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ETICA E CIDADANIA

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Núcleo de Educação a Distância
GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO
Diagramação: Gildenor Silva Fonseca
PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.
O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para 
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por 
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.
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Prezado(a) Pós-Graduando(a),
Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!
Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança 
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se 
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as 
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma 
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a 
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. 
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas 
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são 
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver 
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo 
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de 
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) 
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. 
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos 
conhecimentos.
Um abraço,
Grupo Prominas - Educação e Tecnologia
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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! .
É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha 
é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é 
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização. 
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como 
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua 
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo 
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de 
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.
Estude bastante e um grande abraço!
Professora: Viviane Giombelli
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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao 
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela 
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes 
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao 
seu sucesso profissional.
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 CAPÍTULO 01
ÉTICA E MORAL: CONCEITOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Apresentação do Módulo ______________________________________ 11
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O que é Ética e Moral? _________________________________________
Evolução Histórica dos Conceitos ______________________________
A Relação entre Ética e Moral ___________________________________
Recapitulando _________________________________________________
 CAPÍTULO 02
ÉTICA E MORAL NAS RELAÇÕES SOCIAIS
Ética, Moral e Direito ___________________________________________
Ética das Convicções e Ética da Responsabilidade ______________
Recapitulando _________________________________________________
Ética na Política _______________________________________________
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Cidadania e Direitos Fundamentais ______________________________
A Cidadania no Império _________________________________________
Os Desafios para o Exercício Pleno da Cidadania _________________
A Cidadania no Mundo Globalizado ______________________________
A Cidadania na República _______________________________________
A Cidadania e as Desigualdades Sociais __________________________
Recapitulando __________________________________________________
A Cidadania na Redemocratização ______________________________
Recapitulando __________________________________________________
Recapitulando __________________________________________________
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 CAPÍTULO 03
ÉTICA, MORAL E POLÍTICA: A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
 CAPÍTULO 04
CIDADANIA NO BRASIL
 CAPÍTULO 05
DESAFIOS DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA NO BRASIL
O Conceito de Cidadania e sua Evolução Histórica ______________
A Afirmação da Ideia de Cidadania no Brasil ____________________
A Consolidação da Democracia após 1988 ______________________
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A Responsabilidade Social das Organizações _____________________
Ética nas Burocracias Públicas e Privadas ________________________
O Código de Ética Profissional ___________________________________
Ética e Cidadania nas Relações de Trabalho ______________________
Recapitulando __________________________________________________
Glossário ________________________________________________________
Fechando a Unidade ____________________________________________
Referências _____________________________________________________
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 CAPÍTULO 06
ÉTICA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO: 
O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL
Ética, Mercado e Instituições ___________________________________ 83
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A Unidade 1 aborda a definição dos conceitos de Moral e de 
Ética à luz do contexto histórico. Os conceitos de Moral e de Ética, como 
será visto, se referem a objetos distintos, mas guardam relações estrei-
tas entre si. 
A Unidade 2 trata da aplicação dos conceitos de Ética e de 
Moral nas relações sociais. Direito e Política, dois campos das relações 
sociais, dialogam diretamente com a Moral e com a Ética. Esta unidade 
aborda ainda a diferença entre Ética das Convicções e Ética da Res-
ponsabilidade, dois conceito essenciais para a compreensão da ética 
no contexto social. 
A Unidade 3 aborda a temática da Ética, da Moral e da Política 
na construção do sentimento de cidadania. Aborda ainda a relação en-
tre cidadania e a afirmação histórica dos direitos fundamentais, base da 
democracia. A unidade finaliza com a análise do fenômeno da cidadania 
em contexto de globalização.
A Unidade 4 analisa como se deu a construção do pensamento 
sobre cidadania no Brasil, da Colônia até a República, à luz das con-
quistas democráticas. Será visto de que modo a Constituição de 1988 
pavimentou o caminho para o exercício da democracia em um contexto 
de liberdades, de separação de Poderes e de maior autonomia para as 
instituições. 
A Unidade 5 trata do desenvolvimento da cidadania no Brasil 
após a promulgação da Constituição de 1988. Analisa, dessa forma, 
como os cidadãos podem exercer seus direitos e quais os limites de 
atuação no Estado na salvaguarda dos direitose garantias fundamen-
tais. Por fim, aborda a problemática do patrimonialismo e como afeta o 
Estado de Direito
A Unidade 6 analisa as questões éticas à luz das relações de 
trabalho. Compreenderá uma discussão sobre a ética no mercado, nas 
instituições e na burocracia, a responsabilidade social das organizações 
e a ética nas burocracias. Por fim, analisa o fenômeno da normatização 
de comportamentos éticos, o Código de Ética Profissional e a importân-
cia da ética e da cidadania no mundo do trabalho.
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O QUE É ÉTICA E MORAL?
Ética e moral são conceitos distintos, mas que guardam estreita 
relação entre si. A ética é a tradução etimológica do termo ethos (hábito, 
habitualidade, comportamento reiterado). O hábito revela a personalida-
de. A questão da ética é essencialmente prática e envolve pensar sobre 
aquilo que o sujeito faz enquanto ser que faz escolhas e toma decisões 
(agente) ou que é impacto pelas escolhas ou pelas decisões de outras 
pessoas (reagente). Em outras palavras, a ética é a liberdade interior de 
cada indivíduo, isto é, aquilo que cada um considera ser bom ou ruim, 
vicioso ou virtuoso para si mesmo. O conceito de moral, por sua vez, diz 
respeito aos grandes paradigmas e valores de um determinado grupo 
social em um dado tempo. Trata-se de um consenso coletivo para o 
comportamento dos indivíduos e a condução da vida em comunidade. 
ÉTICA MORAL:
CONCEITOS & EVOLUÇÃO HISTÓRICA
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Há um convívio dialético entre ética (do indivíduo) e moral (do 
grupo). A decisão ética não é simples fruto da cultura, mas também da 
história pessoal do indivíduo. Sócrates, um dos maiores filósofos da 
Humanidade, questionava os valores da sociedade da Grécia Antiga. 
Acusado de corromper o juízo da sociedade atensiense, Sócrates per-
guntava, entre outras questões, o que era o bem e o que era o mal, algo 
sem resposta até os dias de hoje. O ato socrático de questionar a moral 
estabelecida em sua época era visto como algo subversivo e desestabi-
lizador, pois colocava em dúvida as verdades estabelecias. 
A Antropologia, ao estudar o homem como produtor de cultura, 
tem grande contribuição a dar ao estudo da ética. A Psicologia, por seu 
turno, discute como o indivíduo toma suas decisões pessoais. Por que 
tomou essa decisão? Do mesmo modo, a História e a Sociologia são 
ciências que ajudam a iluminar o entendimento da moral e da ética.
Não podemos confundir: a moral é o conjunto coletivo de va-
lores e paradigmas, ou seja, as regras convencionadas por um grupo 
social. Já a ética é liberdade individual para considerar o que bom ou 
ruim para si e por si mesmo.
A Ética, entretanto, não é uma ciência. Seu objetivo não é pro-
duzir respostas absolutas para os problemas humanos. O que a Ética 
busca é refletir acerca da ação humana e sobre os seus valores fun-
damentais. Os valores não são permanentes, imutáveis ou aplicáveis 
a todas as situações. Sempre temos que decidir e fazer escolhas. Os 
indivíduos podem decidir de acordo com a moral do grupo ou contra a 
essa moral. Será que tudo o que é licito é moral? Será que tudo o que 
é legal é ético? Os valores são relativos e as decisões humanas são to-
madas no calor das circunstâncias. A cada momento temos que decidir 
o que é bom ou ruim, o que fazer e o que não fazer, com base em nossa 
condição de indivíduo.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS
O objeto da reflexão ética é o comportamento humano. É im-
possível sustentar uma comunidade imensa de pessoas vivendo sob 
uma única ética. Da mesma forma, é tarefa difícil estabelecer o limite 
entre o ético e o antiético. Isso se traduz em uma sensação de não se 
identificar com clareza a barreira entre o que se pode e o que não se 
pode fazer. 
A principal característica das sociedades contemporâneas é a 
insegurança. Isso se traduz em uma sensação permanente de deso-
rientação social, confusão e incerteza. Existe um padrão de compor-
tamento? E um valor universal? Qual é o valor absoluto? Não há res-
postas fixas para estas perguntas. Se por um lado a flexibilização dos 
valores universais traz uma sensação inédita de liberdade, por outro a 
ausência de paradigmas de comportamentos dificulta enormemente a 
decisão. A multiplicidade de escolhas e de oportunidades passa a ser 
um instrumento opressor da liberdade. As dúvidas e as inseguranças 
passam a ser frequentes. 
