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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Instituto das Ciências Humanas e da Informação - ICHI Disciplina: Geomorfologia I Acadêmico: Potiguara Marques - 63367 RELATÓRIO SEGUNDA SAIDA DE CAMPO SERRA DO RIO DO RASTRO Rio Grande 2015 POTIGUARA MARQUES RELATÓRIO DA SEGUNDA SAIDA DE CAMPO SERRA DO RIO DO RASTRO Relatório de saída de campo realizada no período de 30/04/2015 à 03/05/2015, com destino ao município de Lauro Muller, com subida a Serra do Rio do Rastro, Bom Jardim da Serra , Itapiruba, Imbituba e Laguna no estado de Santa Catarina e Torres, Arroio do Sal, Parque Nacional de Aparados da Serra e Morro da Borússia no estado do RGS. Prof. Msc. Rossana Madruga Rio Grande 2015 SUMÁRIO Introdução ........................................................................................................... 6 Objetivos ............................................................................................................. 6 Roteiro da Saída de Campo ................................................................................ 7 Ponto B e C - Lauro Muller - Subindo a Serra do Rio do Rastro ....................... 8 Ponto D e E - Itapiruba -Morro da Baleia Franca - Cabo Santa Marta .............. 14 Ponto F - Gruta de Abrasão - Furnas de Sombrio - SC ..................................... 18 Ponto F - Praia da Guarita - Torres ................................................................... 20 Ponto H - Parque Nacional de Aparados da Serra ............................................ 23 Conclusão ......................................................................................................... 28 Bibliografia ...................................................................................................... 29 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Gondwana - .................................................................................................... 6 Figura 2 - Mapa da saída de campo - ................................................................................ 7 Figura 3 - Estratigrafia da Bacia do Paraná - .................................................................... 8 Figura 4 - Marco Ponto 1 - cota 200 m - .......................................................................... 8 Figura 5 - Folhelhos Siltitos Lauro Muller - ... .................................................................. 9 Figura 6 - Rio Tubarão -.................................................................................................... 10 Figura 7- Membro Paraguaçu - ...................................................................................... 10 Figura 8 - Mineração de Carvão ...................................................................................... 11 Figura 9 - Panorama da Serra do Rio do Rastro .............................................................. 11 Figura 10 - Folhelhos Siltitos Cinza . .............................................................................. 12 Figura 11 - Formação Botucatu .................................................................................. 13 Figura 12 - Afloramento de Rochas Vulcânicas ............................................................... 13 Figura 13 - Topo da Serra do Rio do Rastro ..................................................................... 14 Figura 14 - Cabo Santa Marta .......................................................................................... 15 Figura 15 - Promontórios da praia de Itapiruba............................................................... 15 Figura 16 - Vista da Praia de Itapiruba - SC ..................................................................... 17 Figura 17 - Formação Granítica - Morro da Baleia Franca .............................................. 17 Figura 18 - Blocos Arredondados - Morro da Baleia Franca .......................................... 17 Figura 19 - Gruta de Abrasão - Sombrio - SC ............................................................... 18 Figura 20 - Interior da Gruta de Abrasão ....................................................................... 18 Figura 21 - Estratificação - Gruta de Abrasão ................................................................ 19 Figura 22 - Características dos rios ................................................................................ 20 Figura 23 - Afloramento do Parque da Guarita ............................................................ 20 Figura 24 - Falésias de Torres ...................................................................................... 21 Figura 25 - Topo do morro testemunho ...................................................................... 21 Figura 26 - Arroio do Sal .............................................................................................. 22 Figura 27 - Dunas e Sambaquis - Balneário Atlântico - Arroio do Sal - RS .................... 22 Figura 28 - Vista do cânion Itaimbézinho ................................................. .................... 23 Figura 29 - Vista da praça da Matriz São José - Cambará do Sul - RS ........ ................... 24 Figura 30 - Vista do Rio do boi Interior do Cânion Itaimbézinho ........ ........................ 25 Figura 31 - Mapa das trilhas do Cânion Itaimbézinho ........ ....................................... 25 Figura 32 - Afloramento de derrames no cânion Itaimbézinho ........ ......................... 26 Figura 33 - Bacia Antas Taquari ........ ......................................................................... 27 Figura 34 - Cascata das Andorinhas ........ .................................................................. 27 Figura 35 - Cascata Véu de Noiva - Itaimbézinho ........ ............................................. 