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Conhecimento Bruno Ryuiti Nagata Inteligencia e Gestao de Contrainteligencia Existe um universo paralelo onde tudo o que ocorre modifica, substancialmen- te, a realidade que vivemos e percebemos. Esse é o universo da inteligência. Conhecimento é poder e, neste mundo competitivo, há uma busca desenfreada por qualquer forma de vantagem sobre a concorrência. Por isso, grandes empresas investem intensamente na área de inte- ligência empresarial em busca de quantidades massivas de informa- ção, aptas a trazer vantagens que resultem em ganhos de mercado. Esta obra é voltada a pessoas que estão ingressando na atividade de inteli- gência, ou mesmo àquelas que já atuam na área, mas necessitam lapidar seus conhecimentos. O livro aborda conceitos e noções fundamentais da área de gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência, valendo-se das correntes teóricas e doutrinárias mais atuais e de exemplos e aspectos práticos que envolvem o uso da atividade de inteligência no dia a dia. Código Logístico 59532 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6671-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 7 1 1 G ESTà O D E CO N H ECIM EN TO , IN TELIG ÊN CIA E CO N TRA IN TELIG ÊN CIA Bruno Ryuiti N agata Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência Bruno Ryuiti Nagata IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: cono0430/Elena11/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ N141g Nagata, Bruno Ryuiti Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência / Bruno Ryuiti Nagata. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 154 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6671-1 1. Inteligência competitiva (Administração). 2. Gestão do conhecimen- to. I. Título. 20-64953 CDD: 658.4038 CDU: 005.95 Bruno Ryuiti Nagata Vídeo Especialista em Direito Administrativo Disciplinar pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e em Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Ciências de Wenceslau Braz (Facibra). Graduado em Direito pelo Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba). Bacharel em Segurança Pública pela Academia Policial Militar do Guatupê, no Curso de Formação de Oficiais e Oficial da Polícia Militar do Paraná (PMPR). Formado no curso de Inteligência e Contrainteligência de Segurança Pública pela Escola de Inteligência em Segurança Pública do Rio de Janeiro (Esisperj). Atua no Sistema de Inteligência da Polícia Militar do Paraná (PMPR) e é instrutor de softwares de análise de vínculos e dados em massa. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Fundamentos de inteligência 9 1.1 A atividade de inteligência ao longo da história 9 1.2 Fundamentos éticos, morais e legais 12 1.3 Conceitos 17 1.4 Criação, desenvolvimento e aplicação da atividade de inteligência 25 2 Fontes de informação 33 2.1 Fontes de informação 33 2.2 Ações de inteligência e técnicas operacionais de inteligência 38 3 Ciclo de produção de conhecimento 61 3.1 Noções fundamentais 62 3.2 Ciclo de produção de conhecimento (CPC) 68 3.3 Técnicas para elaboração de relatórios 75 3.4 Novos métodos e sua aplicação ao ciclo de produção de conhecimento clássico 76 4 Análise de dados 84 4.1 Técnica de avaliação de dados 84 4.2 Metodologias de análise 94 4.3 Problemas comuns na análise de dados 101 5 Fundamentos de contrainteligência 106 5.1 Conceitos e fundamentos básicos 106 5.2 Segmentos da contrainteligência 111 5.3 Segurança orgânica 114 5.4 Contramedidas por meio do ciclo de contrainteligência 126 6 Gestão de conhecimento 129 6.1 Conceitos e definições 129 6.2 Métodos e técnicas gerenciais para fomento da produção de conhecimento organizacional 133 6.3 Barreiras à criação do conhecimento 137 6.4 Métodos de promoção de conhecimento 139 6.5 Gestão do conhecimento (GC), gestão da informação (GI) e inteligência competitiva (IC) 141 Gabarito 147 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Existe um universo paralelo onde tudo o que ocorre modifica, substancialmente, a realidade que vivemos e percebemos. Esse é o universo da inteligência. Conhecimento é poder e, no mundo competitivo em que vivemos, há uma busca desenfreada por qualquer forma de vantagem sobre a concorrência. Por isso, grandes empresas investem intensamente na área de inteligência empresarial em busca de quantidades massivas de informação, aptas a trazer vantagens que resultem em ganhos de mercado. Esta obra é voltada a pessoas que estão ingressando na atividade de inteligência, ou mesmo àquelas que já atuam na área, mas necessitam lapidar seus conhecimentos. O livro aborda conceitos e noções fundamentais da área de gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência, valendo-se das correntes teóricas e doutrinárias mais atuais e de exemplos e aspectos práticos que envolvem o uso da atividade de inteligência no dia a dia. No primeiro capítulo, apresentamos a atividade de inteligência, buscando compreender sua origem e importância no contexto mundial. Trazemos os limites éticos, morais e legais, bem como os conceitos e as características dessa fascinante atividade. No segundo capítulo, estudamos as fontes de informação, aprendendo a identificá-las e obtê-las. Expomos, também, o planejamento de ações e as técnicas operacionais mais utilizadas para facilitar a atuação dos agentes de inteligência nas ações de busca em ambiente operacional. O terceiro capítulo é um guia sobre como transformar dados e informações em conhecimentos úteis para assessorar o tomador de decisões e como se posicionar diante dos conteúdos coletados ou buscados. As metodologias empregadas no ciclo de produção de conhecimento e as técnicas mais recentes de produção de conhecimento também são abordadas, com base na metodologia empregada em combate pelo exército norte-americano. O quarto capítulo tem o objetivo de aprofundar as técnicas de análise usadas no ciclo de produção de conhecimento, por meio do aprendizado das técnicas de avaliação de dados quanto ao julgamento da fonte e do conteúdo, de acordo com os padrões da Organização do Tratado do Atlântico Norte APRESENTAÇÃO 8 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência (OTAN). Complementarmente, estudamos as técnicas clássicas da Escola de Inteligência do Rio de Janeiro e apresentamos algumas técnicas de análises focadas em objetivos específicos, além de procurar entender quais são os problemas mais comuns encontrados na análise dos dados. O quinto capítulo trata de como proteger todo o conhecimento produzido por meio do emprego da contrainteligência e de seus respectivos ramos. Aprendemos, ainda, a identificar focos de vulnerabilidade e como atuar para prevenir, detectar, obstruir e neutralizar inteligências e ações adversas, realizando breves estudos sobre segurança orgânica, segurança de assuntos internos e segurança ativa.O sexto e último capítulo é voltado às formas de utilização e gestão de todo o conhecimento produzido, compreendendo-os como forma de subsidiar o processo de tomada de decisão. Boa leitura! Fundamentos de inteligência 9 1 Fundamentos de inteligência Neste capítulo, veremos o que é a atividade de inteligência e os fundamentos que a norteiam e compreenderemos quais são os limites de atuação de seus agentes. As organizações lançam mão das ferramentas de inteligência para ganhar mais competitividade no mercado, protegendo o pa- trimônio tangível e intangível das empresas. Conhecer o “inimigo” (no caso, o concorrente) é importante, e mais valioso ainda é saber quais são os recursos à sua disposição para que possa ser traçada a melhor estratégia de “batalha”. A inteligência é uma ferramenta utilizada há muito tempo e aju- dou a escrever a história de sociedades inteiras e do mundo, como veremos na sequência. 