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DIREITO AGRÁRIO - Janaina

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S936c STURZA, Janaína Machado 
Caderno de Direito Agrário Dom Alberto / Janaína Machado Sturza. 
– Santa Cruz do Sul: Faculdade Dom Alberto, 2010. 
Inclui bibliografia. 
 
1. Direito – Teoria 2. Direito Agrário – Teoria I. STURZA, Janaína 
Machado II. Faculdade Dom Alberto III. Coordenação de Direito IV. 
Título 
CDU 340.12(072) 
 
 
 
 Catalogação na publicação: Roberto Carlos Cardoso – Bibliotecário CRB10 010/10 
 
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APRESENTAÇÃO 
 
O Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto teve sua semente 
lançada no ano de 2002. Iniciamos nossa caminhada acadêmica em 2006, 
após a construção de um projeto sustentado nos valores da qualidade, 
seriedade e acessibilidade. E são estes valores, que prezam pelo acesso livre 
a todos os cidadãos, tratam com seriedade todos processos, atividades e 
ações que envolvem o serviço educacional e viabilizam a qualidade acadêmica 
e pedagógica que geram efetivo aprendizado que permitem consolidar um 
projeto de curso de Direito. 
Cinco anos se passaram e um ciclo se encerra. A fase de 
crescimento, de amadurecimento e de consolidação alcança seu ápice com a 
formatura de nossa primeira turma, com a conclusão do primeiro movimento 
completo do projeto pedagógico. 
Entendemos ser este o momento de não apenas celebrar, mas de 
devolver, sob a forma de publicação, o produto do trabalho intelectual, 
pedagógico e instrutivo desenvolvido por nossos professores durante este 
período. Este material servirá de guia e de apoio para o estudo atento e sério, 
para a organização da pesquisa e para o contato inicial de qualidade com as 
disciplinas que estruturam o curso de Direito. 
Felicitamos a todos os nossos professores que com competência 
nos brindam com os Cadernos Dom Alberto, veículo de publicação oficial da 
produção didático-pedagógica do corpo docente da Faculdade Dom Alberto. 
 
Lucas Aurélio Jost Assis 
Diretor Geral 
 
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PREFÁCIO 
 
Toda ação humana está condicionada a uma estrutura própria, a 
uma natureza específica que a descreve, a explica e ao mesmo tempo a 
constitui. Mais ainda, toda ação humana é aquela praticada por um indivíduo, 
no limite de sua identidade e, preponderantemente, no exercício de sua 
consciência. Outra característica da ação humana é sua estrutura formal 
permanente. Existe um agente titular da ação (aquele que inicia, que executa a 
ação), um caminho (a ação propriamente dita), um resultado (a finalidade da 
ação praticada) e um destinatário (aquele que recebe os efeitos da ação 
praticada). Existem ações humanas que, ao serem executadas, geram um 
resultado e este resultado é observado exclusivamente na esfera do próprio 
indivíduo que agiu. Ou seja, nas ações internas, titular e destinatário da ação 
são a mesma pessoa. O conhecimento, por excelência, é uma ação interna. 
Como bem descreve Olavo de Carvalho, somente a consciência individual do 
agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido 
de testemunha externa que o ato de conhecer. Por outro lado, existem ações 
humanas que, uma vez executadas, atingem potencialmente a esfera de 
outrem, isto é, os resultados serão observados em pessoas distintas daquele 
que agiu. Titular e destinatário da ação são distintos. 
Qualquer ação, desde o ato de estudar, de conhecer, de sentir medo 
ou alegria, temor ou abandono, satisfação ou decepção, até os atos de 
trabalhar, comprar, vender, rezar ou votar são sempre ações humanas e com 
tal estão sujeitas à estrutura acima identificada. Não é acidental que a 
linguagem humana, e toda a sua gramática, destinem aos verbos a função de 
indicar a ação. Sempre que existir uma ação, teremos como identificar seu 
titular, sua natureza, seus fins e seus destinatários. 
Consciente disto, o médico e psicólogo Viktor E. Frankl, que no 
curso de uma carreira brilhante (trocava correspondências com o Dr. Freud 
desde os seus dezessete anos e deste recebia elogios em diversas 
publicações) desenvolvia técnicas de compreensão da ação humana e, 
consequentemente, mecanismos e instrumentos de diagnóstico e cura para os 
eventuais problemas detectados, destacou-se como um dos principais 
estudiosos da sanidade humana, do equilíbrio físico-mental e da medicina 
como ciência do homem em sua dimensão integral, não apenas físico-corporal. 
Com o advento da Segunda Grande Guerra, Viktor Frankl e toda a sua família 
foram capturados e aprisionados em campos de concentração do regime 
nacional-socialista de Hitler. Durante anos sofreu todos os flagelos que eram 
ininterruptamente aplicados em campos de concentração espalhados por todo 
território ocupado. Foi neste ambiente, sob estas circunstâncias, em que a vida 
sente sua fragilidade extrema e enxerga seus limites com uma claridade única, 
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que Frankl consegue, ao olhar seu semelhante, identificar aquilo que nos faz 
diferentes, que nos faz livres. 
Durante todo o período de confinamento em campos de 
concentração (inclusive Auschwitz) Frankl observou que os indivíduos 
confinados respondiam aos castigos, às privações, de forma distinta. Alguns, 
perante a menor restrição, desmoronavam interiormente, perdiam o controle, 
sucumbiam frente à dura realidade e não conseguiam suportar a dificuldade da 
vida. Outros, porém, experimentando a mesma realidade externa dos castigos 
e das privações, reagiam de forma absolutamente contrária. Mantinham-se 
íntegros em sua estrutura interna, entregavam-se como que em sacrifício, 
esperavam e precisavam viver, resistiam e mantinham a vida. 
Observando isto, Frankl percebe que a diferença entre o primeiro 
tipo de indivíduo, aquele que não suporta a dureza de seu ambiente, e o 
segundo tipo, que se mantém interiormente forte, que supera a dureza do 
ambiente, está no fato de que os primeiros já não têm razão para viver, nada 
os toca, desistiram. Ou segundos, por sua vez, trazem consigo uma vontade de 
viver que os mantêm acima do sofrimento, trazem consigo um sentido para sua 
vida. Ao atribuir um sentido para sua vida, o indivíduo supera-se a si mesmo, 
transcende sua própria existência, conquista sua autonomia, torna-se livre. 
Ao sair do campo de concentração, com o fim do regime nacional-
socialista, Frankl, imediatamente e sob a forma de reconstrução narrativa de 
sua experiência, publica um livreto com o título Em busca de sentido: um 
psicólogo no campo de concentração, descrevendo sua vida e a de seus 
companheiros, identificando uma constante que permitiu que não apenas ele, 
mas muitos outros, suportassem o terror dos campos de concentração sem 
sucumbir ou desistir, todos eles tinham um sentido para a vida. 
Neste mesmo momento, Frankl apresenta os fundamentos daquilo 
que viria a se tornar a terceira escola de Viena, a Análise Existencial, a 
psicologia clínica de maior êxito até hoje aplicada. Nenhum método ou teoria foi 
capaz de conseguir o número de resultados positivos atingidos pela psicologia 
de Frankl, pela análise que apresenta ao indivíduo a estrutura própria de sua 
ação e que consegue com isto explicitar a necessidade constitutiva do sentido 
(da finalidade) para toda e qualquer ação humana. 
Sentido de vida é aquilo que somente o indivíduo pode fazer e 
ninguém mais. Aquilo que se não for feito pelo indivíduo não será feito sob 
hipótese alguma. Aquilo que somente a consciência de cada indivíduo 
conhece. Aquilo que a realidade de cada um apresenta e exige uma tomada de 
decisão. 
 
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Não existe nenhuma educação se não for para ensinar a superar-se 
a si mesmo, a transcender-se, a descobrir o sentido da vida. Tudo o mais é 
morno, é sem luz, é, literalmente, desumano. 
Educar é, pois, descobrir o sentido, vivê-lo, aceitá-lo, executá-lo. 
Educar não é treinar habilidades, não é condicionar comportamentos, não é 
alcançar técnicas, não é impor uma profissão.Educar é ensinar a viver, a não 
desistir, a descobrir o sentido e, descobrindo-o, realizá-lo. Numa palavra, 
educar é ensinar a ser livre. 
O Direito é um dos caminhos que o ser humano desenvolve para 
garantir esta liberdade. Que os Cadernos Dom Alberto sejam veículos de 
expressão desta prática diária do corpo docente, que fazem da vida um 
exemplo e do exemplo sua maior lição. 
Felicitações são devidas a Faculdade Dom Alberto, pelo apoio na 
publicação e pela adoção desta metodologia séria e de qualidade. 
Cumprimentos festivos aos professores, autores deste belo trabalho. 
Homenagens aos leitores, estudantes desta arte da Justiça, o Direito. 
. 
 
Luiz Vergilio Dalla-Rosa 
Coordenador Titular do Curso de Direito 
 
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Sumário 
 
Apresentação.......................................................................................................... 
 
Prefácio................................................................................................................... 
 
Plano de Ensino...................................................................................................... 
 
Aula 1 
Direito Agrário, seu Conceito e Abrangência......................................................... 
 
Aula 2 
Estatuto da Terra................................................................................................... 
 
Aula 3 
O Módulo Rural: sua importância na Distribuição e Aproveitamento 
da Terra................................................................................................................. 
 
Aula 4 e 5 
A Função Social da Propriedade........................................................................... 
 
Aula 6 
A Reforma Agrária no Brasil.................................................................................. 
 
