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Fato antijurídico (2º elemento do crime) Conceito: configura-se o fato antijurídico (ou ilícito), na esfera do Direito Penal, quando um FATO TÍPICO é praticado em contexto de contrariedade ao direito. Percebamos, pelo conceito em si, que a existência de fato antijurídico depende da prévia existência de fato típico: se o fato não chega a ser típico, é IMPOSSÍVEL ele ser antijurídico; agora, caso o fato seja típico já se pode afirmar que ele, também, é antijurídico? Resposta: NÃO. Por quê? Porque, para ser antijurídico, o fato típico precisa ser praticado em contexto de contrariedade ao direito; caso o fato típico seja praticado em contexto onde não existe contrariedade ao direito, este fato típico estará JUSTIFICADO perante o ordenamento jurídico e, portanto, não será antijurídico. Nesta linha de raciocínio, podemos afirmar que a relação entre a existência de um fato típico e a existência de um fato antijurídico é de INDICIARIEDADE (essa relação é regida pela teoria da ratio cognoscendi). *indícios Observação: existe uma outra teoria, denominada de ratio essendi, onde se defende a ideia de que a prática de um fato típico, por si só, já é certeza de que também foi antijurídico. Exemplo 1: FULANO mata SICRANA porque sente prazer em tirar a vida humana. Neste caso temos FATO TÍPICO (artigo 121, CPB: matar alguém) e também ANTIJURÍDICO, pois o contexto (matar por sentir prazer em tirar a vida humana) é de contrariedade ao direito. Exemplo 2: FULANO mata SICRANA porque estava em situação de que se não a matasse ele quem seria morto. Neste caso temos FATO TÍPICO (artigo 121, CPB: matar alguém), mas que não é ANTIJURÍDICO, pois o contexto (ou matava ou morria - legítima defesa) NÃO é de contrariedade ao direito. Assim, podemos afirmar, com toda certeza, que para determinado FATO ser ANTIJURÍDICO, na esfera penal, DOIS são os requisitos, cumulativos e nesta ordem: 1) o fato precisa, primeiramente, ser TÍPICO; Exemplo: caso FULANO transe com a própria mãe, de forma consentida (por mais que este fato cause repulsa social), podemos dizer que este fato, para o Direito Penal, é LÍCITO (não antijurídico), pois nem mesmo foi típico. 2) caso o fato seja TÍPICO, é necessário que ele tenha sido praticado em contexto de contrariedade ao direito (antijuridicidade); E quais são os contextos onde a prática de um fato típico não contraria o direito e está, portanto, justificado perante ele, não sendo, alfim, antijurídico? São os contextos das causas de exclusão de antijuridicidade (artigo 23 do Código Penal). Exemplo: FULANO, policial, prendeu, em flagrante delito, SICRANO. FULANO praticou fato típico (artigo 148 do Código Penal), mas em contexto de não contrariedade ao direito (causa de exclusão de antijuridicidade: estrito cumprimento de um dever legal), logo não há fato antijurídico. Perceba: as causas de exclusão da antijuridicidade/ilicitude (justificantes) são, portanto, institutos jurídicos que fazem com que a prática de um fato típico não seja contrário ao direito, não seja antijurídico; para isto, entretanto, é necessário que o agente aja nos estritos limites da situação que as ensejaram (como veremos doravante, estado de perigo no estado de necessidade, agressão na legítima defesa, obrigação no estrito cumprimento de um dever legal e faculdade no exercício regular de direito). Ultrapassado este limite o agente não mais está em situação de conformidade com o direito e passará, a partir do momento da ultrapassagem, a estar em contrariedade ao direito, praticando, portanto, fato típico e antijurídico. *são exemplificativas Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - em legítima defesa; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (Vide ADPF 779) III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) * Esse artigo mencione a existência de 4 causas de exclusão de ilicitude, mas a lei conceitua apenas duas *outra causa de exclusão de ilicitude é