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O processo de orientação vocacional frente ao século XXI_ perspectivas e desafios

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06/02/2017 O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414­98932002000300008&script=sci_arttext&tlng=pt 1/8
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Psicologia: Ciência e Profissão
Print version ISSN 1414­9893
Psicol. cienc. prof. vol.22 no.3 Brasília Sept. 2002
http://dx.doi.org/10.1590/S1414­98932002000300008 
ARTIGOS
 
O processo de orientação vocacional frente ao
século XXI: perspectivas e desafios
 
 
Josemberg M. de Andrade*; Girlene R. de Jesus Maja Meira**; Zandre
B. de Vasconcelos***
Universidade Federal da Paraíba
Endereço para correspondência
 
 
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir as perspectivas e desafios do
processo de orientação vocacional (OV) frente ao século XXI. A OV, ao ajudar o indivíduo a encontrar uma
identidade profissional, auxilia na estruturação de sua identidade pessoal, favorecendo a elaboração de um
projeto de vida. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia operacionaliza mudanças acentuadas no mercado
de trabalho, fazendo com que este esteja sempre em uma contínua mudança. A nova realidade que vem se
delineando no contexto brasileiro exige que a OV se adapte às mudanças sociais. Assim, alguns aspectos devem
ser considerados e analisados com a finalidade de se alcançar a eficácia na OV, entre eles: o papel do
profissional, que deve estar ciente da postura ética que deve assumir e a real finalidade da OV, que não deve
apenas informar sobre as profissões, e sim, trabalhar o autoconhecimento e a questão da escolha em si.
Palavras­chave: Orientação vocacional, Mudanças, Desafios e perspectivas.
ABSTRACT
This work has the objective of discussing the perspectives and challenges of the vocational orientation process
(VO) towards the XXI century. The VO process, helping the individual to find a professional identity, aids on the
structuring of his/her personal identity, favoring a life project elaboration. The science and technology
development produces accentuated changes in the labor market, and causes its continuous change. The new
reality, which is delineated in the Brazilian context, demands that the VO adapts itself to the social changes.
Thus, some aspects should be considered and analyzed with the purpose of reaching the effectiveness in VO,
among them: the professional s role that should be aware of the ethical posture which he should assume and
the real purpose of VO, that should not just inform about the professions, but it should work the self­knowledge
and the question of the choice in itself.
Keywords: Vocational orientation, Changes, Challenges and perspectives.
 
 
    
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06/02/2017 O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414­98932002000300008&script=sci_arttext&tlng=pt 2/8
 
O desenvolvimento da ciência e da tecnologia evidenciado atualmente operacionaliza mudanças cada vez mais
acentuadas no mercado de trabalho, fazendo com que este esteja sempre em uma contínua mudança. O
conhecimento científico e a tecnologia revolucionaram as bases materiais e morais da existência humana,
modificando as aspirações do homem (Fernandes, 1966). Evidencia­se uma demanda pela automação dos
serviços e até das relações humanas com a finalidade de se obter resultados mais rápidos; o domínio de
técnicas é imprescindível e é associado à possibilidade de se apresentar soluções com a eficiência exigida pela
modernidade (Rodrigues & Ramos, 2000). Assim, com uma rápida velocidade, exclusões são efetivadas, o que
não está mais apropriado precisa adequar­se para não ser marginalizado.
As transformações sociais e econômicas do sistema capitalista, embora marcadas por movimentos
contraditórios e heterogêneos e em meio a incertezas, oscilações e contradições, colocam novos e graves
questionamentos em todo o mundo no século XXI. Este novo período traz muitas incertezas sobre o futuro da
cidadania, sobretudo dentro e fora dos espaços de trabalho (Paixão & Figueiredo, 1996). Atualmente, a
economia exige técnicos, especialistas que tenham conhecimento aprofundado e preciso em áreas que não
existiam anteriormente. Essa procura por técnicos, bens e serviços tem­se alterado com o progresso,
aumentando, ainda, a demanda de trabalhadores em algumas profissões e reduzindo em outras. A automação e
a computação eletrônica revolucionaram determinados campos de atividades, oferecendo maiores
oportunidades para novas especialidades e também causando desemprego para mão de obra não qualificada
(Super & Junior, 1980).