Como resposta a este cenário de incertezas, ocorre a chamada 
“tribalização” da sociedade: as pessoas não se comportam segundo va-
lores universais aplicáveis a todos, mas dentro dos valores do seu gru-
po (MAFFESOLI, 1997). Essa instabilidade traz grandes impactos nos 
campos político, jurídico, social, cultural e religioso. Um comportamento 
que os indivíduos buscam na tentativa de lidar com a insegurança é a 
busca do passado ou de padrões tradicionais assentados em valores 
religiosos e familiares.
Os grandes paradigmas da vida moderna passam por uma 
revisão profunda. Isso produz uma serie de transformações sociais. A 
crescente individualização das responsabilidades sociais leva à desa-
gregação dos instrumentos sociais de decisão consensual, como a po-
lítica. O Estado e Direito também parecem não ser mais instrumentos 
eficazes para balizar os comportamentos humanos. 
Existe, ademais, a mentalidade que supervaloriza o homem 
capitalista em face da dimensão do social, do coletivo ou do político. 
Diante da sensação de desgoverno das funções estatais, da incapa-
cidade de atender às necessidades fundamentais e da sensação de 
insegurança generalizada, as categorias universais são substituídas por 
valores individuais. 
A falta de parâmetros morais leva à insegurança nas decisões. 
Cada um passa a valer pelo que produz e pelo que consome. É mais 
importante ter do que ser. O mercado determina o que é a essência. E 
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quem está fora do mercado? E quem não tem poder de troca? Neste 
contexto, a dignidade da pessoa humana acaba perdendo sentido e as 
pessoas que estão fora da relação de consumo são desconsideradas 
enquanto sujeitos. Nessa linha, a pergunta fundamental da ética (como 
agir) encontra uma resposta retórica nas questões relativas à exclusão 
social.
Os povos antigos não conheceram a diferença entre o mundo 
da ação política, o mundo do direito e o mundo do exercício do pensa-
mento. Na Antiguidade, há uma certa integralidade dos pensamentos. 
Eles não tratavam as coisas de modo cartesiano, departamentalizando 
o saber humano. Os antigos lidavam com o mundo de modo muito in-
tegrado; não havia a separação entre direito e a moral. As sociedades 
medievais também não faziam essa distinção: havia um princípio geral 
que regia todas as áreas. O direito natural era a razão de tudo. 
A modernidade construiu a diferença entre direito e moral, prin-
cipalmente a partir do pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant. 
A filosofia de Kant diferenciou o universo da norma moral e o universo 
da norma jurídica. Kant influenciou o jurista austríaco Hans Kelsen na 
construção da sua teoria pura do direito. Kelsen separou direito e moral 
para distanciá-los; ele queria determinar a autonomia do Direito. Para 
Kelsen, direito é o conjunto de normas postas pelo Estado (KELSEN, 
1998). 
A tarefa do jurista não era avaliar a justiça do sistema, mas 
compreender os critérios de validade das normas de acordo com a hie-
rarquia. Para Kelsen (1998), a questão da justiça não pertencia ao direi-
to. Dessa forma, criou um abismo entre direito (decidir de acordo com o 
ordenamento) e moral (discutir os valores).
A RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL
O estudo da Ética, busca entender todas as formas de men-
talidade e estar a par de que um ethos dominante não existe sem que 
haja uma camadasocial dominante que o proclame. Toda vez que se 
definem normas de comportamento consideradas adequadas, passa a 
haver um aparato para proteger essas normas. 
Nesse sentido, ao estudarmos a ética, devemos também nos 
preocupar em pensar a diversidade das alternativas de comportamento 
possíveis. Importante enfatizar, nesse sentido, a relação entre ética, ar-
bítrio e pluralidade. A universalização de qualquer tipo de verdade ética 
nos leva à definição de patamares rígidos. Torna-se a moral de uma 
classe dominante sobre a moral das classes dominadas. 
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O que está em questão é a construção do compartilhamento 
dos valores. Dessa forma, todo sistema ético busca, em primeiro lu-
gar, proteger os valores que consagra. Muitos grupos sociais constroem 
sistemas de dominação com base na política, na religião ou em outros 
sistemas que formam a consciência de um grupo. 
Dessa maneira, a ética busca eliminar as diferenças e esta-
belecer regras de padrões de comportamento. No entanto, os valores 
não são tão absolutos que não possam dialogar com valores opostos. 
Um sistema ético, apesar de defender as suas verdades, deve praticar 
a tolerância, pois a moral de uns não pode se impor à moral de outros. 
Valores morais são passiveis de ajuste e de confronte com ou-
tros. Os grupos culturais opostos podem construir instrumentos para 
a abertura recíproca de valores. Como é possível construir uma ética 
global em um contexto de diferenças entre os povos, nacionalismo exa-
cerbado, contingentes humanos excluídos e oposição entre culturas?
O filósofo alemão Juergen Habermas defende que só existe 
verdade enquanto experiência intersubjetiva. O autor se posiciona em 
confronto direto com a verdade fundada na reflexão individual. Para 
Habermas, a verdade se constrói a partir do diálogo entre sujeitos que 
pensam diferentes. Ou seja, a chave para a busca da verdade é a acei-
tação da divergência como algo legítimo e natural. Somente por meio 
da comunicação se pode alcançar a colaboração, o entendimento e o 
consenso. 
A moral é algo que avalia o outro para julgá-lo como perten-
cente ou não pertencente á uma comunidade. O próprio direito vem 
associado a uma moral. A linguagem transpassa valores por meio de 
certos termos e de palavras que expressam visões de mundo. E elas se 
expressam por meio de cláusulas gerais: bom, ruim, justo, injusto, etc. A 
linguagem recebe uma grande bagagem da moral. Ela também é trans-
missora desses valores. Todas as práticas discursivas são transmissi-
vas de valores. O indivíduo que se vale da linguagem pratica juízos, 
requalificando-os o tempo todo. 
A ética, portanto, significa esfera da ação individual. Está con-
tida dentro de um circuito de liberdade que lhe pertence. A moral é a 
grande instituição social que acaba sendo o arcabouço de sustentação 
de certas atitudes individuais respaldadas em conceitos pré-existentes. 
A moral, por outro lado, procura moldar o indivíduo a modelos sociais 
convenientes, não necessariamente bons. Configura, dessa forma, uma 
instituição social que produz mecanismos de controle e determinam a 
execução de seus preceitos. 
Escolas e normas jurídicas são exemplos de instituições que 
contribuem para a homogeneização dos indivíduos. Instituições trazem 
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estabilidade para o grupo e para a sociedade. A moral é um mecanismo 
de pasteurização dos comportamentos. Ela permite julgar o que é con-
forme e o que é desconforme. Ela promove a agregação ou a segrega-
ção do outro.
Nas relações morais é preciso verificar a relação de poder para 
determinar quais são os comportamentos adequados. A moral pode ser 
o principal instrumento ideológico de exercício do poder. A moral disfar-
ça, suaviza e amortece a prática de poder. Ou seja, é um instrumento 
de adequação das identidades individuais. A moral fornece abrigo para 
a estrutura de poder. Ela pratica uma espécie de controle conveniente 
em um certo contexto. Exemplificando, na Idade Média, era clara a as-
sociação entre poder e moral. A moral imposta era a da Igreja Católica, 
que detinha o poder. 
A relação entre moral e poder pertence à própria dinâmica das 
relações sociais. Nesse sentido, é preciso observar com cautela os va-
lores morais. Um curso de ética não é um curso de moral. A filosofia 
ética é uma prática aberta de reflexão. É necessário dimensionar e pon-
derar os valores, para avaliar se o valor é realmente válido. A moral do 
meio é a prática do exercício de dominação? 
O sufixo latino –oso indica a ideia de “muito”, de “abundante” 
nas palavras da língua portuguesa. Um objeto provido de muito brilho 
é chamado de brilhoso, um sujeito que mente muito ou continuamente 
é chamado de mentiroso. A palavra ética, origina-se no termo grego 
éthos, que pode ser traduzido como “hábito”, ou seja, aquilo que se faz 
constantemente. Para avaliar a personalidade de um indivíduo, é preci-
so observar seus hábitos, já que um ato isolado não é o suficiente para 
dizer muito sobre ele. Há um ditado conhecido que diz: “o hábito faz o 
monge”. Neste provérbio, a palavra hábito refere-se tanto ao vestuário 
quanto aos costumes do religioso. Levando em conta as reflexões aci-
ma, pensemos na seguinte situação: um cidadão que nunca cometeu 
um crime em sua vida, pela primeira vez comete um ato que fere as leis 
do país. Seria justo, do ponto de vista da ética, chamá-lo de crimino-
so? Basta cometer um crime para que carregue este estigma? Ou seria 
preciso uma lista de crimes habituais em sua ficha para receber este 
adjetivo? 
