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AVALIAÇÃO II – INTRO. À SOCIOLOGIA JURÍDICA 1) A partir da leitura da sentença que foi anexada ao sistema Ágata, em que consta como réu Klayner Renan, responda o que se segue: a) Quando às fls 04 da decisão diz a juíza que: “Vale anotar que o réu não possui o estereótipo padrão de bandido, possui pele, olhos e cabelos claros, não estando sujeito a ser facilmente confundido”, é possível relacionar com o conceito de racismo estrutural de Silvio Almeida? E com o conceito de racismo Institucional do mesmo autor? E o de racismo individual? Responda fundamentadamente. (máximo 40 linhas – 3,5 pontos) R- Silvio Almeida em sua obra intitulada de “Racismo Estrutural” faz uma análise sobre os conceitos estereotipados sobre a população negra e discorre acerca de como racismo se apresenta nas sociedades. Nesta perspectiva, o autor faz uma espécie de diferenciação do termo racismo e o submete em uma apreciação sob o prisma institucional, estrutural e individual. Acerca do Racismo institucional, Almeida elucida que: “A principal tese dos que afirmam a existência do racismo institucional é que os conflitos raciais também são parte das instituições. Assim a desigualdade racial é uma característica da sociedade não por causa da ação isolada de grupos ou de indivíduos racistas, mas fundamentalmente porque as instituições são hegemonizadas por determinados grupos raciais que utilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses políticos e econômicos. Neste sentido, o domínio de homens brancos em instituições públicas e privadas como: o legislativo, o judiciário, reitorias de universidades, diretoria de empresas, dentre outros cargos dependem da existência de regulamentos que de maneira indireta ou direta dificultam a ascensão de negros/mulheres e a outra problemática seria o espaço para debates relacionados à desigualdade racial e de gênero. Em outras palavras, o sistema organizacional branco cria empecilhos para que negros e mulheres não consigam equidade de direitos e muito menos está aberto para se discutir a existência dessas disparidades, porque isto representa uma “ameaça” a preservação de seu poder e o controle sob este grupo. “O racismo institucional é menos evidente, muito mais sutil, menos identificável em termos de indivíduos específicos que cometam os atos, porém não menos destrutivo a vida humana”. Reitera o autor. E o Sistema jurídico é o principal agente na manutenção dessas desigualdades, visto ao invés de asseverar direitos igualitários para todos, promove ainda mais estas distinções a prova disso é a Seletividade penal brasileira, que faz uma caricatura daqueles que devem ser penalizados, (NEGROS, POBRES, FAVELADOS á margem social). Entende-se por racismo estrutural, aquele que é parte de um processo social que ocorre “pelas costas dos indivíduos e lhes parecem um legado da tradição”. Assim além de medidas que coíbam o racismo individualmente e institucionalmente, torna-se imperativo refletir sobre mudanças profundas no seio da sociedade no que tange as relações sociais, políticas, econômicas e jurídicas. Ademais o termo “estrutura” não indica que o mesmo não possa ser contornado. Ao sopesar a decisão referida ao réu Klayner Renan, a juíza proferiu uma narrativa extremamente racista, provando que o racismo é tão naturalizado no âmbito institucional e estrutural, que a própria utilizou palavras ofensivas para distinguir o perfil do réu (branco, cabelos e olhos claros) ao de um bandido “corriqueiro” (negro) e que Renan não seria confundido. Desse modo ela reforça a rotulação do negro como um marginal. Portanto na minha concepção é possível correlacionar sim com os conceitos de Silvio Almeida sobre racismo estrutural, individual (pelo fato das destinações das ofensas, ela como cidadã foi racista) e principalmente institucional, por se tratar de uma magistrada, membro de uma instituição pública que tem o dever de assegurar a aniquilação de discursos racistas e não utilizá-los como argumentos. b) Ainda em relação à mesma decisão, nesse mesmo trecho, é possível relacionar com alguma das críticas da perspectiva conflitiva de análise do sistema penal? Responda fundamentadamente (máximo 30 linhas – 2,0) R- Sim, é possível. A abordagem conflitiva, além de criticar diversos pontos do sistema penal, tem como principal objetivo desconstruir as verdades e as afirmações feitas pelo sistema penal, alegando que boa parte do que é retratado pelo sistema penal é uma mentira ou farsa. Ademais esta abordagem diferencia as funções declaradas, que é o que está prescrito na lei, das funções latentes, que é o que não está dito na lei , mas está presente na prática. Dentre os preceitos dessa abordagem podemos citar: A ilegitimidade do poder punitivo ( Este é dotado de caráter higienista – uma vertente do Direito Penal que funciona como limpeza/dedetização social, funcionando de maneira deficitária para as situações que o ladrão não é socialmente caracterizado, como é o caso do discurso proferido pela juíza ao descrever o perfil do réu Klayner Renan); A culpabilidade pessoal (A abordagem conflitiva acredita que a culpabilidade deve ser também analisada de forma social – necessidade de considerar aspectos sociais como fatores influentes nos crimes e não apenas individual) E principalmente a Seletividade Penal (Quando se escolhe politicamente o seu âmbito de tutela, o Estado já seleciona intencionalmente quem irá compor sua “clientela”, quem serão seus criminosos. Este “perfil” pode ser reparado no sistema brasileiro, onde a maioria dos detentos são jovens de 18 a 24 anos, negros e de baixa renda e escolaridade. 