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Escolas do Pensamento Jurídico I. Jusnaturalismo Doutrina dos direitos naturais. Movimento pré-revolucionário. • Os direitos naturais seriam direitos absolutos e universais que resultariam de um código ético universal e absoluto de justiça que estaria gravado na própria natureza humana. Defendem que nós, seres humanos, nascemos como titulares de diretos naturais (direitos humanos). Faces do jusnaturalismo: 1) Jusnaturalismo cosmológico: Identifica os direitos naturais e a justiça com a ideia de uma harmonia cósmica. Estar em sintonia seria se conectar com o universo (hoje, energia esotérica). Predominante na antiguidade. 2) Jusnaturalismo teológico: Identifica a justiça e os direitos naturais com a vontade de Deus, essa foi a visão predominante a idade média. Parte da ideia de que essa justiça teria sido posta por um Deus onipresente, este que criou o ser humano. 3) Jusnaturalismo racionalista: Identifica os direitos naturais e a ideia de justiça com uma razão humana universal. O fundamento da justiça seria uma razão humana universal. Predominante na idade moderna. Conseguiríamos acessar a ideia de justiça através da razão. Fica nítido no pensamento de Immanuel Kant – imperialismo categórico – “Você desejaria para si próprio o comportamento que imputou a outro? Se não desejar o comportamento não é ético” 4) Jusnaturalismo cosmopolita: Repousa a ideia de justiça e de diretos naturais no consenso internacional acerca dos direitos humanos, ou seja, o jusnaturalismo surge após a Segunda Guerra Mundial e para eles os fundamentos dos direitos naturais seria o consenso internacional acerca da importância de alguns direitos. O que chamamos de direitos humanos é uma nova formula dos direitos naturais. Os fundamentos do direito humano é o consenso internacional – consenso de países, de nações - construído através de um diálogo multi-internacional. @SOFII.STUDIES O jusnaturalismo cosmopolita reconhece que cada sociedade pode modular os direitos. Jusnaturalismo temperado. Balanço crítico: Embora o jusnaturalismo tenha o mérito de possibilitar o debate sobre a justiça – algo que fica muito claro no livro Caso dos Exploradores da Caverna – o movimento é criticado pela insegurança gerada pela noção de direitos naturais, bem como pela constatação da relatividade cultural do direito justo. O grande mérito do jusnaturalismo foi possibilitar o debate sobre as teorias da justiça. As grandes teorias da justiça que chegaram até nos foram construídas pelo jusnaturalismo. Não existe direito que não seja o ensaio de um direito justo. O direito existe para realizar justiça. O jusnaturalismo clássico parte da ideia de que só existe um direito correto. II. Positivismo Legalista Também chamado de exegetismo, foi a escola jurídica surgida após as revoluções liberais burguesas dos séculos XVII e XVIII. Constituísse num movimento que defende o direito positivo: o direito criado pelo Estado. A principal vertente do positivismo legalista foi a escola de exegese, formada pelos comentadores do código napoleônico de 1804. Exegese: sinônimo de interpretação – escola de interpretação das leis. Pós-revolucionário. A lei escrita traz segurança para o sistema econômico capitalista. 1° tese: afirmação da lei como a única fonte do direito (legalismo). 2° tese: negação da existência dos direitos naturais. Para os positivistas não haveria nada além do direito positivista, não haveria essa ordem transcendental. Só existiria o direito posto nos textos legais. 3° tese: reconhecimento da perfeição racional do legislador (o mito do legislador racional). 4° tese: defesa da completude da lei (ausência de lacunas). 5°tese: defesa da coerência do sistema legal (ausência de antinomias). 6° tese: defesa da separação entre direito e moral (círculos éticos). 7° tese: neutralização política do poder judiciário (o juiz como a boca da lei). Aplicação dogmática da lei, preservado a separação dogmática dos poderes. 