Aula 7 
Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITL).............................................. 
 
 
 
 
 
 
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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, 
comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 
Centro de Ensino Superior Dom Alberto 
 
Plano de Ensino 
 
Identificação 
Curso: Direito Disciplina: Direito Agrário 
Carga Horária (h/a): 72 Créditos: 4 Semestre: 10º 
 
Ementa 
 
A reforma agrária no contexto jurídico constitucional brasileiro: definição, conceito e história. Terra rural e 
terra urbana. Função social da propriedade. Direito Agrário brasileiro. Estatuto da terra. Módulo rural. 
Contratos Agrários. Noções de cooperativismo. 
 
Objetivos 
Gerais: 
Conhecer, identificar, interpretar e aplicar, de forma crítica e autônoma, os princípios e regras do Direito 
Agrário na solução de problemas hipotéticos e concretos. 
 
 
Específicos: 
- Refletir criticamente sobre as atuais condições de exploração da terra, com vistas ao direito de acesso 
universal à alimentação como condição básica de vida digna para todas as pessoas. 
- Relacionar as causas da fome no país e a sua correspondência com as atuais formas jurídicas de acesso 
e exploração da terra. 
- Aplicar os fundamentos basilares do Direito Agrário nas mais diversas e novas situações que lhe sejam 
apresentadas. 
 
Inter-relação da Disciplina 
Horizontal: Direito Constitucional I e II, Direito Econômico, Direito Tributário, Direito Financeiro e Direito 
Individual do Trabalho. 
 
Vertical: Direito Constitucional I e II, Direito Econômico, Direito Tributário, Direito Financeiro e Direito 
Individual do Trabalho. 
 
Competências Gerais 
 
- leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida 
utilização das normas técnico-jurídicas; 
- interpretação e aplicação do Direito; 
- pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito; 
- adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias, administrativas ou judiciais, com a devida 
utilização de processos, atos e procedimentos; 
- correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito; 
- utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica; 
- julgamento e tomada de decisões; 
- domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e aplicação do Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, 
comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 
Competências Específicas 
- leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida 
utilização das normas técnico-jurídicas na busca da satisfação dos direitos sociais; 
- interpretação e aplicação dos direitos sociais, adequados ao caso concreto; 
- pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito, atentando 
para o acompanhamento constante da legislação previdenciária; 
- adequada atuação técnico-jurídica na instância previdenciária administrativa e judicial, com a devida 
utilização de processos, atos e procedimentos; 
- utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica no que se refere às 
políticas de proteção social, em especial no Brasil e América Latina; 
- julgamento e tomada de decisões de acordo com o regramento previdenciário atual. 
 
Habilidades Gerais 
- desenvolver a capacidade de leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou 
normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas; 
- desenvolver a capacidade de interpretação e aplicação do Direito; 
- incentivar a pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do 
Direito; 
- desenvolver a capacidade de atuação técnico-jurídica adequada, em diferentes instâncias, administrativas 
ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos; 
- utilizar adequada terminologia jurídica ou da Ciência do Direito; 
- desenvolver a capacidade de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica; 
- desenvolver a capacidade de julgamento e tomada de decisões; 
- dominar tecnologias e métodos para permanente compreensão e aplicação do Direito. 
 
Habilidades Específicas 
- conhecer os instrumentos técnico-jurídicos Direito da seguridade social; 
- interpretar os textos previdenciário, legais e jurisprudenciais; 
- contextualizar o Direito Previdenciário no universo das outras disciplinas, bem como as outras ciências; 
- operacionalizar a interdisciplinaridade no Direito Previdenciário. 
 
Conteúdo Programático 
 
 
 
 
Estratégias de Ensino e Aprendizagem (metodologias de sala de aula) 
Aulas expositivas dialógico-dialéticas. Trabalhos individuais e em grupo e preparação de seminários. 
 
Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem 
A avaliação do processo de ensino e aprendizagem deve ser realizada de forma contínua, cumulativa e 
sistemática com o objetivo de diagnosticar a situação da aprendizagem de cada aluno, em relação à 
programação curricular. Funções básicas: informar sobre o domínio da aprendizagem, indicar os efeitos da 
metodologia utilizada, revelar conseqüências da atuação docente, informar sobre a adequabilidade de 
currículos e programas, realizar feedback dos objetivos e planejamentos elaborados, etc. 
 
Para cada avaliação o professor determinará a(s) formas de avaliação podendo ser de duas formas: 
 
1ª – uma prova com peso 10,0 (dez) ou uma prova de peso 8,0 e um trabalho de peso 2,0 
 2ª – uma prova com peso 10,0 (dez) ou uma prova de peso 8,0 e um trabalhode peso 2,0 
 
Avaliação Somativa 
A aferição do rendimento escolar de cada disciplina é feita através de notas inteiras de zero a dez, 
permitindo-se a fração de 5 décimos. 
O aproveitamento escolar é avaliado pelo acompanhamento contínuo do aluno e dos resultados por ele 
obtidos nas provas, trabalhos, exercícios escolares e outros, e caso necessário, nas provas substitutivas. 
Dentre os trabalhos escolares de aplicação, há pelo menos uma avaliação escrita em cada disciplina no 
bimestre. 
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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, 
comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 
O professor pode submeter os alunos a diversas formas de avaliações, tais como: projetos, seminários, 
pesquisas bibliográficas e de campo, relatórios, cujos resultados podem culminar com atribuição de uma 
nota representativa de cada avaliação bimestral. 
Em qualquer disciplina, os alunos que obtiverem média semestral de aprovação igual ou superior a sete 
(7,0) e freqüência igual ou superior a setenta e cinco por cento (75%) são considerados aprovados. 
Após cada semestre, e nos termos do calendário escolar, o aluno poderá requerer junto à Secretaria-Geral, 
no prazo fixado e a título de recuperação, a realização de uma prova substitutiva, por disciplina, a fim de 
substituir uma das médias mensais anteriores, ou a que não tenha sido avaliado, e no qual obtiverem como 
média final de aprovação igual ou superior a cinco (5,0). 
 
Sistema de Acompanhamento para a Recuperação da Aprendizagem 
Serão utilizados como Sistema de Acompanhamento e Nivelamento da turma os Plantões Tira-Dúvidas que 
são realizados sempre antes de iniciar a disciplina, das 18h00min às 18h50min, na sala de aula. 
 
Recursos Necessários 
Humanos 
Professor. 
Físicos 
Laboratórios, visitas técnicas, etc. 
Materiais 
 Recursos Multimídia. 
 
Bibliografia 
Básica 
 
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.I Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.II. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 
OPTIZ, Oswaldo; OPTIZ, Silvia C.B..Curso Complento de Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, 2007. 
SILVA, Leandro Ribeiro da. Propriedade Rural. Rio de Janeiro: 2008. 
PEREIRA, Lutero de Paiva. Crédito Rural-Limites da Legalidade. São Paulo: Juruá Editora, 1998. 
 
Complementar 
 
BARROSO, Lucas Abreu. Direito Agrário na Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 
ROCHA, Olavo Acyr de Lima. Desapropriação no Direito Agrário. São Paulo: Atlas, 1992. 
BORGES, Antonio Moura. Curso Completo de Direito Agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007. 
OLESKOVICK, Carlos Henrique. Direito Agrário. São Paulo: Fortium, 2008. 
MARQUESI, Roberto Wagner. Direitos Reais Agrários e Função Social. São Paulo: Juruá. 
 
 
Periódicos 
 
Jornais: Zero Hora, Folha de São Paulo, Gazeta do Sul, entre outros. Jornais eletrônicos: Clarín (Argentina); 
El País (Espanha); El País (Uruguai); Le Monde (França); Le Monde Diplomatique (França). Revistas: 
 
Revistas: Magister, Revista dos Tribunais, Revista do Conselho Federal de Justiça. 
 
Sites para Consulta 
 
www.tjrs.jus.br 
WWW.cnj.jus.br 
WWW.cjf.jus.br 
www.trf4.gov.br 
www.senado.gov.br 
www.stf.gov.br 
www.stj.gov.br 
www.ihj.org.br 
www.oab-rs.org.br 
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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, 
comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 
Outras Informações 
Endereço eletrônico de acesso à página do PHL para consulta ao acervo da biblioteca: 
http://192.168.1.201/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl.xis&cipar=phl8.cip&lang=por 
 
Cronograma de Atividades 
Aula Consolidação Avaliação Conteúdo Procedimentos Recursos 
1ª 
2ª 
3ª 
4ª 
5ª 
6ª 
7ª 
 1 
 1 
8ª 
9ª 
10ª 
11ª 
12ª 
13ª 
 2 
 2 
 3 
 
Legenda 
Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos 
Código Descrição Código Descrição Código Descrição 
AE Aula expositiva AE Aula expositiva AE Aula expositiva 
TG Trabalho em 
grupo 
TG Trabalho em grupo TG Trabalho em grupo 
TI Trabalho 
individual 
TI Trabalho individual TI Trabalho individual 
SE Seminário SE Seminário SE Seminário 
 
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DIREITO AGRÁRIO 
Profa. Janaína Machado Sturza 
2010/02 
 
 
 
