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PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL ANO 2020 Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 2 INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL www.unicless.com.br www.etuni.com.br DIRETOR GERAL Prof. Fabrício Martins Rodrigues COORDENADORA GERAL Profa. Priscila Alves Rodrigues CONTEÚDO, REVISÃO E EQUIPE MULTIDISCIPLINAR EDIÇÃO DIAGRAMAÇÃO E CAPA INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL. Revisado Setembro/2020 Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 3 PLANO DE ENSINO 1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA DISCIPLINA PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL CURSO Disciplina comum a todos os Cursos Técnicos dá área de saúde PROFESSORA COORDENADORA GERAL PROFA. PRISCILA RODRIGUES E-MAIL COORDENADOR coordenacao@unicless.com.br 2. DISPOSIÇÃO PEDAGÓGICA CARGA HORÁRIA: 60 HORAS EMENTA: 1. Introdução: psicologia como ciência. 2 Principais concepções teóricas do século XX: psicanálise, behaviorismo, transpessoal, psicologia analítica, humanismo e Gestalt. 3. Contexto da psicologia na saúde. 4. História da Psicologia e da Psiquiatria no Brasil. 5. Conceitos básicos: psicologia e enfermagem em saúde mental. 6. Comportamento do paciente, Etiologia e Epidemiologia dos transtornos mentais – fatores de risco. 7. Transtornos mentais e Formas de tratamento. 8. Fundamentos de mensuração em saúde mental. 9. Fundamentos teóricos sobre análise e mudança de comportamento. COMPETÊNCIAS À ADQUIRIR: 1. Saber estabelecer discussões interdisciplinares na psicologia; 2. Saber trabalhar em equipes multidisciplinares de assistência à saúde, reconhecendo a dimensão subjetiva humana; 3. Reconhecer as fases do desenvolvimento psicossocial; 4. Saber Identificar os principais sintomas e transtornos referentes a saúde mental. 5. Saber descrever a situação da assistência ao indivíduo com doença mental no Brasil. OBJETIVO PEDAGÓGICO: Proporcionar ao estudante a reflexão acerca de sua prática e suas relações com a psicologia e a subjetividade. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 4 2. DISPOSIÇÃO PEDAGÓGICA OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Promover aulas interativas expondo os tópicos emanados na ementa da disciplina; 2. Promover aulas temáticas e argumentativas de forma que os alunos possam reconhecer os conceitos fundamentais dos processos de desenvolvimento psicológico e da personalidade e o comportamento do indivíduo frente ao processo saúde-doença. 3. Demonstrar casos reais dos processos de desenvolvimento psicológico, da personalidade e o comportamento do indivíduo frente ao processo saúde-doença.; 4. Propor leituras dos livros da biblioteca básica e da complementar como forma de aprendizagem. 5. Questionar o papel do profissional como promotor de saúde e bem-estar de forma integral, incluindo a dimensão psicológica. 3. BIBLIOGRAFIA BÁSICA (Principal): 01 CASABURI, Luiza Elena. Reforma psiquiátrica e serviços de atendimento em saúde mental e psiquiátrico. In: TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira; CASABURI, Luiza Elena; SCHER, Cristiane Regina (org.). Saúde mental e cuidado de enfermagem em psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019. p. 73-92. 02 FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. 1 recurso online. ISBN 9788580554892. 03 PICCININI, Walmor João; MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto da Silva. Aspectos Históricos da Psiquiatria. In: MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto Silva (org.). Psiquiatria: estudos fundamentais. Estudos Fundamentais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Cap. 1. p. 3-19. 04 VIDEBECK, Sheila L. Enfermagem em saúde mental e psiquiatria. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. 535 p. Tradução: Denise Regina de Sales, Regina Machado Garcez. COMPLEMENTAR: 05 GORENSTEIN, Clarice; WANG, Yuan-pang. Fundamentos de Mensuração em Saúde Mental. In: GORENSTEIN, Clarice; WANG, Yuan-pang; HUNGERBÜHLER, Ines (org.). Instrumentos de avaliação em saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2016. Cap. 1. p. 30-111. 06 MYERS, David G. Psicologia / David G. Myers, C. Nathan DeWall; tradução Cristiana de Assis Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: LTC, 2019. 07 TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira. Correntes psiquiátricas e tratamento de distúrbios mentais. In: TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira; CASABURI, Luiza Elena; SCHER, Cristiane Regina (org.). Saúde mental e cuidado de enfermagem em psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019. p. 94-112. 08 TOWNSEND, Mary C. Enfermagem psiquiátrica: conceitos de cuidados na prática baseada em evidências. 7. ed. [Reimpr.] Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 5 ROTEIRO DE APRENDIZAGEM 1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA DISCIPLINA PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL CURSO Disciplina comum a todos os cursos técnicos da área de saúde PROFESSOR(A) E-MAIL DA COORDENAÇÃO coordenacao@unicless.com.br TEMA DA AULA: Introdução - psicologia como ciência. FONTE BIBLIOGRÁFICA ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A prática da psicologia da saúde. Revista SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 183-202, dez. 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v14n2/v14n2a12.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. (org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno: instrumentalizando a ação profissional I. 2. ed.[reimpr.] Brasília / Rio de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 164 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. CASTRO, Elisa Kern de; BORNHOLDT, Ellen. Psicologia da saúde x psicologia hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. : definições e possibilidades de inserção profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 3, p. 48-57, set. 2004. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pcp/v24n3/v24n3a07.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580554892/cf i/52!/4/4@0.00:23.8. Acesso em: 26 dez. 2019. OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica: a importância do estudo da psicologia jurídica. : A importância do estudo da Psicologia Jurídica. In: GONZAGA, Alvaro de Azevedo; ROQUE, Nathaly Campitelli (org.). Formação humanística para concursos. 5. ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Forense / MÉTODO, 2020. Cap. 6. p. 323-340. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530988371/cf i/6/10!/4/12/4@0:100. Acesso em: 02 abr. 2020. MYERS, David G.; DEWALL, Nathan C. Psicologia. tradução Cristiana de Assis Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: LTC, 2019. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521634614/cf i/6/28!/4/18/2@0:56.4. Acesso em: 26 dez. 2019. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 6 Tópico 1: Entendendo a Psicologia Psicologia é o estudo dos processos mentais e a influência desses no comportamento humano, de acordo com Oliveira (2020). O termo psicologia provém da junção das palavras gregas psychē (alma) e logos (conhecimento), ou seja, estudo da alma. O psicólogo é o profissional que nos ajuda a entender nossas motivações, nosso modo de agir ante determinado fato ou circunstância (por exemplo, por que alguns de nós têm medo de lugares altos ou por que, em alguns momentos de nossa vida, sem motivo aparente nos sentimos tristes) (BRASIL, 2003). As subaéreas da psicologia equiparam-se a uma famíliaextensa, com uma variedade de sobrinhos e sobrinhas, tios e tias e primos e primas que, embora possam não interagir diariamente, estão relacionados uns aos outros, pois tem um objetivo em comum: compreender o comportamento. Uma maneira de identificar as principais subáreas é considerar algumas das questões básicas sobre comportamento das quais elas tratam (FELDMAN, 2015, p.6). Segundo Myers e Dewall (2019, p.11) o conjunto de subáreas que denominamos psicologia, confluem diferentes disciplinas: Pesquisa aplicada: estudo científico que visa solucionar problemas práticos. Aconselhamento psicológico: ramo da psicologia que ajuda as pessoas passando por problemas (em geral relacionados com a escola, o trabalho ou casamento) a alcançar maior bem-estar. Psicologia clínica: ramo da psicologia que estuda, avalia e trata pessoas com transtornos psicológicos. Psiquiatria: ramo da medicina que lida com os transtornos psicológicos; é praticada por médicos, que por vezes proveem tratamento médico (prescrevendo medicamentos, por exemplo), assim como terapia psicológica. Psicologia comunitária: ramo da psicologia que estuda o modo como as pessoas interagem com seus respectivos ambientes sociais, e como as instituições sociais afetam indivíduos e grupos. (MYERS; DEWALL, 2019, p. 11) Cabe ainda a psicologia, estudar questões ligadas a: personalidade aprendizagem motivação memória inteligência funcionamento do sistema nervoso comunicação interpessoal comportamento sexual agressividade processos psicoterapêuticos ao sono e ao sonho, ao prazer e à dor, etc. Psiquismo: conjunto dos processos psíquicos do ser humano ou do animal tomado genericamente; psique, psicologia. