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DEFINIÇÃO Conceito de métodos de identificação viral e seus parâmetros de validação. Características da terapia antiviral, seus diferentes mecanismos de ação e o desenvolvimento de uma nova molécula antiviral. Comparação entre as diferentes estratégias vacinais atuais para vírus. As inovações tecnológicas relacionadas ao desenvolvimento de novas vacinas antivirais. PROPÓSITO Compreender os diferentes processos que levam à implementação de testes de identificação viral e as diferenças metodológicas entre eles. Entender as diferenças entre os mecanismos de ação dos antivirais em uso, bem como o processo de desenvolvimento de uma nova molécula antiviral. Conhecer as diferentes metodologias vacinais contra os vírus e as novas tecnologias para geração de uma vacina antiviral. PREPARAÇÃO É necessário conhecimento prévio sobre: resposta imunológica contra vírus, noções sobre os diferentes ciclos replicativos das famílias virais e sobre mecanismos de transferência da informação genética (replicação de DNA, transcrição do RNA e tradução de proteínas). OBJETIVOS MÓDULO 1 Diferenciar os métodos sorológicos e moleculares de identificação viral MÓDULO 2 Comparar os mecanismos de ação dos antivirais e todos os processos anteriores à aprovação de uma nova molécula antiviral MÓDULO 3 Distinguir as metodologias empregadas durante o desenvolvimento de uma vacina antiviral INTRODUÇÃO Anualmente, as infecções virais são a causa de milhões de mortes em todo o mundo, principalmente nos países menos desenvolvidos. Vacinas e medicamentos antivirais são essenciais para manter as infecções sob controle, para combater a emergência de novos vírus e a ocorrência de pandemias. Em dezembro de 2019, a emergência de um novo coronavírus na província de Wuhan, na China, foi a causa de uma pandemia de proporções desastrosas mundialmente, tanto no contexto epidemiológico quanto no econômico. A pandemia de SARS-CoV-2/COVID-19 evidenciou para o mundo a importância da realização de testes diagnósticos para a identificação e adoção de medidas de controle das infecções virais, a necessidade do desenvolvimento de drogas antivirais eficazes e o papel fundamental da vacinação na prevenção de doenças infecciosas. Este tema tem por objetivo introduzir os conceitos-chave sobre os métodos de identificação viral, evidenciando as diferenças entre os métodos sorológicos e moleculares; apresentar os mecanismos de ação das drogas antivirais e as etapas para o desenvolvimento de novos medicamentos; além de abordar as características de uma vacina antiviral eficaz e os avanços tecnológicos recentes que permitem o desenvolvimento de novas estratégias vacinais contra diversos patógenos. MÓDULO 1 Diferenciar os métodos sorológicos e moleculares de identificação viral MÉTODOS SOROLÓGICOS E MOLECULARES DE IDENTIFICAÇÃO VIRAL CONSIDERAÇÕES GERAIS O diagnóstico preciso de uma infecção viral é, sem dúvida, de extrema importância e permite que os médicos iniciem imediatamente um tratamento adequado. Isso pode ser decisivo para garantir a qualidade de vida de infectados, por exemplo, pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou pelo da hepatite C (HCV). Além disso, o diagnóstico ajuda a tomar medidas de prevenção necessárias para evitar a transmissão e propagação de um determinado vírus, como o uso de preservativos, no caso das infecções pelo HIV, vírus da hepatite B (HBV), HCV e Papilomavírus humano (HPV). DICA Vírus respiratórios, como SARS-CoV-2, são prevenidos com medidas simples, como a lavagem de mãos, o distanciamento social e o porte de máscaras. O diagnóstico de infecções virais permite uma melhor conduta terapêutica dos pacientes e a tomada de decisões adequadas no âmbito da saúde pública. Neste módulo, iremos apresentar como são validados os testes de detecção viral e os diferentes métodos disponíveis, apresentando as suas principais diferenças, vantagens e aplicações. PARÂMETROS DE VALIDAÇÃO DE UM TESTE LABORATORIAL Sobre testes laboratoriais, você já ouviu falar em falso-positivo? Podemos imaginar que ninguém gostaria de receber um diagnóstico “falso-positivo” quando se trata de uma infecção por HIV, como exemplo. Por isso, os testes laboratoriais precisam ser cuidadosamente validados antes de serem usados na prática clínica. Fonte:Shutterstock A validação de um método de detecção viral consiste na realização de uma série de testes que confirmem sua eficácia para a identificação de um determinado vírus e o cumprimento das exigências necessárias para um diagnóstico acurado. Esses testes laboratoriais podem ser métodos: QUALITATIVOS Se baseiam na detecção, ou seja, na presença ou ausência de um sinal. SEMIQUANTITATIVOS Estima a quantidade de vírus, antígeno ou anticorpo, sem determinar o valor absoluto do material detectado. QUANTITATIVOS Indicam a quantidade de vírus, antígeno ou anticorpo, além de determinar a quantidade absoluta do material detectado. ATENÇÃO Todos esses métodos têm diversas aplicações laboratoriais, que vão desde a triagem e diagnóstico ao acompanhamento clínico. Durante as etapas de validação de um teste laboratorial, diversos parâmetros são avaliados: MPIX.TURE/Shutterstock PRECISÃO Consiste na sua reprodutibilidade. Isso significa que, se for aplicado a uma mesma amostra, deve produzir resultados similares. MPIX.TURE/Shutterstock ACURÁCIA Refere-se à probabilidade de o teste fornecer resultados corretos, ou seja, ser positivo nos infectados e negativo nos não infectados. MPIX.TURE/Shutterstock SENSIBILIDADE Capacidade de o teste diagnosticar corretamente os infectados. MPIX.TURE/Shutterstock ESPECIFICIDADE Refere-se à capacidade de detectar os não infectados. MPIX.TURE/Shutterstock PONTO DE CORTE OU CUTOFF Desenvolver um teste com 100% de acurácia é uma tarefa difícil, uma vez que, à medida que se aumenta a sua sensibilidade, diminui a sua especificidade. Nesse contexto, aplica-se o conceito de ponto de corte ou cutoff, que consiste no valor de referência por meio do qual o pesquisador considera o teste verdadeiramente positivo. A determinação de um cutoff depende da aplicação do teste. Cabe ao pesquisador determinar as vantagens e as desvantagens de utilizar testes com maior ou menor sensibilidade e especificidade. EXEMPLO Por exemplo, em bancos de sangue, é preferível optar por uma alta sensibilidade a fim de prevenir a transmissão de doenças infecciosas que, caso não sejam detectadas, podem acarretar um grande risco para a população. PowerUp/Shutterstock Devemos ainda considerar parâmetros, como a linearidade, o limite de detecção e o de quantificação no processo de validação de testes laboratoriais. LINEARIDADE Capacidade de fornecer um resultado proporcional à concentração do vírus, antígeno ou anticorpo em uma determinada amostra. LIMITE DE QUANTIFICAÇÃO É necessário utilizar uma curva de calibração com concentrações conhecidas do material a ser analisado. Geralmente, os valores mais baixos obtidos dentro da faixa de linearidade são denominados de limite de quantificação. LIMITE DE DETECÇÃO Refere-se à menor concentração do material analisado a ser detectada com precisão. Para entender mais detalhadamente os parâmetros destacados vejamos a figura a seguir. De acordo com os esquemas apresentados, podemos destacar: A) Parâmetros avaliados durante o processo de validação de um teste laboratorial para detecção das infecções virais: sensibilidade x especificidade x acurácia. B) Exemplo de curva de calibração utilizada para detecção de um antígeno viral: observamos que maiores concentrações de antígeno correspondem a maiores valores de absorvância, como ocorre durante a leitura de testes colorimétricos como o ELISA. C) Avaliação da presença do antígeno viral em amostras de indivíduos não infectados e infectados para determinação do cutoff do teste. Todas as amostras que se posicionam abaixo do valor de cutoff são consideradas negativas, enquanto todas localizadasacima do são positivas. Também está indicado o limite de quantificação (LOQ) do teste, que representa os valores mais baixos dentro da faixa de linearidade do método, logo são os menores valores quantificáveis. Antes da realização de um teste, devemos levar em conta: A coleta de amostras em um sítio anatômico relevante para a infecção; O tempo após o aparecimento dos sintomas; O tempo decorrido entre a coleta e a manipulação das amostras em laboratório; O tipo de teste diagnóstico. EXEMPLO No caso de uma infecção respiratória pelo SARS-CoV, a amostra a ser analisada para detecção do vírus deve ser preferivelmente coletada por um swab nasal, um aspirado de nasofaringe ou uma secreção respiratória inferior (escarro ou lavado traqueal ou lavado broncoalveolar), pois correspondem aos sítios anatômicos da entrada do vírus ou de maior replicação viral. SWAB NASAL Coleta de amostra da cavidade nasal com auxílio de swab estéril. Quanto ao tempo após o aparecimento dos sintomas, sabemos que a carga viral é mais elevada nos primeiros dias após a manifestação dos primeiros sintomas clínicos. Dessa maneira, a chance de detecção do vírus será mais alta se a amostra for coletada durante esse período. Assim que uma amostra é coletada, deve ser processada, e o diagnóstico realizado o mais rapidamente possível. ESB Professional/Shutterstock javascript:void(0) JHDT Productions/Shutterstock Nesse contexto, as condições de transporte até o laboratório são determinantes para a qualidade do teste. Com exceção de amostras de sangue, que devem ser transportadas à temperatura ambiente, outras amostras devem ser transportadas a 4°C. Caso o diagnóstico não seja feito imediatamente após a chegada da amostra no laboratório, deverá ser conservada sob a temperatura de -80°C para garantir que sua qualidade não seja alterada, o que impactaria na performance dos testes laboratoriais. O quadro a seguir sintetiza os possíveis tipos de amostras utilizadas para o diagnóstico