2) Leia o trecho da reportagem e responda. Quem são os coletes amarelos, grupo que incomoda políticos há 5 meses na França Nesta semana, completaram-se cinco meses de manifestações dos chamados “coletes amarelos” na França. Apesar de darem sinais de enfraquecimento, os protestos que ocorrem por toda o país europeus ainda incomodam os governantes e alteraram a maneira como o país, que é famoso por seu histórico de movimentos sociais, lida com seus manifestantes. O movimento dos coletes amarelos nasceu oficialmente no dia 17 de novembro de 2018, quando, segundo o Ministério do Interior da França, 288 mil pessoas foram às ruas de Paris e de diversas outras cidades francesas para protestar contra o aumento da taxa sobre o combustível, que havia sido anunciada pelo governo nacional. Hoje, esse movimento já é o mais longo da França desde a Segunda Guerra Mundial. Desde novembro, todo sábado um novo protesto acontece tanto em Paris, onde eles ganham mais notoriedade, quanto em cidades do interior da França . No vocabulário dos manifestantes e da imprensa francesa, as manifestações são chamadas de “atos”, como no teatro, e vêm sempre acompanhadas de um número romano, indicando há quantas semanas eles já ocorrem. No próximo sábado, por exemplo, deve acontecer o “Ato XXIII”. O nome do movimento vem de seu objetivo inicial. Os coletes amarelos são usados como equipamento de segurança pelos motoristas em caso de acidente ou pane no veículo, e são peça obrigatória em todo carro francês. O coletes amarelos foram apropriados pelos condutores que questionavam os novos preços e usados como símbolo do movimento. O aumento da taxa indignou pessoas que já vinham acumulando insatisfações. A medida era justificada pelo governo como uma transição para uma alternativa menos poluente. Seria uma forma de incentivar as pessoas a trocarem os carros tradicionais por elétricos ou a deixarem os veículos em casa, passando a usar mais o transporte público. A população, no entanto, questiona a falta de políticas públicas que incentivem a mudança, uma vez os carros elétricos custam caro e quem mora em zonas mais afastadas dos grandes centros têm acesso limitado – ou não têm acesso nenhum – a transporte público.Em um país onde protestos fazem parte da rotina diária dos cidadãos, o movimento dos coletes amarelos se destaca por não estar ligado a nenhuma das lideranças tradicionais. Os manifestantes reafirmam que não há lideranças ou inclinações partidárias. Priscillia, por exemplo, recusa o rótulo de porta-voz. Ela afirma que apenas ganhou notoriedade por conta das inúmeras entrevistas que concedeu, mas continua sendo uma manifestante como todos os outros. O professor de geopolítica Antônio Gelis Filho, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, explica que as lideranças francesas tradicionais não têm mais a mesma força. Segundo ele, os países europeus estão perdendo trabalho industrial, o que faz com que os sindicatos tenham cada vez menos poder de barganha. “Os mecanismos habituais para negociação de insatisfações sociais não dão mais conta”, diz. O professor da FGV explica que, mesmo no começo, a pauta não era tão delimitada. Atualmente, ele divide os manifestantes em três grandes grupos. O primeiro se pauta em uma reclamação de ordem econômica, questionando aumentos de impostos, diminuição de postos de trabalho, entre outros. O segundo grupo, por sua vez, se apoia em uma insatisfação mais generalizada com o Estado, que vem da ideia de abandono de regiões periféricas e rurais. Neste grupo, há quem peça a renúncia de Macron . Já o terceiro bloco é composto de pessoas que protestam com base em reclamações de ordem comportamental, o que pode significar questionamentos sobre o que se ensina nas escolas ou críticas a relações racistas, entre outros tantos assuntos. Fonte: Último Segundo - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2019-04- 18/quem-sao-os-coletes-amarelos-grupo-que-incomoda-politicos-ha-5-meses-na- franca.html a) Podemos considerar os Coletes Amarelos um movimento social ? Fundamente sua resposta a partir das características dos movimentos sociais. R- Na concepção do sociólogo francês Alain Touraine, movimentos sociais podem ser definidos como: “ Ações coletivas protagonizadas por sujeitos históricos que procuram viabilizar acordos políticos”. Estas ações resultantes em movimentos sociais surgem em defesa ou promoção, no âmbito das relações de classes, de certos objetivos ou interesses tanto de transformação, como de preservação da ordem estabelecida na sociedade. Os movimentos sociais são caracterizados por: Assumir uma Identidade (No caso dos coletes amarelos, o próprio nome faz uma alusão ao problema em questão- o