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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Construído unicamente para a utilização na disciplina de Psicologia da Educação. Sem finalidade de publicação ou divulgação. Qualquer divulgação é proibida. Introdução 1. Origem e evolução da psicologia da educação: psicologia científica para práticas educativas. • A configuração histórica da psicologia da educação Até o final do séc. XIX: Psicologia - Filosofia - Educação. A explicação aristotélica, Essay concerning Human Understanding (Locke). Pensamento de Herbart. - A psicologia científica e as origens da psicologia da educação (1890-1920) Método das ciências físicas e naturais - culminando na autonomia da psicologia científica. Necessidade de mudanças qualitativas no ensino. O estudo e a medida das diferenças individuais e a elaboração de testes mentais e de comportamento; a análise dos processos de aprendizagem e a psicologia da criança (psicologia do desenvolvimento infantil e clínica). - A psicologia da educação: disciplina nuclear da teoria educativa (1920-1955) “rainha das ciências da educação”; foco acadêmico; método experimental; Henri Wallon - Jean Piaget escola de Genebra (Bärbel Inhelder, Hermine Sinclair e Vinh Bang, entre outros); Lev S. Vigotsky. - A psicologia da educação e a aproximação multidisciplinar ao estudo dos fenômenos educativos (a partir de 1955) Dificuldades na interpretação dos resultados; outras ciências da educação; acontecimentos políticos, sociais e econômicos; 2. Campos de definição da Psicologia da educação - psicologia aplicada ou disciplina ponte 3. O objeto de estudo e os conteúdos da psicologia da educação O objeto de estudo da psicologia está constituído nos processos de mudança de comportamento que se produzem nas pessoas como consequência da sua participação em atividades educativas. 4. Os âmbitos da atividade científica e profissional 5. As concepções atuais da psicologia • Relações entre desenvolvimento, aprendizagem, cultura e educação • Natureza construtiva do psiquismo humano • Natureza social e cultural dos processos de construção de conhecimento: • Enfoque dos modelos contextuais e culturais psicológicos: • A unidade do ensino e aprendizagem • Psicologia dos conteúdos escolares • Interesse pelos problemas do ensino e da aprendizagem no mundo real • Vínculo maior entre pesquisa, desenvolvimento teórico e práticas educacionais; • Interesse por diferentes práticas educacionais - formais e informais e as relações e contextos; Considerações finais Introdução 1. Origem e evolução da psicologia da educação - A psicologia da educação (PE) vem buscando a utilização dos princípios, das explicações, dos métodos da psicologia científica, para planejar e desenvolver renovadas tentativas de melhorar as práticas educativas, especialmente na educação escolar. Dificuldades para isso são: quais princípios adotar? Quando e como utilizar de maneira correta? Segundo Antunes (2005), discutir a história da psicologia é discutir uma trama de relações e múltiplos fatores sociais, políticos, econômicos e culturais. • A configuração histórica da psicologia da educação - De forma mais ampla (Psicologia Escolar e Educacional): Grécia Antiga ideias psicológicas e propostas sistemáticas de educação - Protágoras, sofistas, Pitágoras e a escola pitagórica, Sócrates e a maiêutica, Platão e a Academia, Aristóteles e o Liceu, entre muitos outros. Também é possível estudar o pensamento medieval, em que filosofia/teologia, educação/pedagogia e ideias psicológicas permaneceram intimamente articuladas. A modernidade trará uma complexidade que amplia muito o espectro de análise dessas relações. - Até o final do séc. XIX: Psicologia - filosofia - educação estavam unidas e não existia a psicologia da educação propriamente dita). - A explicação aristotélica, que os pensadores medievais adaptaram ao cristianismo, foi objeto de novos estudos por parte de alguns dos pensadores mais importantes dos séculos XVI e XVII: Bacon, Descartes e, sobretudo, John Locke. Este autor, na obra Essay