27 6 INTRODUÇÃO Este relatório tem por objetivo o relato da saída de campo que ocorreu no período de 30 de abril de 2015 à 03 de maio de 2015 da disciplina de geomorfologia I, com destino aos municípios de Lauro Muller, Bom Jardim da Serra, Imbituba e Laguna no estado de Santa Catarina e os municípios de Torres, Arroio do Sal, Morro da Borússia e o Parque Nacional de Aparados da Serra no estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de visita, análise e estudos das diversas estruturas geológicas que tiveram como origem a ruptura do antigo continente Gondwana1 (figura 1), que se dividiu formando a América e a África. OBJETIVOS Um dos principais objetivos de uma saída de campo é mostrar na prática as aulas teóricas e ampliar dessa forma o conhecimento, através desta pesquisa empírica. A importância da saída é relevante já que a disciplina estuda a formação e estrutura da Terra e por conseqüência processos geológicos que envolvem tais formações. As modificações ocorridas nas paisagens ocorrem por dois motivos; Modificações por eventos de ações naturais e por ação antrópica, onde o homem se utiliza dos recursos naturais para sua sobrevivência ou lucro, causando dessa forma a modificação de estruturas geológicas. Pesquisas de campo são necessárias para o entendimento do que ocorreu no passado, onde são estudados quais os mecanismos que levaram a atual formação das estruturas, o motivo da predominação de certa rochas eproporcionar novos conhecimentos e experiências a comunidade acadêmica envolvida com a disciplina. 1 Gondwana - Denominação dada ao continente hipotético que existiu no hemisfério Sul, o qual compreendia massas continentais da América do Sul, África do Sul, Índia e Austrália. No decorrer da era Mesozóica deu-se a fragmentação deste continente. (GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J.T. 2008) Figura 1 - Gondwana 7 ROTEIRO DA SAIDA DE CAMPO - SERRA DO RIO DO RASTRO A - Saída de Rio Grande - RGS B - Lauro Muller - Subindo a serra do Rio do Rastro com paradas para observação. SC C - Bom Jardim da Serra - SC D - Itapiruba - Imbituba - SC E - Laguna - (Pernoite) - SC F - Torres - Grutas de Abrasão - RS G - Arroio do Sal - (Pernoite) RS H - Parque Nacional do Aparados da Serra - RS I - Morro da Borússia - RS Figura 2 - Mapa da Saída de Campo ocorrida em 30/04/2015 8 PONTO B e C - LAURO MULLER e BOM JARDIM DA SERRA - SUBINDO A SERRA DO RIO DO RASTRO Nossa expedição de estudos começa com uma parada localidade de Lauro Muller, município de Santa Catarina, mais precisamente na cota de altitude 200 m (figura 3), na formação Rio Bonito2, para observamos as estruturas da Bacia Intracratonica do Paraná. Figura 3 - Estratigrafia da Bacia do Paraná Neste ponto a unidade estrutural é da Bacia Intracratonica e sua unidade de relevo pertence a escarpa da Serra Geral no planalto meridional. A Formação Rio Bonito é de idade permiana e é representada por uma sucessão sedimentar cíclica de pacotes de arenitos, siltitos e folhelhos sendo portadora de extensos depósitos de carvão mineral que tem sua exploração iniciada no século XIX. (WHITE,1908). 2 Formação Rio Bonito - denominação proposta por White,1908 - para caracterizar o conjunto de rochas areníticas associadas a pelitos e camadas de carvão descritas na secção padrão localizadas entre as cidade de Lauro Muller - Guatá - São Joaquim em Santa Catarina. Figura 4 - Ponto 1 - Cota 200 m 9 De acordo com (MILANI,2007), a formação Rio Bonito foi depositada em um ambiente costeiro que eram formados por rios, deltas, baías e estuários com planicíes de marés, ilha de barreira e plataforma marinha rasa, numa época em que a Bacia do Paraná era um grande golfo do antigo continente Gondwana. Ainda cita que, este golfo era aberto a sudoeste, para o antigo oceano Panthalassa. O afloramento dessa formação ocorre principalmente na Borda Leste da Bacia do Paraná em uma faixa estreita que abrange os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul terminando no Uruguai. No ponto observado o tipo de feição é um corte de estrada com afloramento de contato da formação do Rio do Sul, e os processos atuantes, como citado acima é ambiente de formação de sedimentos marinhos rasos. Os recursos identificados de carvão mineral em arenitos desta formação que ficam localizados em território brasileiro ultrapassam a 32 milhões de toneladas e são distribuidas em oito principais jazidas; Sul-Catarinense (SC), Santa Terezinha, Chico Lomã, Charqueadas, Leão, Irui, Capané e Candiota, todas no estado do Rio Grande do Sul. Os primeiros estudos a respeito do potencial carboniferos na formação Rio Bonito, datam de 1841 e foram realizados por técnicos, cientistas brasileiros e estrangeiros a mando do governo Imperial Brasileiro. Em 1908, Israel Charles White3, chefe da Comissão de Estudos das Minas de Carvão de Pedra do Brasil, publicou um relatório de estudos chamado Relatório White, que foi um grande marco para o conhecimento da geologia da Bacia do Paraná, sendo considerado o "marco zero" na sistematização estratigráfica da mesma. Os Afloramentos de excelente qualidade da Formação Rio Bonito ocorrem na Coluna White4, localizada na rodovia SC-438, entre os municipios de Lauro Muller e Bom Jardim da Serra em Santa Catarina. 3 Israel Charles White - Eminente Geólogo e professor norte-americano (1848-1927). 4 Coluna White - É a denominação da coluna estratigráfica da Bacia do Paraná na Serra do Rio do Rastro, no trecho da rodovia SC-438. Essa coluna é considerada uma coluna geológica clássica do antigo supercontinente Gondwana. Seu nome é em homenagem ao Geólogo norte-americano Israel Charles White, que estudou a geologia da Bacia do Paraná entre os anos de 1904 e 1906. Figura 5 - Folhelhos siltitos de Lauro Muller Fonte: Bruno Möller 10 Ainda na parada do ponto 1, podemos observar o Rio Tubarão que tem sua nascente no município de Lauro Muller, na encosta da Serra Geral. O seu nome não se relaciona com o peixe homônimo e sim de uma variação da denominação atribuida pelos indios que era Tuba-nhâro, que em tupi-guarani significa Pai Bravo. Podemos notar que a carga de sedimentos que o Rio possui é de uma granulometria groseira visto estarmos próximo a nascente. Outro fator observado é a coloração vermelha tanto das rochas quanto das águas o que se conclui que isto se apresenta desta forma proveniente da oxidação provocada pela área carbonífera que afeta a região. Devido a impossibilidade de efetuarmos paradas ao longo da subida da Serra do Rio do Rastro devido ao transito intenso passamos apenas pelos pontos 2 à 9 fazendo observações visuais sobre os mesmos. Ao passar pelo ponto 2, na cota 230m de altitude, observamos que existe uma sequencia de siltito argilozo cinza indo para o topo com arenitos claros ondulados, pertencentes ao Membro Paraguaçu5 da Formação Rio Bonito do Grupo Guatá que caracteriza um ambiente marinho raso. Pouco adiante na cota de 235m de altitudes passamos pelo ponto 3, onde aflora um pacote de arenitos mais claros também pertencentes ao Membro Paraguaçu recobertos por arenitos fluviais do Membro de Siderópolis. Ao atingirmos a cota de 280m, estamos sob o ponto 4, à 1,9 km do ponto inicial, onde a estratificação tangencial representa a fáceis marinho praial da formação Rio Bonito e nota-se na porção superior do perfil a camada de carvão Bonito, explorada em grande escala na região. Esta camada de carvão representa as turfeiras associadas a barreiras litorâneas. 