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M668i Minuchin, Salvador Famílias: func,o namento P, tratamen to. Trad. ciR JurcmJ Alcides Cunha Porto Alegre, Artes Médicas, 1982. 238p. 23cm 1. Ps,coterapiade grupos. 2. Psicotera pia !.Jrniliar I Cunha, Jurema Alc1des rrad 11 t. CDU 615.851 6 c oo 616.8915 (B,blootecâria responsável: Piltr1cia Figueroa CRB-10 /542) SALVADOR MINUCHIN Da Universidade tio Penn;ylvanoa I FAMILIAS FUNCIONAMENTO & TRATAMENTO Tradução: JUREMA ALCIDES CUNHA, M.A., L.D. Psicóloga CI (nica Professora dos Cursos de Pós-Graduação em Psicologia da PUC/ RS Apresentação à edição brasileira: JOSÉ OVIDIO COPSTEIN WALDEMAR OLGA GARCIA FALCETO Membros da Associação Psiquiátrica Americana Professores do Curso de Psicologia e Psicopatologia da lnfãncia e Adolescéncia da Associação Encarnación Blaya, de Pono Alegre PORTO ALEGRE/llJ9il Opra publicada, ori91nalmente, em 1nghh. sob o ti1uJo Families & Family Therapy @ by the President and Fellovys of Harvard College, 1980 Capa: Mário Ri:ihnel t Coordenação editorial· Paulo Flávio Ledur Composição, diagramar;ão e arto: AGE - Assessoria Gráfica e Editorial LtJa Reservados todos o~ d1re1tos de publicação em língua portuguesa à EDITORA ARTES MEDICAS SUL L TOA. Av. Jerônimo de Ornellas. 670 - Fone 30-3444 80040 Porto Alegre, RS, Brasil LOJA-CENTRO Rua General Vitorino, 277 - Fones 25-8143 90020 Porto Alegre RS, Brasil IMPRESSO NO BRASIL PRINTEO IN BRAZIL Agradecimentos Este livro deve muito a um seminário informal, que foi conduzido duas vezes por e/ia, durante trinta a quarenta minutos, por mais de dois anos, enquanto Jav ll.1/t•v. Braulio Montalvo e eu estávamos indo e vindo de carro da Phifadelphia Chi/d <i11id,mce Clinic. Muitas das idéias apresentadas aqui surgiram de nossas discussões, JmltJ (!(IC sou profundamente grato. Agradeço especialmente a Braulfo Montalvo, a t/lltlfll considero como o meu professor mais influente. Ele possui a rara capacidade ,/,• 1t:cebu 11111a idéia e, então, devolvê-la ampliada. Muitas vezes, durante nossos r/111 11nos da rrabafho iuntos, ele redirigiu o meu pensamento e sempre o enrique- r;,111, Tam/J(m1 me beneficiei da assistência de Frances Hitchock, que, durante sete - 7iiflis, me aiudou a esclarecer minhas idéias e a transformá-las numa linguagem escri· t,1 11,1tural. Muitos de meus colegas da Philadelphia Chi/d Guidance Cfinic contribuíram 1I,,r,I r.sta ltvro, trocando idéias comigo. Especialmente, desejo mencionar o corpo tl11r11t1tl' cio lnstitute of Family Counseling e, em particular, Jerome Ford, Carter U111huryur, Marianne Walters e Ra Weiner. l'MI! livro começou com uma série de conferências, apresentadas a grupos nos I \1111/os Unidos, Suécia e Holanda. Deseio agradecer a meus alunos da GroupPsycho- l/11•1111iy Association, na Holanda, que colaboraram com exf!mp/os e compartilha• r11111 11,11s pomos de vista. Mordecai Kaffman, M. O., teve a gentileza ele entrevistar 1111111 /11111/IJ.1 1sraelP.11se-, especialmente para este livro. Finalmente, são devidos agra• drw/111111110s a Lvman Wynne, por suas sugestões úteis, ao revisar o manuscrito, o a V11,11111:1 LuPlunte, por seu trabalho, na edição do livro. UMA OBSERVAÇÃO SOBRE AS REPRODUÇÕES As reproduções, neste livro, foram preparadas para a publicação, para prote- ger a privacidade das fam,7ias t•ntrevistadas. Quando necessário, os pensamentos fo- ram esclarecidos. Antes da apreseotaçâo das reproduções, algumas vezes, são feitas referências às famílias envolvidas, como exemplos de vários momentos. Este recurso antecipa- tório é usado para familiarizar o leitor com os casos, de maneira que quando chega ao relato completo de cada sessão, precisa dar menos atenção ao conteúdo e mais ao procvsso terapêutico. As entrevistas das fam,'li,1s Smith, Dodds e Gorden foram transformadas em filmes, com análise rle Braulío Monta/vo. São intitulados I Think lt's Me - Dif- ference Display as a Contextual Even t (Capitulo 9), Affinity (Capítulo 10) e A Family wirh a Little Fire (Capiwlo 11). Informações sobre estes filmes podem ser obtidas na Philadelphia Chi/d Gwdance Clinic, cujo emtereço é: 1700 Bainbridge Street, Philadelphia, Permsylvania 19146. Salvador M1iwchm, M. O. Apresentação à ediçJo brasileira. ·1 Terapia estrutural da íamílio 2. Uma familia cm formação a familia Wagner e Salvador Minuchin . 3. Um modelo famil iar 4. Uma familia cio kibutz a Iam ilia Ral;J1n e Mordecai Kaífman .. . ... . • 5 lmpflcações terapêu1:1cas de uma abordagem estrutural 6. A famfliçi em terapia . 7. Fqrrriação do sistema terapêutico . .. 8. Reestruturação da família ..... .• , Y A técnica do sim, mas: a família S1nith e Salvador Minuchin . . .....• , , . • . 1 O A técnica do sim, e: a familia Dodds e Carl A. Whitaker. 11 . A entrevista inicio!: a familia Gorden e Braulio Montalvo 12. Uma perspectiva lon~1tucli11al: a família Brown e Salvador Minuchin Epilogo .. Leituras ~d1c1on~1:; , lndice remissivo . Sumário 9 11 25 52 70 90 108 119 132 150 175 189 217 231 233 236 Apresentação à edição brasileira N()S últimos anos surgiram no Brasil vários livros sobre psicoterapia de fam(- llt1s, mas, sem dúvida, este é ornais importante lançamento editorial de todos. Trata-se cio livro de terapia familiar rnais difundido nos Estados Unidos, tendo .ido traduzido para vários outros idiomas. A escola estrutural de Salvador Minuch1n é a mais conhecida daquelas que umst1luem o movimento de terapia fam iliar na América. Famílias - Funcionamento & Tratamento foi muito e logiado pela critica es- pccin lizada, especialmente µel a rnane1ra clara e concisa como o autor expõe suas 1cléias. É ;'nclusive um texto acessi'vel, não só aos profissionais da área de saúde men- l11I. mas também àqueles que têm interesse especi'fico no assunto ou 1rabalham em .'11 eas afins. Neste livro, M1 nuchin parte do pressuposto de que a vida rsi'quica do incliv(- duo não é apenas um fenômeno interno, mas também um processo que se modifi- <,,1 na interação com o mundo que o circunda. Apóia seu traba lho na re lação dinã- 1111ca entre a individuação e a mutualidade na familiil. Apresenta uma teoria da es· 1111tura e do funcionament o familiar. exemplificando com casos dialogados e co- mentados. Ensina-nos a diagnosticar as áreas ele clisfuncão e a elaborai- urn mapa es- t; utural, bem como um plano terapêutico definido. Discute técrncas de reestrutura· c;ão que levam a mudanças da farni'lia. Seu conceito das fases de desenvolvimento 1101 mal da família mostra como estas seguem as mudanças evolutivas de seus men1 IJ1os, ao mesmo tempo que também as promovem. Dedica-se ao exame dos riroble· 1nas mais típicos de íarn{l ías em períodos de crises vi1ais ou acidentais e de fami l1ns c;om estruturas especia is, como as reconstituídas. 9 Salvador Minuch1n, argentino de nascimento. emigrou para os Estados Unidos após uma breve estada em Israel, durante i1 Guerra de Independência daquele pJis. Inicialmente viveu em Nova Iorque, onde trabalhou numa escola particular para adolescentes com problemas de conduta, proveni1mtes de f,amili11s pobres. Co- mo resultado deste trabalho, publicou em 1967, em colaboração com uma equipe multidisciplinar, Families of thu S!wns, um r·elato de suas experiências no trata- mento de jovens adolescentes e suas famdias. De Nova Iorque. Minuchin transferiu-se para a vizinha Fi ladélfia, onde passou a dirigir a Philadclphia Child Guidance Clinic. Esta foi uma das primeiras clínicas nos Estados Unidos especializadas em crianças, tendo iniciado seu func ionamento em 1925; ali atualmente t odo o tratament o é "fami liar". Em 1974 publicou originalrr1ente o texto do qual temos ago ra a tradução. Em 1978 saiu Psvchosomatic Families, urna descrição da estrutura disfuncional de fa- mílias com crianças portadoras de distúrbio psicossomático. Os resultados do trata- mento dessas famil ias constitui a conquista rnais conhecidacio grupo, já que das 53 familias com paciente anorético. 86% obtiveram sucesso, enquanto que a média que aparece na literatura é de 60%. Em 1981 apareceL1 o livro Techniqucs of Familv Therapy, onde Minuchin. com a colaboração de H.C. Fishrnan. aproíLinda suas concepções sobre técnicas de terapia familiar e faz u1na reflexão ace1ca de sua evolução como terapeuta e teórico nos últimos 15 anos. O surgimento da lideranca de Salvador Minuchin e os contornos ele sua esco- la estrutural definiram-se concomitantemente ao desenvolvimento do movimento de terapia fam iliar nos- Estados Unidos, movimento este que hoje já conta 30 anos, tem mais de 10 revistas especializadas no assunto. dezenas de centros de formação profissional e milhares ele profissionais filiados à American Association of Marital and Family Therapists. Está também muito desenvolvida na Europa e, na América do Sul. nossos co- legas argentinos já tê1n uma revista dedicada ao assunto. Em 1981 realizou-se no Rio de Janeiro um encontro de profissionais que tra- b~lharn especificamente com familias e casais, sendo o prime iro evento deste tipo no Brasil. No mesmo :mo. iniciamos em Porto Alegre um curso introdutório soli re o tema, sob os auspícios do Centro de Estudos da Associação Encarnación B laya. Salvador Minuch ih, uma personalidade carismática. está entre aqueles poucos que combinam o ngo,· teó,·ico com urna notâvel maestria clínica. Minuchtn fo i nosso professor e é pot Lanto com muita alegria que fazemos a awesentação destr, livro. 