de infecções virais. Quadro 1. Tipos de amostras para o diagnóstico de infecções virais Tipos de amostras Vírus detectados Sangue Citomegalovírus, hepatite B, hepatite C, HIV, sarampo Respiratória (swab nasal, aspirado de nasofaringe, escarro, lavado traqueal ou lavado broncoalveolar) Adenovírus, caxumba, citomegalovírus, enterovírus, herpes simples, influenza A e B, metapneumovírus humanos, parainfluenza 1-3, sarampo, rubéola, vírus respiratório sincicial Urina Caxumba, citomegalovírus, sarampo Fezes Rotavírus, adenovírus entéricos, norovírus Raspado de pele ou mucosa, lesão Enterovírus, herpes simples, varicela-zoster Raspado de córnea Herpes simples, adenovírus Líquido cefalorraquidiano Enterovírus, herpes simples, sarampo, caxumba Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal O desenvolvimento de testes acurados para o diagnóstico de infecções virais é o resultado do avanço nas técnicas de cultura de células, de reagentes, como os anticorpos monoclonais, e de detecção molecular. Isso permitiu um aumento na sensibilidade e na rapidez da realização do diagnóstico. As técnicas de detecção viral serão apresentadas nas próximas seções. ANTICORPOS MONOCLONAIS A técnica de imunização passiva com soro convalescente de pacientes recuperados de certas doenças é realizada há mais de um século. Isso ocorreu, por exemplo, em 1918 (Gripe espanhola), em 2009-2010 (pandemia de H1N1), em 2013 (surto de Ebola na África), em 2003 (SARS1), em 2012 (MERS ou síndrome respiratória do Oriente médio) e em 2020 alguns ensaios foram realizados durante a pandemia de COVID-19. MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DIRETA DE PARTÍCULAS VIRAIS Por definição, vírus são organismos incapazes de replicar fora de uma célula hospedeira, pois dependem do metabolismo celular para completar as etapas do ciclo de replicação e gerar novas partículas virais. Por conta dessa dependência, todos os métodos usados para isolamento viral dependem de sistemas vivos. No passado, o isolamento viral dependia da inoculação em animais ou javascript:void(0) ovos embrionados. Com o avanço das técnicas de cultura de células, atualmente esse método é preferencialmente usado com a finalidade de amplificar um isolado viral. Hakat/Shutterstock Antes de apresentarmos as técnicas de cultura de células e de isolamento viral, é importante descrevermos como uma célula é infectada por um vírus. ATENÇÃO Apesar de possuírem materiais genéticos (DNA ou RNA) e características estruturais distintos, de maneira geral, todos os vírus seguem as mesmas etapas para infectar uma célula hospedeira. Vejamos a seguir, mais detalhes das etapas de infecção da célula hospedeira: nobeastsofierce/Shutterstock 1ª ETAPA É a etapa de adsorção, que consiste na interação de proteínas virais e receptores na superfície da célula hospedeira. Esse reconhecimento específico determina a susceptibilidade e a permissividade de um determinado tipo celular a um vírus. Conhecer os tipos celulares permissivos à infecção por um determinado vírus é o primeiro passo no estabelecimento de protocolos de isolamento viral. 2ª ETAPA É a penetração ou internalização, que consiste na transferência da estrutura do capsídeo viral para o citoplasma da célula hospedeira. CAPSÍDEO VIRAL Alberga o genoma viral 3ª ETAPA É a descapsidação ou desempacotamento quando o material genético viral é liberado no citoplasma. É importante mencionarmos que, durante as etapas de internalização e decapsidação, mecanismos celulares de proteção intrínseca do hospedeiro são acionados por meio do reconhecimento de proteínas e do material genético viral. Esses mecanismos podem impactar o isolamento viral em sistemas de cultura de células. 4ª ETAPA Em seguida, os vírus utilizam o maquinário celular para expressar os seus genes, favorecendo a replicação de seu genoma. Essa etapa difere entre os vírus contendo diversos tipos de material genético (DNA/RNA, fita simples/fita dupla, polaridade positiva/negativa), mas o objetivo comum é o de promover a síntese de proteínas virais e a replicação genômica. 5ª ETAPA Há o processo de montagem de novas partículas virais que serão liberadas no meio extracelular para infectar novas células. Agora que você já conhece as etapas necessárias para a infeção de uma célula por um vírus, vamos apresentar os princípios básicos de cultura de células para isolamento viral. Essa é uma técnica amplamente utilizada em diversas abordagens e consiste no isolamento e na manutenção de células sob condições de esterilidade e em um ambiente controlado (nutrientes, pH, temperatura, gás e pressão). O objetivo é que as células sejam capazes de sobreviver e proliferar quando mantidas em frascos ou placas. No entanto, algumas precauções devem ser tomadas para evitar contaminações por bactérias, fungos e micoplasma. Logo, o uso de antibióticos e antifúngicos é uma prática comum em cultura celular. Nesse contexto, as células são classificadas como: MICOPLASMA Bactérias do gênero Mycoplasma. São menores do que outras bactérias e não possuem parede celular. ADERENTES Necessitam de adesão a uma superfície para proliferarem. NÃO ADERENTES Necessitam de adesão a uma superfície para proliferarem. As necessidades de células aderentes e não aderentes são distintas, o que requer o uso de meios de cultura adaptados. O meio de cultura é o líquido no qual as células encontram os nutrientes necessários para proliferarem. COMENTÁRIO De modo geral, meios de cultura contêm fonte de energia (glicose), aminoácidos essenciais e não essenciais, vitaminas, sais inorgânicos (magnésio, potássio, cálcio, ferro, sódio, zinco) entre outros ingredientes. O soro fetal bovino é um importante suplemento para os meios de cultura, pois contém os fatores de crescimento necessários para a proliferação das células, além de outros componentes complexos como aminoácidos, vitaminas e ácidos graxos. javascript:void(0) Vejamos os meios decultura em destaque a seguir: PRIMÁRIAS As culturas celulares podem ser primárias, ou seja, as células são obtidas diretamente de fluidos corporais ou tecidos (por meio de desagregação mecânica, química ou enzimática). Nesse caso, as células mantêm as características do tecido de origem por um determinado tempo LINHAGENS CELULARES Também podemos manter em cultura linhagens celulares, que podem tanto ser células oriundas de uma cultura primária que ainda não perderam suas características e apresentam elevada capacidade de proliferação, quanto células transformadas com mutações nos genes responsáveis pelo controle do ciclo celular, conferindo-lhe capacidade de proliferação infinita quando mantidas em cultura. PASSAGENS Células são mantidas em cultura através de passagens, ou seja, quando são transferidas para um novo frasco, geralmente diluídas em meio de cultura fresco. Tanto as culturas primárias como as linhagens celulares são utilizadas para amplificação e isolamento viral. Como mencionado, cada tipo celular possui características específicas que conferem permissividade à infecção por um determinado vírus. SAIBA MAIS Células primárias de rim de macacos Rhesus (RhMK), células primárias de rim de coelho, fibroblastos de pulmão humano (MRC-5), fibroblastos de prepúcio humano, carcinoma de laringe humana (HEp-2), células de adenocarcinoma pulmonar (A549) e células de rim de macaco verde africano (Vero) são alguns exemplos de células amplamente utilizadas nos laboratórios de virologia para isolamento viral. Quadro 2. Exemplos de linhagens celulares utilizadas para isolamento viral Linhagem celular Origem Aplicação para isolamento viral MRC-5 Pulmão de feto humano Vírus entéricos e respiratórios Hep2 Carcinoma de laringe humana Vírus entéricos e respiratórios javascript:void(0) A549 Adenocarcinoma pulmonar humano Vírus respiratórios Vero Rim de macaco verde africano Vírus entéricos e respiratórios MDCK Rim de cachorro Vírus respiratórios C6/36 Mosquito Aedes albopictus Vírus da dengue e outros flavivírus BHK-21 Rim de hamster neonato Vírus da Raiva LLC-MK2 Rim de macaco Rhesus Vírus respiratórios e entéricos Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Uma vez estabelecidas as culturas celulares, o isolamento viral começa com o processamento da amostra coletada e a obtenção do inóculo (suspensão contendo os vírus) que será adicionado à cultura celular. Preferencialmente, para esse processo, utiliza-se a técnica de adsorção, que favorece o contato entre o vírus e a superfície da célula hospedeira, além de aumentar significativamente o sucesso no isolamento de diversos vírus. Tonhom1009/Shutterstock As culturas de células não infectadas devem ser mantidas paralelamente às infectadas para servirem de controle. Essas culturas celulares são incubadas por dias ou mesmo semanas, dependendo do vírus a ser isolado. Elas são regularmente observadas no microscópio para a avaliação do seu estado morfológico. javascript:void(0) MORFOLÓGICO A primeira indicação da presença de um vírus na cultura. Chutima c/Shutterstock Nesse contexto, chamamos de efeito citopático (ECP) todo dano causado pelo vírus à célula hospedeira. O ECP pode corresponder a alterações morfológicas como arredondamento, vacuolização, inclusões, formação de sincícios ou até mesmo a lise celular e morte por apoptose. isak55/Shutterstock Em geral, cada família viral causa um ECP característico nos diferentes tipos celulares. Alguns vírus, como o do herpes simples (HSV), causam ECP em menos de 24 horas. Entretanto, a grande maioria leva de uma a duas semanas para induzir ECP visível em culturas celulares. Em casos como o citomegalovírus (CMV), isso pode levar até 30 dias. Apesar do ECP ser uma característica marcante da presença do vírus em cultura, a maioria dos vírus não causa nenhum dano aparente nas células, como por exemplo os de influenza, parainfluenza e caxumba. Nesse caso, mesmo na ausência de ECP visível, essas culturas não devem ser consideradas negativas e devem ser