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Nessa direção, a ética se vale da capacidade de resistência 
que o indivíduo tem em face das pressões externas do meio. É a sua 
capacidade de ponderar entre os conflitos internos e os valores das 
instituições sociais. Já a moral se baseia em um conjunto das sutis e 
não explicitas manifestações de poder sobre os indivíduos. A moral está 
inserida num contexto sócio-histórico. Não devemos incorporar a moral 
sem questioná-la, sob pena de nos transformarmos em meros reprodu-
tores dos conceitos morais do nosso tempo. 
O comportamento ético pressupõe, dessa forma, o questiona-
mento da moral antes de absorvê-la. A moral defende o passado, o que 
foi consagrado e nos convida a reproduzir esses valores. A ética flerta 
com o novo. O comportamento ético permite requalificar os valores. Isso 
dá abertura ao processo de alteração dos valores. 
Os indivíduos podem resistir aos valores morais por meio da 
capacidade de reflexão. Não existem leis morais eternas. Em outras 
palavras, a moral nos convida ao conforto e à segurança. A ética nos 
convida ao exercício responsável e refletido para nos tornarmos agen-
tes e arquitetos de nossa própria existência.
• No campo da filosofia, a ética também é uma ciência que 
estuda o comportamento humano em sociedade. Você pode aprender 
mais um pouco lendo o livro “Ética e Cidadania”. Neste obra organiza-
da por Lopez Filho e colaboradores (2018), tem-se uma coletânea de 
diversos artigos que tratam da relação entre Ética e Cidadania no mun-
do contemporâneo. Em suas quatro unidades, o livro abarca a interface 
dos conceitos de ética e de cidadania com a desigualdade social, com 
as questões étnicas, políticas e religiosas e com o mundo do trabalho. 
Por fim, analisa a problemática da ética e da cidadania à luz dos direitos 
humanos, dos movimentos sociais e da cultura.. Disponível em: https://
bit.ly/3sEsLEa. Acesso em: 07 jan. 2021.
• Você também pode ler o livro “Ética: conceitos-chave em 
filosofia” (2007) de Dwight Furrow. Nesta obra, o autor analisa o con-
ceito de Ética à luz da história da Civilização Ocidental. É um livro intro-
dutório e didático que abarca alguns dos conceitos centrais para enten-
der a evolução do pensamento filosófico. À luz dos escritos de Platão, 
Aristóteles, Kant e outros filósofos,é possível entender como a ideia 
de ética permeou o estudo da Filosofia. Disponível em: https://bit.ly/3u-
NOhIo. Acesso em: 07 jan. 2021.
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https://bit.ly/3uNOhIo
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QUESTÃO 1
(Enem 2010, 2ª aplicação) “A ética exige um governo que amplie a 
igualdade entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, mui-
tos indivíduos não se sentem “em casa”, experimentam-se como 
estrangeiros em seu próprio lugar de nascimento. “
SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLI-
VEIRA, E. R (Org.) Segurança & defesa nacional: da competição à 
cooperação regional. São Paulo: Fundação Memorial da América 
Latina, 2007 (adaptado).
Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política 
e integração de indivíduos em uma sociedade. De acordo com o 
texto, a ética corresponde a:
a) valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade.
b) preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas.
c) normas determinadas pelo governo, diferentes das leis estrangeiras.
d) transferência dos valores praticados em casa para a esfera social.
e) proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria.
QUESTÃO 2
(ENEM 2011, adaptado). O brasileiro tem noção clara dos compor-
tamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da 
corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões 
morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Es-
candinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de 
Lima Barreto). O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” 
efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade inerente ao 
humano, porque as normas morais são:
a) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
b) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.
c) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-
-las integralmente.
d) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se 
submeter.
e) mais vinculantes do que as normas jurídica
QUESTÃO 3
(UNICAMP 2016, adaptada). Por que a ética voltou a ser um dos te-
mas mais trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo? 
Nos anos 1960, a política ocupava esse lugar e muitos cometeram 
o exagero de afirmar que tudo era político. 
José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, 
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em Adauto Novaes, Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, 
p. 239.
A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico, 
é correto afirmar que:
a) o tema foi relevante no passado e apenas recentemente voltou a 
ocupar um espaço central na produção filosófica
b) os impasses morais e éticos das sociedades contemporâneas repo-
sicionaram o tema da ética como um dos campos mais relevantes para 
a filosofia
c) o pensamento filosófico abandonou sua postura política após o de-
sencanto com os sistemas ideológicos que eram vigentes nos anos 
1960
d) na atualidade, a ética é uma pauta conservadora, pois nas socieda-
des atuais, não há demandas éticas rígidas
e) a ética foi incorporada pelas outras ciências, deixando de ser estuda-
da nas últimas décadas.
QUESTÃO 4
(UNISC 2012) – Apresentados os enunciados abaixo, qual deles 
melhor caracteriza o tema da ética filosófica?
a) a ética filosófica estuda a maneira como as pessoas agem dentro de 
uma determinada sociedade
b) a ética filosófica consiste em um conjunto de normas relativas à vida 
sexual das pessoas
c) a ética filosófica é o estudo das normas que regem o exercício de 
uma determinada profissão
d) a ética filosófica é um discurso racional e argumentativo cujo objetivo 
é fundamentar critérios para avaliar as ações humanas, seja para lou-
vá-las ou para censurá-las
e) a ética filosófica consiste na explicação das normas de comporta-
mento que se encontram na bíblia
QUESTÃO 5
(Leopoldino Rocha) O sujeito ético-moral é somente aquele que 
preencher os seguintes requisitos:
a) ser consciente de si, mas não precisa reconhecer a existência dos 
outros como sujeitos éticos iguais a si.
b) saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o signi-
ficado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores 
morais.
c) não precisa controlar interiormente seus impulsos, suas inclinações e 
suas paixões, deixando-as fluir livremente
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d) dizer o que as coisas são, como são e por que são. Enunciar, pois, 
juízos de fato
e) ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como autor da sua 
própria ação nem avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e 
sobre os outros
QUESTÃO 6
(Unesp 2019) – Então, todos os alemães dessa época são culpados?
– Esta pergunta surgiu depois da guerra e permanece até hoje. 
Nenhum povo é coletivamente culpado. Os alemães contrários ao 
nazismo foram perseguidos, presos em campos de concentração, 
forçados ao exílio. A Alemanha estava, como muitos outros países 
da Europa, impregnada de antissemitismo, ainda que os antisse-
mitas ativos, assassinos, fossem apenas uma minoria. Estima-se 
hoje que cerca de 100 000 alemães participaram de forma ativa do 
genocídio. Mas o que dizer dos outros, os que viram seus vizinhos 
judeus serem presos ou os que os levaram para os trens de depor-
tação?
(Annette Wieviorka. Auschwitz explicado à minha filha, 2000. Adap-
tado.)
Ao tratar da atitude dos alemães frente à perseguição nazista aos 
judeus, o texto defende a ideia de que
a) os alemães comportaram-se de forma diversa perante o genocídio, 
mas muitos mostraram-se tolerantes diante do que acontecia no país. 
b) esse tema continua presente no debate político alemão, pois inexis-
tem fontes documentais que comprovem a ocorrência do genocídio. 
c) esse tema foi bastante discutido no período do pós-guerra, mas é ina-
dequado abordá-lo hoje, pois acentua as divergências políticas no país. 
d) os alemães foram coletivamente responsáveis pelo genocídio judai-
co, pois a maioria da população teve participação direta na ação. 
e) os alemães defendem hoje a participação de seus ancestrais no ge-
nocídio, pois consideram que tal atitude foi uma estratégia de sobrevi-
vência. 
QUESTÃO 7
(Unesp 2018). Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-
-se com a ideia que têm das coisas e não com as coisas em si. 
Seria grande passo, em alívio da nossa miserável condição, se se 
provasse que isso é uma verdade absoluta. Pois se o mal só tem 
acesso em nós porque julgamos que o seja, parece que estaria 
em nosso poder não o levarmos a sério ou o colocarmos a nosso 
serviço. Por que atribuir à doença, à indigência, ao desprezo um 
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gosto ácido e mau se o podemos modificar? Pois o destino apenas 
suscita o incidente; a nós é que cabe determinar a qualidade de 
seus efeitos.
(Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado.)
De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal:
a) representa uma oposição de natureza metafísica, que não está sujei-
ta a relativismos existenciais. 
b) relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento é autoriza-
do somente a sacerdotes religiosos. 
c) resulta da queda humana de um estado original de bem-aventurança 
e harmonia geral do Universo. 
d) depende do conhecimento do mundo como realidade em si mesma, 
independente dos julgamentos humanos. 
e) depende sobretudo da qualidade valorativa estabelecida por cada 
indivíduo diante de sua vida. 