5 Membro Paraguaçu - É uma denominação proposta por Schneider, et all, (1974), para a formalização dos membros da Formação Rio Bonito, tendo ampla aceitação e uso em toda a Bacia Sedimentar do Paraná. Além do membro Paraguaçu, foi proposta também as denominações Triunfo e Siderópolis. Figura 6 - Rio Tubarão Figura 7 - Membro Paraguaçu (Fonte: Site CPRM - Coluna White 11 No ponto 5, o afloramento associado que era a exposição da camada de carvão Barro Branco, foi totalmente minerado não sendo mais possivel a observação. Ja na cota de 400m de altitude, à 8,1 Km do ponto inicial está o ponto 6 da extratificação. São afloramentos formados de siltitos e folhelhos arenosos, amarelados que representam o ambiente marinho raso da Formação Palermo que são trangressivos sobre a Formação Rio Bonito. Chegando a altitude de 420m encontramos o ponto 7, distante 9,2 km do ponto inicial. Neste ponto encontramos folhelhos escuros, betuminosos pertencentes a Formação Irati6, Membro Assitência do Grupo Passa Dois, que representa um ambiente subaquoso restrito, de águas calmas abaixo do nível de ação das ondas. O ponto 8, distante 10,7 km do ponto inicial na cota de 475 m de altitude, já não permite mais observação visto que o afloramento acha-se decomposto e encoberto. Esse afloramento foi descrito por Castro et all (1994), como um contato por falha entre arenitose siltitos,com mergulho contra a falha da Formação Teresina7 folhelhos escuros da Formação Serra Alta8. 6 Formação Irati - Charles White (1908), utiliza o termo " Iraty" para designar os schistos, camada areentas e calcário, que afloram no rio Passa Dois, na Serra do Rio do Rastro. 7 Formação Teresina - Moraes Rego (1930) foi que usou pela primeira vez o termo Teresina, sob a designação de Grupo Teresina, aos sedimentos encontrados expostos na margem direita do rio Ivaí, próximo a localidade de Teresa Cristina (antiga Teresina) no Paraná. Schneider (1974) denominou esta seqüência de Formação Teresina. 8 Formação Serra Alta - Gordon Jr.(1947) propôs o termo Serra Alta para designar como membro da Formação Estrada Nova (White,1908), um pacote de folhelhos cinza-escuros, situados entre formações Irati e Teresina. Sanford & Lange (1960) elevaram esta unidade à categoria de formação, onde ela tem sido mais comumente usada. Figura 8 - Mineração de Carvão Figura 9 - Panorama da Serra do Rio do Rastro 12 Mais adiante esta o ponto 9, distante 11, 6 Km do ponto inicial na cota de 520m de altitude. Uma espessa sequencia de folhelhos e siltitos cinza-escuro com laminação plano-pararela, com concreções calcáreas da Formação Serra Alta, representado uma deposição em ambiente de aguas calmas, abaixo do nivel das ondas, semelhantes a Formação Irati. Continuando nossa expedição estamos agora no ponto10 cota de 590m, distantes agora à 13,5 Km do ponto inicial, ainda na mesma unidade estrutural e de relevo na feição de corte de estrada do contato FormaçãoTeresina, onde foi possivel uma parada com descida do onibus para apreciação mais de perto das formações existentes. Esta formação é constituida por argilitos, folhelhos e siltitos cinza-escuros e esverdeados, intercalados com arenito muito finos, cinza- claros. Muitas das vezes quando alterada, a unidade mostra uma diversidade de cores em tons cremes, violáceos, bordô e avermelhados do Membro do Morro Pelado9 da formação do Rio do Rastro representando o inicio do ciclo progradante da bacia sedimentar. É comum apresentar lentes e concreções carbonáticas, com formas elipticas e de dimensões que chegam a atingir 2m de comprimento por 0,80 cm de largura. A partir deste ponto, novamente só foi possivel fazer nova parada, desta vez, no topo da Serra do Rio do Rastro, porém continuamos com as observações pelos pontos estratigráficos até a próxima parada. Na cota de 660m de altitudes, distante 14,7 km do ponto incial, estão situados os pontos 11 e 12, que são sequencias cinza escuros intercalados com espessas camadas de arenitos, Membro Serrinha10. Formação Rio do Rastro que representa a progradação dos lobos sigmoidais sobre os depósitos argilosos. Na cota de 680 m, está o ponto 13, já à 14,8 km do ponto inicial. Este ponto é formado por lobos sigmoidais representados por banco de arenitos do Membro Morro Pelado no topo e progradando para siltitos argilosos na base. 9 Membro Morro Pelado - É constituído por lentes de arenitos finos, avermelhados, intercalados em siltitos e argilitos arroxeados. Aparecem ainda cores em tonalidades verde, chocolate, amarelada e esbranquiçada. Suas principais estruturas sedimentares são a estratificação laminação plano-paralela, cruzada, cruzada acanalada e de corte e preenchimento. 10 Membro Serrinha - É constituído por arenitos finos, bem selecionados, intercalados com siltitos e argilitos cinza-esverdeados, amarronados, bordô e avermelhados, podendo localmente conter lentes ou horizontes de calcário margoso. Figura 10 - Folhelhos Siltitos Cinza 13 Os pontos 14 e 15, respectivamente cotas de 685m e 720m tem a mesma formação. São de contato aplainado ao nivel da estrada e estaçao entre a Formação Botucatu11 - escarpa - e o Membro Morro Pelado a uma distancia de 15 e 16km respectivamente, do ponto inicial. Chegando a cota de 760m de altitude, encontramos o ponto 16, distante 16,6 km do ponto inicial. Aqui existem arenitos com estratificação cruzada acanalada de grande parte da Formação Botucatu, representando a implantação de um amplo ambiente desértico na Bacia. Existe ainda o contato entre arenitos eólicos da Formação Botucatu com as rochas basálticas da Formação Serra Geral, ambos pertencentes ao Grupo São Bento. Junto ao marco 17, na cota de altitude 780m encontra-se o final da coluna White de observação geomorfologica. Neste ponto existe afloramento de rochas vulcânicas da formação Serra Geral, Grupo São Bento. 