utilizados métodos complementares como a hemadsorção, a visualização das partículas virais por microscopia eletrônica, a detecção de antígenos virais por imunofluorescência, ensaios imunoenzimáticos, ou ainda a detecção dos genomas virais por métodos moleculares. Para entender melhor o assunto em destaque, observe a figura a seguir: Figura 2. Métodos de identificação direta de partículas virais. Fonte: CDC. A) Esquema representativo do processo de isolamento viral utilizando o método de cultura de células: o isolamento viral se inicia com a amostra coletada, que pode ter diversas origens, para obtenção de um inóculo viral, o qual é adicionado a culturas de células específicas, de acordo com o tipo de vírus a ser diagnosticado ou estudado. As culturas celulares são diariamente observadas no microscópio para identificação do Efeito Citopático. B) Exemplos de efeito citopático, indicando a presença de vírus nas culturas: uma das formas de identificar a presença de vírus nas amostras é pela morte celular ou efeito citopático, uma das características da replicação viral. Na figura à esquerda, observamos uma monocamada de células aderentes HEp-G2 não infectadas, exibindo um aspecto íntegro e homogêneo. Já na imagem da direta, observamos a mesma monocamada de células infectadas com adenovírus. Ela se encontra com morfologia alterada, apresentando células com formato arredondado e não mais aderidas ao frasco de cultura, característico de morte celular causada por efeito citopático. C) Identificação viral por microscopia eletrônica e imunofluorescência: nos casos de isolamento viral onde não é possível detectar o Efeito Citopático, são realizados outros métodos adicionais para identificação viral, como a microscopia eletrônica e imunofluorescência. Na figura à esquerda, observamos rotavírus em cultura por microscopia eletrônica. As estruturas arredondadas representam as partículas virais. Na figura à direita, observamos uma imagem de imunofluorescência, onde em verde temos células infectadas pelo vírus da herpes, cujos antígenos foram identificados por anticorpo marcado com molécula fluorescente verde. Nesse contexto, destacamos ainda: TESTE DE HEMADSORÇÃO Utilizado como indicação da presença de vírus que causam a adsorção de hemácias nas culturas celulares, como os de influenza, parainfluenza, sarampo e caxumba. Isso se deve ao fato de a infecção por esses vírus induzir a expressão de proteínas virais na membrana das células capazes de ligarem-se à membrana das hemácias. A interação entre células e hemácias é uma indicação da presença desses vírus na cultura. MICROSCOPIA ELETRÔNICA A microscopia eletrônica de varredura e de transmissão permitem a visualização de partículas virais que não podem ser detectadas pela microscopia óptica. A diferença entre essas duas técnicas é que a microscopia óptica utiliza feixes de luz, enquanto a eletrônica utiliza feixes de elétrons, o que permite a detecção de pequenas partículas, organelas celulares e até mesmo átomos. A microscopia eletrônica de varredura fornece uma imagem da superfície, com noções de profundidade e tridimensionalidade, evidenciando partículas virais e sua interação com a superfície das células. Já a microscopia de transmissão permite a visualização de organelas intracelulares, tendo capacidade de produzir imagens de alta resolução e ampliação. TÉCNICA DE IMUNOFLUORESCÊNCIA Essa técnica se baseia na ligação de um anticorpo específico marcado com uma molécula fluorescente ao antígeno viral presente na cultura. A amostra a ser analisada é inicialmente fixada em uma lâmina de microscopia. A técnica de imunofluorescência pode ser realizada pelos métodos direto ou indireto. Na imunofluorescência direta, os anticorpos específicos marcados são adicionados diretamente à amostra. Na técnica indireta, anticorpos não marcados específicos ao vírus são inicialmente adicionados e, em umasegunda etapa, também é adicionado um anticorpo anti- imunoglobulina marcado com a fluorescência. Essa técnica é considerada rápida, pouco custosa e específica. É bastante utilizada no diagnóstico de vírus respiratórios, herpes simples, rotavírus e vírus da raiva. Os ensaios imunoenzimáticos e os métodos moleculares de detecção do genoma viral serão abordados em detalhes na próxima seção. Culturas celulares para isolamento e detecção viral apresentam vantagens e desvantagens com relação a outros métodos diagnósticos. A necessidade de um laboratório equipado, com expertise técnica e um nível de biossegurança compatível com o risco na manipulação de um determinado vírus são limitações importantes. Além disso, o tempo necessário para o isolamento viral em cultura de células, a dificuldade de amplificar alguns vírus e a necessidade de um método confirmatório são os maiores obstáculos para a utilização da cultura celular como diagnóstico de rotina. ATENÇÃO Essa técnica continua evoluindo ao longo dos anos por meio do desenvolvimento contínuo de novas ferramentas (frascos e meios de cultura, linhagens celulares geneticamente modificadas com a presença de um gene repórter), visando tornar a identificação de agentes virais em cultura um método mais rápido e específico. GENE REPÓRTER Genes repórteres são aqueles que apresentam fenótipos facilmente detectados e quantificados. Uma das maiores vantagens da cultura celular é a capacidade de identificação de diversos vírus utilizando uma mesma técnica, principalmente quando o agente causador de uma determinada doença não é conhecido. Além disso, como a amplificação de um vírus em cultura implica na replicação de partículas virais competentes, esse método continua a ser considerado como padrão ouro ou gold standard para determinar a infecciosidade ou patogenicidade de alguns isolados virais. DIAGNÓSTICOS SOROLÓGICO E MOLECULAR DAS INFECÇÕES VIRAIS Os métodos sorológicos e moleculares são atualmente os mais utilizados no diagnóstico das infecções virais devido à sua alta sensibilidade, especificidade e rapidez. O diagnóstico sorológico se baseia na detecção de anticorpos específicos formados em resposta a uma infecção viral. javascript:void(0) O diagnóstico molecular se baseia na detecção dos ácidos nucleicos virais (DNA ou RNA), indicando a presença do vírus. Fase da infecção; Objetivo da análise; Possibilidade de reação cruzada com outros vírus; Capacidade técnica do laboratório; Material biológico disponível. Para entendermos a relevância de um teste sorológico ou molecular, primeiramente temos de compreender a dinâmica das infecções virais. De modo geral, logo após uma infecção, os vírus começam a replicar-se nas células hospedeiras. Essa replicação viral massiva tem como consequência a indução de uma resposta imune. Durante essa fase, chamada de infecção aguda, anticorpos contra o vírus começam a ser produzidos. Os primeiros anticorpos produzidos são da classe IgM, e mais tardiamente os da classe IgG. IGM As termologias IgM e IgG são as denominações dadas aos tipos de anticorpos (imunoglobulinas) que conferem proteção imediata e prolongada, respectivamente, contra infecções de vírus, bactérias, substâncias químicas e toxinas. javascript:void(0) javascript:void(0) IGG As termologias IgM e IgG são as denominações dadas aos tipos de anticorpos (imunoglobulinas) que conferem proteção imediata e prolongada, respectivamente, contra infecções de vírus, bactérias, substâncias químicas e toxinas Quando a resposta imune do hospedeiro elimina o vírus, a infecção é contida, e o paciente curado. ATENÇÃO Esse tipo de infecção aguda é característica de determinados vírus como influenza, dengue, febre amarela, rotavírus, entre outros. Quando o sistema imune não é capaz de eliminar o vírus, como no caso do HIV, HBV, HCV, HPV, inicia-se a chamada fase crônica da infecção. Nesse caso, o vírus está presente no hospedeiro, replicando-se ou mantendo-se em um estado latente, mas com implicações para a patogênese da infecção. Em alguns quadros, como na infecção pelo herpes simples, podem ocorrer episódios recorrentes de reativação durante a fase crônica. Figura 3. Dinâmica das infecções virais. De acordo com os esquemas apresentados, podemos destacar: A) Representação esquemática dos diferentes padrões de infecção viral: (i) infecção aguda, caracterizada por fortes níveis de replicação viral em um período curto de tempo; (ii) infecção crônica, marcada por uma fase aguda na qual a infeção não é contida pelo sistema imune e, como consequência, observa-se uma replicação viral persistente durante a fase crônica; (iii) infecção latente com episódios de reativação, que, diferentemente da infecção crônica, há um período de latência clínica com ausência de replicação viral, o qual pode ser interrompido por episódios de reativação intermitente com detecção viral. B) Representação esquemática da evolução da resposta imune humoral e a produção de anticorpos após uma infecção viral: durante a infecção aguda ocorre a produção de anticorpos da classe IgM e, no fim da fase aguda e durante a fase crônica os anticorpos específicos produzidos, o da classe IgG. Com base nos diferentes padrões de infecções virais, podemos adequar os nossos métodos diagnósticos de acordo com a fase da infecção a ser diagnosticada. Optamos por detectar o material genético viral e antígenos virais durante a fase aguda, quando há uma replicação viral massiva, ou durante a fase crônica, quando o vírus continua a replicar. Já os testes sorológicos indicam que uma resposta imune contra um determinado vírus foi desenvolvida, sinalizando para uma exposição prévia. Testes sorológicos baseados na detecção de IgMs são mais apropriados durante a infecção aguda, enquanto a detecção de IgGs se aplica após a resolução de uma infecção aguda ou nas infecções crônicas. Diagnóstico sorológico é um método indireto Detecta a presença de um anticorpo contra um determinado vírus. Diagnóstico molecular é um método direto. Identifica a presença do vírus por