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Desenvolvimento psicológico e social na primeira infância

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Desenvolvimento psicológico e social na primeira infância
A Primeira Infância é um período determinante para o desenvolvimento do ser humano em todos seus aspectos, cognitivo, afetivo e físico. O bebê desde a vida uterina tem um potencial orgânico, memórias, ouve, sente cheiros e gostos para que venha a se tornar um sujeito a partir da relação específica que é estabelecida com seus cuidadores. O desenvolvimento cerebral é tão influenciado pela genética, quanto pelo ambiente em que vive. Dessa forma, ao nascer a criança que outrora era uma parte do corpo da mãe, está no mundo e precisa se adaptar, sendo necessário um ambiente suficientemente sustentador, todos os eventos ocorridos nesse período estão sob influência do contexto ambiental principalmente o lar onde vive, sendo dever dos pais suprir as necessidades essenciais como alimentação , afeto e condições de saúde, higiene e segurança, ainda transmitir valores culturais e educacionais. 
Nesse sentido a criança é um produto do meio em que vive, como os cuidadores respondem aos seus sinais, a forma que oferecem segurança , criando assim vínculos afetivos seguros, os cuidados diários são o elo que fortalecem esse vínculo entre mãe e filho, fazendo com que ela se dedique a ele intensamente, sendo capaz de esquecer até de si própria. A maternidade não se refere necessariamente à mãe natural, embora frequentemente seja por ela realizada. Portanto, crianças criadas em creches ou com outros tipos de vinculações, que não com a mãe, desenvolver-se-ão de acordo com a qualidade destas vinculações, dentro da função parental, temos a paterna, o papel do pai é fundamental, que é mostrar á criança que existe um mundo além da mãe, e liberá la para retomar sua vida, essa função pode ser exercida por diferentes gêneros.
 O ser mãe se constrói á medida que alguém depende de seus cuidados, há um inter-relacionamento, onde dois seres estão interferindo e modificando se mutuamente, o momento da amamentação é propício para a mãe se vincular ao bebê, ele reconhece seu cheiro, o som da sua voz, criando assim uma conexão de apoio, que ele poderá esperar das pessoas ao seu redor. Quando o bebê mama, ele olha a mãe, a primeira imagem facial, a face da mãe que permite a percepção do mundo, existindo fora da criança. Baseada nessas trocas recíprocas entre criança e mãe, forma-se a imagem corporal, sendo esta a base sobre a qual é construído o EU da criança.
O bebê ao nascer tem uma experiência difusa que não é sentir fome, ele é a própria fome e no meio desse caos, ele forma o contorno com o auxílio da mãe que também se integra a nova função, que é proteger, cuidar e suprir suas necessidades, á medida que a relação evolui a mãe recua nessa sua atividade e fornece os elementos necessários para que ele adquira sua autonomia. No início, o recém-nascido não percebe a mãe como distinta de si próprio, ela é simplesmente parte da totalidade de suas necessidades e satisfação.
 A criança apenas registra o alívio da tensão e não o objeto que causa o alívio. Atribui o alivio a si próprio, e isso é o que chamamos de onipotência , ou seja, ideia inconsciente de poder, á medida que ocorre o distanciamento da mãe ele se desenvolve na mesma proporção, dando início aos movimentos reflexos que ocorrem sem o seu comando, adquirindo assim a capacidade de se mover sozinho, pegar objetos e sentir seu próprio corpo e as pessoas ao seu redor, leva os objetos à boca formando a noção de si próprio, separadamente da mãe, assim também percebe os sons que posteriormente serão conduzidos por ele.
 A linguagem se inicia com um choro, um gesto, um gemido, se desenvolve á medida que ocorre a troca de fala e escuta entre o bebê e seu cuidador, a entonação da voz afetuosa contagia essa relação. O desejo é o que define o ser humano, a tarefa dos pais é incentivar o infante a ter autonomia, respeitando sua individualidade.
 Da mesma forma que o nascimento biológico é marcado por uma separação física, o nascimento psicológico é uma separação psíquica entre mãe e filho, é o momento em que a criança diferencia o eu do não-eu. A criança não percebe quem ela é, mas que ela é, assim aos poucos ele adquire a noção de que é o dono do próprio corpo, testando muitas vezes até onde os limites são flexíveis. Até então, a criança não nasceu no sentido de que não se diferenciou da mãe, havia um estado de simbiose entre eles, apesar desse processo ser individual, espera- se que no primeiro ano de vida a criança reconheça sua existência separada do outro, progredindo gradativamente ao longo dos anos. 
Esse processo de individuação é fruto da atividade da criança em sua interação com o mundo, aprendendo lidar com a falta, cria recursos para diminuir os impactos do sofrimento. Desse modo, essa falta desempenha um papel fundamental no desenvolvimento adaptativo, para diminuir a dor, a criança elabora e coordena os registros espalhados no sistema nervoso, a ausência da mãe faz com que a criança a recrie em sua mente, representando- a mentalmente na sua ausência, adquirindo assim a noção de permanência do objeto. Em síntese, a perda da onipotência é o momento do surgimento do ser humano.