 
DIREITO AGRÁRIO, SEU CONCEITO E ABRANGÊNCIA 
 
Antecedentes históricos: O direito agrário, como ramo da ciência jurídica, é de 
estudo recente no Brasil. Seu nascimento, com autonomia própria, tem um marco 
inicial dentro do direito positivado: é a Emenda Constitucional nº 10, de 10.11.64 que 
outorgou a competência à União para legislar sobre a matéria ao acrescentar ao art. 5º, 
inciso XV, letra a, da Constituição de 1946, a palavra agrário. Assim, entre outras 
competências, a União também passou a legislar sobre direito agrário. O exercício 
legislativo dessa competência ocorreu 20 dias após, ou seja, em 30.11.64, quando foi 
promulgada a Lei n° 4.504, denominada Estatuto da Terra. 
O surgimento desse sistema jurídico diferenciado não ocorreu por acaso. A 
pressão política, social e econômica dominante naquela época forçaram a edição de 
seu aparecimento, até como forma de justificação ao movimento armado que eclodira 
poucos meses antes e que teve como estopim o impedimento a um outro movimento 
que pretendia, especificamente no universo fundiário, eliminar a propriedade como 
direito individual. Dessa forma, toda a idéia desse novo direito, embora de origem 
político institucional revolucionária, tem contornos nitidamente sociais, pois seus 
dispositivos claramente visam a proteger o homem do campo em detrimento do 
proprietário rural. A sua proposta, portanto, lastreou-se no reconhecimento de que 
havia uma desigualdade enorme entre o homem que trabalhava a terra e aquele que a 
detinha na condição de proprietário ou possuidor permanente. 
Antes de seu surgimento, as relações e os conflitos agrários eram estudados e 
dirimidos pela ótica do direito civil, que é todo embasado no sistema de igualdade de 
vontades. O trabalhador rural, por essa ótica, tinha tanto direito quanto o homem 
proprietário das terras onde trabalhava. 
 
Denominação: A denominação do novo ramo do direito como agrário tem 
vinculação etimológica com a palavra ager, que em latim significa campo, mas com a 
particularidade de também abranger tudo aquilo suscetível de produção nessa área. 
Como a pretensão do novo direito era de reestruturar toda a atividade no campo, com 
ênfase também nas mudanças de produtividade, a palavra ager surgiu como mais 
adequada à nova sistemática jurídica. 
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É certo que a palavra rus, também latina, significa campo, de onde resultante o 
termo rural, mas tem o significado daquilo que não é urbano. Assim, em decorrência de 
sua generalidade, deixou ela de ser utilizada para denominar o novo direito. 
 
Conceito: Em decorrência da forte estrutura legislativa existente e da 
complexidade de atribuições que ela pretende abranger, é quase impossível a 
pretensão de se conceituar direito agrário. Por isso, de forma concisa, Direito Agrário 
pode ser conceituado como o ramo do direito positivo que regula as relações jurídicas 
do homem com a terra. Ou ainda, Direito Agrário é o conjunto de normas imperativas e 
supletivas e princípios jurídicos de produtividade e justiça social de direito público e de 
direito privado, que tem como finalidade, disciplinar as relações emergentes da 
atividade do homem sobre a terra (atividade rural), tendo em vista o progresso social e 
econômico do rurícolae o enriquecimento da comunidade com base na função social. 
 
Objeto das atividades agrárias: O objeto do direito agrário é toda ação humana 
no sentido da produção orientada, no qual há a participação ativa da natureza, visando 
à conservação das fontes produtivas naturais, pois a atividade agrária é o resultado da 
atuação humana sobre a natureza com participação funcional do processo produtivo e 
tem três aspectos fundamentais, que são: 
- Explorações rurais típicas: que compreendem a lavoura (lavoura temporária: 
arroz, feijão e milho e lavoura permanente: café, cacau, laranja etc.), o extrativismo 
animal e vegetal, a pecuária de pequeno, médio e grande porte e a hortigranjearia 
(hortaliças, ovos etc.); 
- Exploração rural atípica ou beneficiamento ou transformação dos produtos 
rústicos (matéria-prima): que compreende a agroindústria, que são os processos 
industrializantes desenvolvidos no limite territorial da produção (produção de farinha, 
beneficiamento de arroz etc.); 
- Atividade complementar da exploração agrícola, ou seja, e a atividade final do 
processo produtivista: que compreende o transporte e a comercialização dos produtos. 
No qual se situa no setor terciário da economia, sendo a primeira considerada como 
prestação de serviços de serviços e a segunda, como comercialização, atividade 
tipicamente mercantil (comercial). 
 
Características: O Direito Agrário tem duas características essenciais. A primeira 
delas é a imperatividade de suas regras. Isso significa dizer que existe uma forte 
intervenção do Estado nas relações agrárias. Os sujeitos dessas relações quase não 
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têm disponibilidade de vontade, porque tudo já está previsto em lei, cuja aplicação é 
obrigatória. O legislador, assim, estabeleceu o comando; é quem diz o que se deve 
fazer depois do que se resolveu fazer. Toda essa estrutura legal está voltada para o 
entendimento de que as relações humanas no campo são naturalmente desiguais pelo 
forte poder de quem tem a terra, solapando o homem que apenas nela trabalha. A 
cogência, a imperatividade desse direito, portanto, se impõe porque suas regras seriam 
nitidamente protetivas ao homem trabalhador. Têm-se, dessa forma, regras fortes para 
a proprietário da terra. O estabelecimento da imperatividade seria resultante da não-
modificação do que foi regrado. A segunda característica do direito agrário é de que 
suas regras são sociais. Aqui reside o ponto que diferencia as regras do direito agrário 
daquelas de direito civil. Enquanto estas buscam sempre manter o equilíbrio entre as 
partes, voltando-se para o predomínio da autonomia de vontades, as regras de direito 
agrário carregam com nitidez uma forte proteção social. Como os homens que 
trabalham no campo constituem quase a universalidade na aplicação das regras 
agrárias, em contrapartida ao pequeno número de proprietários rurais, o legislador 
procurou dar àqueles uma forte proteção jurídica, social. 
 
Fontes do direito agrário: Constituem-se fontes do Direito Agrário, além da 
Constituição Federal, as normas infra-constitucionais constantes da lei, dos decretos, 
portarias e normas regulamentadoras da atividade agrária, bem como os costumes, 
como fonte consuetudinária, e a jurisprudência dos tribunais, daí poderemos 
sistematizá-las da seguinte forma: 
 a)- a Constituição Federal; 
 b)- o direito legislado federal; 
 c)- o costume; 
 d)- a jurisprudência. 
 Como fonte constitucional de Direito Agrário, a Constituição Federal vigente 
possui, dentre outros, os seguintes dispositivos regradores: 
 a)- Garantia do direito de propriedade, cf. inciso XXII, art. 5º; 
 b)- A função social como princípio basilar – inciso XXIII, art. 5º; 
 c)- A desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária – inciso 
XXIV, art. 5º; 
 d)- Proteção à pequena propriedade rural contra débitos decorrentes de sua 
atividade produtiva – inciso XXVI, art. 5º; 
 e)- Capacidade da União para legislar sobre direito agrário – art. 22, inciso I; 
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 f)- Competência comum da União, Estados e Distrito Federal de proteger o meio 
ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas (inc. VI, art. 23); 
preservar as florestas, a fauna e a flora (inc. VII, art. 23) e fomentar a produção 
agropecuária e organizar o abastecimento alimentar (inc. VIII, art. 23, CF); 
 g)- Competência da União para desapropriar imóveis rurais, por interesse social, 
para fins de reforma agrária, promovendo a política agrícola e fundiária e a reforma 
agrária (Capítulo III, da Constituição Federal). 
Registre-se, por oportuno, que a fonte primária, também chamada de fonte de 
criação, comum a todos os ramos do direito privado, é a vontade das partes, que 
vamos encontrar embutida nos usos e costumes que fizeram nascer, antes mesmo do 
surgimento do contrato, o vínculo obrigacional entre os sujeitos da relação jurídica 
agrária. Digamos que ainda hoje essa fonte é prevalente, porquanto é a partir do 
surgimento da vontade de contratar que nasce o instrumento regrador do vínculo 
obrigacional, o contrato. Este, por sua vez, terá que se ajustar aos ditames da 
legislação, constitucional e infra-constitucional. Portanto, o costume, ainda que não se 
constitua em fonte imperativa guarda relevante importância histórica. 
A Constituição, pois, é a mais importante fonte formal de produção estatal do 
Direito Agrário, trazendo para o mundo do direito os princípios fundamentais, 
assegurados superiormente mercê dos obstáculos ao processo de revisão 
constitucional, o que lhes empresta o sêlo da imodificabilidade. 
 