1.1 A atividade de inteligência ao longo da históriaVídeo O primeiro registro de ordem de busca de inteligência pode ser encontrado na Bíblia Sagrada, quando Moisés, seguindo as determi- nações de Deus, envia espiões para realizar o reconhecimento e o levantamento de informações sobre o inimigo que estava em Canaã. Enviou-os, pois, Moisés a espiar a terra de Canaã; e disse-lhes: Subi por aqui para o lado do sul, e subi à montanha: E vede que terra é, e o povo que nela habita; se é forte ou fraco; se pouco ou muito. E como é a terra em que habita, se boa ou má; e quais são as cidades em que eles habitam; se em arraiais, ou em for- talezas. Também como é a terra, se fértil ou estéril; se nela há árvores, ou não; e esforçai-vos, e tomai do fruto da terra. (BÍ- BLIA SAGRADA, Livro dos Números, 13:17-20, 2008, p. 189) 10 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência No curso da história, a inteligência foi amplamente utilizada e, a exemplo do que ocorreu com Moisés, o levantamento de infor- mações era utilizado principalmente como ferramenta de estraté- gia para a guerra. Com o general, estrategista e filósofo chinês Sun Tzu não foi diferente: sabiamente utilizou a informação e o conhe- cimento antecipado como estratégia para vencer guerras, tendo materializado seu conhecimento no livro A arte da guerra, escrito no século IV a.C. Entre seus sábios ensinamentos, um merece des- taque: “se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não pre- cisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” (TZU, 2000, p. 23). Na era medieval, o filósofo Nicolau Maquiavel escreveu a obra O Príncipe, como forma de orientar reis e príncipes a governar seus principados. Esse filósofo, assim como Sun Tzu, não renunciou à in- teligência como ferramenta essencial para o planejamento estraté- gico, empregando-a como geradora de oportunidades: “na guerra, reconhecer a oportunidade e aproveitá-la vale mais que qualquer coisa” (MAQUIAVEL, 1996, p. 127). Ao longo dos anos, a inteligência foi sendo aprimorada, alcan- çando seu ápice e sendo largamente utilizada durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e principalmente na Guerra Fria. Vários são os feitos da inteligência durante esse período, os quais reper- cutem até a atualidade. Agora, pensemos na atualidade: você acredita que a inteligência tem atuado com tanta força como durante as grandes guerras? Se você respondeu que sim, acertou! Um dos casos mais recentes foi em março de 2018, na Inglaterra, com o envenenamento do ex-mi- litar e ex-agente de inteligência russo Serguei Skripal, que foi con- denado na Rússia por repassar à inteligência britânica informações sobre a identidade de espiões russos que atuavam na Europa. Após uma série de negociações políticas, Skripal conseguiu se refugiar na Inglaterra. No entanto, o ex-agente e sua filha foram envenena- dos em solo britânico, após almoçarem em um restaurante local. A reportagem 7 truques do Exército Fantasma dos EUA para enganar nazistas na 2ª Guerra, publicada pela BBC, conta truques das tropas americanas no período das guerras mundiais. Disponível em: https:// www.bbc.com/portuguese/ internacional-42791949. Acesso em: 25 maio 2020. Curiosidade A reportagem A tropa de artistas que enganou Hitler na Segunda Guerra Mundial, publicada pelo jornal Operamundi, descreve como artistas participaram da estraté- gia de guerra Ghost Army (exército fantasma). Disponível em: https:// operamundi.uol.com.br/ politica-e-economia/29083/a- tropa-de-artistas-que-enganou- hitler-na-segunda-guerra-mundial. Acesso em: 25 maio 2020. Curiosidade Para saber mais sobre o envenenamento de Skripal, visite a página. Disponível em: https://www1. folha.uol.com.br/mundo/2019/06/ inteligencia-militar-russa- coordenou-envenenamento- de-ex-espiao-diz-investigacao- independente.shtml. Acesso em: 25 maio 2020. Saiba mais https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42791949 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42791949 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42791949 https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/29083/a-tropa-de-artistas-que-enganou-hitler-na-se https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/29083/a-tropa-de-artistas-que-enganou-hitler-na-se https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/29083/a-tropa-de-artistas-que-enganou-hitler-na-se https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/29083/a-tropa-de-artistas-que-enganou-hitler-na-se https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/29083/a-tropa-de-artistas-que-enganou-hitler-na-se Fundamentos de inteligência 11 Dois agentes de inteligência russos e integrantes do Comando de Inteligência Militar Russa (GRU) foram presos suspeitos de estarem envolvidos no envenenamento de Skripal e sua filha; a Rússia ne- gou envolvimento no ocorrido. O fato mais recente em que temos a atuação pesada da inteli- gência ocorreu em 3 de janeiro de 2019, quando os Estados Uni- dos da América (EUA), mediante emprego de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), realizou um bombardeio na capital do Iraque (Bagdá) e terminou com a vida do general iraniano Qasem Solei- mani, um dos homens mais fortes do aiatolá Khamenei e coman- dante da força de elite Quds da Guarda Revolucionária. O general Soleimani era considerado um homem da espionagem e o mais poderoso membro da estrutura militar iraniana. O bombardeio foi preciso e acertou dois veículos, entre os quais o que transpor- tava o general, que deixara o aeroporto logo após retornar de um voo da Síria ou do Líbano. Agora, resta uma pergunta: como os Estados Unidos sabiam a hora, o local e os veículos exatos para que pudessem realizar o bombardeio? Imagine a estrutura de agentes de inteligência e in- formantes empregada nessa operação. Os dados produzidos fo- ram tão precisos que o ataque foi bem-sucedido. Se pensarmos friamente sobre como o mundo