meio da detecção de seu material genético. Várias técnicas são utilizadas no diagnóstico sorológico das infecções virais, sendo as mais comuns os ensaios imunoenzimáticos, a imunofluorescência indireta e o imunoblotting. ENSAIOS IMUNOENZIMÁTICOS Consistem na utilização de anticorpos conjugados a uma enzima. A revelação ocorre por colorimetria, com a adição do substrato da enzima, conforme teste de ELISA. O teste de ELISA, do inglês Enzime-Linked Immunosorbent Assay para detecção de anticorpos específicos (ELISA indireto), baseia-se na utilização de antígenos virais adsorvidos em um suporte sólido (por exemplo, placas de poliestireno). A amostra de soro a ser testada é adicionada a um poço da placa e os anticorpos específicos, caso estejam presentes na amostra, vão reconhecer e se ligar ao antígeno viral imobilizado na placa. Um segundo anticorpo conjugado a uma enzima (geralmente, a peroxidase) é adicionado com o objetivo de reconhecer e se ligar ao primeiro anticorpo que, por sua vez, está ligado ao antígeno viral, imobilizado na placa. A revelação se dá quando o substrato para a peroxidade é adicionado, gerando uma reação colorimétrica que pode ser quantificada com a leitura da densidade óptica em um equipamento chamado de espectrofotômetro. Diferentes gradações de cores correspondem a diferentes níveis de produção de anticorpos (quanto mais escura a reação, maior a quantidade de anticorpos presentes na amostra de soro). Essa metodologia é chamada, portanto, de indireta, uma vez que não há a identificação direta do patógeno, mas, sim, de anticorpos específicos produzidos contra ele. SAIBA MAIS SAIBA MAIS Além da detecção de anticorpos, o ELISA também é capaz de detectar antígenos virais. Nesse caso, a técnica mais utilizada é chamada de ELISA sanduíche, onde anticorpos de captura javascript:void(0) estão imobilizados naplaca e ligados a antígenos presentes na amostra. Em seguida, é adicionado um anticorpo de detecção que também se liga especificamente ao antígeno viral, formando um complexo “anticorpo de captura + antígeno + anticorpo de detecção”. Essa configuração, que recebe o nome de sanduíche, é a referência deste método. Assim como no método ELISA indireto, a revelação se faz por meio de uma reação colorimétrica. A cor mais intensa representa, nesse caso, uma maior concentração de antígenos. Por utilizar dois anticorpos específicos, o ELISA sanduíche é considerado um método com uma boa acurácia. Por ser considerada rápida e específica, a técnica de ELISA é amplamente utilizada no diagnóstico de diversas infecções virais, como: HIV, HBV, Hepatite A, Rubéola, Citomegalovírus e HSV. TÉCNICA DE IMUNOFLUORESCÊNCIA Além de ser utilizada para a detecção de antígenos, ou seja, a presença do vírus, essa técnica também pode ser usada para detectar anticorpos específicos no soro de indivíduos infectados. Nesse caso, utiliza-se a técnica de imunofluorescência indireta. TÉCNICA DE IMUNOBLOTTING Consiste na ligação de anticorpos específicos, presentes na amostra de soro testada, aos antígenos virais imobilizados em um suporte sólido (geralmente uma membrana de nitrocelulose). Nesse caso, pode-se discriminar a presença de anticorpos específicos para as diferentes proteínas virais, o que é importante para inferir a fase da infecção e o grau de soroconversão do indivíduo. Essa técnica é utilizada como teste confirmatório de outro diagnóstico sorológico das infecções pelo HIV e HCV. COMENTÁRIO Outros testes como o de neutralização e hemaglutinação também podem ser usados para identificar a presença de anticorpos no soro de pacientes infectados e na titulação de anticorpos específicos, mas são menos utilizados como métodos diagnósticos. Os avanços mais recentes nas técnicas de biologia molecular e a redução do custo na realização desses testes permitiu a ampla utilização de métodos moleculares no diagnóstico viral. Flamingo Images/Shutterstock Um diagnóstico molecular rápido e acurado permite aos médicos a tomada de decisões terapêuticas acertadas, como a iniciação de um tratamento ou a mudança do esquema terapêutico em caso de resistência aos antivirais. TÉCNICA REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE PRINCÍPIO DA TÉCNICA REAÇÃO DE PCR TÉCNICA REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE Devido à sua alta sensibilidade, a técnica conhecida como reação em cadeia da polimerase (PCR, do inglês Polymerase Chain Reaction) revolucionou o diagnóstico das infecções virais. PRINCÍPIO DA TÉCNICA O princípio da técnica se baseia na utilização de uma enzima DNA polimerase capaz de amplificar segmentos específicos do genoma viral. Essa especificidade se dá por meio do uso de um par de oligonucleotídeos (primers ou iniciadores) complementares a sequências especificas no genoma viral. REAÇÃO DE PCR A reação de PCR ocorre ao longo de diversos ciclos de desnaturação, anelamento e extensão, e é realizada em um equipamento chamado de termociclador. Na etapa de desnaturação, a separação da dupla fita do DNA ocorre com o aumento da temperatura a 95°C. Em seguida, na etapa de anelamento, os oligonucleotídeos específicos se ligam às sequências complementares na fita molde de DNA. Essa etapa requer temperaturas entre 50°C e 65°C, dependendo da característica dos oligonucleotídeos. Na etapa de extensão, que ocorre a 72°C, a enzima DNA polimerase sintetiza a fita correspondente de DNA por meio da incorporação de nucleotídeos livres complementares à fita molde. Essa reação de amplificação em cadeia de uma sequência alvo de DNA viral ocorre de maneira exponencial. Como resultado, temos a visualização do produto amplificado (um segmento do genoma viral) após realização de eletroforese, de maneira qualitativa (presença ou ausência). Existem diversas variações da técnica de PCR, vejamos a seguir: PCR ANINHADA OU NESTED PCR Consiste na realização de duas PCRs consecutivas, sendo que na segunda o DNA molde é o produto da primeira reação. Ela é considerada mais precisa, pois usa dois conjuntos de oligonucleotídeos específicos para um determinado vírus. RT-PCR (PCR PRECEDIDA DE UMA REAÇÃO DE TRANSCRIÇÃO REVERSA) No caso de vírus com molécula de RNA como material genético, esse RNA deve ser retrotranscrito em DNA complementar (cDNA) antes da realização da PCR. PCR MULTIPLEX Tem como objetivo a detecção de mais de um alvo em uma mesma reação (mais de um vírus, diferentes grupos/subtipos virais etc). Para isso, diferentes pares de oligonucleotídeos são utilizados visando à amplificação simultânea de diferentes regiões do genoma viral. PCR EM TEMPO REAL (QPCR) É uma modificação da técnica de PCR que permite acompanhar a amplificação do genoma viral em tempo real, ou seja, a cada ciclo. Essa amplificação é comparada aos valores obtidos com o uso de uma curva de calibração, conferindo caráter quantitativo a essa técnica. Além dos reagentes utilizados em uma reação convencional, a qPCR se baseia na utilização de sondas específicas javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) marcadas com moléculas fluorescentes (sistema Taqman®) ou em intercalantes de DNA fluorescentes (SYBR-Green®). PCR DIGITAL Foi desenvolvida posteriormente com o objetivo de permitir a quantificação absoluta sem necessidade de curva de calibração. ATENÇÃO De maneira geral, a técnica de PCR e suas variações têm uma ampla aplicação na área da virologia e podem ser utilizadas na detecção de todos os vírus uma vez que a sequência desses organismos seja conhecida. Dependendo da sequência dos oligonucleotídeos, podemos discriminar um grupo de vírus, ou mesmo diferentes genótipos e sorotipos. Entretanto, para algumas famílias de vírus, as diferenças genéticas são muito sutis para serem diferenciadas desse modo. Nesses casos, a técnica de sequenciamento se torna indispensável. Observe a figura a seguir em que ilustramos cada uma das técnicas apresentadas: Figura 4. Diagnósticos sorológico e molecular das infecções virais. Fonte: CDC. A figura apresentada destaca os métodos de Imunofluorescência (direta e indireta), ELISA (indireto e sanduíche), que representam métodos sorológicos, e PCR, representando um método molecular de javascript:void(0) diagnóstico. Todas essas metodologias são amplamente utilizadas para a detecção de anticorpos, antígeno e material genético viral. O sequenciamento do material genético viral se tornou uma ferramenta crucial para a virologia molecular. Por isso, destacamos que é fundamental: Conhecer a sequência dos isolados virais, que permite identificar as mutações de resistência a um determinado tratamento antiviral. Entender as características epidemiológicas das cepas circulantes em uma determinada região. Detectar precisamente os diferentes tipos, sorotipos, subtipos e qualquer variação genética de um vírus existente. Traçar a história evolutiva e a distribuição geográfica de diferentes vírus e suas variantes. Nesse contexto, o sequenciamento viral se baseia no método de Sanger, usado por muitos anos, e em métodos mais recentes, chamados de “sequenciamento de nova geração”, que correspondem a tecnologias desenvolvidas por diferentes empresas (454 da Roche, Ion Torrent da Life Technologies, a tecnologia Illumina, dentre outros). Com objetivo de reforçar seu conhecimento sobre a aplicação do método sorológico e molecular no diagnóstico do novo coronavírus, assista ao vídeo a seguir. MÉTODO DE SANGER javascript:void(0) Método de sequenciamento onde o DNA é copiado diversas vezes gerando fragmentos de tamanhos distintos. O final de cada fragmento é marcado por um nucleotídeo fluorescente, permitindo que a sequência seja determinada APLICAÇÃO DO MÉTODO SOROLÓGICO E MOLECULAR NO DIAGNÓSTICO DO NOVO CORONAVÍRUS. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VOCÊ É UM PESQUISADOR E RECEBEU EM SEU LABORATÓRIO UMA AMOSTRA CLÍNICA OBTIDA DE UM PACIENTE APRESENTANDO SINTOMASDE UMA INFECÇÃO RESPIRATÓRIA. A SUSPEITA É QUE SEJA UMA DOENÇA DE ETIOLOGIA VIRAL. CONHECENDO OS PROTOCOLOS A SEREM SEGUIDOS PARA QUE VOCÊ CONSIGA ISOLAR COM SUCESSO O PROVÁVEL VÍRUS CAUSADOR DA DOENÇA, MARQUE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) Dar prioridade ao uso de culturas de células para isolamento viral, com o objetivo de limitar o uso de animais para este fim. B) Estabelecer culturas a partir de diferentes linhagens celulares e inocular a amostra infectada. C) Monitorar o aparecimento de efeito citopático nas culturas celulares. D) Caso a cultura não apresente efeito citopático aparente, determinar o diagnóstico como negativo para infecções virais. 2. A TÉCNICA CONHECIDA COMO REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR) É MUITO UTILIZADA NA VIROLOGIA DEVIDO À SUA ALTA SENSIBILIDADE, SENDO CAPAZ DE DETECTAR ATÉ UMA CÓPIA DO MATERIAL GENÉTICO VIRAL EM UMA AMOSTRA CLÍNICA. OS COMPONENTES NECESSÁRIOS PARA INICIAR UMA REAÇÃO DE PCR SÃO: O DNA VIRAL DUPLA FITA, UMA ENZIMA DNA POLIMERASE TERMOESTÁVEL, UM CONJUNTO DE OLIGONUCLEOTÍDEOS ESPECÍFICOS PARA A REGIÃO ALVO A SER AMPLIFICADA, DEOXINUCLEOTÍDEOS LIVRES PARA SEREM INCORPORADOS DURANTE A SÍNTESE DAS NOVAS CADEIAS E UM TAMPÃO PARA MANTER A REAÇÃO ESTÁVEL. DIVERSAS VARIAÇÕES DESSA TÉCNICA FORAM DESENVOLVIDAS. SOBRE A TÉCNICA DE PCR E SUAS VARIAÇÕES, INDIQUE A ALTERNATIVA FALSA: A) A PCR multiplex tem por objetivo amplificar mais de um alvo em uma mesma reação. Pode ser usada para amplificar diferentes vírus ou variantes de um mesmo vírus de uma única vez. B) Vírus de RNA podem ser diretamente detectados por PCR. C) A PCR convencional é qualitativa enquanto a PCR em tempo real e a PCR digital são quantitativas. D) A PCR aninhada pode ser considerada mais específica, já que utiliza dois pares de oligonucleotídeos específicos para um mesmo vírus. GABARITO 1. Você é um pesquisador e recebeu em seu laboratório uma amostra clínica obtida de um paciente apresentando sintomas de uma infecção respiratória. A suspeita é que seja uma doença de etiologia viral. Conhecendo os protocolos a serem seguidos para que você consiga isolar com sucesso o provável vírus causador da doença, marque a alternativa incorreta: A alternativa "D " está correta. Como vimos, mesmo na ausência de efeito citopático visível, as culturas celulares não devem ser consideradas como negativas. Métodos complementares como a hemadsorção, a visualização das partículas virais por microscopia eletrônica, a detecção de antígenos virais por imunofluorescência, ensaios imunoenzimáticos e a detecção dos genomas virais por métodos moleculares devem ser utilizados para confirmar o diagnóstico. 2. A técnica conhecida como reação em cadeia da polimerase (PCR) é muito utilizada na Virologia devido à sua alta sensibilidade, sendo capaz de detectar até uma cópia do material genético viral em uma amostra clínica. Os componentes necessários para iniciar uma reação de PCR são: o DNA viral dupla fita, uma enzima DNA polimerase termoestável, um conjunto de oligonucleotídeos específicos para a região alvo a ser amplificada, deoxinucleotídeos livres para serem incorporados durante a síntese das novas cadeias e um tampão para manter a reação estável. Diversas variações dessa técnica foram desenvolvidas. Sobre a técnica de PCR e suas variações, indique a alternativa falsa: A alternativa "B " está correta. Os vírus de RNA podem ser detectados pela técnica de RT-PCR, ou seja, a reação de PCR é precedida por uma reação de retrotranscrição que vai converter o RNA viral em uma molécula de DNA complementar, que pode ser então utilizada na etapa da PCR convencional. MÓDULO 2 Comparar os mecanismos de ação dos antivirais e todos os processos anteriores à aprovação de uma nova molécula antiviral TERAPIA ANTIVIRAL Como já mencionamos, os vírus utilizam as enzimas da célula hospedeira no seu ciclo replicativo. Além do maquinário celular, eles também se valem de suas próprias proteínas/enzimas durante o processo de replicação viral. DAntes Design/Shutterstock O desenvolvimento de drogas capazes de inibir especificamente as enzimas virais é um campo de grande interesse para a Virologia. Uma droga antiviral eficiente deve bloquear as etapas específicas do ciclo replicativo viral, reduzir potencial tóxico e não interferir significativamente no metabolismo das células do hospedeiro. No entanto, devido ao fato de usarem as vias metabólicas celulares para se propagarem, as drogas antivirais costumam ter um grau inerente de toxicidade. Outro problema é a emergência de variantes virais resistentes às drogas. Nesse módulo, discutiremos como funciona a terapia antiviral e as etapas necessárias para a validação e aprovação de uma nova molécula antiviral. CONSIDERAÇÕES GERAIS Todas as etapas do ciclo replicativo de um vírus são passíveis de sofrer interferência de antivirais. Sendo assim, os antivirais podem ter como alvos: Entrada ou adsorção; Descapsidação ou desempacotamento do material genômico viral; Transcrição reversa; Integração do genoma viral ao genoma do hospedeiro; Transcrição do material genético viral; Processamento de proteínas virais; Brotamento viral. Um único antiviral pode ser utilizado no tratamento de diferentes infecções virais. Isso caracteriza o espectro de ação do antiviral, que pode ser amplo, quando utilizado em diversos vírus, ou baixo, caso seja específico para um único vírus. EXEMPLO Um fármaco de amplo espectro é a Ribavirina, eficiente contra vírus de RNA, usado no tratamento de Hepatite C e Influenza. Já um fármaco de baixo espectro é o Oseltamivir, específico para uma enzima exclusiva do vírus Influenza. O espectro de ação também está relacionado ao alvo de ação do antiviral. Quando os antivirais pertencem a uma mesma classe de drogas, apresentando estruturas químicas semelhantes, também costumam ter alvos e ações semelhantes. asiandelight/Shutterstock Essa característica cria a possibilidade da utilização de um antiviral já conhecido para um determinado vírus ter seu uso testado no combate de doenças emergentes ou no combate de novos vírus, no caso de pandemias. angellodeco/Shutterstock A esse processo damos o nome de off-label e ocorreu recentemente durante a pandemia de COVID- 19. Muitos antivirais aprovados para o uso em outras doenças (por exemplo, Influenza, HIV e Ebola) foram testados para avaliação de seu efeito contra o novo Coronavírus. Africa Studio/Shutterstock Essa prática é bastante comum, uma vez que, caso a eficácia do fármaco seja comprovada contra uma nova doença, não é necessário o desenvolvimento de uma nova molécula para um novo tratamento, economizando tempo e dinheiro. MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIVIRAIS ATUALMENTE EM USO Inibidores de entrada Essa classe de drogas antivirais tem como objetivo impedir que o vírus entre na sua célula alvo. Essa inibição pode ocorrer de duas maneiras: INIBIÇÃO 1 javascript:void(0) A droga se liga aos receptores ou co-receptores celulares usados pelo vírus, impedindo-o de iniciar processo de entrada na célula; INIBIÇÃO 2 A droga se liga à proteína viral, usualmente exposta no envelope viral, bloqueando seu contato com os receptores na célula hospedeira (inibidores de fusão). Atualmente, para essa classe de drogas, são aprovados dois antivirais para uso contra as infecções causadas pelo HIV. Nesse contexto, detalhamos que: O primeiro inibidor de entrada (e nesse caso, também considerado inibidor de fusão) do HIV-1 a ser aprovado foi o Enfuvirtida (também conhecido como Fuzeon ou T20), um polipeptídeo homólogo a uma região da glicoproteína de superfície viral gp41. A ligação do Enfuvirtida à gp41 impede a fusão da membrana viral com a membrana plasmática hospedeira e impossibilita a entrada do HIV na célula. Outro inibidor de entrada do HIV é o Maraviroc, que é um antagonista do co-receptor de quimiocinas CCR5, presente na superfície de células TCD4+. Por ser uma droga antagonista, o Maraviroc bloqueia o CCR5, utilizado peloHIV durante a entrada na célula hospedeira, impedindo a infecção. Um problema quanto à utilização do Maraviroc é que o HIV não utiliza somente o CCR5 como molécula co-receptora, mas também o co-receptor CXCR4. Desse modo, o Maraviroc apenas é eficaz caso o HIV tenha tropismo pelos receptores CCR5 (vírus R5), o que normalmente ocorre somente no início das infecções. INIBIDORES DE ENZIMAS VIRAIS Inibidores da transcriptase reversa do HIV: Análogos de nucleosídeos (ITRN), análogos de nucleotídeo (ITRNt) e não análogos de nucleosídeos (ITRNN) Os antivirais inibidores da enzima viral Transcriptase Reversa (TR) têm como objetivo impedir que o vírus replique seu material genético. O HIV faz uso de nucleotídeos trifosfatados (dNTPs) celulares para realizar a retrotranscrição de seu RNA viral, ou seja, gerar a fita de DNA complementar (cDNA) ao seu RNA genômico. Os inibidores análogos de nucleotídeos ou nucleosídeos mimetizam os dNTPs celulares, porém com um detalhe fundamental: eles não possuem a extremidade 3’hidroxila (3’OH) livre de sua pentose. Esse fato impede a formação de ligações fosfodiéster 3’-5’ entre o análogo nucleosídico/nucleotídico javascript:void(0) e a cadeia de cDNA viral em formação. Assim, quando um análogo é incorporado, a retrotranscrição é bloqueada. ITRNs e o ITRNts administrados como pró-droga Não estão prontos para serem utilizados pelo nosso organismo, logo após a ingestão Fonte: PopTika/Shutterstock Uma vez dentro das células, eles são fosforilados por enzimas celulares (quinases) para atingirem sua forma ativa. Somente então, finalmente adquirem uma estrutura química muito similar ao dNTP celular trifosfatado correspondente e, por isso, são “confundidos” com eles. Durante a retrotrancrição, a TR se mostra incapaz de realizar essa distinção, incorporando tanto os dNTPs celulares quanto os análogos na cadeia de cDNA viral em formação. Quando um análogo é incorporado, ocorre a interrupção do alongamento do cDNA viral. Portanto, dizemos que os ITRN e o ITRNt funcionam