10 Porto Aleg1·e, maio <Je 1982 JOSÉ OVIDIO COPSTEIN WALDEMAR OLGA GAHCIA FALCETO Terapia estrntural da família 1 Robert Smith, sua esposa. seu filho de doze anos e o seu sogro estão sentados i:omiuo. para sua primeira consulta com um terapeuta de familia. O Sr. Sm ith é o 1w1·1cr1te rdent tf1cado. Esteve hospitalizado por duas vezes. nos últimos sete anos, pm depressão agitada e, recentemente. solicitou novu hospitalitação. MI NUCHIN: Qua l é o problema? .. . Então, quem quer começar? S1. SM 1T H. Eu acho que é o meu problema. Eu sou quem tem o problema ... MI NUCH IN : Não esteja tão seguro. Nunca tenha canta certeza. Si . lsMITH: Bem .. . Eu sou o que esteve no hospita l e t udo. MINUCHIN : Certamente, contudo isto não me convence que o problema seja J•'II, Muito bem, continue. Qual é o seu problema? S1. SM 1TH: Completamente nervoso, sempre agi tado ... tenho a imptessão do 111111cn fica, rel;ixado ... Levanto tenso e pedi para me porem no hospital. .. MINUCH IN: Acha que você é o problema? Sr. S MITH: De certo modo. eu acho. Eu não sei se é causado por a lguém, mas ~1111 nu quc1n tem o problema. MINUCH IN: ... Sigamos seu pensamento. Se fosse causado por alguém ou ,11!11m1,1 r.01sa for;i de você, o que julgada ser o seu problema? S1. SM ITH : Sabe, eu ficaria muito surpreso. MINUCHIN: Pense1nos na familia. Quem o aflige? S1 SMI TH Não sei de alguém na tami'lia que me deixe a fli to. MINUCHIN''. Deixe-me perguntar para sua esposa. Estâ beml A consulta. quB iniciou com esta troca de idéias, foi o começo de lima nova ,1lmrcl<1Hein µara o problema do Sr. Smith. Em lugar de enfoc;u· o individuo, o tera- 11 pc11 ta focalizou a pessoa dentro de sua família. A afirmação do terapoutu "N,111 uN teja tão seguro" desafiou a certeza de que o Sr. Smith apenas era o p1ohlun1.1 011 tinha o problema - uma convicção que tinha sido compartilhada pelo Sr S1111th, sua família e por muitos profissionais de saúde mental, com quern ele havia st: do pa,ado. O esquema de referência do terapeuta foi a terapia estrutural da familia, um conJunto de teorias e técnicas que aborda o individuo cm seu contexto social. A terapia baseada neste esquema de referência está orientada para a mudança da orga· nizac:ão familiar. Quando a estrutura do grupo familiar é transformada, por conse- 4uin~e as posições dos membros nesse grupo ficam alteradas. Em conseqüência, as cxpe, 1ências de cada indivíduo mudam. A teoria da terapia familiar está fundamentada no fato de que o homem não é um ser isolado. Ele é um membro ativo e reativo de grupos sociais. O que expe· rienc1a como real depende de componentes tanto internos como externos. A duali- dade paradoxal ela percepção humana da realidade é explicada por Ortega y Gasset através de uma parábola. "Peary conta que, na sua excursão no pólo, andou duran- te todo o dra em direção ao norte, fazendo os cães de seu trenó correrem rapida- mente. À noite, verificou a posição relativa do IL1gar, para de'termina, sua latitude, e percebeu, com grande surpresa, que estava muito mais ao sul do que de manhã. Du- rante todo o dra, estivera avançando com dificuldade em direção ao norte, sobre um imenso iceberg, deslocado para o sul por uma corrente marítima.'' 1 Os seres huma- 11os estão na mesma situação que o Comandante Peary no iceberg. A experiência do homem é determinada por sua imeracão com o seu ambiente. Pode parecer óbvio diler que o homem é influenciado por seu contexto so- c,al, o qual ele também influencia. Certamente o conceito não é novo; Homer já o conhecia. Entretanto, fundamentar tccnrcas de saúde mental neste conceito consti· tui uma nova abordagem. As técnicas tradicionais de saúde mental surgiram de uma fascinação pela di· nãmica individual. Esta preocupação dominou o campo e levou os terapeutas a se concentrarem na exploração do rntrapsíqu1co. Forçosamente, as técnicas de trata- mento I esultantes enfocaram exclusivamente o indivíduo, separado de sou meio. Uma "fronteira" artificial foi estali!:llecida entl"e o indivíduo e seu contexto social. Teoricamente. esta fronteira foi reconhecida como artificial, IT!as, na prática, foi mdnt,da pelo processo de terapia. À medida que o paciente foi tratado 1soladamen- 1e. os ctados encontrados se restrrngram inevitavelmente à maneira pela qual ele. ex cl us1vamente, sentia ou pensava a respeito do que lhe estava acontecendo. tal mate· 11al mdividual i,ado, por sua vez, reforçava a abordagem cio indivíduo separado de seu contexto e proporcionava escassa poss1b1lidade para um feecfback co11 et1vo. A p1 ópria rique1a dos dados disponiveis desencorajava outros enfoques. Em consc- qí.réncia, o indivíduo chegou a ser consideraclo como o terreno da patologia. 1 José Ortega y Gasset. Med,wc,ons on Ou,xore I New York. Nurron, 1961), p. 104. 12 Um t111 .1p in11.1 11111111t.ido par a ,J tllrop1,1 111d1v11luc1I ,1111du h•IH 11 li 111•1 n 111, ltvr duo como,, 11111m111 d,1 1i.1tolo111a e .i 1cL11111 ~0111cntc os dados q1111 p11d11111 •1111 11h11 dos do 11ll's11111 1111 \11h11• u mesmo. Por exemplo, um aclolesce11tl' pocli- lo 1 1,lo 111 c,:uninhatlo p 111 ,1 t,o ,1p1,1, porque é II m1do e devaneia na aula L u111 \Olt1 ,11111, 111111 d1f1culdo1l11111• 1,1• 111li1r.1onar com seus comp,mheiros U111 terapeLtlll quo t1,1l,,ill1,11,111 sessõo~ 111dlvl1h1.t1\ ,•xplotaria os pensamrntos e sentimcntt)s do 1apa1 sol11P ,1 ·,u.i vrclc1 ,llual, lw111 como as pessoas na mesmc1, o desenvolvimento histó1 ico tlc s('u t:<u1 flito co111 o~ p,os e i1 mãos e a int1 usão compulsiva deste conflito ,;m situ,içõcs exli ,, familíu1 cs. ap,nen temente não relacionadas. Estabeleceria contdtO com a familia e corn d escola, mas, para entender o rapaz e a relacão do mesmo com Slla fam ilia, confia, ,a p, 1nc1palmente no conteudo da comunicacão elo raµ.iz e nos fenômenos tra11sfcrenc1a1s. Urn<1 rec l1spos1ci:io cogn 1t 1va-afotiva interna é co11s1de1adH como o passo necess.irio para facilitar a melhora cio problema apresentado. Um 1e1 apeuta que t rabalha dentro deste esquema de I eferência pode ser comparado com um tecnico que usa uma lente de aumento. Os detalhes cio campo são claros, mas o campo é severamente citcunscri10 Um terarwlrta que trabalha no esquema de referencia ela terapia estrU1u1at da família, todavia, pode ser comparado com um câmera munido de urna filmado,a capaz de aproximai ou afastar imagens at ravés de um movimento de lentes (LOV/71fons). Pode movimentá-la rapidamente para um c/osl~up, sempre que desejar estudar o campo intrapsíqu1co, mas também pode observar com um foco mais amplo. Se o mesmo nipa, fosse encaminhado para um 1erapeu1a etc fa1nil1a, o tera· peuta exploraria suas interacões denuo de contextos vitais significantes Em cntrt.~ vistas de famllia, o terapeuta observa, 1a o relaciona111ento do rapaz com sua mãe, com sua mescla de 1nt1rnidade e host1lrdadc Pode11a notar que, quando o rapaz fala na r,rnsença de seus pais, raramente se dirige a seu pai, ou, quando o faz, tende a ldlê-lo através ele sua mãe, que t raduz ou explica seu filho pa,a seu marido. Poderia observar que os outros irmãos parecem mais espontâneos, inte1 rompem os pais ou talam tanto com o pai como com a mãe. Desta maneira, o ter·apeuta não tem d~ de• 11011tler das descrições do rapaz sobre seu pai, mãe e irmãos. para pressupor ;i in1ro 1cção das figuras familiares. Os membros da fam ilra estão presentes, demonstrando o comportamento em relação com o rapaz. que pode ser operacionalmente descrito. O foco mais amplo e a maior flexibilidade. franqueados ao terapeuta, aumentam as possibilidades de intervenção terapêutica. O terapeuta não fica rest rito à interação 1,1mrliar, na medida em que foi 1nternal1zada pelo 1apaz. mas pode experrenciar. por \I 111esmo, a maneira pela qual os membrns da fam,'lia apóiam e qual ificam uns aos uu11u~ Então, deSt:nvolve umil teoria transacional para explicar os fenômenos que l'~lil observando Pode também estar em contato com a escola do rapaz, uma ve, que o problema aprescn tado se relaciona com o desempenho escolar, e as ·teorias e 1úc111c:as de terapia da familia se prestam facilmente para trabalhar com o ,nclivr'cluo ,,m r.ontextos diferentes do famrl1a1. Deste modo, o terapeuta de família não concebe uma personalidade "ess~ll 1·l,1l", que µerma11ece imutável através das vicissitudes df! diferentes contextos e 13 ci1 cunstãncias. Considera o rapaL como um membro de diversos contoxtc,1 HCIC ln1$, ,1ç11r1do e reagindo dentro deles. Seu conceito de terreno de patologia é mu11n 111ms ,Hnplo, assim corno o são as possibilidades de intervenção. O homem em seu contexto A terapia estrutural da familia, abordando o homem em seu contexto social, 101 desenvolvida na segunda metade cio século vinte. Constitui uma das muitas res- postas ao conceito de homem corno parte de seu ambiente, que corneçou a ter acei- tação no começo do século. O pensamento psicodinâmico individual valeu-se de um conceito diferente, o do homem como um herói, permanecendo ele próprio, ades- peito das circunstâncias. Um exemplo deste conceito aparece no Paraíso Perdido. Quando Satã é derrotado em sua revolta contra Deus e arrojado no inferno, desafia as suas circunstâncias: The mí11d is its own p/ace, and of itself Can make a Hl!av'nof H11/I, a Hei! of H<:av'n. 2 ~ Esta percepção do ,individuo poderia sobreviver num mundo em que os iecur- sos do homem pareciam infinitos. A tecnologia moderna modificou este ponto de vista. A terra já não parece um territór io sem limites, esperando seus pretendentes, 111as urna es1)açonave, cujos recursos estão cl1minuindo. Estas mudanças se refle- tem nas percepções atuais que o homem tem de si mesmo e de sua maneira de ser. Já em 1914, Ortega v Gasset escreveu : "Eu sou eu e minhas circunstâncias, e se eu 11ão as preservo, 11âo posso preserva, a mi111 . Este seto1 da realidade circuns- tancial forma a outra metade de minha pessoa; somente através clele posso me in- legrar e ser inteiramente eu mesmo. A ciência biológica mais rnccnte estuda o orga- nismo vivo como uma unidade, composta do corpo e de seu ambiente particular, de maneira que o processo vital consiste não só na adaptação do corpo ao seu ambien- to, mas também na adaptação do ambiente ao seu corpo. A mãe tenta se ajustar ao obje to material, a fim de agarrá-lo firmeniente ; mas, ao mesmo tempo, cada objeto material oculta uma afinidade prévia com uma mãe específica."