11 Formação Botucatu - Gonzaga de Campos (1889) descreveu como Gres de Botucatu uma formação de arenitos vermelhos aflorantes na Serra do Botucatu entre as cidades de São Paulo e Botucatu. Litológicamente são constituídos por arenitos bimodais de médios a finos, localmente grossos e conglomeráticos com grãos arredondados ou subarredondados e bem selecionados. Figura 11 - Formação Botucatu - cota 760 (Fonte: Site Coluna White Figura 12 - Afloramento de Rochas Vulcânicas (Crédito: Ronaldo Cozza) 14 Continuando a subida da Serra do Rio do Rastro, chegamos ao topo da serra na altitude de 1.415m, onde existe um mirante onde podemos apreciar a magnitude dessa serra majestosa criada pela natureza ao longo da existencia do planeta. PONTO D e E - ITAPIRUBÁ - IMBITUBA - MORRO DA BALEIA FRANCA - CABO SANTA MARTA Após a descida da serra, dirigimo-nos ao município de Laguna, onde pernoitamos e ao amanhecer nos deslocamos ao Cabo Santa Marta para nossas observações geomorfológicas. O Cabo de Santa Marta, é um dos limites da Bacia Sedimentar de Pelotas e está localizado em Laguna, Litoral de Santa Catarina. Sua Unidade Estrutural pertence ao Escudo12 Atlântico Brasileiro e sua unidade de relevo são das serras do leste catarinense. Esta região foi formada no período quartenário devido as regressões e transgressões que houveram na época. 12 Escudo - Primeiros núcleos de rochas emersas que afloraram desde o início da formação da crosta. Zonas atualmente estáveis quanto à tectônica. A distribuição geográfica dos principais escudos é a seguinte: 1 - Fino- escandinavo, 2 - Siberiano, 3 - Canadense, 4 - Sul-Africano, 5 - Guiano, 6 - Brasileiro, 7 - Patagônico. O termo escudo foi aplicado originariamente por F. Suess aos escudos canadense e báltico. Figura 13 - Topo da Serra do Rio do Rastro (Fonte: Prefeitura de Bom Jardim da Serra - SC 15 A história dessa região abrange aproximadamente 5000 anos que podem ser testemunhados pela presença dos maiores sítios arqueológicos tipo Sambaqui13 do mundo, o que pode nos dar uma interpretação de como viviam as populações pré-históricas na região e de todo o contexto fisíco-natural da área. O Cabo Santa Marta, ganhou este nome no ano de 1502, quando segundo (BOITEUX, L.,1930) o comandante André Gonçalves teria chegado à região em 23 de fevereiro, dia que se festeja Santa Marta, segundo o calendário romano. Em termos de geomorfologia, esta região apresenta praias arenosas e baixas com cordões arenosos bem desenvolvidos. A planície costeira tem seu limite interno marcado pelas escarpas da Serra Geral. O Tipo de feição encontrado nessa região é magmática intrusiva, apresentando gnaisses e cristais faneritícos. Os processos atuantes encontrados foram de erosão abrasiva do mar sobre os blocos rochosos e ação química sobre as rochas devido a salinidade das águas, além do processo antrópico. Em prosseguimento as nossas observações do segundo dia, foi a praiade Itapiruba que fica localizada entre Laguna e Imbituba e que apresenta um conjunto de morros cristalinos denominados de Cinturão Dom Feliciano ou ainda Bloco Dom Feliciano. Este cinturão é composto por uma extensão de rocha cristalina predominantemente intrusiva e também metamórfica. Ao observamos encontramos evidencias de processos erosivos e matações14 bastante intemperizadas. Essas estruturas além de estarem representadas nos conjuntos de rochas antigas das proximidades do mar elas compõem também a serra do leste. 13 Sambaqui - Acúmulo de moluscos marinhos, fluviais ou terrestres, feito pelos índios. Nesses jazigos de conchas encontram-se correntemente, ossos humanos, objetos líticos e peças de cerâmica. 14 Matação - Designação regional para as bolas de rochas compactas produzidas pela esfoliação em forma de casca de cebola (desagregação cortical) sendo geralmente originadas pelos efeitos térmicos acompanhados de fenômenos de hidratação. Também lhe é atribuída a denominação de Boulder. Figura 14 - Cabo de Santa Marta - SC Figura 15 - Promontórios da Praia de Itapiruba. 16 De acordo com a história geológica da Terra, essas rochas já faziam parte do antigo continente Gondwana que se dividiu através de fissuras vulcânicas promovendo a formação da Serra Geral, compostas por rochas basálticas rioliticas. Depois de sua divisão, quando o nível do mar ainda estava elevado, esses promontórios foram interligados por processos de sedimentação feitos pelas correntes de deriva litorânea. Embora, as ondas não cheguem à praia com muita força ela não recebe a quantidade de sedimentos que deveria receber, porque os promontórios impedem a deriva de sedimento. Outro fato constatado é a forte influência do vento nessa zona, fazendo com que as dunas sejam removidas das proximidades da orla para regiões mais internas do continente. Também se percebe processos de abrasão marinhos que promovem a ação marinha. Também existe uma área urbana junto a praia, como pode-se observar através da figura 16. A saída de sedimentos por erosão costeira e a chegada dos mesmos vão ocorrer por deriva litorânea e muitas das vezes esses sedimentos não são suficientes para fazer a manutenção natural. Por isso a importância da manutenção de um cordão de dunas nesta área. Depois da observação da praia de Itapiruba, chegamos na elevação denominada Morro da Baleia Franca. É uma formação de rochas cristalinas antigas e é uma estrutura isolada já que toda a área ao redor e composta por processos de sedimentação recente do período Quartenário15. Esta formação possui o mesmo material do escudo Uruguaio Sul Rio-grandense compostos por rochas graníticas. 