Princípios fundamentais: O que devemos entender por princípios fundamentais 
de Direito Agrário ontologicamente? Essa é a primeira indagação que se há de impor 
para delimitação do campo de nosso estudo. Segundo o sistema, temos que princípios 
fundamentais de um determinado ramo da Ciência do Direito são aqueles sobre os 
quais o sistema jurídico pode fazer opção, considerando aspectos políticos e 
ideológicos. Partindo dessa premissa, teremos que considerar que, por isso mesmo, 
são princípios que admitem oposição frente a outros, de conteúdo diverso, tudo 
dependendo da tolerância do sistema em que se encontrem inseridos. Diferem, 
portanto, dos chamados princípios informativos, que são verdadeiros postulados 
irremovíveis do sistema, por não admitirem oposição, tais como os chamados 
princípios a)- lógico, b)- jurídico, c)- político e, d)- econômico, de franca aplicabilidade 
no sistema processual, a que o Direito Agrário terá que se vincular no instante em que 
passar a dispor, como os demais ramos do sistema, de um direito processual agrário. 
Os princípios informativos, pois, são comuns a todos os ramos da Ciência do 
Direito. Já os princípios fundamentais, diversamente, são aqueles que se podem 
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moldar, ou seja, podem se ajustar à ocasião, daí o poderem se opor um a outro que 
seja mais adequado ao fato e ao direito em discussão. Eis porque é conveniente 
denominarmos tais princípios de princípios peculiares ao Direito Agrário, exatamente 
porque guardam características de princípios próprios, não axiomáticos, exatamente 
porque têm necessidade de características ideológicas e admitem, portanto, 
antagonismo. 
Assim entendido poderemos afirmar que se constituem princípios fundamentais 
de Direito Agrário, porque lhe são peculiares, próprios, dentre outros: 
 a)- a função social da propriedade; 
 b)- o progresso econômico e social do rurícola; 
 c)- o combate sistemático ao minifúndio e ao latifúndio; 
 d)- o imposto territorial rural. 
Para o agrarista Paulo Torminn Borges, esses princípios fundamentais se 
elastecem num rol de quatorze tópicos, apontando ele como tais:a)- a função social da propriedade; 
 b)- o progresso econômico do rurícola; 
 c)- o progresso social do rurícola; 
 d)- fortalecimento da economia nacional, pelo aumento da produtividade; 
 e)- o desenvolvimento do sentimento de liberdade (pela propriedade) e de 
igualdade (pela oferta de oportunidades concretas); 
 f)- implantação da justiça distributiva; 
 g)- eliminação das injustiças sociais no campo; 
 h)- povoamento da zona rural, de maneira ordenada; 
 i)- combate ao minifúndio; 
 j)- combate ao latifúndio; 
 l)- combate a qualquer tipo de propriedade rural ociosa, sendo aproveitável e 
cultivável; 
 m)- combate à exploração predatória ou incorreta da terra; 
 n)- combate aos mercenários da terra. 
Esses princípios serão estudados separadamente, ainda que eles apareçam aqui, 
tão-somente, como indicadores de sua existência e integrantes de um arcabouço 
sistemático. Preferimos, assim, para melhor disciplinamento didático, nos atermos ao 
rol que indicamos, ainda que a classificação do mestre goiano não mereça ser 
desprezada, prestando-se, sem dúvida, para aprofundamentos futuros. 
 
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Natureza jurídica: Existe um dualismo jurídico, ou seja, o Direito Agrário é 
público quando se trata do tema de desapropriação por interesse social, para fins de 
reforma agrária; e privado quando se estuda a estrutura dos contratos de 
arrendamentos e parcerias. 
 
Autonomia: O debate em torno da autonomia de um ramo do Direito precisa ser 
sempre considerado dentro de sua relatividade, eis que, na prática, de maneira mais ou 
menos intensa, existe uma certa dependência entre todos os ramos. 
De qualquer sorte, o estudo da autonomia do Direito Agrário vem sendo tratado pelos 
doutrinadores brasileiros, a partir da análise de quatro aspectos, tal como o fazem 
alguns agraristas dos países vizinhos, Uruguai e Argentina: 
a) autonomia legislativa 
b) autonomia didática 
c) autonomia científica 
d) autonomia judiciária 
A autonomia legislativa, no Brasil, tem seu “certificado de nascimento” com a 
promulgação da Emenda Constitucional nº 10, de 9 de novembro de 1964, que alterou 
a Constituição vigente (art. 5º, inciso XV, letra “a”), para incluir o Direito Agrário entre 
os ramos do Direito de competência legislativa exclusiva da União. 
Segue-se à E.C. nº 10/64, a promulgação do Estatuto da Terra (Lei nº 4.504), em 30 de 
novembro de 1964, constituindo-se, desde então, no documento legislativo mais 
importante em matéria de Direito Agrário. 
Em termos legislativos, cabe registrar, ainda, que a Constituição Federal vigente, 
em seu artigo 22, inciso I, reafirma a competência exclusiva da União para legislar 
sobre Direito Agrário. 
A autonomia didática começa a esboçar-se em 1972, quando o Conselho 
Federal de Educação publica, inicialmente, a Resolução nº 3, de 25.02.72, e, logo 
após, a Deliberação nº 162, incluindo a disciplina Direito Agrário, como opcional ou 
eletiva, no Curso de Direito. 
Atualmente, o Direito Agrário é disciplina obrigatória em muitos Cursos de Direito, 
não apenas no Brasil, mas, igualmente, em todos os países do Mercosul, em diversos 
outros da América Latina, na Itália, Espanha, França (onde adotou a denominação 
Droit Rural) e outros. 
A autonomia científica vem evidenciada, desde logo, pela reconhecida 
existência de princípios gerais próprios, distintos dos princípios gerais do Direito. Tem o 
Direito Agrário, também, estrutura geral própria, devidamente esquematizada a partir 
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do Estatuto da Terra (institutos básicos), com normas especializadas e diferenciadas. 
De outra parte, a bibliografia específica sobre Direito Agrário vem crescendo, ano a 
ano, tanto em quantidade como em qualidade e, mais recentemente, até mesmo, com 
obras abordando temas específicos dos diversos países do Mercosul. 
Ainda em termos científicos, destaque-se a realização de inúmeros Congressos, 
Simpósios e Encontros de Direito Agrário, registrando-se, em 1998, na cidade de Porto 
Alegre, Rio Grande do Sul, o Congresso Mundial de Direito Agrário, organizado pela 
União Mundial de Agraristas Universitários, além da participação bastante expressiva 
de agraristas brasileiros em muitos eventos internacionais, levados a efeito nos mais 
diversos lugares do mundo. 
Por fim, a autonomia judiciária, que se manifesta, de modo especial, em dois 
aspectos: primeiro, através do disposto no artigo 126 da Constituição Federal, abrindo 
caminho para a criação de uma Justiça Agrária Especializada, a exemplo do que já 
existe em outros países; segundo, pela existência de uma ampla jurisprudência 
eminentemente agrária, notadamente nos Tribunais, de Alçada ou de Justiça, dos 
Estados onde a atividade agropastoril é bastante desenvolvida. 
 
Relação do direito agrário com outros ramos do direito: Existem vários ramos 
jurídicos que se relacionam, mas todos vêm de um tronco comum que é o direito. O 
direito é um fenômeno humano e social, pois onde há sociedade, há direito. As normas 
jurídicas surgiram com os povos antigos. Devido à complexidade das relações sociais e 
o conflito de interesses entre Estado e cidadãos, as normas jurídicas receberam 
tratamento especial. O direito evoluiu, conforme a sociedade foi evoluindo, formando-se 
assim, os diversos ramos do Direito. 
Existe um inter-relacionamento entre os diversos ramos do direito. O direito 
agrário se relaciona com vários ramos do direito, pois a sociedade surgiu ligada ao 
“agro”, sendo necessário a normatização das relações agrárias nos dias atuais. 
Serão citadas significantes relações do direito agrário com outros ramos do 
direito, no qual veremos agora. 
Direito Internacional Público: Procura definir os interesses comuns entre os 
Estados, com o objetivo de melhorara a convivência entre todos os povos da terra. 
Cabe, portanto, a Organização das Nações Unidas – ONU- coordenar entre os diversos 
países, convenções e tratados internacionais, no qual obriga todos os países cumprir o 
que foi determinado. A relação com o direito agrário, se dá, principalmente através de 
órgãos como a FAO, ligada à ONU, que trata de assuntos pertinentes à alimentação e 
à agricultura. Esta relação se torna evidente frente as terras agricultáveis existentes no 
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mundo e a necessidade de sua conservação para melhor produzir alimentos à 
civilização. 
Direito Constitucional: O direito constitucional define a política agrária de um 
país, em relação à propriedade da terra rural. Garante o direito da propriedade, com a 
repartição de terras e diretrizes para o desenvolvimento agrário de um determinado 
país. 
Direito Comercial: Sua relação se dá pela comercialização da produção agrária, 
armazenamento dos produtos agrícola, crédito rural e seguro agrícola, pois há 
empreendimentos agrários e implantação de agroindústrias. 
Direito Internacional Privado: Seu objetivo é regular as relações entre as 
pessoas e seus interesses, em função do deslocamento de um país para outro. 
Envolve, portanto, pessoas físicas, jurídicas ou estrangeiras, no qual o direito agrário 
se beneficia com venda de imóvel rural e à comercialização de imigrantes estrangeiros. 
Direito do Trabalho: Sua relação se dá pelo trabalho rural. Os doutrinadores se 
dividem em relação ao trabalhador rural, no que concerne sua regulamentação, se é o 
direito do trabalho ou o direito agrário. Existe o Direito Sindical para o trabalhador rural, 
que regula as entidades representativas dos trabalhadores rurais. 
Direito Administrativo: O direito administrativo instrumentaliza a política agrária 
que se pretende implantar, regulando a organização e a atividade agrária. Vários 
órgãos da administração pública que cuidam da reforma agrária. 
Direito Financeiro e Tributário: Existemimpostos sobre a propriedade territorial 
rural, no qual o direito financeiro e tributário regula e aplica os tributos e contribuições 
fiscais e parafiscais, taxas e multas, portanto, para isso é necessário política agrária. 
Direito Civil: O direito civil é o que mais se relaciona com o direito agrário, pois 
no direito das obrigações há relação com os contratos agrários; no direito das coisas há 
relação com o imóvel rural; no direito das sucessões há formação de cadeias 
sucessórias de imóveis rurais. 
Direito Penal: Sua relação se dá com a danificação de prédios rurais , usurpação 
das águas, alteração das marcas dos animais, furto e roubo de animais e produtos 
agrícolas e várias outras infrações penais. 
 