É impossível saber onde se chegará com todos os avanços da ciência atrelados ao desenvolvimento da
tecnologia e da globalização; mas, notadamente, os efeitos desses avanços já oferecem sinais de profundas
modificações na vida das pessoas, das empresas e do mercado de trabalho (Rodrigues & Ramos, 2000). Esses
avanços têm um impacto considerável em todas as áreas da vida; no mercado de trabalho, por exemplo, além
de competência para o cargo a ser desempenhado, são exigidas do profissional novas habilidades que vão se
tornando imprescindíveis, tais como saber trabalhar em equipe e ter criatividade. Essas habilidades são
essenciais para que o profissional possa realizar satisfatoriamente o seu trabalho dentro dessa nova perspectiva
(Farah & Frafoso, 2000).
Sabe­se que a adolescência é uma fase em que há o desprendimento da infância e a entrada progressiva no
mundo e no papel adulto; é nesse contexto conturbado que os jovens precisam assumir uma postura diante da
sociedade, tendo que optar por uma carreira profissional a ser seguida (Müller, 1998). No início da adolescência,
o jovem sente­se descompromissado com o seu projeto de vida, vivendo, muitas vezes, a ilusão, a fantasia e o
sonho; mas, ao passo em que vai conquistando sua própria identidade e compreendendo suas próprias
singularidades, tem a necessidade de definir­se, conhecer­se e de escolher sua profissão com base na sua
realidade pessoal e sociocultural (Golin, 2000).
O jovem se vê diante de uma multiplicidade de profissões, áreas de estudo, cursos, chegando a ficar, muitas
vezes, confusodiante de tal complexidade. Inicialmente, ele se guiará a partir do mapa representacional
construído por si próprio com base na sua posição sociocultural e econômica (Silva, 1999b). Na maioria dos
casos, quando os jovens são chamados a refletir sobre as dificuldades e possibilidades do mercado de trabalho
e de se escolher uma profissão, usam meios não muito seguros, recorrendo a mitos e ideologias que sem
dúvida, os tranqüilizam e diminuem as suas ansiedades, mas não são verdadeiras saídas (Junqueira, 1999).
Na sociedade globalizada, onde transformações se operacionalizam cada vez mais rápido, os jovens sentem­se
pressionados, seja pela própria complexidade do mercado de trabalho, seja pelo avanço da tecnologia que
indica novos rumos e caminhos a serem seguidos. Deve­se, também, levar em consideração que os jovens
passam por um período conturbado em relação a aspectos maturacionais e de ordem psicológica, em que
dúvidas emergem provocando confusões e conflitos. O orientador vocacional deve considerar a adolescência
como uma fase típica em que ocorrem grandes crises e transformações, uma síndrome normal (Müller, 1988).
Uma das razões que tornam, ainda, mais difícil a transição do jovem para a fase adulta é o fato de se esperar
que ele assuma novos papéis quando atinge um certo grau de instrução (Hurlock, 1979).
As marcas das identificações e a vontade de corresponder às expectativas das pessoas significativas em sua
vida são questões que o jovem tenta atender (Ramos, 2000). Este se vê frente ao mercado de trabalho e de um
grande campo de possibilidades, passando, assim, por um período de ruptura e tendo que se posicionar na
sociedade (Silva, 1996). O processo de Orientação Vocacional (OV) surge, por sua vez, como um meio
facilitador, ajudando o jovem a se conhecer melhor, dando, conseqüentemente, subsídios para que ele faça a
escolha mais adequada (Pimenta, 1981).
Definida como o processo pelo qual o indivíduo é ajudado a escolher e a se preparar para entrar e progredir
numa ocupação, a OV propicia o desenvolvimento do auto­conhecimento, aplicando essa compreensão às
ocupações (Super & Junior, 1980). Hoje em dia, a OV é o resultado de um certo número de movimentos,
pesquisas e trabalhos que no início tiveram o objetivo imediato de auxiliar os jovens na escolha de ocupações
adequadas. Coletaram­se e organizaram­se informações e passou­se a explorar os inventários e testes
psicológicos como recursos a mais, tornando o processo de OV mais complexo e eficiente (Super & Junior,
1980).
