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ESCOLAS DO PENSAMENTO JURÍDICO Parte I Profa. Denise Leal F. Albano Leopoldo ESCOLA JURÍDICA Há quem considere “escola científica” o conjunto de ideias, proposições teóricas, construções conceituais e classificações sobre um determinado objeto ou campo do conhecimento. Mas há autores que compartilham concepções e constroem teorizações sobre determinada área do conhecimento que preferem ser chamados como precursores ou membros de uma corrente de pensamento ou movimento, a exemplo dos pragmatistas. ESCOLA JURÍDICA Por “escola jurídica” entende-se um grupo de autores que compartem determinada visão sobre a função do direito, sobre os critérios de validade e as regras de interpretação das normas jurídicas e, finalmente, sobre os conteúdos que o direito deveria ter. Em outras palavras, cada escola jurídica oferece uma resposta diferente a três questões: “o que é”, “como funciona” e “como deveria ser configurado” o direito. (SABADELL) ESCOLA JURÍDICA Segundo COSSIO (apud DINIZ), as doutrinas epistemológicas que justificam teoricamente a ciência do direito ou que procuram dar à investigação do direito um caráter científico podem ser sistematizadas em seis direções fundamentais: ➢ racionalismo metafísico ou jusnaturalista; ➢ empirismo exegético; ➢ historicismo casuístico; ➢ sociologismo eclético; ➢ racionalismo dogmático e ➢ egologia existencial. Em síntese, os movimentos, correntes de pensamento ou as escolas jurídicas que tomaram o direito como objeto de estudo e análise, buscam responder as seguintes questões sobre o direito: O QUE É PARA QUE SERVE COMO FUNCIONA COMO DEVERIA FUNCIONAR SEGUNDO KAUFMANN ... no tempo que se segue até hoje, um quadro polarizado do direito foi dominante: à contradição entre natureza e norma humana, na Antiguidade, seguiu-se, na Idade Média, a contradição entre direito divino e direito secular (em que o direito natural foi colocado entre o jus divinum e o jus humanum), e esta foi substituída, na Modernidade, pela contradição entre ordem da razão e ordem da coação. O FUNDAMENTO DO DIREITO NATURAL EM BREVE SÍNTESE DA APOSTILA DO PROF. LIMA Para “o estoicismo helênico, [o fundamento do Direito Natural] localizava-se na natureza cósmica”. Já no pensamento teológico medieval, “o Direito Natural seria a expressão da vontade divina”, como diz NADER. Para alguns dos que o defendem, o Direito Natural seria uma “expressão da natureza humana”, ou, ainda para outros, seria “dedutível dos princípios da razão”. Assim, o Direito Natural foi sempre tido, pelos seus defensores, “como superior ao Direito Positivo (Direito posto pelo Estado), como sendo absoluto e universal por corresponder à natureza humana” (GUSMÃO). A DOUTRINA JUSNATURALISTA DO DIREITO Sempre marcou o debate no campo jurídico a existência de um Direito que transcende a positividade, seja ele ontológico, durante a fase clássica do jusnaturalismo; ou de origem divina, como na fase teológica do jusnaturalismo especialmente no medievo; ou, por fim, o direito revelado pela razão na fase moderna do pensamento jusnaturalista. Desde as representações primitivas de uma ordem legal de origem divina, até a moderna filosofia do direito natural de Stammler e Del Vecchio, passando pelos sofistas, estóicos, padres da igreja, escolásticos, ilustrados e racionalistas dos séculos XVII e XVIII, a longa tradição do jusnaturalismo se vem desenvolvendo, com uma insistência e um domínio ideológico que somente as idéias grandiosas e os pensamentos caucionados pelas motivações mais exigentes poderiam alcançar. (MACHADO NETO apud DINIZ) No primeiro momento, emerge uma concepção de direito natural objetivo e material com princípios imutáveis e oriundos de uma ordem legal divina existente no universo e que regula todas as coisas. Tais concepções são afirmadas principalmente pelos patrísticos e escolásticos. Mais tarde, no séc. XVII, essa visão do direito natural foi, paulatinamente, sendo substituída pelo tipo subjetivo e formal, de conteúdo racionalista, em que se evidenciava a natureza humana como abstrata e imutável, constituindo a sua fundamentação na identidade da razão humana. Este é o pensamento esposado por Grotius, Locke, Pufendorf, Hobbes, Rousseau, Kant e outros. (SILVEIRA) A TEORIA JUSNATURALISTA DA ESCOLÁSTICA O jusnaturalismo escolástico de Santo Tomás de Aquino e Suarez, entre outros, igualmente repousa numa concepção ideal da sociedade, na medida em que afirma que a lei se orienta no