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Ilicitude ou Antijuricidade Direito Penal @ANDEERSONROBERTO RELEMBRANDO CONCEITOS INICIAIS CONCEITO: É a relação de contrariedade, oposição ou antagonismo entre a conduta típica e o ordenamento jurídico. COMPREENSÃO: Após analisar a tipicidade do fato, o segundo passo é verificar se ele também é antijurídico. O fato – além de ser formal e materialmente típico – precisa ser contrário ao ordenamento jurídico, quer dizer: não pode haver nenhuma norma que autorize a prática do comportamento típico. É possível, portanto, que alguém pratique uma conduta tipificada na lei e, mesmo assim, não responda por crime. EVOLUÇÃO HISTÓRICA 1ª Fase → Tipo avalorado: tipicidade e ilicitude são estruturas absolutamente autônomas e independentes, ou seja, a constatação da tipicidade não conduz à afirmação/negação da ilicitude. A função do tipo é meramente descritiva. 2ª Fase → Teoria indiciária da ilicitude (ratio cognoscendi): com a evolução dogmática, percebeu-se que a própria seleção de condutas típicas já encerrava uma desvaloração, que poderia ser confirmada ou infirmada em momento posterior. A tipicidade está para a ilicitude, tal como a fumaça está para o fogo. A tipicidade faz nascer um juízo provisório de ilicitude (indício), embora não seja um juízo definitivo. 3ª Fase → Teorias que sobrepõem tipicidade e ilicitude (ratio essendi): considera que a afirmação da tipicidade implica em si a afirmação também da ilicitude. É como se o tipo de homicídio fosse, implicitamente, assim descrito: “matar alguém, salvo em legítima defesa, estado de necessidade, etc.”. A existência de uma causa de justificação afastaria a própria tipicidade da conduta. CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO / TIPOS PERMISSIVOS Conforme lição de Figueiredo Dias: “à exclusão da ilicitude dá-se por tipos permissivos. A norma jurídica materializa um comando que impõe a observância obrigatória a todos. O preceito permissivo, por sua vez, faculta aos seus destinatários a realização de determinada conduta, de forma que eles – os tipos permissivos – garantem, na prática, um direito à agressão ao bem jurídico alheio”. ELEMENTOS NAS CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO APENAS OBJETIVOS Para essa corrente, as causas de justificação exigem apenas a constatação fática de deus pressupostos objetivos. Diz Hungria: “A legítima defesa é causa objetiva de exclusão de antijuridicidade, dependendo da ocorrência de seus elementos objetivos. Nada tem a ver com a opinião ou crença do agredido ou da agressão”. Ex.: Tício, ao voltar à noite para casa, percebe que dois sujeitos procuram barrar-lhe, em atitude hostil. Tício os abates a tiros, supondo que são policiais buscando prendê-lo. Na verdade, são ladrões que o querem despojar, configurando legítima defesa”. OBJETIVOS E SUBJETIVOS Posição hoje majoritária, exigindo o conhecimento a respeito da situação justificante e a vontade de praticar a conduta para atender aos fins do tipo permissivo (repelir injusta agressão etc.). Objetivamente a causa justificante define situação fática que retrará um conflito de interesses juridicamente tutelados. Subjetivamente, a causa de justificação exige que o autor da violação tenha se orientado por finalidade compatível com a preservação de um dos interesses envolvido. @ANDEERSONROBERTO INFORMAÇÕES IMPORTANTES ▪ Exclusão de ilicitude Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - Em estado de necessidade; II - Em legítima defesa; III - Em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito; Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. ROL DAS CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO: o rol do artigo 23 do CP é exaustivo ou exemplificativo? SUPRALEGAL? Todas as causas justificantes estão previstas em lei, ou admite-se, no ordenamento jurídico brasileiro, causa supralegal de exclusão de ilicitude? CLASSIFICAÇÃO: i) Causas relacionadas a uma situação fática; ii) Causas relacionadas a uma situação jurídica. EXCLUDENTES DE ILICITUDE EM ESPÉCIE • ESTADO DE NECESSIDADE • LEGÍTIMA DEFESA • ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL • EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO • CONSENTIMENTO DO OFENDIDO ESTADO DE NECESSIDADE Estado de necessidade consiste em hipótese em que o agente pratica conduta típica, mas, por força de colisão de dois ou mais interesses juridicamente protegidos, o sacrifício de um para salvaguardar a sobrevivência do outro estará considerado como justificado, diante da impossibilidade de salvamento de todos os bens postos em perigo. Estado de necessidade consiste em hipótese em que o agente pratica conduta típica, mas, por força de colisão de dois ou mais interesses juridicamente protegidos, o sacrifício de um para salvaguardar a sobrevivência do outro estará considerado como justificado, diante da impossibilidade de salvamento de todos os bens postos em perigo. “A” e “B”, náufragos, tentam sobreviver com uma tábua flutuante, sendo, porém, manifesto que ela apenas pode suportar um deles. Cada um deles procura afastar o outro da tábua à força. “A” consegue salvar-se, “B” afoga-se. Estado de necessidade justificante e estado de necessidade exculpante Existe a discussão entre as chamadas teorias unitária ou diferenciadora, ou seja, se haveria unicamente o chamado estado de necessidade justificante (excludente da ilicitude) ou se existiria, ao lado deste, o chamado estado de necessidade exculpante (excludente da culpabilidade). No Brasil, todavia, a lei e a maior parte da doutrina não fazem essa distinção. Em suma, pela análise do art. 24, não se pode inferir a adoção da teoria diferenciadora, mas, somente, da teoria unitária, isto é, o sacrifício de bens de igual hierarquia será considerado, entre nós, como estado de necessidade justificante. Estado de necessidade Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. @ANDEERSONROBERTO REQUISITOS DO ESTADO DE NECESSIDADE: De acordo com Bitencourt, “A configuração do estado de necessidade exige, no Direito brasileiro, a presença simultânea dos seguintes requisitos: existência de perigo atual e inevitável a um direito (bem jurídico) próprio ou alheio; não provocação voluntária do perigo; inevitabilidade do perigo por outro meio; inexigibilidade de sacrifício do bem ameaçado; elemento subjetivo: finalidade de salvar o bem do perigo; ausência de dever legal de enfrentar o perigo.” ▪ O perigo precisa ser atual! Mas pode ser iminente? Majoritariamente, não. ▪ Perigo provocado dolosamente afasta o estado de necessidade. E o perigo provocado culposamente? Majoritariamente entende que afasta. ▪ Inexistência do dever de enfrentar o perigo: garantidor legal vs. Garantidor “contratual”. (Doutrina dividida) ▪ Inexistência do dever de enfrentar o perigo vs. Inexistência do dever de enfrentar o dano certo. ▪ Juízo de proporcionalidade: exigibilidade do sacrifício e método de aferição ▪ Estado de necessidade defensivo (defesa direcionada) vs. Agressivo (terceiro). LEGÍTIMA DEFESA FUNDAMENTO: Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (art. 25, CP). Trata-se de forma histórica, reconhecida pelo Estado, de reação imediata contra uma agressão injusta, atual ou iminente. Seu fundamento reside na defesa de bens jurídicos (e na defesado próprio ordenamento jurídico) quando diante de um ataque injusto. Não atua contra o Direito quem reage para tutelar o próprio direito. Conforme lecionado por Welzel, legítima defesa é aquela resposta requerida para repelir de si ou de outro uma agressão atual e ilegítima REQUISITOS → AGRESSÃO → ILICITUDE DA AGRESSÃO → ATUALIDADE OU IMINÊNCIA DA AGRESSÃO → COMMODUS DISCESSUS? → DIREITO AMEAÇADO (PRÓPRIO OU ALHEIO) → NECESSIDADE E MODERAÇÃO → REQUISITO SUBJETIVO APROFUNDAMENTO → Se a agressão for involuntária? → Agressão x Provocação → Legítima defesa recíproca? → Legítima defesa sucessiva? ATENTE-SE: A agressão é de outra pessoa ou é em razão de fato da natureza/animal? A agressão ocorreu? Ocorrerá? Está ocorrendo? Juízo de proporcionalidade É possível a legítima defesa de terceiro? ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL FUNDAMENTO: O cumprimento estrito, ou seja, não excessivo, do dever emanado da lei, não pode, evidentemente, ser tido como antijurídico. Há situações em que a lei determina que seus executores realizem atos que lesionam bens jurídicos alheios. É o que ocorre em ações de penhora de bens, de execução de prisões, do poder de polícia e da fiscalização de gêneros alimentícios. Atente-se, contudo, que a ação só estará justificada se o servidor se valer de um preceito legal. Não basta, assim, um preceito moral ou religioso. ▪ REQUISITOS DEVER LEGAL: É necessária a existência de um dever legal, lei, no caso, em sentido amplo (lei, decreto, regulamento). Não basta, portanto, mero dever contratual (que pode dar azo, eventualmente, ao exercício regular de direito). Quem pode atuar sob o pálio dessa causa justificante? 1) agente público, ou particular exercendo função pública; 2) mesmo particulares que atuam sob imposição legal (pais na educação dos filhos). @ANDEERSONROBERTO ATUAÇÃO NOS ESTRITOS LIMITES DO DEVER: a atuação que extrapole os limites do dever legal configura excesso na justificação, que será punido (dolosa ou culposamente). REQUISITO SUBJETIVO: Consciência e vontade de atuar em cumprimento do dever de ofício. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO FUNDAMENTO: O exercício de um direito, desde que regular, não pode ser, ao mesmo tempo, proibido pela ordem jurídica. Regular será o exercício que se contiver nos limites objetivos e subjetivos, formais e materiais impostos pelos próprios fins do Direito. Fora desses limites, haverá o abuso de direito e estará, portanto, excluída essa causa de justificação prevista no art. 23, III, do nosso Código Penal. O exercício regular de um direito jamais poderá ser antijurídico. REQUISITOS: I) Existência de um direito; II) Atuação regular; III) Requisito subjetivo (consciência de exercer um direito). A violência esportiva, quando o esporte é exercido nos estritos termos da disciplina que o regulamenta, não constitui crime. O resultado danoso que decorre do boxe, da luta livre, futebol etc., como atividades esportivas autorizadas e regularizadas pelo Estado, constitui exercício regular de direito. Se, no entanto, o desportista afastar-se das regras que disciplinam a modalidade esportiva que desenvolve, responderá pelo resultado lesivo que produzir, segundo seu dolo ou sua culpa Ofendículos são as chamadas defesas predispostas, que, de regra, constituem--se de dispositivos ou instrumentos objetivando impedir ou dificultar a ofensa ao bem jurídico protegido, seja patrimônio, domicílio ou qualquer outro bem jurídico. A decisão de instalar os ofendículos constitui exercício regular de direito, isto é, exercício do direito de auto proteger-se. No entanto, quando reage ao ataque esperado, inegavelmente, constitui legítima defesa preordenada. Exige-se redobrada cautela no uso das chamadas ofendículos, pois o risco da sua utilização inadequada corre por conta de quem as utiliza. A necessidade da moderação dos efeitos que tais obstáculos podem produzir ganha relevância quando se os situam dentro do instituto da legítima defesa, com a exigência da presença de todos os seus requisitos. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO ▪ Prevalece na doutrina que o consentimento do ofendido configura, em determinados casos, causa supralegal da exclusão da antijuridicidade. ▪ A questão geralmente é colocada da seguinte maneira: Nos crimes em que o dissenso da vítima é elemento do tipo: (ex.: estupro ou violação de domicílio). Exclusão da tipicidade. Nos crimes em que o dissenso da vítima não integra o tipo: Direito disponível: (ex.: lesão leve praticada entre capazes durante ato sexual). Exclusão da ilicitude. Direito Indisponível: (ex.: homicídio a pedido da vítima). O consentimento é irrelevante. Observação: Doutrina defendida por Roxin, para o qual o consentimento da vítima, sendo válido, sempre exclui a tipicidade. Roxin entende que “se os bens jurídicos devem servir para o livre desenvolvimento particular, não pode existir uma lesão do bem jurídico quando a ação se baseia em uma disposição do portador do bem jurídico que não afeta seu livre desenvolvimento, mas ao contrário, constitui sua expressão”. FUNDAMENTOS ▪ Ausência de interesse ▪ Renúncia à proteção do Direito Penal ▪ Ponderação de valores REQUISITOS ▪ Expresso (ou real): ▪ Livre: ▪ Moral e bons costumes(?) ▪ Prévio ▪ Plenamente capaz @ANDEERSONROBERTO
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