doenças sistêmicas (vasculites). Geralmente são necessários estudos especiais como histoquímica enzimática, imuno-histoquímica, microscopia eletrônica e/ou testes bioquímicos e moleculares. BIÓPSIA EXCISIONAL Retira-se totalmente a lesão a ser estudada. Além de diagnóstica, ela é, também, na maioria das vezes, terapêutica. A maioria das lesões suspeitas de malignidade deve ser submetida, quando possível, a excisão cirúrgica completa (biópsia excisional), com margem de segurança entre 2,5 mm e 5 mm, a não ser que sejam de dimensões tais que tornem impossível o fechamento da pele, ou que impeçam a obtenção de resultados cosméticos aceitáveis. Nesses casos, deve-se optar pela biópsia incisional, com punch ou shave, e aguardar o diagnóstico anatomopatológico para programar operação mais extensa. Complicações: as mesmas da biópsia incisional, já descritas. Técnica cirúrgica – Biópsia de pele 1. A técnica cirúrgica das biópsias excisionais e incisionais obedece aos princípios fundamentais das biópsias, como: Antissepsia ampla da região; Colocação de campos cirúrgicos que ofereçam liberdade de movimentos para o cirurgião e o auxiliar; Utilização de material delicado. 2. Programar as linhas de incisão na pele. Estas devem ser paralelas às linhas de força. Uma incisão em forma de elipse ou cunha é desenhada ao redor da lesão, com seu maior eixo paralelo às dobras ou às linhas de força da pele. Para resultado cosmético bom, seu maior eixo deve ser em torno de 3 vezes o tamanho do eixo menor. Essa programação deve ser feita antes da injeção de anestésico no local, pois este produz intumescimento do subcutâneo e dificulta a avaliação das linhas de força. 3. Injetar o anestésico local superficialmente. A injeção deve elevar o local a ser biopsiado. Uma injeção muito rápida pode ocasionar aparecimento de espaços ovais na derme ou até mesmo na epiderme. 4. Incisar a pele previamente demarcada e aprofundar a lâmina de bisturi perpendicularmente à superfície até que o tecido subcutâneo seja atingido. Utilizar lâminas no 11 ou 15. 5. Elevar uma das extremidades da elipse com ajuda de pinça dente-de-rato delicada, ou de pequeno gancho, para não esmagar a pele. 8 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP 6. Mantendo essa extremidade elevada, liberar a base da lesão com tesoura ou com bisturi em direção à outra extremidade. O plano de clivagem para as lesões cutâneas é o subcutâneo, que pode inclusive ser parcialmente retirado. 7. Realizar hemostasia por compressão local, uso de eletrocautério ou ligadura com fios. 8. Suturar a incisão com pontos simples, Donatti ou intradérmicos. 9. Realizar curativo oclusivo com gaze seca. 10. Colocar a peça em frasco com fixador adequado e devidamente identificado. Biopsia com Punch É um tipo de biópsia comum entre os dermatologistas. Geralmente é empregada na pele, podendo também ser realizada com segurança na mucosa oral. Utiliza-se instrumento que contém, em sua ponta, uma lâmina circular cortante (punch). Seu diâmetro pode variar de 2 mm a 10 mm, mas as medidas utilizadas com maior frequência são as de 3 mm e 4 mm. Em processos inflamatórios, um punch de 4 mm a 5 mm é preferível. A lesão sempre deve ser retirada junto com área de tecido sadio. Dependendo do tamanho da lesão, a biópsia com punch pode ser incisional ou excisional. Uma das desvantagens desse método é o pequeno tamanho do material retirado, às vezes dificultando a interpretação histopatológica. Contraindicado: em áreas sobre artérias, como sobrancelhas (artéria temporal), e área nasolabial (artéria angular), pelo risco de lesão nesses locais. Não fazer em lesões espessas, como pele hipertrófica e em calosidades das plantas dos pés. Principal complicação: sangramento. Técnica cirúrgica: 1. Antissepsia da região, demarcação da lesão e anestesia local por infiltração da pele. 2. Esticar a pele no sentido perpendicular ao das suas dobras, e aplicar o punch de maneira firme e perpendicular à superfície. 