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Montes Claros/MG - 2014
Ângela Cristina Borges
Letícia Aparecida F. Rocha
introdução às 
Ciências da Religião
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Maria Ivete Soares de Almeida
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Humberto Velloso Reis
EDITORA UNIMONTES
Conselho Editorial
Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes.
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.
Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.
Profª Maria Geralda Almeida. UFG.
Prof. Luis Jobim – UERJ.
Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.
Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha.
Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes.
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes.
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.
CONSELHO EDITORIAL
Ana Cristina Santos Peixoto
Ângela Cristina Borges
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Jânio Marques Dias
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Magda Lima de Oliveira
Sanzio Mendonça Henriiques
Wendell Brito Mineiro
Zilmar Santos Cardoso
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
maria das mercês Borem Correa machado
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner veloso Rocha
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Sandra Ramos de Oliveira
Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
Andréa Lafetá de melo Franco
Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Ângela Cristina Borges
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Antônio maurílio Alencar Feitosa
Chefe do Departamento de História/Unimontes
Francisco Oliveira Silva
Jânio marques dias
Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares
Cléa márcia Pereira Câmara
Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais
Helena murta moraes Souto
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
maria da Luz Alves Ferreira
Ministro da Educação
Aloizio mercadante Oliva
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
narcio Rodrigues da Silveira
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
maria ivete Soares de Almeida
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio marques dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
maria Ângela Lopes dumont macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia maria Araújo Passos
Autoras
Ângela Cristina Borges
Doutoranda em Ciências da Religião (PUC-SP).
Mestre em Ciências da Religião (PUC-SP).
Professora do curso de Ciências da Religião da Unimontes.
Tutora do Programa de Educação Tutorial em Ciências da Religião da Unimontes.
 
Letícia Aparecida F. Rocha
Pós-graduada em Neuropsicologia Educacional, pela Faculdade Santo Agostinho.
Graduada em Ciências da Religião pela Unimontes. 
Professora Formadora UAB-Unimontes.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A institucionalização da Ciência da Religião e seus fundamentos epistemológicos . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Religião como objeto da Ciência da Religião: reflexões preliminares . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 O caminho para a institucionalização da Ciência da Religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.4 A institucionalização da Ciência da Religião como disciplina acadêmica autônoma 18
1.5 Fundamentos epistemológicos das Ciências da Religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
1.6 O caráter multidisciplinar das Ciências da Religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
As Ciências da Religião no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Pressupostos para a institucionalização das Ciências da Religião no Brasil . . . . . . . . 25
2.3 O caminho para a institucionalização no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.4 A relação com a Teologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
2.5 Novos direcionamentos da Ciência da Religião no Brasil: a relação com o Ensino 
Religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
Religião: definição e classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.2 O que é Religião?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.3 A definição de Geertz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.4 Classificações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.5 Constituintes das Religiões . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
O campo religioso brasileiro: diversidade e pluralismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
4.2 O campo religioso brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
O potencial das Ciências da Religião de criticar ideologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
5.2 Surgimento e afirmação da Ciência da Religião. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.3 Espaços de criticar ideologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Referências básicas e complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Atividades de Aprendizagem- AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
9
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a), o material didático em questão vem preencher uma vasta lacuna nos 
atuais debates acerca do Ensino Religioso, bem como do papel da Ciência da Religião na forma-
ção do professor. Historicamente, o Ensino Religioso sempre esteve associado à instituições reli-
giosas, o que contribuiu para o seu vislumbramento como disciplina confessional e proselitista, 
aspectos que o estudo científico deseja retirar, eliminar desta disciplina.
As informações contidas neste texto justificam a Ciência da Religião como área do saber 
apta e legítima para a formação do futuro professor de Ensino Religioso. Para tanto, foram apre-
sentadas questões, a saber: institucionalização da Ciência da Religião, seus fundamentos episte-
mológicos, a Ciência da Religião no Brasil, a multidisciplinaridade da Ciência da Religião e o cam-
po religioso brasileiro.
A história da institucionalização desta área na Europa e no Brasil se desenha de forma tal 
que apresenta a área como válida e legítima não apenas no estudo do fenômeno religioso bra-
sileiro, mas também como parte essencial na formação do profissional de ensino religioso. Cor-
robora tal história a própria estrutura epistemológica da área – multidisciplinar -, que abarca o 
objeto concedendo de forma ampla conhecimentos sobre ele. A multidisciplinaridade desta área 
torna possível o estudo de campos religiosos na atualidade, em especial o brasileiro, marcado 
pelo pluralismo e pela diversidade religiosa.
Que o estudo deste texto possa ajudá-lo a compreender o universo da Ciência da religião, 
como área de conhecimento que possibilita um estudo científico do fenômeno religioso presen-
te em nossa sociedade brasileira, bem como a habilitação para o profissional de Ensino Religioso.
Bons estudos!
As autoras.
11
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
UnidAde 1
A institucionalização da Ciência 
da Religião e seus fundamentos 
epistemológicos
Ângela Cristina Borges
1.1 Introdução
A disciplina em questão, introdução às Ci-
ências da Religião, possui na própria nomen-
clatura uma problemática: a recente institucio-
nalização da Ciência da Religião como área de 
conhecimento, tema desta unidade. Ora, sendo 
o curso que você, caro acadêmico(a), propôs-se 
a fazer, como pode haver uma disciplina com o 
objetivo de “introduzi-lo” no curso? A primeira 
vista isso parece um disparate já que o curso é 
de Ciência da Religião e como um todo o torna-
rá ciente disso. No entanto, a disciplina merece 
atenção porque há necessidade de se esclare-
cer sobre o curso, uma vez que sua área é re-
cente no Brasil, além de levantar suspeitas, pois 
o seu objeto sempre foi visto no senso comum 
como algo que “não se discute”.
Encare esta disciplina como um anúncio 
do que está por vir, uma chamada para algo 
novo ou como uma preparação para as disci-
plinas posteriores. introdução às Ciências da 
Religião se coloca como uma imersão ou via-
gem desde o caminho percorrido pela área em 
busca de sua institucionalização até a postura 
que deve ter seu cientista diante do fenômeno 
religioso, bem como do professor de Ensino 
Religioso diante de sua turma de alunos.
1.2 Religião como objeto da 
Ciência da Religião: reflexões 
preliminares
É preciso ter claro que Religião também 
é uma forma de conhecimento, uma forma 
de avaliar, apreciar e julgar o mundo, de ter 
entendimento sobre ele. Em relação a uma 
definição sobre religião, suas classificações e 
constituintes, adiantamos que, neste caderno 
didático, mais à frente, há uma unidade que 
pretende tornar o mais claro possível este 
universo cultural, uma vez que é nosso obje-
to de reflexão.
Por ora, podemos dizer, inspirados por 
Cruz:
Como indica o antropólogo Benson Saler, após mais de um século de ingentes 
esforços em busca de definições substantivas ou funcionais, “não há critérios 
seguros, bem definidos e universalmente aceitos para diferenciar religião de 
não religião” (CRUZ, 2013, p.42).
No entanto, Cruz (2013, p.42) pontua que 
esse antropólogo defende que a definição do 
religioso pode passar por uma semelhança fa-
miliar o que indica a subsistência de um con-
ceito de religião, “ainda que flexível e cons-
ciente de seus próprios limites”.
Como veremos na unidade 3, há uma 
variedade de definições sobre religião. A 
12
UAB/Unimontes - 2º Período
priori, isso pode transmitir a ideia de impos-
sibilidade de se dedicar cientificamente a 
esse objeto. No entanto, veremos na unidade 
citada que é possível dizer e muito sobre re-
ligião, desde que sua abordagem se restrinja 
ao que é observável, ao que é passível de lin-
guagem e interpretação e, sobretudo, desde 
que considere os universos religiosos como 
universos culturais. É o que se propõe a Ciên-
cia da Religião.
Nesta área, o saber religião é objeto de 
conhecimento, não se reduzindo a uma forma 
de ser e de pensar motivado pelo emocional. 
O olhar científico sobre a religião é diferente 
do olhar teológico. O olhar científico é impie-
doso no sentido de não ser pio, de ausência 
de uma atitude contemplativa e de respeito 
religioso para com o objeto. Quando dizemos 
que a ciência tem um olhar ímpio, estamos 
dizendo que ela não precisa e não deve ter 
a mesma atitude que a atitude religiosa tem 
com o objeto religioso.
No entanto, isso não significa não ter res-
peito. A ciência não precisa e não deve ver os 
objetos sagrados como algo intangível por-
que para ela o sagrado não existe. A vanta-
gem de se falar de religião de uma forma que 
não é religiosa retira a obrigatoriedade de 
crer para estudar. Essa atitude mais isenta se 
tornou mais forte a partir da segunda guerra 
mundial e tem demonstrado ser a atitude ide-
al na atualidade.
Apesar das religiõesformarem seus re-
presentantes políticos para, de certa forma, 
interferirem em decisões coletivas, a ciência 
tem o propósito de ser isenta e, associada 
a uma instituição religiosa, sua isenção fica 
comprometida. 