QUESTÃO 8
(Enem PPL 2016)
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A figura do inquilino ao qual a personagem da tirinha se refere é 
o(a):
a) constrangimento por olhares de reprovação. 
b) costume importo aos filhos por coação. 
c) consciência da obrigação moral. 
d) pessoa habitante da mesma casa. 
e) temor de possível castigo. 
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ÉTICA, MORAL E DIREITO
Conforme visto no capítulo anterior, a Ética diz respeito ao con-
junto dos valores que norteiam a vida em sociedade e a convivência 
entre os indivíduos num determinado tempo. O Direito é uma ordem 
social estabelecida em torno de um sistema sancionatório para garantir 
a aplicação da Justiça. Essa ordem busca estabelecer regras para o 
funcionamento da sociedade e prevê meios para exigir o seu cumpri-
mento, as sanções. Ele se vale da força para evitar que o mundo seja 
governado apenas por ela. Corresponde, na visão do jurista Jeremy 
Bentham, ao “mínimo ético” ou a um conjunto de normas morais consi-
deradas relevantes por cada sociedade. A Moral, por sua vez, se carac-
teriza por ser um tipo de preceito acerca do comportamento desprovido 
ÉTICA MORAL
NAS RELAÇÕES SOCIAIS
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de mecanismos de coação (MORRIS, 2002).
O Direito prevê uma convivência social ordenada, na qual ine-
xiste a possibilidade de desordem ou anarquia. É um mecanismo de do-
minação que se vale de normas, instituições e decisões para controlar 
o comportamento das sociedades. As regras jurídicas são obrigatórias 
e coercitivas, pois emanam de uma fonte jurídica válida e de uma au-
toridade competente. Seu fim último é a realização da justiça do bem 
comum. 
Nesse sentido, diferentemente da Moral, que lida com pre-
ceitos sobre o comportamento humano despidos de mecanismos de 
coerção, o Direito é uma ordenação ética com capacidade de impor 
comportamentos pelo uso legitimado da força. A Moral se baseia em 
mecanismos de sanção individual (ressentimento, remorso e culpa) ou 
coletiva (discriminação, repulsa, exclusão e indignação), ao passo que 
o Direito se assenta em sanções coercitivas que se valem da imposição 
da força. O Direito não se vale de qualquer violência indiscriminada, 
mas da força organizada e aplicada segundo regras institucionalizadas. 
O Direito lida com o problema ancestral da busca da verdade 
e da justiça no exercício do poder. Seu fundamento filosófico variou ao 
longo da Histórica história, sendo considerada pelos gregos como uma 
técnica e pelos romanos como uma arte (a busca do bem e da equida-
de). Assim como as instituições são regras que estabelecem padrões 
de comportamento e geram previsibilidade, o Direito é um elemento de 
fidelização e conexão entre o passado e o futuro. 
Nesse sentido, o Direito não é neutro, mas um conjunto de 
práticas que visam realizar determinados valores fundamentais. O mais 
importante desses valores é a justiça, ou seja, dar a cada um aquilo que 
lhe é direito. A justiça é parte da moral e se baseia no senso de equilí-
brio na distribuição de bens entre os homens. Sem validade, eficácia e 
justiça, não há sistema jurídico legítimo. 
O jurista austríaco Hans Kelsen, em “Teoria Pura do Direito”, 
afirma que a Justiça é um valor decorrente da Moral. No entanto, dife-
rentemente das normas sociais (Moral e Ética), o Direito é uma norma 
jurídica cuja legitimidade não se baseia apenas em valores, mas em 
critérios de validade. Ou seja, a norma jurídica é uma proposição hipo-
tética dada por um poder institucionalizado (Estado) para estabelecer 
normas de conduta (KELSEN, 1998). 
A Moral lida com as concepções de um indivíduo ou de um con-
junto de indivíduos acerca do que é lícito e justo. As regras de conduta 
morais são tão plurais quanto a sociedade e balizam o convívio social. 
E buscam, essencialmente, o aperfeiçoamento de um indivíduo em re-
lação à sua consciência ou a de seu grupo. Sua origem é a autoridade 
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religiosa, a razão e a tradição. 
O Direito, por outro lado, é uma técnica de regulação do conví-
vio social que se baseia em uma norma. E que prevê sanções ao des-
cumprimento destas regras. A fonte do Direito é o Estado. Somente são 
válidas as normas jurídicas produzidas por quem tem competência para 
tal. As sanções jurídicas, por sua vez, são obrigatórias. Embora adote 
princípios morais como fundamento de sua aplicação, o Direito pode 
conter também normais normas amorais. 
A Moral, por seu turno, influencia diretamente o Direito. Os le-
gisladores são guiados por valores e ideias difusos na sociedade para 
produzir normas jurídicas. As normas jurídicas, nesse sentido, expres-
sam regras morais que devem ser obrigatoriamente cumpridas. As so-
ciedades antigas, como visto, eram caracterizadas pela coincidência 
entre mandamentos jurídicos e morais. Já na Idade Média, as regras 
jurídicas constituíam um “mínimo ético”, ou seja, o núcleo duro das re-
gras morais. 
Com a positivação do Direito (prevalência de normas escritas 
em códigos e leis), nos séculos XVIII e XIX, as regras jurídicas torna-
ram-se autônomas em relação à moral. Dada a pluralidade de sistemas 
morais existentes (religião, família, trabalho etc), as autoridades com-
petentes do Estado se limitaram a impor normas segundo critérios de 
validade.
A relação entre o direito e a moral:
• O Direito é uma ordem social estabelecida em torno de um 
sistema sancionatório para garantir a aplicação da Justiça.
• A Moral, por sua vez, se caracteriza por ser um tipo de precei-
to comportamento desprovido de mecanismos de coação.
• A Moral se baseia em mecanismos de sanção individual (res-
sentimento, remorso e culpa) ou coletiva (discriminação, repulsa, ex-
clusão e indignação), ao passo que o Direito se assenta em sanções 
coercitivas que se valem da imposição da força.
Os positivistas defendem que os indivíduos são livres para 
obedecer ou não às normas vigentes, de acordo com os seus valores 
morais e interesses. O custo do descumprimento dessas normas é a 
aplicação de sanções jurídicas. Os moralistas, por sua vez, sustentam 
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que os operadores do Direito precisam buscar sempre a coerência entre 
normais normas jurídicas e preceitos morais, sob pena de esvaziamen-
to valorativo do Direito. Para eles, seria impossível estabelecer uma 
distinção entre Direito e Moral, pois ambos caminham lado a lado.
Portanto, é importante distinguir norma moral e norma jurídi-
ca. A normal moral decorre da experiência histórica da sociedade. Já a 
norma jurídica pode ser imposta pela autoridade mesmo que não cor-
responda à experiência da sociedade. A norma moral fala a linguagem 
da interioridade e da intencionalidade. É preciso haver correspondência 
entre a vontade interior e a exteriorização. Na norma jurídica, isso é 
irrelevante em diversas situações. Na norma jurídica, são necessários 
atos exteriores; a intencionalidade é um aspecto secundário. A norma 
moral não possui sanção (punição); já a norma jurídica possui sanção. 
A norma moral possui, entretanto, um grau de coercibilidade 
(possibilidade de punição) que muitas vezes é muito mais forte que a 
sanção jurídica, como a vergonha, o constrangimento e o arrependi-
mento. Direito e moral não podem se separar. Como avaliar a legitimida-
de de um sistema jurídico? Essa avaliação não pode ser pautada unica-
mente sob o aspecto da moral. Após a Segunda Guerra Mundial, com a 
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, foram definidas 
as diretrizes estruturantes do comportamento universal, de modo que 
os direitos humanos constituem o mínimo ético de um sistema jurídico.
ÉTICA NA POLÍTICA
A relação entre ética, moral e política é tão ancestral quan-
to a Humanidade. Desde os filósofos da Antiguidade até os cientistas 
políticos, juristas e escritores contemporâneos, o tema já foi abordado 
de maneira múltipla. O assunto desperta as atenções do ser humano 
desde os primórdios da civilização. Tratados, ensaios, romances e pe-
ças teatrais já foram escritas sobre essa questão, sem uma solução 
definitiva ou uma resposta correta para a problemática da moralidade 
nas relações sociais. 
Sendo ohomem um ser essencialmente político – isto é, que 
vive na polis (cidade) – sempre se pergunta sobre o que é agir moral-
mente. Da mesma forma que existe uma ética profissional, uma ética 
do trabalho, uma ética familiar e uma ética religiosa, a ética política trata 
da distinção entre o que é moralmente lícito e ilícito. 
