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Tendências modernas_ A Metamorfose, de Kafka

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Tendências modernas: A Metamorfose, 
de Kafka
APRESENTAÇÃO
Preste atenção nas seguintes frases: "Depois de A metamorfose, o mundo onde nos 
movimentamos mudou". "Kafka transforma o que é mortal e isolado em vida infinita". "Kafka 
critica a decadência do mundo burguês e A metamorfose choca e causa um efeito duradouro de 
espanto em seu leitor, mesmo com a simplicidade da sua trama".
Essas são algumas das afirmações de teóricos e de estudiosos sobre obra de Kafka. Apenas por 
elas, você já deve imaginar a grandeza da obra desse escritor de língua alemã e a enorme 
importância que ela tem na história da literatura universal.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai descobrir qual o motivo para tamanha admiração 
pela literatura de Franz Kafka. Você também vai observar tendências modernas em sua obra, em 
especial em A metamorfose.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Identificar características do modernismo na obra de Kafka, especialmente em A 
metamorfose.
•
Situar a obra de Kafka no contexto histórico da época.•
Analisar literariamente trechos de A metamorfose.•
DESAFIO
Kafka teve um amigo muito importante em sua vida: Max Brod. Brod ajudou-o a publicar 
alguns de seus textos e sempre incentivou muito o escritor a continuar com sua produção, pois 
reconhecia a enorme qualidade de suas obras. Quando Kafka morreu, deixou uma carta a Brod, 
pedindo que ele queimasse todos os seus escritos não publicados, que consistiam em cartas, 
diários e manuscritos. Max Brod decidiu não cumprir o desejo do amigo.
Francisco
Realce
Imagine que você é Max Brod e precisa justificar sua escolha para a família e os amigos de 
Kafka. Por que você decidiu não queimar os textos, se era esse o desejo de Kafka? Além disso, 
como você sabe que a obra de Kafka vai se tornar muito importante no futuro, também precisa 
justificar sua escolha para que as próximas gerações entendam por que você fez o que fez.
Sua resposta pode conter justificativas do plano pessoal, mas deve apresentar também 
explicações sobre a obra de Kafka e o que ela representa. Finja que você conheceu o autor por 
toda a vida e escreva sua resposta como se fosse uma nota a ser enviada a todos os envolvidos.
INFOGRÁFICO
Segundo diversos pesquisadores, a obra de Kafka foi muito marcada pela sua vida. Confira neste 
infográfico relações entre a história de vida de Kafka e alguns de seus textos, dentro da imagem 
clique na barra de rolagem e acompanhe.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
 
CONTEÚDO DO LIVRO
Neste capítulo, você vai compreender o motivo de a obra de Kafka ter sido tão revolucionária e 
tão importante. Vai analisar o contexto histórico do escritor e analisar tendências da 
modernidade em seus textos, em especial em A metamorfose. Também vai interpretar alguns 
trechos de suas obras.
Na obra Textos fundamentais da literatura universal, leia o capítulo Tendências modernas: A 
metamorfose, de Kafka, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, e aprofunde seus 
conhecimentos sobre a obra de Franz Kafka.
Boa leitura.
TEXTOS
FUNDAMENTAIS
DA LITERATURA
UNIVERSAL
Luara Pinto Minuzzi
Revisão técnica:
Gabriela Semensato Ferreira 
Licenciatura em Letras
Mestrado em Letras
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
M668t Minuzzi, Luara Pinto.
Textos fundamentais da literatura universal / Luara 
Pinto Minuzzi. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
206 p. : il. ; 22,5 cm. 
ISBN 978-85-9502-172-3
1. Literatura universal. I. Título. 
CDU 82-7
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Tendências modernas: 
A metamorfose de Kafka
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identi� car características do modernismo na obra de Kafka e, espe-
cialmente, em A metamorfose.
  Situar a obra de Kafka no contexto histórico da época.
  Analisar literariamente trechos de A metamorfose.
Introdução
Preste atenção nas seguintes frases:
“Depois de A metamorfose, o mundo onde nos movimentamos mudou.”
“Kafka transforma o que é mortal e isolado em vida infinita.”
“Kafka critica a decadência do mundo burguês e A metamorfose choca 
e causa um efeito duradouro de espanto em seu leitor, mesmo com a 
simplicidade da sua trama.”
Essas são algumas das afirmações de teóricos e de estudiosos da obra 
de Kafka. Apenas por elas, você já deve imaginar a grandeza da obra 
desse escritor de língua alemã e a enorme importância que ela tem na 
história da literatura universal.
Neste capítulo, você vai descobrir qual é o motivo de tamanha admira-
ção pela literatura de Franz Kafka. Você também vai observar tendências 
modernas na sua obra e, em especial, em A metamorfose.
O contexto histórico de Franz Kafka
Atualmente, estamos acostumados com as facilidades da modernidade. Meios 
de transporte rápidos que nos levam de um continente a outro em poucos dias; 
telefones e celulares que permitem que nos comuniquemos com pessoas do 
outro lado do mundo e saibamos o que está acontecendo em várias partes dele; 
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Sublinhado
fábricas com tecnologias avançadas que produzem bens a uma velocidade 
espantosa. Tudo isso facilita muito a nossa vida. Ao mesmo tempo, o nosso 
cotidiano se tornou muito mais corrido e tudo é muito mais rápido — conse-
quências dessa facilidade de locomoção e de comunicação. 
Se, antes, queríamos falar com alguém em outra cidade ou país, podíamos 
enviar uma carta. Essa carta levava tempo para chegar ao seu destino e, 
depois, mais um tempo para a resposta chegar ao remetente. Agora podemos 
simplesmente pegar um telefone e conversar, em tempo real, com essa mesma 
pessoa que vive distante. Isso deveria ter nos poupado tempo, mas parece 
que cada vez temos menos tempo, pois os estímulos e as possibilidades são 
tantos que acabamos fazendo muitas coisas diferentes e nos comunicando com 
muitas pessoas diferentes, quando antes fazíamos menos coisas e falávamos 
com menos pessoas.
É verdade que agora estamos acostumados com esse ritmo frenético, mas 
tente imaginar como essas mudanças foram extremamente impactantes na 
vida das pessoas que viviam no final do século XIX e no início do século 
XX. Nessa época, invenções como o telefone, a energia elétrica, os bondes 
elétricos, os automóveis, os grandes navios ultramarinos, o gramofone e o 
cinema começavam a fazer parte do cotidiano dos indivíduos comuns. Hoje, 
essas são coisas tão usuais que é, inclusive, difícil de pensar a vida sem elas. 