06/02/2017 O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios
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Em todo o decorrer da história, teve­se a necessidade de colocar as pessoas certas nos locais certos (Pimenta,
1981); sempre existiu a idéia de que alguns homens podem ser melhores do que outros para executar
determinados trabalhos (Super & Junior, 1980). Todavia, nem sempre o homem pôde escolher trabalhar naquilo
que gostaria ou que se considerava mais apto ou capaz, embora o trabalho, como dimensão da existência,
sempre estivesse presente na vida das pessoas (Pimenta, 1981). A liberdade para escolher uma ocupação é
algo relativamente novo. Antigamente, o indivíduo tinha pouca ou nenhuma liberdade de escolha, pois o nível
social e ocupacional, e mesmo o campo de atividade, eram determinados primeiramente pelo nascimento. A
partir do Renascimento e da Reforma, cresceu o reconhecimento da humanidade da capacidade e da
singularidade do indivíduo. Cada homem, nesse momento, era considerado o centro de um universo, construído
por ele mesmo e membro de uma sociedade humana maior. Com o Iluminismo, vieram a expansão da visão
humanística do destino e a aplicação dessa visão à política e à economia; em seguida, com o advento da
democracia na sociedade industrial, surgiu uma relativa liberdade na escolha das ocupações (Super & Junior,
1980).
A vida ocupacional de um homem é considerada um dado fundamental de sua existência  (Super & Junior,
1980, p. 216). Nos dias atuais, pode­se vir a escolher uma carreira profissional; se existe essa possibilidade de
escolha, existe também a possibilidade de alguém ajudar o indivíduo a escolher, isto é, de orientar  (Pimenta,
1981). Toda escolha provoca necessariamente uma renúncia; ao escolher abandona­se uma outra opção e isto
pode provocar algum sofrimento para o adolescente. O profissional de OV vai tentar reparar essa situação e
ajudar o adolescente a escolher, devendo­se estar consciente de que é mais difícil fazer um diagnóstico
referente à problemática vocacional do que um de personalidade, pois o primeiro tende a investigar a dinâmica
interna do adolescente, verificando não só os conflitos e dificuldades referentes à escolha profissional, mas
também de outras àreas (Bohoslavsky, 1993). A importância do processo de OV é evidenciada no fato de que,
havendo uma identificação profissional, haverá maiores possibilidades de o indivíduo e desenvolver em todas as
suas potencialidades.
A fim de alcançar a eficácia do processo, alguns aspectos devem ser considerados; dentre eles, pode­se citar:
(a) o papel do profissional de OV frente a uma nova realidade sócio­cultural e econômica, (b) a finalidade do
processo de OV que deve visar não apenas a informar sobre carreiras profissionais, mas também a trabalhar
aspectos como o autoconhecimento e a questão da escolha em si, levando em consideração o mercado de
trabalho.
Tendo em vista a complexidade do trabalho de OV, este artigo tem como objetivo discutir as perspectivas e os
desafios do processo de OV frente ao século XXI, abordando a sua importância e a maneira como deve ser
operacionalizado. Sabendo­se que este trabalho não visa a esgotar a problemática do tema, a sua importância é
evidenciada no fato de se fazer uma reflexão sobre os novos determinantes que permeiam o processo de OV
frente a uma sociedade globalizada.
 
Importância do Processo de Orientação Vocacional
O ser humano, desde a infância, passa a conhecer a importância e o valor que o trabalho tem para sua vida;
para a maioria das pessoas, a identidade vocacional forma uma parte importante de sua identidade geral. Ter
um emprego valorizado pela sociedade – e ter sucesso e prestígio nele – aumenta a auto­estima e facilita o
desenvolvimento de um senso de identidade mais seguro e estável. Por outro lado, quando a sociedade aponta
que alguém não é necessário e que não há disponibilidade de bons empregos, pode­se gerar dúvidas, incertezas
ou mesmo, como em alguns casos, delinqüência e sentimentos de revolta, formando uma identidade negativa
(Mussen, Conger, Kagan & Huston, 1995).
