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Seção 6 
SUA PETIÇÃO 
DIREITO 
PENAL 
 
 
 
 
Estimados alunos e alunas, mesmo com o recurso em sentido estrito impetrado, o Tribunal de Justiça manteve 
a pronúncia do Juiz nos seus exatos termos, enviando-se o feito para julgamento pelo Tribunal do Júri. 
No dia do julgamento, foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, bem como feito o interrogatório 
do acusado, passando-se, em seguida, a palavra ao Ministério Público para iniciar os debates orais. Após, foi 
dada a palavra à Defesa, bem como o Ministério Público fez a réplica e, no final, foi feita a réplica. O Conselho 
de Sentença reuniu-se em sala secreta e proferiu o seguinte veredicto: quanto à materialidade, entenderam 
que ela existiu, posto que o exame de corpo de delito apontou para a morte das vítimas; quanto à autoria, 
entenderam que sim, pois o autor foi quem conduziu o veículo automotor e atropelou as vítimas; quanto ao 
quesito da absolvição, entenderam que não existia tese que pudesse absolvê-lo; quanto às qualificadoras, 
votaram pela exclusão de todas elas. Assim, o Magistrado proferiu sentença condenatória no crime de 
homicídio simples, previsto no artigo 121, caput, CP. O Ministério Público tomou ciência da decisão e não 
manifestou desejo em recorrer. Após, o Juiz determinou vista para a Defesa requerer o que de direito. 
 
Dessa forma, o processo está com vista para você apresentar a peça cabível nesse momento processual, de 
forma a combater a decisão condenatória proferida pelos Jurados, sendo que a intimação ocorrera em 
19/10/21, considere o último dia para a interposição. 
 
Fundamentando! 
 
Da Apelação 
 
Conforme já se viu anteriormente, o princípio do duplo grau de jurisdição deve ser observado em todos os 
procedimentos e processos, nos termos seguintes: 
 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 
 
 
Sua causa! 
 
 
Em que pese seja uma decisão eivada pelo princípio constitucional da soberania dos veredictos, merece uma 
análise pelo Tribunal de Justiça quando houver algum ponto que contrarie as provas existentes nos autos, de 
forma que a indignação possa ser combatida. Nesse sentido, tem-se o Código de Processo Penal: 
 
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
 
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; 
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos 
não previstos no Capítulo anterior; 
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; 
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; 
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; 
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 
§ 1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas 
dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. 
§ 2o Interposta a apelação com fundamento no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se lhe 
der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. 
§ 3o Se a apelação se fundar no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que 
a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento 
para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda 
apelação. 
 
Nesse sentido, a apelação é o mecanismo cabível para questionar a decisão prolatada pelos jurados, 
lembrando que o Tribunal de Justiça não poderá reformar a decisão dos Jurados prolatando outra no lugar, 
mas apenas cassar a decisão e mandar o acusado a novo julgamento, tendo em vista a soberania dos 
veredictos prevista em preceito constitucional, in verbis: 
 
Art. 5º, CF: XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, 
assegurados: 
a) a plenitude de defesa; 
b) o sigilo das votações; 
c) a soberania dos veredictos; 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; 
 
Conforme ensina Renato Brasileiro, acerca da apelação, in verbis: 
 
 
“Funciona como eficaz instrumento processual para a concretização do princípio do duplo 
grau de jurisdição, visto que, em face do extenso âmbito cognitivo do julgado recorrido, 
permite que o juízo ad quem reaprecie questões de fato e de direito”. (BRASILEIRO, 2020. p. 
1816) 
 
Além disso, a apelação pode ser plena ou parcial, conforme se recorra de todo o julgado ou apenas de parte 
dele, na forma explicitamente demonstrada no artigo 599 do CPP, nesses termos: 
 
Art. 599. As apelações poderão ser interpostas quer em relação a todo o julgado, quer em 
relação a parte dele. 
 
Caso se a parte recorrente queira impugnar apenas parte do julgado, essa opção pode ser feita, sendo que o 
efeito devolutivo daquilo que será analisado pelo juízo ad quem será exatamente o que for fundamentado 
nessa peça recursal. 
 