Mesmo assim, tente conceber o tempo que era necessário para se percorrer 
distâncias, mesmo as mais curtas, antes dos automóveis. Dessa forma, quando 
as pessoas saíam de férias, por exemplo, passavam muito mais tempo fora 
— simplesmente não valia a pena todo o trabalho se não fosse assim. Com o 
carro, as viagens se tornaram mais práticas e rápidas, e agora é muito comum 
sairmos por apenas um final de semana.
Todas essas mudanças revolucionaram o dia a dia das pessoas entre o 
final do século XIX e início do XX, e foi justamente essa a época vivida pelo 
grande escritor Franz Kafka. Ele nasceu em 1883 e morreu muito jovem, em 
1924. O autor viveu em Praga, que fazia parte do Império Austro-húngaro. 
Porém, a sua família fazia parte de uma minoria de falantes de alemão e, por 
isso, ele escreveu todos os seus textos nesse idioma. Além disso, a sua família 
era judia, o que faz com que esse escritor tenha sido influenciado por mais 
de uma cultura. Assim como o seu tempo se tornava cada vez mais fluido, 
incerto, rápido, não assentado em certezas e em verdades absolutas, a sua 
identidade igualmente não era bem definida. Kafka era parte judeu, parte 
alemão e parte húngaro (Figura 1). 
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Figura 1. Franz Kafka.
Fonte: Franz Kafka (2017). 
Antes de começarmos a falar sobre a obra desse escritor, vamos nos deter 
em mais algumas características da sua época — o início da modernidade. 
Isso ajudará você a compreender determinados aspectos da obra de Kafka.
Todas essas mudanças ocorridas no cotidiano das pessoas em razão dos 
inventos que tornaram as comunicações e os deslocamentos muito mais fáceis e 
rápidos modificaram a forma como os indivíduos se relacionavam com o mundo 
ao seu redor: a sua percepção e sensibilidade foram alteradas. Principalmente 
nas cidades, os estímulos nervosos passaram a ser tantos e tão variados que as 
condições psicológicas do ser humano foram alteradas. Ele precisou se adaptar 
a um mundo em constante mudança, quando antes as mudanças aconteciam 
de forma muito mais lenta e uniforme. 
De um lado, na sociedade pré-moderna, há valores como a permanência, 
o enraizamento, o aprofundamento de relacionamentos, os hábitos. De outro, 
há inconstância, a fluidez, a rapidez, a superficialidade nos relacionamentos, 
as mudanças, as novidades. Antes, as pessoas se cumprimentavam na rua, 
mesmo que não se conhecessem. Depois, a quantidade de pessoas circulando 
pelas ruas aumentou tanto e elas passaram a ter tanta pressa que esse gesto 
acabou se tornando muito mais raro. Antes, uma única pessoa era responsável 
pela manufatura de um mesmo produto. Depois, uma pessoa conhecia e ficava 
encarregada de um único processo da fabricação do produto — não possuindo 
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a menor ideia do todo. Nesse sentido, o homem moderno passa a ser um homem 
individualista, muito mais voltado para os seus problemas e as suas questões. 
Além disso, tudo começou a mudar tão rápido que o ser humano passou a se 
sentir desamparado, sem referências fixas, duradouras e confiáveis.
Para compreender um pouco melhor esse signo de 
rapidez que tomou conta da modernidade, procure o 
Manifesto Futurista, escrito pelo poeta italiano Filippo Tom-
maso Marinetti e publicado na revista Le Figaro em 1909. 
Marinetti incorporou, na sua literatura, essa nova forma de 
viver. Preste atenção em um dos pontos do seu manifesto: 
Nós cantaremos as grandes multidões agitadas 
pelo trabalho, pelo prazer ou pelas revoluções 
nas capitais modernas; cantaremos o vibrante 
fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros 
incendiados por violentas luas elétricas; as es-
tações esganadas, devoradoras de serpentes 
que fumam; as oficinas penduradas às nuvens 
pelos fios contorcidos de suas fumaças; as 
pontes, semelhantes a ginastas gigantes que 
cavalgam os rios, as locomotivas de largo peito, 
que pateiam sobre os trilhos, como enormes 
cavalos de aço; e o voo rasante dos aviões, cuja 
hélice agita-se ao vento, como uma bandeira. 
(MARINETTI, 2016).
Modernidade, agitação, fumaça, aço, aviões — todos 
elementos que remetem para essa modernidade. Se 
esse poeta deseja cantar as inovações, ao contrário, os 
personagens de Kafka parecem oprimidos, não animados, 
com todas essas mudanças. 
Acesse este link para conferir o manifesto: 
https://goo.gl/KD48DS 
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A efetividade passou a importar mais do que o bem-estar dos seres humanos. 
Assim, nas fábricas, visando ao lucro acima de tudo, pagava-se, em geral, muito 
mal aos operários e operárias, e as condições de trabalho eram péssimas. Kafka 
conheceu muito bem essa realidade, pois trabalhou como advogado do Instituto 
contra Acidentes de Trabalho de Praga durante grande parte da sua vida. O 
escritor pode ver com os seus próprios olhos as consequências dessa pressa 
insana pela acumulação de dinheiro, da jornada de trabalho longa e estafante 
dos operários e da cobrança de um nível de produção muito alto. Ele mesmo 
relatou ao seu amigo Max Brod, em uma carta de 1909, todos que presenciou:
Pois o que eu tenho que fazer! Nos meus quatro distritos [...] como bêbadas 
as pessoas despencam dos andaimes para dentro das máquinas, todas as 
vigas tombam, todas as rampas se soltam, todas as escadas escorregam, 
o que se alcança para cima, desaba para baixo, o que se alcança para 
baixo, causa a própria queda. E se tem dores de cabeça das jovens nas 
fábricas de porcelana, que incessantemente se lançam sobre as escadas 
carregando torres de louça (KAFKA apud SANTOS, 2017, p. 309).
Você deve entender que esses trabalhadores provavelmente não despen-
cam de andaimes ou caem de escadas por vontade própria — Kafka fala, de 
forma extremamente irônica, das péssimas condições em que esses homens e 
mulheres eram obrigados a trabalhar. Ele se preocupou também com o perigo 
que as máquinas representavam tanto para a integridade física quanto para a 
integridade mental dos funcionários.