O Processo de OV surge como uma possibilidade de ajuda para os jovens, não levando estes a apenas
escolherem uma profissão, mas auxiliando­os a se conhecerem melhor como indivíduos inseridos em um
contexto social, econômico e cultural. A OV constitui­se num campo de trabalho que intervém na vida cotidiana
dos seres humanos (Azevedo & Santos, 2000), oferecendo aos indivíduos padrões de mecanismos de adaptação
à vida (Super & Junior, 1980). Esta pode prevenir alguns transtornos na vida do adolescente, como decepções e
ilusões, e favorecer a melhoria da qualidade de vida em diversos níveis (Azevedo & Santos, 2000).
Na atualidade, é observado um aumento significativo da procura dos serviços de OV. Os meios de comunicação,
de certa forma, vêm demonstrando um interesse crescente pelo tema  escolha da profissão . A OV, que esteve
por um determinado período ausente das discussões dos meios acadêmicos, volta, agora, revestida de toda a
força. Para muitos jovens, a escolha da profissão é vista como uma das suas necessidades mais importantes e
principais, pois o avanço da tecnologia e a complexidade do mercado de trabalho provocam incertezas,
influenciando diretamente na vida profissional. O jovem, ao ter conhecimento de todos esses aspectos, passa a
conviver com o medo de ser mal sucedido profissionalmente, levando­o a se sentirinseguro quanto à questão
da escolha  certa . O trabalho de OV indica um provável caminho a ser seguido para os jovens que almejam
seguir uma carreira profissional. Embora haja um considerável debate do tema escolha profissional, ainda
persiste uma grande desinformação sobre as carreiras profissionais por parte dos jovens. Isso aumenta,
indubitavelmente, a dificuldade no momento de se escolher uma profissão (Vasconcelos, Antunes & Silva, 1998).
O processo de OV interessa a âmbitos distintos, como, por exemplo, à educação em todos os seus níveis,
proporcionando informações sobre a realidade do mercado de trabalho e as necessidades do país. Dessa forma,
06/02/2017 O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios
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pode­se dizer que a OV acompanha o processo educativo, cooperando com ele e não apenas suprindo suas
possíveis carências. A OV cumpre sua função de extrema importância quando leva o sujeito a refletir sobre si
mesmo, analisando suas características, explorando sua personalidade e aprendendo a escolher e abordar
situações conflitivas. Além disso, um processo de OV coloca a descoberto possíveis problemáticas do sujeito,
bem como disposições psicopatológicas, pois condensa toda a história prévia dessa pessoa e, ao mesmo tempo,
antecipa seu futuro (Müller, 1988).
Através do processo de OV, os indivíduos se conhecem melhor como sujeitos reais, percebendo suas
identificações, características e singularidades, ampliando e transformando sua consciência e adquirindo, assim,
melhores condições de organizar seus projetos de vida e, especificamente no momento, fazer sua escolha
profissional, minimizando as fantasias. A OV é mais do que um momento para  a descoberta  da profissão a
seguir, pois é  um processo onde emergem conflitos, estereótipos e preconceitos que são trabalhados para sua
superação, onde a desinformação é enfrentada e possíveis caminhos de resolução são traçados, onde o auto­
conhecimento adquire o status de algo que se constrói na relação com o outro e não como algo que se dá a
partir de uma reflexão isolada, descolada da realidade social ou que se conquista através de um esforço
pessoal  (Bock & Aguiar, 1995, p. 17). A partir desta concepção, pode­se dizer que a OV também é um
processo que visa à promoção da saúde do indivíduo.
Assim, toda a relevância do processo de OV pode ser evidenciada quando este, ao passo que faz com que o
jovem reflita sobre si mesmo, também o ajuda a escolher um caminho profissional, dando possibilidades para
que possa desenvolver todas as suas capacidades.
 
operacionalização do processo de orientação vocacional
Frente às transformações da sociedade atual, questiona­se como deve ser operacionalizado o processo de OV.
Primeiramente, o processo de OV não pode ser realizado de maneira descontextualizada; caso seja, não atingirá
a sua finalidade. Alguns profissionais ainda se limitam a aplicar testes psicológicos, não confrontando os
resultados com outras técnicas. Ao dar um resultado não corroborado ou incompleto ao adolescente, o
profissional estará desqualificando a psicologia como um todo e podendo comprometer o processo de escolha de
um adolescente.