3. Realizar movimentos de rotação. Esses movimentos promovem corte até o subcutâneo. Evitar realizar movimentos de vaivém e não retirar o punch para verificar a progressão do corte, antes de ele atingir o subcutâneo (sente-se perda da resistência nessa hora).2 4. Com a ajuda de uma agulha ou de pequeno gancho, levantar a peça, que é retirada cuidadosamente, seccionando-se a base com tesoura delicada (Figura 14.13B). 5. Nas feridas de até 3 mm, pode-se realizar hemostasia com compressão local ou com o uso de agentes químicos, como solução de Monsel, cloreto de alumínio a 25% ou ácido tricloroacético a 25%, por 5 min a 10 min. Às vezes, pode-se utilizar Gelfoam® sobre a área cruenta. Nesses casos, a cicatrização ocorre por segunda intenção. Feridas maiores requerem sutura. Na maioria das vezes, é necessário fazer somente um ou dois pontos. Nesse caso, não se usam agentes hemostáticos. As desvantagens 9 Clínica Cirúrgica –Heloísa Paraíso 6ºP da cicatrização por segunda intenção é que ela ocorre mais lentamente e deixa cicatriz oval, em vez de linear. Biópsia em barbear (Shave) Remove a porção de pele elevada, acima do plano do tecido adjacente (lesões de natureza exofítica). É realizada entre a camada papilar profunda da derme e a camada mediorreticular. A biópsia em barbear está indicada nas lesões exofíticas como ceratose seborreica, ceratose solar, verrugas vulgares e nevos epidérmicos. Está contraindicada na avaliação de doenças inflamatórias da pele, pois não permite estudar os plexos profundos, a derme reticular nem o tecido subcutâneo. Neoplasias que clinicamente parecem infiltrar a derme e lesões pigmentares também são contraindicações. É falha para o diagnóstico diferencial entre ceratose solar, ceratoacantoma e carcinomas. Técnica cirúrgica: 1. Antissepsia da região e colocação de campos cirúrgicos. 2. Injetar anestésico local abaixo da lesão, para elevá-la acima da pele circunjacente. 3. Posicionar a lâmina de bisturi no plano horizontal, paralelo à superfície da pele. 4. Seccionar a lesão em sua base, por meio de movimentos de vaivém com a lâmina de bisturi, semelhantes aos de uma serra. 5. Comprimir o local por alguns minutos para hemostasia. 6. Realizar curativo oclusivo com gaze seca. 7. Colocar a peça em frasco com fixador adequado e devidamente identificado. Figura 14.14 Técnica de biópsia em barbear (shave). A, Vista lateral da lesão. B, Injeção de anestésico local para elevação da lesão acima da pele. C, Secção da lesão por meio de movimentos de vaivém com a lâmina de bisturi paralela à superfície da pele. 10 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP Curetagem Técnica simples para remover lesões superficiais benignas da pele, como verrugas vulgares, molusco contagioso, nevo epidérmico, ceratose actínica e ceratose seborreica, usando-se pequenas curetas. Seu uso é viável em lesões de 2 mm a 6 mm de diâmetro que atingem unicamente a epiderme. A hemostasia é obtida por compressão, uso de agentes hemostáticos ou eletrocoagulação. Essa técnica está contraindicada na suspeita de lesão melanocítica ou neoplásica e naquelas de diagnóstico clínico incerto. A curetagem é também utilizada para o estudo de tecidos como endométrio. Nesse caso é necessário o acompanhamento de anestesiologista para sedação ou bloqueio troncular. Biópsia com Tesoura É reservada para lesões pedunculadas benignas como verrugas filiformes, acrocórdon, papiloma fibroepitelial e lesões pigmentadas polipoides ou superficiais como a ceratose seborreica. Anestesia local é necessária raramente, visto que a profundidade da ferida se limita, habitualmente, à camada papilar da derme. A base da lesão é seccionada com tesoura, e o sangramento é controlado com compressão, na maioria das vezes, ou com eletrocoagulação. A peça é colocada em recipiente com fixador adequado, devidamente identificado, e enviada ao laboratório. REFERÊNCIA SAVASSI – Cirurgia de Ambulatório
Compartilhar