sentido do bem comum. O que separa a teoria escolástica da escola clássica é o meio cognoscitivo para chegar-se ao direito natural: enquanto os clássicos se baseiam no uso exclusivo da razão, os escolásticos consideram, além desta, a revelação, atribuindo a Deus a origem e a fonte do direito natural, o que, para os racionalistas, é irrelevante. Os escolásticos consideram, ademais, que o caminho da revelação é privilégio da Igreja, a qual é responsável pela interpretação autêntica das sagradas escrituras. (COELHO) Um dos principais expoentes do jusnaturalismo clássico, Tomás de Aquino concebia que a ação humana, as leis e a comunidade política possuem finalidades e essas devem ser orientadas para a busca do bem supremo, de uma vida virtuosa. Com isso, as leis seriam expressão de uma racionalidade orientada para o bem comum. Para Tomás de Aquino, o direito natural constitui a expressão da natureza humana tal qual Deus a constituiu. Sobre a liberdade natural, Tomás de Aquino defendia que não há um direito natural à liberdade (aqui concebida como liberdade plena e ilimitada) da mesma maneira que não possuem os seres humanos um direito natural de dominar outros seres humanos como evidência primeira ou pressuposta. Já Guilherme de Ockham rompeu com uma concepção clássica do jusnaturalismo aristotélico-tomista sobre a sociedade e o Direito. Enquanto para Tomás de Aquino, os fins do Direito estavam na justiça distributiva, no sentido de que os bens da sociedade eram tomados objetivamente como coisas a serem atribuídas aos sujeitos conforme uma proporção justa; com o nominalismo de Ockam, o Direito perde esse caráter objetivo, e ele passa a concebê-lo como meio de expressão de poderes subjetivos expressos na vontade dos particulares e das fontes do Direito. É de autoria desse autor importantes formulações sobre relação jurídica e direito subjetivo. A CONTRIBUIÇÃO ILUMINISTA O processo de secularização da vida fez com que o jusnaturalismo se afastasse progressivamente de sua vinculação teológica, elegendo a razão humana como o fundamento de validade do direito. Na especificação dos direitos naturais , salientam-se o direito de livremente concluir pactos (Grotius); o direito de autoconservação (Hobbes) e de liberdade física (Spinoza);o direito ao trabalho, à propriedade privada enquanto fruto do trabalho, à defesa da própria vida e dos bens, punindo as ofensas por conta própria (Locke); o direito à liberdade e igualdade política (Rousseau); o direito ao reconhecimento da dignidade humana (Pufendorf). (DINIZ) O CONTEXTO HISTÓRICO DO POSITIVISMO JURÍDICO A origem desta concepção é ligada à formação do Estado Moderno que surge com a dissolução da sociedade medieval. A sociedade medieval era uma sociedade pluralista, constituída por diversos agrupamentos sociais, cada um dispondo de um ordenamento jurídico próprio. Com a formação do Estado Moderno, a sociedade assume uma estrutura monista e tem início um processo de monopolização da produção jurídica por parte do Estado. A CONCEPÇÃO POSITIVISTA LIGADA À CONCEPÇÃO ABSOLUTISTA DO ESTADO Alguns teóricos como Hobbes defendiam que “Não é a sapiência mas sim a autoridade que cria a lei” e que “Direito é o que aquele ou aqueles que detêm o poder soberano ordenam aos seus súditos, proclamando em público e em claras palavras que coisas eles podem fazer e quais não podem.” (BOBBIO) Segundo BOBBIO, nesta última definição encontramos dois caracteres típicos da concepção positivista do direito: - formalismo: não se faz referêncianem ao conteúdo nem ao fim do direito. - imperativismo: o direito como um comando. Segundo BOBBIO, com a formação do Estado Moderno ... o juiz deixa de ser livre órgão da sociedade e se torna órgão do Estado, um verdadeiro e autêntico funcionário do Estado. Assim, as regras deduzidas dos costumes, elaboradas pelos juristas ou aplicadas por critérios equitativos são descartadas para que prevaleça apenas o direito posto e aprovada pelo Estado, o único que pode e deve ser aplicado nos tribunais. FEITAS ESSAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS, VAMOS CONHECER ALGUMAS DAS PRINCIPAIS ESCOLAS OU CORRENTES DO PENSAMENTO JURÍDICO, DESTACANDO SUAS PRINCIPAIS IDEIAS SOBRE O QUE É O DIREITO E PARA QUE SERVE, COMO FUNCIONA OU DEVE SER APLICADO (SEUS MÉTODOS), BEM COMO OS PRINCIPAIS EXPOENTES DESSAS ESCOLAS OU CORRENTES DE PENSAMENTO. A ESCOLA DA EXEGESE Segundo Maria Helena Diniz, a ciência do direito, no século XIX, encontra sua expressão mais característica no chamado “exegetismo”. Essa escola surge na França, após o advento do Código Civil de Napoleão, em 1841. Desenvolveu-se entre os cultores do direito civil e sua influência repercutiu na maioria dos países da Europa continental.