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 7 A psicologia tem infinitos campos de ação, áreas que abrangem muitos dos nossos contextos mais cotidianos e onde, graças à sua utilização, podemos encontrar soluções, aprimorar habilidades, melhorar processos, inovar. Mas, cabe lembrar que sua base científica se justifica e se legitima, pois a psicologia (como todas as formas de ciência) possui um objeto definido: os fenômenos comportamentais, resultantes da interação dos indivíduos com o meio e entre outros indivíduos. No entanto, conforme Oliveira (2020) os estudos sobre a mente e o comportamento humano não trilharam um caminho unitário, mas, na verdade, percorreram-se várias rotas de pensamento, produzindo diversas teorias sobre o psiquismo. Embora tenha surgido um conjunto de teorias psicológicas desde a autonomia científica da Psicologia, algumas delas superadas ou abandonadas, é fato que as diversas teorias coexistem, quando não influenciam umas às outras, ou ainda, recebem influência de outras ciências (OLIVEIRA, 2020, p. 332). A psicologia, então, pode ser concebida como uma grande árvore com ramos infinitos que tentam entender o comportamento humano. Dessa forma, entre todo esse conjunto de galhos e folhas, existe um que é particularmente útil e diferenciado: falamos da psicologia aplicada, que tenta dar soluções concretas aos problemas que ocorrem na nossa vida cotidiana. Especialmente para o profissional de enfermagem, que tem por função auxiliar os indivíduos nos momentos importantes de suas existências - do nascimento à morte -, a Psicologia é uma ferramenta cujo uso torna possível uma maior solidariedade e entendimento das pessoas. Como resultado, permitirá ajudá- las de maneira mais efetiva - e afetiva - quando estiverem vulneráveis (BRASIL, 2003). Tópico 2: A Necessidade da Ciência Psicológica Segundo Príncipe Charles (2000), citado por Myers e Dewall (2019, p.18), algumas pessoas supõem que a psicologia se limita a documentar e revestir de jargão aquilo que todo mundo já sabe: “você ganha dinheiro para comprovar com métodos extravagantes, o que a minha avó já sabia?”. Assim os autores citados questionam se será inteligente dar ouvidos a nossa sabedoria à nossa sabedoria interna, simplesmente confiar na nossa “força interior”? Ou deveríamos, com mais frequência, submeter nossos palpites intuitivos ao escrutínio cético? Uma coisa parece certa: Muitas vezes subestimamos os perigos da intuição. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 8 De acordo com Richarde Feynman (1997), citado por Myers e Dewall (2019, p.18) experimentos indicam que as pessoas super estimam, e muito a exatidão das lembranças de fatos que testemunharam, sua capacidade de avaliar entrevistados, suas previsões de riscos e seus talentos financeiros na escolha de ações. Segundo um ganhador do Prêmio Nobel da Física, “o primeiro número 1 é que você não deve enganar a si mesmo- e você é a pessoa mais fácil de ser enganada”. O VIÉS RETROSPECTIVO O viés retrospectivo (também conhecido como o fenômeno do “eu já sabia!”) é fácil de demonstrar. Apresente a metade dos membros de um grupo alguma suposta descoberta psicológica, e à outra metade um resultado oposto. Diga ao primeiro grupo: Psicólogos descobriram que a separação enfraquece a atração romântica. Como diz o ditado: “O que os olhos não veem, o coração não sente”. Peça a eles que imaginem por que isso pode ser verdade. A maioria vai conseguir, e quase todos vão considerar previsível essa descoberta real (MYERS; DEWALL, 2019, p.18). Diga ao contrário ao segundo grupo: “Psicólogos descobriram que a separação fortalece a atração romântica. Como diz o ditado “”A gente só dá valor a algo depois que o perde”. Os que receberem essa informação falsa também vão considerá-la fácil de imaginar, e a maioria concordará que se trata de algo justificável. Obviamente há um problema quando informações contraditórias parecem senso comum (MYERS; DEWALL, 2019, p.18). Tais erros em nossas lembranças e explicações mostram por que precisamos de pesquisa psicológica. Simplesmente perguntar às pessoas como e por que sentiram ou agiram de determinada maneira pode ser ilusório- não porque o senso comum esteja em geral errado, mas porque descreve o que já aconteceu com mais facilidade do que está por vir (MYERS; DEWALL, 2019, p.18). CONFIANÇA EXCESSIVA Nós humanos tendemos a achar que sabemos mais do que de fato sabemos. Questionados quanto a certeza de nossas respostas a perguntas factuais (Boston fica a norte ou sul de Paris?), tendemos a mostrar mais confiança do que precisão (MYERS; DEWALL, 2019, p.18). O PENSAMENTO CRÍTICO A atitude científica nos prepara para pensar de maneira mais inteligente. O pensamento inteligente, chamado de pensamento crítico, examina suposições, avalia fontes, identifica valores ocultos, avalia evidências e pondera conclusões. Seja lendo comentários online, seja ouvindo uma conversa, os pensadores críticos fazem perguntas: Como sabem disso? Quais são os interesses dessa pessoa nessa Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 9 questão? Essa conclusão se baseia em lugares comuns e palpites, ou em evidências? As evidências, neste caso, justifica que se chegue a uma conclusão em termos de uma relação casual? Que outras explicações são possíveis? (MYERS; DEWALL, 2019, p.20). O pensamento crítico, baseado na ciência ajuda a limpar as lentes de nossa tendenciosidade (MYERS; DEWALL, 2019, p.20). Segundo Shafir (2013), citado por Myers e Dewall (2019, p.20) a ciência psicológica também pode identificar políticas eficazes. Para reduzir a criminalidade, devemos investir recursos na ampliação das sentenças ou em maior probabilidade de punição? Para ajudar alguém a se recuperar de um trauma, o profissional que acompanha a pessoa deve estimulá-la a reviver esse trauma ou não? Para aumentar o comparecimento dos eleitores nas votações, deve-se procurar conscientizá-los do problema da baixa participação do eleitorado, ou enfatizar que seus pares votam? Ao submeter essas questões ao escrutínio do pensamentocrítico – e contrariando o senso comum – é a segunda opção que vence em cada uma delas. ESTRATÉGIAS DE PESQUISA: COMO OS PSICÓLOGOS FORMULAM PERGUNTAS E RESPOSTAS A ATITUDE CIENTÍFICA DOS PSICÓLOGOS É complementada pelo método científico – um processo autoajustável de avaliação de ideias mediante observação e análise. Em seu esforço para descrever e explicar a natureza humana, a ciência psicológica acolhe intuições e teorias que soem plausíveis – e as submete a testes. Se uma teoria funciona – se os dados apoiam as previsões –, tanto melhor para a teoria. Se as previsões fracassam, a teoria será reavaliada ou rejeitada (MYERS E DEWALL, 2019, P.20). Teoria - uma explicação que usa um conjunto integrado de princípios que organiza observações e prediz comportamentos ou eventos. Hipótese - uma previsão verificável, em geral decorrente de uma teoria. Definição operacional - uma descrição minuciosa dos procedimentos exatos (operações) utilizados em uma pesquisa. Por exemplo, a inteligência humana pode ser definida operacionalmente como a pontuação em um teste de inteligência. Replicação - repetição da essência de uma pesquisa, normalmente com participantes diferentes e em situações distintas, para ver se a descoberta básica se aplica a outros participantes e circunstâncias (MYERS; DEWALL, 2019, p.20). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 10 O MÉTODO CIENTÍFICO COMO AS TEORIAS PROMOVEM O AVANÇO DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA? No dia a dia, tendemos a usar o termo teoria como o equivalente a um “mero palpite”. Pode-se, por exemplo, menosprezar a evolução como “só uma teoria” – como se não passasse de especulação pura e simples. Na ciência, uma teoria explica comportamentos ou acontecimentos apresentando ideias que organizam aquilo que observamos, e prevê comportamentos e eventos. Ao organizar fatos isolados, uma teoria simplifica a realidade. Ao unir os fatos a princípios mais profundos, uma teoria oferece um resumo útil. Quando ligamos os pontos observados, vai emergindo uma imagem coerente (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). Ainda segundo os autos citados anteriormente, uma teoria sobre os efeitos do sono sobre a memória, por exemplo, ajuda-nos a organizar um sem-número de observações acerca do sono em uma lista sucinta de princípios. Digamos que observamos repetidamente que pessoas com bons hábitos de sono tendem a responder corretamente perguntas em sala de aula, e se saem bem nas provas. Podemos então teorizar que dormir ajuda a memorizar. Até aqui, tudo bem. Chegamos a um princípio que resume bem uma lista de fatos sobre os efeitos de uma boa noite de sono sobre a memória (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). Porém, por mais razoável que uma teoria possa parecer – e parece razoável supor que dormir favorece a memorização –, devemos pô-la à prova. Uma boa teoria produz previsões verificáveis, chamadas de hipóteses. Tais previsões especificam que resultados (comportamentos ou acontecimentos) dariam sustentação à teoria e que resultados a refutariam. Para averiguar nossa teoria acerca dos efeitos do sono sobre a memória, nossa hipótese poderia ser que, quando privadas de sono, as pessoas vão se lembrar menos do ocorrido na véspera (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). A fim de testar tal hipótese, poderíamos avaliar quanto as pessoas lembram de um conteúdo didático estudado antes de uma boa noite de sono, ou antes de uma noite de sono mais curta. Os resultados vão confirmar nossa teoria ou levar- nos a revisá-la ou rejeitá-la (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). Nossas teorias podem impor um viés à nossa observação. Tendo teorizado que uma melhor memorização será consequência de mais horas de sono, podemos acabar vendo aquilo que esperamos – perceber os comentários de pessoas sonolentas como menos perspicazes, por exemplo. A ânsia de enxergar