Além do efeito acima assinalado, importante destacar que o recurso em epígrafe suspende o julgamento do 
fato questionado, eis que se opera o efeito chamado de suspensivo, na forma do artigo 597, CPP, nesses 
termos: 
 
Art. 597. A apelação de sentença condenatória terá efeito suspensivo, salvo o disposto no 
art. 393, a aplicação provisória de interdições de direitos e de medidas de segurança (arts. 
374 e 378), e o caso de suspensão condicional de pena. 
 
Dessa forma, enquanto o processo estiver no Tribunal para fins de julgamento da irresignação da parte quanto 
à decisão proferida pelos Jurados, não há que se falar em antecipação da pena, que deverá aguardar a decisão 
dos Desembargadores. 
No julgamento feito pelo juízo ad quem, serão reanalisadas todas as provas que o Tribunal do Júri apreciou de 
forma a constatar se a decisão foi ou não manifestamente contrária à prova dos autos. 
Nesse ponto em especial, os deve ser relembrado que o crime doloso é diferente do crime culposo, devendo 
a desclassificação ocorrer quando não ficar clara a presença da vontade tendente e consciente de praticar o 
homicídio previsto no Código Penal. 
Quanto ao conceito de dolo, importante ressaltar que para a submissão de alguém ao Tribunal do Júri deve 
ficar bem claro o que vem a ser o dolo direto e o dolo eventual. O Código Penal traz tais conceitos no seu 
artigo 18, in verbis: 
 
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18
 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
 
Na primeira parte do inciso I, tem-se a figura do dolo direto, em que o agente quer o resultado danoso, como 
no caso do homicídio esse seria a morte da vítima. Já na segunda parte, sobressai a figura do dolo eventual, 
quando o agente assume o risco de causar o resultado morte, em se tratando de homicídio. Todavia, nessa 
última figura, o agente não quer realizar diretamente a morte, mas, se ela ocorrer, isso é indiferente para ele, 
anuindo-se com essa possibilidade. 
Não se deve confundir a figura do dolo eventual com outra limítrofe existente no Direito Penal que é a culpa 
consciente. Essa ocorre quando o agente prevê o resultado como possível, mas não quer que ele ocorra, sendo 
que confia plenamente que sua conduta não ensejará tal situação mais danosa. 
No crime de homicídio, o resultado causado pelo dolo eventual ou pela culpa consciente é o mesmo, qual seja, 
a morte, mas a conduta do primeiro é de assumir o risco de sua ocorrência, enquanto no segundo essa 
possibilidade é prevista pelo agente, mas ele acredita sinceramente que não ocorra. 
A fundamentação do tipo penalculposo está, outrossim, no Código Penal, na forma do artigo 18, II, dessa 
forma: 
 
Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou 
imperícia. 
 
O crime culposo não é julgado pelo Tribunal do Júri, daí a importância de diferenciá-lo do crime doloso 
eventual, a fim de demonstrar-se que os jurados somente irão decidir acerca dos crimes dolosos contra a vida. 
Nessa forma de pensar, a doutrina elenca pontos de divergência entre o dolo eventual e a culpa consciente, 
de forma a tornar mais clara a competência do Tribunal do Júri. Por todos, tem-se o escólio de Rogério Greco, 
in verbis: 
 
“Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua 
não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo assumido pelo agente. Já no 
dolo eventual, embora o agente não queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a 
produzi-lo. Na culpa consciente, o agente, sinceramente, acredita que pode evitar o 
resultado; no dolo eventual, o agente não quer diretamente produzir o resultado, mas, se 
este vier a acontecer, pouco importa” (GRECO, 2018, p. 313). 
 