concerning Human Understanding (ensaio a cerca do entendimento humano) (nascemos como uma folha em branco), publicada em 1690, expõe e amplia a ideia aristotélica de acordo com a qual as sensações são a fonte de todo conhecimento. Durante o século XVIII, a teoria desenvolve novas formulações e controvérsias até que, ao final daquele século, chega a um certo “consenso” a respeito do tipo de faculdades ou de poderes para fazer alguma coisa que dão forma ao psiquismo humano: a inteligência, as emoções e a vontade. Esta concepção guiava as práticas educativas, que priorizavam a transmissão de conteúdos como forma de aprimorar as faculdades inatas. Contudo, a influência da psicologia filosófica constata-se, principalmente, no pensamento de Herbart, sem dúvida o autor mais influente na teoria educativa do século XIX. Assim como outros pensadores da sua época, Herbart (1776-1841) foi antes de tudo um filósofo que concebeu a educação como uma aplicação prática da filosofia. A sua contribuição mais destacada consiste na formulação de uma teoria de aprendizagem, a qual denomina teoria da percepção, a partir das leis da associação de Locke e da doutrina das faculdades. A psicologia científica e as origens da psicologia da educação (1890-1920, aproximadamente) Final do séc. XIX, psicologia começa a se distanciar da filosofia. Começa a usar o método das ciências físicas e naturais - culminando na autonomia da psicologia científica. A PE surge na primeira década do sec. XX, entre os professores e entre os responsáveis governamentais da política educativa, a urgente necessidade de introduzir mudanças qualitativas no ensino. A psicologia é a disciplina na qual são depositadas as maiores expectativas como uma fonte de informação e de ideias. (PE objetivava utilizar os conteúdos produzidos pela psicologia científica). Contudo, existem três áreas ou campos da pesquisa psicológica que se sobressaem: o estudo e a medida das diferenças individuais e a elaboração de testes mentais e de comportamento, a análise dos processos de aprendizagem e a psicologia da criança (psicologia do desenvolvimento infantil e clínica). Tenho um QI de 1ª - O teste de Binet-Simon concebe o desenvolvimento intelectual como aquisição progressiva de mecanismos intelectual, de forma que a criança com atraso são as que não adquirem os mecanismos que correspondem à sua idade cronológica. No ano de 1912, William Stem enriquece o teste de Binet-Simon com a introdução do Quociente Intelectual (QI). 2ª - Processos de aprendizagem (Edward L. Thorndike e Charles H. Judd, primeiros PE). Deve-se a Thorndike (1874-1949) a primeira sistematização consistente do estudo da aprendizagem. Dentre as suas leis, a do efeito foi a que teve maior repercussão no desenvolvimento posterior da psicologia da aprendizagem. Utilizando-se de uma caixa problema (gato - alavanca - saída - comida) sugere que quando a satisfação segue uma associação, é mais provável de ser repetida. Se um resultado desfavorável segue uma ação, então se torna menos suscetível de ser repetido. Judd (1873-1946) toda a sua obra está marcada pela preocupação em conseguir que o conhecimento psicológico fosse relevante e útil na educação escolar (foco em: o currículo e a organização escolar). 3ª - Psicologia da criança [necessidade de conhecer para educar - Suíço Edouard Claparède (1873-1940), principal representante dessa ideia]. No ano de 1906, organizou um seminário de Psychology Pédagogique no seu laboratório, com o objetivo de iniciar os futuros docentes nos métodos da psicologia experimental e da psicologia da criança. Alguns anos mais tarde, em 1912, criou, com um grupo de amigos, um instituto de psicologia aplicada à educação, que recebeu o nome de Instituto Jean-Jaques Rousseau. Esse instituto é o marco no qual trabalharam,posteriormente, psicólogos tão distintos como André Rey, Jean Piaget e Bärbel Inhelder. Movimento renovador em educação, conhecido com o nome de Escola Nova, na Europa, nas primeiras décadas do século XX - levará em conta as dificuldades e os interesses de cada aluno; etc. Esse