Em relação à Ciência da Religião, é per-
mitido dizer que, diante do seu objeto, sua 
base científica não permite atitudes teológi-
cas, confessionais e dogmáticas. Dessa forma, 
de imediato, é nosso dever dizer, a partir da 
epígrafe que abre este capítulo, que, neste 
curso:
•	 As religiões são objetos de estudo e não 
de crença;
•	 As religiões são cosmovisões, isto é, for-
mas de conhecer o mundo;
•	 As religiões são sistemas de referência;
•	 Toda forma de proselitismo e fundamen-
talismo nesta área é negada;
•	 Não existem religiões superiores, bem 
como não existem religiões inferiores;
•	 O(s) sagrado(s) não é(são) objeto(s) de 
conhecimento. Isso diz respeito às teolo-
gias;
•	 Todas as religiões, estamos dizendo to-
das, merecem respeito;
•	 Todas as religiões são passíveis de serem 
observadas, uma vez que são produções 
humanas;
•	 Todas as religiões são formas culturais, 
portanto, apresentam características da 
sociedade e da cultura em que estão in-
seridas;
•	 Cabe ao cientista da religião e ao profes-
sor de Ensino religioso respeitar a cultura 
do outro e isso inclui respeitar a religião 
do outro;
•	 Não se pode perder de vista que vive-
mos em um estado laico e não religioso;
•	 Tanto o cientista da religião quanto o pro-
fessor de Ensino Religioso devem ter claro 
que a diversidade cultural religiosa é uma 
realidade que não pode ser ignorada.
1.3 O caminho para a 
institucionalização da Ciência da 
Religião
Como toda área de conhecimento, a Ci-
ência da Religião possui sua história. Por mais 
que pareça ser esta disciplina uma novidade, 
causando, inclusive, estranheza na própria 
academia, é nosso dever apresentar não ape-
nas a que ela veio, mas percorrer com você, 
acadêmico(a), mesmo que brevemente, o per-
curso institucional que consolidou à Ciência 
da Religião como disciplina autêntica e autô-
noma.
É preciso antes, contudo, também, caro 
acadêmico(a), que você se inteire de algumas 
situações ligadas à existência e aceitabilidade 
da área. Até pouco tempo, a legitimidade da 
Ciência da Religião ainda era questionada nas 
academias, uma vez que, para nos colocarmos 
oficialmente como conhecimento, fazíamos 
parte da Filosofia no CAPES. Os questiona-
mentos não chegavam apenas daqueles que 
acreditam serem somente os aportes teológi-
13
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
cos os únicos capazes de falar de religião. Na 
própria academia havia e ainda há vozes que 
afirmam que outros campos do saber como 
a antropologia, a sociologia e a história são 
o suficiente para dizer sobre religião, não ha-
vendo a necessidade de uma área específica. 
E mais, e talvez nosso maior problema: ain-
da a escola e até mesmo muitos professores 
de ensino religioso rejeitam a abordagem 
científica e introduzem a catequese e o pro-
selitismo em suas aulas, iludidos em estarem 
fazendo o “bem” aos seus alunos. Sobre isso 
dizemos: doce ilusão.
Mas, os debates em nível nacional so-
bre o ensino religioso na escola tornam clara 
e real a necessidade de abordagens distintas 
do proselitismo e próximas da ciência. Mui-
tos consideram que na educação escolar não 
deve estar inclusa a disciplina, relegando à 
família e aos templos religiosos os saberes so-
bre religião(ões). Outros, adeptos da mesma 
causa, acreditam que a retirada da disciplina 
das estruturas curriculares de nossas escolas 
evitaria o proselitismo e, consequentemente, 
diminuiria o domínio político de instituições 
religiosas. No entanto, a influência de grupos 
religiosos na política brasileira em mais de um 
episódio que envolveu a educação escolar nos 
obriga a um pensar sério sobre a presença do 
Ensino Religioso nas escolas, como também 
lança-nos ainda mais em direção à busca por 
uma compreensão mais profunda sobre os 
contornos desenhados pelas religiões na vida 
dos homens.
Tentemos demonstrar brevemente, a títu-
lo de esclarecimento, como à Ciência da Reli-
gião anda na contramão do proselitismo e do 
domínio político religioso, bem como atesta 
que o conhecimento religioso não diz respeito 
somente à família e aos templos religiosos. 
O conhecimento fornecido pela Ciência da 
Religião é inter e multidisciplinar, isto é, con-
seguimos através da reunião de várias ciências 
abarcar ao máximo e de forma ampla o fenô-
meno religioso, sem nos restringirmos apenas 
a uma de suas dimensões. Dessa feita, impe-
tramos ir além do que vai a Sociologia, a An-
tropologia, a Psicologia, a História, a Filosofia 
e outras áreas do conhecimento, simplesmen-
te porque alcançamos todas estas ciências 
– no que diz respeito às religiões – e outras 
ao estarmos diante do fenômeno religioso. 
Conseguimos, em relação à religião, sermos 
psicólogos, historiadores, sociólogos, filóso-
fos, antropólogos. Ao abraçarmos o elemen-
to religioso, alcançamos um senso crítico que 
supera as posições dogmáticas que sustentam 
ser apenas uma religião a verdadeira, a certa, a 
justa ou mesmo a ideal, além de desvelarmos 
o humano presente no fato religioso e, quan-
do falamos o humano, referimo-nos aos acer-
tos, erros, dificuldades, limitações, alegrias, 
frustrações, desentendimentos, discrimina-
ções, preconceitos, inflexibilidade, acolhimen-
to, isto é, toda sorte de expressões realmente 
humanas. Na Ciência da Religião tratamos 
nosso objeto como “coisa” humana. Tal senso 
crítico suplanta o proselitismo e quando re-
passado ao aluno colabora para o desenvol-
vimento de sua consciência crítica, evitando 
que discursos políticos e dominadores das re-
ligiões o façam refém do preconceito e da in-
tolerância. É válido lembrar que há uma mas-
sa de sacerdotes despreparados do ponto de 
vista da teologia e humano, que se colocam 
como mediadores do divino. A questão é: todo 
e qualquer sacerdote pode realmente falar em 
nome do divino? São notórios os erros teoló-
gicos e éticos em muitos dos discursos reli-
giosos e um fiel, afinado em seu senso crítico, 
certamente filtrará várias falas, principalmente 
aquelas que promovem a violência. Quanto à 
família, duas questões se colocam: ou deposi-
tam nas mãos das instituições religiosas a edu-
cação religiosa dos filhos ou são produtos dos 
discursos de sacerdotes despreparados.
No entanto, devemos deixar claro que 
não cabe ao cientista da religião ou ao pro-
fessor de Ensino Religioso converter alunos, 
apontar para eles qual religião devem seguir 
e nem mesmo contar vantagens a respeito 
de sua própria religião. Cabe a eles transmitir 
conhecimentos científicos sobre as religiões, 
aquilo que pode ser visto, observável, sem a 
pretensão de converter, mas tão somente de-
monstrar a existência da diversidade religiosa 
como realidade inquestionável e da necessi-
dade de aprendermos a conviver com o Outro 
religioso, bem como compreender, ausente de 
ingenuidades, como as religiões atuam na for-
mação dos homens, das leis, em como interfe-
rem nas escolhas pessoais e até mesmo como 
na contramão de suas doutrinas promovem o 
desrespeito e a violência. É necessário senso 
crítico para falar sobre isso. E senso crítico é o 
que não deve faltar ao cientista da religião e 
ao professor de Ensino Religioso. 
Vejamos agora um breve histórico do ca-
minho percorrido pela Ciências da Religião 
com vistas à sua institucionalização. Para tan-
to, usaremos o cientista da religião Frank Usar-
ski, um dos teóricos que mais se destaca na 
discussão epistemológica sobre o estatuto da 
Ciência da Religião. 
Veremos um pouco sobre o autor e logo 
após trataremos diretamente do nosso assun-
to. Frank Usarski é graduado em Ciências da 
Religião pelaUniversidade de Hannover/Ale-
14
UAB/Unimontes - 2º Período
manha. Como afirmado por ele, a pergunta o 
que é Ciência da Religião? o tem persegui-
do há anos e, em busca de respostas, elabo-
rou algumas características que identificam 
a disciplina. No seu percurso como cientista, 
Usarski utilizou uma dessas características – 
o potencial da Ciência da Religião de criticar 
ideologias – para analisar a rejeição da so-
ciedade alemã em relação aos “novos movi-
mentos religiosos”. Convicto deste potencial, 
enfrentou críticas de igrejas cristãs que não 
aceitavam que tais movimentos fossem vistos 
como religião. Esse episódio contribuiu para 
que esse cientista percebesse “uma incom-
patibilidade epistemológica entre Teologia e 
Ciência da Religião” (USARSKI, 2006,p.07). Na 
década de 90, ao vir para o Brasil como pro-
fessor no Programa de Pós-graduação em Ci-
ências da Religião da Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, Usarski sabia que esta-
va se inserindo em um campo acadêmico em 
que a Ciência da Religião era um evento re-
cente e que carecia de uma literatura em por-
tuguês. Essa é uma das grandes contribuições 
desse cientista da religião que se propôs a 
traduzir uma importante obra de leitura obri-
gatória para nossa área: O que é Ciência da 
Religião, de Hans-JurgenGreschat. Essa obra 
aborda os elementos chave que devem orien-
tar pesquisas da área e a necessidade de prio-
rizar pesquisas empíricas, pois
o lugar propício em que o cientista da religião torna-se consciente das impli-
cações epistemológicas e restrições éticas da sua disciplina não é o escritório 
[...], mas sim o campo de pesquisa (onde estão em jogo a integridade e a dig-
nidade, os direitos, os sentimentos e os interesse de seres humanos) (USAR-
SKI, 2006, p.09).