No caso dos crimes de trânsito, essa distinção entre dolo eventual e culpa consciente ainda é mais importante 
para fins de enquadramento penal, eis que o tipo penal doloso se encontra no Código Penal, artigo 121, sendo 
que o tipo penal culposo de homicídio no trânsito, de outra feita, repousa-se no Código de Trânsito Brasileiro 
(Lei n. 9.503/97), em seu tipo penal culposo a seguir transcrito: 
 
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18
 
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão 
ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
§ 1o (OMISSIS) 
§ 2 (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) 
§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra 
substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) 
(Vigência) 
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a 
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
 
Ora, a pena do crime culposo, além de ser menor que aquela descrita no Código Penal (12 a 30 anos), é passível 
de regime de cumprimento de pena mais favorável, bem como benefícios penais mais relevantes, daí a 
importância de saber quando enquadrar o agente na figura culposa, e não na famigerada do chamado dolo 
eventual. Nessa mesma linha de pensamento sobre o dolo eventual previsto no Código Penal e a figura da 
culpa consciente, tem-se a importante lição do doutrinador já citado Rogério Greco sobre a influência da mídia 
para enquadrar o agente no tipo penal mais grave pelo fato de estar embriagado e dirigindo em velocidade 
excessiva, nesses termos: 
 
“Muito se tem discutido ultimamente quanto aos chamados delitos de trânsito. Os jornais, 
quase que diariamente, nos dão notícias de motoristas que, além de embriagados, dirigem 
em velocidade excessiva e, em virtude disso, produzem resultados lastimáveis. Em geral, ou 
causam a morte ou deixam sequelas gravíssimas em suas vítimas. Em razão do elevado 
número de casos de delitos ocorridos no trânsito, surgiram, em vários Estados da Federação, 
associações com a finalidade de combater esse tipo de criminalidade. O movimento da mídia, 
exigindo punições mais rígidas, fez com que juízes e promotores passassem a enxergar o 
delito de trânsito cometido nessas circunstâncias, ou seja, quando houvesse a conjugação da 
velocidade excessiva com a embriaguez do motorista atropelador, como hipótese de dolo 
eventual, tudo por causa da frase contida na segunda parte do inciso I do art. 18 do Código 
Penal, que diz ser dolosa a conduta quando o agente assume o risco de produzir o resultado.” 
(GRECO, 2018, p. 314) 
 
Na mesma arquitetura de pensamento, de forma a demonstrar que o dolo eventual necessita de ser 
demonstrado no caso concreto, a jurisprudência acompanha o pensamento de que ele deve ser provado de 
forma clara, conforme julgados a seguir citados: 
 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO 
ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO NO TRÂNSITO. 
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E SOB EFEITO DE SUBSTÂNCIA TÓXICA. FUGA DO 
LOCAL DO ACIDENTE. OMISSÃO DE SOCORRO E CONDUÇÃO DE AUTOMÓVEL COM O 
DIREITO DE DIRIGIR SUSPENSO. DOLO EVENTUAL. PEDIDO DE 
DESCLASSIFICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DOLO EVENTUAL. INCOMPATIBILIDADE 
COM A TENTATIVA. POSSIBILIDADE. QUALIFICADORA. EXCLUSÃO. COMPETÊNCIA 
DO TRIBUNAL DO JÚRI. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13281.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13281.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13546.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13546.htm#art6
 
I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela 
Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no 
sentido de não admitir a impetração de habeas corpus em substituição 
ao recurso adequado, situação que implica o não-conhecimento da 
impetração, ressalvados casos excepcionais em que, configurada 
flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja 
possível a concessão da ordem de ofício. 
 
II - Não se pode generalizar a exclusão do dolo eventual em delitos 
praticados no trânsito. Na hipótese, em se tratando de pronúncia, a 
desclassificação da modalidade dolosa de homicídio para a culposa 
deve ser calcada em prova por demais sólida. No iudicium 
accusationis, inclusive, a eventual dúvida não favorece o acusado, 
incidindo, aí, a regra exposta na velha parêmia in dubio pro 
societate. 
 
III - O dolo eventual, na prática, não é extraído da mente do autor 
mas, isto sim, das circunstâncias. Nele, não se exige que o 
resultado seja aceito como tal, o que seria adequado ao dolo direto, 
mas isto sim, que a aceitação se mostre no plano do possível, 
provável. 
 
IV - Na hipótese, o paciente foi pronunciado por homicídio doloso 
(dolo eventual), uma vez que, conduzindo veículo automotor com 
velocidade excessiva, sob o efeito de álcool e substância 
entorpecente, não parou em cruzamento no qual não tinha preferência 
e atingiu a vítima, que andava de motocicleta, a qual só não veio a 
óbito por rápida e eficiente intervenção médica. 
 