se desenvolve, como grandes potências econômicas trabalham e, enfim, como tudo acontece ao nosso redor, corremos o risco de beirar a com- pleta insanidade. O profissional de inteligência precisa estar atento para não desenvolver síndrome de perseguição e ficar pensando na teoria da conspiração como uma realidade constante. Para isso, é preciso analisar os fatos com a frieza dos dados e das informa- ções, obtidos por meio de árduo trabalho, deixando de lado qual- quer emoção e observando quais são os vínculos existentes entre as notícias e o histórico do que antecedeu esse acontecimento, em um processo de regressão dos fatos determinantes. Só então po- deremos prever determinados eventos com probabilidades defini- das por meio do que denominamos predição 1 . Para instigar ainda mais a reflexão: o presidente rus- so em exercício, Vladimir Putin, foi agente da KGB (Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti – Comitê de Segurança do Estado Rus- so) na década de 1990 e conhece o sistema de in- teligência como ninguém.Provavelmente, Putin trabalhou com muitos dos agentes que foram capturados pela inteligên- cia britânica. Conforme consta na reportagem do G1, em outubro de 2018 Putin definiu Skripal como “canalha que traiu a pá- tria”. Essa crítica de Putin é embasada no fato de que Skripal era um agente duplo que vendeu a iden- tidade de vários agentes de inteligência russos para a Grã-Bretanha. Disponível em: https://g1.globo. com/mundo/noticia/2018/10/03/ putin-chama-ex-espiao-russo- skripal-de-canalha-e-traidor.ghtml. Acesso em: 25 maio 2020. Curiosidade A pedição ocorre quando, após uma série de análises, os agen- tes passam a prever o que pode ocorrer no futuro, determinando suas probabilidades. 1 12 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência 1.2 Fundamentos éticos, morais e legais Vídeo Conforme vimos anteriormente, a atividade de inteligência vem ga- nhando cada vez mais destaque na sociedade, pois, na era da informação, quem tem informação tem poder. Observamos que as corporações preci- sam se valer da atividade de inteligência para estudar o mercado, a concor- rência, os colaboradores e tudo o que envolve as organizações, buscando identificar, acompanhar e avaliar as ameaças reais ou potenciais 3 às instituições. Todavia, essa busca desenfreada pela informação não pode sobrepor valores éticos, legais e institucionais, devendo ser limitada e para- metrizada segundo esses valores. Inicialmente, cumpre destacar a relação intrínseca entre ética e ati- vidade de inteligência. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p. 88, grifo nosso): “A ética (do grego ethikos, ‘costume’, ‘comportamento’) é a disci- plina filosófica que busca refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens, buscando compreender a fundamentação de normas e interdições próprias a cada sistema moral”. Cotrim e Fernandes (2016, p. 328, grifos do original) ainda definem o seguinte: A ética investiga o que é moral, como ela se fundamenta e se aplica, estuda diversos sistemas morais, buscando fundamen- tá-los e explicitar seus pressupostos. [...] O ser humano age no mundo de acordo com valores, isso é, a partir daquilo que tem maior importância ou é prioridade para ele segundo certos códigos morais. Isso significa que as coisas e as ações que um indivíduo realiza podem ser hierarquizadas conforme as noções de bem e de justo compartilhadas por um grupo de pessoas, em um determinado momento histórico. Em outras palavras o ser humano é um ser moral: um ser capaz de avaliar sua conduta a partir de valores morais. Os valores éticos e morais, portanto, são uma construção de valores comuns para possibilitar a vida em sociedade, considerando determina- do espaço e tempo, e servem para orientar nossa vida individual e possi- bilitar o convívio manso e pacífico com outros seres humanos. Conforme definido por Cotrim e Fernandes (2016), esses valores contribuem para o desenvolvimento das faculdades mentais e favorecem a vida. Os valores tendem a sofrer mudanças de acordo com o local e o passar dos anos, porém alguns são pétreos (imutáveis), principalmen- Era da informação: nome dado ao período que vem após a era industrial, mais especificamente após a década de 1980, tendo ganhando força no século XX. Glossário Veremos neste capítulo que um dos ramos da inteligência é a contrainteligência. O conceito gri- fado corresponde diretamente à atividade de proteção realizada pela contrainteligência. 3 Fundamentos de inteligência 13 te quando falamos dos valores justapostos à vida e à dignidade da pessoa humana. Seguindo esse raciocínio, podemos observar diferenças culturais dentro do grande país que é o Brasil, onde temos costumes e valo- res que variam de região para região. Os costumes e as expressões linguísticas de cada região são, por vezes, completamente diferentes, e devemos saber respeitar essa diferença multicultural, que torna nos- so país cada vez mais rico e maravilhoso. Uma breve diferenciação deve ser feita: a ética tem como finalidade principal realizar estudos em diversas áreas (econômica, política, cientí- fica, entre outras), buscando identificar o que seria correto e o que se- ria incorreto, o que seria justo ou injusto, e assim por diante. A moral, por sua vez, está relacionada às regras que já passaram por valoração ética e visa regulamentar o comportamento de uma pessoa em deter- minada sociedade. O ato de cumprimentar as pessoas é considerado eticamente bom em qualquer lu- gar do mundo, sendo uma demonstração de educação e afetividade; no entanto, no campo da moral, observamos que a forma de cumprimentar varia de acordo com a sociedade. No caso dos povos latinos, é muito comum o aperto de mãos e a troca de abraços, independentemente do sexo da pessoa. Todavia, na cultura muçulmana, um homem é terminantemente proibido de abraçar ou beijar o rosto de uma mulher que não seja sua esposa, sendo, inclusive, causa de ofensa para as mulheres e para os que a circundam. Na cultura muçulmana, para que se possa ser eticamente educado e cumprimentar uma pessoa do sexo oposto, homens levam a mão a seu próprio peito ou erguem uma das mãos (como em um gesto de aceno) e dizem: “Salaam Aleikum”´(entendida como: que a paz esteja sobre vós). As mulheres repetem o gesto e respondem: “Aleikum Salaam”. Assim, a atividade de inteligência deve saber respeitar os valores éticos e morais da sociedade, de modo que as informações coletadas não firam valores culturais e religiosos ou a dignidade da pessoa huma- na. O ferimento desses valores poderá tornar inócuo o conhecimento produzido, desperdiçando todo o esforço empenhando para obtê-lo. Um exemplo de conduta antiética e não ilegal é o caso de um agente de inteligência que é designado por seu chefe para buscar determinada informação e, ao retornar, após cumprir sua missão, repassa ao che- 14 