Agora leia um excerto da obra O desaparecido ou Amérika para ver a 
descrição literária de Kafka justamente sobre esse tempo em que o autor vivia 
e sobre as transformações ocorridas:
No meio da sala havia um movimento de pessoas que corriam de um 
lado para o outro. Ninguém cumprimentava, os cumprimentos haviam 
sido abolidos, cada qual ia seguindo os passos de quem o precedia, 
olhando para o chão sobre o qual pretendia avançar da maneira mais 
rápida possível, ou então, capturando com olhadelas para os papéis que 
tinha em mãos o que na certa eram apenas palavras ou números isolados 
e que esvoaçavam com seu passo apressado (KAFKA, 2012, p. 50).
Aqui, até as palavras e os números nas folhas de papel carregadas pelas 
pessoas são isolados. Kafka exagera justamente para criar um clima absurdo 
e chamar a atenção para os problemas consequentes da modernização: as 
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pessoas não apenas não se cumprimentam, como o cumprimento foi abolido 
dessa sociedade. Não existe mais. Todos apenas avançam o mais rapidamente 
possível com os seus passos apressados — quase como se fossem autômatos, 
robôs, não seres humanos que sentem e sonham. Aqui fica claro que, apesar 
das vantagens trazidas pelos novos inventos e pela praticidade que eles con-
ferem à vida das pessoas, há igualmente muitas desvantagens — e, por esse 
trecho, talvez a narrativa mostre que há, inclusive, muito mais desvantagens 
do que vantagens. Esse ambiente é sentido como extremamente impessoal, 
individualista e hostil. 
Há ainda outro fato histórico de extrema relevância e de enorme impacto na 
época: a Primeira Guerra Mundial. Esse conflito, que envolveu as maiores 
potências do mundo, teve início em 1914 e terminou apenas quatro depois, 
em 1918. Essa foi uma guerra que prejudicou psicologicamente não apenas 
os soldados que foram para o campo de batalha e voltaram cheios de traumas 
e crises, mas também toda a sociedade. A exposição a tanta miséria humana 
também atingiu Kafka e as suas obras posteriores a esse período, no sentido 
da intensificação do isolamento e do sentimento de absurdo e da sensação da 
falta de sentido da vida e da realidade. 
Outra marca importante dessa época que foi fundamental na obra de Kafka 
é a questão da burocracia, que também está relacionada com as mudanças 
da modernidade. A burocracia toma conta dos poderes políticos, e os indi-
víduos se sentem oprimidos por regras e exigências que não são capazes de 
compreender. Essa burocracia levada ao extremo dita a vida de todos, mas 
não confere sentido nenhum a ela. Esse tema é abordado, por exemplo, no 
romance O castelo, de Kafka. 
Além do contexto histórico, alguns aspectos da biografia de Kafka foram 
bastante importantes para a produção das suas obras. Você já viu que oescritor 
foi advogado do Instituto contra Acidentes de Trabalho de Praga e que muitas 
das cenas presenciadas por ele acabaram servindo como inspiração. Ele se 
dedicava tanto às suas obrigações que chegou a ser Secretário da instituição. 
Era apenas depois de chegar em casa da jornada de trabalho e de jantar com 
a família que Kafka começava a escrever — em inúmeras cartas a amigos, o 
escritor conta como a sua rotina era cansativa e estafante. 
Somado a isso, há algumas figuras da vida de Kafka que não podem deixar 
de ser mencionadas. A primeira delas, e talvez a mais importante, é o seu 
pai, Herrmann Kafka. Pai e filho nunca tiveram uma boa relação: Herrmann 
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era um homem prático, que havia vencido na vida e se transformado em um 
próspero comerciante; Kafka se voltava para as artes, desejava cursar filosofia, 
mas, por causa do seu pai, mudou para o Direito. Como fica claro na carta que 
Kafka escreve ao pai e que, mais tarde, seria publicada com o título Carta ao 
pai (Figura 2), a figura paterna gigantesca amedrontava e sufocava o filho, 
impedindo-o de crescer. Muitos outros textos de Kafka também apresentam 
a figura do pai ou do líder tirano.
Figura 2: Primeira página do manuscrito de A carta 
ao pai.
Fonte: De Kafka Brief an den Vater (1994).
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Por mais que alguns aspectos da biografia do autor possam ter influenciado a sua obra, 
você deve sempre ter em mente que explicar a literatura apenas pela biografia do 
escritor é algo extremamente redutor. A literatura (pelo menos a boa literatura) deve 
transcender o contingente. A literatura também é plurissignificativa: isso significa que 
um mesmo texto tem sempre inúmeras interpretações, e muitas delas podem não ter 
relação alguma com o que aconteceu na vida do autor do texto. Isso ainda permite 
que um leitor entre em contato com uma obra e consiga compreendê-la e ser tocado 
por ela mesmo sem saber nada sobre quem a escreveu. Além disso, um autor pode 
escrever sobre qualquer situação que desejar, não apenas sobre aquelas vividas por ele.
Depois do pai de Kafka, um amigo seu, Max Brod, também foi muito 
importante na vida do escritor. Ele, desde cedo, reconheceu a qualidade da 
obra de Kafka e a genialidade do escritor, incentivando-o a dar continuidade 
à escrita mesmo quando editoras se recusavam a publicar os seus manuscritos 
ou quando as suas obras não eram muito bem recebidas. Quando morreu, 
Kafka deixou uma carta a Brod, pedindo ao amigo que queimasse todos os 
seus manuscritos não publicados. Para a nossa sorte, Brod não seguiu o último 
desejo de Kafka. 
Em terceiro lugar, você deve conhecer um pouco sobre o papel das mu-
lheres na vida de Kafka. Kafka noivou com algumas mulheres, mas nunca 
se casou. Julie Wohryzeck e Dora Diamant foram duas das suas noivas, mas 
Felice Bauer foi a mulher com quem ele manteve relações por mais tempo: 
por mais ou menos cinco anos eles permanecem noivos, até que, em 1917, 
ele terminou definitivamente o noivado. Porém, parecia que Kafka já vinha 
tentando afastar a moça há algum tempo — em A carta ao pai, ele culpa a 
figura materna pela sua incapacidade de manter um relacionamento saudável 
e de se casar e assumir responsabilidades. 
A vida de Kafka foi curta. Desde cedo, ele demonstrou ter uma saúde frágil. 
Com vinte anos, precisou ser internado pela primeira vez em um sanatório 
porque tinha tuberculose. Ao longo dos seus quarenta anos de vida, Kafka 
passou várias temporadas em sanatórios ou na casa da sua irmã, Ottla, para 
convalescer. Por um lado, isso lhe dava mais tempo para dedicar à literatura: 
o seu pai, que desejava que ele trabalhasse na loja da família, via-se impedido 
de o obrigar e, durante a Primeira Guerra Mundial, Kafka não pode se alistar 
por conta dos seus problemas de saúde. 