o consentimento do ofendido, criado pela doutrina. ATENÇÃO!!!!: além destas causas LEGAIS de exclusão de antijuridicidade, existem situações onde o CONSENTIMENTO DO OFENDIDO funciona como causa de exclusão de antijuridicidade, atuando como causa EXTRA LEGAL, pois é criação doutrinária. ATENÇÃO: o artigo 65 do CPP preconiza que faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Por quê? Porque se um fato for ilícito no direito penal, também o será nos demais ramos do direito. A recíproca, contudo, não é verdadeira: podemos ter um fato ilícito para o direito civil e lícito para o direito penal. *se então, na esfera criminal, você e absolvido por ter agido em legitima defesa, você estará absolvido na esfera civil EXCEÇÃO À REGRA DO ARTIGO 65 DO CPP: estado de necessidade agressivo e legítima defesa com erro na execução. “Art. 24: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços." Compreensão inicial: no estado de necessidade, uma pessoa irá sacrificar DETERMINADO bem jurídico com a finalidade de proteção a OUTRO bem jurídico. A peculiaridade, neste ponto, é que tanto o titular do bem jurídico sacrificado quanto o titular do bem jurídico protegido estão em situação de LICITUDE, logo um pode agir em estado de necessidade contra o outro e este outro também poderá agir em estado de necessidade contra aquele um. Da letra da lei, a doutrina extrai os seguintes REQUISITOS (CUMULATIVOS E OBRIGATÓRIOS) para que o agente possa praticar um fato típico, mas NÃO antijurídico, por haver contexto de estado de necessidade (nesta ordem de aferição): 1) o agente precisa estar diante de uma situação de PERIGO ATUAL; 2) o agente não pode ter sido o provocador, doloso, deste perigo; 3) possuir a finalidade de salvamento de bem jurídico próprio ou de terceira pessoa; 4) o fato típico praticado neste contexto precisa ser indispensável para a proteção do bem jurídico; 5) o agente não pode, como regra, possuir o dever legal de enfrentamento do perigo 6) precisa haver proporcionalidade entre o bem jurídico que foi sacrificado e o bem jurídico que foi protegido. ANÁLISE DE CADA UM DELES: Perigo atual: deverá ser interpretado como um perigo real e concreto que está acontecendo no exato momento em que a ação necessitada deve ser realizada para salvar o bem ameaçado, sem a qual este seria destruído ou lesado. O perigo pode advir de ações humanas ou da natureza. Não é perigo iminente, ele é tão somente ATUAL. Não provocação voluntária do perigo: caso o agente tenha provocado dolosamente o perigo do qual quer se salvar, jamais poderá alegar em seu favor a justificante do estado de necessidade. Observação: caso o agente tenha provocado culposamente o perigo do qual quer se salvar, poderá alegar em seu favor a justificante do estado de necessidade. Salvamento de direito próprio ou alheio: o agente praticará determinado fato típico para salvaguardar bem jurídico próprio ou de terceiros. Inevitabilidade da prática do fato típico: o fatotípico praticado pelo agente que buscou salvar o direito próprio ou de terceiro deverá ter sido absolutamente inevitável; caso houvesse outra alternativa menos gravosa (commodus discessus) não se poderá cogitar da presença da justificante do estado de necessidade. Inexistência de dever legal para enfrentar o perigo: aqueles que têm por lei a obrigação de enfrentar o perigo não podem, como regra, optar pela saída mais cômoda, deixando de enfrentar o risco, a pretexto de proteger bem jurídico próprio. Proporcionalidade entre bem jurídico sacrificado e bem jurídico protegido: o Código Penal, que adota uma teoria chamada de unitária, não permite que o estado de necessidade justifique (exclua a antijuridicidade) do fato típico praticado se o bem jurídico sacrificado tiver valor menor do que o bem jurídico protegido. BEM PROTEGIDO BEM SACRIFICADO TEORIA UNITÁRIA igual igual justificante maior menor justificante menor maior Diminuição de pena Neste caso, presentes os demais requisitos anteriores, o