Pontuamos Frank Usarski e um de seus 
autores preferidos, Greschat, para deixar cla-
ro que não apenas o cientista da religião deve 
conhecer seu campo de pesquisa, mas que 
também o professor de Ensino Religioso deve 
conhecer o campo religioso em que atuará, 
uma vez que seus alunos fazem parte dele, 
exercendo sua integridade, dignidade, direi-
tos, sentimentos e interesses.
Apresentado nosso autor, vamos agora 
ao que ele nos reserva. Para tanto, seguiremos 
Usarski (2006), especificamente o primeiro ca-
pítulo da obra citada. Dividiremos, a exemplo 
do texto mencionado, nossa exposição em 
seis partes: a problemática em torno da área, 
um tipo ideal da Ciência da Religião como 
ponto de partida, os pré-requisitos espiritu-
ais e socioculturais para a institucionalização 
da Ciência da Religião, os pré-requisitos ins-
trumentais para sua institucionalização nas 
academias, o papel de Max Müller na consoli-
dação da Ciência da Religião e por fim a insti-
tucionalização da área como disciplina acadê-
mica autônoma.
1.3.1 Problematização do tema
Na esteira de Usarski (2006), devemos di-
zer é que a Ciência da Religião não se desen-
volveu da mesma forma em todos os países. 
Não há um país que fosse modelo a ser segui-
do como exemplo ideal para um caminho da 
disciplina. Inferimos, portanto, a partir do au-
tor, que os estudos sobre religião não seguem 
o mesmo padrão em todos os países. Pensa-
mos que isso se deve a própria diversidade 
cultural e religiosa. E mais, antes do processo 
de desenvolvimento da disciplina como área 
acadêmica já existia um saber sobre religiões 
desde a antiguidade grega. Com o passar dos 
séculos, tal saber ganha, de forma processual, 
a designação de Ciência da Religião e, como 
dito, não da mesma forma em todos os países.
Outra coisa que precisa ser mencionada é 
que a Ciência da Religião deve 
ser concebida como um ponto de intersecção de várias disciplinas e matérias 
auxiliares. Cada uma delas, porém possui sua própria história, que teria de ser 
levada em conta (...)” (MARQUES, 2007, p.15).
Diante dessa problemática, a solução en-
contrada por Frank Usarski foi focalizar a fase 
formativa da Ciência da Religião na acade-
mia como disciplina a ser institucionalizada. 
Sendo assim, ele demarcou o final do século 
XIX, quando a disciplina “ganhou sua forma 
paradigmática” com início pela instalação da 
primeira cátedra em Ciência da Religião, em 
1873, e fim em 1942, com a publicação da tese 
de Joachim Wach na Universidade de Leipzig. 
Esta obra, nos diz Usarski (2006), ressalta o 
caráter empírico-histórico e sistemático 
como estrutura obrigatória da Ciência da 
Religião. A proposta de Wach ainda se coloca 
como modelo normativo para a Ciência da Re-
ligião na atualidade.
15
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
1.3.2 Uma caracterização de tipo ideal da Ciência da Religião como 
ponto de partida
Nesta parte, nosso autor nos coloca dian-
te de questões que realmente desafiam nossa 
consciência formada no senso comum, uma 
vez que as indagações apresentadas por ele 
assinalam para uma conduta científica que 
provoca o “dogmático leviatã” construído pe-
las religiões e depositados em nosso interior 
pela educação religiosa.
Primeiro, é preciso saber que a Ciência da 
Religião é “a filha emancipada da Teologia”, 
como menciona UdoTworuschka. A emancipa-
ção se deu na ampla área de pesquisa, extra-
polando a disciplina-mãe, e também no ideal 
de neutralidade. Esclarecemos: a Teologia, em 
geral, está comprometida com uma determi-
nada corrente religiosa, Usarski menciona o 
cristianismo, uma vez que seu lugar é o oci-
dente. Não querendo superar nosso autor, mas 
apenas acrescentar nossa realidade, no Brasil 
podemos falar também de uma Teologia Um-
bandista institucionalizada com sua própria 
academia e literatura, o que deixa claro que 
religiões dantes marginalizadas e acusadas de 
não possuírem uma teologia estão em bus-
ca de sua sistematização racional almejando, 
dessa forma, o direito de se verem de forma 
diferente. A propósito, a faculdade de teologia 
espírita também é uma realidade no Brasil. 
Enfim, a Ciência da religião não se res-
tringe a uma ou poucas vertentes religiosas. 
Como ciência, ela abraça todas as religiões 
como matérias de estudos e investigações. 
Para tanto, ela necessita de neutralidade no 
que se refere a não ter nenhuma religião 
como referência para o conhecimento. Isso 
leva a outros aspectos dessa ciência: a cons-
ciência de relatividade, o exercício de um não 
eurocentrismo diante das múltiplas expres-
sões religiosas, a indiferença em relação às 
pretensões de verdade arrogadas pelas religi-
ões, a “capacidade potencial de abstração reli-
giosa de si mesmo”. Essas são, de acordo com 
Usarski, as competências-chave que caracteri-
zam nossa área. 
Outra questão aludida por Usarski e que 
merece ser mencionada é a composição da 
Ciencia da Religião lembrada por Joachim 
Wach. Há autores que vislumbram a religião 
de forma universalista, isto é, as religiões pos-
suem constituintes e estruturas comuns. Tais 
estruturas e constituintes fazem parte de uma 
essência do real mundo religioso. Compre-
endemos assim: há uma religião ideal e sua 
substância está presente em todas as religi-
ões. Todas, de alguma forma, são expressões 
deste todo ideal. No entanto, há autores que 
enfatizam a singularidade de cada religião. 
Seria necessário, dessa forma, empreender 
um “levantamento empírico e histórico para, 
de forma mais detalhada possível, reconstruir 
cada tradição religiosa em sua singularidade.” 
A Ciência da Religião, portanto, teria caráter 
duplo: um comparativo-sistemático e outro 
empírico-histórico.
Diante disso, vejamos algumas das inda-
gações de Frank Usarski: Quais fatores foram 
decisivos para que as religiões não cristãs des-
pertassem cada vez mais o interesse dos in-
telectuais europeus? O que fez com que uma 
nova ciência dedicada à investigação do vasto 
mundo religioso tenha se “emancipado diante 
da Teologia cristã”?Que pré-requisitos foram 
necessários para que o assunto até então po-
lêmico da religião tenha se tornado um “obje-
tivo” de estudo? Como decorreu o desenvolvi-
mento que levou ao caráter duplo da Ciência 
da Religião, de acordo com as exigências de 
Joachim Wach?
Abaixo, o autor procura elucidar tais 
questões.
1.3.3 Pré-requisitos espirituais e socioculturais para a 
institucionalização acadêmica da Ciência da Religião
A preocupação em se compreender as 
religiões não é uma prerrogativa do século 
XX. O pensamento sistemático sobre religião, 
nos diz Usarski (2006, p. 10), “é um produto 
da modernidade, mais precisamente uma 
consequência de mudanças ideológicas e 
sócio-históricas a partir do período pós-re-
formatório, mais tarde aceleradas no decorrer 
do movimento iluminista.”
Podemos, na esteira de Oto Brunner, 
mencionar que, em oposição ao dogmatismo 
intelectual dos clérigos, século XII, surgiu a 
cultura dos leigos que valorizava a história do 
mundo como um cenário de avanço humano 
e que possibilitava reflexões críticas sobre a 
cosmovisão cristã. Emancipar do pensamento 
clerical dogmático cria condições para a valo-
rização do homem e do seu entendimento a 
16
UAB/Unimontes - 2º Período
partir da história, bem como a necessidade de 
se pensar além das fronteiras europeias. As crí-
ticas presentes no pensamento de Hume, Ho-
bbes, Rousseau e Kant (XVI-XIX) em relação ao 
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo provocou 
a emergência de estudos sobre tais religiões, a 
fim de compreendê-las além de suas teologias 
e escritos internos.
Herder (XVIII) reconheceu a importância 
da abordagem histórica para compreender 
as religiões, “descobrindo”, talvez, a História 
das Religiões. Como se vê, a crítica da filoso-
fia abriu caminho para a dúvida, investigação 
e novas sistematizações teóricas sobre as reli-
giões consideradas “evoluídas”, abrindo cami-
nho também para as religiões desveladas pela 
conquista colonial (XVI, XVII). Como podemos 
ver, já temos respostas de algumas das indaga-
ções acima colocadas por Frank Usarski. Quan-
to ao caráter duplo da Ciência da Religião, 
especificamente sobre a diferenciação entre 
os ramos empírico-histórico e comparativo, 
de forma rudimentar, a discussão foi articula-
da durante o Iluminismo, por pensadores que 
procuravam relacionar “religiões concretas” a 
exemplo do cristianismo com “religião natu-
ral”, considerando o modelo metateórico de 
Wach sobre os autores que percebem a reli-
gião de forma essencialista e que os fenôme-
nos religiosos possuem padrões estruturais e 
sistematizam elementos típicos, por que não 
dizer comuns. Usarski alerta para a Ciência 
da Religião ser “uma criança do Iluminismo”. 