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No seu último ano de vida, Kafka não conseguia mais se alimentar direito 
por conta da dor causada pela tuberculose. Curiosamente, ele trabalhava, 
nessa época, em um conto chamado de “Um artista da fome”, que narra a 
história de um artista que fazia muito sucesso apenas jejuando. As pessoas 
pagavam para ver como alguém poderia sobreviver sem ingerir alimentos. 
Esse entusiasmo inicial arrefeceu, e o artista caiu no esquecimento. Kafka se 
sentia esquecido quando morreu: as suas obras nunca fizeram muito sucesso. 
O reconhecimento da qualidade dos seus textos e da sua genialidade chegaram 
apenas postumamente.
A obra de Franz Kafka
Você já ouviu alguma vez o termo “kafkiano”? Quando falamos que um 
livro ou um fi lme (ou até mesmo uma cena ocorrida no nosso cotidiano) é 
“kafkiano”, podemos querer dizer várias coisas: 1) que um personagem se 
encontra em uma situação que o subjuga, como o sem sentido da burocracia 
extremada; 2) que a cena representada é quase surreal, completamente sem 
sentido; 3) que o personagem se encontra como que em um labirinto, mas ele 
não possui a capacidade de encontrar o caminho que o levará à saída; 4) que ele 
está completamente desamparado. Todos esses são temas das obras de Kafka 
que, de tão lidas, relidas e transformadas em outras narrativas a partir de um 
processo de adaptação, acabaram por se descolar dos livros e se transformar 
em um conceito para explicar diversos fenômenos.
Note como todos esses sentidos para o termo “kafkiano” se relacionam 
com o que discutíamos antes sobre a modernidade. Lembre-se do homem do 
final do século XIX e início do XX dividido entre uma pré-modernidade e a 
modernidade, ainda um pouco perdido em meia a tantas novidades e mudanças. 
Lembre-se da pressa, da corrida pelo lucro, do individualismo. Os personagens 
de Kafka são, em geral, aqueles que não conseguem se adaptar a esse novo 
contexto: eles se sentem perdidos, sozinhos, incapazes; eles buscam algo que 
não existe mais e acabam desesperados nesse percurso. 
Repare, por exemplo, no enredo de um conto de Kafka, O processo: essa 
é a história de Josef K., um bancário que é surpreendido por um processo 
contra ele. Ele é processado, mas, mesmo assim, não tem ideia de qual seja o 
motivo do processo. Josef K. vê-se completamente perdido em um processo 
absurdo do qual não conhece a natureza; é obrigado a fazer coisas das quais 
não compreende o sentido ou o motivo; participa de um julgamento completa-
mente sem lógica ou explicação. Kafka trabalha com o absurdo da realidade: 
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apesar de se preocupar em retratar o mundo onde vivia, ele coloca os seus 
personagens em situações grotescas e impossíveis justamente para mostrar o 
quão absurdo era esse mundo.
A sua mais famosa obra, A metamorfose, retrata muito bem o realismo 
quase grotesco de Kafka (Figura 3). Essa novela, escrita entre novembro e 
dezembro de 1912, conta a história de Gregor Samsa. Gregor é um caixeiro 
viajante que sustenta a sua família composta pelo pai, a mãe e a irmã, Grete. 
Figura 3. Capa da primeira edição de A metamorfose.
Fonte: A metamorfose (2017). 
Leia a abertura do texto: 
Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos,Gregor Samsa encon-
trou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava 
deitado sobre suas costas duras como couraça e, quando levantou um 
pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido em segmen-
tos arqueados, sobre o qual a coberta, prestes a deslizar de vez, apenas 
se mantinha com dificuldade. Suas muitas pernas, lamentavelmente 
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finas em comparação com o volume do resto de seu corpo, vibravam 
desamparadas ante seus olhos (KAFKA, 2001, p. 13).
Gregor Samsa, já no primeiro parágrafo da novela, transforma-se um inseto 
asqueroso — em uma barata. Perceba o tom seco do trecho: outro escritor 
poderia, por exemplo, ter descrito todas as emoções sentidas por Gregor quando 
se deu conta da sua natureza metamorfoseada. Tente imaginar que um dia você 
acorda de uma noite de sono e descobre que se transformou em uma barata: 
você acha que gritaria? Choraria? Lamentaria a sua nova natureza? Gritaria por 
ajuda? Acharia que havia enlouquecido? Nessa narrativa, ao contrário do que 
muitos podem esperar, essa bizarra transformação é descrita sem sobressaltos, 
como se fosse algo muito natural e corriqueiro.
Enquanto ainda está na cama, tentando se acostumar à sua nova forma 
e procurando se levantar, Gregor reflete sobre a sua profissão e sobre como 
é cansativo ter que viajar todos os dias. Quer dizer: ele acaba de perceber 
que não é mais humano (ele agora é um inseto gigante!) e, mesmo assim, a 
sua mente se dirige para outros assuntos, como o seu emprego. Gregor olha 
o relógio e descobre que já deveria ter saído de casa há muito tempo. Então, 
reflete sobre que trem pegar para amenizar a situação. Ele achava que tudo 
não passava de uma alucinação. 
Gregor tem dificuldades para se levantar e, por conta do seu atraso, o pai, a 
mãe e o gerente da sua firma esperam por ele do lado de fora da porta trancada. 
Gregor se explica em voz alta a fim de que todos compreendam a situação:
Mas, senhor gerente — gritou Samsa fora de si e esquecendo-se de tudo 
em sua agitação —, eu vou abrir logo, num instante. Um leve mal-estar, um 
ataque de vertigem, me impediram de levantar. Agora ainda estou deitado 
na cama. Mas já estou completamente recuperado de novo. Acabo de me 
levantar. Só um momentinho de paciência! (KAFKA, 2001, p. 29).
Perceba como Gregor parece muito mais preocupado em manter o seu 
emprego e justificar a sua falta ao chefe do que com a sua transformação tão 
absurda e surreal. Contudo, se, para Gregor, as suas palavras haviam sido 
proferidas de forma clara e alta, o gerente comenta com os pais: “Entenderam 
uma única palavra? [...] Era uma voz de animal” (KAFKA, 2001, p. 31). 
Depois disso, passam-se algumas páginas com o protagonista tentando 
abrir a porta com as suas novas patas e o suspense começa a crescer: o que 
as pessoas do outro lado falarão quando enxergarem a enorme barata na qual 
Gregor se transformou? 