movimento também chega aos EUA. Até este momento a PE é vista como a engenharia psicológica aplicada (Thorndike). - A psicologia da educação: disciplina nuclear da teoria educativa (1920-1955) Durante esse período, a psicologia da educação apresentou-se como a “rainha das ciências da educação”. Dessa maneira, a formação de professores da época tem sua base na história da educação e da psicologia (Husén, 1979); e, por sua vez, as pesquisas educativas adotaram, de maneira generalizada, a metodologia própria da psicologia experimental. Henri Wallon, psicólogo do desenvolvimento foi autor de um plano de reforma do ensino na França, o qual considerava, entre outras medidas, a criação de um serviço de psicologia escolar para as escolas (o Plan Langevin-Wallon, tornado público em 1944). Esse plano serviu posteriormente de modelo a muitos países. Jean Piaget e seus principais colaboradores da escola de Genebra (Bärbel Inhelder, Hermine Sinclair e Vinh Bang, entre outros) merecem uma referência especial. Esses pesquisadores são responsáveis por um dos sistemas explicativos do desenvolvimento humano mais potentes e compreensivos da história. As suas aplicações educativas ainda hoje continuam sendo exploradas. Lev S. Vigotsky, que integra as explicações do desenvolvimento humano, da educação e do ensino, oferecendo um marco teórico único para a psicologia da educação, também merece referência especial. Antes de 1950 - desenvolvimento da PE dependia das outras áreas da psicologia, a sua especificidade residia, pois, na vontade de aplicação e de utilização do conhecimento psicológico para uma melhor compreensão, explicação, planejamento e desenvolvimento dos processos educativos. A psicologia da educação e a aproximação multidisciplinar ao estudo dos fenômenos educativos (a partir de 1955) - No decorrer da década de 50, ocorreram uma série de fatos que modificaram de maneira substancial o panorama descrito anteriormente. Tais fatos podem ser sintetizados da seguinte maneira: a) 1ª - conscientização crítica das dificuldades implicadas na interpretação dos resultados das pesquisas que nutrem a psicologia da educação; 2ª - começaram a ganhar mais destaque uma série de disciplinas que também têm como finalidade estudar os fenômenos educativos (neurociência, antropologia, sociologia...); 3ª - uma série de acontecimentos políticos, econômicos e culturais (e.g. consequências da II guerra mundial, guerra fria, crises econômicas, diferentes perspectivas políticas). “O fato inquestionável é que a psicologia da educação, depois de quase 100 anos de história, ainda não pode satisfazer de maneira adequada as expectativas que, desde o começo, foram-lhe depositadas e que, de alguma maneira, continuam sendo vigentes: outorgar uma base científica à teoria educativa e oferecer propostas concretas para melhorar a educação e o ensino.” (Coll et al. 2014) - História da psicologia educacional no Brasil - A história da Psicologia Escolar e Educacional no Brasil pode ser identificada desde os tempos coloniais, quando preocupações com a educação e a pedagogia traziam em seu bojo elaborações sobre o fenômeno psicológico. Massimi (1990), ao estudar obras produzidas no período colonial, no âmbito da filosofia, moral, educação e medicina, entre outras, identifica temas como: aprendizagem, desenvolvimento, função da família, motivação, papel dos jogos, controle e manipulação do comportamento, formação da personalidade, educação dos indígenas e da mulher, entre outros temas que, mais tarde, tornaram-se objetos de estudo ou campos de ação da psicologia. É importante destacar que a maioria desses escritos estava comprometida com os interesses metropolitanos e expressava as mazelas de sua dominação na colônia. - Patto (1984): 1906-1930 (primeira república) - Vinda dos europeus (laboratórios): Modelo médico clínico classificava e ajustava alunos com dificuldades de aprendizagem, encaminhadas pelas escolas, famílias e outros profissionais. No início da psicologia escolar no Brasil, evidenciou-se o caráter clínico e terapêutico das intervenções