Inspirados pela ideia de tolerância religiosa, 
seus pensadores procuravam nas considera-
das “religiões exóticas” a base geral em que 
todas as religiões se encontram. No mesmo 
período, procurava-se também uma “religião 
primordial”, ausente do domínio dos padres 
e seus enganos, uma religião anterior de for-
ma histórica e psicológica. A problemática 
que envolve toda essa questão está no que já 
mencionamos aqui: é um risco vislumbrarmos 
o universalismo, pois, nessa perspectiva, com-
preenderemos sempre que há religiões que 
ainda não chegaram a um nível evolutivo ou 
“concreto” enquanto que outras encontram-
-se em sua forma “natural”, que pode ser vista 
como involuída ou primitiva. Tal classificação 
é preconceituosa e coloca obstáculos ao di-
álogo inter-religioso. Outra questão é que se 
pensarmos em religiões na sua forma concreta 
estaremos admitindo que a religião estaria na 
psique humana e que no interior do homem 
estaria a fonte da religião. Tal abordagem é 
universalista, no entanto, valoriza o homem, o 
humano, antes de qualquer fenômeno cultural 
ou histórico. Essa argumentação foi retomada 
pela fenomenologia da religião, paradigma do 
ramo sistemático, lembremos de Wach, mas 
tem sido alvo de críticas, entre os motivos, por 
não apresentar um caráter empírico e cientí-
fico o que pode colocar a Ciência da Religião, 
empírica e observável, em risco.
1.3.4 Pré-requisitos instrumentais para a institucionalização 
acadêmica da Ciência da Religião
Todo fato social ou não possui seus an-
tecedentes. Você, caro estudante do curso de 
Ciências da Religião, deve ter claro que antes 
de qualquer acontecimento algo anterior con-
tribuiu e criou condições para que tal aconte-
cimento fosse realidade. A institucionalização 
da Ciência da Religião foi de certo modo “pre-
parada” por alguns antecedentes, vejamos 
quais foram: as consequências da fase históri-
ca marcada pelos encontros culturais no sécu-
lo XVI e também século XIX contribuíram para 
a institucionalização acadêmica da Ciência da 
Religião. Os confrontos culturais, vistos como 
trocas, entrecruzamentos de elementos cultu-
rais, novas teias a serem tecidas com pontos 
que se amarram e sustentam tais teias des-
pertou a curiosidade de pensadores sobre a 
história dos “novos” povos: asiáticos, america-
nos e indígenas. As consequências dessa nova 
fase histórica deu-se no campo a filologia. É 
válido lembrar a importância deste período 
histórico para a Ciência da Religião, como nos 
assevera Usarski (2006), pois o contato com 
a literatura de textos produzidos por outras 
religiões como o hinduísmo e o budismo não 
se restringiu apenas à leituras políticas e par-
ciais. Com o tempo, as traduções dos “novos” 
tornaram-se cada vez mais imparciais, propor-
cionando sua descoberta, seu desvelamento, 
no que se refere a um modo de crer diferente.
Citemos alguns dos textos traduzidos e 
quem os traduziu na fase inicial das filologias 
extraeuropeias:
•	 BhagavadGita – Charles Wilkins – 1785;
•	 Avesta – Anquetil Duperron – 1771; (Zo-
roastrismo)
•	 Hieróglifos epípcios – Jean Francois 
Champollion – 1822 (Antigas religiões 
egípcias);
•	 Livro clássico confuciano de Meng-tze – 
Stanislau Julien – 1824-1829 (Confucionis-
mo);
17
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
•	 Mahavansa George Tornour – 1873 (Bu-
dismo Mahayâna).
Ressalta-se que a tradução das obras 
mencionadas representa uma pequena par-
cela de “um vasto espectro de estudos filoló-
gicos” (USARSKI, 2006, p. 23). A proximidade 
nas datas entre uma tradução e outra, bem 
como o fato de muitas ocorrerem simultanea-
mente demonstram que o interesse filológico 
foi muito grande e certamente a filologia em 
muito contribuiu para a constituição da Ci-
ência da Religião como disciplina. As escritas 
consideradas secretas de culturas estrangei-
ras, livros até então desconhecidos em seu 
teor foram descobertos e disponibilizados 
para estudos.
1.3.5 O papel de Max Muller para 
a consolidação da Ciência da 
Religião
Certamente você já ouviu sobre perso-
nalidades relevantes para a constituição de ci-
ências. Assim, muitos consideram o pensador 
Sócrates como o pai da Filosofia. Paternidade, 
aqui, refere-se à contribuição com ideias e ati-
tudes asssociadas às características de deter-
minada ciência ou mesmo à sua legitimação. 
A Ciência da Religião teve em seu histórico o 
importante papel do filólogo e indólogo Max 
Muller. 
 Max Muller, professor da Universidade 
de Oxford em meados do século XIX, era in-
dólogo e filólogo. Em seu livro Chips from a 
German Workshop (1967) introduziu o termo 
Ciência da Religião como uma disciplina pró-
pria. Muller concebia a Ciência da Religião 
como disciplina comparativa. No entanto, sua 
metodologia não foi muito aceita pela comu-
nidade científica, pois se tratava interpretar 
figuras mitológicas e religiosas como perso-
nificações de objetos e fenômenos naturais a 
exemplo de tempestade e chuva. Considerado 
hoje como um padrão antiquado e desusado, 
tal modelo não impediu que Muller fosse visto 
na atualidade como um importantecontribui-
dor da Ciência da Religião. À medida que insis-
tia no uso dessa nomenclatura, nos seus status 
próprios e por mais que suas teses, como a 
acima mencionada. fossem polêmicas, Muller 
despertou o interesse pela disciplina e incenti-
vou o uso das fontes como obrigatórias no tra-
balho científico sobre religião. 
◄ Figura 1: BhagavadGita 
-Volume I 
Fonte: Disponível em 
http://www.exoticindiaart.
com/book/details/univer-
sal-message-of-bhagavad-
-gita-exposition-of-gita-
-in-light-of-modern-thou-
ght-and-modern-needs-3-
-volumes-IDF097/. Acesso 
em 4 de fev. de 2014. 
◄ Figura 2: Max Muller 
Fonte: Disponível em 
http://kdfrases.com/fra-
se/124144. Acesso em 4 de 
fev. de 2014.
18
UAB/Unimontes - 2º Período
1.4 A institucionalização da Ciência 
da Religião como disciplina 
acadêmica autônoma
Como afirma Frank Usarski, as três últimas 
décadas do século XIX foram extremamente 
importantes para a Ciência da Religião. Desta-
camos nesse período a criação da primeira cá-
tedra de História das Religiões fora da Teologia, 
apontando para uma certa independência e 
busca por mais cientificidade. Como profes-
sor, assumiu ThéophilDroz, na Universidade 
de Genebra em 1873. Na Holanda, em outubro 
de 1877, especificamente nas universidades de 
Utrecht, Groningen, Leyden e Amsterdã, foram 
inauguradas as cátedras de Gerschiedenes van 
denGodsdiebst, algo como história das religi-
ões dos tempos antigos. Nesse evento, temos o 
papel essencial de dois pesquisadores: Cornei-
lius Peter Tiele (Leyden) e Daniel Chantepie de 
La Saussaye (Amsterdã). Teoricamente são vis-
tos como mais importantes do que Max Muller. 
Tiele era um especialista em história da religião 
da Babilônia e do Egito, La Saussage era visto 
como um fundador da Fenomenologia da Re-
ligião. É notório, pela produção desses autores, 
perceber que a discussão dentro da disciplina 
foi dominada por eles. O próprio La Saussaye 
escreveu o Manual da História da Religião que 
foi traduzido para o inglês, francês e alemão.
A disciplina vai tomando corpo. Na Fran-
ça, o Collège de France – Paris – inaugura a 
cátedra História Geral da religião com o pro-
fessor Réville, colega de Tiele, que adotou a 
metodologia histórico-empírica. Em 1886, a 
Faculdade de Teologia de Sorbonne foi fecha-
da e substituída pela SciencesReligieuses da 
École dês HautesÉtudes, um centro de pesqui-
sa que se propunha a estudar religiões em de-
terminadas regiões do mundo. Na Bélgica, te-
mos cursos de Ciência da Religião desde 1844; 
na Itália, desde 1886; na Suécia, desde 1893. 
Na Inglaterra, a disciplina é inaugurada junto 
com a Universidade de Manchester em 1904. 
Na Alemanha, a primeira cátedra é inaugura-
da na Universidade de Berlim em 1910. Outros 
indicadores sobre a institucionalização da dis-
ciplina Ciência da Religião são as publicações 
de periódicos que visavam publicar pesqui-
sas. Podemos pontuar a Revue deL` historie dês 
religions, em 1880, em Paris, o ArchivfurReli-
gionswissenschsft, em 1898, em Freiburg , o 
HibbertJournal, em 1902, na Escócia. Esses são 
alguns dos instrumentos de publicação das 
pesquisas desenvolvidas naquele período.
Podemos também mencionar como parte 
da institucionalização da Ciência da Religião 
os congressos realizados no final do século XIX 
e início do século XX, com destaque para os 
realizados em Estocolomo e Paris.
