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Humanidades Reflexões Contemporâneas Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dra. Ana Barbara Aparecida Pederiva Revisão Textual: Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin Envelhecimento: Geração e Gênero Envelhecimento: Geração e Gênero • Conhecer as teorias e os conceitos sobre gênero e geração e suas relações com o envelhecimento. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Introdução. UNIDADE Envelhecimento: Geração e Gênero Contextualização Envelhecer é uma arte Adoniran Barbosa (1976) Velho amigo não chore Pra que chorar Por alguém te chamar de velho Não dê bola, não esquente a cachola Quando alguém lhe chamar de velho Sorria cantando assim Sou velho e sou feliz Mais velho é quem me diz Comigo também acontece Gente que nem me conhece Gente que nunca me viu Quando passa por mim – Alô velho! Alô tio! Eu não perco a estribeira Levo na brincadeira Saber envelhecer é uma arte Isso eu sei, modéstia à parte Envelhecer é uma arte? Estamos preparados para o processo de envelhecimento? Como as Sociedades tratam as pessoas mais velhas de diferentes gêneros e gerações é o que vamos estudar nessa unidade. 8 9 Introdução Existem diferentes concepções sobre as categorias de análise gênero e geração. O sociólogo Karl Mannheim, ao falar de geração, resolve várias questões levantadas por muitos pesquisadores, ou seja, quando refletimos sobre geração, podemos pensar em pessoas que se aproximam, não pela idade (faixa etária), mas sim por similaridades de situações nos mesmos tempos históricos, isto é, por compartilhar experiências. Margullis e Urresti quando falam sobre geração, destacam que ela é portadora de uma sensibilidade distinta, de diferentes recordações, é expressão de uma experiência histórica. Portanto, a geração remete à história. Uma determinada geração vivencia um momento social, define as características do processo de socialização e incorpora os chamados “códigos culturais” de uma deter- minada época. Ser integrante de uma geração significa ter nascido e crescido em um determinado período histórico, com particularidades políticas, econômicas, culturais, sensibilidades e, também, conflitos. Figura 1 Fonte: Reprodução Figura 2 Fonte: Reprodução Devemos pensar que existem diferentes pessoas em uma geração, com características universais, mas também, que possuem singularidades. 9 UNIDADE Envelhecimento: Geração e Gênero Nessa perspectiva, outra categoria que incide quando analisamos as gerações é gênero, pois o corpo e a cultura apresentam temporalidades diferentes para homens e mulheres. Os sujeitos, homens e mulheres, experimentam seu processo de envelhecimento segundo o Setor Social a que pertencem e são membros de uma geração e, como tais, são filhos do seu tempo. Também ocupam lugares culturalmente pautados na família e em outras Instituições. As condições socioeconômicas, de classe social, culturais e históricas influem na relação entre geração e gênero, pois transformam experiências e desejos de homens e mulheres. Você Sabia? Segundo Williams, a palavra classe: [...] adquire seu sentido moderno mais importante por volta de 1772. Antes, a palavra era usada comumente em escolas e universidades para referir-se a uma divisão ou grupo: As classes de lógica e de filosofia. Somente ao fim do século dezoito, começa a estabelecer-se a moderna estrutura de classe, em seu sentido social. Aparece, pri- meiramente, a expressão classes inferiores, que se liga a ordens inferiores, surgida anteriormente, no século dezoito. Na última década do século dezoito, encontramos classes altas; logo depois, classe média e classes intermediárias; classe trabalhadora surge aproximadamente em 1815; classes superiores por volta de 1820. Preconceito de classe, legislação de classe, consciência de classe, conflito de classe e guerra de classe surgem no decorrer do século dezenove. Da alta classe média ouve-se falar, pela primeira vez, na última década do século dezenove; e da baixa classe média falava-se neste século.”