~ Existe uma mar- cante semelhança entre esta observação poética do começo do século e a explica- ção mais moderna, r.xwessà em linguagem cibernétlca, com a qual Gregory Bateson ~up1 i111111 a fronteira entre esp.:iço interior e exterior, para obte1 sua própria rnetá- lo1a da mente: "Co nsidere um homem cortando uma árvore com um machado. Ca- l Juhn Milton. Par,id,se Las1. 1. 254-255. Li1eralmente, tratluz1du corno " A 111ente é o seu próprio lugar; e. de si mesma, µode fazer um cóu do inferno, \I ITI 111ferno do céu (N . d11 trad,), 1 One9a, Medhfltiom vn Ouixott:, µ. 45. 14 tia golpe <I<> 111,11.I 1,11111 1l mo<li íicacJo 011 c:o, 1 íui<lo de aco1 d<> 1:0111 11 11,1111u tl,1 •11111111/ c:ie co1 wdn dn ,l!v11111, d eixada pelo qolpe a111a1 io1. Este proc1w,u ,11 1111111111 llvn 11 11:vado ti cubo 11111 11111 ~1s1ema total. ci1 vo1é·Olilos-cérebro-1núsc11lo~ 111u1 liuilu uolpu ' . d t "'1 " t itrvorc; n (t tJ~111 :.1~1r.ma 1ota l que 1ern ils caracterist1cas a .. . 111úll ,u, ,, 011 11111 11léia do l11dlvicluo, ,j(Jlndo sobre o seu ambiente, aqui se converteu 110 conuillu ilo 111dív1duo 1n1111nll1u11do com o seu ,Hnbiente. Pai-afraseanclo Orteya, 111 11 l11i11H.1111 11ílo é: ele prôpr111 St!IT1 suas circunstâncias. A nrn1Mo1a da mente, de Bateson, e a imagem poética de Ortega, sobre o 110 mem e su;is circunstâncias, são corroboradas por cxpe1 imcntos. que demonstrara111 que o co11lcxto influencia diretamente os µ, acessos internos da me.nte. Por exem- plo, o 11eu rologisrn José Delgado, que fez expe1 iências com a implantaç_ão ele e letro- dos em cérebros de animais, demonstrou conclusivamente que. enquanto o animal , esponde ao efeito desencadeador da estimulação e létrica, o comportamento, de- sencadeado desta maneira, é organizado pelo contexto do anima l. Ao escrever so- bre seus experimentos com macacos, disse: "Sabe-se inuito bem que as colônias de lllacacos constituem sociedades autocrátiças, nas quais um animal se conf irma co- mo chefe do :irupo, ex191nclo uma grande parte .do t~rritór10, alimentando-se em pri- muiro lugar e sendo evítado pelos outros, que . .. expressam sua submissão .. . Em d iversas colônias. obse1 vamos que a est irnulação pelo 1·ádio .. . do macaco chefe au- 11nmtava sua agressividade e induzia a ataques aplicados contra mJtros membros do tJ1upo. aos quais pe1segu1a e ocasiomilment e mordia ... Era evidente que sua hosti- llddde estava orientada intencionalmente . .. porque hal>itualrrwnte atacava o outro int1cho, que representava um desafio à su.:i autoridade, e sempre poupava a lemea- 1í11ha, que era a sua parceira favorita." ó Em outras pai avras. o desencadea111ento nlótiico, interno, do comportamenro sempre era mod iticado pelo contexto. A esti- 1m1lr1ção elêtrica podia produzir agressão, mas a expressão dessa agressão se relacio- 11«1v.i com o grupo social. O interesse de Delgado pela relação entre a estimulação cléHica do cérebro e i, contexto social cio animal estim ul ado o levou a fazei· experimentos, modificando 11 nontexlo social do animjl. A posiçã◊ social de uma màcaca foi alterada. modifi- 1 1111(10 u composição do grupo. No primeiro grupo, estava na posição mais baixa en- 11,1 quatro, no segundo g-rupo, ocupava o terceiro lugar e, no terceiro grupo, estava ,.ulocmla cm segundo lugar. Em todas as t rês colõnias, as estimu lações elétricas in- d11111 (IIT1 a macaca a correr através do sua 1aula, a trepar, a bater, a vocalizar e a ata- 1 111 uu 11 os animais. No primeiro grupo, ela tentou atacar ouuo macaco apenas uma v11, N(l lp upo dois, se tornou mais ag1·ess1va, atacando vinte e quatro vezes. No gru- 1111 11 (,s, d macaca estimulada atacou Olltros macacos setenta e nove vezes. Delgado 1 u1wlu1u: " a nyressão intr11-espécie fo i suscitada ... pela estimulação elétrica rJe vá- 1 i.11, 0~1111l l11.-1s ce1el>rais e sua expressão clepenrle da coloca1_;iío social. .. um alo 11,1,111111y lfotcson, "TheCyberneucso1 Self:A fheory of Alcoholism," P.,ych,otry,34 (1971 ). 1 1111/1 M li Ucl11aclo, Physical Coorro/ of tl,c Mmd; Toward a Psvcltoc,vlllzod S<n'IIJ/V {N(•w 1'111 ~ 1 l íll'fllll & Row, 1969 ), p. 129. 15 agi e$SÍYO, suscitado artilicialtnente. pode ser dirigido contra um mcmb1 o u~p•u. ti tc:o d o yrupo 011 podr. ser ínterrainente surrirnido, de acc;>rclo c:0111 a posição soc tnl d u su je ito estimulado." 6 Delgado também descobriu que se um macaco de bilixa posição social é levei mente estimulado no centm da 1a1va, porte não mostrar. absolutamente, uma res- posta de raiva. Esta averiguação poderia ser explicada corno repressão. Mas também e possível explicar a ausência uc resposta cio macaco em termos de dois diferentes 1/lfJIICS, um dos quais mais rorlcroso. Se o input do contexto do macaco de baixa posição social é mais poderoso do que a estimulação cio cérebro , a raiva poderia não Sf't sentida. Se a es1imulc:1ção é au111entada, o comportamento do macaco denHo ele seu contexto se modifica. da mcsrna fonna que se as circunstâncias sociais são mo- cti ficadas. Delgado leva suas observações n1a1s alêm para uma consideração ela influência ela esfera social sobre o homem. "Não podemos ser livres de pais, professores e da socwdade" - escreveu - "por(lue eles constituem as fontes extracerebrais de nossas rnentes." 7 O conceito de mente cerebral e extrncerebi-al de De lgado é diretamente comparável aos conceitos de Bateson e 01 Lega.~ Uma mente humana se desenvolve à medida que o cérebm processa e armazena os múltiplos inpv ts, desencadeados tanto interna corno externamente. 1 nformações, atitudes e maneiras de perceber são dssimiladas e arrnaLenaclas, deste modo se tornando parte da abordagem da pessoa "º contexto atual, com o qual interatua. A familia e um fator altamente significante neste processo É um grupo social 11;nural , que governa as respostas de seus membros aos inputs ele rJl'lltro e de fora. S ua organização e estn.Jtura peneiram e qualificam as experiências dos membros ela tami'11a. Em muitos casos, pode ser considerada como a parte extrace1ebral ela men· IP.. A influência da familia sobre seus membros foi demonstrada experimental- mente através de uma investiç1açifo de doença psicossomática da infância, desenvol · viela por mim, Lester Baker e nossa equipe. As averiguações ela pesquisa proporcio- 11a1arn fuhdãmentação experimental para o prindpio básico da te rapia da familia, isto é, que a crianca r·esponde aos stresses que afetam a fam ilia. Desenvolvemos um mé todo de mensuração das respostas fisiológicas individuais ao estrnsse familiar. Du- 1anle uma entrevista familiar estruturada, destinada a este firn, foram colhidas 111nostras sangüíneas de cada membro da familia, de tal maneira que a obtenção das amost ras não interferisse nas interações em curso. O nivel de ácidos graxos livres de plasma, nas amostras. é analisado posteriormente. O ácido graxo livre (FFA)-é um indicador bioquímico ela estimulação emocional - a concentração se eleva dentro ele c inco a quinze minutos de estresse emocional. Comparando os nive1s de FFA, 1 ' 1h,cl.. p. 132. 7 llnrl , 1>. 24 3. 11 0 conceito de Delgado eleve se, ampliado, para inclui, o s1sterna neurovegetativo, como foi de- mons1rado p,110 trabalho de Neal MiHer, e o sistcm.i endocnno, conforme as investigações rle Selye 'Alirevi.oção tle Free Fa1 rv Acid (N. da trad. ). 16 +.6 +.5 +A +.3 +.2 +.1 o -.1 -.2 -.3 8h 9h 1 Entre vis ta , 1 1 10h 1 ir1 1 Mod1f1cações d os FFA ua farn iha Collins. _ ------""! Mãe ··•·········•········· • Pai ''°"-~-- ____ _. Violet 11 h 12h (meio-dia) um d iterentes momentos, durante a entrevista estruturada, a resposta individual ao 11strcsse fam iliar pode ser fisiologicamente documentada. Os resultados do FFA da família Collins constituem um bom exemplo (Figu- 1,1 1 ). Ambas as filhas eram diabéticas. Dede, de 17 anos, tinha diabete hâ três anos; ~ua irmã Violet, de 12 anos, tinha sido diabética desde a infância. Estudos sobre a " l111lilidade fisiológica" das mesmas mostraram Qlle não havia diferenças óbvias em Mil! rcsponsividade individual ao r:stresse. Contudo, as duas, com o mesmo defeito rnotabó lico, tendo quase idênticas qualidades genéticas e vivendo na mesma casa ,:om os mesmos pais, apresentaram problemas clínicos muito diferentes. Dede era 111110 " d iabética superlábil", isto é, sua d iabete era afetada por problemas psicosso- 111(111cos. Ela era sujeita a acessos de cetoacidose, que não respondiam à insulina 11dm111is lrada no lar. Nos t rês anos, t inha sido internada em hospital , para trata- 11um10 de emergência, vinte e três vezes. Violet tinha alguns problemas comporta- mt1nt,1is, dos quais os pais se queixavam, mas a sua d iabete estava sob cont role mé- dlt•t> r.