15 Quartenário - É a última grande divisão do tempo geológico que, embora não exista concordância geral, é considerado ter-se iniciado há aproximadamente dois milhões de anos antes do presente estendendo-se até os dias de hoje.Destaca-se nesse período o surgimento do homem e sua evolução. Esse termo foi proposto por Desnoyers (1929) para identificar os extratos identificados sobre os sedimentos terciários da Bacia de Paris,sendo redefinidos por Reboull (1833) para incluir todos os extratos caracterizados por vestígios de flora e fauna, cujos similares poderiam, ainda hoje, serem encontrados com vida. Figura 16 - Vista da Praia de Itapiruba - SC Figura 17 - Formação Granítica - Morro da Baleia Franca 17 O conjunto observado é de magmatismo intrusivo. A medida em que os processos de erosão vão atuando e removendo as rochas superiores e a pressão litostática16 diminui esse conjunto granítico aflora a superfície e se expande. Ele se rompe em um diaclasamento17 ortogonal ao longo dos planos. O Granito vai sendo intemperizado e arredondado formando blocos circulares. Ao longo dos planos ocorre a infiltração de água e o intemperismo vai sendo intensificado isolando alguns blocos. Essas áreas cristalinas antigas constituíram no passado, nos momentos de transgressão do mar, verdadeiras ilhas. O nível do mar foi regredindo e essas áreas foram incorporando-se ao continente através do processo de sedimentação. Quando as ondas e as correntes de deriva litorâneas chegam a estas ilhas, ocorre o processo de difração18 nas laterais que conduzem a um processo de sedimentação que irão formar tômbolos19. A ação das ondas quando impacta esses conjunto rochoso o faz erodir em um processo chamado de abrasão marinha20. Em condições propicias para a formação de vegetação, ocasionalmente haverá também o processo de intemperismo mecânico por ação das raízes ou intemperismo químico por ação dos ácidos húmicos. 16 Pressão Litostática - É a pressão exercida pelo peso de uma coluna de rocha que está em um determinado ponto em sub-superfície. 17 Diáclase - Fratura, junta ou fenda - aberturas microscópicas ou macroscópicas que aparecem no corpo de uma rocha, principalmente devido ao esforço tectônico tendo direção variável. As diáclases são de grande importância no modelado relevo terrestre. Constituem pontos fracos de ataque por parte da erosão. Diaclasamento ortogonal significa uma fratura, junta ou fenda na forma ortogonal. 18 Difração - Modificação semelhante a outras ondas, tais como ondas sonoras ou dielétricas. Ocorre quando a frente plana da onda não é conduzida a um foco ou utilizada, o que resulta na curvatura da onda ao redor do objeto na sua trajetória. 19 Tômbolo - Denominação proposta por Gulliver para as línguas ou flechas de areia e seixos ligando uma ilha a um continente. Os tômbolos conhecidos podem ser: simples, duplos ou triplos. Como exemplo, podemos citar os tômbolos de Monte Argentário, as penínsulas de Quiberona e Giens. 20 Abrasão - Nome dado por Richthofen ao trabalho destruidor do mar na zona costeira. Nos abruptos escarpados das falésias melhor se pode observar o trabalho de destruição realizado pelas vagas e correntes. A abrasão se faz por solapamento da base ocasionando desmoronamentos sucessivo. Embora esse termo tenha sido usado no inicio para designar o desgaste produzido pelo mar, hoje engloba todas as ações exodinâmicas: fluvial, eólica, glacial e pluvial. Figura 18 - Blocos graníticos arredondados - Morro da Baleia Franca - SC 18 PONTO F - GRUTA DE ABRASÃO - FURNAS DE SOMBRIO - SC Ao sairmos das observações do morro da Baleia Franca, dirigimo-nos agora ao município de Sombrio - SC para visitarmos e observamos uma Gruta de Abrasão nas Furnas de Sombrio. A história desse conjunto de grutas de origem marinha é recheada de fatos, suposições e lendas que tornam tão fascinante quanto a formação desse monumento esculpido pela natureza. A tese defendida pelos cientistas é de que a milhares de anos antes do presente, pressupõem- se que os oceanos cobriam uma parte bem maior da terra que atualmente. As evidências nos dizem que esta região de Sombrio, foi coberta pelos oceanos durante muito tempo. O complexo de furnas é formado por um conjunto de quatro grutas, a maior delas com dezessete metros de abertura e área total de 1.118 m². Existe ainda uma quinta gruta ainda inexplorada, ficando mais a norte das demais. Como nossa passagem foi muito rápida, visitamos apenas a primeira delas, que é uma evidencia dos processos de regressão e transgressão do nível do mar. A formação rochosa deste conjunto é de arenito triássico Botucatu, de baixa porosidade (18%) o que atesta e evidencia o afloramento do aqüífero Guarani, a maior reserva de água subterrânea do planeta. Notamos também no interior da gruta uma forte intervenção antrópica, com colocação de diversas imagensrepresentando todas as religiões presentes na região. Em nossa observação constatamos também que esta gruta demonstra a posição do litoral nos tempos Holocênicos21 durante o estágio eustático positivo, quando o nível do mar estaria cerca de 5 a 8 m mais alto do que nos dias atuais e foi desenvolvida no arenito Botucatu, junto ao contato com rochas de derrames basálticos da Formação Serra Geral que lhe são sobrepostas. 21 Holoceno - Quaternário recente ou aluvião em oposição ao Pleistoceno ou Quartenário antigo - último período do topo da coluna geológica. È também chamado da época pós-glacial. Todas as espécies atuais estão nele representados. Figura 19 - Gruta de Abrasão - Sombrio SC (Fonte: site Sul_SC Figura 20 - Interior da Gruta de Abrasão 19 A furna que antes era considerada paleoduna22, resulta do embate de ondas e de repuxos marinhos, associados com o poder erosivo acentuado por movimentar blocos e fragmentos diversos de rochas. A estratificação visível em seu interior é devido a sobreposição litológica. Uma curiosidade a respeito de é que conta-se no local que ainda no século XIX,quando a família Cunha ocupava as terras em torno do Morro de Furnas, que se hospedou na casa de Luiza Cunha um espanhol, de nome ignorado, que misteriosamente teria aportado por lá. Ocorre que, segundo o que contam os antigos, teria sido este espanhol um desertor das milícias de seu País e que teria ele roubado uma grande quantidade de ouro que deveria servir de pagamento do exército espanhol que se encontrava no Rio Grande do Sul ou talvez no Uruguai. O que se conta é que ele teria enterrado esse tesouro nas redondezas do Morro das Furnas. Entre os anos de 1910 e 1920, o tal espanhol teria enviando uma correspondência ao então proprietário das terras Sr. Luiz Antonio da Cunha, pai de Luiza Cunha relatando o episódio. Alguns moradores acompanhado de familiares de Cunha teriam adquirido detector de metais e efetuaram uma caça à fortuna do espanhol, porém nunca houve registro de que tal fortuna tenha sido encontrada ou se teria existido de verdade. 