Esse pequeno percurso, com nomes e 
datas, tem o objetivo de demonstrar que a 
Ciência da Religião não surgiu como delírio 
acadêmico. Ela traz uma história que a torna 
uma disciplina realmente institucional e, como 
tal, reflete uma necessidade de vislumbrar, 
descrever e inventariar o fenômeno religioso 
a partir de abordagens científicas, sem a pre-
tensão de descrever ou mesmo inventariar as 
formas divinas criadas pelas religiões.
1.5 Fundamentos epistemológicos 
das Ciências da Religião
Caro acadêmico (a), o que foi dito até aqui 
em muito auxilia no que diz respeito aos fun-
damentos epistemológicos deste campo do 
saber, à tentativa de associar religião e saber. 
O termo fundamento soa forte não apenas aos 
nossos ouvidos, mas, sobretudo, ecoa pelos 
nossos sentidos com a força que realmente 
tem: a força de sustentar, de ser base, de ser 
algo fundante.
No que se refere aos fundamentos episte-
mológicos das Ciências da Religião, estamos, 
na verdade, dizendo o que e em que cientifica-
mente se apóia as Ciências da Religião na bus-
ca pelo conhecimento das religiões. Daí, acre-
ditarmos que as páginas anteriores em muito 
já esclareceram sobre o que, ou em que, se 
sustenta essa área. Mas vejamos de forma mais 
específica sobre isso, pois é necessário que o 
19
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
acadêmico deste curso e o professor de Ensino 
Religioso tenham a clareza de que as Ciências 
da Religião não é um delírio de mentes reli-
giosas. Pelo contrário, essa área foi concebida 
e desenvolvida por mentes afeitas às sistema-
tizações racionais que acreditavam o que hoje 
temos como verdade: apenas os aportes teóri-
cos teológicos, bem como o discurso de sacer-
dotes não são o bastante para falar de religião.
Luiz Pondé (2001, p.01), filósofo e cientis-
ta da religião, coloca-nos que a “investigação 
em ciência da religião pressupõe uma identi-
dade metodológica e objetal”, duas instâncias 
não facilmente dadas e que figuram ser pro-
blemas em todas as Ciências Humanas. Acres-
centaríamos às palavras desse pesquisador 
duas instâncias não facilmente definidas nas 
Ciências Humanas, pois seus objetos, homem, 
sociedade, educação, linguagem, pensamento 
e artes, bem como a religião estão em cons-
tante transformação. Sendo assim, é possível, 
nessas ciências, a existência de tendências ou 
correntes teóricas que defendem em como 
devem se sustentar. No que se refere a ciên-
cia da religião, Pondé (2001) nos diz que seu 
campo epistemológico possui duas vertentes: 
a essencialista e a empirista. Necessário se faz 
esclarecer que esse pensador não é o pioneiro 
no que se refere a perceber as duas vertentes 
na história dos estudos de religião. Mas, em 
se tratando de epistemologia, uma disciplina 
filosófica, pensamos ser coerente iniciar nossa 
abordagem com um filósofo, já que a filosofia 
nos coloca problemas e não respostas, traduz 
inquietações e não acomodações, instala a 
dúvida e, assim, lembra-nos a todo momento 
que respostas prontas e fechadas significam 
dogmatismos, e dogmas não são objetos da 
ciência da religião, a não ser como temas de 
pesquisa.
1.5.1 Essencialismo e empirismo: vertentes epistemológicas na 
Ciência da Religião
Vejamos, agora, duas correntes que de-
fendem como se deve cientificamente adquirir 
saberes sobre religião, isto é, como conhecer 
religião. 
Historicamente, o essencialismo e o em-
pirismo marcaram as abordagens sistemáticas 
do fenômeno religioso, no entanto, vislumbra-
mos cada vez mais o crescimento e a evidência 
da tendência empirista nas pesquisas, muito 
provavelmente em função da preocupação 
em não se confundir ciência da religião com 
teologia. 
Falemos um pouco sobre cada corrente, a 
fim de esclarecer melhor a questão epistemo-
lógica que envolve a área.
A visão essencialista sobre o objeto reli-
gião defende a ideia de que a religião possui 
uma essência que extrapola o ser humano. Fa-
miliar no senso comum, o essencialismo acre-
dita que todas as religiões “falam da mesma 
coisa”. Os caminhos são diferentes, mas chega-
rão ao mesmo ponto, isto é, ao mesmo Deus. 
Os representantes desta visão são Rudolf Oto 
e Mircea Eliade.
A visão empirista descarta a necessidade 
de existência de um sagrado na abordagem 
científica sobre religião, pois o que importa 
são as manifestações daquilo que pode ser ob-
servado. Vale lembrar que, apesar de usarmos 
o termo no singular, obrigatoriamentenão 
nos referimos a algo ideal ou mesmo a uma 
essência. Para os empiristas, não há como pen-
sar em uma natureza da religião, isso ficaria 
no campo da especulação, o máximo que se 
pode alcançar são suas manifestações. Emile 
Durkheim é um dos expoentes desta corrente. 
O essencialismo e o empirismo geraram, 
além de discussões, organizações acadêmicas 
que procuram apontar, a partir de suas con-
cepções, qual o caminho científico que deve 
tomar as pesquisas sobre religião. Talvez por 
isso, encontramos ainda no Brasil cursos onde 
a ciência da religião se confunde com a teo-
logia. Neles, é forte a tendência essencialista 
e tais cursos acabam por ser, de certa forma, 
confessionais. Em outros cursos percebem-
-se as duas tendências demonstrando certo 
afastamento do essencialismo ou mesmo uma 
tentativa de equilíbrio entre as tendências. 
É preciso, contudo, esclarecer que ser essen-
cialista pode não significar ser dogmático. É 
possível perceber a essência da religião além 
da existência do Sagrado, ou melhor, ser es-
sencialista nem sempre significa vislumbrar o 
substrato da religião como sagrado.
As tendências se desdobram. A partir de-
las destacam-se duas correntes teóricas que 
se sobressaem nas análises e pesquisas sobre 
o fenômeno religioso: a fenomenológica e a 
funcionalista. De um lado, MirceaElíade e Ru-
dolf Otto (pioneiros) com a Fenomenologia da 
Religião e, de outro, Durkheim, Mauss e Mali-
nowski, entre outros, com a Teoria funciona-
lista. klausHock, em introdução às Ciências 
da Religião, emite a preocupação em relação 
a posição teórica que se deve ter ao fazer Ci-
ência da Religião. Para ele, esta posição inicia 
com a correta delimitação do termo religião. 
20
UAB/Unimontes - 2º Período
Ele chama a atenção para o fato desse concei-
to ser uma concepção da tradição cultural do 
Ocidente, especificamente do Cristianismo 
ocidental. Para analisar as diversas experiên-
cias religiosas presentes no mundo, o cientis-
ta da religião deve estar ciente das limitações 
que o termo propõe e, ao aplicá-lo a outros 
contextos culturais, dever ter o cuidado com 
as tentativas de adaptações. Ora, como tratar 
de religião como religare a manifestações reli-
giosas que não percebem o homem desligado 
de uma origem? Nos dizHock:
Desde a era do iluminismo estamos lidando com o problema de que o termo 
religião, como um termo da história intelectual ocidental, deve sua origem e a 
definição de seu conteúdo ao contexto histórico-cultural específico da Europa, 
por um lado, mas que ele, como conceito geral, por outro, reivindica a possi-
bilidade de nomear também em outros contextos histórico-culturais algo que 
corresponde àquilo que ele descreve no ocidente “cristão” (HOCK, 2010, p.20).
Ora, aplicar o termo a todas as religiões é 
compreender a religião de maneira substan-
tivista ou essencialista, imputando a outras 
tradições ou experiências religiosas certo de-
nominador comum existente em todas as reli-
giões. Um exemplo seria o termo “Deus”, utili-
zado como um elemento constitutivo de todas 
as religiões. Incorrem “nesse erro” definições 
como as de Gunter Lanczkowski que “definiu 
religião como ‘um fenômeno primordial inde-
rivável’, constituída de uma relação recíproca 
existencial entre o ser humano e Deus” (HOCK, 
2010, p.23). A ideia geral no essencialismo é 
que todos os tipos de religiões poderiam ser 
reconhecidas pela crença em um deus ou ser 
sobrenatural, o que não corresponde à realida-
de, pois existem religiões que necessariamen-
te não colocam acima da realidade a existên-
cia de divindade(s). Segundo Hock (2010, p.24), 
“especialmente na tradição da fenomenologia 
clássica, esse lugar foi ocupado pelo termo 
sagrado ou sacralidade.” O sagrado seria, a 
partir de concepções essencialistas e fenome-
nológicas, como assinala Rudolf Otto, cate-
goria fundamental da religião, isto é, base de 
toda e qualquer religião.
Como se observa, a Fenomenologia da 
Religião possui uma concepção essencialista 
de religião, excluindo, dessa forma, expressões 
religiosas como o Budismo, Taoísmo e Confu-
cionismo, outras, que não comungam com a 
ideia de existência “dessa essência”, defendida 
por Otto e Elíade. Resume Hock (2010, p.86): 
“em poucas palavras: a Fenomenologia da Re-
ligião ‘clássica’ teria fracassado em tornar com-
preensíveis formas de manifestações religiosas 
e em apresentá-las adequadamente”, comple-
tamos, já que exclui grande parte das religiões.
Outras abordagens fenomenológicas da 
religião procuraram ser mais justas ao propo-
rem uma interpretação mais “hermenêutica” 
do fenômeno religioso (HOCK, 2010, p. 96). 