é1 li~fa16rio Durante a entrevista, destinada a medir a resposta das f ilhas ao estresse, du- 1111 11 lu das 9 às 10 horas da manhã, os pais foram submetidos a duas diferentes con- dh;c~r,s ele estresse, enquanto elas os observaram através de um one-wav mirrar. Mui- 111 umbora as filhas não pudessem participar da situação de conflito, seus níveis de 1 1 /\ ~IJ eleva ram, à medida que observavam seus pais. O impacto cumulativo does- ll OlMI psicológico atual foi bastante poderoso para ocasionar marcantes modifica· i,<lua fl~lológicas mesmo nas filhas não envolvidas diretamente. Às 1 O horas. e las ío- 17 ram trazidas para a sala, corn seus f)aís. Entifo. se tornou claro que dose111p1111h,1vnrn papéis rnuito diferentes nesta fam{l1a. Dede estava como que presa numa t11m1ullll1u entre seus pais. Cada um deles tentava conseguir o seu apoio na briga com o utn10, de maneira que Dede não podia responder às solicitações de um, sem parecei tn1lln1 partido contr'a o outro. A adesão de Violet não era buscada. Portanto, e la pod1:i reagir ao conflito parental, sem se enredar no mesmo. Os efeitos destes dois papéis podem ser observados nos resultados do FFA. Ambas mostraram significativos incrementos, durante a entrevista, entre 9 e 1 O ho· ras, e a inda maiores aumentos entre as 1 O e as ~ O e 30. quando estavam com seus pais. Após o final da entrevista. às 10 e 30, toclavia, o FFA de Violet retornou ao nível básico, prontamente. O de Dede perman€Ceu elevado durnni:e uma ho1·a e meia mais. Em ambos os esposos, os níveis de FFA aumentaram das 9 e 30 às 10 horas, indicando estresse nas transações entre o casal. rAas seus níveis de FFA baixaram depois que as fi lhas entraram na sala e os esposos assurnirarn as ·funções parentais. Nesta família, o conflito intraconjugal diminuía ou se tlpsviava quando os esposos assumiam as funções parcntais. As filhas funcionavam como mecanismos de desvio do conflito. O preço que elas pagavam é demonstrado tanto pelo aumento de seus níveis de FFA, corno pela incapacidade de Dede de voltar ao seu nível básico, A in- terdependência entre o indivíduo e sua família - a co1Tente entre o ele "dentro" e o de "fora" é agudamente dernonstrada na situação experimental, em que os acontc· cimentos comportamentais entre os membros da família podem ser medidos na cor· rente sangüínea dos ouHos membros da famíl ia. O terreno da patolog ia Quando a mente é considerada tanto extracerebral como intracerebral, loca· lizar a patologia na mesma não 111dica se está dentro ou fora da pessoa. A µatologia pode estar dentro do paciente, em seu contexto social ou no feedhar.k entre e les. A barreira artificial fica indistinta e, portanto, a abordagem çla patologia deve mudar. A terapia proposta, a partir deste ponto de vista, se baseia e.111 três axiomas. Cada um deles tem uma ênfase bem dderente do axioma relacionado da teoria individual. Primeiro, a vida psíquica de um indivíduo não é inteiramente um processo interno. O indivíduo influencia o seu contexto e é por ele influenciado, em seqüências de ação constantemente recorrentes. O indivíduo que vive numa família é u111 mem• bro de um sistema social, ao qual deve seadaptar. Suas ações são governadas pelas características cio sistema e estas caracter{st1cas incluem os efei tos de suas próprias ações passadas. O individuo responde aos estresses em outras partes do sistema, às quais se adapta, e pode contribui, siQnificativamente para estressar outros membros do sistema. O incl1víduo pode ser encarado corno um subsistema ou como parte do 18 sistema, mn~ 11 todo deve ser levado ern conta. O segundo t1xlo11,n 1 1111JJ11c.1111111 n ot111 tipo de 1ornpl11, t\ que as mudanças numa estrutura familiai cont I ih11111,1 1 ►11111 11iudr1r1 ças no co111po1 tomento e nos processos psíquicos internos dos rnombms donso sist e· ma. O torcolro axioma é que quando um terapeuta trabalha com um pociome 0 11 com a fam ilin de um paciente. seu comportamento se torna pane do contexro. O terapeuta r~ a familia se associam para formar um sistema terapêutico, novo, e este sistema, então, governa o comportamento de seus membros. Estas três pressuposições - de que o contexto afeta os processos internos, de que mudanças no contexto produzem mudanças no individuo e de que o comporta· mento do terapeuta é significante na mudança - sempre foram parte do fundamen- to <Je senso comum da terapia. Ocupararn o fundo de cena na literatura da psicote· rapia, enquanto os processos internos se puseram em evidência. Todavia, não setor- naram fundamentais para a prática psicoterapêutica, na qual ainda existe uma d ico· tom ia artificial entre o indivíduo e o seu contexto social. Um e.xemplo pode ser extraído de conceitos do pensamento paranóide, por- que nesta área é vital uma compreensão do contexto do paciente. Apesar disso, em termos intrapsíquicos, a paranóia é abordada como um transtorno do pensamento fo rmal, em que a percepção dos eventos é determinada por processos internos. Co- mo Aaron Beck escreveu : "entre os normais, a seqüência percepção-cognição-emo- ção é ditada grandemente pelo caráter necessário da situação estímulo ... (Todavia) o paciente paranóide pode abstrair selet ivamente aqueles aspectos de sua experiên- cia, que sejam consistentes com a sua idéia preconcebida de perseguição, etc. Po· tlc fazer julgamentos arbitrários que não têm base real. Habitualmente, estes se ma- nifestam através da interpretação de significações e sentidos oc'ultos nos aconteci- mentos. Também tende a generalizar casos isolados de intrometimento, de discrimi· nação, etc ... " 9 Nestes termos, a paranóia é um fenômeno interno somente tan- genciatmente relacionado com a realidade. Isto pode ser comparado com uma compreensão da paranóia relacionada ao contexto. Num estudo de pacientes, doentes mentais, com sintomas paranóides, E1 ving Goffman salienfpu que, nos estádios iniciais da doença, o contexto social Introduz uma complem?ntaridade com o paciente, que apóia a sua doença.1 0 Gru- pos sociais significativo~. tais como colegas de trabalho. tentam conter o paciente, porque os seus s1ntomjs têm um efeito desintegrador. Eles o evitam, quando possí- ve l, e o excluem de. cil'ec1sões. Empregam um estilo de interação humorístico, apazi- guador, cautelosp-, que desalenta tanto quanto possi'vel a pa1ticipação do paciente. Pú dem até espiá-lo ou formar uma rede consp iratória de maneira a seduzi-lo para que I eceba assistencia psiquiátrica. Seu tato e o sigilo bem-intencionados privam o pociente de um feedback corretivo, com a conseqüência básica de construir, em tor• no (lo paranóide, urna comunidade paranóide verdadeira. '} Aoron T. Beck, ' 'f>aranoia," rr11 1·neo. Universíty of Pennsylvania. Utilizado corri pormlsstto tla IIULor. 111 Erving Goffman, •• lnsanity of Place," Psychi1Jrry, 32 11969). 357-358. O pensamento e o comportamento paranóide também podem ser crlotlo~ ox· perimentalmente, em profissionais normais, altamente instruídos, através de expe- riências de grupo, tais como as projetadas nos Leadership lnstitutes da Tavistock Clinic. No "exercício de grande grupo", trinta a cinqüenta participantes estão senta· dos em círculos concêntricos, de três a cinco círculos. Os médicos estão espalhados pelos círculos, vestindo roupas de trabalho, com fisionomias. inescrutáveis e si\en· ciosos. Ao grupo é dada uma tarefa ambígua: estudar seu próprio comportamento. Dentro da estrutura deste exercício sem liderança, os participantes fazem afir· mações que não são dirigidas a alguém em particular e, em razão da disposição pela qual estão sentados, a metade dos participantes está de costas e não pode ver quem está falando. O diálogo não se desenvolve; uma afirmação pode ser seguida por uma afirmação diversa, numa área diferente. Desta maneira, as comunicações não são va- lidadas por feedback concordante ou discordante. Cada vez mais, se observa o apa- recimento rápido de suspeição, confusão a respeito da natureza da realidade que es- tá sendo experienciada, a busca de um alvo e, finalmente, o aparecimento de bodes expiatórios no grupo ou a classificação dos médicos como perseguidores onipoten· tes. Neste contexto, se desenvolve invariavelmente o "pensamento paranóide" e é manifestado por participantes, cujas circunstâncias de vida e histórias de desenvolvi- mento foram, sob outros aspectos, muito diferentes. 1 1 Desta maneira, é evidente que a experiência individual depende das caracteristicas idiossincrásicas do indivi- duo em seu contexto de vida atual. Um estudo de caso No País das Maravilhas, Alice subitamente cresceu até um tamanho gigantes- co. Sua experiência foi de que ficou maior, enquanto a sala se tornou menor. Se Alice tivesse crescido numa sala que também crescesse no mesmo ritmo, ela pode- ria ter experienciado tudo como ficando na mesma. Somente se Alice ou a sala mu- dam independentemente, ela na verdade experiencia mudança. É simplista, mas n.ão impreciso, dizer que a terapia intrapsíquica se concentr.a na mudança de Alice. Um terapeuta estrutural de familia se concentra na mudança de Alice dentro de sua sala. O tratamento de um paciente com transtornos de pensamento paranóide é instrutivo sob estes diferentes modos de ver. Uma viúva italiana, com quase seten- ta anos. que vivera no mesmo apartamento durante vinte e cinco anos, um dia che· gou em casa, descobrindo que tinha havido um roubo no apartamento. Decidiu se mudar e chamou uma empresa de mudanças. Foi o principio de um pesadelo. Se· 1 1 Ver Margaret J. Riçch, "Ali We Like Sheep - nsaiah 53:6) : Followers and Leader~," Psy· chiorry, 34(1971). 258-273. 20 tJlmdo o do~, 111v1u1, ,ts pessoas que v1e1 nm para tazer sua mudn11çn to11turnrn f iscal,. 