(DINIZ) Seus adeptos defendiam o primado da lei e a importância da codificação do Direito. Com isso, tal escola é considerada a precursora do juspositivismo legalista. A ESCOLA DA EXEGESE Para a escola da exegese, a totalidade do direito positivo se identifica por completo com a lei escrita; com isso a ciência jurídica se apegou à tese de que a função específica do jurista era ater-se com rigor absoluto ao texto legal e revelar o seu sentido [importava submeter-se à mens legislatoris]. Todavia, é preciso não olvidar que o exegetismo não negou o direito natural, pois chegou a admitir que os códigos elaborados de modo racional eram expressão humana do direito natural, por isso o estudo do direito deveria reduzir-se à mera exegese dos códigos.(DINIZ) A ESCOLA DA EXEGESE FRANCESA O espírito e o método da escola da exegese são expressos por uma afirmação atribuída, conforme Bonnecase, a Bugnet: Eu não conheço o Direito Civil, eu ensino o Código de Napoleão. (SILVEIRA) Partidário do método analítico, Bugnet comentava o código na sua ordem. Tomava cada artigo, o lia atentamente, o dissecava, para usar sua expressão original, salientava todas as palavras em destaque, depois, visando tolher à teoria o pouco de abstrato que ela possuía ... dava um exemplo vivo, animado, atraente. (BONNECASE apud MIALLE) A escola da exegese, da França, correspondeu ao pandectismo, da Alemanha, e à escola analítica (Analytical School) de Austin, da Inglaterra. (DINIZ) O CORPUS JURIS CIVILIS COMO PRECEDENTE DO MONOPÓLIO JURÍDICO PELOS ESTADO MODERNOS O direito romano era tipicamente um direito de formação social, constituído segundo os mores, conforme a jurisdição pretoriana e também segundo a elaboração dos jurisprudentes. Todo esse complexo de normas foi recolhido por iniciativa de Justiniano, no Corpus Juris Civilis, de modo que tais normas perderam seu caráter de direito de origem social para assumir aquele de direito que encontra seu fundamento de validade na vontade do príncipe. (DINIZ) PERELMAN relacionou três fases na Escola da Exegese: 1ª fase - iniciada em 1804, com a promulgação do Código Civil francês, findando entre 1830 e 1840, tem-se a própria instauração da Escola. 2ª fase - ela se estende até 1880 e nessa fase ocorre o apogeu da Escola da Exegese. 3ª fase - nessa última fase vê-se o declínio da Escola, cujo desprestígio decorreu, dentre outros fatores, das fortes críticas de François Geny em sua obra Méthode d’interprétation et sources en droit privé positif, de 1899. Nela, o autor critica o fetichismo legal da Escola da Exegese, alegando que a diversidade das relações humanas e tods a sua complexidade estão além da capacidade criativa dos autores do direito legislado. OS CARACTERES PRINCIPAIS DA ESCOLA DA EXEGESE (BOBBIO) Inversão das relações tradicionais entre direito positivo e direito natural; Um segundo aspecto é representado pela concepção rigidamente estatal do direito; Outro aspecto consiste na interpretação da lei fundada na intenção do legislador (mens legislatoris): a lei não deve ser interpretada segundo a razão e os valores do intérprete; ao contrário, este deve submeter-se à razão expressa na própria lei; Culto do texto da lei, com a identificação do direito com a lei escrita; Respeito ao princípio da autoridade – tomado como necessário, pois o direito é uma técnica de organização social. O PANDECTISMO ALEMÃO O movimento de sistematização do direito surgido na Alemanha em meados do século XIX pautado no Direito Romano foi nominado de Pandectismo ou Pandectística. Essa escola recebeu tal denominação porque seus principais expoentes dedicavam-se ao estudo do segundo livro ou parte do Corpus Juris Civilis, (também conhecido como Código Justiniano,) que era chamado Pandectas. A ESCOLA PANDECTISTA Guardando proximidade com o exegetismo, caracterizava-se pelo fetichismo dos textos romanos e pela defesa de uma espécie de função mecânica da atividade judicial. Assim, para interpretar o direito, o método por excelência deveria ser o lógico-formal, sem prescindir do método literal ou gramatical. Esta escola abeberava a tradição jurídica alemã a partir das fontes romanas, cultivando a história do direito romano e a interpretação dos textos de compilação justiniânea com o