Defendendo uma “Fenomenologia de Estilo 
Novo”, autores como Waardenburg passam a 
defender uma interpretação dos fenômenos 
religiosos a partir dos significados que são atri-
buídos a eles pelos os que o vivenciam em um 
determinado contexto cultural. Seria mais ou 
menos assim: as religiões devem ser interpre-
tadas sem perder de vista os significados que 
lhe atribuem seus adeptos, considerando, in-
clusive, o contexto cultural em que se encon-
tra. “Uma Fenomenologia da Religião assim 
compreendida já se detém e procura pela ‘es-
sência’ da religião, mas pergunta agora pelas 
interpretações de sentido subjetivo num con-
texto que é dado em termos de espaço e de 
tempo”. (HOCK, 2010, p. 72)
A teoria funcionalista procura interpretar 
o fenômeno religioso como fato social, com 
certa tendência em encarar a religião como 
parte integrante de um sistema cultural e com 
sua função estreitamente ligada às necessida-
des de determinada sociedade. Coloca Hock 
(2010 p. 24) que a função principal da religião a 
partir dessa tendência é integrar a sociedade, 
harmonizar suas relações sociais. De certa for-
ma, essa teoria limita o papel social das religi-
ões, principalmente em sociedades complexas 
onde existe a diversidade religiosa e onde re-
ligiões podem ser sujeitos de movimentos de 
profundas mudanças e conflitos sociais. Evans-
-Pritchard (1902-1973), ao propor uma etnolo-
gia que “procura reconstruir sistemas religio-
sos estranhos dentro de sua própria lógica e 
torná-los compreensíveis a partir de seus pres-
supostos”, ameniza a concepção reducionista 
das manifestações religiosas como expressão 
de uma unidade orgânica da sociedade. É 
também notável a “volta interpretativa” feita 
pela Etnologia da Religião nos Estados Unidos 
ao buscar compreender as religiões indígenas 
em seus contextos próprios.
Enfim, percebe-se que as duas tendências 
imputaram aos estudiosos da área a necessi-
dade de reflexão, pois entre eles é sabido que:
•	 Uma concepção somente essencialista li-
mita o olhar do pesquisador;
•	 Uma concepção somente empirista limita 
o papel social das religiões em socieda-
des em que a diversidade é realidade;
•	 A observação do contexto cultural em 
que se desenvolveu e atua a religião se 
tornou uma estratégia obrigatória.
21
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
1.5.2 Religião e saber: abordagem inter e multidisciplinar
Pich (2013, p.143), ao tratar a religião 
como forma de conhecimento, afirma que 
para associar religião e saber se faz necessá-
rio delimitar uma abordagem de significado 
de religião e de conhecimento. O autor coloca 
que “religião pode ser entendida como uma 
condição e uma forma humana de vida, com 
configurações históricas, culturais e sociais 
complexas que exigem, na Ciência da Religião 
contemporânea, uma abordagem ao final in-
terdisciplinar de análise dos fenômenos”. A 
afirmação de Pich nos direciona a uma ques-
tão epistemológica essencial na Ciência da Re-
ligião: a inter e multidisciplinaridade.
1.6 O caráter multidisciplinar das 
Ciências da Religião 
A afluência de várias ciências diferencia a 
Ciência da Religião como inter e multidiscipli-
nar o quea torna mais atrativa e interessante 
num mundo cada vez mais interligado por re-
des sociais e contínuo transito de informações. 
As trocas culturais favorecidas pelos intensos 
movimentos dos meios de comunicação acir-
ra processos sincréticos e consequentemente 
o surgimentos de novas crenças religiões. In-
terligado, mas de certa forma fragmentado, 
principalmente no que se refere asidentidades 
o mundo atual necessita de abordagens com 
maior amplitude e que valorize o cultural afim 
de que o conhecimento seja além das frontei-
ras daquilo que simplesmente aparece e coe-
rente com seu contexto. 
Por mais que a Ciência da Religião se 
restrinja ao fenômeno – isto é aquilo que 
aparece – a união de várias ciências revela 
além da aparência, porque considera diver-
sos aspectos. Necessário dizer que o obser-
vável não se reduz ao que os olhos podem 
ver, mas se estende a caracteres que subme-
tidos a leituras hermenêuticas sistematizadas 
revelam o que se encontra oculto aos olhos. 
Como nos diz Valle, em entrevista concedi-
da a essa autora (2007), “o pesquisador sem 
uma visão holística acaba falando sozinho; 
quando não, asneiras”. 
Nessa perspectiva, a Ciência da Religião 
tem se apresentado como pertinente e neces-
sária, pois proporciona visões amplas e cien-
tíficas do fenômeno religioso sem perder de 
vista o necessário e obrigatório distanciamen-
to das doxas e dos preconceitos. A multidisci-
plinaridade garante não apenas o olhar largo, 
mas sobretudo avaliza a cientificidade, pois o 
risco da parcialidade diminui. 
Vejamos, brevemente, as principais ciên-
cias que compõem a ciência da religião:
QUADRO 01
Ciências da Religião
Antropologia da Religião
Sociologia da Religião
Psicologia da Religião História da Religião
Religião e Saúde Religião e cérebro
Religião e Direito
Filosofia da Religião Teologias
Fenomenologia da Religião
Geografia da Religião Estética
Fonte: Elaboração própria.
22
UAB/Unimontes - 2º Período
Sociologia da Religião 
A Sociologia da Religião tem como objeto 
as relações entre religião e sociedade. Seu foco 
é a dimensão social da religião e a dimensão 
religiosa da sociedade. Para a sociologia da 
religião, religiões são expressões da sociedade 
em que foram produzidas. Todas as religiões 
respondem a uma determinada dinâmica so-
cial. Ex.: do ponto de vista social, o sacrifício de 
animais em determinadas religiões é coerente, 
mesmo que do ponto de vista ético não seja.
 Não se trata aqui de defender ou não o 
sacrifício, trata-se de compreender que, se ele 
existe, é porque responde a uma dinâmica so-
cial, é uma exigência de determinado contex-
to social.
No Brasil, a consolidação da Sociologia da 
Religião se deu com a obra de Candido Pro-
cópio “Católicos, Protestantes e Espíritas”, em 
1973. Na atualidade brasileira, podemos desta-
car as pesquisas de Reginaldo Prandi, Antônio 
Flávio Pierucci, Edisom Carneiro, entre outros.
Na ciência da religião, a Sociologia da Re-
ligião tem como propósito não perder de vista 
a dimensão social da religião e nem mesmo a 
dimensão religiosa da sociedade, procurando 
explicar a presença de uma e de outra.
História da Religião
A História das Religiões tem como objeto 
o fenômeno religioso a partir de perspectivas 
não confessionais. Sua perspectiva é histórica e 
antropológica, considerando o tempo e o espa-
ço. Baseia-se na análise de fontes históricas, isto 
é, registros dos homens, o que a distingue das 
disciplinas teológicas. Analisa dados e estabele-
ce comparações entre religiões como forma de 
ampliar conhecimentos sobre elas, bem como 
compreender distanciamentos e aproximações.
Sua emergência em universidades euro-
peias, em meados do século XIX, contribuiu, 
como visto anteriormente, para a instituciona-
lização da ciência da religião. Surge em meio 
a debates que envolveram ideias seculares, 
separação entre Igreja e Estado e desenvol-
vimento das ciências humanas. Max Muller 
exerceu um papel fundamental para o estabe-
lecimento da história das religiões nas univer-
sidades europeias.
Antropologia da Religião
Com o objetivo de conhecer o homem 
religioso e as relações humanas, a Antropolo-
gia da Religião procura estudar as instituições 
religiosas na relação que mantém com outras 
instituições sociais.
O olhar antropológico se caracteriza pelo 
mergulho nas relações humanas, procuran-
do compreender como elas se dão nas suas 
diferenças culturais, históricas, econômicas, 
políticas e psicológicas. Para tanto, é preciso 
esvaziamento de valores e preconceitos con-
cebidos anteriormente pelo pesquisador. A 
atividade antropológica deve ser vista antes 
de tudo como o exercício de buscar a compre-
ensão do novo. 
A Antropologia da Religião hoje vive um 
momento pós-colonial. Os autores pós-colo-
nialistas procuram vislumbrar as produções 
culturais dos países que foram colonizados. O 
propósito é dar voz àqueles que em função da 
dominação, da colonização tiveram seus sabe-
res reprimidos e oprimidos. Listemos alguns 
dos antropólogos utilizados nas pesquisas de 
cientistas da religião: ClifordGeertz, Malino-
vsky, Roger Bastide, Levi-Strauss.
Psicologia da Religião
A Psicologia da Religião procura estudar 
o comportamento religioso do homem a par-
tir de fundamentos e métodos da psicologia. 
Como comportamento religioso entende-se 
qualquer ato com referência ao sobrenatural. 
A psicologia considera a existência de experi-
ências religiosas como resposta a diversos es-
tímulos, o que nos leva ao conhecimento da 
personalidade do homem religioso.