realizadas; vale destacar, nesse sentido, o livro de Franco, datado do ano de 1915 e intitulado “Noções de pedagogia experimental”, que, além de trazer reflexões sobre as capacidades mentais elementares, apresentava definições de retardatários escolares e comentários acerca da educação especial de deficientes visuais e auditivos em consonância com estudos de Binet, Simon e Pestalozzi. Patologização do educando (criança problema): atribuir ao aluno a culpa pelo seu fracasso escolar. - 1930 – 1960: industrialização e ciência psi se consolida: - 1962, com a regulamentação da profissão de psicólogo e o estabelecimento de cursos específicos para sua formação. As ações desenvolvidas no período anterior deram as bases para os campos tradicionais de atuação da psicologia: educação, clínica e trabalho. - 1960 – 1980: controle dos militares (sala como laboratórios; caráter adaptativo): Os anos de 1970 também se caracterizaram, no âmbito da educação, pela promulgação da lei nº 5.692/71, que ampliou o sistema educacional e efetivou a expansão da escolaridade obrigatória e gratuita, trazendo mudanças significativas no contexto escolar. O aumento no quantitativo de alunos advindos das mais diversas realidades socioculturais ocasionou dificuldades de adaptação do sistema à nova realidade, tanto em termos de infraestrutura das escolas quanto em termos de concepções e metodologias de aprendizagem adequadas ao novo panorama educacional. Por conseguinte, observou-se um crescimento da demanda de alunos com dificuldades de aprendizagem que extrapolavam o entendimento e as intervenções pedagógicas dos docentes já adaptadas ao antigo contexto. Essa concepção produtivista embasa a denominada corrente da pedagogia denominada cognitiva/instrucional/tecnológica a partir das contribuições da psicologia cognitiva e do behaviorismo na qual se atribui destaque à instrução como principal objetivo da educação Saviani (2008). - 1980 – até hoje: situações do cotidiano. Repensar pressupostos e métodos. Psicologia engajada nos problemas da educação: Trabalhos de Patto (1984), intitulados Psicologia e ideologia: uma introdução crítica à psicologia escolar e de Mello (1978), denominado Psicologia e profissão em São Paulo, foram a discussão crítica em psicologia escolar no Brasil neste sentido. Tal aspecto ganha forma e força a partir da abertura política na década de 1980 quando os educadores retomam a dimensão política de sua formação e os cursos de brasileiros passam a questionar o domínio do aspecto técnico na formação e encontram interfaces com as teorias reprodutivistas e críticas, com fulcro especialmente em Paulo Freire. CFP (instalado conselheiros em 1973 e regulamentado em 1977) desempenhou papel articulador entre as universidades para pensar um novo currículo para os cursos de psicologia. Coletou dados em âmbito nacional para saber como estava se configurando o exercício do psicólogo no Brasil. Tal projeto se transformou no livro Quem é o psicólogo brasileiro de 1988. Observou-se na formação dificuldade para lidar com problemas de forma contextualizada (Firbida e Vasconcelos, 2018). Um marco a publicação do livro A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia, em que Patto (1996) apresenta os aspectos sociais, históricos e políticos que produziram o fracasso escolar, isto é, tirou o foco do fracasso posto no aluno e passou a questionar fatores mais amplos. - EVENTOS: 1988: 1º seção (Abrapee). 1991 – 1º congresso nacional de psicologia escolar. 1994 – XVII congressointernacional e II congresso nacional. 1994 GT da Anpepp. I congresso de PCP. Revista Psicologia Escolar e Educacional, da Abrapee. 