 
 
 
 
 
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Referências: 
 
BÁSICA: 
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.I e II. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2007. 
OPTIZ, Oswaldo; OPTIZ, Silvia C.B..Curso Complento de Direito Agrário. São Paulo: 
Saraiva, 2007. 
SILVA, Leandro Ribeiro da. Propriedade Rural. Rio de Janeiro: 2008. 
PEREIRA, Lutero de Paiva. Crédito Rural-Limites da Legalidade. São Paulo: Juruá 
Editora, 1998. 
BARROSO, Lucas Abreu. Direito Agrário na Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 
2006. 
 
 
COMPLEMENTAR: 
ROCHA, Olavo Acyr de Lima. Desapropriação no Direito Agrário. São Paulo: Atlas, 
1992. 
GALDINO, Dirceu. Manual do direito do trabalhador rural. Federação da Agricultura do 
Estado do Paraná. São Paulo: Ltr, 1995. 
OLESKOVICK, Carlos Henrique. Direito Agrário. São Paulo: Fortium, 2008. 
TOURINHO NETO, Fernando. Introdução Crítica ao Direito Agrário. Sao Paulo: IMESP, 
2003. 
BORGES, Antonio Moura. Curso Completo de Direito Agrário. São Paulo: EDIJUR, 
2007. 
 
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DIREITO AGRÁRIO 
Profa. Janaína Machado Sturza 
2010/02 
 
 
 
 
ESTATUTO DA TERRA 
LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L4504.htm 
Acesso em: 08/08/2010 
 
 
Generalidades: 
 
O Estatuto da Terra foi criado pela lei 4.504, de 30-11-1964, sendo portanto uma 
obra do regime militar que acabava de ser instalado no país através do golpe militar de 
31-3-1964. 
 
Sua criação estará intimamente ligada ao clima de insatisfação reinante no meio 
rural brasileiro e ao temor do governo e da elite conservadora pela eclosão de uma 
revolução camponesa. Afinal, os espectros da Revolução Cubana (1959) e da 
implantação de reformas agrárias em vários países da América Latina (México, Bolívia, 
etc.) estavam presentes e bem vivos na memória dos governantes e das elites. 
 
As lutas camponesas no Brasil começaram a se organizar desde a década de 
1950, com o surgimento de organizações e ligas camponesas, de sindicatos rurais e 
com atuação da Igreja Católica e do Partido Comunista Brasileiro. O movimento em 
prol de maior justiça social no campo e da reforma agrária generalizou-se no meio rural 
do país e assumiu grandes proporções no início da década de 1960. 
 
No entanto, esse movimento foi praticamente aniquilado pelo regime militar 
instalado em 1964. A criação do Estatuto da Terra e a promessa de uma reforma 
agrária foi a estratégia utilizada pelos governantes para apaziguar, os camponeses e 
tranqüilizar os grandes proprietários de terra. 
 
As metas estabelecidas pelo Estatuto da Terra eram basicamente duas: a 
execução de uma reforma agrária e o desenvolvimento da agricultura. Três décadas 
depois, podemos constatar que a primeira meta ficou apenas no papel, enquanto a 
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segunda recebeu grande atenção do governo, principalmente no que diz respeito ao 
desenvolvimento capitalista ou empresarial da agricultura. 
 
Particularidades: 
 
O Código Agrário Brasileiro, Estatuto da Terra (lei nº 4.504/64) examina em 
muitos artigos o problema da reforma agrária e da política fundiária, adotando o método 
liberal e democrata de solução da matéria. 
 
Considera como reforma agrária o conjunto de medidas que visem a promover a 
melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a 
fim de atender aos princípios de justiça social e aumento de produtividade (Estatuto da 
Terra, art. 1º, § 1º). 
 
Não se deve confundir a reforma agrária com política agrária, entendida esta 
como conjunto de providências de amparo à propriedade da terra que se destinem a 
orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no sentido 
de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de 
industrialização do país (Estatuto da Terra, art. 1º, § 2º, e 47; e o Decreto nº 
55.891/65). 
 
No contexto atual de transformação gradativa da estrutura agrária brasileira, se 
apresenta como medida indispensável, o aproveitamento e uma melhor distribuição das 
terras públicas e particulares, visando a descentralização da propriedade rural e à 
valoração do trabalhador do campo com um melhoramento das suas condições de 
vida, expandindo assim, o setor industrial e econômico do país. 
 
Essa utilização justa e equilibrada das propriedades rurais, virá naturalmente 
diminuir a tensão agrária e contribuirá para solução do problema agrário, muito embora, 
tal aproveitamento e distribuição, por si mesmos, não sejam os únicos processos a 
serem adotados. 
 
O Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) prevê três tipos de propriedade: a 
propriedade familiar, o minifúndio e o latifúndio. Já a Constituição Federal vigente 
(CF/88) alude à pequena e média propriedade, bem como a propriedade produtiva. 
E a lei nº 8.629/93, é que regulamenta e que disciplina as disposições relativas à 
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reforma agrária previstas no capítulo III, Título VII, da Constituição federal de 1988, 
conceituando, assim a pequena e média propriedade (artigo 4º, II e III), além da 
propriedade produtiva (art. 6), que é aquela que, explorada econômica e racionalmente, 
atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, 
segundo índices fixados pelo órgão federal competente (INCRA). 
 
E dentro do problema agrário, onde a reforma agrária deve ser objetivamente 
planejada, a fim de compatibilizar tal rota com a política agrícola e fundiária, bem como, 
com a destinação de terras públicas e particulares, visando promover uma melhor 
distribuição e aproveitamento da terra, surge um conceito importante, na conceituação 
do regime de propriedade, qual seja o do módulo rural. 
 
O MÓDULO RURAL: SUA IMPORTÂNCIA NA DISTRIBUIÇÃO E 
APROVEITAMENTO DA TERRA 
 
A palavra "módulo" já existe de longa data no vernáculo, com o significado de 
quantidade equivalente a uma unidade de qualquer medida. Definem Funk e 
Wignalls (1959:818): "module. A standard or unit of measurement". No direito norte-
americano, há as chamadas land measures. 
 
A expressão "módulo rural", por sua vez, é usada em nosso direito agrário desde 
o Estatuto da Terra (lei nº 4504/64). Módulo rural é a quantidade mínima de terras 
prevista no imóvel rural para que não se transforme em minifúndio; é a unidade 
fundamental da terra. Área inferior ao módulo chama-se minifúndio; a área superior é 
chamada de latifúndio. 
 
O módulo rural equivale à área da propriedade familiar, variável não somente de 
região para região, como também de acordo com o modo de exploração da gleba. 
 
No fundo, como afirma Pinto Ferreira (1995:209): "o módulo rural confunde-se 
com a própria área da propriedade familiar". 
 
Conforme o art. 65 do Estatuto da Terra, o imóvel rural não é passível de divisão 
em áreas de dimensão inferior à do módulo da propriedade rural, a fim de impedir a 
fragmentação dos imóveis rurais e a constituição de novos minifúndios. 
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A idéia de módulo rural provém, sobretudo, do Estatuto da Terra e de um projeto 
apresentadopelo ex-deputado federal por São Paulo, Coutinho Cavalcanti; o projeto nº 
4.389/54. 
 
O módulo aparece assim, como um paradigma ou modelo de apreciação, tendo 
em vista a área e a dupla função que ele contém: estabilidade econômica e bem-estar 
do agricultor. 
 
Os módulos rurais e fiscais são qualificados através de hectares, variando de 
acordo com as diversas regiões do país. 
 
O módulo rural é destarte uma unidade agrária familiar para cada região do País e 
para cada forma de exploração. Como bem definiu César Cantanhede (Missão Fao, 
RJ, IBRA, 1968): 
 
 "É uma unidade de medida variável em função da região em que se situe o 
imóvel e o tipo de exploração predominante". 
 
Em conseqüência, o módulo rural no direito agrário brasileiro tem as seguintes 
características: 1) é uma medida de área; 2) é a área fixada para a propriedade 
familiar; 3) varia de conformidade com o tipo de exploração; 4) varia também de acordo 
com a região do país em que se acha localizado o imóvel rural; 5) implica um mínimo 
de renda, que deve ser identificada pelo menos com um salário mínimo; 6) a renda 
deve assegurar ao agricultor e a sua família não somente a subsistência, porém deve 
propiciar o progresso social e econômico; 7) é uma unidade de medida agrária que 
limita o direito de propriedade da terra rural. 
 
Conforme a legislação agrária dominante (Estatuto da Terra - Lei nº 4504/64, e 
Dec. Lei 57/66), a propriedade familiar é consagrada no módulo rural e não pode ser 
dividida. Esta é a orientação atual do Egrégio Supremo Tribunal Federal (STF). 
A propriedade familiar está bem definida no Estatuto da Terra (art.4º, II c/c o art. 
6º, I) e no Decreto 55.891/65 (arts. 11 a 23): 
 
 "Propriedade familiar, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo 
agricultor e sua família, lhe absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a 
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subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada 
região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros". 
 
Outro requisito da propriedade familiar é que sua área tenha o tamanho do 
módulo, porém variável conforme determinados fatores, como a situação geográfica, o 
clima, as condições de aproveitamento da terra, etc. 
 
Define Paulo Torminn Borges (apud Ferreira, 1995:213): "Em outras palavras, 
módulo rural é a área de terra que, trabalhada direta e pessoalmente por uma família 
de composição média, com auxílio apenas eventual de terceiro, se revela necessária 
para a subsistência e ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo ao progresso 
social e econômico da referida família". 
 