Algumas interpretações psicológicas so-
bre a relação do homem com a religião ganha-
ram notoriedade. Pontuamos a interpretação 
PARA SABeR mAiS
Leia o artigo “Memó-
ria da fase inicial da 
Ciência da Religião 
no Brasil” em http://
www.pucsp.br/rever/
rv1_2007/t_entrevista.
htm
diCA
Para entender melhor 
a questão da inter e 
multidisciplinaridade 
da Ciência da Reli-
gião, retorne à página 
anterior e leia a citação 
de Valle.
GLOSSáRiO
Proselitismo: inten-
to, zelo, diligência, 
empenho ativista de 
converter uma ou 
várias pessoas a uma 
determinada causa, 
ideia ou religião.
23
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
psicológica do fenômeno religioso realizada 
por Freud e por Jung. Freud considerava a 
religião uma ilusão, projeção infantil da ima-
gem paterna. Como ilusão, a religião levaria o 
homem a fugir da realidade. O homem para 
Freud é um sistema dinâmico de energias em 
que a libido, energia de vida, se manifesta de 
várias maneiras, inclusive em suas perturba-
ções. Para ele, as perturbações humanas têm 
origem no inconsciente e se relacionam aos 
conflitos sexuais. 
Jung contrapõe a teoria freudiana. Ele 
defende a religião e pontua seu papel como 
essencial no desenvolvimento humano. No 
inconsciente coletivo encontram-se os arqué-
tipos, instintos que se manifestam como fan-
tasias e que podem se revelar, muitas vezes, 
através de imagens simbólicas.
Geografia da Religião
A Geografia da Religião estuda a relação 
entre religiões, seus espaços geográficos e a 
perguntas como: qual o impacto do lugar e 
do espaço na crença em determinada religião? 
Por outro lado, também é possível perguntar 
qual a influência da religião na elaboração de 
mapas, de identificação territorial.
Enfim, estas são algumas das ciências 
que constituem o arcabouço epistemológico 
das ciências da religião. No entanto, é bom 
demonstrar como é possível fazer ciências da 
religião, isto é, como é possível abordar de 
forma inter e multidisciplinar o fenômenore-
ligioso. Usemos a junção entre sociologia e 
psicologia. Juntas permitem o olhar psicos-
sociológico. Ao ocupar um lugar na cultura 
humana, a religião recebe influências deste 
meio e acompanha-o em suas mudanças. Por 
grupos sociais podemos entender, também, 
conjuntos de dinâmicas psíquicas e emocio-
nais. Não há como negar a existência de uma 
dialética psicoafetiva e sociológica, dialética 
marcada pelo fluxo e refluxo de influências da 
situação social do ser humano, dialética que 
está presente nas religiões.
De forma semelhante pode ocorrer com 
a História e a Antropologia, que aliadas conce-
dem como resultado epistemológico análises 
histórico-antropológica.
Como é perceptível, caríssimo 
acadêmico(a), o aspecto inter e multidisciplinar 
da Ciência da Religião impede a emergência de 
abordagens meramente confessionais e pro-
selitistas, em geral descompromissadas com a 
ética e com o direito à diversidade, mas justifi-
cadas como inspiradas pelo sobrenatural.
Referências
CRUZ, Eduardo. Estatuto epistemológico da Ciência da Religião. In: PASSOS, João Décio; USARSKI, 
Frank. Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2013.
GRESCHAT, Hans Junguen. O que é Ciência da Religião? São Paulo: Paulinas, 2005.
HOCK, Klaus. introdução à Ciência da Religião. São Paulo: Loyola, 2010.
MARQUES, Angela Cristina Borges; ROCHA, Marcelo. memórias da fase inicial da Ciência da 
Religião no Brasil. Rever, São Paulo, Março, 2007.
PICH, Roberto Hofmeister. Religião como forma de conhecimento. In: PASSOS, João Décio; USAR-
SKI, Frank. Compendio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2013.
PONDÉ, Luiz. epistemologia Agônica e disfuncionalidade humana: um ensaio de teologia 
pessimista. Rever, São Paulo, n2, ano 1, 2001. Acesso em http/www.rever.com.br
USARSKI, Frank. Constituintes da Ciência da Religião. Cinco ensaios em prol de uma discipli-
na autônoma. São Paulo: Paulinas, 2006. 
25
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
UnidAde 2
As Ciências da Religião no Brasil 
Ângela Cristina Borges
2.1 Introdução
No Brasil, o interesse em compreender os universos re-
ligiosos não é recente. Em entrevista concedida a esta autora 
(2007), Edênio Valle, um dos fundadores das Ciências da Reli-
gião no Brasil, adverte-nos que um “saber sobre religiões” ou 
a procura pelo seu entendimento neste país data do início da 
colonização. Completa esse cientista que a necessidade de 
dominar ou mesmo a intenção de “salvar” pressupõe conhe-
cimento, pressupõe entendimento. Assim se portaram os pri-
meiros jesuítas no Brasil que, no objetivo de converter a po-
pulação indígena brasileira, observaram e descreveram seu 
comportamento religioso. Em função de tal interesse, temos 
hoje “amplas descrições que começam com o Padre Anchieta” 
(VALLE, apud MARQUES; ROCHA 2007, p.02).
A diversidade do campo religioso brasileiro impôs a ne-
cessidade de junção de olhares diversos em direção ao fenô-
meno religioso, isto é, olhares a partir de várias ciências, o que caracteriza, desde o início, a ciên-
cia da religião no Brasil como multidisciplinar.
No entanto, antes de nos determos em sua multidisciplinaridade, vejamos seu percurso à 
institucionalização.
2.2 Pressupostos para a 
institucionalização das Ciências da 
Religião no Brasil
É válido lembrar que a leitura empreendi-
da pelos jesuítas em suas tentativas de apro-
ximação e compreensão do mundo indígena 
teve como referencial o que conheciam e en-
tendiam como religião. Dessa forma, o enten-
dimento sobre a cosmologias das crenças in-
dígenas foi contaminado por um conceito de 
religião – religare – inadequado para a com-
preensão das crenças indígenas. Como dizem 
seus descendentes “nós nunca estivemos des-
ligados”, portanto, como então podem ser in-
terpretados por esse conceito?
No entanto, em nada a visão jesuítica des-
merece o amplo material coletado durante a 
presença da sua ordem no Brasil, no período 
de colonização. São fontes que, a partir de 
uma visão científica, muito pode revelar sobre 
as crenças presentes neste país por ocasião de 
sua colonização, bem como sobre o encontro 
cultural entre elas e o cristianismo. Processos 
sincréticos certamente ocorreram e a compre-
ensão de tais processos para a clara visão de 
uma identidade brasileira é extremamente im-
portante.
A visão evolucionista em muito contri-
buiu para uma concepção inadequada, para 
não dizer preconceituosa do comportamento 
religioso do brasileiro mestiço. O animismo, 
presente em muitos cultos, o sincretismo re-
sultante da interação entre cristianismo, religi-
▲
Figura 3: Edênio Valle, 
um dos fundadores da 
Ciência da Religião no 
Brasil
Fonte: Disponível em 
http://blogs.odiario.com/
inforgospel/2012/02/09/
bispos-da-igreja-catolica-
-no-brasil-nao-ideia-do-
-que-fazer-com-casos-de-
-pedofilia-veja/. Acesso em 
4 de fev. de 2014.
26
UAB/Unimontes - 2º Período
ões africanas e crenças indígenas longe da dita 
“pureza” judaico-cristã indignava estudiosos 
no início do século XX, como Nina Rodrigues. 
Esse médico compreendia o animismo africa-
no como parte de uma cultura inferior e, de 
quebra, o sincretismo presente em seus cultos. 
Estudos sobre as crenças africanas no Brasil, 
em especial os primeiros, foram realizados a 
partir de um cientificismo evolucionista que 
tinha como ideal um homem “perfeito”. Dian-
te disso, era necessário mais rigor científico, 
como afirma Edênio Valle (MARQUES; ROCHA, 
2007). A sociologia positivista de Comte, assim 
como a medicina psiquiátrica foram importan-
tes nesse processo. Era preciso compreender 
transes e possessões sem julgar tais comporta-
mentos religiosos como patológicos. 
Nessa perspectiva, a fundação da USP 
contribuiu para o estabelecimento da Ciência 
da Religião no Brasil a partir da chegada dos 
franceses Lévi-Strauss e Roger Bastide que 
faziam sociologia e antropologia da religião. 
Este último, sedento de entender as religiões 
afro-brasileiras, mergulha literalmente nesse 
universo a fim de compreendê-lo melhor.
Deve-se considerar, também, pontua Edê-
nio Valle, como relevante para a constituição 
das Ciências da Religião no Brasil a abertura 
de várias igrejas tradicionais (presbiteriana e 
adventista) a uma discussão interdisciplinar. 
O campo religioso brasileiro, além de diver-
so, estabeleceu-se, também, como campo de 
disputa. Fazia-se e ainda se faz necessário en-
tender porque os crentes migram de uma re-
ligião para outra, o porquê da “Dupla Perten-
ça” e outras questões pertinentes a um campo 
marcado pela diversidade. Daí, o interesse das 
igrejas em entender o brasileiro religioso, seja 
para “salvar”, seja para ampliar seu campo de 
atuação, seja para garantir poder econômico e 
político. 
J. J. Queiroz apud Marques; Rocha consi-
derado também um dos fundadores da Ciên-
cia da Religião no Brasil chama a atenção para 
a necessidade do estudo da religião que levou 
a implementação dessa área no Brasil.