aquilo que corresponde às nossas expectativas é uma tentação sempre presente, dentro e fora do laboratório (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 11 De acordo com o Comitê Bipartidário de Inteligência do Senado dos Estados Unidos (2004), as expectativas preconcebidas de que o Iraque possuía armas de destruição em massa levaram os analistas de inteligência a interpretar observações ambíguas de maneira a confirmar essa teoria (de modo análogo a como as opiniões das pessoas acerca da mudança climática podem influenciar sua interpretação de eventos climáticos locais). Tal conclusão, direcionada por essa teoria específica, resultou na invasão preventiva do Iraque pelos Estados Unidos (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). Afim de compensar uma eventual tendenciosidade, os psicólogos relatam suas pesquisas com definições operacionais precisas de procedimentos e conceitos. Privação de sono, por exemplo, pode ser definida como “X horas a menos” que o número natural de horas de sono da pessoa. Esse cuidado na formulação dos enunciados permite a outros replica (repetir) as observações originais com participantes, materiais e circunstâncias diferentes. Se alcançarem resultados similares, aumenta a certeza da confiabilidade das conclusões (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). O primeiro estudo sobre viés retrospectivo despertou a curiosidade dos psicólogos. Agora, depois de muitas replicações bem-sucedidas com pessoas e perguntas diferentes, estamos convencidos da força desse fenômeno (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). No fim das contas, nossa teoria será útil se: (1) organizar uma série de observações e autorrelatos; (2) implicar predições que qualquer um possa usar para pôr a teoria à prova ou para gerar aplicações práticas (O número de horas de sono das pessoas prevê sua memorização?) (3) estimular novas pesquisas que resultem em uma teoria revisada, capaz de organizar e predizer nosso conhecimento (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). TEMA DA AULA: Principais concepções teóricas do século XX. FONTE BIBLIOGRÁFICA BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. (org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno: instrumentalizando a ação profissional I. 2. ed.[reimpr.] Brasília / Rio de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 164 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580554892/cfi/5 2!/4/4@0.00:23.8. Acesso em: 26 dez. 2019. MYERS, David G.; DEWALL, Nathan C. Psicologia. tradução Cristiana de Assis Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: LTC, 2019. Disponível em: Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 12 TEMA DA AULA: Principais concepções teóricas do século XX. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521634614/cfi/6/ 28!/4/18/2@0:56.4. Acesso em: 26 dez. 2019. OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica: a importância do estudo da psicologia jurídica. : A importância do estudo da Psicologia Jurídica. In: GONZAGA, Alvaro de Azevedo; ROQUE, Nathaly Campitelli (org.). Formação humanística para concursos. 5. ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Forense / MÉTODO, 2020. Cap. 6. p. 323-340. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530988371/cfi/6/ 10!/4/12/4@0:100. Acesso em: 02 abr. 2020. PARIZI, Vicente Galvão. Psicologia transpessoal: algumas notas sobre sua história, crítica e perspectivas. Psic. Rev. São Paulo, n. 14(1): 109-128, maio 2005. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/viewFile/18098/13454. Acesso em: 29 set. 2020. Tópico 1: Psicologia social, Psicanálise, behaviorismo, transpessoal, humanismo e Gestalt PSICOLOGIA SOCIAL Dirk Willems encarou um momento de decisão em 1569. Ameaçado de tortura e mortecomo um membro de uma minoria religiosa perseguida, ele escapou da prisão em Asperen, Holanda, e atravessou um lago coberto de gelo. Seu carcereiro, mais forte e pesado, perseguiu-o, mas quebrou o gelo e caiu; sem conseguir subir novamente, pediu ajuda (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). Com a liberdade à sua frente, Willems agiu com absoluto desprendimento, voltando e resgatando seu perseguidor que, obedecendo a ordens, levou-o de volta ao cativeiro. Poucas semanas mais tarde Willems foi condenado a ser “queimado até a morte”. Por seu martírio, a Asperen dos dias de hoje batizou uma rua em homenagem ao seu herói popular (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). O que leva as pessoas a sentirem desprezo pelas minorias religiosas, como aconteceu com Dirk Willems, e a agirem tão rancorosamente? O que inspira as pessoas, como o seu carcereiro, a executar ordens injustas? E o que motivou o desprendimento da resposta de Willems e de tantos outros que morreram tentando salvar outras pessoas? Na realidade, o que motiva qualquer um de nós quando nos oferecemos bondosa e generosamente para ajudar as outras pessoas? (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). Como esses exemplos demonstram, somos animais sociais. Podemos supor o melhor ou o pior nas outras pessoas. Podemos abordá-las com punhos cerrados ou braços abertos. Como comentou o romancista Herman Melville, “Não conseguimos viver apenas para nós mesmos. Nossa vida está ligada por milhares de fios invisíveis”. Os psicólogos sociais exploram essas ligações estudando cientificamente como pensamos, influenciamos e nos relacionamos uns com os outros (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 13 PENSAMENTO SOCIAL O que os psicólogos sociais estudam? Como tendemos a explicar o comportamento das outras pessoas e o nosso próprio comportamento? OS PSICÓLOGOS DA PERSONALIDADE focam na pessoa. Eles estudam os traços pessoais e a dinâmica que explica por que pessoas diferentes podem agir de maneira diferente em uma mesma situação, como a enfrentada por Willems. (Você teria ajudado o carcereiro a sair da água congelante?) (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). Os psicólogos sociais focam na situação. Eles estudam as influências sociais que explicam por que a mesma pessoa vai agir de maneira diferente em situações diferentes. O carcereiro poderia ter agido de maneira diferente – optando por não levar Willems de volta para a cadeia – em circunstâncias diferentes? (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). O ERRO DE ATRIBUIÇÃO FUNDAMENTAL Nosso comportamento social surge de nossa cognição social. Especialmente quando ocorre o inesperado, queremos compreender e explicar por que as pessoas agem como agem. Após estudar como as pessoas explicam o comportamento dos outros, Fritz Heider (1958) propôs uma teoria de atribuição: podemos atribuir o comportamento aos traços estáveis, duradouros, da pessoa (uma atribuição relativa à disposição pessoal) ou podemos atribuí-lo à situação (uma atribuição situacional) (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). QUAIS FATORES AFETAM AS NOSSAS ATRIBUIÇÕES? Todos nós cometemos o erro de atribuição fundamental. Considere: seu professor de psicologia é tímido ou extrovertido? Se você responder “extrovertido”, lembre-se de que você conhece o professor em uma situação – a sala de aula, que exige um comportamento extrovertido. Seu professor (que observa o próprio comportamento não só na sala de aula, mas com a família, em reuniões, quando está viajando) poderia dizer, “Eu, extrovertido? Tudo depende da situação. Em sala de aula ou na presença de bons amigos, sim. Sou extrovertido. Mas em reuniões profissionais sou realmente bem tímido.”. Fora de seus papéis atribuídos, os professores parecem menos professorais, os presidentes são menos presidenciais, os gestores são menos gerenciais (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). Quando explicamos o nosso próprio comportamento, somos sensíveis a como ele muda de acordo com a situação (Idson & Mischel, 2001). (Uma exceção importante: na maioria das vezes, atribuímos as nossas ações intencionais e admiráveis não às situações, mas aos nossos próprios bons motivos [Malle, 2006; Malle et al., 2007]) (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 14 Também somos sensíveis ao poder da situação quando explicamos o comportamento das pessoas que conhecemos bem e com quem estivemos em diferentes contextos. Muitas vezes cometemos o erro de atribuição fundamental quando um estranho age mal. Tendo visto apenas aquele torcedor berrando para o árbitro no calor da competição, podemos presumir que se trata de uma má pessoa. Mas, fora do estádio, ele pode ser um bom vizinho e um ótimo pai (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS DAS NOSSAS ATRIBUIÇÕES? A maneira como explicamos as ações das outras pessoas, atribuindo-as à pessoa ou situação, pode ter efeitos importantes na vida real (Finchman & Bradbury, 1993; Fletcher et al., 1990). Uma pessoa deve decidir se atribui a amabilidade de outra pessoa a um interesse romântico ou sexual. Um parceiro deve decidir se o comentário ácido de um ente querido reflete um mau dia ou uma disposição média. Um júri deve decidir se um tiro foi malicioso ou em legítima defesa. Em um estudo, 181 juízes estaduais deram sentenças mais leves a um agressor violento no qual um cientista atestou que havia um gene que alterava áreas do cérebro relacionadas à agressividade (MYERS; DEWALL, 2019, p.420). ATITUDES E AÇÕES Como as nossas atitudes e ações interagem? Atitudes são sentimentos, muitas vezes influenciados por nossas crenças que predispõem nossas reações a objetos, pessoas e eventos. Se acreditarmos que alguém está nos ameaçando, podemos sentir medo e raiva da pessoa e agir defensivamente. O tráfego entre nossas atitudes e nossas ações é de duas vias. Nossas atitudes afetam nossas ações. E nossas ações afetam nossas atitudes (MYERS; DEWALL, 2019, p.420). AÇÕES AFETAM ATITUDES O Fenômeno do Pé na Porta - Como você reagiria se alguém o induzisse a agir contra suas crenças? Um ingredientechave foi o uso eficaz do fenômeno do pé na porta: Os chineses sabiam que as pessoas que concordam com uma pequena exigência vão achar mais fácil cumprir uma exigência maior no futuro. Eles começaram com pedidos inofensivos, como copiar uma frase trivial, mas gradualmente aumentaram suas exigências (SCHEIN, 1956 apud MYERS; DEWALL, 2019, p.420). A próxima frase a ser copiada poderia listar as falhas do capitalismo. Depois, para ganhar privilégios, os prisioneiros participaram de discussões em grupo, escreveram autocríticas ou fizeram confissões públicas. Depois disso, eles ajustaram suas crenças para que ficassem mais coerentes com seus atos públicos (MYERS; DEWALL, 2019, p.421). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 15 O ponto é simples: para conseguir que as pessoas concordem com algo grande, comece pequeno e aumente gradualmente (CIALDINI, 1993 apud MYERS; DEWALL, 2019, p.421). Um ato trivial torna o próximo ato mais fácil. Sucumba a uma tentação e você vai achar a próxima tentação mais difícil de resistir (MYERS; DEWALL, 2019, p.421). PSICANÁLISE Teoria formulada pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), que tem como base duas contribuições primordiais: primeiro, a descoberta do inconsciente e, segundo a formulação da teoria sexual infantil (OLIVEIRA, 2020). A psicanálise se desenvolveu contemporânea às outras escolas de psicologia, porém emerge de uma vertente fora do âmbito das ciências naturais e dos experimentos acadêmicos em laboratório (OLIVEIRA, 2020). Sua principal influência tem origem na psicopatologia. A psicanálise nasce de uma oposição aos tratamentos dos distúrbios mentais da época, os quais eram precários e desumanos. A aplicação da psicanálise ao tratamento das neuroses divergia do objetivo da psicologia, o dedescobrir leis do comportamento humano, uma vez que seu objeto de estudo se detinha ao comportamento anormal (OLIVEIRA, 2020). De acordo com a teoria de Freud, nada ocorre ao acaso, existe um determinismo psíquico. Há conexões entre todos os eventos mentais e as conexões entre eles estão no inconsciente. Existem processos mentais conscientes e inconscientes e a maior parte deles é absolutamente inconsciente (OLIVEIRA, 2020). O QUE SÃO OS TAIS DE ID, EGO E SUPEREGO? Sigmund Freud identificou cada uma das formas de funcionamento da estrutura psíquica com nomes que nos parecem estranhos, pois têm sua origem na língua alemã (BRASIL, 2003, p. 44). Estas três instâncias de nossa mente vivem, assim como o nosso corpo, em busca de um nível de equilíbrio que nos permita ter o máximo possível de experiências boas e o mínimo de experiências ruins. Mas, nem sempre isso é fácil. Muitas vezes nos encontramos dentro de situações das quais não gostaríamos de participar, mas não vemos outra saída. Outras vezes, ainda, nos percebemos querendo e não querendo alguma coisa ao mesmo tempo. Nessas situações se estabelecem conflitos dentro de nós (BRASIL, 2003, p. 45). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 16 Os conflitos podem ser extremamente desgastantes do ponto de vista emocional. Sempre em busca do equilíbrio, lançamos mão de “estratégias” que nos tirem pelo menos temporariamente daquela situação. A essas “respostas de proteção”, que são, em geral, inconscientes e automáticas, chamamos mecanismos de defesa. Os mecanismos de defesa não são, por eles mesmos, patológicos nem saudáveis (BRASIL, 2003, p. 45). É o uso que fazemos deles e o grau de rigidez que estabelecemos internamente para seu uso que faz com que sejam mais ou menos favoráveis ao nosso ajustamento. Por exemplo, sair para caminhar pode ser uma excelente solução quando estamos prestes a “explodir” com alguém em determinada situação, mas se só soubermos fazer isso para lidar com nossos conflitos, em breve estaremos em apuros (BRASIL, 2003, p. 45). Figura 01 – Id, Ego e Superego Fonte: Maistro (2020) Ao modo de funcionamento mais primitivo, aquele do bebê recém-nascido, onde predominam os impulsos e sensações corporais de forma mais desorganizada, Freud chamou de id. Id seria o ponto de partida de todo ser humano, a fonte básica de energia de nosso ser, que será organizada a partir de nosso contato com o ambiente (BRASIL, 2003, p. 44). O id é formado pelas energias ou pulsões inconscientes, contendo assim os impulsos inatos e biologicamente determinados. Esses desejos não reconhecem e não respeitam nenhuma norma estabelecida pela sociedade, nenhuma convenção e nenhum código moral, buscando apenas a satisfação incondicional do organismo. Nele estarão, por exemplo, os impulsos sexuais e violentos. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 17 Já o superego é regido justamente por normas e princípios éticos e religiosos da sociedade na qual o indivíduo está inserido. Diferentemente do id (que é inato), o superego é construído ao longo da infância e adolescência do indivíduo. Nele estarão os aprendizados sobre o que é certo e errado inicialmente ensinados pela família nuclear e, posteriormente, pela sociedade como um todo. O superego é uma instância parcialmente consciente e parcialmente inconsciente. Por fim, o ego, que literalmente significa “eu”, é o setor da personalidade especializado em manter contato com o ambiente que cerca o indivíduo. Ele é a porção que sofre as pressões imediatas do meio externo e executa ações destinadas a manter o convívio da pessoa com terceiros. O ego tem uma porção consciente e outra inconsciente. (CASABURI, 2019, p. 153) O ego tem três tarefas básicas: a nossa autopreservação, nosso autocontrole (não é porque sentimos atração sexual por alguém que vamos “atacar” tal pessoa) e nossa adaptação ao meio ambiente. Quando o indivíduo sofre de transtornos mentais, as funções adaptativas do ego geralmente são afetadas, especialmente nos transtornos psicóticos que se caracterizam por um vínculo precário com a realidade externa (BRASIL, 2003, p. 44). À capacidade de julgamento moral (noção de certo e errado) que passamos a adquirir com o passar da infância, Freud chamou superego. Esta seria a parte de nós mesmos que se liga aos códigos morais de nosso ambiente e de nossa espécie. Ter essa noção de certo e errado muitas vezes não chega a nos impedir de realizar determinadas ações, mas nos sinaliza que fizemos algo inadequado (BRASIL, 2003, p. 44-45). BEHAVIORISMO A palavra provém do termo em inglês behavior (comportamento). Por isso, essa teoria também é denominada de Psicologia Comportamental. Os primeiros estudos nascem com John B. Watson em 1913, nos Estados Unidos, propondo que o objeto de estudo da Psicologia fosse observável, mensurável e que pudesse ser reproduzido (OLIVEIRA, 2020, p. 332). O resultado de tal pesquisa foi a formulação da teoria S-R (Stimulus – estímulo e Responsio – resposta), que procurava explicar como a relação entre estímulo do ambiente e resposta do organismo constituía a base para descrever todo tipo de comportamento. Dessa relação estabelece-se o conceito de condicionamento respondente, o qual está associado ao comportamento respondente (OLIVEIRA, 2020, p. 332). O comportamento respondente é um comportamento involuntário provocado por estímulos ambientais. O estímulo frio provoca a resposta de arrepio e a emissão de som, quando se sente dor, são exemplos que compelem um comportamento involuntário ou reflexo. É, portanto, um estímulo incondicionado (OLIVEIRA, 2020, p. 332). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 18 O condicionamento respondente ocorre quando o estímulo eliciador de um comportamento respondente é pareado com outro estímulo, fazendo como que a resposta passe a ser eliciada, agora, frente ao estímulo pareado (OLIVEIRA, 2020, p. 332). A salivação, por exemplo, (comportamento respondente) frente ao estímulo alimento poderia ser condicionada de forma que a salivação pudesse ser eliciada por outros estímulos diferentes do alimento, tal como um sinal luminoso, desde que juntamente com o alimento fosse apresentado tal estímulo luminoso. Dessa forma, em um momento posterior, apenas a apresentação da luz eliciaria o comportamento de salivação, sem se fazer necessária a apresentação do alimento (OLIVEIRA, 2020, p. 332). Com Skinner (1904-1990), surge o que conhecemos por behaviorismo radical, termo que designa a Ciência do Comportamento. O autor se dedica ao estudo das respostas e observa que há um outro tipo de relação entre o organismo e seu ambiente o que ele irá chamar de comportamento operante, sendo este distinto do comportamento respondente. Já o comportamento operante é o comportamento voluntário e inclui tudo aquilo que fazemos e que tem efeito sobre nosso mundo exterior, ou seja, que operam nele. Este comportamento visa obter o efeito desejado ou evitar uma consequência indesejada (OLIVEIRA, 2020, p. 332). Assim, enquanto que o comportamento respondente é controlado por um estímulo antecedente (S-R), o comportamento operante é controlado por suas consequências – estímulos que se seguem à resposta (R-S) (OLIVEIRA, 2020, p. 332). A partir daí, formula-se o modelo de análise do comportamento, o fundamento para a descrição das interações organismo-ambiente: S – R – S (estímulo antecedente) (resposta) (estímulo consequente) Portanto, tem-se, primeiramente, um comportamento que responde a um estímulo do ambiente, o qual, por sua vez, inevitavelmente levará a uma consequência ainda não aprendida. Num segundo momento, a resposta será dada já objetivando a consequência, pois, agora, é conhecida pelo indivíduo por intermédio da experiência anterior (OLIVEIRA,2020, p. 332). HUMANISMO Como os psicólogos humanistas veem a personalidade, e qual era seu objetivo ao estudar a personalidade? Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 19 Na década de 1960, alguns psicólogos da personalidade mostraram-se insatisfeitos com a negatividade da teoria freudiana e a psicologia mecanicista do behaviorismo de B. F. Skinner (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). Indo em direção contrária à do estudo de Freud sobre motivações básicas de pessoas “doentes”, os psicólogos humanistas voltaram sua atenção para o modo como as pessoas “saudáveis” se esforçam por obter autodeterminação e autorrealizacão. Em contraste com a objetividade científica do behaviorismo, eles estudaram as pessoas por meio de suas experiências e sentimentos relatados por elas mesmas (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). Dois teóricos pioneiros – Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers (1902-1987) – propuseram a perspectiva de uma terceira força com ênfase no potencial humano (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). A perspectiva humanista encara a personalidade com um foco no potencial para o crescimento pessoal saudável (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). A autorrealização de acordo com Maslow, uma das necessidades psicológicas essenciais que surge após as necessidades físicas e psicológicas básicas terem sido atendidas e a autoestima ser alcançada; a motivação para realizar o potencial do indivíduo (MYERS; DEWALL, 2019, P.470). ABRAHAM MASLOW E A PESSOA AUTORREALIZADA Maslow propôs que somos motivados por uma hierarquia de necessidades. Se nossas necessidades fisiológicas são atendidas, ficamos preocupados com segurança pessoal; se atingimos um senso de segurança, buscamos então amar, ser amados e amar a nós mesmos; com nossas necessidades de amor satisfeitas, buscamos autoestima. Tendo alcançado a autoestima, finalmente buscamos a autorrealização (o processo de realizar nosso potencial) e de autotranscendência (significado, propósito e comunhão para além do eu) (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). Maslow (1970) desenvolveu suas ideias estudando pessoas saudáveis e criativas em vez de casos clínicos complicados. Ele baseou sua descrição de autorrealização em um estudo de pessoas que pareciam notáveis por terem levado uma vida rica e produtiva – entre eles Abraham Lincoln, Thomas Jefferson e Eleanor Roosevelt (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). Maslow relatou que essas pessoas tinham em comum certas características: aceitavam-se tal como eram e tinham consciência de si mesmas; eram francas e espontâneas, afetuosas e solícitas e não se deixavam afetar pela opinião dos outros. Seguras por saberem quem eram, seus interesses eram centrados nos problemas, e não em si mesmas (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 20 Elas concentravam suas energias em uma determinada tarefa, a qual viam como sua missão na vida. A maioria desfrutava de poucos relacionamentos íntimos em vez de muitos relacionamentos superficiais. Muitas foram movidas por grandes experiências pessoais ou espirituais que vão além da consciência comum (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). Essas, segundo Maslow, são qualidades adultas maduras, qualidades que se encontram nas pessoas que aprenderam o suficiente sobre a vida para serem compassivas, para terem superado seus sentimentos confusos em relação aos pais, para terem descoberto sua vocação, para terem “adquirido coragem bastante para serem impopulares, para não se envergonharem de serem abertamente virtuosas etc.” (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). O trabalho de Maslow com estudantes universitários o levou a especular que aqueles propensos a se tornar adultos autorrealizados eram simpáticos, solícitos, “particularmente afetuosos com os mais idosos que merecem seu afeto” e “preocupados com a crueldade, a malvadeza e o espírito de gangue encontrados com tanta frequência entre as pessoas jovens” (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). TEORIA TRANSPESSOAL Koltko-Rivera (2006), citado por Myers e Dewall, (2019, p.348) afirma que próximo ao final de sua vida, Maslow sugeriu que algumas pessoas também atingem um nível de autotranscendência. No nível da autorrealização, as pessoas procuram realizar seu próprio potencial. Na autotranscendência, as pessoas buscam o significado, o propósito e a comunhão que estão além do self, que é transpessoal (MYERS; DEWALL, 2019, p.348). Abraham Maslow (1970) descreveu essas prioridades como uma hierarquia de necessidades. Na base dessa pirâmide estão nossas necessidades fisiológicas, como as por água e alimento. Somente se estas forem satisfeitas estaremos prontos para satisfazer a necessidade por segurança e, depois, as necessidades exclusivamente humanas de dar e receber amor e de desfrutar de nossa autoestima. Acima disso, Segundo Maslow (1971), está a mais alta das necessidades humanas: a realização do pleno potencial do indivíduo (MYERS; DEWALL, 2019, p.348). A psicologia transpessoal surgiu nos EUA, em 1969, a partir do encontro de Abraham Maslow, Stanislav Grof e outros importantes psicólogos e teóricos. Saudada como a quarta força da psicologia, buscava integrar à psicologia as vivências espirituais e as experiências chamadas “transpessoais”, caracterizadas por um estado de consciência superior, que contém todas as experiências anteriores do indivíduo e prossegue no sentido de conduzir o ser humano em direção à transcendência (PARIZI, 2005, p.109). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 21 Fazendo pontes entre as muitas escolas ocidentais de psicologia e as tradições espirituais do Oriente e do Ocidente, a psicologia transpessoal chegou a ser confundida por alguns críticos com uma abordagem sincrética ou uma nova forma de religião “new age”. Nos dias correntes, seus principais teóricos esforçam- se no sentido de mostrar que se trata de uma abordagem psicológica conseqüente e rigorosamente científica, distante da New Age e de práticas ditas “alternativas” ou “holísticas” (PARIZI, 2005, p.109). GESTALT Palavra que provém do alemão e tem um sentido aproximado a ideia de forma. A Gestalt nasceu de uma iniciativa de pesquisadores alemães que se preocupavam com os fenômenos de percepção (OLIVEIRA, 2020, p. 333). Interessava compreender processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, ou seja, quando um estímulo físico é percebido de forma diferente da qual se apresenta na realidade. Em contraponto ao behaviorismo, a Gestalt sustenta que o comportamento deveria considerar aspectos globais, tendo em vista as condições que possam alterar a percepção. Portanto, a relação deve ser a seguinte: Estímulo – Processo de percepção – Resposta Defendem o processo de percepção como essencial para a compreensão do comportamento humano, enfatizando que o comportamento, quando isolado de seu contexto mais amplo, perde seu significado (OLIVEIRA, 2020, p. 333). Os psicólogos da Gestalt afirmavam que, quando os elementos sensoriais são combinados, forma-se um novo padrão ou configuração. Juntemos algumas notas musicais e algo novo — uma melodia ou tom — surge da combinação. Quando olhamos para fora de uma janela, vemos imediatamente as árvores e o céu, e não pretensos elementos sensoriais, como brilhos e matizes, que possam constituir a nossa percepção das árvores e do céu (OLIVEIRA, 2020, p. 334). Os gestaltistas tentaram identificar as regras que governam a forma como as pessoas percebem os estímulos separados e lhes atribuem sentido formando uma unidade. Afirmam que as pessoas extraem significado da totalidade de um conjunto de estímulos e não de um estímulo individual, explicitando a premissa: O todo é distinto da soma de suas partes (OLIVEIRA, 2020, p. 334). Por meio dos fenômenos perceptivos é alcançada a boa forma, ou seja, a compreensão global do evento apreendido. A boa forma é a tendência à restauração do equilíbrio parte-todo, superandoa ilusão de ótica (OLIVEIRA, 2020, p. 334). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 22 TEMA DA AULA: Contexto da psicologia na saúde. FONTE BIBLIOGRÁFICA ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A prática da psicologia da saúde. Revista SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 183-202, dez. 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v14n2/v14n2a12.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. (org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno: instrumentalizando a ação profissional I. 2. ed.[reimpr.] Brasília / Rio de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 164 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. CASTRO, Elisa Kern de; BORNHOLDT, Ellen. Psicologia da saúde x psicologia hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. : definições e possibilidades de inserção profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 3, p. 48-57, set. 2004. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pcp/v24n3/v24n3a07.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580554892/cfi/5 2!/4/4@0.00:23.8. Acesso em: 26 dez. 2019. MYERS, David G.; DEWALL, Nathan C. Psicologia. tradução Cristiana de Assis Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: LTC, 2019. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521634614/cfi/6/ 28!