A forma para se achar o módulo se fundamenta na declaração para 
cadastramento, sendo individualizado no Certificado de Cadastro expedido pelo 
INCRA. 
 
Para efeito tributário (ITR), o módulo de propriedade foi substituído pelo módulo 
fiscal (Lei nº 6.746/79; Dec. nº 84.685/80). O módulo fiscal está regulado pelo art. 50 da 
Estatuto da Terra (lei nº 4.504/64), que serve para cálculo do Imposto Territorial Rural. 
 
Admitem-se os seguintes tipo de módulos, nominados conforme a atividade rural: 
a) exploração hortigranjeira; b) lavoura permanente; c) lavoura temporária; d) 
exploração pecuária de médio ou grande porte, visto que a exploração pecuária de 
pequeno porte é qualificada como hortigranjeira; e) exploração florestal. 
 
Já o minifúndio é uma área rural menor que a da propriedade familiar e é tido 
como nocivo à função social da terra. É "um imóvel rural de área e possibilidade 
inferiores às da propriedade familiar" (Estatuto da Terra, art. 4º, IV). 
 
Em suma, o minifúndio é o imóvel rural de área inferior à unidade econômica 
básica para determinada região e tipo de exploração. 
 
E o latifúndio pode ser definido, no direito agrário brasileiro, como o imóvel rural 
de área igual ou superior ao módulo (rural) que, mantida inexplorada ou com a 
exploração incorreta, ou, ainda, de dimensão incompatível com a razoável e justa 
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repartição da terra. Há dois tipos de latifúndio: o latifúndio por extensão e o latifúndio 
por exploração, falta de exploração ou exploração incorreta. 
 
 
Referências: 
 
BÁSICA: 
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.I e II. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2007. 
OPTIZ, Oswaldo; OPTIZ, Silvia C.B..Curso Complento de Direito Agrário. São Paulo: 
Saraiva, 2007. 
SILVA, Leandro Ribeiro da. Propriedade Rural. Rio de Janeiro: 2008. 
PEREIRA, Lutero de Paiva. Crédito Rural-Limites da Legalidade. São Paulo: Juruá 
Editora, 1998. 
BARROSO, Lucas Abreu. Direito Agrário na Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 
2006. 
 
COMPLEMENTAR: 
ROCHA, Olavo Acyr de Lima. Desapropriação no Direito Agrário. São Paulo: Atlas, 
1992. 
GALDINO, Dirceu. Manual do direito do trabalhador rural. Federação da Agricultura do 
Estado do Paraná. São Paulo: Ltr, 1995. 
OLESKOVICK, Carlos Henrique. Direito Agrário. São Paulo: Fortium, 2008. 
TOURINHO NETO, Fernando. Introdução Crítica ao Direito Agrário. Sao Paulo: IMESP, 
2003. 
BORGES, Antonio Moura. Curso Completo de Direito Agrário. São Paulo: EDIJUR, 
2007. 
 
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Direito Agrário 
Profa. Janaína Sturza 
 
 
O MÓDULO RURAL: SUA IMPORTÂNCIA NA DISTRIBUIÇÃO E 
APROVEITAMENTO DA TERRA 
 
 
 A palavra "módulo" já existe de longa data no vernáculo, com o significado de 
quantidade equivalente a uma unidade de qualquer medida. 
 Definem Funk e Wignalls (1959:818): "module. A standard or unit of 
measurement". No direito norte-americano, há as chamadas land measures. 
 A expressão "módulo rural", por sua vez, é usada em nosso direito agrário 
desde o Estatuto da Terra (lei nº 4504/64). Módulo rural é a quantidade mínima de 
terras prevista no imóvel rural para que não se transforme em minifúndio; é a 
unidade fundamental da terra. Área inferior ao módulo chama-se minifúndio; a 
área superior é chamada de latifúndio. 
 O módulo rural equivale à área da propriedade familiar, variável não somente 
de região para região, como também de acordo com o modo de exploração da 
gleba. 
 No fundo, como afirma Pinto Ferreira (1995:209): "o módulo rural confunde-se 
com a própria área da propriedade familiar". 
 Conforme o art. 65 do Estatuto da Terra, o imóvel rural não é passível de 
divisão em áreas de dimensão inferior à do módulo da propriedade rural, a fim de 
impedir a fragmentação dos imóveis rurais e a constituição de novos minifúndios. 
 A idéia de módulo rural provém, sobretudo, do Estatuto da Terra e de um 
projeto apresentado pelo ex-deputado federal por São Paulo, Coutinho Cavalcanti; o 
projeto nº 4.389/54. 
 O módulo aparece assim, como um paradigma ou modelo de apreciação, 
tendo em vista a área e a dupla função que ele contém: estabilidade econômica e 
bem-estar do agricultor. 
 Os módulos rurais e fiscais são qualificados através de hectares, variando de 
acordo com as diversas regiões do país. 
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 O módulo rural é destarte uma unidade agrária familiar para cada região do 
País e para cada forma de exploração. Como bem definiu César Cantanhede 
(Missão Fao, RJ, IBRA, 1968): 
 "É uma unidade de medida variável em função da região em que se situe o 
imóvel e o tipo de exploração predominante". 
 Em conseqüência, o módulo rural no direito agrário brasileiro tem as 
seguintes características: 1) é uma medida de área; 2) é a área fixada para a 
propriedade familiar; 3) varia de conformidade com o tipo de exploração; 4) varia 
também de acordo com a região do país em que se acha localizado o imóvel rural; 5) 
implica um mínimo de renda, que deve ser identificada pelo menos com um salário 
mínimo; 6) a renda deve assegurar ao agricultore a sua família não somente a 
subsistência, porém deve propiciar o progresso social e econômico; 7) é uma 
unidade de medida agrária que limita o direito de propriedade da terra rural. 
 Conforme a legislação agrária dominante (Estatuto da Terra - Lei nº 4504/64, 
e Dec. Lei 57/66), a propriedade familiar consagrada no módulo rural e não pode 
ser dividida. Esta é a orientação atual do Egrégio Supremo Tribunal Federal (STF). 
 A propriedade familiar está bem definida no Estatuto da Terra (art.4º, II c/c o 
art. 6º, I) e no Decreto 55.891/65 (arts. 11 a 23): 
 "Propriedade familiar, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado 
pelo agricultor e sua família, lhe absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a 
subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada 
região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros". 
 Outro requisito da propriedade familiar é que sua área tenha o tamanho do 
módulo, porém variável conforme determinados fatores, como a situação geográfica, 
o clima, as condições de aproveitamento da terra, etc. 
 Define Paulo Torminn Borges (apud Ferreira, 1995:213): "Em outras palavras, 
módulo rural é a área de terra que, trabalhada direta e pessoalmente por uma família 
de composição média, com auxílio apenas eventual de terceiro, se revela necessária 
para a subsistência e ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo ao progresso 
social e econômico da referida família". 
 A forma para se achar o módulo se fundamenta na declaração para 
cadastramento, sendo individualizado no Certificado de Cadastro expedido pelo 
INCRA. 
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 Para efeito tributário (ITR), o módulo de propriedade foi substituído pelo 
módulo fiscal (Lei nº 6.746/79; Dec. nº 84.685/80). O módulo fiscal está regulado 
pelo art. 50 da Estatuto da Terra (lei nº 4.504/64), que serve para cálculo do Imposto 
Territorial Rural. 
 Admitem-se os seguintes tipo de módulos, nominados conforme a atividade 
rural: a) exploração hortigranjeira; b) lavoura permanente; c) lavoura temporária; d) 
exploração pecuária de médio ou grande porte, visto que a exploração pecuária de 
pequeno porte é qualificada como hortigranjeira; e) exploração florestal. 
 Já o minifúndio é uma área rural menor que a da propriedade familiar e é tido 
como nocivo à função social da terra. É "um imóvel rural de área e possibilidade 
inferiores às da propriedade familiar" (Estatuto da Terra, art. 4º, IV). 
 Em suma, o minifúndio é o imóvel rural de área inferior à unidade econômica 
básica para determinada região e tipo de exploração. 
 E o latifúndio pode ser definido, no direito agrário brasileiro, como o imóvel 
rural de área igual ou superior ao módulo (rural) que, mantida inexplorada ou com a 
exploração incorreta, ou, ainda, de dimensão incompatível com a razoável e justa 
repartição da terra. 
 Há dois tipos de latifúndio: o latifúndio por extensão e o latifúndio por 
exploração, falta de exploração ou exploração incorreta. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BÁSICA: 
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.I e II. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2007. 
OPTIZ, Oswaldo; OPTIZ, Silvia C.B..Curso Complento de Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, 2007. 
SILVA, Leandro Ribeiro da. Propriedade Rural. Rio de Janeiro: 2008. 
PEREIRA, Lutero de Paiva. Crédito Rural-Limites da Legalidade. São Paulo: Juruá Editora, 1998. 
BARROSO, Lucas Abreu. Direito Agrário na Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 
 
COMPLEMENTAR: 
ROCHA, Olavo Acyr de Lima. Desapropriação no Direito Agrário. São Paulo: Atlas, 1992. 
GALDINO, Dirceu. Manual do direito do trabalhador rural. Federação da Agricultura do Estado do 
Paraná. São Paulo: Ltr, 1995. 
OLESKOVICK, Carlos Henrique. Direito Agrário. São Paulo: Fortium, 2008. 
TOURINHO NETO, Fernando. Introdução Crítica ao Direito Agrário. Sao Paulo: IMESP, 2003. 
BORGES, Antonio Moura. Curso Completo de Direito Agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007. 
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DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO CASO PRÁTICO 
 