2. Campos de definição da Psicologia da educação PE entendida no âmbito da aplicação Entendida como disciplina ponte entre Psi e educação • Psic. única que pode resolver os problemas da educação • É necessária uma aproximação multiciplinar • Leis universais do comportamento aplicadas à educação • Ambientes educ. requerem formulações e pesq. específicas • PE se diferencia das outras áreas da psic. apenas pelo campo • PE se diferencia pois formula conhecimentos específicos • Principal tarefa da PE selecionar conhecimentos da psic. • A partir da psic. formular seus conhecimentos • PE como um campo de aplicação e não como disciplina • É um disciplina especifica com objeto específico No momento de definir a PE como disciplina-ponte, aceita-se que se trata de uma disciplina situada a meio caminho entre a psicologia e a educação. Apresenta métodos e análises, teorias da psic., ao mesmo tempo, colabora no enriquecimento dessa pesquisa com as suas contribuições aos fenômenos educativos. David P. Ausubel, segundo Coll foi também um dos psicólogos que mais contribuiu, para que esta ciência se tornasse disciplina-ponte. - Entendemos educação como prática social humanizadora, intencional, cuja finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pela humanidade. O homem não nasce humanizado, mas torna-se humano pela incorporação desse mundo em si mesmo, processo este para o qual concorre a educação (Antunes, 2008). 3. O objeto de estudo e os conteúdos da psicologia da educação O objeto de estudo da psicologia está constituído nos processos de mudança de comportamento que se produzem nas pessoas como consequência da sua participação em atividades educativas. Essa definição se ajusta à PE como uma disciplina-ponte. Essa definição do objeto de estudo permite estabelecer claramente a relação que existe entre a psicologia da educação e a psicologia do ensino (psicologia da educação escolar); ao mesmo tempo, evidencia a inadequação que representa reduzir a primeira à segunda. A PE abriu-se para as formas de educação formal (escola) e informal (família, lazer, mídia...) Podemos identificar os dois grandes blocos de conteúdos de temas dos quais se ocupa a psicologia da educação: 1º - os que se referem aos processos de mudança de comportamento que se produzem nas pessoas como resultado da sua participação em situações educativas (aprendizagem, desenvolvimento); 2º - variáveis e as dimensões das situações educativas que se relacionam diretamente com os processos de mudança (atividades escolares, culturas...). Calfee e Berliner (1996): Educação - necessidade de alguém (professor, familiar...) ensinar (influenciar) algo (matéria, conduta...) a alguém (alunos, filhos) em um contexto (escola, família...) com um propósito (habilidades, valores...) esperando resultados avaliáveis. Objetivos da PE divididos em três dimensões (Coll, 2000): 1º - Dimensão Teórica ou Explicativa: nela são estudados os processos educativos com o objetivo de contribuir para a elaboração de uma teoria que explique destes processos; 2º - Dimensão Projetiva ou Tecnológica: estudam os processos educativos com o objetivo de elaborar modelos e programas de intervenção voltados para as práticas pedagógicas; 3º - Dimensão Prática ou Aplicada: estuda os processos educativos com o objetivo de colaborar para a construção de práticas pedagógicas coerente com as propostas teóricas formuladas. O desenvolvimento da PE depende de que se estabeleça entre as três dimensões uma inter-relação e uma coerência muito maior que a tradicionalmente existente; somente assim a sua capacidade real de transformar as práticas educativas e de melhorar a educação poderão ser desenvolvidas significativamente 4. Os âmbitos da atividade científica e profissional Já na década de 60, as atividades profissionais dos psicólogos da educação apresentavam-se circunscritas fundamentalmente em três âmbitos de trabalho que são os mesmos em torno dos quais se produz o seu desenvolvimento e a sua evolução: a formação dos professores, a pesquisa psicológica aplicada à educação e a psicologia clínica infantil. Seja qual for a denominação que exista para designar essas linhas de atividades profissionais dos psicólogos da educação (uma intervenção mais orientada aos aspectos clínicos, de diagnóstico e de tratamento de transtornos do desenvolvimento, de transtornos da conduta e da dificuldade de aprendizagem, e alguma intervenção mais orientada à revisão e melhoria das práticas pedagógicas), é evidente que ambas são ingredientes essenciais da intervenção psicopedagógica; Esse âmbito de pesquisa, de reflexão e de atividade profissional, que é a psicopedagogia, apresenta um dos seus principais fundamentos na psicologia da educação e nas três dimensões que a configuram: teórica ou explicativa, tecnológica ou projetiva e técnica ou aplicada. 