A aceitação de que a moral política se distingue do senso co-
mum é um dos fundamentos da modernidade. Maquiavel afirmou, em 
“O Príncipe”, que a moral dos governantes não é a mesma dos go-
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vernados. Nesse sentido, para obter êxito em sua missão de dominar 
os povos e governar as nações, antes de serem amados, os príncipes 
deveriam buscar serem temidos (MAQUIAVEL, 2010). 
Enquanto em outras atividades humanas o que se busca, es-
sencialmente, é adequar os comportamentos às regras de conduta mo-
ral consensuais e estabelecidas, na relação entre política e moral, o de-
bate é mais complexo. Ao contrário da ética médica, da ética esportiva 
ou da ética do trabalho, não existe um consenso sobre quais seriam os 
preceitos éticos da política. O que existe, fundamentalmente, é a noção 
de que a moral política se reporta às ações de um indivíduo no que toca 
aos seus deveres para com os outros, e não consigo mesmo. 
Dessa forma, o foco do estudo da moral política não é a com-
preensão daquilo que é considerado lícito ou ilícito. Na perspectiva do 
filósofo e jurista italiano Norberto Bobbio, o que se busca compreender 
é “[...] se tem sentido colocar-se em termos morais o problema do ad-
missível e do inadmissível no caso das ações políticas” (BOBBIO, 2003, 
p. 161). 
Dessa forma, utilizando-se uma categoria de Maquiavel, é 
possível, por exemplo, distinguir os políticos do tipo “leão” e os do tipo 
“raposa”. Os primeiros baseariam seu poder no uso da força; os segun-
dos, no domínio da astúcia. Thomas Hobbes, em sua obra “O Leviatã”, 
assegurava que nenhuma moral estava acima da política. No estado 
de natureza, argumentava o filósofo inglês, a política não tinha nenhum 
conteúdo moral, baseando-se pura e simplesmente no exercício da for-
ça (MORRIS, 2002). 
A moral do mais forte sempre prevalecia e a sobrevivência era 
a única moral existente. No estado civil, impera a moral do soberano, 
isto é, daquele indivíduo escolhido pelos demais como aquele que dis-
tingue o justo do injusto. Portanto, a vontade do rei deveria ser a única 
e exclusiva fonte moral a ser obedecida. A noção de razão de Estado, 
que floresceu com o Estado moderno, aceita que, em circunstâncias es-
pecíficas e determinadas, o soberano possa infringir os códigos morais 
prevalecentes para salvaguardar o seu poder. 
Assim, a ação política imporia ao seu praticante “[...] ações 
moralmente reprováveis, porém necessárias por causa da natureza e 
da finalidade da própria atividade” (BOBBIO, 2003, p. 168). Da mesma 
forma que o político teria uma moral própria, certas categorias profissio-
nais, ao longo da História, também advogam a existência de um direito 
particular e de uma moral específica. Se existe uma ética inerente à 
política, existiria, do mesmo modo, uma ética aplicável a profissões de-
terminadas, como a dos médicos, dos padres e dos advogados. 
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A ética na política
Ao contrário da ética médica, da ética esportiva ou da ética 
do trabalho, não existe um consenso sobre quais seriam os preceitos 
éticos da política. O que existe, fundamentalmente, é a noção de que a 
moral política se reporta às ações de um indivíduo no que toca aos seus 
deveres para com os outros, e não consigo mesmo.
ÉTICA DAS CONVICÇÕES E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE
Quando refletimos sobre a importância da moral e da ética na 
vida pública, é importante entender como os valores morais e éticos 
guiam os homens públicos em suas ações. Em seu clássico artigo “Po-
lítica como Vocação”, o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) dis-
tingue três qualidades para a formação de um homem público (WEBER, 
1965). Em primeiro lugar, a paixão à causa; e segundo lugar, o senso 
de responsabilidade; em terceiro lugar, o senso de proporção, isto é, a 
capacidade de manter distância dos fatos e dos homens, de modo a re-
fletir com mais propriedade sobre os acontecimentos. Segundo Weber 
(1965), os homens precisam ainda superar a vaidade, pois o desejo de 
poder pode desvirtuar tanto a sua paixão quanto o seu senso de pro-
porção. Ou seja, a vaidade poder tornar-se um fim em si mesmo, uma 
busca exclusiva pela exaltação do próprio ego. 
Existe uma ética própria para o mundo político? Para Weber 
(1965), na política haveriam dois pecados mortais. Primeiro, não de-
fender nenhuma causa, o que conduz o político à paralisia e à busca 
do brilho efêmero. Segundo, não possuir nenhum senso de responsa-
bilidade, o que o leva a abusar do poder como um fim em si mesmo, 
sem qualquer propósito maior. As causas que justificam o alcance do 
poder dependeriam das visões de mundo e convicções íntimas de cada 
político. Tais motivações podem ser humanistas, nacionalistas, sociais, 
religiosas e éticas. 
Nesse sentido, cabe indagar se existiria um “mínimo ético” na 
política que compatibilizasse as diversas causas que levam os políticos 
a almejar o poder. Seria a ética da política a mesma ética da religião? 
Segundo Weber (1965), a ética religiosa, contida nos Evangelhos, im-
plica em comportamentos rígidos e que não admitem meio-termo: é o 
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“tudo ou nada”. A ética dos Evangelhos persegue verdades absolutas e 
incontestáveis, baseadas na convicção e na consciência individual. 
De acordo com Weber (1965), as condutas podem ser orien-
tadas segundo duas lógicas: a ética da ética da convicção e a ética 
da responsabilidade. Isto não significa que a ética da convicção esteja 
desconectada de qualquer responsabilidade. O ponto central da ética 
da responsabilidade é a noção das consequências do ato humano e o 
reconhecimento do papel da vontade, da ação ou da omissão na pro-
dução de resultados. Quando se observa apenas ética da convicção, 
atribui-se qualquer consequência dos atos humanos à vontade divina. 
Dessa forma, os homens isentam-se de qualquer compromisso, obriga-
ção e prudência no dia a dia, pois seu destino estaria traçado. 
A questão mais sensível da ética da responsabilidade é o fato 
de que, para alcançar fins considerados nobres, os homens às vezes 
precisam recorrer a expedientes considerados desagradáveis, deso-
nestos ou perigosos. Assim, o ato de mentir, segundo a ética das con-
vicções, é moralmente condenável. Já segundo a ética da responsabili-
dade, a mentira, muitas vezes, pode ser uma forma de se evitar um mal 
maior. Segundo Weber (1965), no entanto, nenhuma ética conseguiu, 
até hoje, definir o que seria uma finalidade considerada “eticamente 
boa” que justificasse o uso de métodos considerados moralmente peri-
gosos, como o uso da força.
As duas lógicas weberianas que conduzem a vida política: a 
Ética das Convicções e Ética da Responsabilidade:
• Ética da responsabilidade é a noção das consequências do 
ato humano e o reconhecimento do papel da vontade, da ação ou da 
omissão na produção de resultados.
• Ética da convicção é a atribuição de qualquer consequência 
dos atos humanos à vontade divina. Dessa forma, os homens isentam-
-se de qualquer compromisso, obrigação e prudência no dia a dia, pois 
seu destino estaria traçado. 
Em que circunstâncias se justifica o uso da força para o al-
cance de fins considerados justos? No caso de uma guerra ou de uma 
revolução, por exemplo, seria legítimo o recurso à violência para alcan-
çar fins considerados justos? Os partidários da ética da convicção são 
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unânimes ao afirmar que matar um outro ser humano é considerado um 
pecado mortal, sem qualquer exceção. Já sob o ponto de vista da ética 
daresponsabilidade, em casos excepcionais, como o de uma ameaça à 
sobrevivência do Estado ou da nação, seria moralmente justo o empre-
go da força e da violência armada para repelir uma invasão ao território 
nacional. 
Essa tensão entre meios e fins caracteriza a ética da respon-
sabilidade. Nesse sentido, a violência poderia ser admitida como um 
meio do alcance de fins políticos considerados nobres ou justos, como a 
sobrevivência nacional. Da mesma forma, o debate entre a continuida-
de de uma revolução ou de uma guerra e a realização da paz depende, 
sobretudo, das condições em que os termos da paz são assinados. Se 
forem injustos, os partidários da ética da responsabilidade admitem a 
legitimidade da continuidade da revolução ou da guerra. 