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Francisco
Sublinhado
Finalmente chega o momento da revelação:
Ainda estava ocupado naqueles movimentos difíceis, não tendo tempo 
de dar atenção a qualquer outra coisa, quando escutou o gerente soltar 
um “Oh!” alto — ele soou como o vento a zunir —, vendo logo depois 
como ele, que era o mais próximo da porta, apertava a mão contra a boca 
e recuava devagar, como se estivesse sendo afastado por uma força invisível 
e constante. A mãe — que estava parada ali e, apesar da presença do 
gerente, ainda não havia arrumado os cabelos desfeitos da noite anterior 
— olhou primeiro para o pai, com as mãos entrelaçadas, depois deu dois 
passos em direção a Gregor e caiu em meio às saias que se espalhavam a 
seu redor, com o rosto afundado ao peito, e totalmente encoberto. O pai 
cerrou o punho com expressão hostil, como se quisesse empurrar Gregor 
de volta ao quarto, depois olhou a sala em volta de si, inseguro; em seguida 
levou as mãos aos olhos, cobrindo-os, e chorou, a ponto de fazer seu peito 
poderoso sacudir-se num frêmito (KAFKA, 2001, p. 33-34).
Atente em alguns detalhes desse trecho. Primeiro, em relação ao pai: a 
mãe, antes de qualquer coisa, olha para a figura paterna, mostrando ser ele a 
referência; o pai, inicialmente, adquire uma expressão hostil e deseja esconder 
a barata, como se estivesse mais preocupado com o que o gerente pensaria do 
que com o fato de o seu único filho ter se transformado em um inseto; o peito 
do pai é descrito como “poderoso”. Apenas a partir desses pequenos dados 
já notamos o quanto a figura do pai é poderosa e como ele é o centro daquela 
família, mesmo sendo Gregor quem leva dinheiro para o sustento de todos.
Depois, você deve reparar no que é dito sobre a mãe — “que estava parada 
ali e, apesar da presença do gerente, ainda não havia arrumado os cabelos 
desfeitos da noite anterior”. Mesmo que um ser humano tenha se transformado 
em uma barata; mesmo que nessa cena seja descrito o momento no qual aos 
pais é revelada essa terrível metamorfose do filho; mesmo que essa seja uma 
situação completamente terrível e absurda — ainda há espaço para reparar que 
a mãe estava com os cabelos descompostos na frente do gerente. É quase como 
se Gregor aparecer como uma barata na frente do gerente se equivalesse à mãe 
e ao seu cabelo despenteado se mostrarem para esse mesmo homem. O absurdo 
está praticamente no mesmo nível do corriqueiro. E a quase trivialidade com 
que essa situação extrema é narrada causa choque e perplexidade no leitor. 
Veja o que Gregor fala (ou pensa falar) logo que aparece na porta do seu quarto: 
“Bem — disse Gregor, e estava perfeitamente ciente de que era o único que havia 
guardado a calma —, eu logo irei me vestir, empacotar o mostruário e partir” 
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(KAFKA, 2001, p. 35). Ele espera que o gerente compreenda a situação (que, 
para Gregor, corresponde a uma gripe, a um leve mal-estar que logo passará) e 
que não o demita. Como ou por que a transformação em barata aconteceu com 
ele e de que forma voltar à sua natureza humana — esses não são problemas 
que passam pela sua cabeça. Ele fica muito frustrado com o fato de o seu pai 
(que, para ele, parecia ter mantido a calma até aquele momento), no lugar de 
ajudá-lo a ir atrás do gerente que fugia assustado para explicar a situação e 
manter o emprego, começar a enxotá-lo com uma bengala e um jornal enrolado.
Agora vamos ler quais são as primeiras conversas da família sobre a 
situação:
Já no decorrer do primeiro dia o pai havia exposto, tanto à mãe quanto 
à filha, a situação financeira em que estavam, bem como as perspectivas 
em relação ao futuro. Aqui e ali, levantava da mesa e pegava de seu 
pequeno cofre-forte, que ele conseguira salvar da falência ocorrida com 
seu negócio há cinco anos, algum tipo de comprovante ou mesmo um 
livro de notas (KAFKA, 2001, p. 51).
Seu filho se transformou em uma barata e você se preocupa, em primeiro 
lugar, com o quê? Com dinheiro. Essa horrível metamorfose ocorreu, mas a 
vida segue e é necessário continuar se alimentando, pagando o aluguel e vi-
vendo — você se lembra daquele egoísmo dos tempos modernos de que falamos 
antes? Nesse excerto, também ficamos sabendo o motivo de ser Gregor quem 
sustenta a casa: o pai era um comerciante de sucesso até encontrar a falência.
Depois de algum tempo, o pai, a mãe e a irmã precisam arranjar empregos, 
no que têm sucesso. A situação em casa, contudo, começa a ficar insustentável 
até que a irmã desabafa:
Isso tem que sair daqui — exclamou a irmã —, é o único meio, pai. Tu 
simplesmente tens de te livrar do pensamento de que é Gregor. Que 
tenhamos acreditado por tanto tempo, essa é que é a nossa verdadeira 
desgraça. Mas como é que podeser Gregor? Se fosse Gregor, ele já teria 
compreendido há tempo que o convívio de seres humanos com um bicho 
assim não é possível, e teria ido embora de vontade própria. Caso isso 
acontecesse, nós não teríamos irmão, mas poderíamos seguir vivendo e 
honrar sua memória. Mas esse bicho nos persegue, expulsa os inquilinos, 
obviamente que tomar para si o apartamento inteiro e fazer com que 
nós passássemos a noite na rua (KAFKA, 2001, p. 93).
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O membro da família que era mais próximo de Gregor quando ele exibia a 
forma humana (a irmã) é, nesse momento, quem enxerga a situação de forma mais 
prática e menos emocional. Você notou como ela se refere ao irmão? Ela sentencia 
que “isso tem que sair” — e isso é um pronome demonstrativo usado para coisas, 
não para parentes, para pessoas. O processo de animalização e de coisificação 
de Gregor começa a ser finalizado justamente porque, aos olhos dos outros, ele 
passa a ser um isso. Aquela barata é apenas um inseto, não Gregor Samsa, justifica 
a jovem. Para ela, não apenas o exterior de Gregor mudou, mas também o seu 
interior, pois ele é agora um ser que expulsa os inquilinos e deseja tomar todo o 
apartamento para si. É como se ela quisesse se convencer e convencer os pais, 
bem como justificar um abandono do irmão, afirmando que ele já não existe mais.