5. As concepções atuais da psicologia • Relações entre desenvolvimento, aprendizagem, cultura e educação: duas concepções contrastantes gênese do desenvolvimento com foco na espécie e outra com foco na aprendizagem sociocultural (ambas encontraram resultados empíricos); • Natureza construtiva do psiquismo humano: tem sua principal origem nos trabalhos de Piaget e na ênfase de Gardner. Construtivismo é... (perspectiva compartilhada por diversas abordagens); • Natureza histórica e cultural dos processos de construção de conhecimento: Além de o aprendizado ser ativo e construtivo, de natureza interna (porque aprendizado não é resultado da leitura pura e simples da experiência) e individual (cada um possui seu próprio processo de construção de significados, interpretando a realidade). Considerar o aprendizado uma construção não implica em dizer que é um processo solitário - por isso - socioconstrutivismo - vê o contexto social. • Enfoque dos modelos contextuais e culturais psicológicos: Crescimento desses modelos, com origens diversas. A escola de desenvolvimento humano de Bronfenbrenner; a teoria sociocultural de orientação vygotskiana; a teoria histórico-cultural da atividade inspirada em Leontiev, de Vygotsky e de Luria; a psicologia cultural de influencia antropológica. Estas diferem entre si em muitos e importantes aspectos, mas que possuem entre si a atribuição de importância decisiva dos processos psicológicos à interação entre pessoa e ambiente em que vive. • A unidade do ensino e aprendizagem: Tradicionalmente as perspectivas que estudam ensino e aprendizagem de forma separadas vem tomando consciência das limitações desse pensamento; • Psicologia dos conteúdos escolares: Existem alguns processos cognitivos na aprendizagem de diferentes disciplinas que são inerentes a cada conteúdo. • Interesse pelos problemas do ensino e da aprendizagem no mundo real: saída gradativa dos laboratórios para estudar os processos onde eles acontecem. • Vínculo maior entre pesquisa, desenvolvimento teórico e práticas educacionais: Nesse caso não basta melhorar a qualidade das teorias. È preciso também aproxima-las dos profissionais; • Interesse por diferentes práticas educacionais - formais e informais e as relações e contextos; Concepções atuais da psicologia no Brasil - Levantamento bibliográfico sobre a atuação do psicólogo diante das questões educacionais, Souza et al. (2014) revelaram que no período de 2000 a 2007, (passados quase 30 anos das primeiras críticas tecidas (26 textos,). Obras citadas apresentam uma variedade de referenciais teóricos-metodológicos que fundamenta as reflexões críticas dos autores, tais como Vigotski, Foucault, Agnes Heller, Piaget, entre outros que criticam a forma tradicional da psicologia - A Psicologia Escolar passou a valorizar as relações e o contexto históricono qual as dificuldades se instalam e, atualmente, caracteriza-se por uma atuação preventiva e relacional que valoriza a participação do professor e o cuidado com sua saúde psíquica. - A Psicologia Escolar tem, hoje, o desafio de ampliar seu campo de atuação para outros contextos e níveis educativos e sistematizar ações diferenciadas que promovam o desenvolvimento e a aprendizagem dos envolvidos no cotidiano escolar. O psicólogo se comprometer com a modificação do processo de culpabilização e de exclusão dos alunos que prevaleceu como foco de atuação da área em outros momentos históricos. - Observa-se a necessidade de ocupar-se da individualidade dos sujeitos sem, contudo, desarticula-los de suas redes de relações e de sua história. - O conceito de prevenção em Psicologia Escolar não se refere ao ajustamento e adequação de situações e comportamentos, tidos como inadequados, a padrões aceitos