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência fe informações completamente diferentes das coletadas em campo. No caso exposto, o agente foi antiético ao faltar com a verdade, fazen- do com que seu chefe tomasse decisões com base em dados falacio- sos. Essa atitude torna o agente e o conhecimento desnecessários para sua organização, pois ele deixará de cumprir os objetivos pelos quais fora contratado. Casos como esse ocorrem muito comumente nas instituições com agentes responsáveis pela fiscalização dos demais trabalhadores. Du- rante o exercício de sua atividade em campo, o agente constata um amigo ou conhecido praticando atos incompatíveis com as normas ins- titucionais; visando proteger o amigo, o agente finge não ter visto o ocorrido e passa informações errôneas a seu superior, comprometen- do a produtividade da organização. As leis são resultado da positivação (escrita) dos valores éticos e morais da sociedade e são responsáveis por possibilitar o convívio em sociedade. Assim sendo, a prática de condutas imorais ou antiéticas acabará, em algum momento, por cruzar os limites de leis, normas ou regulamentos e, dessa forma, o agente de inteligência estará cometen- do ilegalidades. A Constituição da República Federativa do Brasil (CF) de 1988, em seu artigo 5º, versa sobre os direitos e as garantias fundamentais que assistem a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país. Para nossa temática, merecem destaque os incisos II, III, X, XI e XII. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di- reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamen- to desumano ou degradante; [...] X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indeni- zação pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (Continua) Fundamentosde inteligência 15 XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação ju- dicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das co- municações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. (BRASIL, 1988) O título II da Constituição Federal vem materializar os direitos que permitem a concretização de um ideal de vida digno em sociedade, por isso os direitos e garantias mínimos existenciais se encontram inscri- tos em nossa Carta Magna. Nessa senda, é importante destacar que a atividade de inteligência se encontra parametrizada, não podendo ex- trapolar os limites legais. Portanto, no Direito, as informações em sede de investigação que forem obtidas por meio ilegal serão consideradas provas ilícitas, conforme consignado no art. 5º, inciso LVI: “LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos (BRASIL, 1988).” As informações ilícitas, quando identificadas pelo magistrado, são imediatamente afastadas do processo, não podendo servir de subsídio para valoração e formação de opinião do juiz. Dessa forma, como é possível considerar verdadeira uma confissão obtida mediante tortura? Obviamente, uma pessoa que esteja em situa- ção de quase morte irá realizar qualquer pronunciamento que a possa tirar daquela situação degradante, assumindo culpa – que às vezes não lhe cabe – e relatando fatos inverídicos que possam tão somente satis- fazer às intenções do torturador, para que cesse aquela condição de so- frimento. Ainda, após observarmos os relatos históricos no início deste capítulo, percebemos que, no atual estágio de evolução a que chegou a humanidade, é absolutamente repreensível e inaceitável, em qualquer lugar do mundo, a obtenção de informações mediante violação do direi- to à vida e à integridade física ou mental de qualquer ser humano. 16 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência A Lei Federal n. 9.296, de 24 de julho de 1996, com redação alterada pela Lei Federal n. 13.869, de 2019 (Lei do Abuso de Autoridade), veio para regulamentar o inciso XII (que versa sobre a inviolabilidade do si- gilo das comunicações), parte final, do art. 5º da Constituição Federal. Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comu- nicações telefônicas, de informática ou telemática, pro- mover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autoriza- dos em lei: (Redação dada pela Lei nº 13.869. de 2019) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.869. de 2019). (BRASIL, 1996) Portanto, a interceptação de comunicações sem autorização judicial é considerada crime. Essa lei surge para regulamentar o artigo 5º da Constituição Federal, de modo que, ao criminalizar essa conduta com a pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, o legislador buscou demonstrar o quão valoroso é esse direito fundamental. Igualmente, o Decreto-Lei n. 2.848 (Código Penal Brasileiro – CP ou CPB), de 7 de dezembro de 1940, regulamentou, em seu art. 154-A, a invasão de dispositivo informático, conforme descrito a seguir. Invasão de dispositivo informático (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conec- tado ou não à rede de computadores, mediante viola- ção indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispo- sitivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012). (BRASIL, 1940) Essa lei proíbe que informações sejam obtidas mediante a utili- zação de vulnerabilidades dos dispositivos informáticos, por meio da instalação de vírus (trojans, spams, worms, backdoors, spywares, rootkits, adwares etc.) em computadores, bem como por meio da inva- são de dispositivos informáticos. A Lei n. 12.737, de 30 de novembro 2012, ficou conhecida como Lei Carolina Dieckmann, e sua elaboração foi motivada após hackers enviarem um e-mail isca (conhecido como técnica phising), que, após ser aberto, instala um programa que permite a eles tomarem o controle do computador. Os hackers furtaram 60 fotos íntimas de Carolina Dieckmann e, em seguida, passaram a chantageá- -la, ameaçando divulgar essas fotos na internet, caso ela não pagasse o valor de R$ 10 mil. Os criminosos, autores do crime de extorsão, foram presos. Disponível em: http:// g1.globo.com/rio-de-janeiro/ noticia/2012/05/suspeitos-do- roubo-das-fotos-de-carolina- dieckmann-sao-descobertos.html. Acesso em: 25 maio 2020. Curiosidade http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/suspeitos-do-roubo-das-fotos-de-carolina-dieckmann-sao-descobertos.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/suspeitos-do-roubo-das-fotos-de-carolina-dieckmann-sao-descobertos.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/suspeitos-do-roubo-das-fotos-de-carolina-dieckmann-sao-descobertos.