O processo de OV deve ter em vista as mudanças ocorridas na sociedade e a realidade sociocultural e
econômica. Surge como um caminho que os jovens podem percorrer com o objetivo de fazer a sua escolha
profissional de maneira mais consciente e madura; para atingir esse fim, o processo deve ser operacionalizado
de maneira que supra essas necessidades. O trabalho de OV pode ser desenvolvido tanto individualmente como
em grupo. A maioria dos autores opina que tal trabalho desenvolvido em grupo é mais enriquecedor do que
individualmente, principalmente se o grupo for composto por sujeitos adolescentes, pois assim auxiliará o
jovem a autoperceber­se como sujeito inserido em uma realidade social, diminuindo, assim, as fantasias e
idealizações que porventura possam persistir (Vasconcelos, Antunes & Silva, 1998).
Todo o trabalho de OV deve ser baseado na troca de experiências entre os jovens e na reflexão conjunta sobre o
processo de escolha da profissão, reflexão esta que deve ser organizada e coordenada por profissional(ais)
competente(s). É de suma importância criar condições para que os jovens possam ter acesso à maior
quantidade possível de informações a respeito das profissões: suas características, aplicações, cursos,
requisitos, locais de trabalho, etc. Na esfera do autoconhecimento, também devem­se criar condições e
estratégias para que os jovens identifiquem suas aptidões, interesses e características de personalidade (Bock &
Aguiar, 1995). A aplicação de técnicas, testes psicológicos ou outros recursos só tem sentido e real eficácia
quando é verificado em um contexto amplo, onde cada orientando é único. Deve­se dar a cada adolescente um
espaço e tempo necessários para que possa manifestar suas preocupações, ansiedades e problemas, devendo­
se acompanhá­lo na reflexão e fazendo os possíveis esclarecimentos, para que ele vá elaborando seu projeto
vocacional, definindo sua escolha e identificando os obstáculos que o impedem de fazê­la (Müller, 1988).
 
Desafios e Perspectivas do Processo de Orientação Vocacional
Faz­se necessário analisar o papel do profissional de OV diante das novas condições socioculturais e econômicas
e a finalidade do processo de OV, que deve visar não apenas a informar sobre carreiras profissionais, e sim, a
trabalhar aspectos como o autoconhecimento e a questão da escolha em si, levando em consideração o
mercado de trabalho.
É verificado claramente no mercado de trabalho a presença de profissionais não qualificados, prestando, na
maioria das vezes, serviços inadequados, chegando a resultados não válidos. Esse tipo de posicionamento,
longe de ser o esperado, diz respeito à falta de uma ética profissional, muitas vezes renegada por profissionais
que, em função de uma má preparação profissional, operacionalizam trabalhos sem competência para tal
execução.
Ser psicólogo implica, logicamente, deixar de ser qualquer outra coisa [..]  (Bohoslavsky, 1993, p. 175).
Antes de tudo, o profissional de OV deve estar ciente tanto dos recursos técnicos quanto dos de personalidade
06/02/2017 O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios
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de que deve dispor para poder desempenhar sua profissão de maneira produtiva e competente. Diante das
novas perspectivas da sociedade, o profissional de OV deve passar por um processo contínuo de renovação,
estando sempre a par das mudanças efetivadas no mercado de trabalho. O profissional da psicologia deve ter
consciência do papel que irá desempenhar, sendo o auto­conhecimento e o desenvolvimento de sua própria
pessoa uma condição sine qua non para a sua atuação como profissional. Segundo Müller (1988), as qualidades
desejáveis ao orientador vocacional seriam: uma sólida formação teórica em psicologia, principalmente
psicologia educacional e do desenvolvimento, conhecimento em dinâmicas de grupo, técnicas de exploração da
personalidade e psicopatologia, prática clínica, empatia, equilíbrio emocional para colocar­se no lugar do outro,
reconhecimento de sua própria ideologia, respeito pelos outros e aceitação dos seus limites.