11u· onclo ol,1 lu ll11,mdo transporta, am seus pertences, intenclonn\111111HO llU&eram forn du \1111111 11111101 drram suas preciosas coisas. !Deixaram marcas si11ls11 ns escritas cl f1 od,1~ 1•111 Mll 15 móveis. Quando saia, pessoas a seguiam, fazendo sec1etamente sina,~ llfllilN t1111J c1~ outras. Foi a um psiquiatra. que lhe deu tranqüilizantes, mas as suas cxpo11óncias não se modificaram. Então. foi encaminhada a uma u nidade de in- 'º' 11açíio, onde outro psiquiatra a entrevistou. Intencionalmente, ele deixou uns 1 rascos sobre a mesa. Muito embora não soubesse o que eram, eles lhe pareceram c:ertan1cnte µerigosos. Ele recomendou hospitalização, mas ela recusou. Foi consultar outro terapeuta, cujas intervenções se baseavam numa compre- onsão ecológica dos idosos e solitários. Explicou à mulher que e la havia perdido sua proteção - o antigo lar. o nde conhecia cada objeto, as adjacências e as pessoas na viL1nhança. No momento, corno qualquer crustáceo que tivesse perdido a sua casca, es tava vulnerável. A realidade tinha um efeito experiencial diferente. Estes proble- mos desapareceriam, lhe assegurou, quando lhe crescesse urna r1ova concha. Discuti- r um como diminuir o tempo que i'sto levaria. Devia desempacotar todos os seus plll tences, pendurar os quadros que haviam decorado seu apartamento anterior, co- locar os livros nas prateleiras e organizar o apartamento, de maneira queele se tornasse tamilíar. Todos os seus movimentos deviam entrar numa rotina. Devia le- vn11rnr numa determinada hora, fazer suas compras numa hora certa, ir às mesmas lojus, pagar nos mesmos guichês e assim por diante. Não devia tentar fazer novos 11111luos na 11ova vizinhança durante duas semanas. Devia voltar a visitar seus velhos 11111i11os, mas a fim de poupar seus amigos e a família, não devia descrever qualquer tlu 11uas experiências. Se alguém perguntasse a ,·espeito de seus problemas.devia ex- p\l<.:111 que e les eram simplesmente os problemas de gente velha, ilógica e medrosa. l::sta intervenção estabeleceu uma rotina para ajudar a paciente a aumentar 1,11 11 son1irlo de familiaridade com um novo território, de forma semelhante à que os 1111itn1J1s exploram e examinam uma área desconhecida. A amedrontadora experiên- 1111 do fa lta de familiaridade com circunstâncias novas tinha sido interpretada como 1111111 rnnspliação contra si. Na mesma medida em que tentou comunicar suas expe- 110111: ius, seu feeuback aml.Jiental amplificou a sua experiência de ser anormal e p~tt•ótlca. Seus parentes e amigos ficaram alarmados por causa dela e, por sua vez, a 1111111tlro11tor.11n por sua conspiração secreta. Uma comunidade paranóide tinha se d11Ru11volv1do em torno dela. Dois psiquiatras diagnosticaram sua condição como 1111111 psicose com um dei írio paranóide e, de acordo com essa interpretação, p ropu ~,,, nm 1nt011,amento. T odnvin, um terapeuta, associado à concepção de contexto, interpretou a mu• 1h111r.:11 pnrn um novo apartamento como uma crise ecológica. De acordo com a niulrt 111111 1111 /\1\ce em sua sala, ele percebeu a mulher como se modificando mais VU(lillO 111111111111 110 que o seu mundo. Sua intervenção requereu a mudança do poslçiio 1h1 11111111111 nrn sou mundo, dando-lhe1controle sobre este, até que o mesmo so tom1uio 1 .. 111lihu, íornou providência~ par<1 protegê-la, tomando conta da situação, gul1111tl11 o 1111q111111tn ola "desenvolvia uma nova concha". Ao mesmo tempo, bloqu(lo11 111 ?. I processos de feedback, que estavam amplificando a patologia da paciente. Como sua intervenção modificou a experiência que a paciente tinha de suas circunstâncias, seus sintomas desapareceram rapidamente. Continuou vivendo em seu novo aparta· mento, com a independência que desejava. Neste exemplo, como na parábola do Comandante Peary, a mudança ocorreu não tanto dentro ou fora da paciente, co• mo na maneira como se relacionou com suas c ircunstâncias. A terapia estrutural da fam(lia trata do processo de feedback entre circuns· tãncias e a pessoa envolvida - das mudanças impostas por uma pessoa sobre suas c ircunstâncias e da maneira pela qual o fcedback a essas mudanças afeta o seu pr6· ximo ato. Uma mudança na posição de uma pessoa vis-à•vis de suas circunstâncias constitui uma mudança de sua experiência. A te rapia ele famíli a utiliza técnicas que a lteram o contexto imediato das pessoas, ele tal maneira que suas posições mudam. Mudando a re lação entre uma pessoa e o contexto familiar em que atua, modifica-se sua experiência subjetiva. Por exemplo, uma menina de doze anos tinha asma, que era desencadeada psicossomaticamente. Estava sob intensa medicação, faltava às aulas freqüentemen· te e, no ano anterior, teve de s.er levada à sala de emergência tres vezes. Foi enca• minhada a um psiquiatra de crianças, que insistiu em ver tod a a família - os pais e os doü irmãos mais velhos da paciente identificada. Durante a primeira entrevis· ta, o terapeuta chamou a atenção da familia para a obesidade da filha mais velha. A preocupação da família então mudou para incluir a preocupação sobre a paciente recentemente identificada. Então, os sintomas da criança asmática diminuíram até um ponto em que sua asma se tornou controlável com muito menos medicacão e deixou de faltar à escola. A mudança ocorreu na estrutura da familia. Mudou de dois pais protetora· mente preocupados com a asma de uma filha para dois pais preocupados com a as· ma de uma filha e com a obesidade de outra fi lha. A posição na família da pacien· te previamente identificada se modificou e, concomitantemente, sua experiência mudou. Começou a ver a sua irmã mais velha como uma pessoa também com difi- culdades. A maneira preocupada e superprotetora de seus pais interagirem com ela diminuiu, com o acréscimo de outro objeto de preocupação. O terapeuta modificou parte da organização da fam i'lia de forma a tornar o movimento possível. Uniu-se a eles numa modalidade que lhes era familiar - preocupação-, mas ampliou o obje- to de preocupação. A nova perspectiva mudou a experiência dos membros da farní- lia. Este é o fundamento da terapia de família. O terapeuta se une à família, com o objetivo de mudar a organização familiar, de tal maneira que as experiências dos membros da família se modificam. Facilitando a utilização de modalidades alterna· tivas de transação entre os membros d,;1 família, o terapeuta faz. uso da matriz fami· liar no processo de cura. A família modificada oferece a seus membros novas cir- cunstâncias e novas perspectivas de si mesmos vis-à-vis de suas circunstâncias. A or- ganização modificada torna possível \Jl"l1 corMnuo reforço da experiência diferente, que proporciona uma validação .cfo sentido diverso de si mesmos. 22 O l11dl11(t11111 J1Ht> /, ignorado nesta estrutura teórica. O 11111~1,11rn do l111llv ícl1u> ci o SOlJ pnM11du 11rn1s us suas circuns1ânc1as presen tes. Parte do ~Q11 1w,~11do SUIJ1Jll'll solirovivo1 (1, ,11111111q1clo e modificado pelas inter ações atua is. T anto o S<HI pnssado wmo ns s\111~ q11uliclades singulares constituem parte de seu conrnx10 socinl, q ue in fluenclan1 l,11 co1110 o contexto o infl uencia . O Cl ue se evidencia de estudos, como o de Delri.ido, Í! u111 respe ito pelo indivíduo cm seu contexto, urna preocupação não ~ó com as qualidades inerent es e adquiridas do indivíduo, mas também com sua in- 1e,ação no prese111e. O homem tem memória , é o produto de seu passado. Ao mes· mo tempo, suas interações com as circunstâncias presentes apóiam, qualificam ou mod ificam a sua experiência. A teoria estrutural da familia utiliza este esquema de referência de conceitua· lizar o l1omem em suas circunstâncias. O objeto de intervenção poderia também ser co11stit uído por qualquer outro segmento do ecossistema ind ividual, q ue pareça accssivel para estratégias produtoras de mudança. A esfera de ação do terapeuta A esfera de ação do teraµeuta de família e as técnicas que util iza para atingir seus objetivos são determ inadas por seu esquema referencial te61·ico. A terapia es- t1 utural de fami'lia é uma terapia de ação. O instrumento dest a terapia é para modi· l1ca1 o presente, não para explorar e interpretar o passado. Uma vez que o passado 101 instrumental na criação da presente organização e funcionamento da fami'lia, se 1rn1nifesta no presente e será suscetível à mudança, pelas int ervenções que modifi- t;,1m o presente. O objeto de intervenção, no presente, é o sistema familiar. O terapeuta se une ,1 osse sistema e então utiliza a si mesmo para transformá-l o. Mudando a posição dos 111omhros do sistema, ele modifica suas experiênc1as subjetivas. Para esta finalidade, o terapeuta conta com certas propr iedades do sistema lnmi liar. Primeira: uma transformação em sua estrutura produzirá, pelo menos, uma possibilidade de mudança ulterior. Segunda: o sistema familiar estâ o rganizado em lr>rno do apoio, reglilarnentação, proteção e soc-ial izacão de seus membros. Conse- <Jlio111ornente, o teiapeuta se une à família não para educá-la ou socializá-la, mas r111tes para restaurar ou modificar o própdo funcionamento da fam ília, de lorma quo possa desempenhar melhor essas tarefas. Terceira: o sistema familiar tem pro p, 11icfnrles de autoperpetuação. Portanto, os processos que o terapeuta inicia. dentro 1111 l,,mt'lia, serão mantidos, em sua ausência, pelos mecanismosde auto-regulação do l11111ilia. Em outras palavras, uma vez que se produziu uma mudança, a 'familfa u p1osorvará, providenciando urna m atr iz d iferente e a lterando o feedback, qqe oon 1l11uomcnle qualifica ou valida as ex periências dos membros da familia. 23 Fstcs co11ce1tos de est1 utura constituem o fundamento da terapia de fami'!ia. Todavia, a te1 apia estrutural da fam i'lia deve começar com um modelo de norrnali· dade, para medir o desvio. Entrevistas com familias func ionando eficientemente, de diferentes culturas, ilustrarão as dificuldades normais da vida familiai, qL1e trans· cendem diferenças culturais. 24 Uma família em formação: 2 a família Wagner e Salvador Minuchin A família é uma unicfacic social que enfrenta uma série de tarefas de desenvol • v1111u 11 LO. Estas diferem junto com rarãmetros de diferenças culturais, mas possuem 1 i111es universais. Este aspecto comum das situacões familiares foi expresso habil- 111ontc por Giovanni Guareschi: Po, que continuo filiando sobre m im, sobre Margherita, Albertino e sobre l'usioncu ia? Na verdade, nada ex iste de ''excepcional" sobre nós ... Margherita não ,1 \1ma mulher "fora do comum". Tampouco Albertino e Pasionar ia são crianças "ox l111rn dinários". Existe uma centena de variedades diferentes de uva, desde a branca até a pre• t ,1, da doce à ácida, da pequena à grande. Mas se você espreme uma centena de ca- chos de uvas de diferentes variedades, o sumo será semp1c vinho. Se você esmaga uvas, jamais obtém gasolina, lei te ou limonada. E é o sumo que se leva em conta. em tudo. E o sumo de minha farni'l ia é igual aode milhões de famí lias"comuns". por- que os problemas básicos de minha fan1ílta são os mesmos que os de milhões ele fa· ,nílias: resultam de uma situação íam il1ar, baseada na necessidade de se manter fiel aos princip,os que constituem o fundamento de todos os lares "comuns". 