. Ainda segundo Williams, uma classe social de modo algum é culturalmente monolítica, pois os grupos sociais dentro de uma classe podem ter filia ções culturais alternativas, recebidas ou desenvolvidas, que não são característi- cas da classe como um todo. (WILLIAMS, 1969, p. 17; WILLIAMS, 1992) As formas de ser homem e mulher devem ser analisadas sob a ótica contextual de espa ço e de tempo em que se manifestam, definindo-se, portanto, como construções sociais e histó- ricas particulares de sujeitos femininos e masculinos, que se fazem de acordo com diferentes modelos, ideais, imagens, frutos de diferentes classes, religiões, etnias e culturas. Figura 3 Fonte: Reprodução 10 11 100 anos de moda. Disponível em: https://bit.ly/3kr27h0 Figura 4 Fonte: Reprodução A construção social dos sexos dá-se atingindo a reprodução do sujeito particular. A construção do gênero, portanto, está imbricada no processo de socialização, formação e educação, tornando-se implícita a sua discussão, desde que se queiram compreender os processos sociais de formação das identidades masculina e feminina. Gênero não é sexo, uma condição natural, e sim a representação de cada indivíduo em termos de uma relação social preexistente ao próprio indiví- duo e predicada sobre a oposição conceitual e rígida (estrutural) dos dois sexos biológicos. (LAURETIS, 1994, p. 211) Refletir sobre gênero é um meio de decodificar o sentido e de compreender as rela- ções complexas entre as diversas formas de relação humana, ou seja, gênero é pensado como uma categoria analítica, dentro da qual seres humanos pensam e organizam sua atividade social, e não uma consequência natural da diferença sexual. É uma variável social atribuída a pessoas, variando de cultura para cultura, isto é, o seu significado é dado de acordo com os quadros culturais e históricos (ROSO In: STREY, 2001). A identidade de gênero é relacional, mediada pela cultura e construída pelo processo de aproximação e distanciamento. Nesse sentido, por muitos anos, no Brasil, os estereótipos criados para homens e mulheres foram os seguintes: • Mulher: Mãe, procriadora, terna, altruísta, abnegada, afetiva, débil, dependente ; • Homem: Agressivo, ativo, egoísta, com iniciativa, provedor, econô- mico, forte , capaz de tomar grandes decisões, independente. (LOPES, 2001. p. 102) 11 UNIDADE Envelhecimento: Geração e Gênero Precisamos desconstruir esses estereótipos, perceber que, apesar devas pessoas terem uma história singular, nela se encontra aquilo que compartilham com os outros e que tornam cada biografia inteligível para os demais. Segundo Siqueira: A identidade de gênero pode ser compreendida dentro deste dinamismo como uma das facetas da identidade do sujeito. Em se tratando o gênero de uma categoria relacional e sócio-histórica, há que se considerar, por- tanto, a constituição da identidade de gênero como um percurso consti- tuinte e constituído na trajetória do sujeito interativo, a partir das inúmeras relações que este sujeito traça com os outros significativos que partilham mediata ou imediatamente sua experiência. (SIQUEIRA, 1998, p. 212-3) A constituição das identidades masculina e feminina é entendida como um complexo processo dialético em que as biografias individuais se entrecruzam com as pautas sociais historicamente construídas, em que o sujeito interativo imprime significações singulares às suas ações no mundo, ações essas inscritas em um cenário de alternâncias, confrontos e superações com os outros significativos que compõem o seu universo vivencial. Portanto, masculinidade e feminilidade constituem práticas múltiplas e mentalidades correspondentes, que assumem um caráter dinâmico e em constante transformação (SIQUEIRA, 1998, p. 226). Nesse sentido, devemos, segundo Matos: [...] Adotar uma perspectiva de gênero – relacional, posicional e situacional –, lembrando que gênero não se refere unicamente a homens e mulheres e que as associações homem-masculino e mulher-feminino nãosão óbvias, devendo-se considerar as percepções sobre masculino e feminino como dependentes e constitutivas às relações culturais, procurando não essen- cializar sentimentos, posturas e modos de ser e viver de ambos os sexos. (MATOS, 2001, p. 47-8) Mas, por que é importante estudar o processo de envelhecimento e qual a sua relação com gênero e geração? Você Sabia? A população brasileira manteve a tendência de envelhecimento dos últimos anos e ganhou 4,8 milhões de idosos desde 2012, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios. Disponível em: https://bit.ly/2TgGx3U Durante o processo de envelhecimento, os sujeitos, homens e mulheres, vivem dife- rentes estilos de vida, como uma categoria social, e não simplesmente uma classe social formada por indivíduos de uma mesma idade, ou seja, influenciados e influenciando o meio social, o contexto histórico e o campo em que estão inseridos. 