 O caso em exame retrata um imóvel urbano pertencente ao proprietário "A", 
que totaliza uma área de 10.000 m² (dez mil metros quadrados). Contígua a esse 
terreno há uma área rural com área total de 15.000 m² (quinze mil metros 
quadrados), cuja posse foi adquirida também por A, em uma cessão de direitos 
hereditários, há cerca de 8 anos. O proprietário A intenta registrar em seu nome a 
área rural para, em seguida, unificar os imóveis sob uma única matrícula, 
espelhando nos dados registrais uma unidade fática já existente, o que permitirá 
uma segurança jurídica necessária à exploração econômica da propriedade. 
 Contudo, alguns problemas se impõem quando da tentativa de registro do 
imóvel rural, obstaculizando a subseqüente unificação de matrículas: 
 a) O título de aquisição da área rural não tem a higidez necessária ao registro: 
a cessão de direitos hereditários não atende aos requisitos de especialidade 
objetiva, uma vez que, antes da formalização da partilha, não há como se individuar 
o imóvel; 
 b) A área rural em questão seria inferior ao módulo rural para a região, de 
acordo com a Instrução Normativa 50, de 26 de agosto de 1997 do INCRA – de 
30.000 m² (trinta mil metros quadrados), ou 3 (três) hectares – o que inviabiliza o seu 
ingresso registral sob matrícula autônoma. E, mesmo há hipótese de sua aglutinação 
ao terreno urbano, a área somada – de 25.000 m² (vinte e cinco mil metros 
quadrados), ou 2,5 (dois e meio) hectares – continuaria sendo inferior ao módulo 
rural; 
 c) A lei veda a consideração de um imóvel como parcialmente rural e urbano, o 
que enseja a necessidade, no caso de unificação de matrículas, de se optar 
forçosamente por uma ou outra qualificação; 
 Como se verá, a ausência de registro da área rural ocasiona uma insegurança 
jurídica que impede que lhe seja dada uma destinação econômica que efetive a 
realização de sua função social, pois mostra-se temerário qualquer investimento 
enquanto a área continuar a integrar o espólio de seu falecido proprietário. 
 
Aquisição das áreas 
 A aquisição da fração urbana se deu em 1990, através de uma compra e 
venda de 5 lotes, de 2.000 m² (dois mil metros quadrados), cada. Nessa ocasião, 
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operou-se a reunião de matrículas, pois se tratava de imóveis limítrofes, nos termos 
do artigo 234, da Lei Federal nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – Lei de 
Registros Públicos (LRP). 
 Já a parte rural, de 15.000 m² (quinze mil metros quadrados), foi negociada 
com todos os herdeiros do antigo proprietário, através de uma cessão de direitos 
hereditários. A despeito do longo tempo de realização do negócio, quase 8 anos, 
não se deu qualquer andamento à formalização da partilha, o que está a impedir a 
tentativa de A no sentido de viabilizar o registro do terreno em seu nome. 
 
Título de aquisição da área rural 
 A cessão de direitos hereditários, como se sabe, é título inapto ao registro. Na 
lição histórica de Afrânio de Carvalho, desde que entrou em vigor o Código Civil de 
1916, 
 repontou por toda parte a tentativa de, para garantia do cessionário contra 
dupla venda, obter a transcrição da venda ou cessão de herança sob o fundamento 
de ser considerado imóvel o direito à sucessão aberta (Cód. Civ., art. 44, III). A 
tentativa falhou por não ser a herança um imóvel corpóreo, mas uma universitas 
juris, composta de direitos e obrigações, móveis e imóveis. Se o próprio tronco, de 
onde deriva a cessão, o direito à sucessão aberta, está isento de transcrição, por ser 
a sucessão um modo autônomo de adquirir a propriedade (Cód. Civ., arts. 530, IV, e 
1.572), com mais forte razão há-de estar a sua derivação, que,no formalismo 
registral, teria posição também dependente daquela (CARVALHO, 1977, p. 49). 
 O direito registral tem como premissa a necessidade de uma pormenorizada 
descrição do imóvel, de modo a permitir a sua precisa individuação. Ademais, uma 
das funções precípuas do Registro Imobiliário é permitir que o Estado conheça a 
exata condição jurídica de seu território. Nessa perspectiva é que se veda, e.g., o 
registro de frações ideais. 
 Por essa razão, a idéia do registro de uma cessão hereditária fere um dos 
princípios mais caros ao Direito Registral Imobiliário: o da Especialidade. 
 O Princípio da Especialidade consiste no fato de que 
 toda inscrição deve recair sobre um objeto precisamente individuado. Esse 
princípio, consubstancial ao registro, desdobra o seu significado para abranger a 
individualização obrigatória de (...) todo imóvel que seja objeto de direito real, a 
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começar pelo de propriedade, pois a inscrição não pode versar sobre todo o 
patrimônio ou sobre um número indefinido de imóveis. (CARVALHO, 1977, p. 219). 
 Desse modo, é cediço que, quando se opera a partilha de um patrimônio pelo 
falecimento de seu titular, 
 essa partilha, conforme for o monte-mor, tanto poderá atribuir a cada um dos 
herdeiros imóveis, a serem individuados posteriormente. No primeiro caso, a partilha 
esgotará tudo quanto interessa aos herdeiros obter e ao registro inscrever, ao passo 
que, no segundo, ela ficará em meio de uma operação, que só se completará com a 
divisão e demarcação dos imóveis. Portanto, a partilha, conquanto se inclua entre os 
juízos divisórios, nem sempre o é de modo pleno, pois costuma transformar apenas 
uma indivisão absoluta, em que o direito de cada interessado se acha difuso no 
monte-mor, numa indivisão relativa, em que esse direito se radica em certos imóveis, 
mas em partes aritméticas, de modo que, a rigor, pode desdobrar-se deveras nestas 
duas alternativas: a. divisória, quando o pagamento de cada um dos herdeiros é 
composto de imóveis inteiros, o que faz cessar desde logo a indivisão hereditária; b. 
semidivisória, quando o pagamento de cada um dos herdeiros é formado de partes 
de imóveis, o que não faz cessar desde logo a indivisão hereditária, exigindo ainda o 
juízo da divisão e demarcação (...). Não obstante, tanto é obrigatória a inscrição do 
formal de partilha quando o imóvel cabe por inteiro no quinhão do herdeiro, como 
quando apenas parte dele aí caiba por haver ele sido atribuído em condomínio a 
mais de um herdeiro." (CARVALHO, 1977, p. 228) 
 Não sem razão, pois, o artigo 167, I, 25, da Lei de Registros Públicos, 
estabelece o registro do formal de partilha e, diversamente, não prevê a 
possibilidade de registro da cessão de direitos hereditários. 
 Sendo vedado o registro de tal título aquisitivo, o proprietário A teria duas 
possibilidades de atuação: a) requerer a partilha, nos termos em que lhe faculta o 
artigo 2.013 do Código Civil, já que se encontra na qualidade de cessionário; ou b) 
aguardar o prazo de 10 anos (dos quais 8 anos já se passaram) para o perfazimento 
da prescrição aquisitiva da propriedade por usucapião ordinário (já que A é 
proprietário de outros imóveis, rurais e urbanos), nos termos do artigo 1.242, do 
Código Civil, valendo a cessão de direitos hereditários como justo título. 
 Qualquer das duas vias irá lhe proporcionar a obtenção de um título apto ao 
ingresso registral: o formal de partilha, previsto no artigo 167, I, 25, da Lei de 
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Registros Públicos; e a sentença de usucapião, cujo registro é previsto no art. 167, I, 
28, da mesma LRP. 
 
Utilização efetiva dos terrenos 
 A área urbana sob domínio de A tem sido utilizada para a permanente moradia 
do proprietário, nela tendo sido construída ampla casa, com área de churrasqueira e 
recreação, piscina, quadra poliesportiva, campo de futebol, canil, depósito de 
ferramentas, garagem coberta para automóveis, casa de caseiro, pomar e um 
criadouro de galináceos, sendo o restante ocupado por significativa área ajardinada. 
Já a área rural, fisicamente ligada à urbana por uma pequena ponte construída a 
mando do proprietário A, tem sido ordinariamente destinada ao plantio de grãos, 
alternando-se cultivos de pouca expressão econômica, tais como milho e feijão, o 
que é feito apenas para ocupar o terreno, sem qualquer pretensão lucrativa de 
realce. 
 