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/suspeitos-do-roubo-das-fotos-de-carolina-dieckmann-sao-descobertos.html http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/suspeitos-do-roubo-das-fotos-de-carolina-dieckmann-sao-descobertos.html Fundamentos de inteligência 17 O respeito à inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualda- de, à segurança e à propriedade está intrinsecamente ligado ao respei- to à dignidade da pessoa humana, por isso a atividade de inteligência deve estar assentada no fiel cumprimento da lei e de todo o ordena- mento jurídico. Por fim, é válido constar os limites da política organizacional, pois, por vezes, as condutas praticadas podem não ferir princípios éticos, morais ou legais, mas podem incorrer no ferimento das políticas da instituição a que pertencem. Nesse caso, a não observação desses limi- tes pode afetar a confiabilidade da qual goza a organização ou agência. 1.3 Conceitos Vídeo Uma vez mencionados exemplos históricos em que a atividade de inteligência foi aplicada e definidos os limites a serem observa- dos pelo agente de inteligência, começaremos a deslindar o véu que cobre esse misterioso serviço e passaremos a conceituar a atividade de inteligência. Se, ao refletir sobre o assunto, surgem em sua mente as séries de filmes 007, com o agente secre- to James Bond, Missão: Impossível, Sherlock Holmes e Bourne, entre tantas outras produções cinemato- gráficas e literárias sobre o assunto, você está no caminho correto, pois todas se correlacionam ao fato de trabalhar com um bem valiosíssimo chama- do informação. Conhecimento é poder. Quem sabe mais, domina, e a atividade de inteligência tem sido empregada como ferramenta de análise, mitiga- ção de riscos e redução de incertezas. Assim como no âmago da his- tória, a inteligência foi empregada muito comumente em períodos de guerra. Atualmente, ela é utilizada nas relações interpessoais do dia a dia, no ambiente de trabalho, em que há um constante esforço para se galgar melhores posições dentro da empresa, especialmente aquelas que produzem tecnologias e precisam proteger seu patrimônio inte- lectual da espionagem industrial. Chegamos, assim, à aplicação da in- teligência para a proteção da soberania das nações de todo o mundo. O que você entende por ativida- de de inteligência? Em que contexto a inteligência se aplica no seu dia a dia? Qual é o objetivo da inteligência? Desafio 18 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência O conceito que melhor define a atividade de inteligência foi conce- bido pelo coronel Antônio FerreiraRomeu (2017b, p. 2): “inteligência é a produção de conhecimento”. A palavra inteligência tem sua origem no latim; conforme sua etimologia: vem de INTELLEGENTIA, que significa “capacidade de enten- der”, de INTELLIGERE, formada por INTER-: “entre” e LEGERE: “escolher”. Portanto, o vocábulo inteligência refere-se ao que se revela INTELLEGENS (inteligente), ou aquele que compreende, percebe, conhece e sabe discernir sobre determinadas ques- tões. (GRAMÁTICA, 2020, grifo do original) Inteligência é, portanto, conhecer/compreender, “saber discernir sobre determinadas questões”, uma ferramenta que deve ser utiliza- da aliada a várias outras, como forma de assessorar o processo de- cisório. Trata-se da produção de conhecimento com a finalidade de assessorar os tomadores de decisão para que possam decidir sobre determinadas questões. Com base no artigo elaborado por Fernandes (2006), publicado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a atividade de inteligência en- contra significado por meio da análise do seguinte tripé: • atividade; • produto da atividade; • unidade organizada para realizar tal atividade. Atividade, conforme consta no dicionário Michaelis on-line (2015), “é a realização de uma função específica”; no caso, a atividade de inteligência é o exercício permanente para produzir informação “acionável” 4 , isto é, disponível, pois de nada adianta produzir uma série de informações que não possam ser acessadas pelos tomadores de decisão. Como regra, o to- mador de decisões irá considerar um conjunto de informações para que possa optar pela melhor alternativa, por isso veremos que a informação deve estar sempre disponível e acessível. O produto da atividade de inteligência é o conhecimento, que de- corre da aplicação de um método específico para que os dados obtidos sejam processados adequadamente e possam alcançar o objetivo com efetividade, possibilitando a fundamentação de decisões precisas, re- duzindo incertezas e eliminando o que não for relevante. Quando a Abin se refere a uma unidade organizada para realizar a ativi- dade de inteligência, está definindo as pessoas especializadas e orientadas Termo utilizado pela Abin. 4 Fundamentos de inteligência 19 a produzir conhecimentos oportunos 5 . Uma das características mais rele- vantes dessa unidade é justamente o sigilo com que conduz suas rotinas. Por esse motivo, essas pessoas devem ser especialmente selecionadas em um processo de recrutamento administrativo (PRA) apropriado. É importante ressaltar que a inteligência (produção de conhecimento) está inclusa no conceito de atividade de inteligência (exercício sistemático de produção de conhecimento por pessoal especializado). A fim de escla- recer e diferenciar bem esses conceitos: inteligência é a produção de co- nhecimento, já atividade de inteligência é a produção de conhecimento por pessoal especializado. 1.3.1 Características da atividade de inteligência O coronel Ferreira (2017a, p. 2), da Escola de Inteligência de Segu- rança Pública do Estado do Rio de Janeiro (Esisperj), define o termo ca- racterística como “aspectos distintivos e particulares que identificam e qualificam a atividade de inteligência”. De acordo com a Esisperj (FER- REIRA, 2017a) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública (BRASIL, 2002), são dez as principais características da atividade de inteligência, conforme veremos a seguir. PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO É a reunião de dados, valores, fatos, bases, noções, conceitos e conhecimentos para se- rem transformados em novos produtos da mente, com a finalidade de assessorar os usuários no processo decisório. ASSESSORIA A atividade de inteligência não se encerra em si mesma, de modo que o conhecimento produ- zido permanece retido e adstrito a uma única pessoa, pois, conforme apontado ao longo deste capítulo, a atividade de inteligência tem a finalidade de produzir conhecimento para assessorar o tomador de decisões, portan- to se presume a existência de no mínimo duas pessoas: a primeira é o tomador de decisões e a segunda, o agente de inteligência que buscará a informa- ção solicitada por seu chefe. M ax im K ul ik ov /S hu tte rs to ck Eu ca lyp /S hu tte rs to ck Veremos na sequência que a oportunidade é uma das características necessárias à informação: em uma compa- ração simples, uma informação inoportuna é tão inútil quanto um jornal desatualizado. 