22 Paleodunas - As dunas fósseis também conhecidas como Paleodunas ou dunas consolidadas corresponde a um processo de evolução da areia solta para a rocha de arenito, processo esse que dura milhares de anos. Ao longo do tempo, a ação de um cimento calcário, proveniente da dissolução dos fragmentos de conchas que compõem a areia ou ainda argiloso, provoca a aglutinação progressiva dos grãos de areia, originando a duna consolidada. Figura 21 - Gruta do Abrasão - Furnas - Sombrio - Estratificação 20 PONTO F - PRAIA DA GUARITA - TORRES Empreendemos viagem agora até Torres no Rio Grande do Sul, com destino ao Parque da Guarita para continuarmos nossas observações sobre a morfologia do relevo deste parque. Passamos rapidamente pelo Rio Mampituba que faz a divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, desaguando no Oceano Atlântico. A foz do Rio Mampituba foi protegida do assoreamento através da construção de molhes que servem para a embocadura do rio, já que por processos naturais haveria um desvio do curso do rio. O nome desse rio vem do tupi-guarani e significa Rio de muitas curvas ou ainda, Pai do Frio. O Rio Mampituba desce a escarpa da Serra Geral em direção ao litoral no sentido contrário ao mergulho das camadas geológica e por isso é considerado um rio anaclinal23 que se dá em direção a Bacia do Paraná e do Rio Uruguai no lado oeste do estado. Chegamos a tarde, na praia de Torres e pudemos observar que a Unidade Estruturas do Parque da Guarita esta na Bacia Sedimentar Marginal de Pelotas e sua unidade de relevo é a Planície Costeira. O Parque Estadual José Lutzenberger24 mais conhecido como Parque da Guarita é uma Unidade de Conservação Brasileira formado por um belíssimo conjunto de afloramentos localizados à beira mar. Seu nome homenageia o ambientalista gaúcho que foi um dos maiores incentivadores de sua criação. Foi criado em 1971 através do empenho de vários ambientalistas locais buscando proteger este cenário geológico de grande valor ambiental e paisagístico. 23 Anaclinal - Rios que descende em direção oposta ao extrato, com a característica de seu um rio de curto percurso com trechos encachoeirados. 24 José Lutzenberger - José Antonio Kroeff Lutzenberger (1926-2002), foi agrônomo, escritor, filósofo, paisagista e ambientalista brasileiro que participou ativamente na luta pela preservação ambiental.Filho de imigrantes alemães, formou-se agrônomo especializado em adubos e por muitos anos trabalhou para as companhias do setor. No fim dos anos 60 começou a se desiludir com as políticas agrícolas danosas para o meio ambiente e em 1970 deixou o emprego para dedicar-se a causa da ecologia. Foi fundador da AGAPAN e mais tarde da Fundação Gaia, onde permaneceu até sua morte. Recebeu a distinção de Premio Nobel Alternativo, Ordem do Ponche Verde, Ordem do Rio Branco a Ordem do Mérito da Republica Italiana e diversos doutorados honóris causa por sua participação em defesa do meio ambiente. Figura 23 - Afloramentos Parque da Guarita - Torres Figura 22 - Características dos Rios 21 No Parque da Guarita os afloramentos são formados basicamente por associação de rochas sedimentares e vulcânicas na forma de morros testemunhos escarpados na linha de praia (Formação Botucatu - Juro-Cretáceo25 e Formação Serra Geral - Cretáceo Inferior). Uma característica geológica importante desse geossítio é apresentar importantes exemplo de interação entre lavas vulcânicas e sedimentos eólicos não consolidados. O resultado desse contato entre estas lavas sob sedimentos é a formação de brechas peperiticas26, sendo as mesmas formadas basicamente por fragmentos de rocha vulcânica imersos em sedimentos. Uma das observações feitas foram as falésias27 no complexo dos morros testemunhos. A formação deste conjunto de morros testemunho remonta há 250 milhões anos antes do presente. Na base da Pedra da Guarita esta uma torre de aproximadamente 25 metros, sendo a menor ali existente. Também encontramos a presença do arenito Botucatu de coloração avermelhada e origem eólica. No topo, encontramos material de origem vulcânica, o basalto. Este foi depositado sobre o arenito quando ocorreu aquele que é considerado o maior evento fissural do mundo, com sucessivos derrames de lavas em todo o Rio Grande do Sul, no período Cretáceo na era Mesozóica. Os impactos antrópicos são evidentes nas falésias de Torres e estes correspondem a uma grande ameaça ao patrimônio natural. O Parque da Guarita ainda proporciona uma boa estrutura turística como estacionamento, área para banho de mar, trilhas ecológicas e painéis que informam sobre a história geológica e biológica do lugar. 25 Cretáceo - Período mais recente do Mesozóico. Compreende os terrenos situados entre o Jurássico (Juro Cretáceo) e os da base da era Cenozóica. O Termo Cretáceo vem do grego creta que no latim significa giz, foi dado a este período por causa da greda branca (giz) nele encontrado. 26 Peperito - Rocha constituída pela mistura de fragmentos de rochas vulcânicas e de elementos sedimentares. 27 Falésia - Termo usado indistintamente para designar as formas de relevo litorâneo abruptas ou escarpado, ou, ainda, desnivelamento de igual aspecto no interior do continente. As falésias do interior do continente que não sofrem mais a ação do mar são chamadas de falésias mortas. Figura 24 - Falésiasde Torres Figura 25 - Topo do morro testemunho em Torres-RS 22 Terminadas as observações no município dirigimo-nos agora para o município de Arroio do Sal onde fizemos o último pernoite da expedição. O município de Arroio do Sal fica localizado junto ao Oceano Atlântico fazendo parte do litoral Norte do estado do Rio Grande do Sul. Sua população fixa de acordo com o IBGE é estimada em 8641 hab., chegando a cerca de 90.000 na alta estação de veraneio. Entre alguns atrativos naturais do município estão as Lagoas Itapeva, do Remanso, do Banho e da Cavalhada, além do Criatório Conservacionista e Dunas de Sambaquis. O Balneário Atlântico, no município de Arroio do Sal, possui um campo de Dunas do tipo barcanóide28 e reversas29, podendo alcançar alturas expressivas em torno de 15 a 20m de altura. Uma observação feita foi a respeito de campo de dunas vegetadas por espécies não nativas e uma faixa urbana no balneário impedindo dessa forma a alimentação natural desse campo de dunas. Outra característica é a presença de dunas reversas que indica que as mesmas são movimentadas pela ação de ventos opostos provenientes de N-NE e S-SW. Como resultado , essas dunas, provavelmente migram a taxas bem menores do que as taxas apresentadas pelas dunas mais ao sul em Pinhal e Cidreira. 