Os partidários da ética da convicção acreditam que quaisquer 
atos humanos geram consequências, inclusive na política. Já para os 
adeptos da ética da responsabilidade, a política, diferentemente da reli-
gião, exige que os homens tenham senso de proporção. Sendo assim, 
convidamos você a refletir sobre a seguinte situação:
• Um determinado país sofre um ataque externo e precisa to-
mar atitudes de defesa e ataque. No entanto, sua população não tem 
total conhecimento sobre os desdobramentos dessa situação. Revelar 
tudo o que está acontecendo pode gerar pânico geral e piorar ainda 
mais o quadro, até mesmo dificultando as ações de defesa. Para a ética 
da convicção, a verdade deve estar acima de tudo. Contudo, preservar 
em sigilo determinadas informações ou até mesmo mentir sobre elas 
pode promover a segurança nacional. Para os adeptos da ética da res-
ponsabilidade, é preciso lançar mão do senso de proporção. Em que 
medida um chefe de Estado deve pender para uma das duas lógicas?
Para Weber (1965), é impossível conciliar a ética da convicção 
e a ética da responsabilidade, pois a primeira não admite concessões 
à segunda. A ética da convicção defende que os meios são mais im-
portantes que os fins. Isto é, o mal só pode trazer o mal. A ética da res-
ponsabilidade, por sua vez, admite que os fins justifiquem os meios. Ou 
seja, o mal, quando praticado com fins nobres, também pode produzir o 
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bem. Todas as crenças religiosas enfrentam o problema da ética na po-
lítica. A questão mais sensível são as circunstâncias em que se admite 
e se legitima o uso da violência. Os políticos, ao praticarem a violência 
com a busca de um fim nobre, devem não apenas justificar o recurso à 
força, mas buscar seguidores que compartilhem de seus objetivos. 
Em síntese, Max Weber afirma que a política não pode abrir 
mão das questões éticas. Os homens que se dedicam à política, na 
visão do autor, devem estar cientes das consequências e impactos de 
seus atos. A salvação das almas, de um indivíduo e de seu grupo, não 
deve ser buscada por meio da política, mas da religião. O caminho da 
política, por sua vez, pressupõe o uso de algum tipo de violência para 
alcançar os objetivos pretendidos. Nesse sentido, é preciso esclarecer 
aos partidários da ética da convicção que quaisquer atos humanos ge-
ram consequências. A política, diferentemente da religião, exige que os 
homens tenham senso de proporção. Sendo assim, a política seria a 
arte do possível.
Ao fim desta unidade caro aluno sugerimos a leitura do livro 
de Ferraz Jr. “Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, 
dominação” (2019). Nesta obra o autor analisa as diversas teorias e 
concepções do mundo jurídico. É um livro que propõe uma reflexão 
acerca do fenômeno do Direito no contexto das questões éticas do mun-
do contemporâneo. O autor se põe a refletir, de modo critico, sobre as 
relações entre Direito, Ética e a sociedade de consumo na qual estamos 
inseridosDisponível em: https://bit.ly/2Ocaijw. Acesso em: 12 jan. 2021.
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QUESTÃO 1
(Enem 2010, 2ª aplicação) No século XX, o transporte rodoviário e 
a aviação civil aceleraram o intercâmbio de pessoas e mercado-
rias, fazendo com que as distâncias e a percepção subjetiva das 
mesmas se reduzissem constantemente. É possível apontar uma 
tendência de universalização em vários campos – por exemplo, na 
globalização da economia, no armamentismo nuclear, na manipu-
lação genética, entre outros.
HABERMAS, J. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. São 
Paulo: Littera Mundi, 2001
(adaptado).
Os impactos e efeitos dessa universalização, conforme descrito 
no texto, podem ser analisados do ponto de vista moral, o que leva 
à defesa da criação de normas universais que estejam de acordo 
com:
a) os valores culturais praticados pelos diferentes povos em suas tradi-
ções e costumes locais.
b) os pactos assinados pelos grandes líderes políticos, os quais dis-
põem de condições para tomar decisões.
c) os sentimentos de respeito e fé no cumprimento de valores religiosos 
relativos à justiça divina.
d) os sistemas políticos e seus processos consensuais e democráticos 
de formação de normas gerais.
e) os imperativos técnico-científicos, que determinam com exatidão o 
grau de justiça das normas.
QUESTÃO 2
(Enem 2010) A ética precisa ser compreendida como um empreen-
dimento coletivo a ser constantemente retomado e rediscutido, por-
que é produto da relação social se organize sentindo-se responsá-
vel por todos e que crie condições para o exercício de um pensar 
e agir autônomos. A relação entre ética e política é também uma 
questão de educação e luta pela soberania dos povos. É necessária 
uma ética renovada, que se construa a partir da natureza dos valo-
res sociais para organizar também uma nova prática política.
CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado).
O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos proble-
mas oriundos de diferentes crises sociais, conflitos ideológicos e 
contradições da realidade. Sob esse enfoque e a partir do texto, a 
ética pode ser:
a) compreendida como instrumento de garantia da cidadania, porque 
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através dela os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com valores 
coletivos.
b) mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do 
homem ser ético e virtuoso.
c) meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, 
pois a partir do entendimento do que é efetivamente a ética, a política 
internacional se realiza.
d) parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interes-
ses e ação privada dos cidadãos.
e) aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca 
dimensionar sua vinculação à outras sociedades.
QUESTÃO 3
(Enem 2010). Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um su-
jeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem um sujeito 
empírico puramente natural. Ele é simultaneamente os dois, na me-
dida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética adquire 
um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não 
pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. Des-
se modo, a ética se entrelaça, necessariamente, com a política, en-
tendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessam 
as relações sociais e que interliga os indivíduos entre si.
SEVERINO. A. J. Filosofia
O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo deformação 
da ética na sociedade contemporânea, ressalta:
a) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias.
b) o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos.
c) a sistematização de valores desassociados da cultura.
d) o sentido coletivo e político das ações humanas individuais.
e) o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente
QUESTÃO 4
(Enem 2009). Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escre-
veu as seguintes linhas a respeito da moralidade nos EUA: “A opi-
nião pública norte-americana é particularmente dura com a falta 
de moral, pois esta desvia a atenção frente àbusca do bem-estar 
e prejudica a harmonia doméstica, que é tão essencial ao sucesso 
dos negócios. Nesse sentido, pode-se dizer que ser casto é uma 
questão de honra”.
TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia 
Britannica, Inc., Great Books 44, 1990 (adaptado).
Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norte-americanos do 
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seu tempo:
a) buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas.
b) tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido.
c) valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético.
d) relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso eco-
nômico.
e) acreditavam que o comportamento casto perturbava a harmonia do-
méstica.
QUESTÃO 5
(Enem 2017) “Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir 
dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas 
vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firme-
mente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a 
promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a 
si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros 
desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima 
de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pe-
di-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca 
sucederá”.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: 
Abril Cultural, 1980. 
De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” 
representada no texto:
a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão 
participativa.
b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da 
vida futura na terra.
c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como 
norma universal.
d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana po-
dem justificar os meios.
e) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para 
as pessoas envolvidas.
QUESTÃO 6
(Enem 2017). A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão 
de agradar a Deus, muito menos de fidelidade a regras abstratas. A 
moralidade é a tentativa de criar a maior quantidade de felicidade 
possível neste mundo. Ao decidir o que fazer, deveríamos, portan-
to, perguntar qual curso de conduta promoveria a maior quantida-
de de felicidade para todos aqueles que serão afetados.
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RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral. Barueri-SP: Manole, 
2006.
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em conformidade 
com uma:
a) fundamentação científica de viés positivista.
b) convenção social de orientação normativa.
c) transgressão comportamental religiosa.
d) racionalidade de caráter pragmático.
e) nclinação de natureza passional.
QUESTÃO 7
(Enem 2017) “Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim 
que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interes-
se desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo 
bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência 
sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda 
que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências 
ou faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu 
estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramen-
te se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa 
natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser 
estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve apren-
der, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior 
apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas 
a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro 
lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a 
finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que 
essa finalidade será o bem humano.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Pauto: Nova 
Cultural, 1991 (adaptado).
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da 
pólis pressupõe que:
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses.
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da 
verdade.
c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização 
da cidade.
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir cor-
retamente.
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem 
comum.
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QUESTÃO 8
(Enem/2013) “Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado 
que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coi-
sas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais 
seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. 
Porque dos homens que se pode dizer, duma maneira geral, que 
são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, 
e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o 
sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o 
perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se.”
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
A partir da análise histórica do comportamento humano em suas 
relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um 
ser:
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos 
outros.
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na 
política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e 
inconstantes.
d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando 
seus direitos naturais.
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.