Código Penal permite a aplicação de uma causa de diminuição de pena (art. 24, § 2º, CPB). Observação: outra teoria, chamada de diferenciadora, defende que o estado de necessidade pode atuar como excludente de antijuridicidade no caso de o bem sacrificado possuir valor menor ou igual ao bem jurídico protegido ou como excludente de culpabilidade no caso de o bem sacrificado possuir valor maior do que o bem protegido. O Código Penal comum não adotou essa teoria, mas o Código Penal Militar a adotou. Questionamentos especiais: a) estado de necessidade defensivo x estado de necessidade agressivo: entende-se por defensivo o estado de necessidade quando o fato típico praticado pelo agente que sob ele agiu atinge bem jurídico oriundo do provocador do perigo, ex: para se salvar do fogo, você para passar, empurra uma pessoa que causou o incêndio; entende-se por agressivo o estado de necessidade quando o fato típico praticado pelo agente que sob ele agiu atinge bem jurídico de pessoa que nada teve a ver com a situação de perigo. b) conhecimento da situação justificante: não se aplica a excludente quando o sujeito não tem conhecimento de que age para salvar um bem jurídico próprio ou alheio. O conhecimento acerca da situação de risco é chamado de elemento subjetivo da excludente de ilicitude. c) estado de necessidade com erro na execução: é possível que o agente, no momento em que pratica o fato para salvar de perigo direito próprio ou alheio, acabe atingindo, por erro na execução, bem jurídico de terceiro. Neste caso, aplicando-se o disposto no art. 73 do Código Penal, considera-se cometido o fato contra a pessoa ou o objeto pretendido, não contra aquele efetivamente atingido em decorrência do erro. "Art. 25: Considera-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.” Compreensão inicial: na legítima defesa, uma pessoa irá se defender ou defender terceiro de uma agressão humana injusta, atual ou iminente, a bem jurídico próprio ou alheio. A peculiaridade, neste ponto, é que apenas o titular do bem jurídico agredido está em situação de LICITUDE, logo é impossível que alguém aja em legítima defesa contra quem também estiver em legítima defesa ou em qualquer outra causa de exclusão de antijuridicidade. Da letra da lei, a doutrina extrai os seguintes REQUISITOS (CUMULATIVOS E OBRIGATÓRIOS) para que o agente possa praticar um fato típico, mas NÃO antijurídico, por haver contexto de legítima defesa (nesta ordem de aferição): 1) o agente precisa estar diante de agressão (não basta que seja apenas uma provocação) injusta e atual ou iminente; 2) possuir a finalidade de autodefesa ou defesa de terceiro; 3) proporcionalidade na defesa. Agressão: entende-se por agressão qualquer conduta humana direcionada, seja ou não criminosa, a lesar ou pôr em perigo um bem juridicamente tutelado; Agressão injusta: toda aquela, criminosa ou não, que não é autorizada pelo direito. Observação: qualquer bem jurídico pode ser protegido pelo instituto da legítima defesa, para repelir agressão injusta a ele, sendo irrelevante a distinção entre bens pessoais e impessoais, disponíveis e indisponíveis, desde que haja proporcionalidade. A honra também é um bem jurídico possível de responder em legitima defesa!!!. Marido que agride mulher que o traiu não age em legitima defesa, mas não porque não pode agir em legitima defesa da honra, mas sim pela ausência de requisitos legais, como atualidade e nproporcionalidade. Atualidade ou iminência da agressão: atual é a agressão que está acontecendo, isto é, que ainda não foi concluída; iminente é a que está prestes a acontecer, que não admite nenhuma demora para a repulsa. Proporcionalidade na defesa: o agente está autorizado a fazer apenas o necessário, no caso concreto, para que a agressão injusta ao bem jurídico cesse. Questionamentos especiais. a) conhecimento da situação justificante: embora a LEI não exija, não se aplica a excludente quando o sujeito não tem conhecimento de que age para defender