28 Barcanas - São dunas que possuem um formato de lua crescente, formadas em regiões secas de baixa disponibilidade e sedimentos, a vegetação é ausente e as "caudas" se alongam a favor do vento. São geralmente pequenas e de rápida propagação. As dunas barcanóides se formam como as barcanas, porém com volume de areia bem maior. 29 Reversas - Dunas reversas são dunas em que o flanco frontal muda de lado quando existe alteração na direção do vento. Portanto, em certa época do ano, a face de deslizamento está voltado para um lado e, em outra, esta do lado inverso. Qualquer tipo de duna pode sofrer esse processo. Figura 26 - Arroio do Sal - RS Figura 27 - Dunas e Sambaquis - Balneário Atlântico Arroio do Sal RS 23 PONTO H - PARQUE NACIONAL DE APARADOS DA SERRA - TAIMBÉZINHO MUNICÍPIO DE CAMBARÁ DO SUL - RS O ponto H de parada da expedição para as observações geológica aconteceu no Parque Nacional de Aparados da Serra que pertence ao sistema de Rede de Unidades de Conservação dos Campos de Cima da Serra. Esse sistema abrange os municípios de Cambará do Sul, Itati, Três Forquilhas e São Francisco de Paula. Nossa visita foi especificamente no Parque Nacional de Aparados da Serra, que abrange os municípios de Cambará do Sul, Jacinto Machado e Praia Grande SC, onde está localizado o cânion30 denominado Itaimbézinho, nome este, que vem da origem Tupi-Guarani, onde "ita" significa pedra e "aimbé" significa cortada. Os paredões do cânion tem uma extensão de 5,8 Km com uma profundidade de até 720m de altura. Nesta região, outrora viviam os Brasis do grupo Jê, que hoje tem como seus remanescentes os Kaingangs e Xodéns. Os vestígios dessa população são encontrados no morro dos Bugres, furna da Araucária, morro do Crespo e furna da Garrafa. Eram nativos que construíam suas habitações em buracos cavados no chão geralmente no topo dos morros e ali ficavam até 30 Cânion - ou Cañon, palavra de origem espanhola usada para designar vales de paredes abruptas, isto é, vales encaixados. O exemplo clássico é o cânion do Rio Colorado, cujo desnível entre o fundo da calha e a superfície chega a ordem dos 1000 a 1800 m. Na França, o melhor exemplo de vale encaixado é o Tarn, no Causses do Maciço Central Francês. 'O cânion adquire características mais típicas quando cortam estruturas sedimentares que pouco se afastam da horizontal. Figura 28 - Vista do Cânion Itaimbézinho 24 seguirem para outros lugares, já que possuíam estilo de vida nômade. O município de Cambará deu-se com a doação de 20 ha de terras para a igreja feita por Dona Úrsula Maria da Conceição que fazia parte de uma das mais tradicionais famílias da região, com a finalidade de pagar uma promessa ao santo de sua devoção "São José". Isto aconteceu no ano de 1764. No final da década de 30 o distrito de São José do Campo Bom passa a categoria de vila e acaba perdendo o nome tendo em vista a existência de outro município no estado com o mesmo nome, adquirindo assim o nome de Vila de Cambará. A palavra Cambará é de origem Tupi-Guarani e significa "folha de casca rugosa", nome dado a uma árvore típica e abundante na região. É possível conhecer essa árvore na praça central de Cambará do Sul. Suas folhas verde claro são conhecidas pelo poder medicinal, ótimas para o combates a gripe e tosses. Com relação o estudo de geomorfologia da região, sabe-se que há aproximadamente 130 milhões de anos, quando a América separava-se do continente Africano, houve um intenso diastrofismo31 que culminou na ascensão de grande quantidade de material magmático e falhamentos responsáveis pela configuração geológica - geomorfológica da região conhecida como Campos de Cima da Serra. Os falhamentos gerados durante o evento e registrados na área são do tipo escalonado sendo responsável pela existência da escarpa original em diversas cotas topográficas da plataforma atlântica e orientando alguns canis, sub-bacias e gargantas ocupadas por rios como é o caso do Rio do Boi no cânion do Itaimbézinho. 31 Diastrofismo - (do grego diastrophè = distorção ) - Conjunto de movimentos tangenciais, verticais, que acarretam na superfície da crosta terrestre o aparecimento de dobras, falhas e lençóis de arrastamento. Os diferentes tipos de relevo são resultantes da intensidade dos movimentos tectônicos. Estes então em função da plasticidade ou da rigidez do estrato, que poderão ser dobrados, quando plásticos e, falhados, quando rígidos. Figura 29 - Vista da Praça da Igreja da Matriz São José - Cambará do Sul - RS 25 A origem do nome Rio do Boi, surgiu no tempo das tropas que desciam os Aparados em carreiro sinuoso, tendo o Rio abaixo da montanha. Em uma das tropeadas um gado se desgarrou da tropa e cai no penhasco na reta do Rio de corredeiras abaixo. Daí sai a origem do nome do rio. Para apreciação geomorfológica e turística é possível percorrer os cânions através de trilhas.Existem três trilhas a ser percorridas. A trilha do Rio do Boi, a trilha do Vértice e a trilha do Cotovelo. Tendo em vista a nossa chegada no parque com as condições atmosféricas desfavoráveis indicando chuva e com o tempo frio e muito úmido, decidimos percorrer somente a trilha do Vértice, que é a menor de todas as trilhas. A trilha do Vértice é feita pelas Bordas no alto do Cânion com cerca de um hora de caminhada, onde é possível apreciar a cascata das Andorinhas a cerca de 100 metros e a uns dois quilômetros a cascata Véu de Noiva. A trilha do Rio do Boi é feita dentro da fenda do cânion. É considerada de alta dificuldade por que é feita próxima a margem do rio e em alguns momentos tendo que atravessá-lo. A duração é de cerca de cinco a oito horas de caminhada. Já a trilha do Cotovelo tem uma duração de três horas