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O CONCEITO DE CIDADANIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Cidadania é um laço que une um indivíduo a um determina-
do Estado-Nação. Esse vínculo de subordinação a uma ordem jurídica 
nacional torna o indivíduo sujeito a direitos e obrigações, tornando-o 
parte integrante de um povo. O povo é o elemento humano que habita 
o território do Estado e que se mantém unido graças aos valores e aos 
objetivos comuns que compartilham. A cidadania é o vínculo estabeleci-
do entre o Estado e o povo. O vínculo de cidadania se prolonga por toda 
a vida e é definidor da identidade pessoal de um indivíduo. No entender 
de Bonavides (2006), a cidadania implica em deveres básicos em rela-
ção a uma coletividade, como a fidelidade à Nação e a observância das 
normas do Estado. 
Jorge Miranda afirma que os cidadãos são os membros do 
ÉTICA MORAL & POLÍTICA:
A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
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Estado, sujeitos de Direito e súditos da ordem política juridicamente 
organizada. Cidadania, portanto, define a qualidade do sujeito que se 
subordina a uma coletividade política. O autor distingue a cidadania da 
nacionalidade. A primeira é o vínculo direto de um indivíduo a um Esta-
do, enquanto a segunda é a relação entre um indivíduo e uma Nação. 
A aquisição e a perda de cidadania é definida pelas regras internas do 
Estado que as concede. Há dois meios fundamentais de aquisição da 
cidadania: pela filiação (jus sanguinis) ou pelo local de nascimento (jus 
soli). A cidadania implica na participação da vida política de um Estado, 
como o direito de votar e de ser votado (MIRANDA, 2002). 
O conceito de cidadania, em sua versão moderna, nutriu-se das 
ideias surgidas na Itália, Inglaterra, França e Estados Unidos a partir da 
Idade Moderna. De Nicolau Maquiavel a Thomas Hobbes e de Jean Ja-
cques Rousseau aos Federalistas norte-americanos, a base do pensa-
mento político moderno, compreendido como um conjunto de teorias e de 
ideias relacionadas à busca da institucionalização dos conflitos, forjou-se 
numa pluralidade de correntes e de tradições envoltas na formação da 
linguagem e daprática política europeia nos séculos XVI a XVIII. 
Da matriz italiana, o republicanismo absorveu as lições de Ma-
quiavel acerca da formação do humanismo cívico num contexto de re-
posicionamento do homem no centro do pensamento. Responsável por 
uma ruptura no pensamento ocidental e fundador da Ciência Política, o 
autor resgata o pensamento greco-latino para embasar as suas refle-
xões acerca das temáticas políticas de seu tempo. 
O pensamento de Maquiavel se tornou clássico por duas ra-
zões centrais: a ampla difusão no Ocidente e abrangência de largas 
temporalidades. Maquiavel aborda as constantes disputas de poder en-
tre as cidades-Estado da península itálica, mostrando como a instabili-
dade e a imprevisibilidade eram inerentes à realidade contemporânea. 
Para Maquiavel, política e história também deveriam ser ana-
lisadas em conjunto, já que o poder organizava historicamente as rela-
ções econômicas e sociais entre os indivíduos, via exercício da domina-
ção e a busca do consenso. O autor desenvolve, nas duas obras, a ideia 
de que o corpo político se divide ante o desejo de dominação e de ser 
dominado, o que se nota, por exemplo, no relato dos conflitos entre as 
potências europeias da época e as cidades do norte italiano. Finalmen-
te, demonstra que a política se desenrola na dicotomia essência versus 
aparência, mostrando como a política possui uma importante dimensão 
simbólica na construção de narrativas.
A noção de cidadania desenvolvida por Maquiavel seria trans-
formada na França, dois séculos depois. Jean Jacques Rousseau foi o 
mais notável dos filósofos do período Iluminista e o principal represen-
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tante do republicanismo de matriz francesa. Em “O Espírito das Leis”, 
Rousseau ataca a Igreja e a instituição monárquica pelas desigualda-
des e pela miséria. Para conter a proliferação de uma sociedade pro-
fundamente desigual, prega um ideal democrático, rejeitando o estado 
histórico, construído desde tempos imemoriais, ao qual atribui a culpa 
pela desigualdade dos homens. 
Disseminador de ideais de coletividade e de cooperação, Rou-
sseau propõe a composição de um novo Estado, não-tirano, opressor 
e fonte de desigualdades, mas de um organismo protetor, socialmente 
justo, sem privilégios e que tenha no povo a fonte de todo e qualquer 
poder. No fundo, a função deste novo Estado, pautado pela justiça e pe-
los direitos de todos os homens, era alcançar algo próximo da perfeição 
e da igualdade. 
Rousseau conecta, portanto, a formação da liberdade do ci-
dadão à soberania popular. Há, portanto, uma possível aproximação 
entre o pensamento de Rousseau e o de Maquiavel, na medida em que 
ambos procuram afirmar a necessidade de legitimação do poder. Na 
visão de Rousseau, o homem não é um ser naturalmente sociável, mas 
socializável pelas circunstâncias e pela luta para sobreviver. 
Em “Discurso da origem da desigualdade entre os homens”, 
o autor argumenta que os direitos se formam a partir de um contrato 
de submissão dos homens a um poder. Nessa linha, ataca a noção 
de direitos naturais precedente, afirmando a necessidade de pactuação 
do corpo político para a afirmação das liberdades. Nesse sentido, sua 
obra trata da problemática do “contrato social”, associada à ideia de 
república e de igualdade entre os homens. Para Rousseau, a cidadania 
pressupõe a existência de simetria e de uma “vontade geral” entre os 
cidadãos, valorizando, dessa forma, o controle democrático e a presta-
ção de contas. A noção contemporânea de cidadania, em um contexto 
democrático, se valeu do debate de ideias durante a formação históri-
ca das instituições republicanas dos Estados Unidos da América. Texto 
clássico da Ciência Política, ‘O Federalista” (1788) consagrou-se como 
um conjunto de artigos escritos por Alexander Hamilton, James Madison 
e John Jay, três dos Pais Fundadores da recém independente nação 
norte-americana. 
Além de consagrados partícipes do processo de emancipação 
política do país, Hamilton, Madison e Jay tiveram atuação destacada no 
processo de elaboração do texto constitucional dos Estados Unidos, no 
bojo da conclusão da Guerra da Independência e dos arranjos para a 
estabilização política interna. O objetivo da publicação desses artigos foi 
explicitar e debater os temas centrais discutidos no processo constituinte, 
em especial a centralização, a coordenação e o controle do poder. 
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James Madison, em “O Federalista”, aborda a temática do con-
trole do poder político e da contenção das ambições humanas. Advoga, 
nessa direção, a necessidade de instituir mecanismos capazes de afas-
tar as tiranias e assegurar a existência das liberdades dentro do Estado, 
tornando-se um dos principais teóricos da existência de “checks and 
balances” (freios e contrapesos) entre as diversas instâncias e poderes. 
A teoria liberal da cidadania nutriu-se das lições de Montesquieu e da 
seiva madisoniana para consolidar o entendimento que consagrou a 
moderna tripartição de poderes do Estado. 
Em breves palavras, somente o poder poderia ser contido por 
outro poder, numa sucessão de mecanismos capazes de refrear o ím-
peto autoritário dos governantes. Madison dialoga com a teoria do “go-
verno misto”, existente na Inglaterra liberal do século XVIII, em que as 
funções governativas eram compartilhadas pelos três principais grupos 
sociais, favorecendo a harmonia, a convivência civil e a liberdade. 
Fruto de uma rebelião de cidadãos armados contra uma mo-
narquia, nos Estados Unidos estavam ausentes as condições para 
a existência desse modelo de organização social e política. Madison 
argumentava que o elemento inspirador da nova nação também não 
deveria ser a “virtude” das experiências republicanas da Antiguidade 
Clássica. Contrariamente ao “governo misto” e à “virtude” dos clássicos 
da Grécia, ancorava-se na teoria da “tripartição de poderes” de Montes-
quieu, que defendia uma divisão das atribuições do poder de maneira 
horizontal entre três braços independentes e autônomos de governo: o 
Legislativo, responsável pela edição de normas; o Executivo, responsá-
vel pela sua aplicação; e o Judiciário, responsável por dirimir conflitos. 
A separação de poderes garantiria a autonomia, o equilíbrio 
e a liberdade, dissolvendo o poder absoluto em várias mãos. Madison 
preconizava a necessidade de se conter o mal das facções através do 
seu controle, não da sua eliminação. Compreendendo a sua natureza 
e risco, o autor buscava alguma forma de lidar com as diferentes forças 
sociais e políticas nascidas da diversidade de ideias, crenças, opiniões 
e interesses, mas que poderiam ameaçar a estabilidade política dos 
governos e a existência dos regimes. 