como terminadores de cadeia. Em outras palavras, os ITRN e o ITRNt atuam competindo pelos dNTPs livres celulares, a fim de interromper a replicação viral. EXEMPLO Como exemplos de ITRN temos Abacavir (análogo de guanosina), Didanosina (análogo de adenina), Entricitabina (análogo de citidina), Lamivudina (análogo de citosina), Estavudina (análogo de timidina) e Zidovudina (AZT - análogo de pirimidinas). Para a classe dos ITRNt, o único representante antiviral em uso é o Tenofovir (análogo de adenosina). Já os inibidores não nucleosídicos da TR (ITRNNs) atuam de maneira não competitiva, ligando-se diretamente à enzima em uma região próxima ao seu sítio catalítico, causando uma mudança conformacional que reduz a sua atividade. Diferentemente dos ITRN e ITRNt, os NNRTIs não necessitam de nenhum metabolismo celular para torná-los ativos. Como exemplos de NNRTIs, temos Efavirenz, Etravirina, Nevirapina e Rilpivirina. INIBIDORES DA DNA POLIMERASE VIRAL: ANÁLOGOS NUCLEOSÍDICOS No caso de vírus que possuem seu genoma formado por uma molécula de DNA, o racional para o mecanismo de ação dos inibidores análogos de nucleosídeo é o mesmo: uma vez administrados, eles são fosforilados por quinases celulares para adquirirem a forma ativa. Quando fosforilados, eles competem com os dNTPs celulares durante a geração da cadeia de DNA viral e, quando incorporados ao DNA viral, causam sua finalização prematura. EXEMPLO Como exemplos desse grupo, temos o Penciclovir, Fanciclovir e Aciclovir (análogos da guanosina) contra os vírus herpes simplex e herpes zoster. Para o tratamento das infecções pelo vírus da Hepatite B, são usados o Entecavir (análogo da guanosina) e a Telbivudina (análogo da timidina). INIBIDORES DA RNA POLIMERASE RNA DEPENDENTE A RNA polimerase RNA dependente (RpRd) é a enzima viral responsável pela síntese da fita positiva de RNA nos vírus de genomas de RNA polaridade negativa. Sem essa enzima, é impossível gerar proteínas virais. Inibidores da RdRp bloqueiam, portanto, a infecção viral. Nessa classe de antivirais, temos duas moléculas, que são: RIBAVIRINA É um análogo de nucleosídeo (análogo da guanosina) que também é trifosfatada no interior da célula, adquirindo estrutura química semelhante à dos nucleotídeos celulares. Funciona como terminador de cadeia quando incorporado à cadeia de RNA viral em formação sintetizada pela RdRp. Outros mecanismos de ação já foram propostos para Ribavirina devido ao seu amplo espectro de ação contra diferentes vírus. Porém, a inibição da RdRp viral, no caso de Influenza, parece ser o mecanismo antiviral mais efetivo. FAVIPIRAVIR Aprovado em 2013, é um antiviral recente desenvolvido por japoneses. Seu mecanismo de ação é similar ao da Ribavirina, atuando como um análogo de bases purinas (adenina e guanina). O Favipiravir também sofre adição de três fosfatos quando na sua forma intracelular; ao ser incorporado por engano ao genoma viral, bloqueia a ação da RdRp. Ele tem ação comprovada contra o vírus Influenza que infecta tanto humanos quanto aves, além de outros cujo genoma é formado por RNA. INIBIDORES DE INTEGRASE (IIN) Por ser um item chave na replicação do HIV-1 e não possuir equivalente na célula hospedeira, a enzima viral integrase é um excelente alvo para a terapia antirretroviral. Os inibidores de integrase (IIN) foram a última classe de drogas contra o HIV a ser desenvolvida. Somente em 2007, o primeiro fármaco foi liberado. A integração, quando o genoma viral é integrado ao genoma da célula hospedeira, é uma fase crucial do ciclo replicativo do HIV. A partir dessa etapa, o genoma do vírus está “disfarçado” no meio celular e passa a se comportar, portanto, como um gene hospedeiro. COMENTÁRIO Toda vez que a célula duplicar seu DNA, transcrever seu RNA e traduzir suas proteínas, também produzirá cópias do DNA proviral, RNA e proteínas virais. Os IIN atuam na etapa de transferência de fitas. Esses antivirais possuem um motivo quelante de metais. Os IIN se ligam ao complexo integrase-DNA viral deslocando este último, impedindo assim a transferência do DNA viral para o genoma hospedeiro. O DNA viral não integrado é, por fim, degradado. Os IIN do HIV atualmente disponíveis são: Raltegravir; Dolutegravir; Elvitegravir. Um outro inibidor, o Cabotegravir, está em fase III de testes clínicos e é uma molécula promissora, pois age como um inibidor de longa duração. QUELANTE DE METAIS Responsável por sequestrar íons metálicos como Mg+2 que são necessários para o correto funcionamento da integrase. INIBIDORES DE PROTEASE (IP) javascript:void(0) Em 1995, foi aprovada a primeira droga da classe dos Inibidores de Protease (IP) do HIV-1. O HIV produz suas proteínas primeiramente sob a forma de poliproteínas precursoras que necessitam ser clivadas pela protease viral para atingir suas formas ativas. A clivagem da poliproteína do HIV gera enzimas transcriptase reversa, a própria protease e integrase, além de outras proteínas estruturais. A protease viral pode ser grosseiramente comparada a uma “tesoura” que irá cortar a poliproteína viral em regiões específicas para geração das proteínas virais individualizadas. Com a utilização dos IP, a protease viral é inibida, ocorrendo a produção de partículas imaturas de HIV que perdem a capacidade infecciosa. Em geral, são drogas mais caras, quando comparadas às demais utilizadas na terapia, devido às dificuldades que envolvem sua síntese e sua complexa estrutura. A maioria dos IP disponíveis são peptídeo-miméticos que se ligam ao sítio ativo da protease viral e competem pela sua ligação aos sítios de clivagem, impedindo a protease de executar um correto processamento viral. EXEMPLO Como exemplo de Inibidores de Protease do HIV, temos Saquinavir, Indinavir, Nelfinavir, Lopinavir, Atazanavir, Tipranavir, Fosamprenavir, Darunavir e Ritonavir. É importante comentar um mecanismo farmacológico chamado de reforçador farmacocinéticoou booster, comumente utilizado durante a terapia antirretroviral: a fim de potencializar a meia-vida dos antirretrovirais no organismo do paciente, são usadas drogas acessórias, cuja função é inibir enzimas hepáticas responsáveis pelo metabolismo dos antirretrovirais (por exemplo, enzimas do grupo CYP3A). São usadas drogas acessórias em combinação com IIN e IP, que nesses casos destacamos da seguinte maneira: IIN No caso dos IIN, a droga acessória utilizada é o Colbicistate que, ao inibir o metabolismo hepático de drogas, garante uma maior concentração dos IIN circulando no sangue periférico por um tempo maior, além de uma menor dosagem do IIN utilizado. IP Nesse caso, o Ritonavir é o próprio booster de outros IP: também é um potente inibidor da enzima CYP3A e, simultâneo à sua administração, ocorre um aumento da biodisponibilidade de um segundo IP (tratamento chamado de IP reforçado). Essa estratégia de booster garante o aumento da supressão viral com diminuição dos efeitos colaterais, ajudando a evitar o desenvolvimento de resistência viral. ATENÇÃO É importante reforçar que o Colbicistate não apresenta atividade direta contra o HIV, atuando somente em um mecanismo acessório à terapia antirretroviral, diferentemente do Ritonavir. Apesar de terem diferenças expressivas quanto à sua estrutura e modo de replicação, o HIV e o HCV compartilham algumas similaridades, principalmente no que diz respeito à clivagem da poliproteína precursora viral pela protease viral. ustas7777777/Shutterstock javascript:void(0) javascript:void(0) O HCV tem seu genoma formado por RNA e sua protease é chamada NS3/4A. Os inibidores da protease NS3/4A do HCV disponíveis são o Boceprevir e Telaprevir. Eles se ligam, de modo covalente e reversível, ao local ativo da protease NS3/4A, assim inibem a replicação viral nas células do hospedeiro. Se você ficou curioso e quer saber mais sobre a Terapia Antirretroviral para o combate ao HIV, leia o conteúdo a seguir. Chinnapong/Shutterstock Um pouco mais sobre Terapia Antirretroviral (TARV) de combate ao HIV: Combinação de medicamentos, resistência e efeitos colaterais A TARV representa o uso de um coquetel de drogas para o combate do HIV. Atualmente, no Brasil, a TARV envolve a combinação de três antirretrovirais: dois ITRN/ITRNt associados a outra classe de antirretroviral, que pode ser ITRNN, IP ou IIN. Esses medicamentos devem ser tomados diariamente pelo indivíduo infectado, respeitando horário e recomendações médicas. A cada visita ao consultório (normalmente a cada 6 meses), os pacientes coletam uma amostra de sangue para avaliar sua carga viral. Se essa se encontra inferior a 50 cópias de RNA viral/mL sangue, o tratamento é mantido, caso esse número esteja elevado, o paciente se encontra em falha terapêutica e deve ter sua combinação de drogas modificada. Lightspring/Shutterstock A falha terapêutica ocorre devido a alguns motivos, entre eles ao aparecimento de mutações de resistência no vírus. O novo tratamento, chamado de terapia de resgate, deve conter antirretrovirais que consigam combater os vírus mutantes, a fim de manter a supressão viral no indivíduo. Fahroni/Shutterstock Para a troca do regime terapêutico, deve se levar em consideração a barreira genética da droga, que é a facilidade com que o vírus desenvolve resistência frente aos medicamentos em uso pelo paciente. Nesse caso, dizemos que uma droga tem alta barreira genética quando ela continua sendo eficiente mesmo que o vírus acumule diversas mutações em seu genoma (por exemplo, IIN Dolutegravir). No caso de drogas de baixa barreira genética, poucas mutações no vírus tornam o antiviral ineficiente no combate à infecção (por exemplo, inibidor de fusão Enfuvirtida). Rost9/Shutterstock As mutações de resistência no HIV são geradas de forma natural e aleatória durante a retrotranscrição de seu genoma pela TR. Essa enzima não possui a capacidade de correção durante a replicação viral, gerando pelo menos 1 substituição de nucleotídeo a cada ciclo de replicação, que pode