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Resenha_A natureza e o papel do Estado brasileiro na industrialização a partir de 1930

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Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Economia e Relações Internacionais
Curso de Graduação em Relações Internacionais
Disciplina Estado e Economia
Prof. Dr. José Rubens Damas Garlipp
Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho
Nº de matrícula: 11711RIT006
Resenha:
A natureza e o papel do Estado brasileiro no processo de industrialização a partir de 1930
O processo de industrialização brasileira tem sua origem convencionada na década de 1930, durante a Era Vargas. A partir desse período, identificam-se propostas governamentais de projetos nacionais que visavam o desenvolvimento econômico do Brasil, por meio do avanço técnico. No entanto, é necessário observar que apesar de “nacionais”, tais projetos estiveram sempre associados aos interesses da elite em suas diversas faces ao longo do tempo. Observa-se, então, a ausência de pautas sociais, com o objetivo de melhorar as condições de vida da população como um todo. Dessa forma, compreende-se Celso Furtado quando este afirma que o crescimento econômico sem a melhoria da qualidade de vida do povo não pode ser entendido como desenvolvimento.
Em primeiro lugar, para entender a Revolução de 1930 no Brasil é preciso observar o contexto que a antecedeu: a Crise de 1929 associada à realidade da economia brasileira. Até então, a política nacional era dominada pelos interesses da oligarquia agrária, sobretudo a paulista, ligada à produção de café. Esta atividade era sustentada pelo capital nacional, de modo que pode-se dizer da existência de um complexo cafeeiro. Muito embora houvesse uma pequena indústria leve, desenvolvida através do capital cafeeiro e centralizada na metrópole paulista, a economia brasileira tinha caráter primário-exportador. No entanto, com o crash da Bolsa em Nova Iorque, os níveis de consumo declinaram, afetando a rentabilidade da atividade cafeeira. Diante disso, a oligarquia agrária brasileira não possuía o mesmo prestígio, de modo que seus interesses não eram hegemônicos.
Nessa conjuntura, diz-se do surgimento de uma nova classe política representada por Getúlio Vargas e pelos tenentes. Enquanto administradores, eles propunham uma reciclagem do aparato estatal com o intuito de introduzir a industrialização pesada. Com isso, o projeto nacionalista de Vargas tinha por objetivo tornar o Estado promotor e centralizador do processo de industrialização, o qual envolvia interesses de classe distintos. Logo, pode-se compreender o Estado à luz da teoria de Poulantzas, enquanto dotado de autonomia relativa e responsável por amortecer o conflito de classes, tendendo aos interesses do bloco no poder hegemônico. Diante disso, apesar do objetivo de modernização, o projeto nacional varguista era também conservador, pois não interferia nos interesses e valores dominantes da oligarquia agrária. 
O projeto nacional-desenvolvimentista de Vargas também elevou as expectativas das massas trabalhadoras de participação direta no mesmo. De certo modo, isso se deu pela criação dos direitos trabalhistas e das associações. Mas, por outro lado, o regime ditatorial do Estado Novo possuía caráter repressivo em prol da centralização. Isso contrasta com os avanços obtidos por meio da construção do Estado brasileiro enquanto orientador das forças econômicas, devido à supressão de direitos individuais.
Mesmo com o fim da ditadura varguista e um breve período liberalizante sob a liderança de Dutra, o segundo governo de Vargas (para o qual ele fora eleito pelo voto popular) ficou marcado não somente por seu trágico fim; mas, em termos econômicos, ficou marcado pela criação de empresas e instituições estatais, de modo a controlar o desenvolvimento nacional. Contudo, o aspecto conservador ainda residia no cenário brasileiro, haja vista a influência do contexto internacional da Guerra Fria. O sentimento anti-comunista no Brasil antagonizava a figura de Vargas, devido aos seus projetos econômicos de caráter intervencionista.
Por sua vez, Juscelino Kubitschek foi capaz de realizar uma conciliação política, sob o projeto desenvolvimentista de aprofundamento do capitalismo. Pode-se dizer da inauguração de uma nova fase de industrialização e modernização no Brasil. Em seu projeto, JK uniu o capital estrangeiro ao capital privado nacional através do capital estatal. Ele foi responsável pela criação de ampliação do complexo industrial, pela construção e expansão da malha rodoviária, bem como pela chamada “marcha para o oeste” brasileira, com a construção de Brasília. No entanto, aí reside um ponto contraditório do desenvolvimento brasileiro durante o governo JK.
A construção de Brasília, por um lado, foi importante para a integração territorial no processo de industrialização nacional. Mas, por outro, fomentou a migração de uma grande parte da população camponesa nordestina, onde a concentração fundiária mantinha-os em relações quase feudais. Diante dessa realidade, o projeto nacional, mais uma vez, não visava os interesses da sociedade como um todo, mas apenas a elite urbana. Logo, é possível dizer do desenvolvimento associado ao subdesenvolvimento, pois os benefícios em termos de qualidade de vida aplicavam-se apenas à classe média-alta, ao passo que as classes subordinadas viviam em situação precária.