8° tese: defesa de uma interpretação literal da lei. Interpretação que reproduz o sentido textual. Dentro da hermenêutica, o uso do método gramatical. 9° tese: afirmação da segurança jurídica como o ideal de justiça possível. @SOFII.STUDIES Balanço crítico: Embora o positivismo legalista tenha o mérito de desenvolver a ciência do direito, realçando a importância da legalidade, o positivismo legalista se equivoca ao reduzir o direito a lei. ao acreditar na perfeição do legislador e ao limitar a atuação judicial. A legalidade limita os governantes (antes havia o absolutismo) - freia os abusos e resguarda os direitos individuais dos cidadãos Problemas: • o direito não se resume a lei - existem outras fontes • perfeição racional do legislador - ninguém é perfeito, principalmente o legislador • juiz boca da lei - tende a produzir decisões injustas III. Historicismo Jurídico É uma corrente de pensamento que surgiu na Alemanha durante o século XIV como oposição como oposição do positivismo legalista. Seu maior expoente foi um jurista chamado Savigny. Teses fundamentais: 1° tese: defesa dos costumes como fonte do direito (a principal). 2° tese: afirmação do volksgeist (espírito do povo) como fundamento do direito costumeiro. 3° tese: reconhecimento da imperfeição do legislador e da lei (existência de lacunas e antinomias jurídicas). 4° tese: reconhecimento da possibilidade contra a lei – contra legem -. 5° tese: reconhecimento da interpretação histórica. 6° tese: valorização do direito romano como referência histórica para a compreensão do fenômeno jurídico ocidental. 7° tese: defesa do pluralismo jurídico. Defesa da produção social do direito. O direito é um produto de toda sociedade. Balanço crítico: Embora o historicismo tenha a importância de situar o direito como objeto cultural, rompendo com o idealismo das correntes anteriores. É criticado por subordinar o sujeito a história, pela insegurança do direito costumeiro e pela visão estereotipada do povo. • Subordinação: o direito se torna um apêndice da história, os juristas se tornariam historiadores, porém são ciências diferentes • Direito costumeiro: abre espaço para insegurança pois os costumes não são escritos, não sabemos se eles existem, se são morais ou jurídicos etc. • Volksgeist: visão distorcida; premissa equivocada que todos agem/vivem/pensam da mesma forma, generalização que tira a individualidade e abre espaço para estereótipos que distorcem a realidade @SOFII.STUDIES IV. Sociologismo jurídico Trata-se de outra importante corrente de oposição ao positivismo legalista surgida na França durante a segunda metade séc. XIX. Representou uma aplicação da sociologia aos estudos do direito diante da necessidade de solucionar os graves problemas sociais gerados pela Revolução Industrial. Espalhou-se pelo mundo, atingindo diversas regiões do planeta, a exemplo da Inglaterra, EUA, Rússia, Escandinávia, América Latina e o Brasil. O sociologismo jurídico foi a segunda grande corrente de oposição ao positivismo legalista. Representa a aplicação da sociologia ao estudo do direito. Teses fundamentais: 1° tese: estudo da ciência jurídica como a ciência dos fatos sociais (ênfase ao mundo do ser). O direito seria uma expressão do mundo real, do mundo do ser. 2° tese: valorização da efetividade como atributo das normas jurídicas. A correlação do direito com a realidade social 3° tese: defesa do pluralismo jurídico. Ideia de que a sociedade cria o direito. 4° tese: reconhecimento da imperfeição racional da lei ou do legislador. 5°tese: reconhecimento da existência de lacunas e antinomias jurídicas. 6° tese: defesa da jurisprudência como fonte do direito. 