socialmente, pois esse posicionamento favorável ao controle social, exercido a partir da padronização de comportamentos e atitudes, desconsidera a característica histórica e social de cada indivíduo. Ao contrário da visão de controle, a atuação preventiva em Psicologia Escolar deve estar respaldada em ações que busquem I) facilitar e incentivar a construção de estratégias de ensino diversificadas, II) promover a reflexão e a conscientização de funções, papéis e responsabilidades dos sujeitos e III) superar, junto com a equipe escolar, os obstáculos à apropriação do conhecimento. Do que foi colocado, percebe-se que: a) Uma crítica ao modelo tradicional da Psicologia escolar/educacional baseado na concepção da clínica psicológica b) Uma reflexão sobre os desafios da educação no Brasil contemporâneo – o que faz com que o psicólogo aqui se envolva com questões que não são estritamente psicológicas, mas também sociológicas, políticas, culturais e propriamente pedagógicas. Nesse sentido, a Psicologia escolar e educacional deve ser concebida no horizonte de políticas públicas de proteção à infância e à adolescência (Conselho Federal de Psicologia,1994); c) Investigação sobre o processo de produção institucional da queixa escolar e da produção social do fracasso escolar; d) Proposição de um novo perfil (competências, habilidades e compromisso político-social e ético) do psicólogo necessário à realidade educacional e social brasileira e estabelecimento de um novo campo de atuação do psicólogo escolar e educacional que implique noções de saúde, qualidade de vida e cidadania; e) necessidade de uma reflexão sobre a formação teórico-epistemológica do psicólogo escolar e educacional e sua articulação com a pesquisa e a prática f) Busca de novas formas do processo de avaliação e das estratégias de intervenção psicológica g) Reflexões sobre o papel da Psicologia na formação docente (nos cursos de Pedagogia, nas licenciaturas e no normal superior) em consonância com a LDB e com os PCNs Considerações finais O panorama descrito mostra uma diversidade de formulações epistemológicas, de enfoques e alternativas teóricas, de conceitos, critérios e estratégias de pesquisa é uma característica da PE... Mas possivelmente essa seja uma inerente ao objeto de estudo da disciplina, pois tenta se reconstruir constantemente frente as transformações que ocorrem na sociedade e as consequentes mudanças das funções sociais de suas instituições, como a família e a escola. Neste universo de reconstrução de sentidos e realinhamento de lugares sociais. REFERÊNCIA Marinho-Araújo, C. M., & Almeida, S. F. C. (2005). Psicologia escolar: construção e consolidação da identidade profissional. Campinas: Alínea. Barbosa, R. M. e Marinho-Araujo, C. M. (2010). Psicologia escolar no Brasil: considerações e reflexões históricas. Estudos de Psicologia I Campinas I 27(3) I 393-402. Antunes, M. A. M. (2005). Materialismo histórico-dialético: fundamentos para a pesquisa em história da psicologia. In A. A. Abrantes, N. R. da Silva & S. T. F. Martins (Orgs.), Método histórico-social na psicologia social (p. 105-117). Petrópolis, RJ: Vozes. Firbida, F.B.G e Vasconcelos, M. S. (2018). O desenvolvimento histórico da psicologia escolar crítica no brasil. Psicol. estud., v. 23, p. 1-13. Mello, S. L. (1978). Psicologia e profissão em São Paulo. São Paulo, SP: Ática Patto, M. H. S. (1984). Psicologia e ideologia:uma introdução crítica à psicologia escolar. São Paulo, SP: T. A. Queiroz. Patto, M. H. S. (1996). A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. Souza, M. P. R., Lima, C. P., Ramos, C. J. M., Barbosa, D. R., Yamamoto, K., & Calado, V. A. (2014). Atuação do psicólogo na educação: o que pensam pesquisadores brasileiros sobre o tema. In: M. P. R. Souza, S. C. Silva & K. Yamamoto (Orgs.), Atuação do psicólogo na educação básica: concepções, práticas e desafios (p. 47-63). Uberlândia, MG: EDUFU. Antunes, M. A. M. (2008). Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). v.12 (2), 469-475. Massimi, M. 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