12 13 Figura 5 Fonte: Getty Images Figura 6 Fonte: Getty Images Figura 7 Fonte: Getty Images Figura 8 Fonte: Pixabay 13 UNIDADE Envelhecimento: Geração e Gênero Vários estudos apontam que, em 2025, o número de idosos será superior a 30 milhões e que o Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde, será o 6º país em número de idosos: [...] e a velhice tanto poderá ser acompanhada por altos níveis de doenças crônicas quanto por saúde e bem-estar (DEBERT, 1999; LIMA, 2003; LIMA, SILVA; GALHARDONI, 2008). De acordo com Neri e Guariento (2011), é importante melhorar as condições socioeconômicas, principal- mente nos países emergentes, como o Brasil, para possibilitar uma boa qualidade de vida aos idosos em sua velhice. No Brasil, assim como em diversos países em desenvolvimento, o aumento da população idosa vem ocorrendo de forma muito rápida e progressiva, sem a correspondente modificação nas condições de vida (CERVATO; DERNTL; LATORRE; MARUCCI, 2005). O aumento da população idosa brasileira será de 15 vezes, aproximadamente, entre 1950 e 2025, enquanto o da popula- ção como um todo será de não mais que cinco vezes no mesmo período. Tal aumento colocará o Brasil, em 2025, como a sexta população de idosos do mundo, em números absolutos (KALACHE; VERAS; RAMOS, 1987). Nas últimas décadas, esse fato tem aumentado a consciência de que está em curso um processo de envelhecimento. (NERI, 2007a) Leia o artigo “Envelhecimento e qualidade de vida: análise da produção científica da SciELO”. Disponível em: https://bit.ly/3ehCrzN O envelhecimento ocorre como um processo sociovital que ocorre durante a vida. Quando falamos em velhice, estamos nos referindo ao chamado estado de ser velho, que é resultado do processo de envelhecimento das gerações. Portanto envelhecer é um evento que ocorre de forma progressiva e é uma condição heterogênea, isto é, se modifica de acordo com os sujeitos, seu gênero, sua classe social, entre outros fatores. Figura 9 Fonte: Adaptada de population.un.org 14 15 Ao mesmo tempo, devemos compreender que o aumento dos anos de vida de uma pessoa precisa ser acompanhado pela melhoria ou manutenção da saúde e, também, por qualidade de vida: A etapa da vida caracterizada como velhice, com suas peculiaridades, só pode ser compreendida a partir da relação que se estabelece entre os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Essa interação institui-se de acordo com as condições da cultura na qual o indi- víduo está inserido. Condições históricas, políticas, econômicas, geográ- ficas e culturais produzem diferentes representações sociais da velhice e também do idoso. Há uma correspondência entre a concepção de velhice presente em uma sociedade e as atitudes frente às pessoas que estão en- velhecendo. (SCHNEIDER; IRIGARAY , 2008) Se o processo de envelhecimento é individual, isto é, diferente para cada pessoa, por que, desde o Século XIX, a velhice começou a ser tratada como uma etapa da vida caracterizada pela decadência física e ausência de papéis sociais? Porque para alguns pesquisadores, com o avanço da idade, ocorreriam os processos de dependência e de perdas significativas e, infelizmente, essas conclusões levaram a construção de uma imagem negativa associada à velhice. Será que para todas as Sociedades essa construção se perpetuou? Sabemos que não, pois, para muitas culturas orientais, por exemplo, a velhice é vista com imagens positivas: Na China e no Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria e respeito. O fenô- meno envelhecer é natural e inerente a toda espécie e tem sido preocupa- ção da chamada civilização contemporânea. Os idosos são tratados com respeito e atenção pela vasta experiência acumulada em seus anos de vida. A família é o Porto Seguro do idoso. Os familiares mais jovens declaram com orgulho os sacrifícios realizados pelos seus idosos em benefício da fa- mília, como a iniciação ao trabalho muito cedo com pouca instrução para o sustento e estudo dos filhos, demonstrando sempre alegria, festa e plenitude pela presença do idoso. A cultura dessas sociedades tem como tradição cuidar bem, glorificar e reverenciar seus idosos, resultado de uma educa- ção milenar de dignidade e respeito. Os japoneses consultam seus anciãos antes de qualquer grande decisão, por considerarem seus conselhos sábios e experientes. Em outros grupos das sociedades antigas, o ancião sempre ocupava uma posição digna e era sinônimo de forte aspiração perante to- dos. Os idosos têm intensa atuação nas decisões importantes de seus grupos sociais, especialmente nos destinos políticos. Na antiga China, o filósofo Confúcio (que viveu entre os anos 551 -479 a.C) já apregoava que as fa- mílias deveriam obedecer e respeitar ao individuo mais idoso. Na tradição japonesa é festejado de forma solene o aniversário do idoso. No Japão, o Dia do Respeito ao Idoso (Keiro no hi) é comemorado desde 1947, na ter- ceira segunda-feira de setembro, mas foi decretado como feriado nacional apenas em 1966. Trata-se de um feriado dedicado aos idosos, quando os japoneses oram pela longevidade dos mais velhos e os agradecem pelas contribuições feitas à sociedade ao longo de suas vidas. (MASC, 2013) 15 