1 Os Wagner, na entr·evista que se segue, constituem uma família comum, isto é, o casa l tem muitos problemas na relação de um con1 o outro, na educação dos fi · lhos, em tratar com os parentes afins e em enfrentar o mundo exterior. Como todas 1 Giovanni Guareschi, My Home Sweet Home (New York: Farra,, Str;,u., and Girm1s, 1960), 1 pp. vii-vii 1. 1 25 as fam(lias normais, r.les estão co11stantementc h1t11rnh1 c:0111 r.sses problemas e rwqn cia11clo os compromissos, que tomam possível uma vld.i 1'111 i:ornurn. A entrevista com eles foi concluzitla para illJSl1 ,11 m esládios e os processos cio clesenvc;ilvirnento familiar. Corno os Wagner cons-1;itt1orn 11111.i familia jovem, a sessão foi d irigida para a exploração da formação ela farniliil 1) elas mudanças que ocorrem numa família com a chegada do primeiro filho. No começo do casamento, um jovem casal enfrenta certo número de tarefas. Os esposos elevem desenvolver uma acomodação mútua ern urn grande número d.e - pequenas rotinas. Por exemplo, devem desenvolver rotinas para deitar e levantar aproximadamente na mesma ho1 a. Deve havei uma rotina para comerem juntos, pa· ra pôr e tirar a mesa. Deve havei uma r otrna para se despirem e te, relações sexuais, para compartilharem cio banhelio e do jornal de domingo, para assist irem televisão e selecionarem os programas, como também paro irem juntos a lugares que ambos aprecien1. Neste processo de acomodação m<rtua, o casal desenvolve um conjunto de transações padronizadas - maneiras pelas quais cacfa cônjlige desencadeia e contrCJ· la o comportamento do outro e, por sua vez, é influenciado pela seqüencia compor- tamental p1 évia. Estes padrões transacionais formam uma rede invis(vel de. exigên- cias complementares. que regulam muitas situações familiares. O casal também enfrenta a tarefa de separação ele caçla fami' lia de origem e de negociar uma relação diferente com pais, irmãos e parentes afins. As lealdades de- vem mudar, porque os compromissos fundamentais dos novos esposos são com seu matrimônio. As famílias de origem devem aceitar e apoiar esta ruptura. Da mesma maneira, os encontros com o que é extrafamiliar - trabalho. deve· res e prazeres - elevem ser reorganizados e ajustados de. maneira nova. A~ decisões devem ser 1nfluenc1aclas pelo modo como as C)(igências do mundo exterior serão au- torizadas a se introduzi1• na vicia da nova farnília. Cada esposo deve travar conheci· menta com os amigos do outro e seleciona, os que devem se tornar os amigos do casal. Cada um pode ganhar novos amigos e perder o contato com antigos. O nascimento de uma criança caracteriza uma mudança radical na organização familiar. As funções dos esposos devem se diferenciar para satisfazer as exiçi_encias da criança, em termos de cuidado e alimentação e para manejar as rest rições assim impostas ao temro dos pais. Habitualmente, as incumbências físicas e emocionais • µara com a criança requerern uma mudança nos padrões transacionais dos esposos. Aparece um novo conjunto ele subsistemas na organização familiar, tendo as cr-ia;- ças e os pais novas funções. Este periodo também requer uma re-negociação de limj- tes corn a fam il 1a mars amp.la e com o extra familiar. Os avós, tias e tios podem en- trar em cena, para apoiar, guiar ou organizar as novas funções na fami'lia. Ou os li- rni·1<1s em torno da familia nuclear podem ser fortalecidos. As crianças se tornam adolescentes e, então, adultos. Novos irmãos se juntam /1 fnmilia ou os pais se tornarn avós. Desta maneira, em diferentes períodos de de· ~nnvolvimento, a família precisa se adaptar e se reestruturar. As mudanças na força u m1 produtividade relativa dos membros da familia requerem acomodação conti- )O m!f1 I! duv11111 np111.11 1r 11ncorajm o crosc:;li11m110 de todos os sous 11111111i11ub, (•ntgru11to \rt t1dflpl11111 11 11111,1 11111:mcl,,rlc em transiçüo l stas tarefas não silo fácul~ N1m1111111111vl~1,1, o casal ilustra algumas das dif iculclacles. Cmlly II Mu1k Wug· rull t lnhu1i1 1l111111lo !ili quatro anos ali ás. Tém um filho, Tommy, <lo trê& ,mos. H:i 11111 uno ,1t1A11, tlv1ii.un quatro sessões corn 111n conselheiro matrimonial. A1u;ilmon li•, so cl11~,1th:mr1 cu1110 uma familia normal, que atravessou dificuldades. Or~J11lham- M1 <ICJ lu1u111 ,11111oi<lo um nivel de desenvolvimento, em que existe um mütuo a1_)oio e c1osci1110nto. ílcsponderarn a um anuncio, num jornal local, solicitando urna familia nor- 11101 para participar de uma entrevista, em troca de uma gratificação. A entrevista fm roalizada diante de uma grande audiéncia de terareutas de familia, que estavam r,1111tados na mesma sala e que responderam à entrevista, à medida que esta se desen- volv<Jll. Tommy estava na sala, brincando com uma baby-sitter. A entrevista não é uma entrevis ta terapêutica. É uma entrevista que trata cio tl1Js1•nvolvimento, destinada a colher material h istórico e a aliciar as percepções dos 11mtlc1pontes sobre o funcionamento da famí lia. Numa entrevista com urna fami lia 110111101, tixiste um contrato implícito. A família, tendo-se c lassificado como normal, d11 111lc10, se,á co11firmada e apoiada nesta crença pela entrevista. Ao sair, ainda se 11,,rnidorará como sendo uma família normal. MINUCH IN: A primeira coisa que quero saber é por que estão aqui? Como 111,11fvmn111 vil? Qual f·oi o processo? S1 WAGNER: O sábado, na medicla em que me diz respeito, é nosso dia li- l/lll, flOI ossirn dizer. OL1eirn ela o que quiser, bem, o faremos. Eu quero continuar ,1•11111, O domingo, então, é mais ou menos o meu dia, MI NUCH IN : Isto é interessante; quer dizer que vocês decidiram dividir o firn- dt, lli111111M um termos ele dias em que você torna as decisões importantes e d ias em 111111 •1m osposa o faz? Sr. WAGNER: Não inteiramente, é uma espécie de . .. MINUCIIIM : Apenas acontece. Como aconteceu? É interessante, historica 1111111!0, 1:01110 choua,am a este tiµo de divisão da tornada de decisões? Vocês lem- 11110111 li1 W/\GN[R . Eu vou arriscar um palpite. Eu costumava trabaihardeseç1un• d 111 t'lll11<lt1 ,,o negócio do hospital, o sábado era uma espécie de fim da jornada. 1 li .i111111111 quu o dominyo cm o meu dia I ivre, no que me dizia respeito. Assim, tão 1111111 11 •filmdo ficou d1sponivel, ela se acionou dele, por assim dizer. Eu não a dei• lí o 111 1111 p111l11rõr1c1a por clo,nmyo, po, qu,~ domingo de certo modo era o me11 ,1111 MIN\JCIIIN Assun, vocês clesenvnlver;im esse tipo de regra irllplícita, sem j11 r,1,111 r• 11111u111 q111J osta Pra él rnamtira ele vocês funcionarem. 11111 W/\CiN fR · Via cio ro!Jra, no domingo, ele vai pescar ou alqo assim 11 1111 , 111111 11\ 111uq~ p1'1pr ios planos, Sempre tem sido dessa maneira; hem, tom r.1cfo 11~ llt111th 1111tf~ ,,u 111er1os urn ano. MI N UCH I N: Ele vai rcsca1 no domingo. S/1butfo é o cl 1a em que vocês d o is fazem coisas juntos e é você quem decide o ql1ê. Sr. WAGNER: Não é assim, realmente não é t:io 11g1do. Eu diria que, no sába- do, há mais probabilidade de que minha esposa decida o que vamos fazer S1 a. \IVAGNE R. Habitualmente, eu tenho algo planejado, sabe, que cu quero ta1.er e, costumeiramente, o fazemos. Os Wagner estão discutindo um 11ad1·ão transacional, que se desenvolveu no decurso de sua vida de casados. Muito embora sejam capazes de reconstituir o de- senvolvimento deste padrão e não o co11side1ern "rígido", não obstante é uma regra que se tornou parte de u1n arranjo cie sua vida em comurn . Erni ly Wagner, "hab itual- mente, tem algo planejado'' para o sâbndo e, "costumeiramente" e les fazem isso. Nos domingos, cada esposo se dedica a suas próprias at ividades. Ambos considera- riam uma transgressão desnecessária deste padrão como uma traição pessoal. Compo- nentes morais e emocionais acompanham os padrões de transação contratual, mes· mo aqueles cujas Ol' igens e razões são indeterminadas. M INUCHI N: Como aconteceu nesta situação? O seu desejo de vir aqui? Sra. WAGNER: Vir aqui7 Vi um anúncio no Jorna I e telefonei a respeito. Mi- nha mãe viu um anúncio no jornal. MINUCHIN: Sua mãe? O que pode dize, sobre sua família? Eles moram perto de vocês? Sra. WAGNER: Vivem na mesma comunidade. Sr. WAGNER· Nós vamos amanhã na minha casa, na casa de meus pais. MINUCHIN: Seus pais moram perto? Sr. WAGNER: A uns duzentos metros.ª MINUCHIN: E seus pais? Sril. WAGNER: Oh, eu diria que cerca de tres ou quatro mi lh,;1s_ M INUCHI N · O quanto são importantes a su11 mãe e o seu pai? Sr. WAGNER: Eu cii ria que ... Sra. WAGNER: Não muito, realmente. Sr. WAGNER: Não, não tanto quanto os pais dela. Sra. WAGNER: Os pais dele trabalham e, via de regra, não os vemos muito quando estão trabalhando e domingo é o único dia que tem para fazerem coisas que precisam. Nós não os visitamos tão freqüentemente quanto visitamos os meus. mas neste caso também não vemos os meus tão seguidamente. Ele, não; eu, mais, durem- te a semana. MINUCHIN : Isto quer dizer que a familia de Emily está envolvida com sua fnmlli,1 mais fundamentalmente do que a de Mark. Também era assim no início, an- ll!s d o 11ascirnento de Tominy? S1. WAGNER: Eu diria que sim. N11 lltfUlnnl. litc,almente, consta "cerca de um oitavo de milha'' (N. da trad,). Sra. WAON t H , Nós morávamos com rnous pais, antes do l 11111111y m1~n11 , 10110 que casamos. MINUCI 11 N. Quando casaram, se mudaram para a casa de seuu p11hd Sra.WAGN ER : Ele ainda estava na u n iversidade, na época, tcrml1111111io 11111 so· mestre. E assim, licamos lá. Moramos com e les de abril até agosto. E loi 11011 ívc l. MINUCH I N: Sua familia não que, ia saber dele? Sra. WAGNER: Queria, sim, mas eles achavam que ... Nós começamos a nos encontrar, quando tínhamos dezesseis. Eu tinha dezesseis e ele, dezessete, então, lo- oo que começamos a sair juntos. nada podia ser decidido por enquanto, oh, eu acho que ficamos presos um ao outro. MINUCH IN: Que id ade tinham quando se casaram? Sra. WAGNER: Dezenove. MI NUCH I N: E seus pais os convidaram para f icar com eles? Sra. WAGNER: Eles só disseram "venham viver conosco", até que fornos para Kansas. MINUCHIN: Vocês simplesmente decidiram que esta era a única solução que tinham; vocês não t inham alternativas a este respeito? Sr. WAGNER: Bem, podíamos viver fora, rnas ainda estando na escola, não queria deixar; queria continuar com fu/f time, de modo que a ún ica maneira de fa· zcr face a isto, seria reduzir nossas despesas domésticas tanto quanto possível; assim, aceitamos. Poderíamos ter nos mudado, mas, dadas as circunstâncias, aceitamos seu o ferecimento, de modo que pudéssemos economizar - assim, não estávamos real- mente presos, não era uma questão de sermos forçados a viver lá, era uma questão de economia. Apenas decidimos que podíamos tolerar isto, até que pudéssemos vol- lar. MINUCHIN ; O que aconteceu. então? Aqui, estão voces, provenientes de d uas lamilias, se unindo e querendo criar algo próprio, mas indo viver com sua família como funcionou? D1sser<1m que viveram lá quanto Lemµo? Seis mi,ses? Sr a. WAGNER: Quatro meses. Eu acho que me ressenti mais ou menos por não estar em meu próprio apartamento e tudo isso; t inha exatamente a impressão d e que não rodia, realmente, não podia ser uma esposa. MINUCHIN: Por riue você não podia ser um<1 esp()sa? Sra. WAGNER: Oh, não consigo explicar; apenas um sentimento, como mu• lhe r, que eu tinha. Sr. WAGNER: Não, eu acho que talvez possa dizer algo a respeito. Era 1u~~•t1 t irnento em relação a seu pai. O pai dela tende a ser do tipo que gosta de fa101 Stl gestões muito veementes em relação à linha de procedimento que adoto, o><<lUIITll!fl 1c acerca de tudo. Eu achava que podia faci lmente aceitar ou rejeitar o quu 1•11, 11,111 11caria aborrecido com isto, de 111a11c1ra que, no que me diz respeito, isto 11,,11 1111J p1(wcupava. Ela, entretanto, por causii desses sentimentos e mocionais fl lHl d1>~1mv, 1I vc u em relação ao pai. qualquer sugestão que fizesse, simplesmente a rojnlt11vn 1111111 1amente e se ressenüa com o fato de que ele estava constantemente 1<111111(111 Mlt111~ lfie s aqui, ali, em tudo. •' 1 MINUCHIN: Bem, deixe-me ve1 se entondtt 1\ que Mi11 k disse ele outru r11ar1ui ra. Parece-me que vocês se casaram e você (dirly/11(10 so ,J esposa) queria se separar da familia. Você queria criar uma fronteira o supu11lill qL1e ele lhe ajudasse a criá-la. Agora, você vive no seu lar e Ma1·k vive cm har111onr,1 com seus pais. Ele favoreceu, ajudou a aumentar as fron1eiras em torno de vocô. çomo esposa, ou ele se tornou wn filho de seus pais? Sra. WAGNER: Eu não sei se posso responde, isto MINUCHIN: Você ficava. às vezes, irritada com ele, quando ele se punha ao lado de seu pai, quando você estava braba com seu pai? Quando se punha ao lado de suei mãe, enquanto você se ir, ítava com ela? Sra WAGNER: Não. ele nunca tomou partido, na medida em que ... MINUCHIN: É impossível. Sr. WAGNER: Eu realmente não to1nava partido ... MINUCHIN: É impos.sivel. Sra. WAGNER: Ele, não, nunca chlJ!JEIVll o ditia . "Você está errada." E, habi- tualmente, era eu quem estava. Não era mi1ll1t1 família. E1.i ou. MI NUCHI N: Veja, se ele não tomava pai tido. ostava to11,anclo partido. Sra. '·NAGNER: Ele ficava calado, entretanto. MINUCHIN: Isto era tornar partido. Você sabe, porque, não esperava que fi- casse do seu lado? Sra.WAGNER: Oh, sim, mas ... l\·11NUCH IN : Então, se não ficava de seu lado, estava ficando do lado oposto. Sra. WAGNER: Mas se tivesse aberto a boca, teria havido mais problemas. MI NUCH I N: Se ele não agredisse sua mãe, quando você a atacava, enLão es- lilva tomando o partido de sua mãe, mesmo que nada fizesse. Sr. WAGNER: Hum, hum! Quando um par se une, com a intenção de 'formar uma familia, isto é o come- co formal de urna nova unrdode familiar. Mas existem muitos passos entre a inicia- ção formal de urna familia e a criação de uma unidade viável. Uma das tarefas que um novo casal enfronta é a negociação de seu relacionamento com a famíliade ori- gem de cada cõnjuge. Alé1n disso, cada familia de origem deve-se ajustar à separa- ção ou separação parc:ial de um de seus membr-os, à inclusão de um novo membro e à assimilação do subsistema do cõnjuge dentro do funcionamento do sistema fami- liar . Se as estruturas das fcrnii'lras de origem, há muito estabelecidas, não mudam, poclem ameaça, os processos de formação da nova unidade. MINUCHIN: Como aconteceu, na verdade? Com quem você discutia? Com seu p~1 ou com sua mãe? Sra. WAGNER: Com minha n1ãe, .. nãol Não sei. Não consigo lembrar. Sr. WAGNER . Com seu pai, através de SUil mãe. Sra. WAGNER: Era assim? Não posso lembrar, foi há tanto tempo. MINUCHIN: Ele disse: "Com seu pa11 ç1través de sua mãe." Essa é uma boa 111a111i11a ele c' oloca1 as coisas. É esta a maneira como funciona? 10 Sr. W/\(jNt 4i N,10 cslâ comploh1rnrn1\tl r clacionado com •ilhl r11 1l111111 00111 suu pai; IJ:'111u do p1,,l>l111n;i era eu. Eu sempr l! ucl1 1!1 4ue rrnnha sorJ1,11111111 on11til11irrn10s 11111n ,0111'1 cio p(1111 t:ltlHJLII! entre eles. Semp1c r;r'.hei que se eu po11~11~u1 q1m minha cs posr11::s1av111:111,1dfl, pocli;i lhe d izei, e se ela estive-sse completarnentn ur 11.uli1, 1111,111111 : " Você es16 eriad.i". 11111s se eu não notasse que estava inteiramente er1mlc1, 011 .• N I podia ter percebido que estava eri-ada no que fazia, mas que podia 101 il,;1· vrrlo ,ilgum trµo de razão para tal, pelo menos na medida em que dizia respeito i.l ola. MINUCHIN: Mark é sernpre lógico? Sra. WAGNER: Hum, hum ... MINUCH IN: Bem, isto deve ser muito difícil. Sra. WAGNER: Às vezes. Ele é muito lógico e eu, completamente ilógica. So- 1\H)S diferentes como a noite e o dia. MI NUCH I N: Assim, durante este pel"ioclo. você quis ser urna esposa e foi ainda uma filha. Sra. WAGNER: Exato. MINUCHIN: E eles não crescer'tlrn. Seus pais não cresceram. S1a. WAGNER: Não os meus . .. não, eu não rliria meus pais; diria que eu não 1:1t!SCI, MINUCHIN: Nãn, eles tampouco não cresceram. Sra.WAGNER: Oh, eu acho que eu não estou de acordo. MI N UCH I N: Eles continuaram I ratando você como urna filha, muna si tu ação 11111 qu~i era uma esposa. Sra. WAGNER Talvez. Sl1n, creio que é isto. MINUCHIN: Você sabel Isto significa que eles não cresceram. No que d iz rr.s- p,nlo il você, em termos desta nova situação, el~s cont inuaram a tratá-la como uma llillil, quando você j.í era alguém diferente. Era uma fi lha, mas era uma esposa. 0$ pais da Srn. Wa9ner foram rncapazes ele mudar por<1 se adaplar às ci, cuns· lf11ir1as diferentes. Ao invés de aprender a tratá-la como urna esposa. envolvida na 1111111nçi'io ele uma nova unidadt. social, continuaram a tratá-la prn1cipalmente corno 11111 filha, deixando seu recente marido na difícil posição de ter ele escolher ent1t' 11111 esposa e sua sogra. A sr tuação que os Wagner estão desci evenclo constitui u1n p1ohlo111a de "fronteiras" - 1m1a questão de negocia, regras apropriadas para a foi 111111 lfo de novos subsistemas. É também um problema de manter padrões transarin 11111\ IIHlproprrada1Tie11te. MINUCHIN : Qual 1: o seu primeiro nome7 S1a. WAGNER Emily. MINUCHIN : Emily. r ern. o 111eu nome é Sc1I. Que tipo de fa111fllu il ,t itllll l ,1lv1•1 você possa descrever a sua família E Mark pode ajurlá-la, mon :;01111111111 111 vnro p,cc1sar. Eslã bem? Você começa e se prcc11;ar de vor.ê, Mark, oln lllltllti\ Srr1. WAGNER : Bern, eu tenho um rrrnã"o, a quem ~1u não (l11111l,1 11 11,111111111, 11111 1111 cn du três anos atrás. 81 iqávamos como cão e qato. Tenho u111.1 , olu~.fu ri 1111,111 lj con1 minha mãn M,•11 p111 , ,,11 11,111 po<lia tolerar até que me casei. E é mal~ nu mo· nos 1s1o. MINUCHIN · Nuu p,111•< ,, l1,1ver 111uita intimidade. Sra. WAGNLll. N1l11, 111116 unt5o existe um conjunto, existe uma in1 imidade atê certo ponto o co11\l1111icl111lc, sob outros aspectos. MINUCHIN · 1 lu1 111111111 111uito controladores? Muito preocupados com suas ações? Sra. WAGN( íl Ho1n, 111el1 pai, sim, e minha mãe, não. Minha mãe era muito tolerante. Cost1.u1i.1v,1 uu1I IJ1 coisas que eu fazia errado. M INUCHI N I hm,! Cntão, havia algo entre vocé. seu pai e sua mãe, em que você podia jogai um r.ontra o outro. Sra. WAGNER Bem, mas eu . . . eu fumei aos treze anos. Não tinha permissão de meu pai até os dezesseis e. não obstante, me em permitido fumar na frente de minha mãe. Quando ele não estava, eu incendiava a casa toda. MINUCHIN · É 1ealmente um lriânyulo. Sra. WAGNER . Eu costumava me fazer de doente, sabe, ficar em casa, sem ir à aula e ela sabia que eu não estava doente depois de mais ou 111enos às 8 e 15 e ela esconderia isto, para que eu ficasse na rua durante o resto do dia. Sr. WAGNER : Oh, 11111 poucn mais do que isto ... MINUCHIN: Espere1 Ela está descrevendo a sua famíl ia e presume-se que ela lhe pergunte. Sra.WAGNER · Ele quer entrar com seu ponto de vista. Sr. WAGNER: Eu sei, como um exemplo, mais tarde, quando nos conhece- mos, se ficávamos fora àté 2 ou 3 horas da manhã, se Papai soubesse - uf! - a casa 1 o tumba ria, mas ele nunca soube. Sra. WAGNER: Sua mãe e seu 1rni nunca souberam, tampouco. S1. WAGNER : Não, eles não se importavam, contudo; essa é a diferença. MINUCHIN: Na sua família, algo estava acontecendo entre seu pai e sua mãe, 1111 (ltHl você tomou o partido de sua mãe. St n. WAGNER: Lembro um incidente, não sei o que era, meu pai ficou furio- 11 PIII nlrJUl'llél coisa. Você sabe. eu era atrevida; eu tinha Lima I ingua afiada e não 1, 11111111 llild,1 de 111a1s cm lhe dizer para sair do meu caminho. Devia ter talvez quinze ,u111,, 111,m sol o que foi que o fez ficar furioso. 111as sei que não estava me dirigindo n pn1,1V111, µor rstar furioso com alguma coisa que fiz, e rni11ha mãe me deixou sair, 11111111111111111 l'kt,1vn de acordo com sua teoria nesse particular, e ele não falou com ela 1!111111111111 111•111 do dia, ele tão exasperado que estava. Creio que era o tipo de situa- i '11. ,1p1111M 11111 i11t:1tl1•11t<: M l l~IJCI li N 11,i tul sorte qlw a sua mãe estava briga11do com seu pai atravês li 1/111 l 111 Wl\t,N I II l'triv,wolmcmte, sim. Ah, não posso lembrar de meu pai me 1 r 1, 11rh1 1h1111,1,, v11111 11, uu tor mais ou menos quinze anos e, então, ele o fez. Acho ljll t 1 ,,,. 