V - “Consoantes reiterados pronunciamentos deste Tribunal de 
Uniformização Infraconstitucional, o deslinde da controvérsia sobre 
o elemento subjetivo do crime, especificamente, se o acusado atuou 
com dolo eventual ou culpa consciente, fica reservado ao Tribunal do 
Júri, juiz natural da causa, onde a defesa poderá desenvolver 
amplamente a tese contrária à imputação penal" (AgRg no REsp n. 
1.240.226/SE, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 
DJe de 26/10/2015). Precedentes do STF e do STJ. 
 
VI - As instâncias ordinárias, com amparo nas provas constantes dos 
autos, inferiram que há indícios suficientes de autoria e 
materialidade a fundamentar a r. decisão de pronúncia do ora 
paciente, por homicídio tentado com dolo eventual, de modo que 
entender em sentido contrário demandaria, impreterivelmente, cotejo 
minucioso de matéria fático-probatória, o que é vedado em sede de 
habeas corpus (precedentes). 
VII - Não é incompatível o crime de 
homicídio tentado com o dolo eventual, neste sentido é iterativa a 
jurisprudência desta Corte: "No que concerne à alegada 
incompatibilidade entre o dolo eventual e o crime tentado, tem-se 
 
que o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência no sentido 
de que "a tentativa é compatível com o delito de homicídio praticado 
com dolo eventual, na direção de veículo automotor". (AgRg no REsp 
1322788/SC, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma,julgado em 18/06/2015, DJe 03/08/2015). 
 
VIII - Esta Corte firmou orientação no sentido de que, ao se 
prolatar a decisão de pronúncia, as qualificadoras somente podem ser 
excluídas quando se revelarem manifestamente improcedentes. 
Habeas corpus não conhecido. (HC 503796 / RS, STJ). 
 
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DOLOSO (ART. 121, CAPUT, 
DO CÓDIGO PENAL). CRIME COMETIDO NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO 
AUTOMOTOR. DOLO EVENTUAL. PRETENDIDA DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO PREVISTO 
NO ART. 302 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. EXAME DO ELEMENTO VOLITIVO. 
INVIABILIDADE. 
1. Enquanto no dolo eventual o agente tolera a produção do resultado, tanto faz que 
ocorra ou não; na culpa consciente, ao contrário, o agente não assume o risco nem ele lhe 
é indiferente. Presente essa controvérsia a respeito do elemento subjetivo, na lição de 
NELSON HUNGRIA, não é possível pesquisá-lo no 'foro íntimo' do agente, tem-se de inferi-
lo das circunstâncias do fato externo. 
2. Os autos evidenciam, neste juízo sumário, que a imputação atribuída ao agravante não 
resultou da aplicação aleatória do dolo eventual. Indicou-se, com efeito, as circunstâncias 
especiais do caso, notadamente a embriaguez, o excesso de velocidade e a ultrapassagem de 
semáforo com sinal desfavorável em local movimentado, a indicar a anormalidade da ação, 
do que defluiu a aparente desconsideração, falta de respeito ou indiferença para com o 
resultado lesivo. 
3. O quadro de circunstâncias descrito não permite identificar qualquer vício apto a justificar, 
neste momento e nesta estreita via processual, a desclassificação da figura incriminadora. 
Caberá ao Tribunal do Júri auferir a existência do elemento subjetivo do tipo (dolo ou culpa), 
pois diretamente ligado ao contexto fático da prática delituosa. 
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (HC 160500 AgR. STF) 
 
Pelo que se percebe dos julgados acima, bem como doutrina relevante acima destacada, o dolo eventual deve 
ser claramente demonstrado no caso concreto, sob pena de não restar configurado no caso concreto, pois não 
há uma fórmula legal ou jurisprudencial a ponto de imputar o crime de homicídio doloso no trânsito. Trata-se, 
assim, de uma perquirição no caso concreto de elementos que possam traduzir na vontade de o agente 
assumir o risco de causar o resultado morte, não bastando elementos corriqueiros como velocidade excessiva 
e direção sob o efeito de álcool ou drogas. Essa famigerada fórmula não se sustenta, ainda mais que o sistema 
penal é pautado na ideia do in dubio pro reo. 
Dessa forma, deveria ter o Tribunal do Júri desclassificado o crime doloso para a forma culposa, o que motiva 
a peça recursal da apelação. 
Quanto aos prazos processuais penais, destaca-se que o Código de Processo Penal possui orientação no 
sentido de excluir-se o dia do início (intimação, por exemplo) e incluir o dia final, lembrando que prazos 
 
processuais penais não se iniciam em dias não úteis e também não se encerram nesses mesmos dias, na forma 
do disposto abaixo: 
 
Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se 
interrompendo por férias, domingo ou dia feriado. 
§ 1o Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. 
§ 2o A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém, 
considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia em 
que começou a correr. 
§ 3o O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia 
útil imediato. 
 
Assim, deve ser dada atenção à contagem dos prazos processuais, em que o início se dará em dia útil e o dia 
final também, servindo tal contagem, por exemplo, para os prazos recursais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para elaborarmos uma peça prático-profissional precisamos responder às seguintes indagações. 
 
A sistemática recursal é bem específica para cada tipo de recurso, 
devendo-se ter atenção especial para cada situação fática a 
desafiar a medida recursal mais adequada ao caso concreto. 
Ademais, cada recurso tem seus regramentos singulares, que 
devem ser conhecidos, sob pena de haver a perda da possibilidade 
de combater uma decisão contrária aos interesses do cliente. 
PONTO DE ATENÇÃO 
Vamos peticionar! 
 
1 – após a decisão dos Jurados, qual peça é cabível para combatê-la? Apelação, podendo ser manejado no 
prazo processual de 05 dias. 
2 – os Jurados julgaram conforme as provas dos autos? Se não, deve o aluno retomar tais pontos no recurso 
em epígrafe. 
3- o prazo legal foi obedecido? Deve existir uma atenção especial para impetrar a medida recursal cabível no 
prazo legal para tanto, observando-se a contagem processual prevista em lei. 
 
 
Respondidas essas perguntas poderemos começar a desenvolver a nossa peça. 
1 – Sempre importante fundamentar, inicialmente, com algum artigo da Constituição Federal, notadamente o 
artigo 5º. 
2 – Após a utilização de um artigo da Constituição Federal é interessante que se utilize um ou mais artigos da 
legislação infraconstitucional e evidentemente explique o motivo da citação legal. 
3 – Precisamos utilizar também a doutrina, se possível mais de um doutrinador com o mesmo entendimento. 
A utilização de uma doutrina atual enriquece qualquer peça. 
4 – Não podemos deixar de utilizar uma jurisprudência atual acerca do assunto debatido. Deve-se preferir 
jurisprudência de Tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal. 
Atenção: Jurisprudência são decisões reiteradas dos Tribunais, decisões isoladas devem ser evitadas. 
5 – Se possível utilizar súmulas, vinculantes e/ou não vinculantes. 
A primeira coisa a se fazer em uma peça processual é o endereçamento, ou seja, precisamos saber de quem é 
a competência para analisar aquele fato. Por esse motivo, antes de ajuizar uma ação ou apresentar qualquer 
peça processual é necessário que o aluno conheça as regras de competência. As questões da OAB sempre 
demonstram onde se deu o fato, o que fica claro de atestar a competência. 
Após o endereçamento precisamos realizar um preâmbulo, nele colocaremos todos os dados das partes. 
Nunca se deve inventar dados nas peças práticas da OAB, pois isso identifica a sua prova, o que irá 
desclassifica-lo. 
Após o preâmbulo iniciaremos os fatos, que nada mais são que a história contada pelo examinador. 
 
Após a narrativa dos fatos iniciaremos os fundamentos jurídicos. É nesse ponto que você demonstra seu 
conhecimento. Portanto, faça com muita atenção e demonstre para o seu examinador que você conhece do 
assunto. 
Após a fundamentação é hora de fazer os pedidos. Cuidado! Você só pode pedir o que fundamentou. 
Essas são as chamadas dicas de ouro e tenho certeza de que com esse roteiro mental será fácil compreender 
e colocar em prática todos os seus poderes para uma escorreita peça prático-profissional. Vamos peticionar?

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