5 20 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência VERDADE COM SIGNIFICADO A inteligência busca incessantemente a verdade pura e simples com a comprovação dos fatos. O que trará maior ou menor assertividade a essa verdade é justamente o labor obstinado do agente de inteligência, que buscará com afinco o aprofundamento da informação produzida. BUSCA DE DADOS São as atividades desenvolvidas pelos agentes em campo adverso, com a finalidade de obter infor- mações negadas ou protegidas em ambiente antagônico. AÇÕES ESPECIALIZADAS Para acessar, analisar e produzir o conhecimento, é necessário o emprego de mão de obra espe- cializada nessa atividade, sendo imprescindível o estudo constante para que o agente se mantenha atualizado, bem como a dedica- ção integral e o comprometimento. Ar t w or k/ Sh ut te rs to ck Ar t w or k/ Sh ut te rs to ck Ni kW B/ Sh ut te rs to ck ECONOMIA DE MEIOS O emprego da inteligência permite que a aplica- ção de recursos humanos e materiais seja otimi- zada mediante o uso preciso desses bens. INICIATIVA Deve ocorrer de maneira proativa, buscando an- tecipar os riscos e propor contramedidas para mitigação dos resultados. Inclusive, a iniciativa permite que a informação produzida ocorra em período oportuno. va le riy a ko zo riz /S hu tte rs to ck Pa la u/ Sh ut te rs to ck Fundamentos de inteligência 21 ABRANGÊNCIA De acordo com a finalidade de assessoramento, a atividade de inteligência se faz necessária e indispensável para tomada de decisões em qualquer um dos cinco campos de poder: político, econômico, militar, psicossocial ou científico-tecnológico. DINÂMICA A inteligência é altamente adaptável a novas tecno- logias, conceitos, técnicas e padrões, possibilitan- do o amoldamento da atividade aos mais diver- sos ambientes e organizações, acompanhando as transformações do mundo e da sociedade e se flexibilizando para rapidamente aten- der aos papéis a que se destina e à produ- ção de conhecimento. SEGURANÇA A inteligência tem como característica não so- mente a produção do conhecimento, mas a sua proteção. Esse conceito abrange também uma análise de risco no que tange à exposição do agente para busca do conhecimento, deven- do encontrar uma ponderação no binômio eficácia x segurança. Obviamente, de nada adiantaria conseguir uma informação que poderia custar a vida do agente ou até mesmo expor as intenções da agência e seus campos de interesse. ko rn n/ Sh ut te rs to ck da vo od a/ Sh ut te rs to ck da vo od a/ Sh ut te rs to ck É importante que os agentes de inteligência tenham em mente as características da atividade de inteligência, pois elas são propriedades distintivas fundamentais, de maneira que a ausência de quaisquer uma delas poderá apontar para um rumo qualquer diferente da atividade de inteligência. 1.3.2 Princípios A palavra princípio merece importância, uma vez que está direta- mente relacionada a gênese, bases e fundamentos, de sobremaneira que as demais criações encontram suporte e sustentação em seus va- lores principais. 22 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência Nos termos da Esisperj (FERREIRA, 2017a, p. 4): “enquanto as carac- terísticas conceituam e qualificam a atividade de Inteligência de Segu- rança Pública (ISP), os princípios apontam-lhe e margeiam os caminhos a serem trilhados para que os objetivos sejam atingidos”. Os princípios mais importantes 6 são os da lista a seguir. Precisão O conhecimento produzido deve retratar a realidadeobservada e apontar fatos, datas, horas, nomes e locais corretos. O descumprimento desse princípio pode conduzir o gestor a decisões equivocadas. Objetividade O conhecimento produzido deve atender aos objetivos traçados pelo tomador de decisão, devendo o agente ser direto e focado em suas ações. Imparcialidade Ao produzir o conhecimento, o agente deve buscar expressar a verdade dos fatos, afastando, para tanto, suas emoções, seus interesses e seus preconceitos. Sua imparcialidade, assim como uma balança, não deve pender para nenhum dos lados, a fim de trazer maior credibilidade para o conhecimento obtido e maior reconhecimento para as agências que o produzem. ko rn n/ Sh ut te rs to ck ko rn n/ Sh ut te rs to ck R an k So l/S hu tte rs to ck Simplicidade Tanto em campo quanto na elaboração de relatórios, o agente deve ser claro, preciso e conciso, devendo se abster de criar planos complexos e produzir informação desnecessária, materializando os resultados sem ser prolixo. Oportunidade Esse princípio pode ser resumido como tempestivo, útil e conveniente. No entanto, o conhecimento deve ser apresentado em tempo hábil para que possa ser útil. Uma analogia simples com um conhecimento inútil seria o ato de comprar hoje o jornal de ontem. Ar t w or k/ Sh ut te rs to ck da vo od a/ Sh ut te rs to ck A Sisperj foi muito sábia em tratá-los como “mais importan- tes”, pois isso demonstra que há vários princípios que permeiam a atividade de inteligência. Apontamos os princípios éticos no início deste capítulo, mas há vários outros que poderiam ser citados aqui. 6 Fundamentos de inteligência 23 ho wc ol ou r/ Sh ut te rs to ck ho wc ol ou r/ Sh ut te rs to ck Bo to nd 19 77 /S hu tte rs to ck Amplitude O conhecimento produzido deve contemplar a totalidade dos fatos correlatos e que margeiam as apurações demandadas, não devendo sacrificar os princípios da objetividade, simplicidade e oportunidade. Interação Adaptando esse princípio utilizado na segurança pública, temos que a interação consiste na busca por organizações, pessoas e outros colaboradores em um sistema de cooperação mútua, no qual todos os produtores de informação atuam mutuamente para a produção do conhecimento. Um exemplo muito atual são os sistemas de SPC/Serasa, em que diversas empresas da iniciativa privada fornecem informações sobre seus respectivos consumidores e, após reuni- las, desenvolvem bancos de dados para análise de concessão de crédito, combate à fraude, negativação de devedores, e assim por diante. Permanência A atividade de inteligência deve ser constante e contínua – recordemos o tripé da atividade de inteligência, no qual temos a unidade organizada (aqui, entenda-se especializada) para realizar essa atividade. Para que possa haver uma unidade especializada, é necessária a constância das atividades de inteligência, pois a perfeição só é adquirida com treinamento e muita prática, sendo impossível criar uma unidade de inteligência da noite para o dia. Igualmente, os agentes recrutados para a inteligência devem ser permanentes nesse setor, pois a experiência é desenvolvida ao longo de anos de prática. A troca constante de agentes inviabiliza o exercício da atividade de inteligência e aumenta o risco de vazamento de informações por agentes descontentes com as mudanças. 