Mas você acha que Kafka queria simplesmente narrar um evento insólito e contar 
a história de um homem que se transforma em uma barata? Na verdade, a história 
de A metamorfose é muito mais do que a simples narrativa de um homem que sofre 
uma tenebrosa metamorfose. Kafka usava muito frequentemente, nas suas obras, 
um recurso chamado de metáfora: para falar de uma situação ou de uma condição 
humana, ele não simplesmente as descrevi, mas inventava outra história, cujo sentido 
era essa situação ou condição sobre a qual ele queria refletir. A história do homem que 
vira um inseto, então, guarda um significado escondido (Figura 4).
Figura 4. Kafka transformado em barata.
Fonte: Elsa Korkiainen/Shutterstock.com
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Francisco
Realce
Como estamos lidando com literatura, esse sentido escondido pode ser 
vários. Cada pessoa pode pensar, dentro dos limites impostos pela narrativa, 
em diferentes interpretações. Porém, podemos apontar algumas possibilidades, 
pensando no contexto histórico de Kafka e na sua vida.
Primeiro, vamos pensar na situação dos trabalhadores na época: incapa-
zes de tirar sustento de outros lugares, eles eram obrigados a se submeter a 
condições de trabalho extremamente precárias. Nesse mundo capitalista, o 
trabalhador é explorado, acuado e impedido de ter uma vida pessoal e social 
satisfatória. Tudo o que ele pode pensar é em como sobreviverá pelos próximos 
dias. Alienação é uma palavra muito importante nesse sentido: o ser humano 
é privado dos seus direitos mais básicos e é privado, inclusive, do poder sobre 
si mesmo. Os indivíduos são desumanizados pelo trabalho.
Assim, faz sentido que, mesmo tendo percebido que se transformou em 
barata, Gregor se preocupe com o seu cargo, com as suas viagens e com as suas 
vendas. Ele está tão imerso nesse mundo que não pode pensar em qualquer 
outra coisa. Na verdade, podemos ponderar que foi justamente a alienação 
pelo trabalho que lhe transformou em um ser não humano, em uma barata. 
Além disso, é possível dizer que o cotidiano e a normalização da burocracia 
acabaram por automatizar os homens: nem uma transformação tão estranha 
e tão fora da realidade é capaz de causar assombro e de tirar o foco da neces-
sidade de produção. Gregor está tão preocupado em trabalhar para pagar as 
dívidas do pai, dar a possibilidade à irmã de estudar música e dar de comer a 
todos que ele próprio não tem vida — ele não é propriamente humano mesmo 
antes da transformação.
Por outro lado, quando Gregor se transforma em barata, ele passa a não falar 
mais uma língua humana, sendo totalmente incompreendido por todos. Essa 
transformação em barata, então, pode ser a representação de um sentimento 
de inadequação, de não pertencimento. Gregor talvez já se sentisse diferente 
dos outros antes mesmo da sua transformação, que só vem para dar uma forma 
concreta a um sentimento abstrato; talvez ele já fosse incapaz de se adaptar 
completamente ao mundo moderno. Assim que se torna uma barata, ele se 
transforma em um parasita da família — não só por realmente ser um inseto, 
mas igualmente por não poder trabalhar e trazer dinheiro para casa. 
Também poderíamos refletir sobre a imagem desse pai da narrativa: um 
comerciante, como o pai de Kafka; um homem poderoso e forte, como o pai 
de Kafka; um líder que comanda a sua família, como o pai de Kafka. O pai 
de Gregor igualmente pode representar qualquer homem mais adaptado ao 
mundo moderno que acabe subjugando os mais fracos.
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E o que acontece ao fim da trama? Gregor consegue se transformar no-
vamente em homem? O motivo da sua transformação é descoberto? Algum 
familiar o ajuda a encontrar alguma espécie de antídoto, ou a sua situação é 
irreversível? O pai, a mãe e a irmã aprendem a conviver com o seu eu barata? 
O que acontece com eles? Leia essa instigante narrativa de Kafka, que já serviu 
de inspiração para filmes, histórias em quadrinhos, mangás, desenhos, etc., 
e descubra o destino de Gregor Samsa. 
1. Kafka viveu em um período 
histórico marcado por muitas 
mudanças, entre o final do século 
XIX e o início do XX. Sobre essa 
época, é correto afirmar que:
a) era uma época de total felicidade 
e realização por conta dos 
muitos inventos, como o carro 
e o telefone, que facilitaram 
o cotidiano das pessoas.
b) com as novas tecnologias, como 
o carro, o bonde elétrico e novas 
máquinas modernas nas fábricas, 
as condições de trabalho dos 
operários melhoraram bastante.
c) uma das invenções que passou 
a fazer parte do cotidiano 
das pessoas nessa época foi 
o telefone. Com o avanço 
nos meios de comunicação, 
as pessoas passaram a, 
em geral, sentir-se menos 
solitárias e desamparadas.
d) a Primeira Guerra Mundial não 
teve um grande impacto, pois 
apenas alguns países foram 
campo de batalha, apesar 
de muitos terem participado 
mandando soldados.
e) a burocracia em excesso foi 
uma faceta dessa época.
2. Kafka nasceu em 1883 e morreu 
em 1924. Sobre a sua vida e 
obra, é correto afirmar que:
a) as suas obras estavam em tanta 
sintonia com os sentimentos 
da sociedade em geral que 
foram um sucesso imediato.
b) a obra de Kafka retrata 
situações absurdas e grotescas 
que impactam o leitor.
c) Kafka nunca conseguiu se 
manter em um emprego, em 
parte por conta da sua saúde 
frágil e em parte por conta 
da sua vontade de se dedicar 
cada vez mais à literatura.
d) nas obras de Kafka, percebe-se 
o entusiasmo pela modernidade 
e pelas novas tecnologias, 
como o telefone ou o carro.
e) Kafka nunca casou, e as mulheres 
não tiveram um grande 
impacto na sua vida — ele 
preferia se dedicar à literatura.
3. A metamorfose é uma das obras 
mais famosas de Kafka. Esse 
livro conta a história de Gregor 
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Francisco
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Francisco
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Samsa, um caixeiro viajante que 
acorda, um dia, e percebe ter se 
transformado em uma barata. Sobre 
esse livro, é correto afirmar que:
a) por contar a história de um 
homem que se transforma 
em uma horrenda barata, 
é um livro que se encaixa 
no gênero do terror.
b) Grete era a irmã de Gregor 
Samsa. Os dois irmãos eram 
bastante próximos antes da 
metamorfose, e Grete foi a única 
que continuou ajudando-o 
e apoiando-o depois deele 
adquirir a sua forma de barata.
c) toda a narrativa gira em 
torno de Gregor procurando 
um antídoto ou uma forma 
de voltar a ser humano.
d) o livro apresenta uma situação 
grotesca e surreal, bem como 
um personagem perdido em 
um mundo moderno no qual 
não consegue se adaptar.
e) a metamorfose em barata é 
construída, na narrativa, como se 
fosse uma maldição jogada em 
Gregor devido à sua ganância.