Infância negada
O contexto ambiental em que a criança vive, exerce importante papel no desenvolvimento infantil, com destaque para o familiar, quanto mais o ambiente for agradável e afetuoso, melhor a criança se desenvolverá em consequência dos estímulos e interação recebidos. Entretanto, a constância de negligências e experiências negativas vividas em um ambiente estressante impedem que a criança atinja seu potencial pleno, gerando assim irritabilidade e bloqueios no desenvolvimento.
 A formação de um bom vínculo afetivo entre os pais e a criança promove, nos anos subsequentes, adequada regulação das emoções, ou seja, a criança lida melhor com suas frustrações, e crescem psicologicamente saudáveis. Um ambiente de aceitação e forte interação entre os pais e filhos propicia liberdade para a criança comunicar seus desejos e interesses. Além da casa, cada vez mais se tem destacado a influência de ambientes educacionais no desenvolvimento infantil, pois, com a maior participação da mulher no orçamento familiar, as crianças têm ido cada vez mais cedo para creches, onde passam de 4 a 12 horas diárias.
 Os estudos indicam que as creches podem contribuir para o desenvolvimento infantil, caso a oferta dos serviços seja de boa qualidade, isso é importante principalmente para crianças residentes em ambientes familiares de risco para o desenvolvimento. Destarte, crianças economicamente desfavorecidas estão expostas a vários fatores de risco socioeconômicos mediados pela família ou vizinhança onde residem, elas estão em desvantagem e têm menos oportunidades de atingir seu pleno potencial de desenvolvimento, em relação às crianças economicamente favorecidas.
 Nessas condições, creches de boa qualidade poderiam mediar melhor o desenvolvimento a longo prazo. Portanto, é de responsabilidade dos pais manter a integridade física e emocional da criança, protegendo-a de todo tipo de violência, visto que uma criança que vive em um ambiente hostil e violento tende, a repetir esse padrão de comportamento na fase adulta.
A criança é um sujeito em formação que precisa ser ouvida e compreendida, é importante que o adulto a escute e valide o que ela diz, criando laços de confiança, o potencial quando desperto desde a tenra infância possibilita um melhor engajamento em todos os setores da vida. Ao ter suas necessidades atendidas o bebê cria uma memória de satisfação, por outro lado quando essas são negligenciadas por longos períodos, podem provocar estresse e danos cerebrais. Dessa maneira fatores econômicos influenciam diretamente no desenvolvimento da criança, a desnutrição, por exemplo, acarreta falta de energia e perda de vontade de explorar o ambiente, afetando assim o aprendizado, o ciclo da desnutrição quando passado da mãe para o filho, torna se um ciclo que se repete de geração em geração.
 A maternidade se torna mais desafiadora quando os recursos financeirossão escassos, ao cumprir diversos papéis a mulher se coloca em último plano, doando se integralmente aos cuidados do filho, gerando muitas vezes solidão e tristeza. Ademais, muitas mães em situação de pobreza extrema, trabalham e deixam que os filhos mais velhos, cuidam dos irmãos mais novos, exercendo tarefas domésticas precocemente, sendo negada a elas a infância à que tem direito, deixando assim de brincar que é essencial nessa fase, pois através da brincadeira, a criança cria livremente e exterioriza o que está dentro dela ativando o aprendizado e a criatividade. É mister salientar que a visão politica de punir o adulto por negligência de cuidados com as crianças é falha, no sentido de que sem ajudar seus cuidadores, nada se poderá fazer pelas crianças. A responsabilidade social do futuro dessas crianças é de toda a sociedade que depende da capacidade de todas as pessoas de um modo geral. 
CRÍTICA: A série “O começo da Vida” relata pontos relevantes sobre o desenvolvimento da criança na primeira infância, a série nos mostra que essa etapa é crucial na construção do ser humano, com impacto no presente e no futuro, o cérebro do bebê é esculpido pelas experiências. Ele é profundamente afetado pelas interações sociais e físicas que tem com o mundo e que a relação parental (cuidador) influencia diretamente na vida da criança. Constrói-se a identidade através das interações familiares e o ambiente em que vive, e que além das necessidades físicas, é preciso suprir as afetivas, e que esse enraizamento é uma necessidade vital para se sentir pertencente a vida. Os bebês aprendem mais e mais rápido da gestação aos três anos, do que em todo o resto de suas vidas.
 No quarto episódio da série, “Infância Negada”, mostra a triste realidade da desigualdade social que impede os infantes de terem um ambiente seguro e saudável e o quanto essas negligências afetam o desenvolvimento físico, psíquico e emocional. O episódio ressalta a importância dos sonhos, que alimentam a vida e fazem um futuro possível, com destaque para um relato de uma criança de 10 anos que cuida de dois irmãos menores e diz que não tem nenhum sonho, não pude deixar de me emocionar, visto que uma criança jamais devia perder a capacidade de sonhar.

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