24 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência Controle Mais do que qualquer outra função exercida na organização, a atividade de inteligência e seus agentes devem ser supervisionados e controlados com extremo rigor, pois tratam de informações sensíveis. Dessa forma, a fiscalização e o controle buscam detectar e corrigir possíveis desvios e vazamentos de documentos ou informações, por parte de agentes, que possam de alguma forma comprometer a integridade da atividade de inteligência. Compartimentação Esse princípio preza que somente as pessoas com real necessidade de conhecer tenham acesso a informações confidenciais, devendo estas serem restritas aos demais. A compartimentação permite que cada pessoa tenha apenas “uma peça do quebra-cabeças”, ou seja, um pedaço de informação apenas, de modo que pouquíssimas pessoas possam visualizar o cenário completo (geralmente as tomadoras de decisão), evitando que indivíduos mal-intencionados vazem informações estratégicas que possam afetar substancialmente a instituição. Sigilo O sigilo é imprescindível, pois sem ele a atividade de inteligência se torna impraticável. O sigilo se estende das informações produzidas até os agentes de inteligência, que devem ser protegidos contra pressões, ameaças ou até preconceitos dentro da organização. É, portanto, a não divulgação de informações de inteligência, a preservação de imagem, nome, identidade, funções dos agentes e modus operandi, entre outras informações consideradas relevantes. da vo od a/ Sh ut te rs to ck IE SD E BR AS IL /S .A IE SD E BR AS IL /S .A Os princípios são fundamentos, alicerces e pilares que vão efetiva- mente apontar os rumos mais adequados a serem perseguidos pelos agentes de inteligência para que seja possível alcançar os objetivos da atividade de inteligência. O ferimento a um princípio pode tornar impróprio e ineficiente o conhecimento produzido e as atividades desempenhadas. Fundamentos de inteligência 25 1.4 Criação, desenvolvimento e aplicação da atividade de inteligência Vídeo Inicialmente, é importante destacar que é necessário um árduo pla- nejamento para que a atividade possa ser implementada com sucesso. Na fase de planejamento, é importante que o gestor responda, no mí- nimo, aos seguintes questionamentos: Quem serão os agentes recrutados para essa atividade? Qual é o perfil dos agentes que eu desejo? Como irão trabalhar? Qual será o objetivo da agência de inteligência? Quais são as informações de que necessito? O que eu farei com a informação produzida? Quais serão os recursos tecnológicos que poderei colocar à disposição dos agentes? Obviamente, o gestor pode escolher outras perguntas que façam parte da implementação de novos projetos, porém, ao responder aos questionamentos apresentados, a exemplo do que ocorre com a ati- vidade de produção científica, estaríamos definindo o objetivo geral, o objetivo específico e a metodologia. Primeiramente, são definidos os objetivos da agência, com suas respectivas finalidades, delimitando exatamente sua área de atuação. Em seguida, o gestor definirá quais serão os resultados pretendidos e, por fim, passará a definir a metodo- logia que deverá ser aplicada por seus agentes. A agência de inteligência tem uma peculiaridade definida por Platt (1974) como a “profissão de um só cliente”, ou seja, possui canal di- reto com o tomador de decisões, para que possa assessorá-lo ade- quadamente e permitir escolhas com precisões cirúrgicas. A exemplo do que ocorre na Segurança Pública, os órgãos de inteligência estão diretamente ligados aos chefes de Estado, ao chefe de governo, aos comandantes-gerais, aos diretores, e assim por diante. Por isso é impor- tante submeter os agentes a um rigoroso processo de recrutamento. 26 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência Usando como base o livro de Platt (1974), discorreremos sobre as melhores estratégias para implementar e desenvolver a atividade de inteligência como profissão nas organizações. A atividade de inteligência demanda muito estudo e pessoal alta- mente especializado para desempenhar esse ofício, sendo necessária, assim como ocorre com outras profissões (medicina, advocacia, conta- bilidade etc.), a existência de no mínimo três características: educação, fatores de estímulo/inspiração e espírito de corpo. A educação, nesse caso, é sinônimo de formação profissional ade- quada. Ocorre que não encontramos universidades com cursos de formação para agentes de inteligência, porém, há cursos presenciais e cursos a distância que versam sobre essaatividade e são capazes de trazer o conhecimento mínimo necessário para o desempenho das fun- ções. Um ponto importante é que os estudos nessa área não devem se encerrar com os respectivos cursos, de modo que o aprimoramento do agente de inteligência deve ocorrer constantemente. Como estudamos anteriormente, uma das características da atividade de inteligência é a dinâmica, apresentando mudanças constantes. Por esse motivo, é ne- cessário se adaptar às novas tecnologias e aos novos métodos, portan- to, o estudo de atualização deve ser diário. Os fatores de estímulo/inspiração são os que motivam determi- nada pessoa a buscar a atividade de inteligência como ofício. A expe- riência demonstra que os agentes de inteligência sofrem preconceito dentro de suas organizações, pois geralmente são associados ao “inves- tigador dedo-duro do chefe”. Obviamente, a investigação de assuntos internos é um dos vários ramos que estão ligados à contrainteligência, porém, a atividade de inteligência, conforme brevemente explanado, tem uma função muito mais importante, que é a de assessorar o to- mador de decisões. Em uma analogia com a navegação marítima, o to- mador de decisões seria o capitão da embarcação, enquanto o agente de inteligência seria o prático 7 , sem o qual seria difícil a condução da embarcação em uma área de alto risco. Por esses motivos, é importante que haja um estímulo para o agen- te exercer essa atividade. Os administradores de empresas possuem vasta experiência nessa área, e uma das estratégias seria utilizar o princípio da Pirâmide de Maslow (Figura 1) para motivar seus agentes de inteligência. O prático tem por finalidade possuir conhecimentos espe- cíficos sobre ventos, correntes, marés, características meteoro- lógicas e relevo submarino para assessorar o capitão a manobrar com segurança o navio em zonas portuárias. A falta de um prático em zonas de maior perigo pode ocasionar aciden- tes, como encalhar o navio em bancos de areia ou, até mesmo, causar danos à embarcação e aos tripulantes. 