4. Carta ao pai é uma obra de Kafka 
escrita em 1919. Leia atentamente 
o trecho abaixo e assinale a 
alternativa correta sobre a sua 
interpretação e sobre esse livro:
Seja como for, éramos tão diferentes 
e nessa diferença tão perigosos 
um para o outro, que se alguém 
por acaso quisesse calcular por 
antecipação como eu, o filho que 
se desenvolvia devagar, e tu, o 
homem feito, se comportariam 
um em relação ao outro, poderia 
supor que tu simplesmente me 
esmagarias sob os pés, a ponto 
de não sobrar nada de mim.
a) O narrador diz que pai e filho 
eram perigosos um para o outro 
porque ambos eram muito fortes.
b) Quando o narrador afirma que 
o filho se desenvolvia devagar 
é porque ele sempre viveu 
cercado de cuidados e auxílios 
e nunca precisou resolver 
os problemas por si só.
c) Essa foi uma carta que 
Kafka escreveu para o pai, 
explicando como ele se sentia 
em relação à figura paterna 
esmagadora e sufocante.
d) Kafka entregou a carta ao pai, que 
começou a entender um pouco 
melhor o filho tão diferente de 
si. Foi o pai que lhe incentivou a 
publicar a carta, devido à imensa 
qualidade estética do texto.
e) O narrador fala sobre “o filho 
que se desenvolvia devagar”, 
e essa seria apenas a visão 
do pai sobre o filho, que não 
corresponderia à realidade.
5. Leia o trecho abaixo de A 
metamorfose, sobre o momento no 
qual os pais de Greg e o Gerente se 
deparam com a sua metamorfose em 
barata, e assinale a alternativa correta.
Gregor percebeu que não poderia 
de modo algum deixar o gerente 
ir-se embora no estado de espírito 
em que se encontrava, caso não 
quisesse ver seu emprego na firma 
em perigo extremo. Os pais não 
compreendiam tudo isso muito 
bem; eles haviam formado para si 
ao longo de todos aqueles anos a 
convicção de que Gregor estava 
garantido naquela firma pelo resto 
da vida; e além do mais tinham 
tanto a fazer com as preocupações 
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Francisco
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A METAMORFOSE. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/A_Metamorfose>. Acesso em: 13 ago. 2017.
DE KAFKA BRIEF AN DEN VATER. In: Wikipédia. 1994. Disponível em: <https://com-
mons.wikimedia.org/wiki/File:De_Kafka_Brief_an_den_Vater_001.jpg>. Acesso em: 
13 ago. 2017.
FRANZ KAFKA. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Franz_Kafka>. Acesso em: 13 ago. 2017.
KAFKA, F. A metamorfose. Porto Alegre: L&PM, 2001. 
KAFKA, F. O desaparecido ou Amérika. São Paulo: Editora 34, 2012.
MARINETTI, F. T. Manifesto futurista. In: Wikipédia. 2016. Disponível em: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_Futurista>. Acesso em: 13 ago. 2017.
SANTOS, T. B. dos. Tecnologias e Franz Kafka: experiências profissionais e sua rele-
vância na ficção. Revista de Letras, v. 50, n. 2, 2010. Disponível em: <http://seer.fclar.
unesp.br/letras/article/view/4700>. Acesso em: 13 ago. 2017.
momentâneas que qualquer previsão 
não poderia estar mais longe de 
seu alcance. Mas Gregor era capaz 
dessa previsão. O gerente tinha de 
ser detido, acalmado, persuadido, 
e por fim conquistado; o futuro de 
Gregor e sua família dependia disso!
a) A “previsão” a que Gregor se 
refere (que ele conseguiria 
fazer, mas, a sua família, 
não) diz respeito à perda do 
emprego de caixeiro viajante.
b) As “preocupações 
momentâneas” que Gregor 
afirma ter a sua família naquele 
momento dizem respeito à 
iminente perda do emprego.
c) Gregor se preocupa com 
a possibilidade de ser 
demitido, porque, em 
nenhum momento, perde as 
esperanças de se transformar 
novamente em humano.
d) Pela sua preocupação, em 
primeiro lugar, com os familiares, 
percebe-se que o personagem 
Gregor Samsa é construído 
como um herói salvador.
e) Quando o narrador afirma “o 
futuro de Gregor e sua família 
dependia disso”, o pronome 
“disso” se refere à necessidade 
de a família de Gregor fazer a 
previsão sobre a possibilidade de 
ele perder o emprego. Apenas 
assim o Gerente poderia ser 
impedido de sair às pressas e 
persuadido a não demitir Gregor.
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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Kafka sempre teve uma relação muito complicada com seu pai, Hermann Kafka. O pai era um 
comerciante de sucesso que havia começado do nada e vencido a partir de seu próprio esforço – 
o que ele sempre gostou muito de salientar, de forma arrogante, na frente do filho.
O filho, por outro lado, enxergava-se como um fracassado em relação às expectativas do pai. 
Sobre essa conturbada relação entre pai e filho, Kafka escreveu uma obra muito importante: 
Carta ao pai.
Neste vídeo, você vai descobrir como o pai é construído a partir dos olhos do filho.
Assista.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
EXERCÍCIOS
1) Kafka viveu em um período histórico marcado por muitas mudanças, entre o final do 
século XIX e o início do XX. Assinale a alternativa correta sobre essa época.
A) Entre o final do século XIX e o início do século XX, inicia uma época de total felicidade e 
realização por conta dos muitos inventos, como o carro e o telefone, que facilitam o 
cotidiano das pessoas.
B) Com as novas tecnologias, como o carro, o bonde elétrico, as novas máquinas modernas 
nas fábricas, as condições de trabalho dos operários melhoraram muito.
C) Uma das invenções que passou a fazer parte do cotiano das pessoas nessa época foi o 
telefone. Com o avanço nos meios de comunicação, as pessoas passaram a, em geral, 
sentir-se menos solitárias e desamparadas.
A Primeira Guerra Mundial não teve um grande impacto, pois apenas alguns países foram D) 
campo de batalha, apesar de muitos terem participado mandando soldados.
E) A burocracia em excesso foi uma faceta dessa época.
2) Kafka nasceu em 1883 e morreu em 1924. Sobre a sua vida e obra, é correto afirmar 
que:
A) suas obras estavam em tanta sintonia com os sentimentos da sociedade em geral, que 
foram um sucesso imediato.