UNIDADE Envelhecimento: Geração e Gênero Figura 10 Fonte: clubotaku.org Para que isso ocorra, no Brasil, as pessoas mais velhas precisam ter garantidos os seus direitos, atendidas as suas necessidades e, ainda, que sejam respeitadas as suas pre- ferências e habilidades, ou seja, precisam ser respaldadas por Políticas Públicas: [...] Resguardando o risco de soarmos simplistas, pode-se resumir política pública como o campo do conhecimento que busca ao mesmo tempo “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável indepen- dente) e, quando necessário, propor mudanças nos rumos ou cursos dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações para produção de resultados ou mudanças no mundo real. O discurso em torno das po- líticas públicas não está carente de respostas teóricas ou metodológicas, uma vez que o campo de estudo em questão comporta múltiplos olhares. Com isso, é possível perceber que a formulação de políticas públicas irá se converter em projetos, planos, programas que necessitam de acompanha- mento e análise constante, visto que, o desenho e execução das políticas públicas sofrem transformações que devem ser adequadas às compreen- sões científicas e sociais. Para transformarem em políticas públicas, pro- blemas públicos precisam encontrar o equilíbrio entre o que é tecnicamente eficiente e também o que é politicamente viável. (AGUM et al., 2015) Com o objetivo de produzir material informativo e suporte técnico à mobilização da Socie- dade para a promoção da saúde, a Secretaria de Vigilância em Saúde reproduziu o docu- mento “Envelhecimento Saudável – Uma Política deSaúde”, elaborado pela Unidade de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial de Saúde (OMS) como contribuição para a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre Envelhecimento, realizada em abril de 2002, em Madri, Espanha. Disponível em: https://bit.ly/3wIgxfx Infelizmente, o Mercado e os Meios de Comunicação acabam reforçando as constru- ções de velhice que vieram de séculos passados. Vamos ver alguns exemplos? 16 17 Figura 11 Fonte: Divulgação Criada pela agência Marketforce, a propaganda usa o Photoshop para misturar o corpo de uma mulher magra (e jovem) com a cabeça de uma idosa, estampando a legenda “Carne magra com uma parte superior crocante”, em referência às rugas. Devemos lembrar que: “[...] a produção e a reprodução dos corpos refletem ‘noções de verdades’ socialmente disseminadas por meio de discursos que contribuem para os indivíduos seguirem determinados padrões socialmente recomendados para lidar com os cuidados” (FOUCAULT, 1979 , 1985). Charge. Disponível em: https://bit.ly/3id0m4q Nas imagens anteriores, podemos verificar que ser velho significa não possuir habili- dades tecnológicas, ser “feio”, enrugado etc.: [...] o estigma social do idoso, aquele de que o tempo de vida ativa passou, de que se tornou um “moribundo” ( ELIAS, 2001), isolando-se da socieda- de e das pessoas, começa a sofrer modificações, por meio do discurso da abertura para novas possibilidades, no caso do mercado a representação de uma sociedade “eternamente jovem”, sendo o envelhecimento coisa do passado. A representação dada a esta abordagem diante daqueles que não querem ou não podem comprar esta nova aparência dada ao envelhecimento, pode ser alvo de preconceitos e de discriminações por apresentar corpos visivelmente envelhecidos. (BITENCOURT , 2015) Na Sociedade brasileira, a juventude é extremamente valorizada (a beleza, a disposição, a independência, a rebeldia etc.) e, infelizmente, o idoso é considerado descartável, a não ser que adote tais características. Mas e suas experiências e conhecimentos? Por que o preconceito ainda é tão forte? Várias são as explicações. Por exemplo, alguns acreditam que a interação com os ido- sos faz com que as pessoas pensem sobre o fim da vida, a morte. Outros acreditam que é por considerarem que os idosos não podem mais contribuir com a produção do capital. 17 UNIDADE Envelhecimento: Geração e Gênero Não importa qual a explicação, o que precisamos compreender é que os idosos ne- cessitam de respeito e respaldo, não são obsoletos. Você Sabia? Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participa- ção e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. Se quisermos que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participa- ção e segurança. A Organização Mundial da Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar o processo de conquista dessa visão. Disponível em: https://bit.ly/3wIgxfx Ao mesmo tempo, precisamos compreender que: [...] Dadas as diferentes dimensões de idade que compõem o processo de envelhecimento, pode-se desenvolver um perfil de idade compreensivo para qualquer indivíduo. Por exemplo, uma mulher de 70 anos pode ter uma boa saúde (idade biológica), mas ter problemas de atenção (idade psicológica). Essa mesma mulher pode se considerar uma excelente pro- fessora de línguas, mais do que uma avó. As medidas de idade cronoló- gica, biológica, psicológica e social são relevantes e importantes para a compreensão do processo de envelhecimento, mas não para a sua deter- minação, pois a velhice é apenas uma fase da vida, como todas as outras, e não existem marcadores do seu começo e do seu fim. (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008) Em nossa Constituição (1988), na Política Nacional do Idoso e no Estatuto do Idoso são destacados os direitos dos idosos, como devendo ser garantidos pela Sociedade, pela família e pelo Estado. Com o aumento da população idosa no Brasil, devemos estar preparados para o atendimento desses direitos, permitindo acesso à saúde, à moradia e à segurança, enfim, qualidade de vida. • Política Nacional do Idoso. Disponível em: https://bit.ly/3rcGJ0y • Estatuto do Idoso. Disponível em: https://bit.ly/3rdatdD O conceito de qualidade de vida é muito abrangente. Compreende não só a saúde física como o estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais em casa, na escola e no trabalho e até a sua relação com o meio ambiente. De facto, existem naturalmen- te outros fatores que a influenciam, mas comecemos por ver o que significa qualidade de vida, para a Organização Mundial de Saúde (OMS). O conceito de qualidade de vida está diretamente associado à autoestima e ao bem-estar pessoal e compreende vários aspec- tos, nomeadamente, a capacidade funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a inte ração social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o estado de 18 19 saúde, os valores culturais, éticos e religiosos, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente em que se vive. Para a OMS, a definição de qualidade de vida é a “a percepção que um indivíduo tem sobre a sua posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e valores nos quais está inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Trata-se de uma definição que contempla a influência da saúde física e psicológica, nível de independência, relações so- ciais, crenças pessoais e das suas relações com características inerentes ao respetivo meio na avaliação subjectiva da qualidade de vida individual. Nesse sentido, poderemos afirmar que a qualidade de vida é definida como a “satisfação do indivíduo no que diz respeito à sua vida quotidiana”. Não devemos confundir qualidade de vida com padrão de vida. Muitas pessoas têm uma errada noção de qualidade de vida, confundindo os termos. Padrão de vida é uma medida que calcula a qualidade e quantidade de bens e serviços disponíveis. Disponível em: https://bit.ly/36CfjaT Por fim, não podemos generalizar ou homogeneizar as experiências de homens e mulheres durante o processo de envelhecimento. Se por um lado alguns estão passivos e dependentes, outros são ativos, participantes das decisões e protagonistas de suas vidas. A pluralidade de experiências deve ser respeitada e repensada constantemente. 19 UNIDADE Envelhecimento: Geração e Gênero Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Envelhecer com Saúde e Qualidade de Vida https://bit.ly/3ieRNWJ Envelhecimento Bem-sucedido: Uma Meta no Curso da Vida https://bit.ly/3eF5zRR Homossexualidade e Envelhecimento e as Possíveis Vulnerabilidades https://bit.ly/3z17jwl Apresentação: A Atualidade do Conceito de Gerações na Pesquisa Sociológica https://bit.ly/3Bg17mf 20 21 Referências AGUM, R. et al. Políticas Públicas: Conceitos e Análise em Revisão. Disponível em: <https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/67>. Acesso em: 14/06/2021. BITENCOURT, S. M. Gênero e Envelhecimento: reflexões sobre o corpo que envelhe- ceu. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-969578>. Acesso em: 14/06/2021. DAWALIBI, N. W. et al. Envelhecimento e qualidade de vida: análise da produção científica da SciELo. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/estpsi/a/Ygw4N4DVy5D MVgLhGHLxydp/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 11/06/2021. FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. LAURETIS, T. A. Tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, H. B. (org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. LOPES, J. T. Mulher e família: a construção de uma nova forma de ser? In: STREY, M. N. (org.). Construções e perspectivas em gênero. São Leopoldo: Unisinos, 2001. MANNHEIM,K. O problema sociológico das gerações. In: FORACCHI, M. Mannheim. 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