/4/18/2@0:56.4. Acesso em: 26 dez. 2019. OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica: a importância do estudo da psicologia jurídica. : A importância do estudo da Psicologia Jurídica. In: GONZAGA, Alvaro de Azevedo; ROQUE, Nathaly Campitelli (org.). Formação humanística para concursos. 5. ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Forense / MÉTODO, 2020. Cap. 6. p. 323-340. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530988371/cfi/6/ 10!/4/12/4@0:100. Acesso em: 02 abr. 2020. Tópico 1: A Psicologia Aplicada à área da saúde A psicologia aplicada tenta dar soluções concretas aos problemas que ocorrem na nossa vida cotidiana. Apesar desse entendimento de que podemos aproximar a psicologia do nosso dia a dia, no campo da saúde é fundamental compreender que a psicologia deve estar ancorada em bases científicas (APA, 2003 apud CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 49). Por exemplo: A psicologia da saúde analisa a relação entre comportamento e os distúrbios físicos, buscando prevenir e tratar diferentes doenças. Tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais influenciam na saúde e na doença (APA, 2003 apud CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 49). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 23 Psicologia da Saúde como a disciplina ou o campo de especialização da Psicologia que aplica seus princípios, técnicas e conhecimentos científicos para avaliar, diagnosticar, tratar, modificar e prevenir os problemas físicos, mentais ou qualquer outro relevante para os processos de saúde e doença. (CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 49) Apesar de ser uma área internacionalmente consolidada, ela é recente – remonta a década de 1970 – e, algumas dúvidas sempre cercam referente à diferenciação entre Psicologia da Saúde e a Psicologia Clínica. Em resumo, a Psicologia Clínica centra sua atuação em diversos contextos e problemáticas em saúde mental, enquanto a Psicologia da Saúde dá ênfase, principalmente, aos aspectos físicos da saúde e da doença (KERBAUY, 2002 apud CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 50). a Psicologia da Saúde, com base no modelo biopsicosossocial1, utiliza os conhecimentos das ciências biomédicas, da Psicologia Clínica e da Psicologia Social-comunitária (Remor, 1999). Por isso, o trabalho com outros profissionais é imprescindível dentro dessa abordagem. [...] O trabalho é multiplicador, uma vez que capacita a própria comunidade para ser agente de transformação da realidade, pois aprende a lidar, controlar e melhorar sua qualidade de vida. (CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 50) A Psicologia da Saúde não está interessada diretamente pela situação, que cabe ao foro médico. Seu interesse está na forma como o sujeito vive e experimenta o seu estado de saúde ou de doença, na sua relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo (CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 50). Objetiva fazer com que as pessoas incluam no seu projeto de vida, um conjunto de atitudes e comportamentos ativos que as levem a promover a saúde e prevenir a doença, além de aperfeiçoar técnicas de enfrentamento no processo de ajustamento ao adoecer, à doença e às suas eventuais consequências (BARROS, 1999 apud ALMEIDA; MALAGRIS, 2011, p. 183). A psicologia aplicada a saúde pretende repassar aos trabalhadores em formação noções que lhes possibilitem promover o desenvolvimento de uma postura mais crítica (em relação à profissão), participativa (em relação à equipe e à comunidade nas quais vai estar inserido) e sensível (em relação a todos aqueles que estarão sob seus cuidados) (BRASIL, 2013). Segundo o caderno de estudos “Instrumentalizando a ação profissional I” (BRASIL, 2003), a Psicologia pode ser de grande utilidade para os profissionais de saúde, pois possibilita uma melhor compreensão sobre o modo como, no dia a dia, possam se relacionar com os pacientes. Colocando-os em contato com a dimensão humana da doença, fazendo-os perceber que tratam pessoas, não somente quadros clínicos (p. 142). 1 Modelo biopsicossocial é um conceito amplo que visa estudar a causa ou o progresso de doenças utilizando-se de fatores biológicos (genéticos, bioquímicos, etc), fatores psicológicos (estado de humor, de personalidade, de comportamento, etc) e fatores sociais (culturais, familiares, socioeconômicos, médicos, etc). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 24 Os temas tratados estão sempre referidos à prática profissional do trabalhador da área de enfermagem e às questões dela decorrentes, e sua explanação visa estimular a reflexão sobre seu papel nos âmbitos da dimensão humana e social do trabalho em saúde (BRASIL, 1013). As funções dos profissionais de Psicologia da Saúde estão se expandindo à medida que o campo amadurece. A maioria dos psicólogos da saúde trabalham em hospitais, clínicas e departamentos acadêmicos de faculdades e universidades onde eles podem fornecer ajuda direta e indireta aos pacientes (ALMEIDA; MALAGRIS, 2011, p. 191). A necessidade do trabalho em equipe decorre da constatação de que não se pode conhecer com apenas uma disciplina ou um conhecimento individualizado - seja a Medicina, a Psicologia ou a Enfermagem - todas as intercorrências sobre o sujeito que sofre (BRASIL, 2013). Na forma de trabalho das equipes pode ser: Pluridisciplinares: Na forma de trabalho pluridisciplinar as equipes, constituídas por várias disciplinas, atuam juntas, mas não há troca de informações, não há soma; na verdade, o paciente é dividido entre as várias áreas do saber. Multidisciplinares: Na forma de trabalho multidisciplinar os diversos profissionais trocam idéias e informações sobre suas práticas específicas. Reúnem-se regularmente, debatem pontos de vista e complementam os entendimentos sobre o problema em questão, indo além dos limites restritos a suas profissões: enfermeiros ouvem os pacientes durante seus procedimentos; assistentes sociais interessam-se pela vida emocional de seus clientes e médicos procuram não apenas acertar seus diagnósticos e prescrições, mas interessam-se por todo o contexto em que o cliente está inserido, o que contribui para a continuidade e sucesso do processoterapêutico. Interdisciplinares: Outro tipo de atuação é aquele desenvolvido pelas equipes interdisciplinares. Nestas, os métodos e técnicas de determinada disciplina são utilizadas por profissionais de áreas distintas. Esta modalidade é muito comum nos serviços de atenção diária em saúde mental, nos quais os profissionais trabalham em conjunto, atuando de acordo com os procedimentos acertados pela equipe. (BRASIL, 2013) (grifo nosso) Obviamente, a prática nos mostra que o trabalho em equipe é extremamente difícil. Trabalhar em harmonia e de forma integrada, com profissionais de distintas formações, mesmo quando existe um objetivo comum, é muito complicado. Nem sempre conseguimos abrir mão de nossas vaidades profissionais ou encarar as inseguranças que, naturalmente, temos ao compartilhar com o grupo a nossa maneira de trabalhar (BRASIL, 2013). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 25 Entretanto, a superação dessas limitações deve ser um desafio cotidiano para o alcance do objetivo comum: o bem-estar do paciente e a integração da equipe. Uma equipe de trabalho pode organizar-se de diversas maneiras. Essa organização depende de fatores como a definição dos papéis, a distribuição de poder entre os profissionais e a situação (de crise ou rotina) enfrentada pelo grupo. O Técnico em Enfermagem compõe a maior parte da força de trabalho da área da saúde, executando a maioria das ações hospitalares e atenção básica. Gerando a melhor qualidade possível de atendimento ao paciente. Em suma, ele é o responsável por cuidar de pessoas. TEMA DA AULA: A HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL A História da Psiquiatria no Brasil FONTE BIBLIOGRÁFICA ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Aos loucos, o hospício. Revista Pesquisa Fapesp, São Paulo, v. 19, n. 263, p. 90-94, jan. 2018. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2018/01/090- 093_memoria_263.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. BARROS, Sônia; SALLES, Mariana. Gestão da atenção à saúde mental no Sistema Único de Saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 45, n. 2, p. 1780-1785, dez. 2011. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0080-62342011000800025. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe2/25.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília, DF, 09 abr. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 02 abr. 2020. CASABURI, Luiza Elena. Reforma psiquiátrica e serviços de atendimento em saúde mental e psiquiátrico. In: TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira; CASABURI, Luiza Elena; SCHER, Cristiane Regina (org.). Saúde mental e cuidado de enfermagem em psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019. p. 73-92. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595029835/cfi/1 0!/4/4@0.00:41.9. Acesso em: 02 abr. 2020. COSTA-ROSA, Abílio. O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar. : um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar. In: AMARANTE, Paulo (org.). Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade. subjetividade, saúde mental, sociedade. 