1,111 li 1111111 VII/ 5m rou me 1Jmas duas vezes, isto fez; não falei com ele. E , •H1 111111111 la111 , 1 11 i,111 111u1to urrogante. Não o respeitava. MINlmlllN l t,tclll interessado u111 con<luzlr vocês dois ul1uv1b d11ae,1mlnlios polos q1H111, u11111 11111i/lia ~e desenvolve; Jssim, rorneçamos com s11,1 !1111111111 n n qur. rn1 dest:ulJ1 o o 11111 11 1.irn1ulo. em que sua mãe fomentava a sua raivn ,1111 1 ul11çílo a seu pn1 Va111os 1m~sm ,1 suJ farníli<1, Mark. Que 11po de -família ern? OL1010 quo você cn• lf'lldil o quu ,•stou l(•t1lando fazer. Quero conhecer algumas das coisas que vocês pre- 1·i~..im c1 lar, u f 1111 de se separarem de suas familias de origem. S1. WAGNER. Bem, posso começar com as diferenças entre as duas. Em corn- p,11 ação, a 111 1nha família é muito unida. Tenho um irmão e uma irmã e somos to· deis muito íntimos. Pode ser devido ao fato de que meus pais eram decididamente 11111ito unidos. MINUCHIN: Quantos irmãos você tem) Sr. WAGNER: Um i1-mão mais velho e uma irmã mais moça. Sempre fizemos rmsus Juntos, com muito pouca discórdia ou discussão desta natureza dentro da fa- 111!11,1. Sra. WAGNER: Eu acho que você está errado, neste particular. Você conhece ,1 ~w, mãe .. MINUCHI N: Espere um momento, quer que ela intervenha? S1. WAGNER: Sim. muito bem. Sra. WAGNER: Você e a sua mãe se comport,m1 como se fossem intimas, mas ~011 11,11 ci um membro estranho ... Sr. WAGNER: Sim, ele é um tipo João Ninguém,' em certo sentido. Minha 111111• 1•10 il tocha de orientação da famil ia. MINUCHIN: G1ande tocha ou pequena tocha7 S1 WAGNER · Uma pequena tocha . . . deste tamanho (ri). MINUCHIN: Mas seu pai era estranho? Sra. WAGNER:Seu pai nada tinha que ver com a família, rnalmente. Sua mãe 11111 ,1111d,1; quero dizer, tomava as decisões; fazia tudo para os filhos. Si W/\GNER: Ela tomava conta de toda minha roupa, vida social e exatamen· 111 11 1 uspr.ito de tuclo. Isto é verdade. Sem entrar em muito detalhe, a única pessoo 111111 111lv,i, niio fosse int ima, não tão chegada, era meu pai. Era a única pessoa talvo1 11111 p1111co difenmte, no sentimento de não constituir parte da unidade. Atual monte, 11111l111lo, toda a situação mudou. Naquela época, todavia. era um estranho. Niio lin Vl/1 11111iw C01'1ílito, porque nós simplesmente tentávamos evitar um ao outrn, om 1 ,,, 111 ~1•lll ido. MINUCH IN: Você e o seu pai. h1 WAGNER : ''Sim, eu apenas .. . apenas o evitava. Realmonte, li, (l n1u1,1 1111 t 11111111111 dola, se rlisco1clava dele. MI NUCIII N: Em caso de discordância, os ev itava? !11. WAGNCR: Se rJisc:ordava rlele, o evitava, por assim di1or. A1i,11111~ d<1~1,01 11, lr•1 ni 111 ~m, desejo, se não o achasse certo. Se considerasse que 01 o r.m 111, 11111 1 , ,, 1 1111111111111, 1111nho mãe sempre tomava o partido dele, de qualquo1 1nn11nli 11 l lhu,,1111111011. n fl l l( !Ut;ik> ser iJJoõozinho rr-v;('m-c/Jú{}r,do IN. d,l lltlfl, ) 11 MINUCHIN: Sua mãe tomava o partido de seu pai? Sr. WAGNER: Sim, eu diria que o apoiou em muitas más decisões ,oultnon- te, ela fez muitas coisas desnecessárias. Mas, se era muito fora do comum, lodavia, sempre explicava a ele e tentava nos fazer entender por quê. Cada esposo, agora, descreveu o funcionamento do subsistema parental em ca- da família de origem. O subsistema parental é a unidade da família, possui a respon- sabilidade principal de orientar e alimentar os filhos. Na familia de origem de Emily Wagner, o subsistema parental era um casal de padrão de classe média. Mas os conflitos entre marido e mulher extravasaram na arena de. paternidade. A autoridade parental se dividiu e cada um dos pais atacava o outro cônjuge através de sua filha. A mãe encorajou-a a desobedecer o pai; este a agredia, quando estava brabo com sua esposa. Na famíl ia de origem de Mark Wagner, os pais tinham concordado com uma distribuição de funções. A mãe executava a maior parte das tarefas de criação e o pai era mais periférico. Mas os filhos experien- ciavam sua mãe como representando a autoridade de seu pai. MINUCHIN: Assim, vocês se aproximaram para desenvolver uma famr'lia e ca- da um tinha um modelo de como se comunicar. Sabem. havia algumas regras, que Mark aprendeu, e algumas regras, que Emily aprendeu e, aparentemente, essas re· gras eram diferentes. Sr. WAGNER: Correto. MI NUCH I N: Muito bem, agora, vocês ficaram juntos e o que aconteceu? Vo· cês precisaram criar as suas próprias regras. Como isto evoluiu? Quando um par se une, cada um espera que as transações da unidade do côn- juge assumam formas com que esteja familiarizado. Cada esposo tentará 01·ganizar a unidade de cônjuge ao longo de linhas, que sejam conhecidas ou pre.feridas, e pres- sionará o outro para se acomodar. Certo número de arranjos é possr'vel. Cada espo- so terá áreas em que não pode permitir flexibilidade. Em outras áreas, maneiras ai· ternativas de se relacionar podem ser escolhidas, em resposta às preferêr1cias do ou- tro. Cada esposo confirmará o outro em algumas situações e desqualificá-lo-á em outras. Alguns comportamentos são reforçados e outros são perdidos, enquanto os esposos se acomodam e assimilam as preferências um do outro. Desta maneira, se forma um novo sistema familiar. MINUCHI N. Como foram os primeiros anos? No primeiro ano de casamento, o que aconteceu? Sra. WAGNER: Sem interesse. MINUCHIN: Ele deixa você expressar a questão afetiva, sabe? Então, você diz que a desinteressou. Como foi para você, Mark? Sr. WAGNER: Ah, foi um desapontamento, até certo ponto, porque . .. nem mais nem menos do que eu realmente esperava que fosse, de certo modo. 34 MI NUCI li N: O li, isto é questão do so, to no jogo. Sr. WAGNl H: Sim, foi. Porque sabia, quando casamos, 4uu 111fu pocJlomos i:omprar umn cosa. MINUCII IN : Sim, mas isto não é nada. Essa não é a maneira pelo qUOI •• • po la qw,1 você expor lencia ... Sr. WAGNER: Eu entrei nessa um pouco mais romanticamente do que isso. f $l11va conve,,citlo de que isso seria superado facilmente. MI NUCHI N: Ele é sempre um moderador das coisas? Você disse que desinte- 111ssou e ele disse, com sua lógica ... Sra. WAGNER: Ele é lógico em tudo. Ele racionaliza o que eu estava lhe di- fllndo, ainda que pudesse realmente não sentir dessa maneira ... MINUCHIN: Vocês querem dizer, provavelmente, a mesma coisa. São apenas 1111111ciras diferentes de dizer exatamente a mesma coisa. Se eu traduzisse o que e le dh,so para a sua I inguagem, você sabe o que eu d iria? Sra. WAGNER: O quê? MINUCHIN: Sem interesse. Você quer dizer como ficou sem interesse ou quer 11110 Mark o faça? Sra. WAGNER: Não, nós sabemos como ficou sem interesse (ri). Coloque cluus pessoas imaturas juntas num quarto e, naturalmente, vai desinteressar. MINUCHIN: Mas de maneiras diferentes. Sra. WAGNER: Bem, ele era um estudante, assim dizia, quando as coisas iam 11ml ; Mark podia se afundar em seus livros. E realmente trabalhava com afinco e, qunnclo as coisas iam mal, eu sentava lá, matraqueando e exagerando as coisas ... wl111, 1111 verdade, aumentavam desmesuradamente e penso que se não tivesse tido 1 ummy, provavelmente o ter ia deixado, depois do primeiro mês de ter sido presa na IIIIIIOClilha. MINUCHIN: Quem? Sra. WAGNER: Tommy, meu filho. Se não o tivesse tido, provavelmente teria 1111111nodo minhas coisas e ido correndo para casa, depois do primeiro mês que fi- q1111I com ele sozinha. Eu diria do segundo mês. No primeiro mês estava tudo bem; ,1l1ulu não tínhamos esvaziado as malas ... MINUCHIN: Não, mas você disse que, nos primeiros quatro meses, você . .. Sra. WAGNER: Oh, foi quando nos mudamos. MINUCHIN: Muto bem, isto significa que ... nos primeiros quatro meses, foi ,11m !morasse de uma maneira e, então, de outra maneira. Sra. WAGNER : Correto. Foi sem interesse durante dois anos e meio. S1. WAGNER : Teve mais baixos ... ~ Sra.WAGNER: Teve mais baixos do que altos.• MI NUCH I N: E provavelmente vocês acharam que isto era singular, em sua si- 11111~1\'o, i l , 11801, no original, está fazendo um jogo de rnlavras, com base na expressão "altos e baixo, , (,1 vhlrt" (N. da trad.). 36 Sr·a WAGNER: Singular? Eu achei que era horrível. MI NUCH IN: Bem, assim, que aconter.c11, então? Ele •.. o que vocll M l ,1Vn estudando7 Sr. WAGNER: Biologia e comércio . .. biologia, in icialmente. MINUCHIN: Onde7 Sr. WAGNER: No City College, em Kansas. MINUCHIN : Muito bem, dessa maneira, o que aconteceu, então? Ele se isola- va e afundava nos seus livros. Sra. WAGNER : Certo. MINUCHIN: E você nada tinha para fazer-. Sra. WAGNER : Eu sentava lá e falava. MI NUCH I N: Podia tirá-lo dos I ivros? Conseguia conversar com e le? Sra. WAGNER: Se conseguisse deixá-lo suficientemente brabo, respondia à briga, mas ele é despreocupado e tem de atingir um ponto de ebulição, antes de realmente per·der seu equilíbrio. Sr. WAGNER: Emily, acho que você o está entendendo mal. (Para Minuchin) Eu acho que você está falando a respeito de nossa capacidada de comunicar. MI NUCH I N: Estou falando de como se tornou desinteressante. Sr. WAGNER: Este em essência foi o rroblema, comunicações. Sra. WAGNER : Não nos comunicávamos. Sr. WAGNER: Havia diferenças muito sérias de opinião (ri) a respeito de mui· tas coisas, uma das quais foi viver em Kansas, ah ... inicialmente, você odiava isto ... Sra. WAGNER: Eu acho que se tivéssemos vivido em qualquer lugar. du1 ante os primeiros dois anos e meio, teria sido o mesmo. Sr. WAGNER : Bem, provavelmente, foi exatamente a sua maneira de expres- sá-lo, justamente Kansas. Ela não gostava do modo como estávamos vivendo ; não se importava com o fato de
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