Ao iniciar um processo de OV, o profissional deve estar consciente dos seus limites e decidir se deve ou não
enfrentar o caso; segundo Bohoslavsky (1993), o psicólogo vai decidir enfrentar ou não um processo de OV com
o cliente respondendo, basicamente, às seguintes perguntas: o adolescente tem possibilidade de adquirir sua
identidade ocupacional sem uma modificação substancial da estrutura de sua personalidade? Tem maturidade
para decidir quanto ao seu futuro profissional? Tem a possibilidade de empregar sua percepção, pensamentos e
ação a serviço do princípio de realidade, de preverdificuldades, alcançar sínteses, tolerar frustrações? Sou a
pessoa mais indicada para ajudá­lo? E este é o momento mais adequado para que se inicie seu processo de OV?
É exigido do profissional de OV uma postura criativa, inovadora e científica, perfil que deve começar a ser
delineado durante a sua formação acadêmica (Calheiros, Araújo & Silveira, 2000). É imprescindível que o
profissional de OV esteja tranqüilo e seguro de sua própria identidade; só assim poderá interpretar as
incertezas dos adolescentes (Bohoslavsky, 1993). Além das características já citadas, a formação do orientador
profissional também deve incluir conhecimentos sobre mercado de trabalho, empregabilidade, globalização,
informações sobre as diferentes profissões e ocupações, sobre os diferentes cursos e universidades, além do
conhecimento sobre as teorias de orientação profissional. Tem­se necessidade de uma prática na formação do
profissional, assim a presença de um supervisor torna­se necessária. Também é indispensável que o orientador
compreenda e conheça os motivos que o levaram a escolher a sua profissão, em especial a escolha da
orientação profissional como atividade profissional, já que só poderá trabalhar com clareza os conflitos dos
jovens se tiver compreendido suas próprias escolhas (Soares, 1999). Segundo Bohoslavsky (1993), só quando o
orientador vocacional possuir uma identidade profissional amadurecida é que poderá oferecer ao adolescente a
possibilidade de confrontar fantasia com realidade e mundo interior com exterior.
Ressaltando estes aspectos, Silva (1999a) comenta que, para auxiliar um outro indivíduo a solucionar seus
conflitos diante da escolha profissional, o orientador vocacional deve cumprir as seguintes condições: passar
por um processo de elaboração de sua própria escolha e de sua identidade vocacional e internalizar,
compreender e ser capaz de criar as técnicas de que irá se valer no processo de OV. É tarefa do psicólogo
permitir que o adolescente possa desenvolver sua auto­identidade. Para isso, o psicólogo tem como instrumento
fundamental a sua própria pessoa.  A personalidade do profissional é tema de imprescindível exame para quem
se dedica à Orientação Vocacional  (Bohoslavsky, 1993, p.199).
A função principal do orientador vocacional é a de facilitar o acesso às informações relativas às profissões e ao
mercado de trabalho, podendo­se identificá­lo este como um intérprete, um mediador entre o mundo das
ciências e do trabalho e o adolescente que está em vias de escolher uma profissão (Silva, 1999b). Assim, o
papel do orientador vocacional deve ser, primeiramente, o de um facilitador do desenvolvimento individual
(Super & Junior, 1980), devendo estar comprometido com a sua atividade e sendo competente na medida em
que cumpre com todos os requisitos necessários para obter resultados fidedignos e com um posicionamento
ético diante da sua profissão.
Outro aspecto questionado é a real finalidade do processo de OV. Este, ao passo que é entendido como um
amplo processo que induz ao conhecimento, não pode ter apenas a finalidade de informar sobre carreiras
profissionais, e sim, levar o jovem a fazer uma reflexão no sentido de realizar a sua escolha profissional de
forma amadurecida e consciente. Deve haver uma conscientização de que em muitos casos os serviços de
orientação profissional – que prestam informações, apenas, sobre profissões – tem um alcance restrito e,
algumas vezes, não chegam a resultados totalmente satisfatórios. Sabe­se que a escolha profissional não é um
momento estático no desenvolvimento de um indivíduo; ao contrário, é um comportamento que se inclui num
processo contínuo de mudança da personalidade (Bohoslavsky, 1993), e a OV só atinge sua finalidade quando
leva em consideração essa mobilidade.