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Disponível em: https://inpaonline.com.br/blog/quais-as-diferencas-entre-psiquiatra- psicologo-psicanalista-e-psicoterapeuta/. Acesso em: 02 abr. 2020. LAPS - Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Fundação Oswaldo Cruz. Linha do Tempo: Voltar II Encontro Nacional dos Trabalhadores de Saúde Mental, onde acontece a criação do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial. Rio de Janeiro: 2016. Disponível em: http://laps.ensp.fiocruz.br/linha-do-tempo/61. Acesso em: 02 abr. 2020. LIMA, Candice Marques. O genocídio de Barbacena: Daniela Arbex revela holocausto que provocou morte de 60 mil pessoas no maior hospício do Brasil. Jornal Opção. Goiânia, p. 1-3. 31 ago. 2013. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/daniela-arbex- revela-holocausto-que-provocou-morte-de-60-mil-pessoas-no-maior- hospicio-do-brasil-164209/. Acesso em: 02 abr. 2020 PICCININI, Walmor João; MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto da Silva. Aspectos Históricos da Psiquiatria. In: MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto Silva (org.). Psiquiatria: estudos fundamentais. Estudos Fundamentais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Cap. 1. p. 3-19. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527734455/cfi/6/ 28!/4/2@0:0. Acesso em: 02 abr. 2020. Tópico 1: Aspectos Históricos da Psiquiatria Sofrer algum tipo de deficiência ou doença mental é um infortúnio que traz consequências terríveis para o paciente. A possibilidade de que a doença seja acompanhada por irrupções de violência complica ainda mais. O “louco” inspira medo e, consequentemente, é vítima de toda sorte de agressões (PICCININI; MELEIRO, 2018). Ser doente mental significa ter uma vida dura, brutal e curta em muitos casos. O estigma, o preconceito e o tabu que o cercam têm atravessado séculos. Compreender a história da psiquiatria e, principalmente, a maneira como a sociedade atua com relação ao doente mental não é tarefa fácil. Primeiramente, vamos estabelecer o que é um psiquiatra (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 3). O psiquiatra é um profissional com formação em Medicina e com especialização em Psiquiatria. Após a faculdade, então, faz residência em instituições de saúde mental, clínicas e hospitais psiquiátricos. Os conhecimentos desta área e especialidade médica concentram-se nos comportamentos que fogem à “normalidade” (INPA, 2019). Toda sociedade tem seu padrão de normalidade, ou seja, o que é considerado aceitável dentro de padrões estéticos, comportamentos e atitudes, dentre outros, para todos os seus membros. Os indivíduos fora da norma são os chamados estigmatizados, porque apresentam alguma característica física, social ou cultural (o estigma) que os diferenciam do restante do grupo. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 27 Segundo Piccinini e Meleiro (2018) os psiquiatras modernos vivem uma situação peculiar. São estimados por muitos e criticados pelos que não reconhecem sua atuação em defesa do doente mental. Conhecer a história é o primeiro passo necessário para compreender como chegamos ao momento atual. Para tanto, convém separar a história da loucura da história da psiquiatria (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 3). O modo como a loucura é vista hoje não é o mesmo de séculos anteriores. O jeito de entender, de tratar, de lidar e de olhar a loucura foi se modificando, como tudo o mais se modificou no mundo: valores, cultura, avanços na área médica, etc. A loucura representa um grande desafio para todos os interessados em estudá-la. Tanto é um desafio que muitas outras áreas do conhecimento se associamao processo de investigação de seus segredos. Filósofos, sociólogos, antropólogos, neurocientistas e psicofarmacologistas são apenas os exemplos mais notáveis de profissionais envolvidos nesse conflito (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 3). No período clássico (500 a.C. a 500 d.C.), o modelo da Grécia Antiga de doença é de ruptura do equilíbrio interno, concebido de acordo com a visão cósmica. As frases enigmáticas dos loucos aproximam os homens das ordens dos Deuses. Neste período não era controlados ou excluídos sendo transformados em instrumento de mensagens divinas (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 3). Na Idade Média na Europa (500 d.C. a 1500 d.C.), o início do período foi marcado pela Idade das Trevas - mas não é pela falta de energia elétrica, que ainda não havia sido descoberta, e sim devido ao fato de todo pensamento cultural estar ligado às ideias religiosas - fez com que todas as descobertas no campo científico e nos outros campos do conhecimento humano progredissem muito lentamente. A loucura era vista como expressão da força da natureza, como algo não humano, predominaram as concepções morais sob influência do cristianismo, no mundo ocidental. Possessões e caça às bruxas são consequências (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 4). Na Renascença e na Reforma (1450-1700), período da Peste Negra, o pânico das bruxas foi desencadeado pela competição entre católicos e protestantes. A ideia de possessão levou à tortura e à morte de muitos doentes mentais, pois a “demonologia” e a Inquisição impuseram resistência para a aceitação da ideia de que feiticeiros e possuídos sofriam de doença natural (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 4). Esse período foi marcado pelo encarceramento de todos aqueles que não podiam contribuir para o movimento de produção, de comércio ou de consumo de mercadorias. Essa exclusão se dá devido à mudança na relação do homem com o trabalho. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 28 Foi entre o fim do século XVIII e o início do XIX, com o avanço do conhecimento científico e da consciência social, que a medicina começou a tomar a forma atual. A Revolução Francesa (1789), no plano político, e os avanços científicos relacionados com a Revolução Industrial, no plano econômico, foram as influências mais significativas desse processo (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). Há o início do processo de reabsorção dos excluídos: auxílio financeiro e médico em suas próprias casas aos necessitados. Mas, os loucos permaneciam encarcerados: considerados perigosos para o convívio social. O primeiro grande passo para o progresso científico da psiquiatria ocorreu apenas no século XVIII, com os estudos do médico francês Philippe Pinel, o qual instituiu reformas humanitárias para o cuidado com os doentes mentais. Foi quando realmente a assistência aos doentes mentais se tornou médica. Antes do final do século XVIII, a medicina não se interessava em saber o quê e o por quê do que dizia “O louco” (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). Surgiu na França, com a reforma patrocinada por Pinel e instituída por Esquirol, e serviu de modelo para as transformações na assistência psiquiátrica de todo o mundo ocidental. A assistência aos doentes mentais se transformou em responsabilidade médica e estatal (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). Final do século XVIII, Philippe Pinel difunde uma nova concepção de loucura. Fundamenta a alienação mental como distúrbios das funções intelectuais do sistema nervoso. O cérebro é a sede da mente e na mente se manifesta loucura. O cientista divide os sintomas em classes: mania, melancolia, demência e idiotismo (FELDMAN, 2015). Segundo Feldman (2015) a loucura foi considerada como um desarranjo das faculdades cerebrais, cujas principais causas seriam: Causas físicas: de origem cerebral, como pancada na cabeça, formação defeituosa do cérebro e hereditariedade; Causas morais: consideradas as mais importantes, são as paixões intensas e excessos de todos os tipos. (FELDMAN, 2015) A loucura adquire então o estatuto de doença mental, que requer um saber médico e técnicas específicas, ou seja, nesse momento, fica também constituída a psiquiatria como saber médico, que tem como seus principais representantes Pinel, na França, Tuke na Inglaterra, e posteriormente Esquirol, considerado um dos maiores teóricos dessa primeira escola psiquiátrica - o alienismo (FELDMAN, 2015). Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 29 Feldman (2015) aponta que o alienismo – para Jean-Étienne Esquirol (1872-1840) - se baseia no entendimento da loucura enquanto desrazão, ou seja, alienação mental. O tratamento vai ser baseado no Asilo, que vai ter, por si só, uma função terapêutica. A organização do espaço asilar e a disciplina rígida vão ser elementos importantes do tratamento, que consiste em confrontar a confusão do louco, sua desrazão, com a ordem do espaço asilar, e com a razão do alienista, que, para tanto, tem que ser uma pessoa de moral inatacável. No século XIX, Dorothea Dix lutou por melhoras nas condições dos locais que abrigavam doentes mentais. O médico alemão Emil Kraepelin foi o primeiro a subdividir as psicoses em dois grupos: psicose maníaco-depressiva (PMD) e esquizofrenia (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). No caminho do grande desenvolvimento científico do século XIX, a medicina firmou-se como uma ciência. A psiquiatria veio a se firmar como ciência médica algumas décadas mais tarde. A psiquiatria acompanhou, em ritmo mais lento do que outras especialidades, o desenvolvimento da medicina como ciência. Além disso, segundo Piccinini e Meleiro (2018, p. 6) a história da psiquiatria pode ser vista a partir da influência de alguns países em sua construção. Simplificando, pode-se dizer que a história começou sob a influência da língua francesa; depois, a língua alemã; e, finalmente, a língua inglesa, principalmente da vertente norte-americana. Muitos países tiveram confrontos terríveis que redundaram em duas guerras mundiais, e a animosidade entre os povos, muitas vezes, era compartilhada por seus cientistas. Tópico 2: A história da Psiquiatria no Brasil Conhecer a história dos serviços de atendimento em saúde mental, em psicologia e psiquiatria auxilia aqueles que estudam nas áreas da enfermagem e da radiologia a compreender o contexto de saúde mental atual, assim como os princípios nos quais se alicerçam as políticas públicas de saúde mental (TAVARES; CASABURI; SCHER, 2019, p. 73). Durante muitos anos, o modelo de assistência médica ofertado aos portadores de transtornos mentais em nosso país foi embasado na lógica hospitalocêntrica e excludente. O cuidado era exercido por meio da internação em grandes manicômios e o interno somente seria liberado quando considerado Embora a utilização de substâncias como terapêutica no campo das doenças mentais já ocorresse desde a Antigüidade, é a partir do século XIX que o uso de substâncias (Haldol R) que agem diretamente no sistema nervoso central passaram a ser amplamente difundidas, sendo várias delas sintetizadas na segunda metade do século. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 30 “curado”, ou seja, não ofertando mais “perigo” a sua família e à sociedade (TAVARES; CASABURI; SCHER, 2019, p. 73). Na primeira metade do século XIX, foram construídos magníficos prédios para cuidar dos doentes. No Brasil, o primeiro foi inaugurado em 1852, o Hospício Pedro II. Depois dele, outros foram construídos em diversos pontos do país. Não existia tratamento médico específico; os cuidados eram fornecidos por religiosas. Figura 02: Hospício D. Pedro II [Hospício] Nacional dos Alienados: Rio de Janeiro (RJ) Fonte: IBGE (2015). Nota: O Hospício Nacional dos Alienados, ou também Hospício D. Pedro II, foi inaugurado em 1852, e sua construção durou de 1842 a 1852. Oprédio, situado na Praia Vermelha, Zona Sul da cidade, abriga atualmente o Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O médico, quando havia, limitava-se aos cuidados físicos dos doentes. Cuidar dos doentes mentais era atividade de caridade, e a ideia de tratamento só se desenvolveu com a Proclamação da República em 1889 (ANDRADE, 2018). O tempo foi impiedoso com os asilos e seus ocupantes, superpovoados e obsoletos em seus propósitos. Recebiam cada vez mais doentes, e o tratamento era inexistente. Os recursos econômicos diminuíam, pessoas menos qualificadas eram encarregadas de cuidar dos internos e, aos poucos, os asilos foram reconstituindo em seu interior os mesmos problemas encontrados na sociedade: exclusão, Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 31 repressão, tratamentos agressivos e falta de perspectiva de recuperação e alta (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 10). 1856 - Relatórios do Hospício de Pedro II – superlotação - entrada indiscriminada de pacientes curáveis e incuráveis, afetados mentalmente ou indigentes. A crescente demanda por vagas foi um problema para a administração do hospital durante os seus anos de existência. A situação alcançou o ápice em 1862. Em carta enviada ao provedor do hospício, o médico Manoel José Barbosa se queixava que o estabelecimento já abrigava 400 pacientes e as remessas de alienados eram abusivas. Diante disso, pedia que a administração fechasse o hospício para novos pacientes, reiterando a necessidade de se criar um asilo exclusivo para inválidos, que ocupavam boa parte das instalações (ANDRADE, 2018). 1881 - Decreto no 8.024, de 12 de março, cria a cadeira de Doenças Nervosas e Mentais nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. 1882 - A Lei no 3.141, de 20 de outubro, dispõe sobre a execução do ensino de Psiquiatria no Brasil. 1890 - Decreto nº. 206, de 15 de fevereiro, cria a Assistência Médica e Legal aos Alienados e determina a criação das Colônias de São Bento e Conde de Mesquita, destinadas a pacientes do sexo masculino, tranquilos e incuráveis. Os tratamentos continuavam sem sucesso; e o número de doentes aumentava. Surgiu como solução a ideia das colônias de alienados, para onde foram transferidos os pacientes crônicos, ligando-os à atividade rural, com a ideia de utilizar o trabalho como recuperação e tratar melhor os casos agudos. Logo, tanto as colônias como os hospitais estavam superlotados (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 10). 1898 - Inaugurado, em São Paulo, o Hospital do Juqueri, sob a direção de Francisco Franco da Rocha. 1903 – Inaugurado o Hospital Colônia Barbacena, MG – com capacidade para 200 leitos, estima-se que esteve com cerca de cinco mil pacientes em 1961. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 32 Figura 03: Hospital-Hospício de Barbacena, em Minas Gerais Fonte: Lima (2013) Nota 1: Um verdadeiro campo de extermínio de pobres, negros e de quem não se adequava aos padrões. Alcoólatras, prostitutas, pessoas LGBT, inimigos políticos das elites, todo tipo de gente “indesejada”. Estimam-se 60 mil mortos nas oito décadas de existência desse hospício. Nota 2: Em nome da razão2 é um documentário brasileiro de 1979 do cineasta Helvécio Ratton. O documentário é todo filmado em preto e branco, mostrando o cotidiano dos pacientes internados no Hospital Colônia de Barbacena. No início do século XIX, os asilos foram transformados em hospitais. Por exemplo, o Hospício Pedro II passou a ser chamado Hospital Nacional dos Alienados. 1907 - Criada, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal; 1912 - A Psiquiatria torna-se uma especialidade médica autônoma; 1921 – Inaugurado Manicômio Judiciário, que se encarrega dos doentes mentais que cometem delitos. 1923 - Criada a Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM); 1924 - Inaugurada a Colônia de Psicopatas – Jacarepaguá (Colônia Juliano Moreira). Novas esperanças apareceram com os chamados tratamentos biológicos, como o choque cardiazólico de Von Meduna, o choque insulínico de Sackel e, em 1938, a eletroconvulsoterapia de Cerletti e Bini. 2 Em nome da razão. Direção de Helvécio Ratton. Produção de Tarcísio Vidigal. Barbacena: Grupo Novo de Cinema, 1979. (23 min.), VHS, P&B. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PeXjSSs4q2k. Acesso em: 02 abr. 2020 Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 33 Anos 1930: grande entusiasmo com a descoberta do choque insulínico, eletroconvulsoterapia, lobotomias; tratamento asilar e a ampliação do número de instituições de assistência às crianças anormais. Anos 1940: Psiquiatria mais poderosa e asilamento mais frequente. 1941 - Decreto-Lei no 3.171, de 2 de abril, instituiu-se o Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM), que depois passou a ser chamado Divisão Nacional de Saúde Mental (Dinsam). Começaram também os primeiros cursos de formação em psiquiatria. Antes, no Brasil, eram todos autodidatas (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 12). A partir de 1945, a psiquiatria é marcada por mudanças, tanto nas influências nacionais quanto nos esquemas diagnósticos e na terapêutica. A Segunda Guerra Mundial mudou o mundo, e a psiquiatria sofreu grandes transformações (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 12). No lado mais negativo, tornou-se pública a participação de psiquiatras na “solução final nazista”, ou seja, na morte de doentes mentais pela fome em vários países europeus, inclusive na França. Por outro lado, a especialidade passou a ser valorizada conforme a doença mental passou a ser a líder das causas de desligamentos do serviço militar. A psiquiatria passou por uma profunda transformação institucional, demonstrando ser eficaz (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 12). 1946 - Psiquiatra alagoana Nise da Silveira inaugura a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) no Centro Psiquiátrico Nacional, localizado no bairro de Engenho de Dentro. Anos 1950: fortalecimento do processo de psiquiatrização com o aparecimentos dos primeiros neurolépticos. No Brasil, em 1957, em Porto Alegre, foi criado o Curso de Formação Psiquiátrica de orientação dinâmica, liderado por David Zimmermann e Paulo Guedes. O número de psiquiatras cresceu, começaram a surgir entidades nacionais e, em 1963, foi fundada a Associação Mundial de Psiquiatria, por ocasião do terceiro congresso mundial da especialidade no Canadá. O primeiro foi em 1950, em Paris, e o segundo em 1957, em Zurique (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 12). Anos 1970: aumento das denúncias de maus-tratos e negligência nos hospitais psiquiátricos; Fim dos anos 1970: Crítica ao saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico – influência dos movimentos de reforma da Europa e EUA. Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 34 Tópico 3: Histórico da Reforma Psiquiátrica brasileira e seus marcos entre 1978 e 1991 Durante muitos anos, o modelo de assistência médica ofertado aos portadores de transtornos mentais em nosso país foi embasado na lógica hospitalocêntrica e excludente. O cuidado era exercido por meio da internação em grandes manicômios e o interno somente seria liberado quando considerado “curado”, ou seja, não ofertando mais “perigo” a sua família e à sociedade (CASABURI, 2019). Em 1978 inicia um movimento contra esse modelo asilar, excludente, com total desrespeito aos direitos humanos, chamado de Reforma Psiquiátrica brasileira. A assistência psiquiátrica, no Brasil, até a década de 1970 pode-se considerar marcada pela má qualidade de assistência aos portadores de doenças mentais, superlotação das instituições psiquiátricas, comercialização da loucura e cronificação do doente mental, tendo como vertente principal o modelo médico
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