7° tese: possibilidade da jurisprudência contra a lei (contra legem) 8° tese: valorização da opinião pública como referência para interpretação judicial. Balanço crítico:Embora o sociologismo tenha um mérito de aproximar o direito da realidade social, o sociologismo confunde os mundos do ser e do dever ser, bem como uma jurisprudência arbitraria (governo dos juízes). V. Teoria pura do direito É uma doutrina positivista, mas agrega as contribuições da lógica. Foi uma doutrina que surgiu na primeira metade do sec. XX como uma reação as decisões unilaterais que então estavam presentes (período entre guerras). Era possível encontrar diversas correntes do pensamento. • O jusnaturalismo tentava subornar o direito através da doutrina dos direitos naturas. • O historicismo tentava subornar o direito através da história. • O sociologismo que tentava subornar o direito através da sociologia. Kelsen queria com a teoria pura resgatar a autonomia, construir uma ciência jurídica independente. Ele estava preocupado em construir uma teoria pura, ele queria retirar as @SOFII.STUDIES influências externas (história, filosofia, sociologia) a para que só restasse a normatividade jurídica. O jurista lida com normas e não com fatos e valores sociais (o jusnaturalismo lidava com valores). Para Kelsen não cabe ao jurista discutir questões relacionadas a fatos, este deve permanecer na normatividade. A teoria pura foi desenvolvida na década de 20. Possui várias teses: 1° tese: a ciência jurídica seria uma ciência normativa porque estudaria normas 2° tese: proposta de uma ciência jurídica normativa que almejaria a perfeição a exatidão. Queria tornar a ciência jurídica uma ciência exata 3° tese: exclusão dos fatos e valores sociais no fenômeno jurídico 4°tese: valorização da validade como atributo normativo. Para Kelsen o atributo normativo mais importante era a validade 5° tese: utilização da lógica do “dever ser’ para o estudo da norma jurídica. Menciona que o direito está situado no mundo do “dever ser” e que as normas jurídicas são estruturas do “dever ser”. 6° tese: proposta da pirâmide normativa – ordenamento jurídico -. As normas não estariam isoladas, elas estariam perfazendo um todo hierárquico que se estruturaria através de laços de validade. 7° tese: defesa da completude. Defende o dogma da completude do sistema jurídico. O direito seria completo, não haveria lacunas, sempre seria possível, logicamente, fechar o sistema. Tudo que não está juridicamente proibido, esta juridicamente 8° tese: coerência do sistema jurídico. O sistema jurídico seria coerente, pois não apresentaria contradições normativas, pois seria sempre possível, para o jurista, utilizar os critérios tradicionais de resolução de antinomias. 9° tese: recusa a interdisciplinaridade. Kelsen estava preocupada em purificar o direito e retirar as influências externas. Não concordava com o diálogo interdisciplinar, o direito não poderia dialogar com a história, sociologia, filosofia, ocupando-se somente das normas. 10° tese: negação da existência do direito natural. Só existe o direito positivo, criado através do Estado. 11.° tese: negava a possibilidade de um debate racional e de uma definição racional sobre o justo. Era cético quanto a possibilidade do ser humano chegar a um senso de valores. Para Kelsen o ser humano não pode almejar a desenvolver uma teoria da justiça 12° tese: defendia a teoria dos círculos éticos separados. Direito e moral não deferiam se comunicar, pois poderiam abrir espaço para discussões sobre o que é certo e errado. @SOFII.STUDIES 13° tese: para Kelsen o direito seria um produto exclusivo do estado. Não acreditava na possibilidade do ser humano, através de ações sociais criar o direito, o direito só poderia ser criado através do Estado. Críticas positivas: A teoria pura do direito de Hans Kelsen muitos aspectos. 1. Promoveu um grande avanço científico. 2. Resgatou a autonomia da ciência jurídica. Resgatou pois o direito não tinha identidade, ora ficava a serviço da filosofia, ora da sociologia, ora da história, Kelsen trouxe a ideia de uma ciência jurídica com uma identidade epistemológica. 3. Instrumentalidade. A teoria pura do direito consegue ser útil para o jurista prático. Oferece as melhores ferramentas para o jurista pratico (dia a dia). 