um bem jurídico próprio ou alheio. O conhecimento acerca da situação de risco é chamado de elemento subjetivo da excludente de ilicitude (animus defendendi). b) legítima defesa com erro na execução: é possível que o agente, no momento em que repele uma agressão injusta, acabe atingindo, por erro na execução, bem jurídico de terceiro inocente. Neste caso, aplicando-se o disposto no art. 73 do Código Penal, considera-se cometido o fato contra a pessoa ou o objeto pretendido, não contra aquele efetivamente atingido em decorrência do erro. c) legítima defesa sucessiva: é a repulsa do agressor inicial contra o excesso. Assim, a pessoa que estava inicialmente se defendendo, no momento do excesso, passa a ser considerada agressora, de forma a permitir legítima defesa por parte do primeiro agressor. d) commodus discessus na legítima defesa: não se exige. Estrito cumprimento de dever legal: ocorre quando o agente, seja ou não funcionário público, é obrigado, pela lei, a praticar determinado fato típico. Cuidado: lei, aqui, deve ser interpretado amplamente, no sentido de que esse dever pode constar de leis, decretos, regulamentos ou atos administrativos fundados em lei, que sejam de caráter geral, e, até mesmo, por força de decisão judicial. Atenção: o estrito cumprimento de dever legal é comunicável, nos termos do artigo 30 do Código Penal. Exercício regular de um direito: ocorre quando o agente tem o direito, embora não tenha o dever, de praticar determinado fato típico. Cuidado: direito, aqui, deve ser interpretado amplamente, no sentido de que esse dever pode constar de leis, decretos, regulamentos ou atos administrativos fundados em lei, que sejam de caráter geral, e, até mesmo, por força de decisão judicial. Ofendículos x armadilha: ofendículos são aparatos visíveis destinados à defesa da propriedade ou de qualquer outro bem jurídico. São exemplos as lanças ou cacos de vidros afixados em portões e muros; as telas ou cercas elétricas acompanhadas do respectivo aviso. O uso de ofendículos é lícito, desde que sem excessos e, assim, o responsável não responde por eventuais resultados lesivos que dele decorram; armadilhas são aparatos ocultos que têm a mesma finalidade dos ofendículos, contudo não amparados pelo direito. Exemplos: telas elétricas desacompanhadas de aviso, armas que disparam automaticamente quando alguém tenta ingressar em uma residência. Nesses casos, o responsável responde pelo resultado lesivo ocasionado por elas. : pode atuar, no caso concreto, como excludentede ilicitude ou de tipicidade. Regra: Excluir a ilicitude, quando a existência/inexistência do consentimento da vítima não afetar o juízo de tipicidade. Exemplo: No crime de lesão corporal, ainda que a vítima consinta para com a lesão (no caso do masoquismo, por exemplo) haverá tipicidade da conduta (causar lesão corporal) para com o tipo penal do artigo 129 do CPB (ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem). Para que o consentimento do ofendido possa excluir a ilicitude são exigidos os seguintes requisitos, concomitantemente: a) ofendido capaz; b) bem jurídico disponível. *vida é um bem jurídico indisponível. c) consentimento explícito e anterior ou concomitante à agressão. Exceção: Excluir a tipicidade, quando a existência/inexistência do consentimento da vítima afetar o juízo de tipicidade. * a tipicidade do comportamento contem o consenso ou discenso da vítima. Exemplo: O fato de uma pessoa ter relações sexuais com outra pode ser típico ou atípico, a depender da existência ou inexistência do consentimento da vítima. Se o sexo for com consentimento, o fato é atípico. Se o sexo for sem consentimento, o fato é típico (estupro). Excesso punível: todas as justificantes, como vimos, possuem uma razão para existir; cessada esta razão, elas desaparecem e o agente responde por todos os atos que praticar além dela, seja dolosamente ou culposamente (art. 23, p. único, CPB)
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