Ausência de registro, insegurança jurídica e impossibilidade de utilização 
econômica 
 No intuito de agregar valor à terra e dela auferir renda a longo prazo, o 
proprietário começou a estudar as possibilidades econômicas do terreno, tendo 
optado por ali desenvolver, ainda que em escala reduzida, um projeto de 
florestamento comercial, para futura extração de madeiras nobres. 
 Como se sabe, o comércio de madeiras nobres é das atividades mais antigas 
exploradas em nosso país, fato que se retrata no próprio nome dado a nosso 
Estado, em uma referência à histórica exploração do Pau-Brasil (Caesalpinia 
echinata) no início de nossa colonização européia. 
 Atualmente, o comércio de madeiras vem sofrendo uma crescente pressão 
para adequação às normas ambientais vigentes, coibindo-se a exploração predatória 
com sanções inclusive na seara criminal. 
 Nesse sentido, mostra-se de vital importância a iniciativa de proprietários de 
áreas rurais de promover o plantio de espécies de árvores de alto valor comercial, 
para suprirem a demanda existente, sem que seja necessária a derrubada de 
nossas matas nativas. 
 E o valor agregado com tal exploração pode ultrapassar a casa dos milhões de 
reais a cada poucos hectares plantados com madeiras como mogno, guanandi, teka, 
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e muitas outras, em um prazo de cultivo não superior a 20 anos. Isso gera uma 
potencialização sem precedentes na utilização da terra e, sobretudo, da pequena 
propriedade rural, haja vista a incrível correlação "lucro X metro quadrado" que dela 
exsurge. Soma-se a isso o enorme apelo ambiental da iniciativa, com reflexos, 
inclusive, na comercialização mundial dos chamados créditos-carbono. 
 No entanto, essa atividade requer um investimento inicial, cuja implementação 
não pode prescindir de uma segurança jurídica advinda da certeza do domínio sobre 
o imóvel. No caso em exame, a ausência de registro tendo sido um importante óbice, 
e a realização de investimentos de maior vulto tem-se mostrado temerária, uma vez 
que sequer é possível o cadastramento do plantio, para posterior corte, junto aos 
órgãos ambientais responsáveis pelo licenciamento. 
 Diante desse imbróglio jurídico, que tem impedido qualquer ação do 
proprietário no sentido de buscar a regularização dos dados registrais do imóvel, 
passamos a analisar os conceitos legais de imóvel urbano e imóvel rural, a fim de 
podermos qualificar as áreas em exame. 
 
Conceito de imóvel rural 
 De acordo com o Estatuto da Terra, em seu artigo 4º, I, considera-se imóvel 
rural o prédio rústico, de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se 
destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de 
planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada. 
 A Lei Federal nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972, que criou o Sistema 
Nacional de Cadastro Rural, definiu o imóvel rural, para fins de incidência do Imposto 
sobre a Propriedade Territorial Rural, na esteira do Estatuto da Terra, apenas 
acrescentando a necessidade de a área do imóvel ser superior a 1 hectare. 
 Posteriormente, e também para fins de incidência de ITR, o artigo 1º da Lei 
Federal nº 9.393, de 19 de dezembro de 1996 passou a considerar rural o imóvel 
localizado fora da zona urbana do município, adotando o critério de localizaçãopor 
exclusão: o que não estiver inserido em área urbana é considerado imóvel rural. 
 Desse modo, o ordenamento pátrio apresenta um duplo critério para a 
qualificação de um imóvel como rural: a) o da destinação econômica do imóvel, 
previsto no Estatuto da Terra e também na Lei 5.868/72, que acrescentou apenas o 
limite mínimo de área total de 1 hectare; e b) o da localização do imóvel. 
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 Em nosso trabalho, não nos dedicaremos a analisar a preponderância de um 
ou outro critério, mas nos ocuparemos apenas de delinear as conseqüências, para o 
caso prático, da adoção de cada um deles. 
 
 Conceito de módulo rural 
 De acordo com os incisos II e III, do art. 4º, do Estatuto da Terra, módulo rural 
é a área mínima necessária à subsistência e ao progresso social e econômico do 
agricultor e de sua família, mediante a exploração direta e pessoal dos mesmos, 
com a absorção de toda a força de trabalho, eventualmente com a ajuda de 
terceiros. A determinação de sua área máxima é fixada para cada região e tipo de 
exploração. 
 A definição legal nos proporciona, através de uma exegese teleológica, a 
conclusão de que o módulo rural corresponde à área mínima necessária para que o 
pequeno proprietário rural dê à terra sua função social. 
 Sobre a interpretação finalística, vale aqui ressaltar, na lição de Carlos 
Maximiliano, que o Direito encerra 
 uma ciência primariamente normativa ou finalística; por isso mesmo a sua 
interpretação há de ser, na essência, teleológica. O hermeneuta sempre terá em 
vista o fim da lei, o resultado que a mesma precisa atingir em sua atuação prática. A 
norma enfeixa um conjunto de providências, protetoras, julgadas necessárias para 
satisfazer a certas exigências econômicas e sociais; será interpretada de modo que 
melhor corresponda àquela finalidade e assegura plenamente a tutela de interesse 
para a qual foi regida (MAXIMILIANO, 1988, p. 151). 
 O intérprete do Direito deve buscar sempre o escopo da Lei, a chamada mens 
legis, de modo, inclusive, a situar hierarquicamente os princípios e regras jurídicos. 
O Estatuto da Terra, que é uma lei ordinária, gerou uma regra jurídica, que consiste 
na criação de uma fração mínima de terra capaz de prover sustento à entidade 
familiar que a explora com seu trabalho. E o escopo de tal regra é de dar efetividade 
ao princípio da função social da propriedade, de sede constitucional. 
 À parte a noção da finalidade de instituição do módulo rural por região, 
lembramos ainda que tal definição legal de módulo rural serve de referência para: a) 
limitação da aquisição de imóvel rural por pessoa natural ou jurídica estrangeira; b) 
aferição da Fração Mínima de Parcelamento - FMP, definida para a exploração da 
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Zona Típica de Módulo - ZTM municipal; c) definição dos beneficiários do chamado 
"Banco da Terra"; d) enquadramento Sindical Rural dos detentores. 
 A fixação do módulo rural por região é estabelecida através de Instrução 
Normativa do INCRA, sendo atualmente vigente a IN nº 50, de 26 de agosto de 
1997. 
 
Conceito de Imóvel Urbano 
 O Código Tributário Nacional (CTN), Lei Federal 5.172, de 25 de outubro de 
1966, para fins de incidência do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial 
Urbana - IPTU, considera urbano o bem imóvel por natureza ou por acessão física o 
assim definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município (art. 32). 
 Entende-se como zona urbana (art. 32, §1º, do CTN) a definida em lei 
municipal, observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados 
em pelo menos 2 (dois) dos seguintes requisitos, construídos ou mantidos pelo 
Poder Público: a) meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; b) 
abastecimento de água; c) sistema de esgotos sanitários; d) rede de iluminação 
pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; e) escola primária ou 
posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel 
considerado. 
 
Enquadramento inicial das áreas descritas no caso prático 
 Na situação em exame, a área adquirida por cessão hereditária está situada 
fora da área urbana definida pela Lei Municipal, o que a faz ser qualificada, por 
exclusão, como imóvel rural, pelo critério da localização. Além disso, ela não perfaz 
os requisitos mínimos estabelecidos no art. 32, §1º, do CTN, não se enquadrando 
em zona urbana. 
 Por outro lado, a área em comento tem tido uma destinação que se pode 
seguramente qualificar como rural, já que nela são regularmente plantadas culturas 
de grãos. Desse modo, deve ela ser reputada rural sob ambos os critérios legais. 
 Já com relação ao imóvel registrado em nome do proprietário A, trata-se de 
área inserida dentre os limites definidos como urbanos pela lei municipal, e que 
conta com a infra-estrutura mínima elencada no §1º do art. 32 do CTN, o que lhe 
enseja uma inequívoca qualificação de imóvel urbano. 
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 Vê-se, portanto, que no caso de "A" pretender uma unificação de matrículas, 
as alternativas que se lhe apresentam são a) pleitear a exclusão da área urbana dos 
limites municipais, dando-lhe uma conformação de aproveitamento agrário; ou, 
diversamente, b) pleitear a inserção da área rural dentre os limites fixados pela 
norma municipal como de ocupação urbana. 
 Certo é que, para qualquer das duas soluções, será imperiosa a consulta ao 
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA e à Prefeitura do 
Município em questão. 
 Para que se delineie uma ou outra opção, no entanto, faz-se necessária uma 
imersão nas normas constitucionais que definem a relação de dominialidade 
imobiliária, e passamos a fazê-lo buscando evidenciar a relação existente entre o 
direito de propriedade e a expressão de sua função social. 
 
Limites do direito de propriedade 
 A propriedade e, por conseguinte, os direitos que lhe são correlatos, vem 
sofrendo progressivas restrições em razão da crescente percepção de que se deve 
adequá-la aos interesses de toda a sociedade, em eventual detrimento dos de seu 
titular. 
 Doutrinariamente, podemos classificar os limites do direito de propriedade em 
internos ou externos, sendo ambos ditados pela necessidade de se resguardar ora 
os interesses do proprietário, individualmente visto, ora os da coletividade. 
 Limites externos 
 Tais limites não dizem respeito ao momento de constituição do direito de 
propriedade, sendo posteriores à sua formação. Nos dizeres de Antonio Herman 
Benjamin, "pressupõem uma dominialidade que opera em sua plenitude, totalmente 
consolidada por respeitar os limites primordiais" (BENJAMIN, 1998). 
 Limites internos 
 Como bem ressalta Bandeira de Mello, não se está, aqui, a tratar propriamente 
de restrições ao "direito de propriedade", mas de limitações à propriedade em si, ou 
seja, concernentes à própria definição do instituto (BANDEIRA DE MELLO, 1986). 
 Assim, não se está a tolher o exercício de um direito, mas a definir os 
contornos que pautam sua inserção e proteção em nosso ordenamento. Tais limites 
são, pois, intrínsecos e contemporâneos à formação da dominialidade, constituindo 
pressupostos à garantia que se confere ao direito em questão. 
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 Os elementos internos são como que pressupostos de validade do direito de 
propriedade, já que eles respeitam aos parâmetros dentro dos quais a propriedade é 
reconhecida e protegida em nosso ordenamento. 
 
Princípio da Função Social da Propriedade 
 A relação de propriedade não é meramente um direito subjetivo de conteúdo 
fixo e unitário, mas uma relação jurídica dinâmica e complexa. Nessa relação jurídica 
de propriedade, o titular

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