acessório é fundamental para conduzir veículos na França); Fazer oposição/não- institucionalização (ao sistema vigente); Além de possuir regras para ação e planejamento (Como deverá proceder as manifestações, onde serão e quando ocorrerão). Nesse ensejo para que um movimento social exista e, seja organizado, é fundamental que ele tenha uma ideologia, ou seja, que exista uma definição de quais são as causas https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2018-12-03/coletes-amarelos-macron-renuncia.html https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2019-04-18/quem-sao-os-coletes-amarelos-grupo-que-incomoda-politicos-ha-5-meses-na-franca.html https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2019-04-18/quem-sao-os-coletes-amarelos-grupo-que-incomoda-politicos-ha-5-meses-na-franca.html https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2019-04-18/quem-sao-os-coletes-amarelos-grupo-que-incomoda-politicos-ha-5-meses-na-franca.html https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2019-04-18/quem-sao-os-coletes-amarelos-grupo-que-incomoda-politicos-ha-5-meses-na-franca.html defendidas e quais são os objetivos a serem alcançados. Portanto o movimento dos coletes amarelos pode ser considerado um movimento social pois, possuem causas relevantes (solicitação nas reduções dos impostos sobre combustíveis, a reintrodução do imposto sobre fortunas, o aumento do salário mínimo, assim como, políticas de melhoria da democracia representativa, mais precisamente, o Referendo de Iniciativa Cidadã, além do impeachment do Presidente francês, Emmanuel Macron). Pode ser caracterizado como um movimento de classe, político e reivindicatório. b) O movimento dos Coletes Amarelos adequa-se aos elementos apontados por Manuel Castells como típicos dos movimentos do sec. XXI? Fundamente a sua resposta apontando trechos da reportagem que lhe levaram à conclusão. R- Manuel Castells, refere-se ao movimento social urbano como um sistema de práticas que resulta da articulação de uma conjuntura definida, ao mesmo tempo, pela inserção dos agentes suportes, tanto da estrutura urbana, como da estrutura social, de modo que seu desenvolvimento tende, objetivamente, para a transformação estrutural do sistema urbano ou para uma modificação substancial da correlação de forças na luta de classes, ou seja, em última instância, do poder do Estado.O movimento coletes amarelos apresenta elementos apontados por Manuel Castells como típicos dos movimentos do sec. XXI são eles: A conexão por redes de múltiplas formas (O movimento surgiu inicialmente com a insatisfação nas redes e ganhou notoriedade); Foram simultaneamente locais e globais (Começaram na capital francesa e nas cidades pequenas e depois ganharam forma em outros países); São virais (Capacidade rápida para se difundir); A horizontalidade das redes favorece cooperação e solidariedade reduzindo a necessidade de liderança formal (Como se pode ilustrar nesse trecho: “O movimento dos coletes amarelos se destaca por não estar ligado a nenhuma das lideranças tradicionais. Os manifestantes reafirmam que não há lideranças ou inclinações partidárias. Priscillia, por exemplo, recusa o rótulo de porta-voz.” Não são violentos (No entanto houve uma drástica repressão policial ao movimento); Apresentam Fragmentariedade (“O primeiro se pauta em uma reclamação de ordem econômica, questionando aumentos de impostos, diminuição de postos de trabalho, entre outros. O segundo grupo, por sua vez, se apoia em uma insatisfação mais generalizada com o Estado, que vem da ideia de abandono de regiões periféricas e rurais”). e são essencialmente políticos. c) É possível traçar um paralelo entre os Coletes Amarelos e o que aconteceu no Brasil em junho de 2013? Fundamente sua resposta (1,5 – para cada item – máximo 20 linhas) R- “Junho de 2013”, também chamado de “Manifestações dos 20 centavos” ou “Jornadas de Junho” expressou uma resistência às formas de mercantilização do trabalho e das terras urbanas manifestada por um desejo de mais democracia e investimentos públicos. A mobilização, iniciada como um protesto contra o aumento da tarifa dos ônibus que passaria de R$ 2,80 para R$ 3, cresceu proporcionalmente à violência empregada pela Polícia Militar de São Paulo contra os manifestantes. Logo, as ruas foram ocupadas por conta de demandas diversas: habitação, saúde, transporte e educação. Assim, o que começou como um pedido por mais investimentos na área pública resultou em mais recursos para a área privada. Por outro lado, enfraqueceu partidos tradicionais, como PT e PSDB, e abriu espaço para os movimentos sociais. Podemos traçar algumas semelhanças com o movimento dos Coletes Amarelos ocorrido na França dentre elas é cabível citar que: Ambos surgiram de uma insatisfação específica – do aumento de um produto (combustível - coletes amarelos) ou serviço (tarifa dos ônibus - Junho de 2013); Ganharam proporções em várias regiões dos país; Presença de reivindicações diversas das mais variadas classes sociais contra o governo; Foram duramente reprimidos pelo poder policial e possuíam caráter político.
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