No processo de OV devem ser trabalhados o autoconhecimento e a elaboração da escolha em si, levando em
consideração todos os determinantes (Vasconcelos, Antunes & Silva, 1998). Segundo Bohoslavsky (1993), a OV
tem o objetivo principal de definir uma carreira ou trabalho a ser seguido pelo adolescente, permitindo que este
aprenda a escolher e a encontrar sua identidade vocacional, e assim, sua identidade pessoal. O processo de OV
vai fazer com que o adolescente decida de maneira mais autônoma, levando em consideração suas próprias
determinações psíquicas e as circunstâncias sociais (Müller, 1988).
O autoconhecimento trabalhado na OV deve ser entendido como um processo contínuo; os interesses e aptidões,
assim como características de personalidade não são estáticos, mudando conforme a experiência e o tempo.
Assim, a melhor escolha é aquela que o jovem realiza a partir de um maior conhecimento de si como ser e
sujeito ativo de sua própria história, determinado pela realidade social e econômica, e por um conhecimento
das possibilidades profissionais oferecidas pela sociedade em que está inserido (Bock & Aguiar, 1995). No
momento da escolha, o jovem tende a idealizar o seu futuro, o que não é ruim, mas, sem perceber, idealiza a
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sociedade e o mercado de trabalho como algo isolado, cristalizado e sem movimento. Notadamente, tem­se
mudado o perfil das diversas profissões e dos profissionais. O mundo globalizado, inevitavelmente, coloca em
segundo plano profissões que anteriormente idealizavam como mais importantes e necessárias do que outras;
algumas profissões foram forçadas a mudar as formas de atuação e até seus conceitos (Calheiros, Araújo &
Silveira, 2000).
Deve ser discutida e trabalhada de maneira realista a relação entre o mercado de trabalho e a escolha
profissional. O mercado de trabalho é um fator de fundamental importância para a escolha do jovem, mas
desde que compreendido através de uma perspectiva dinâmica, na qual a sociedade está inserida. Deve­se
tentar discutir, a partir de uma visão econômica, que a escolha profissional não é uma escolha de uma
faculdade ou de um curso e sim de um trabalho, situando o jovem nesse âmbito. É fundamental, ainda, apontar­
lhe o processo social, estimulando­o a uma reflexão sobre as condições e formas em que o trabalho ocorre na
sociedade. Todo tipo de informação deve ser passada de maneira realista, precisa e objetiva, refletindo as reais
condições dos cursos e das próprias profissões, pois somente assim poderá propiciar escolhas conscientes.
Dessa forma, mesmo as informações que apresentam os problemas vividos pelos profissionais de determinadas
áreas devem ser passadas precisamente e analisadas posteriormente, contribuindo para a construção de uma
visão crítica não só da sua escolha, mas também da sociedade onde vive (Bock & Aguiar, 1995).
Em termos de referencial teórico, a abordagem clínica é a que trabalha o processo de escolha de uma forma
mais ampla (Vasconcelos, Antunes & Silva, 1998), investigando possíveis problemáticas do indivíduo e
instigando o adolescente a ter conhecimento da sua identidade vocacional. O método clínico possibilita ao
orientando pensar nos aspectos mais pessoais de sua vida, seus temores, inseguranças, fantasias e
expectativas. Nele se podem utilizar técnicas auxiliares como recursos a mais; essas técnicas incluem: testes
projetivos, testes psicométricos, técnicas não estandardizadas, como questionários, dramatizações, jogos,
técnicas plásticas (desenho, pintura), entre outros (Müller, 1988).
Deve­se tentar compreender mais concretamente como o indivíduo se apresenta no momento da escolha
profissional, mostrando­lhe que tem todo um histórico de vida a ser considerado. Nessa sua história, pode ter
vivenciado interesses e aptidões e deve procurar posicionar­se frente a eles, percebendo que se não
determinam em absoluto a escolha, indicam alguns caminhos. No trabalho de orientação, deve­se procurar
estimular a reflexão sobre a multiplicidade de aspectos envolvidos na construção do futuro de uma pessoa. É
importante que se trabalhepara que o jovem compreenda­se como um ser em movimento que pode mudar
seus interesses e possibilidades no decorrer da vida (Bock & Aguiar, 1995).