B) a obra de Kafka retrata situações absurdas e grotescas que impactam o leitor.
C) Kafka nunca conseguiu manter-se em um emprego, em parte por conta de sua saúde frágil 
e em parte por conta de sua vontade de se dedicar cada vez mais à literatura.
D) nas obras de Kafka, surge o entusiamo pela modernidade e pelas novas tecnologias, como 
o telefone ou o carro.
E) Kafka nunca casou e as mulheres não tiveram um grande impacto em sua vida – ele 
preferia dedicar-se à literatura.http://homoliteratus.com/10-filmes-com-referencias-as-
obras-de-franz-kafka/
3) "A metamorfose" é uma das obras mais famosas de Kafka. Esse livro conta a história 
de Gregor Samsa, um caixeiro viajante que acorda, um dia, e percebe ter se 
transformado em uma barata. Sobre esse livro, é correto afirmar que:
A) a metamorfose, por contar a história de um homem que se transforma em uma horrenda 
barata, é um livro que se encaixa no gênero do terror.
Grete era a irmã de Gregor Samsa. Os dois irmãos eram muito próximos antes da 
metamorfose e Grete foi a única que continuou ajudando-o e apoiando-o depois de ele 
B) 
adquirir sua forma de barata.
C) toda a narrativa gira em torno de Gregor procurando um antídoto ou uma forma de voltar a 
ser humano.
D) o livro apresenta uma situação grotesca e surreal, assim como um personagem perdido em 
um mundo moderno no qual não conseguese adaptar.
E) a metamorfose em barata é construída, na narrativa, como se fosse uma maldição jogada 
em Gregor devido à sua ganância.
4) "Carta ao pai" é uma obra de Kafka escrita em 1919. Leia atentamente o trecho a 
seguir e assinale a alternativa correta sobre a sua interpretação e sobre esse livro. 
“Seja como for, éramos tão diferentes e nessa diferença tão perigosos um para o 
outro, que se alguém por acaso quisesse calcular por antecipação como eu, o filho que 
se desenvolvia devagar, e tu, o homem feito, se comportariam um em relação ao 
outro, poderia supor que tu simplesmente me esmagarias sob os pés, a ponto de não 
sobrar nada de mim.”
A) O narrador diz que pai e filho eram perigosos um para o outro, porque ambos eram muito 
fortes.
B) Quando o narrador afirma que o filho desenvolvia-se devagar, é porque ele sempre viveu 
cercado de cuidados e auxílios e nunca precisou resolver os problemas por si só.
C) Essa foi uma carta que Kafka escreveu para o pai, explicando como ele se sentia em 
relação à figura paterna esmagadora e sufocante.
D) Kafka entregou a carta ao pai, que começou a entender um pouco melhor o filho tão 
diferente de si. Foi o pai que lhe incentivou a publicar a carta, devido à imensa qualidade 
estética do texto.
E) O narrador fala sobre "o filho que se desenvolvia devagar" e essa seria apenas a visão do 
pai sobre o filho, que não corresponderia à realidade.
5) Leia o trecho a seguir de "A metamorfose", sobre o momento no qual os pais de 
Gregor e o gerente deparam-se com a sua metamorfose em barata. 
"Gregor percebeu que não poderia de modo algum deixar o gerente ir-se embora no 
estado de espírito em que se encontrava, caso não quisesse ver seu emprego na firma 
em perigo extremo. Os pais não compreendiam tudo isso muito bem; eles haviam 
formado para si ao longo de todos aqueles anos a convicção de que Gregor estava 
garantido naquela firma pelo resto da vida; e além do mais tinham tanto a fazer com 
as preocupações momentâneas que qualquer previsão não poderia estar mais longe 
de seu alcance. Mas Gregor era capaz dessa previsão. O gerente tinha de ser detido, 
acalmado, persuadido, e por fim conquistado; o futuro de Gregor e sua família 
dependia disso!" 
Sobre a interpretação desse excerto, é correto afirmar que:
A) a "previsão" a que Gregor refere-se – que ele conseguiria fazer e sua família, não – diz 
respeito à perda do emprego de caixeiro viajante.
B) as "preocupações momentâneas", que Gregor afirma ter sua família, naquele momento 
dizem respeito à iminente perda do emprego.
C) Gregor preocupa-se com a possibilidade de ser demitido, pois, em nenhum momento, 
perde as esperanças de se transformar novamente em humano.
D) pela sua preocupação, em primeiro lugar, com os familiares, percebe-se que o personagem 
Gregor Samsa é construído como um herói salvador.
E) quando o narrador afirma "o futuro de Gregor e sua família dependia disso", o pronome 
disso refere-se à necessidade da família de Gregor de fazer a previsão sobre a possibilidade 
de ele perder o emprego. Apenas assim o gerente poderia ser impedido de sair às pressas e 
persuadido a não demitir Gregor.
NA PRÁTICA
A história do personagem que se transforma em uma barata, em A metamorfose, já foi adaptada 
e já serviu de inspirações para outros livros, filmes, músicas, etc. incontáveis vezes.
Uma das mais curiosas, porém, é a versão da banda brasileira Inimigos do Rei. A música 
chama-se Uma barata chamada Kafka e conta a história de alguém que encontra uma barata 
igual a si. A seguir, confira e letra da música:
Perceba como o drama de Gregor Samsa é adaptado para um outro contexto: se você assistir ao 
Isso mostra o quanto a situação de Gregor, em A 
metamorfose, tem várias interpretações e trata, na verdade, de temas universais: 
a sensação de pequenez diante de um mundo assustador; o sentimento de não adaptação ou de 
inferioridade; a percepção do abismo entre o Eu e o mundo, que coloca esse Eu como um 
estrangeiro, como um ser diferente, como um ser de outra espécie.
Cada leitor pode identificar-se por uma ou outra peculiaridade em sua vida com a situação do 
protagonista – como o personagem dessa música, claramente alguém considerado como 
"desajustado".
Agora é a sua vez: perceba e reflita sobre como a história de A metamorfose é transformada em 
algumas outras adaptações, como a versão em quadrinhos da história de Kafka, A metamorfose, 
de 2004.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
As obras de Kafka influenciaram muitas obras do cinema. Veja nesse site alguma delas.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Veja no artigo A metamorfose da metamorfose: a monstruosidade de Kafka em 
quadrinhos, uma forma diferente de interpretar as obras de Kafka.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Neste vídio, aprofunde seus conhecimentos sobre Franz Kafka e sobre sua obra.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

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