ocorrer em qualquer região de seu genoma. Isso é muito, considerando que o genoma do HIV tem cerca de 10 mil pares de bases! Se a cada dia são produzidas em média 1010 novas partículas virais, conseguimos visualizar a imensa diversidade gerada durante o longo curso da infecção viral. PhuShutter/Shutterstock Como você já deve imaginar, a TARV deve ser tomada por todos os dias da vida do indivíduo, sem interrupção, uma vez que ainda não há cura para a infecção pelo HIV nem vacina para preveni-lo. Há inúmeros efeitos adversos associados a essa quantidade tremenda de antivirais, como: anemia, hepatotoxicidade, toxicidade renal, reações de hipersensibilidade cutânea, pancreatite, diarreia, diminuição da densidade óssea, dislipidemia (elevação de colesterol e triglicerídeos), entre diversos outros. Logo do SUS No Brasil, desde 1996, a TARV é concedida gratuitamente pelo SUS. Além dela, existem outras profilaxias adotadas para o combate do HIV: a PEP e a PrEP. A PEP, a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV, é referente ao uso de antirretrovirais após um possível contato com HIV, em situações de violência sexual, relação sexual desprotegida, acidente ocupacional, dentre outros. A fim de que a PEP seja eficaz, ela deve ser iniciada no máximo 72 horas após a exposição de risco e deve ser tomada por 28 dias ininterruptos. Já a PrEP, a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, consiste na ingestão de dois medicamentos (1 ITRN + 1 ITRNt) diariamente, antes que o indivíduo tenha contato com o vírus. Esse tipo de profilaxia não é para todos e deve ser realizada apenas por pessoas que tenham maior chance de entrar em contato com o HIV, como gays, transsexuais, trabalhadores do sexo e casais sorodiscordantes (onde um dos membros é HIV positivo e o outro HIV negativo). Rawpixel.com/Shutterstock Nos dias de hoje, o HIV deixou de ser uma sentença de morte, como era há quase 40 anos, quando foi primeiramente identificado. Nessa época, os efeitos da infecção pelo vírus eram muito claros e os indivíduos soropositivos sobreviviam por pouco tempo após o aparecimento dos sintomas de AIDS. Graças ao avanço na TARV e ao desenvolvimento técnico-científico, que permitiu a geração de novas drogas, indivíduos infectados pelo HIV exibem uma melhor qualidade de vida e maiores taxas de sobrevida, desde que a TARV seja seguida corretamente pelo paciente. Esses fatos, no entanto, não minimizam a gravidade e complexidade da doença, o alto custo de tratamento bancado pelo SUS, além do fato de ser uma infecção ainda sem cura e que dura por toda a vida do paciente. A mensagem que fica, portanto, é a de prevenção, sempre! INIBIDORES DO DESEMPACOTAMENTO VIRAL No caso específico do Influenza, a acidificação do endossoma ativa a proteína viral M2, que funciona como um canal iônico e permite o influxo de mais íons H+ do endossoma para o interior da partícula viral. Esse processo é responsável pelo desempacotamento viral (desmontagem do capsídeo viral ou decapsidação). ATENÇÃO Como resultado, os RNAs virais são liberados no citoplasma da célula hospedeira para que o ciclo replicativo possa ser prosseguido. Durante a etapa de desempacotamento viral, dois antivirais contra influenza atuam: Amantadina e Rimantadina. Ambas as drogas são derivadas da molécula Adamantano e têm como alvo a proteína viral M2, bloqueando a formação do canal iônico e o transporte de prótons para o interior viral. Fonte: vchal/Shutterstock Como consequência, o RNA viral não é liberado no citoplasma celular, bloqueando a replicação do Influenza. INIBIDORES DE BROTAMENTO VIRAL A Neuraminidase (NA) é uma proteína localizada na superfície do envelope viral do Influenza. Ela participa na etapa de finalização do brotamento: para que as partículas virais sejam separadas fisicamente da membrana plasmática da célula do hospedeiro, é necessário que ocorra uma clivagem realizada pela NA. Essa etapa é muitoimportante, uma vez que, durante o brotamento, a Hemaglutinina, outra proteína ancorada no envelope viral, imediatamente se liga aos receptores de ácido siálico na superfície celular do hospedeiro. Se isso acontecesse sempre, os vírions recém-formados não teriam seu brotamento concluído. O papel enzimático da NA é necessário para destruir os receptores de ácido siálico e permitir o completo brotamento viral. SAIBA MAIS javascript:void(0) SAIBA MAIS A partir da análise da estrutura da NA, foram desenvolvidos inibidores que têm por função se ligar ao sítio ativo da NA e impedir que ela realize a clivagem dos receptores de ácido siálico. Desse modo, é bloqueada a disseminação viral de células infectadas para as células adjacentes. Como exemplos de inibidores da NA temos Oseltamivir (uso oral) e Zanamivir (inalação) que são eficazes para o tratamento da Influenza A e B. ATENÇÃO É importante lembrar que os antivirais para influenza são mais utilizados em casos de indivíduos alérgicos à vacina ou em situações de surtos, pois a vacinação é a abordagem principal e a mais eficaz para minimizar o impacto da doença. DROGAS IMUNOMODULATÓRIAS Os interferons são glicoproteínas naturalmente produzidas pelo nosso sistema imunológico como nossa primeira linha de defesa a uma infecção viral. Eles não têm como alvo nenhuma proteína viral específica, mas tem por objetivo estimular mecanismos celulares intrínsecos para destruir os vírus, como: estímulo de resposta citotóxica (CD8 e natural killer) e indução da expressão de genes (ISGs, do inglês Interferon Stimulated Genes) com o objetivo de aumentar a produção de outras citocinas e proteínas com funções antivirais. Fonte: peterschreiber.media/Shutterstock Os interferons são comumente utilizados no tratamento de Hepatites B e C, em terapia combinada com outras drogas. No entanto, utiliza-se uma molécula modificada de interferon chamado Interferon Peguilado. Permite-se uma administração injetável semanal da forma peguilada, ao invés de três vezes por semana para a molécula convencional. INTERFERON PEGUILADO O interferon na sua forma peguilada apresenta uma molécula de polietilenoglicol que garante ação mais prolongada quando comparada à molécula original. javascript:void(0) OneSideProFoto/Shutterstock Para o tratamento da Hepatite B crônica, utiliza-se Interferon alfa peguilado em combinação com Lamivudina ou Tenofovir. LAMIVUDINA OU TENOFOVIR Sim! Esses são inibidores da Transcriptase Reversa do HIV como já vimos anteriormente – esses antivirais têm amplo espectro! Já o tratamento da Hepatite C crônica envolve o uso de Interferon alfa ou beta peguilado em dupla terapia com a Ribavirina (Inibidor RdRp). javascript:void(0) ByGurzoglu/Shutterstock Dependendo do genótipo de HCV em questão, associa-se ainda o Boceprevir ou Telaprevir (Inibidores da Protease NS3/4A) à terapia dupla já em andamento. Na prática clínica, esses tratamentos são caros, de longa duração (em torno de 48 semanas) e causam efeitos colaterais consideráveis como anemia severa e fadiga excessiva. ESTUDOS PRÉ-CLÍNICOS E CLÍNICOS PARA NOVAS MOLÉCULAS ANTIVIRAIS Agora que você já conhece os mecanismos de ação das drogas antivirais e as opções terapêuticas disponíveis para o tratamento de diversas infecções causadas por vírus, vamos entender o processo pelo qual todas essas drogas tiveram que passar desde a identificação de suas propriedades antivirais até a aprovação para seu uso na prática clínica. Fonte: PopTika/Shutterstock De maneira geral, o potencial antiviral de um determinado composto é primeiramente identificado em cultura de células. Em seguida, inicia-se uma sequência de etapas bem caracterizadas e regulamentadas que chamamos de validação pré-clínica, que consiste na avaliação do efeito desse novo antiviral em modelos animais. VOCÊ SABIA Quando os resultados são satisfatórios, inicia-se então a etapa de ensaios clínicos, que avalia o efeito desse novo medicamento em humanos antes da sua aprovação para uso em larga escala nos pacientes infectados. Tanto os ensaios pré-clínicos quanto os ensaios clínicos são essenciais para garantir a avaliação da segurança e eficácia de um novo medicamento. As principais características dessas etapas serão abordadas em seguida. Figura 5. Estudos pré-clínicos e clínicos para novas moléculas antivirais. SAIBA MAIS javascript:void(0) SAIBA MAIS A figura 5 mostra as etapas do desenvolvimento de um novo fármaco antiviral, que se inicia na identificação de possíveis moléculas com atividade antiviral, seguido de testes pré-clínicos que envolvem ensaios em culturas de células primárias e em modelos de animais de laboratório, até os ensaios clínicos e a fase de monitoramento pós-clínico que envolvem seres humanos. Os estudos pré-clínicos têm como objetivo principal a avaliação dos efeitos adversos e de riscos potenciais para o ser humano, correspondendo à realização de testes toxicológicos, farmacológicos e farmacocinéticos em modelos in vitro e in vivo. ATENÇÃO Esses estudos são requeridos pelas agências reguladoras e, no Brasil, cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) essa responsabilidade. Os ensaios toxicológicos pré-clínicos incluem estudos de: Toxicidade de dose única (aguda); TToxicidade de doses repetidas; TToxicidade reprodutiva; TGenotoxicidade; TTolerância local; TCarcinogenicidade. Além de estudos de interesse na avaliação da segurança farmacológica e toxicocinética (Administração, Distribuição, Metabolismo e Excreção – ADME). SAIBA MAIS javascript:void(0) SAIBA MAIS Esse conjunto de ensaios tem por objetivo avaliar os efeitos tóxicos e sua reversibilidade, além da relação dose-resposta, a fim de determinar a dose inicial a ser administrada, o intervalo terapêutico e os potenciais efeitos adversos que poderão ocorrer durante os ensaios clínicos. A escolha do modelo animal para os ensaios toxicológicos depende do tipo de medicamento a ser analisado e sua futura aplicação clínica. Espécies como camundongos, ratos, coelhos, porcos, macacos