Com um salto no tempo, observa-se a ditadura militar no Brasil, sob a qual se deu o “Milagre Econômico”. No entanto, é preciso relativizar essa realização, uma vez que também se voltava apenas às classes mais altas, além das desconfianças acerca da alteração dos dados sobre inflação da época. De qualquer forma, os avanços econômicos obtidos neste período foram resultado de uma forte intervenção do Estado brasileiro, o qual também era a figura da violência e da repressão dos direitos individuais dos civis. 
Nos últimos anos da ditadura, houve certa abertura ao movimento partidário no Brasil, bem como ao movimento trabalhista concentrado no estado de São Paulo. Nesse momento, surgiu a figura de Luiz Inácio Lula da Silva, que viria a ser presidente nos anos 2000. Entretanto, antes disso: o fim da ditadura militar se deu em consequência da crise econômica que assolava o país, além dos movimentos sociais e das pressões externas em prol da redemocratização. O fato é que o autoritarismo só se sustentava via crescimento econômico. Diante do que Maria da Conceição Tavares descreve, no início da década de 1980, o país encontrava-se em falência, devido à crise dos juros causada pelo “Choques do Petróleo” (sobretudo o segundo, em 1979).
Conhecida como década perdida, os anos 80 foram marcados por sucessivos projetos nacionais para recuperação da economia brasileira, através da intervenção do Estado no funcionamento cambial e financeiro do país. Contudo, foi apenas nos anos 1990, sob o governo de Itamar Franco, que se deu a revitalização econômica do Brasil, por meio do Plano Real. Este foi representado pela figura do Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, o qual assumiu os dois mandatos seguintes como presidente da república.
A Era FHC no Brasil foi marcada pela influência do neoliberalismo, abordado pelo Consenso de Washington, a partir de diretrizes para o desenvolvimento das nações latinoamericanas. Logo, neste período, houve uma abertura à globalização, em termos comerciais. Fala-se também da redução do papel do Estado na economia, haja vista o princípio neoliberal de autorregulação. Aliado a isso, no contexto externo, ocorria a expansão da financeirização, de modo que as privatizações eram motivadas mais por esse fator do que pela falta de eficiência das estatais. 
Esse afastamento entre o Estado brasileiro e a economia precisa ser entendido, levando-se em consideração os interesses da classe burguesa no país. O crescimento conquistado nos governos de FHC ocorreu sem rupturas do ponto de vista social, sem se tratar da desigualdade. A pauta social só veio a ser priorizada nos governos Lula, uma vez que o Estado promoveu benefícios à classe trabalhadora e às classes mais pobres. Foi nítido o tratamento das desigualdades no plano nacional de Lula, quando em seu segundo mandatoa taxa de desemprego e o nível de pobreza reduziram. Dessa forma, a intervenção do Estado teve papel primordial para ampliar o acesso ao consumo e, consequentemente, o processo de acumulação na economia brasileira.
No entanto, em seguida ao governo Lula, os escândalos políticos e o sentimento anti-establishment colocaram em xeque a questão social dentro do plano de desenvolvimento econômico nacional. O que se vê agora é um esvaziamento em termos de um projeto nacionalista por vias democráticas. Darcy Ribeiro falava sobre o sonho de um Estado brasileiro desenvolvido e moderno por vias autênticas, democráticas e multiculturais. Mas a ascensão da extrema direita que defende valores conservadores e interesses de uma elite voltada às relações internacionais compromete a construção de um plano nacional para o desenvolvimento da sociedade brasileira como um todo. Diante de um presidente que afirma que “as minorias devem se curvar às maiorias”, não é possível prever num futuro próximo a idealização de um projeto que contemple, ou que pelo menos concilie, a diversidade de interesses presentes na população brasileira.
Referências:
DE MELLO, João Manuel Cardoso. O capitalismo tardio: contribuição à revisão crítica da formação e do desenvolvimento da economia brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1982.
DRAIBE, Sônia. Rumos e metamorfoses: um estudo sobre a constituição do Estado e as alternativas da industrialização no Brasil, 1930-1960. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
GARLIPP, José Rubens. Estado e Economia: Resgate teórico‐histórico: Revisão das principais formulações teóricas acerca da natureza do Estado. 23 de out.-18 de dez. de 2020. Notas de Aula.
SALLES, Ricardo. Nostalgia imperial: a formação da identidade nacional no Brasil do Segundo Reinado. Topbooks, 1996.
SILVA, Sergio. Expansão cafeeira e origem da indústria no Brasil. São Paulo, Alfa-Omega, 114p, 1976.
UM SONHO INTENSO. Direção: José Mariani. Produção: Andaluz. [S.l.]: [s.n.], 2014.

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