 
Considerações Finais
No processo de OV, a vocação não nasce e mostra­se ao acaso, mas é construída subjetiva e historicamente em
interação com os outros, segundo as oportunidades familiares, as disposições pessoais e o contexto
sociocultural e econômico (Müller, 1988). As pessoas são identificadas, muitas vezes, por aquilo que fazem;
grande parte da vida o ser humano passa trabalhando, sendo inegável o peso que o trabalho tem e sempre teve
para a humanidade. No entanto, decidir por uma carreira profissional a ser seguida, muitas vezes, não é fácil,
pois envolve muitos aspectos. O momento de decisão profissional é muito difícil para o adolescente, porque
implica a escolha de um futuro. O jovem, juntamente com as pessoas que estão á sua volta, espera uma
decisão definitiva, fato que muitas vezes não acontece, já que a identidade vocacional de uma pessoa é
delineada ao longo de sua vida, à medida em que vai tendo consciência das suas características de
personalidade. Como afirma Müller (1988, p. 18),  nossa identidade profissional se constrói laboriosamente em
um processo contínuo, permanente, sempre factível de ser revisado, pelo qual podemos dizer que nossa
aprendizagem é perpétua .
Surgem novos caminhos que exigem adaptações para acompanhar a realidade sociocultural e econômica, sendo
imprescindível ter uma ação em OV que atenda às necessidades atuais frente aos impactos ocorridos nas
instituições, nas pessoas e na sociedade como um todo (Hissa & Almeida, 2000). As transformações que a
sociedade enfrenta requerem novas posturas, não só dos profissionais de OV, mas dos profissionais de todas as
áreas.
O profissional de psicologia que decide se dedicar à OV deve estar seguro de sua identidade profissional. Sua
atividade profissional estará comprometida se este, ao tentar auxiliar o adolescente a formular sua identidade
vocacional, não tiver segurança de sua própria função e de sua escolha profissional. É de fundamental
importância que todos os requisitos para a prática profissional de OV sejam cumpridos, com a finalidade de se
chegar a resultados coerentes, podendo­se assim, também, enfrentar as novas perspectivas e desafios
impostos pela sociedade. Acima de tudo, o profissional de OV deve estar ciente do papel a desempenhar,
devendo ser um profissional comprometido terminantemente com a sua atuação, sabendo que o seu
autoconhecimento é uma condição sine qua non para atuar profissionalmente na área vocacional. Deve, ainda,
ter consciência dos seus limites, sendo competente na medida em que se compromete a cumprir com todos os
requisitos necessários para obter resultados fidedignos e tem um posicionamento ético diante da profissão e do
diploma que lhe foi concedido.
Para a OV cumprir com sua real finalidade, deve ser operacionalizada de maneira coerente, ou seja, mais do
que informar sobre as carreiras profissionais, a OV deve promover o autoconhecimento do indivíduo. Como
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meio facilitador para a escolha profissional, a OV ajuda o indivíduo a formar­se cidadão em seu sentido mais
pleno, uma vez que, ao ajudá­lo a encontrar uma identidade profissional, auxilia­o a estruturar uma identidade
pessoal, favorecendo na elaboração de um projeto de vida de forma mais responsável e consciente. Mais do que
escolher uma profissão, a OV auxilia o jovem a adaptar­se à vida.
 
Referências bibliográficas
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06/02/2017 O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios
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 Endereço para correspondência 
Josemberg M. de Andrade, Girlene R. de Jesus 
Maja Meira & Zandre B. de Vasconcelos 
Universidade Federal da Paraíba, CCHLA 
Departamento de Psicologia 
58059­900 João Pessoa­PB
Recebido em 04/05/01 
Aprovado em 20/10/01
 
 
* Bolsista de Iniciação Científica, Programa CNPq­PIBIC­UFPB. 
** Bolsista de Iniciação Científica, Programa CNPq­PIBIC­UFPB. 
*** Profissional de Orientação Vocacional, Professora da Universidade Federal da Paraíba.
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