escopo de aplicá-los como fonte direta do direito alemão. (DINIZ) Tanto a escola pandectista como a exegética, desembocaram num sistema rígido de fetichismo pelos textos e de construção sistemática, apregoando o uso do método dedutivo e a aplicação das leis de acordo com um processo rigorosamente silogístico. (DINIZ). No pandectismo foi engendrado um Direito abstrato, formulado em categorias lógicas, de certa forma desconectado de vinculações com um substrato fático. Enfim, concebia-se um direito expresso por meio de um sistema lógico-dedutivo, organicamente coerente e composto de conceitos jurídicos centrais e rígidas classificações. Puchta, discípulo de Savigny, foi um dos principais expoentes e essa escola influenciou o surgimento de um movimento que ficou conhecido como jurisprudência dos conceitos. A ESCOLA ANALÍTICA INGLESA John Austin é considerado o fundador e um dos principais autores dessa Escola. Coube a ele estabelecer as bases de uma jurisprudência analítica anglo-saxã no séc. XIX. Entusiasta da codificação do direito, John Austin defendia uma ciência do direito normativo-descritiva para a Inglaterra. Para ele, o conceito-chave da ciência jurídica é “comando”. Assim, o principal objeto da ciência jurídica é a norma jurídica, que seria a expressão de um mandado determinado por quem tem autoridade. A ESCOLA ANALÍTICA INGLESA Trata-se de mais uma escola que vai se filiar à tradição do pensamento formal-positivista do Direito. Austin, ao criticar o casuísmo do common law, recomendou a adoção de processos lógico-analíticos na interpretação e aplicação do direito costumeiro e do direito expresso em decisões da Corte da Chancelaria. Em sua concepção, a ciência do direito deveria estudar apenas a legislação vigente, isto é, o direito positivo emanado do soberano, sem se ater ao aspecto ético. Assim, o direito deveria ser compreendido segundo esquemas lógico-formais. (DINIZ) John Stuart Mill e Jeremy Bentham (tendo sido Austin discípulo deste último), também são associados a essa escola. O ESTUDO DO DIREITO NA PERSPECTIVA DESCRITIVA E PRESCRITIVA 1. Descritiva: Nessa perspectiva, Austin considera que o objeto da ciência jurídica é o direito positivo. Ao jurista cabe conhecer, explicar e refletir sobre o direito, de tal modo que seja possível descrevê-lo e analisá-lo cientificamente, mas sem estabelecê-lo. Assim, a ciência do direito se ocupa do direito como ele é e não como deve ser, isto é, do direito que é, bom ou mal, e não do direito como gostaríamosque fosse. 2. Prescritiva: Sob essa dimensão, o autor considera que o direito é prescritivo, pois é o Estado que estabelece normas jurídicas pelo legislativo ou por meio dos juízes ao emitir suas decisões. Na dimensão prescritiva, estuda-se o direito como deve ser, o que pode ser ou como gostaríamos que ele fosse. UTILITARISMO INGLÊS Bentham (chamado o “Newton da legislação”) era um contumaz defensor da codificação, revelando que há uma estreita ligação entre a concepção utilitarista e as ideias defendidas pela escola analítica do direito. Segundo BOBBIO, são 5 as críticas fundamentais que ele formula à common law: - Incerteza da common law: por não satisfazer uma exigência fundamental da toda sociedade, a segurança jurídica. - Retroatividade do direito comum: quando o juiz cria um novo precedente, resolve o caso com uma norma que na realidade ele mesmo cria “ex novo”, violando o princípio da irretroatividade da lei (especialmente a penal). - Não está fundado no princípio da utilidade: o legislador pode criar um sistema completo de normas jurídicas, fundadas em alguns princípios basilares (em especial no princípio da utilidade), o juiz não segue, mas aplica e até cria tal critério, o direito fundando-se numa regra preexistente ou na analogia em que se recorre a uma sentença precedente. - A falta de competência específica de um juiz para resolver controvérsias em todos os campos regulados pelo direito: eliminado com a produção legislativa do direito , pois a confecção de códigos e leis é confiada a indivíduos ou comissões com competência específica. - O povo não pode controlar a produção do direito por parte dos juízes: ocorrendo o contrário se o direito é aprovado pelo Parlamento, pois este direito expressaria a vontade do povo. Segundo Dumont (apud BOBBIO), são 4 os requisitos fundamentais que Bentham exigia para um código: - Utilidade: cada uma das disposições do código deve ser avaliada e decidida tendo em conta a utilidade que produzirá para