Madison entendia que a eliminação das facções era algo in-
compatível com um sistema de liberdades, cuja missão principal do go-
verno era salvaguardar. Um ponto central da visão madisoniana, nesse 
sentido, era a necessidade de equacionar a vontade da maioria com os 
direitos das facções minoritárias, evitando que a primeira esmagasse 
as segundas. A existência de mecanismos de proteção das minorias do 
abuso de poder era essencial para evitar a tirania. 
James Madison rompe com a tradição dos governos populares 
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da Antiguidade ao defender o modelo de democracia representativa, 
em que as facções estariam representadas por um corpo político de 
cidadãos preparados para governar. A ampliação da base territorial de 
governo também seria importante. Por outro lado, a existência de gover-
nos representativos não eliminaria o mal das facções, tendo em vista a 
existência do risco de degeneração do poder em armadilhas faccioná-
rias capazes de levar à captura do governo por interesses contrários à 
vontade geral. 
Desta forma, o remédio proposto não é a eliminação das fac-
ções, mas a sua multiplicação, de modo a pulverizaro poder num gran-
de número de forças facciosas de alcance local e limitado, cada uma 
delas incapaz de ameaçar a existência da liberdade. O objetivo é a neu-
tralização das facções entre si, numa fórmula semelhante à teoria dos 
“checks and balances”. O interesse geral, resume Madison, se alcan-
çaria através da coordenação dos interesses em conflito pelos poderes 
que interagem entre si, filtrando os excessos e compatibilizando a von-
tade da maioria com os direitos das minorias. A atualidade dos textos 
dos autores norte-americanos repousa em sua capacidade de pensar 
temas fundamentais da sociedade política moderna.
É bom termos em mente, como se formou o conceito de 
cidadania tal qual conhecemos hoje. Um esquema mnemônico é uma 
excelente ferramenta para visualizarmos como esta ideia se formou. 
Tomemos nota das coordenadas:
• Itália - Maquiavel: essência versus aparência. 
• França - Jean Jacques Rousseau: ideais democráticos e de 
cooperação. 
• Estados Unidos - Alexander Hamilton, James Madison e John 
Jay: suprimir tirania e garantir liberdades dentro do Estado.
• Atualmente, o conceito de cidadania passa pela ideia da re-
presentatividade. O direito contemporâneo adota essa visão.
• Para um futuro próximo, já existem rumores de uma cidadania 
mundial.
“Cidadania, hoje, tem um sentido ético-filosófico de acesso à 
dignidade da pessoa humana”.
Entenda mais sobre a relação entre política e cidadania as-
sistindo ao vídeo “Política e Cidadania com Mario Sergio Cortella”. 
Disponível em: https://bit.ly/382nxKC. Acesso em: 07 fev. 2021.
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CIDADANIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS
O conceito de cidadania não teve difusão uniforme no Ociden-
te. No ideário iluminista, ser cidadão significava ter a posse de direitos 
políticos uniformes e iguais. A ideia era a de que todos eram iguais 
perante a lei. Na concepção do universalismo moderno, existe a ideia 
de igualdade como um ponto de partida. O papel do Estado é reduzido; 
ele confere a cidadania e define os direitos em abstrato. A Revolução 
Francesa trouxe como conquista a Declaração de Direitos do Homem 
e do Cidadão. Nessa concepção, o Estado não atrapalha as relações 
entre os particulares. 
O Estado reconhece os direitos individuais, mas adota um pa-
pel de definir o que é o espaço da liberdade. O Estado reconhece o 
direito e se abstém de interferir nisso. Atribui direitos ao indivíduo e isso 
tem impactos sobre a concepção de cidadania. No discurso liberal, há 
uma igualdade formal. Por exemplo, o voto de cada cidadão tem o mes-
mo valor, independentemente de sua condição social ou financeira.
Na concepção liberal de cidadania está presente a ideia da 
representatividade. O indivíduo pertence a uma ordem soberana e é 
esta ordem que o reconhece como cidadão. Essa concepção é orien-
tada por critérios político-jurídicos constitucionalizados. No Direito con-
temporâneo, encontraremos concepções que afirmam essa ideia, que 
é moderna. 
Nesse sentido, cidadão é aquele que é capaz de votar ou que 
está habilitado para receber votos. Votar e ser votado é o que define 
a condição de cidadão. No entanto, seria essa concepção é suficiente 
para a realização do ideário democrático? Seria que é suficiente para 
atender às demandas sociais?
A concepção moderna de cidadania se baseia em valores do 
ideário iluminista. Em primeiro lugar, não considera as diferenças con-
cretas entre as pessoas. Assim, seria suficiente o afastamento do Esta-
do para que sejam realizados os valores sociais. Em segundo lugar, não 
considera as oposições existentes dentro da própria sociedade. Basta-
ria a igualdade de fato, sem considerações sobre as desigualdades de 
fato que existem nas ruas. 
Na concepção tradicional de cidadania, o Estado concentra em 
si o poder da violência legitimada. Os indivíduos, por sua vez, têm uma 
participação política periférica. Onde está presente o Estado, não ha-
veria espaço para o indivíduo. A participação política, nessa concepção 
liberal, seria restrita a ocasiões determinadas nas quais o cidadão é 
chamado a votar. A realização da cidadania, portanto, dependeria de 
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formalismos e burocracias e há um espaço muito pequeno para par-
ticipação. Do mesmo modo, é o Estado quem definiria os direitos do 
cidadão, numa relação hierárquica entre quem dita as regras e quem 
obedece. 
Essa visão vem sendo solapada por uma série de ineficácias e 
déficits de atuação do Estado de Direito. Em seu lugar, tem-se construí-
do uma nova concepção de cidadania, com atuação proativa na cons-
trução dos espaços sociais. A cidadania, nessa concepção, pertenceria 
à sociedade civil e seria exercida como atividade realizadora de meca-
nismos que permitissem o acesso a direitos fundamentais. Há a ideia 
de efetividade de poucos bens ao invés da universalidade de muitos 
direitos. O que se valoriza é a experiência pragmática de justiça, provida 
não apenas pelo Estado, mas por organizações do Terceiro Setor. 
Diante da incapacidade do Estado de atendar às necessidades 
sociais, os atores sociais exerceriam papel auxiliar no provimento de 
bens públicos. A nova ideia social rompe o verticalismo do poder. Há 
um horizontalismo no qual a sociedade assume o papel do Estado nas 
políticas sociais. 
A noção de cidadania não se baseia mais em parâmetros for-
mais da teoria tradicional. Cidadania, hoje, tem um sentido ético-filosófi-
co de acesso à dignidade da pessoa humana. O Estado não é suficiente 
como agente produtor de justiça e como promotor do bem-estar social. 
Em um contexto de esvaziamento do papel agregador do estado, são 
necessários outros agentes na afirmação da cidadania e na garantia de 
acesso a condições dignas de vida. 
Apesar dos padrões cada vez mais individualistas de compor-
tamento moral, responsável por certa apatia global diante das injustiças, 
da miséria e da guerra, há reações importantes em curso no sentido de 
ampliar o engajamento e a participação da sociedade na vida pública.
A democracia é o espaço privilegiado de exercício da cidada-
nia. Administra os interesses gerais da coletividade e aperfeiçoa a ra-
cionalidade pública. Essa problemática constitui fonte de preocupação 
para filósofos, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos e estudan-
tes de todas as áreas. 
O atual estágio de evolução humana consegue avançar, pela 
emergente engenharia genética, até mesmo na manipulação dos ca-
racteres hereditários da constituição da espécie. Há enorme risco de 
que se introduzam na natureza humana, modificações que suprimam 
ou significativamente reduzam as suas características transcendentes, 
criando condições para que se perpetue esse intransitivo consumismo 
tecnológico de um novo tipo humano, cuja descartabilidade passe a fa-
zer parte de sua natureza.
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A CIDADANIA NO MUNDO GLOBALIZADO
A ideia de cooperação norteia a nova sociedade global. A bus-
ca da resolução de problemas comuns da humanidade induz as nações 
a ampliar o compartilhamento de informações e a procurar caminhos 
para a superação de flagelos comuns como a fome, as guerras, a po-
breza e a miséria. 
Essa interdependência entre Estados nacionais também trou-
xe novos desafios para a sociedade civil em âmbito internacional. Com 
a diluição da soberania e a interconexão entre as economias, os Es-
tados perderam o monopólio do seu poder de balizar a vida política 
e econômica. Nesse sentido, amplia-se, cada vez mais, o espaço de 
ação dos cidadãos na esfera pública para expressar suas ideias e seus 
interesses, intercambiando informações e buscando alcançar objetivos 
comuns. 
O crescimento das Organizações Não-Governamentais, em 
escala mundial, é uma expressão dessa abertura do espaço público 
para novos atores não estatais. Cada vez mais, eles desempenham pa-
péis relevantes nas sociedades, interferindo na

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