e até mesmo cães da raça Beagle podem ser utilizados nessa etapa, sempre se levando em consideração as vantagens e desvantagens do uso de cada espécie para a avaliação de diferentes compostos. É importante ressaltar que, nos últimos anos, há um consenso na comunidade científica da importância de reduzirmos o uso de animais para esses fins, substituindo-os por testes in vitro sempre que possível, mas sem comprometer a segurança no uso das novas moléculas nos ensaios clínicos. Quando os ensaios pré-clínicos sobre uma nova molécula são concluídos de maneira satisfatória, inicia-se então a etapa dos ensaios clínicos. Os ensaios clínicos compreendem uma sequência de quatro fases com diferentes objetivos, a fim de avaliar os dados farmacodinâmicos e farmacocinéticos (absorção, distribuição, metabolização e excreção) no organismo humano; a eficácia do novo medicamento para profilaxia, tratamento ou diagnóstico; o perfil de reações adversas e o intervalo de segurança. Vejamos mais detalhes dessas fases a seguir. FASE I Um ensaio clínico de Fase I geralmente é realizado em indivíduos saudáveis, ou seja, que não têm a doença para a qual o medicamento está sendo desenvolvido. Nessa etapa, são avaliadas diferentes doses e vias de administração, a fim de avaliar a segurança do uso do novo medicamento. Cerca de 30 a 100 indivíduos participam dessa fase. Se necessário, a Fase I pode ser precedida por uma Fase 0, que envolve um número ainda menor de indivíduos saudáveis (10 a 12). FASE II Durante a Fase II, avalia-se o efeito do medicamento em cerca de 100 a 300 indivíduos que têm a doença para a qual está sendo desenvolvido, com o objetivo de avaliar a segurança de seu uso nos pacientes e de demonstrar a eficácia dessa nova droga. FASE III Quando um medicamento chega aos estudos de Fase III, significa que ele será testado em milhares de pacientes por meio de grandesestudos multicêntricos, muitas vezes realizados em diferentes países. É uma etapa extremamente importante, pois a nova molécula será comparada a um grupo placebo ou a outros tratamentos já existentes, comprovando a sua eficácia. Os testes de Fase III devem fornecer todas as informações necessárias para a aprovação desse medicamento para fins comerciais e o registro junto às autoridades sanitárias responsáveis. FASE IV Após a sua aprovação e liberação no mercado, o monitoramento dos efeitos desse medicamento na população geral permite aumentar o conhecimento sobre a sua segurança e eficácia. Essa etapa de farmacovigilância corresponde à Fase IV. Quadro 3: Glossário de termos técnicos aplicados aos ensaios clínicos Termo Definição Alocação Distribuição dos indivíduos em braços (grupos). Pode ser randomizada ou não randomizada. Braço Grupo no qual o participante foi incluído. Efeito adverso Mudança no estado do participante, incluindo alterações nos parâmetros clínicos. Pode ser leve, moderado ou severo. Ensaio cego Os indivíduos não têm a informação sobre o grupo no qual foram alocados. Ensaio duplo- cego Nem os médicos nem os indivíduos têm a informação sobre o grupo. Um ensaio randomizado duplo-cego é considerado o mais acurado. Intervenção ou tratamento Intervenções incluem drogas, procedimentos, vacinas, e outros produtos para avaliação da eficácia. Placebo Substância inativa que é administrada da mesma maneira que o tratamento a ser testado. Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) Documento que explica, em linguagem clara e objetiva, todos os procedimentos, vantagens e desvantagens de ser um sujeito de pesquisa em um ensaio clínico. É o primeiro passo no estabelecimento de um protocolo clínico. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Para saber mais sobre os mecanismos antivirais para infecções do vírus HIV e do Influenza, assista ao vídeo a seguir. MECANISMOS ANTIVIRAIS PARA INFECÇÕES DO VÍRUS HIV E VÍRUS INFLUENZA VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS ANTIVIRAIS SÃO CLASSIFICADOS DE ACORDO COM SUA FORMA DE AÇÃO. NESSE CONTEXTO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) Inibidores não nucleosídicos também inibem a enzima transcriptase se incorporando a cadeia de DNA do vírus, como o Efavirenz. B) Imunomoduladores: Os fármacos dessa classe ativam cascatas de sinalização que levam à produção de proteínas antivirais, dentre essas o interferon que impede a multiplicação viral. C) Inibidores da liberação e desmontagem viral: Impedem a neuraminidase do vírus da influenza, fazendo com que os vírions recém-sintetizados permaneçam fixados à célula hospedeira. D) Inibidores da fusão do HIV impedem a enzima transcriptase se incorporando à cadeia de DNA do vírus. 2. A PESQUISA E O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS ANTIVIRAIS ENVOLVE DIVERSAS ETAPAS, QUE INCLUEM A IDENTIFICAÇÃO DE NOVAS MOLÉCULAS, OS ENSAIOS PRÉ-CLÍNICOS, OS ENSAIOS CLÍNICOS, A AUTORIZAÇÃO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS PARA INTRODUÇÃO NO MERCADO E A FARMACOVIGILÂNCIA. SOBRE OS ESTUDOS PRÉ-CLÍNICOS, MARQUE A ALTERNATIVA INCORRETA. A) Estudos pré-clínicos são realizados para avaliar potenciais efeitos adversos e riscos para o ser humano. B) O modelo animal a ser utilizado nos estudos pré-clínicos não impacta a interpretação dos resultados de toxicidade, já que o importante é testar o efeito dos antivirais em qualquer sistema vivo antes de passar aos testes em humanos. C) Os ensaios toxicológicos pré-clínicos incluem estudos para avaliação de toxicidade geral (por dose única e repetida), genotoxicidade, carcinogenicidade, imunotoxicidade e toxicidade sobre a função reprodutora das potenciais moléculas antivirais. D) Estudos farmacológicos, farmacocinéticos e toxicológicos são etapas fundamentais nos estudos pré-clínicos. GABARITO 1. Os antivirais são classificados de acordo com sua forma de ação. Nesse contexto, assinale a alternativa INCORRETA: A alternativa "D " está correta. Os inibidores de fusão do HIV impedem a fusão da membrana viral com a membrana da célula hospedeira. 2. A pesquisa e o desenvolvimento de novos antivirais envolve diversas etapas, que incluem a identificação de novas moléculas, os ensaios pré-clínicos, os ensaios clínicos, a autorização das agências reguladoras para introdução no mercado e a farmacovigilância. Sobre os estudos pré-clínicos, marque a alternativa incorreta. A alternativa "B " está correta. A escolha dos modelos animais utilizados nos estudos pré-clínicos é de caráter fundamental para a interpretação dos resultados, já que as características fisiológicas dos animais devem ser comparáveis às dos humanos. Além disso, é preconizado o uso de no mínimo duas espécies distintas de mamíferos, e a via de administração do novo fármaco antiviral também deve ser levada em consideração antes da realização dos ensaios. MÓDULO 3 Distinguir as metodologias empregadas durante o desenvolvimento de uma vacina antiviral VACINAS ANTIVIRAIS Acabamos de discutir sobre os mecanismos de ação dos antivirais e todo seu processo, desde o seu desenvolvimento em laboratório até sua aprovação clínica. Esse tipo de tratamento é curativo, uma vez que os indivíduos necessitam estar infectados para que a utilização do antiviral seja prescrita (ou o antiviral é usado em casos específicos, em indivíduos não infectados, como mencionamos na PEP e PrEP). Fonte: Mongkolchon Akesin/Shutterstock A vacinação, por sua vez, é a maneira mais eficiente para o controle, prevenção e erradicação de infecções virais. Se olharmos para as maiores inovações médicas nos últimos 100 anos no que diz respeito à prevenção e ao tratamento de doenças, podemos considerar a vacinação como uma poderosa ferramenta para evitar novas infecções e mortes por doenças infecciosas. Como benefícios associados a vacinas, temos a redução da mortalidade infantil, melhoria das condições de saúde e bem-estar comum, além de ser uma economia para a sociedade por meio da diminuição do número de consultas médicas e internações hospitalares. Fonte: ShadeDesign/Shutterstock CONSIDERAÇÕES GERAIS O conceito de vacinação consiste na inoculação do próprio agente viral no organismo visando induzir uma resposta imunológica protetora. peterschreiber.media/Shutterstock Em outras palavras, podemos dizer que, quando um vírus modificado (atenuado, morto ou fragmento) é inoculado, o sistema imunológico do indivíduo irá reconhecer seus antígenos e desenvolver uma resposta de memória protetora. Essa resposta torna o organismo capaz de reagir de maneira rápida e eficaz quando for exposto ao verdadeiro vírus, prevenindo assim que ocorra a infecção e o desenvolvimento da doença. PhotobyTawat/Shutterstock A resposta imune induzida pela vacinação se baseia, principalmente, na indução de linfócitos T e B de memória. Os linfócitos T são responsáveis pela imunidade celular e vão atuar na produção de citocinas e eliminação de células infectadas. Os linfócitos B são responsáveis pela produção de anticorpos neutralizantes. Esses anticorpos especiais são capazes de se ligar ao vírus de tal modo que o envolva completamente, impedindo-o de infectar novas células do hospedeiro e sinalizando ao sistema imune que o destrua. Esse processo, chamado opsonização viral, é muito eficiente para induzir a fagocitose do vírus por outras células do sistema imune. As células de memória induzidas pela vacinação permanecem no organismo por um longo período, muitas vezes durante toda a vida do indivíduo. Janon Stock/Shutterstock Durante o processo de desenvolvimento de uma vacina, são identificadas as proteínas virais com maior capacidade de induzir a produção de anticorpos. A partir desse estudo, chegamos ao conceito de antígeno imunodominante (molécula imunogênica), capaz de induzir a produção de anticorpos e/ou de levar à ativação de linfócitos para eliminação viral. Os antígenos imunodominantes são as proteínas mais expostas na superfície viral, uma vez que
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