4. Defesa da normatividade jurídica. Críticas negativas: 1. Não se pode isolar o direito dos fatos e valores sociais, pois norma, fatos e valor são elementos indecantáveis. O direito não pode ser estudado só pelas normas. 2. Pode abrir espaço para a legitimação do direito injusto. 3. Inconsistência ao que se defere a pirâmide normativa. Não traz os costumes. 4. Peca ao negar a interdisciplinaridade. O direito dialoga com outros conhecimentos. VI. Pós-positivismo jurídico Corrente atual do pensamento jurídico. Surge após a Segunda Grande Guerra Mundial. Surge na década de 40. No Brasil, se forma tardiamente, somente é vivenciado após a constituição de 88. Teoria eclética. Tenta alagamar, unir, coligir diversas correntes de pensamento. Tentativa de compreender o jusnaturalismo, o historicismo, o sociologismo, o positivismo, dentro de uma concepção integrada. Tenta superar os reducionismos de cada uma, para construir uma teoria única e abrangente, que alcance o direito em toda sua dimensão, o direito sendo estudado numa perspectiva integral e ampliada. Principais teses do pós-positivismo: 1° tese: afirmação do direito como uma experiência tridimensional: norma, fato e valor. 2° tese: afirmação do direito como objeto cultural. 3° tese: defende a ideia de que o direito deve dialogar com outras ciências. 4° tese: amplia a teoria da norma jurídica comtemplando as regras e princípios. Valoriza o uso de princípios jurídicos. 5° tese: defesa da teoria dos círculos éticos secantes. O pós-positivismo reaproxima o direito da moral. @SOFII.STUDIES 6° tese: negação da perfeição racional do legislador e da lei. Reconhece que não são produtos perfeitos. 7° tese: o pós-positivismo sustenta a incompletude do sistema legal, é lacunoso. Sustenta que o sistema jurídico é incoerente, apresenta antinomias jurídicas. 8° tese: pluralismo jurídico no âmbito da teoria das fontes do direito. Além da legislação da jurisprudência, existe as fontes não estatais. 9° tese: o pós-positivismo repete a tese do sociologismo sobre a jurisprudência. A valorização da jurisprudência. 10° tese: reconhecimento da dissolução das fronteiras do civil law e common law. 11° tese: emergência do ativismo judicial. O pós-positivismo defende o ativismo judicial (postura criativa, construtiva e progressista do poder judiciário na fundamentação dos poderes judiciais). 12° tese: valorização da hermenêutica jurídica. Valorização da interpretação. Valorização das práticas interpretativas do direito. 13° tese: defesa da teoria da argumentação jurídica, os estudos sobre a retórica são redescobertos. É necessário argumentar, não basta só interpretar. 14° tese: retomada das teorias da justiça sob a ótica dos direitos humanos fundamentais. 15° tese: dissolução das ordens jurídicas nacionais e internacionais. Temos uma ordem jurídica mais integrada. Balanço crítico: Críticas positivas: 1. Supera as visões unilaterais dentro da história do pensamento jurídico. Restaura a visão tridimensional. 2. O ativismo judicial contribui para uma jurisprudência construtiva, criativa e progressista. 3. Os princípios permitem a reaproximação do direito com a moral e a formulação de decisões mais justas. Os princípios são fórmulas de justiça. 4. Reconhece a importância do diálogo interdisciplinar. Críticas negativas: 1. O ativismo judicial pode abrir espaço para um governo dos juízes – juristocracia, ditatura do poder judiciário -. 2. Crítica em relação aos princípios, esses gerariam inseguranças, pois possuem uma estrutura aberta, gerariam inseguranças na aplicação da norma jurídica no tocante dos casos concretos. 3. O pós-positivismo não teria uma identidade própria,seria um pouco de cada escola. Uma salada mista. Como se ficasse em cima do muro. 4. O diálogo interdisciplinar pode conduzir a uma perda da autonomia do direito. O risco do direito ao dialogar com a economia se tornar escravo desta. @SOFII.STUDIES
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