e tem vista para as paredes e borda do cânion. Figura 30 - Rio do Boi - Itaimbézinho Figura 31 - Mapa das trilhas do cânion do Itaimbézinho 26 Fator preponderante no desenvolvimento dos cânions é a presença de descontinuidades tectônicas, onde a orientação dos principais cânions coincide com as principais direções de fraturas existentes nas rochas vulcânicas da região. Como estas falhas e fraturas são zonas de fraqueza, há maior percolação de água o que facilitaa erosão vertical. A configuração geológica dos cânions da região de Aparados da Serra, remetem a um dos maiores eventos vulcânicos já ocorridos no planeta, como dissemos mais acima, e as lavas geradas cobrem uma área de 1.200.000 Km², ou seja, 75% do volume da Bacia do Paraná, sendo um dos principais agentes de conformação da paisagem. Esse evento conforme Melfi (1988), se deu no quarto estágio da evolução da Bacia do Paraná, e foi caracterizado por processos de reativação tectônica causando uma estrutura antiforme. Em vista disso, esta área apresenta derrames32 ácidos e básico, sendo as áreas de cimeira representadas por derrames ácidos Tipo Palmas e a base por basaltos tipo Gramado. Esses derrames são apresentados em forma de fáceis33, podendo alcançar espessuras de 80 metros de altura por derrame. Estas fáceis apresentam um contato basal por disjunção34 tabular incipiente e irregular, uma porção central bem desenvolvida e maciça com disjunção colunar difusa, e uma porção de topo espessa e com disjunção tabular extremamente bem desenvolvida. 32 Derrame - Saída e espraiamento de material magmático vindo do interior da crosta terrestre, consolidando- se ao ar livre. Esses derrames são produzidos pelo extravasamento de lava em estado liquido, solidificando-se à superfície. 33 Fáceis - Conjunto de caracteres de ordem litológica e paleontológica que permite conhecer as condições em que se realizam os depósitos. Graças a natureza das fáceis pode-se tirar várias conclusões, tanto para a geologia como para a geomorfologia. Distingui-se , de modo geral, dois grupos de fáceis: 1) fáceis continentais ou terrígenas (fluvial, eólica, glacial, lacustre, vulcânica, etc..); 2) fáceis marinhas (litorânea, nerítica, batial e abissal). 34 Disjunção - Fraturamento macroscópicos e/ou microscópicos que ocorrem em rochas, em conseqüência de esforços e/ou a brusca variação de temperatura a que foram submetidas ao longo do tempo geológico.São fendas, zonas de fraqueza ou abertura que, no caso das rochas vulcânicas, são decorrentes do rápido resfriamento e as contrações de volume a que se são submetidas as lava enquanto solidificam-se na superfície do terreno. Figura 32 - Afloramento dos derrames no cânion Itaimbézinho 27 Os derrames são de composição predominantemente ácidos, riodacitos, compondo rochas mesocráticas35 de cor esbranquiçado com cinza claro, microfaneríticas, com uma matriz vítrea com cristalitos de feldspatos e clinopiroxênio36 incrustados. Seguindo nossas observações no parque de Aparados da Serra, na trilha do Vértice, podemos apreciar a Cascata das Andorinhas, que possui 700m de altura. Ainda no parque, se tem, a constituição de uma das principais bacias do Estado a Taquari-Antas. Os arroios que descem em direção à planície costeira drenam para o rio das Antas e esse, por sua vez, torna- se o Rio Taquari formando o vale do Taquari. 35 Mesocrática - Rocha de coloração média sendo um intermédio entre as melonocráticas (rocha cuja predominância são os minerais de coloração escura) e as leucocráticas ( rochas compostas por minerais de composição clara) 36 Clinopiroxênio - O piroxênio é um importante grupo de 21 inossilicatos de cadeia simples, encontrados em múltiplas rochas ígneas e metamórficas. em muitas das quais constituem o grupo mineral dominante. Figura 33 - Bacia Taquari Antas Figura 34 - Cascata das Andorinhas Figura 35 - Cascata Véu de noiva - Itaimbézinho 28 Devido ao adiantado da hora na saída do Parque dos Aparados da Serra, não foi possível fazer a apreciação do relevo geomorfológico no Morro da Borússia. CONCLUSÃO Em todos os pontos que passamos podemos observar as unidades estruturais e de relevo e as diferentes feições geomorfológicas causadas pelos processos naturais e também por ação antrópica, além de presenciar uma bela paisagem de nossa região. O Contato direto nos deu a oportunidade de construir uma visão dinâmica da interação de todos os processos e elementos que integram a paisagem mundial.Apesar do pouco tempo da expedição, não nos impediu de conhecer locais que posteriormente poderão serem visitados e analisados mais profundamente. O objetivo proposto pela expedição foi alcançado, visto que os discentes participantes conseguiram, dentro de uma participação efetiva e solidária observar, entender como se deram os processos de derrames e formação da crosta terrestre na área estudada. Com certeza, essa atividade como meio de estudo é importante e produz na prática uma experiência única na vida estudantil e profissional futura. 29 Bibliografia ANJOS, G.S.S. et all. “Biocronoestratigrafia da Bacia de Pelotas:estado atual e aplicação na geologia do petróleo.” Revista Brasileira de Geociências Jun de 2008: vol 38 - p. 47-62. BORGES FORTES, A. Aspectos Fisiográficos, Demográficos e Econômicos do Rio Grande do Sul. RS: SESI, 1959. Brasil, CPRM - Serviço Geologio do. Roteiro Geológico sobre a Coluna White. Set de 2002. mai de 2015 <http://www.cprm.gov.br>. CARDOSO, B.W. Sul Sc. Dez de 1998. Mai de 2015 <www.sul-sc.com.br>. 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POTIGUARA MARQUES SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS INTRODUÇÃO OBJETIVOS /ROTEIRO DA SAIDA DE CAMPO - SERRA DO RIO DO RASTRO PONTO B e C - LAURO MULLER e BOM JARDIM DA SERRA - SUBINDO A SERRA DO RIO DO RASTRO PONTO D e E - ITAPIRUBÁ - IMBITUBA - MORRO DA BALEIA FRANCA - CABO SANTA MARTA PONTO F - GRUTA DE ABRASÃO - FURNAS DE SOMBRIO - SC PONTO F - PRAIA DA GUARITA - TORRES PONTO H - PARQUE NACIONAL DE APARADOS DA SERRA - TAIMBÉZINHO MUNICÍPIO DE CAMBARÁ DO SUL - RS Devido ao adiantado da hora na saída do Parque dos Aparados da Serra, não foi possível fazer a apreciação do relevo geomorfológico no Morro da Borússia. CONCLUSÃO Bibliografia
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