Primeiramente, a ausência de estudos de religião na Universidade Católica, 
sua restrição apenas a uma disciplina do ciclo básico do primeiro ano. Depois, 
o próprio pluralismo religioso, que demandava um estudo mais amplo da reli-
gião como tal e não apenas no sentido teológico. O fenômeno religioso plural 
e inserido no contexto latino-americano precisava de um estudo mais profun-
do. Os outros argumentos que convalidaram a nossa entrada nessa área são: 
o que seria uma religião no contexto latino-americano? Como seria estudada? 
Para que serve? “o vazio dos estudos das religiões na própria universidade ca-
tólica” décadas atrás (J.J. QUEIROZ apud MARQUES; ROCHA, 2007, p.04).
Sobre a intenção em se criar o cursos de Ciências da Religião no Brasil, de acordo com outro 
fundador Antônio Gouvêa Mendonça, Marques e Rocha colocam:
O que houve foi um saltohistórico na apropriação de um estágio avançado da 
questão já em uso na Europa. Houve entre nós a tentativa de superação abrup-
ta de uma tradição arcaica, marcada pela dupla presença de dois fatores anta-
gônicos que imobilizavam qualquer pretensão de considerar a religião como 
objeto de ciência: a Teologia metafísica com seus absolutos universais, de um 
lado, e o Positivismo que se batia pela superação desse estágio como empeci-
lho do progresso científico, de outro. A falta de uma fundamentação inicial iria 
provocar depois de alguns anos um debate que ainda se prolonga. A intenção 
nunca esteve muito clara nos primeiros tempos, isto é, nos dez ou doze anos 
seguintes à criação dos cursos. Eu diria que houve uma primeira preocupação 
em definir, ou melhor, em distinguir Ciências da Religião de Teologia quando 
da fundação, em 1993, da Associação Nacional de Pós-Graduação em Teologia 
e Ciências da Religião, a ANPTER. Depois dos preparativos iniciados um ano 
antes, nas dependências da UMESP e sob a inspiração e estímulo do professor 
Ricardo Ribeiro Terra, então presidente da Comissão de Avaliação da CAPES, a 
eleição da primeira diretoria deu-se na Universidade Federal de Juiz de Fora 
(UFJF) e foi precedida por estudos e debates a respeito das relações entre Ci-
ências da Religião e Teologia. Não esteve em jogo a Teologia, mas as possibi-
lidades científicas das Ciências da Religião. Era intenção da ANPTER, entre ou-
tras coisas, ampliar esse debate em seminários e reuniões nacionais e mesmo 
internacionais. Contudo, a ANPTER não teve o sucesso esperado e o assunto 
ficou latente. Sete ou oito depois a própria CAPES viria a questionar um dos 
cursos de Ciências da Religião, por sinal um dos pioneiros, isto é, o da UMESP, 
por apresentar um perfil voltado mais para a Teologia do que para Ciências da 
Religião. Na reunião fundante da ANPTER os debates apenas tangenciaram a 
questão da diversidade da nomenclatura dos cursos, quer dizer, se falávamos 
de Ciências da Religião, Ciência da Religião ou Ciência das Religiões e assim por 
diante. Isso parecia não ser relevante naquele momento. Aliás, a própria UFJF, 
que nos hospedava, optara pelo nome de Ciência da Religião, que conserva até 
27
Ciências da Religião - Introdução às Ciências da Religião
hoje. Pedro de Assis Ribeiro de Oliveira, um dos fundadores desse curso e seu 
primeiro coordenador, numa carona que me deu no Rio, de Copacabana até o 
aeroporto Santos Dumont, tentou me demonstrar que a nomenclatura “Ciên-
cia da Religião” é mais adequada do que “Ciências da Religião”. Não chegamos 
a resultado algum porque o tema era mais amplo do que o tempo e a distância 
a ser percorrida. Como eu já disse, não se partiu de uma ideia nuclear, básica 
e de contornos definidos, mas de uma tentativa de distinção circunstancial da 
Teologia pelos motivos já expostos. Contudo, o próprio nome do curso, com 
“ciência” no plural, já indicava a intenção de criar um curso pluridisciplinar, em 
que diversas ciências autônomas pudessem convergir para um objeto único 
que seria a religião (MARQUES; ROCHA, 2007, p.05).
A lacuna de cursos científicos sobre re-
ligião foi um dos fortes argumentos para 
implementar o curso de Ciência da Religião 
no Brasil. Isso demonstra que abordagens te-
ológicas não eram suficientes para falar da 
realidade brasileira. Tal lacuna ainda é usa-
da na formação de outros programas, bem 
como nos cursos de graduação. Como afirma 
J.J.Queiroz apud Marques e Rocha (2007, p.04) 
é a “própria demanda do pluralismo religioso 
em nosso país que requer um estudo mais 
amplo e multidisciplinar da religião como tal 
e não apenas no sentido teológico.” A título 
de enriquecimento dos nossos estudos sobre 
a área, um argumento recente, que gradati-
vamente ganha notoriedade na comunidade 
acadêmica, é a necessidade de se formar pro-
fessores de Ensino Religioso a partir de co-
nhecimentos científicos.
Enfim, é preciso ter claro sobre a perda da 
hegemonia política católica, sobre a chegada 
do protestantismo tradicional, sobre o alas-
tramento das ondas Pente e neopentecostais, 
bem como a diminuição do seu crescimento 
nos últimos anos. Necessário se faz conhecer 
sobre o crescimento das religiões mediúnicas 
e a recente estagnação do Kardecismo, sobre 
o papel de Chico Xavier tanto no crescimen-
to do Kardecismo quanto na sua estagnação 
após sua morte. Preciso é também ver de per-
to sobre o estabelecimento de atitudes filosó-
ficas ou práticas religiosas que negam serem 
religiões, sobre o crescente interesse pelas reli-
giões orientais e os processos sincréticos cons-
truídos em seu torno pela malha cultural bra-
sileira. Também é necessário estudar sobre a 
diminuição da Umbanda, religião considerada 
como brasileira e o crescimento do Candom-
blé de Angola, candomblé até então pouco 
estudado e pouco conhecido pelas academias 
brasileiras.
Um campo religioso fértil como o brasi-
leiro instiga estudos na busca não apenas pela 
compreensão de comportamentos religiosos, 
mas também pela elucidação de questões so-
ciológicas, históricas, antropológicas psicoló-
gicas e outras. Daí o interesse da Sociologia, 
da História, da Psicanálise, da Neurociência, 
do Direito e outras áreas do conhecimento. In-
dividualmente, isto é, apenas a partir de seus 
pressupostos teóricos e metodológicos, não 
é possível a tais ciências possuírem uma visão 
ampla do fenômeno religioso. É preciso, por-
tanto, uma abordagem interdisciplinar, rigoro-
sa e sistemática. A Ciência da Religião se pro-
põe a isso.
Assim, no Brasil, surge a intenção de se 
instituir cursos em Ciência da Religião.
2.3 O caminho para a 
institucionalização no Brasil
Segundo Gomes e Rodrigues (2012, p. 1), 
“os estudos de religião nasceram dentro do 
departamento de Ciências Humanas e Sociais 
da Universidade de São Paulo”. No entanto, 
temos certo que havia em outras universida-
des brasileiras esforços individuais e de pe-
quenos grupos para o estudo científico de 
religião.
O caminho institucional para o formato 
atual da Ciência da Religião no Brasil inicia 
com a criação do Centro de Estudos da Reli-
gião – CER –, na Universidade de São Paulo. 
No ano de 1970, os primeiros cursos de pós-
-graduação em Teologia e Ciência da Religião 
surgiram em instituições acadêmicas confes-
sionais. A criação do primeiro Departamen-
to de Ciência da Religião ocorre em 1969, na 
Universidade Federal de Juiz de Fora que ofe-
recia, para os cursos de graduação, disciplinas 
eletivas. Em 1976, na Universidade Metodista 
de São Paulo – UMESP – foi iniciado o pri-
meiro curso de mestrado e, em 1990, já com 
28
UAB/Unimontes - 2º Período
doutorado, o curso de mestrado recebeu o 
credenciamento da CAPES. Em 1978, a Ponti-
fícia Universidade Católica de São Paulo abre 
o Programa de mestrado em Ciências da Reli-
gião, “oferecendo também, a partir de 2002, 
o programa de Doutorado nessa área, com o 
objetivo de investigar, sistematicamente e de 
modo multidisciplinar, o fenômeno religioso”. 
Ao olharmos para a criação desses cursos em 
universidades confessionais percebemos que 
o “tom” multidisciplinar é dado pela Ponti-
fícia Universidade de São Paulo que certa-
mente influencia tanto a abertura de novos 
programas na perspectiva multidisciplinar 
quanto a marca da Ciência da Religião no Bra-
sil: o caráter multidisciplinar. Acima, nas pala-
vras de Edênio Valle, é perceptível tal intento. 
Em 1991, a Universidade Federal de Juiz de 
Fora cria o curso de pós-graduação lato sen-
su em Ciências da Religião e, logo depois, em 
1993, abre o seu curso de mestrado. 
Quanto à graduação, a Universidade Fe-
deral de Juiz de Fora implantou em meados 
dos anos 70, sendo, depois, interrompida. 
Recentemente, esta universidade retomou o 
curso. No que se refere à graduação em uni-
versidades públicas, a Universidade Estadual

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