o maior número possível de cidadãos. - Completitude: pois se o código apresentar lacunas, seria reaberta a porta ao direito judiciário com todos os seus inconvenientes. - Cognoscibilidade: o código deve ser redigido em termos claros e precisos, de maneira que seu conteúdo possa ser conhecido por todos os cidadãos. - Justificabilidade: a lei deve ser acompanhada de motivação que indique as finalidades que ela se propõe a atingir, pois só assim se torna compreensível. A ESCOLA HISTÓRICA DO DIREITO COMO UMA DAS PREDECESSORAS DO POSITIVISMO JURÍDICO MODERNO É assim considerada por representar uma crítica radical do direito natural, conforme o concebia o iluminismo, isto é, como um direito universal e imutável deduzido da razão. Segundo BOBBIO, os traços básicos da doutrina da escola histórica do direito são: - Individualidade e variedade do homem: o direito não é uma ideia da razão, mas sim um produto da história; - Irracionalidade das forças históricas: o direito não é fruto de uma avaliação e de um cálculo racional, nascendo imediatamente do sentimento de justiça; - Pessimismo antropológico: descrença na possibilidade do progresso humano e na eficácia das reformas; - Amor pelo passado: para os historicistas, a recepção do direito romano representava uma tentativa de transplantar na Alemanha um direito estrangeiro, não adequado ao povo alemão; - Sentido da tradição: significando a reavaliação do costume como fonte de produção jurídica, visto que as normas consuetudinárias são expressão de uma tradição, se formam e se desenvolvem por lenta evolução. HISTORICISMO ALEMÃO Foi desenvolvida por Savigny, no século XIX, na Alemanha, que se encontrava em grande fragmentação política e particularismos regionais. A escola histórica do direito surgiu como reação ao pensamento jusnaturalista racional, ou seja, ela se opunha à concepção de que o direito é um fenômeno independente do tempo e do espaço, cujas bases seriam encontradas na razão e na natureza das coisas. HISTORICISMO ALEMÃO Se, por um lado, a Exegese exaltava a codificação, a escola histórica defendia a ideia de que as leis representavam uma realidade histórica, ou seja, eram expressão dos valores, anseios e experiências de uma sociedade particular no tempo e no espaço. Nesse sentido, o sentido da lei era mutável e não fixo e rigidamente estabelecido. Com isso, o direito era ou deveria ser expressão do espírito do povo (volksgeist). Essa escola também prestigiava os costumes de um povo como fonte do direito ou como parâmetro para a formação do Direito. Para Savigny, as fontes do direito são substancialmente três: o direito popular, o direito científico, o direito legislativo. O primeiro é próprio das sociedades na sua formação; o segundo das sociedades mais maduras; o terceiro das sociedades em decadência. Ele sustentava, portanto, que o único modo de reverter o plano inclinado da decadência jurídica era promover um direito científico mais vigoroso, através do trabalho dos juristas, enquanto o mais certo efeito da codificação seria o de tornar ainda mais grave a crise da ciência jurídica na Alemanha. (BOBBIO) Para ele, o direito é um organismo vivo, e vai se modificando conforme as mudanças que ocorrem na sociedade, ou seja, o direito é aquele criado pelo povo, autêntica expressão das forças silenciosas e não do arbítrio do legislador. REFERÊNCIAS BOBBIO, Norberto. Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito. 1. ed. Ícone, 2017. BRONZE, Fernando José. Lições de introdução ao direito. 2.ed. reim. Coimbra: Coimbra, 2010. COELHO, Luiz Fernando. Teoria crítica do direito. 2.ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, 2004. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo: Forense/Gen, 2008. KAUFMANN, Arthur. A problemática da filosofia do direito ao longo da história. In: KAUFMANN, A. HASSEMER, W. (org.) Introdução à filosofia do direito e à teoria do direito contemporâneas. Trad. António Manuel Hespanha. 2.ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2009 MORRIS, Clarence. Os Grandes Filósofos do Direito. Trad. Reinaldo Guarany. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociologia Jurídica - Introdução a uma Leitura Externa do Direito. São Paulo: RT, 2008. SILVEIRA, José Luongo da. Noções Preliminares de Filosofia do Direito. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1998. TELLES JR, Goffredo. Iniciação na Ciência do Direito. São Paulo: Saraiva, 2008.
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