7 Fundamentos de inteligência 27 Figura 1 Pirâmide das necessidades de Maslow Fisiológicas Segurança Sociais Estima Realização pessoal • Horário de trabalho • Intervalo de descanso • Conforto físico • Trabalho seguro • Remuneração e benefícios • Permanência no emprego • Amizade dos colegas • Interação com clientes • Chefe amigável • Reconhecimento • Responsabilidade • Orgulho e reconhecimento • Promoções • Trabalho desafiante • Diversidade e autonomia • Participação nas decisões • Crescimento pessoal • Sono e repouso • Comida • Sexo • Água • Liberdade • Segurança da violência • Ausência de poluição • Ausência de guerras • Família • Amigos • Grupos sociais • Comunidade • Educação • Religião • Passatempos • Crescimento pessoal • Aprovação da família • Aprovação dos amigos • Reconhecimento da comunidade Satisfação fora do trabalho Satisfação no trabalho Fonte: Elaborada pelo autor. Utilizando a Figura 1 como referência, é possível que o administrador busque motivar o agente de inteligência por meio de diferenciação no ho- rário, benefícios na remuneração, tratamento diferenciado na instituição e reconhecimento profissional, bem como do próprio trabalho desafiador a ser desempenhado. A posição de agente de inteligência deve ser desejada dentro das organizações para que a pessoa perceba a importância de seu trabalho e se sinta reconhecida ao desempenhá-la. Outra questão já apontada neste capítulo é o sigilo. A proteção dos dados e das informações que recobrem os agentes que prestam servi- ço à inteligência e a confidencialidade sobre as funções exercidas são condições que podem evitar uma infinidade de dissabores no desem- penho das atividades. O espírito de corpo é facilmente compreendido nas instituições mi- litares, que, diante das adversidades, praticamente obrigam o militar a creditar sua vida nas mãos de seu companheiro e vice-versa. Não só isso: esse conceito ensina as pessoas a amarem e respeitarem a organi- zação a que pertencem e, a exemplo dos juramentos que ocorrem nas 28 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência polícias, se necessário, a sacrificarem a própria vida para proteger a do próximo. Nas palavras do Exército Brasileiro (BRASIL, 2014): é o orgulho inato aos homens de farda por integrar o Exército Brasileiro, atuando em uma de suas Organizações Militares, exer- cendo suas atividades profissionais, por meio de suas competên- cias, junto aos seus superiores, pares e subordinados. Deve ser entendido como um “orgulho coletivo”, uma “vontade coletiva”. Portanto, os agentes de inteligência precisam ter amor, dedicação e orgulho de desempenhar essa fundamental atividade, sabendo pro- teger uns aos outros e a instituição a que pertencem e sendo tratados praticamente como membros de uma mesma família que lutam para defender os interesses da corporação. Ao iniciar a atividade de inteligência em determinada organização, é importante manter vívidos os pilares que sustentam a atividade no que tange às suas características, aos seus princípios e aos seus limites. Ao gestor, chefe ou diretor, é importante não esquecer do princípio do controle, para evitar desvios de conduta dos agentes que estarão tra- balhando com informação sensível. Você deve estar se perguntando em que contexto aplicaremos tudo o que aprendemos até o momento. A resposta é: em todas as situações em que você precisar de informação para decidir. Para facilitar, lista- mos algumas áreas de atuação e aplicação da atividade de inteligência. re tro 67 / Sh ut te rs to ck Instituições financeiras Em instituições financeiras que sofrem prejuízos bilionários cau- sados por hackers que praticam fraudes bancárias pela internet, uma equipe de inteligência é capaz (se treinada e voltada para essa ativi- dade) de identificar quais são os principais sites fontes de phishing e os números de telefone que enviam SMS falsos para clientes e, após árduo trabalho de compilação de dados, produzir conhecimento acer- ca dos principais IP utilizados e das principais regiões de onde partem os ataques e golpes por internet e por telefone. A compilação de uma grande quantidade de dados pode possibilitar, em alguns casos, a iden- tificação dos autores dos crimes. Pensando um pouco mais além, ima- gine se as instituições financeiras passassem a cruzar as informações de seus bancos de dados de clientes – que incluem RG, CPF, endereço, telefone, contas bancárias, nome de cônjuge, nome de autorizados em phishing: do inglês fish (pescar); trata-se de um tipo de ataque virtual em que o hacker envia páginas e links de bancos, muito parecidos com os verda- deiros, solicitando informações pessoais e bancárias. Assim que as informações são inseridas, são direcionadas para o hacker, que literalmente as pesca com uma “isca”. Glossário Fundamentos de inteligência 29 conta conjunta, identificação dos terminais de atendimento nos quais ocorrem saques e vários outros dados da seguinte forma: • banco de dados de clientes x número de telefones responsáveis por golpes; • banco de dados de clientes x IP de máquinas que utilizam inter- net banking; • banco de dados de clientes x número de contas que receberam transferência de dinheiro das vítimas; • imagem dos terminais de atendimento x contas de destino dos fraudadores onde são depositados os saques. Somente nessa área, é possível realizar uma infinidade de correla- ções para identificar criminosos em fraudes eletrônicas, roubo, furtos ou estelionato nas agências. Dessa forma, a atividade de inteligência pode colaborar para que os bancos não sofram com enormes prejuízos financeiros. da vo od a/ Sh ut te rs to ck Indústrias Na era das indústrias 4.0 e conseguintes, observamos que as empre- sas tem produzido conhecimento industrial em uma velocidade expo- nencial, de maneira que em poucos dias um novo método é inventado, surgindo uma nova tecnologia, um novo design, um novo produto,uma nova receita, e assim por diante. Dessa forma, todo esse conhecimen- to produzido precisa ser protegido. Podemos tomar como exemplo a empresa Coca-Cola, que guarda sua fórmula secreta em um cofre há mais de 125 anos. Cabe à contrainteligência auxiliar na proteção desse conhecimento; da mesma maneira, compete à agência de inteligência a responsabilidade de estar em constante monitoramento para identi- ficar possíveis espiões infiltrados. Olhando para fora da indústria, encontramos um ambiente alta- mente competitivo, portanto, gostaríamos de fazer uma pergunta: você já ouviu falar em espionagem industrial? Provavelmente, sim, pois as empresas estão constantemente buscando obter conhecimentos que as coloquem em vantagem política, econômica, tecnológica ou social sobre suas concorrentes. Esses conhecimentos podem ser cruciais para a arrecadação de mais clientes e, consequentemente, de mais di- nheiro para a pioneira. Um exemplo ocorreu no ano de 2008, na Petro- Vejo o vídeo Apenas 6 pessoas sabem a fórmula da Coca-Cola!, publicado pelo canal The History Channel Brasil, para sa- ber mais sobre o segredo da Coca-Cola. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=F6jTeLp1E1I. Acesso em: 26 maio 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=F6jTeLp1E1I https://www.youtube.com/watch?v=F6jTeLp1E1I 30 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência bras, com o sumiço de notebooks e discos rígidos. O caso inicialmente foi tratado como furto, mas estrategicamente os equipamentos conti- nham informações importantes sobre o recém-descoberto pré-sal. Va- mos refletir um pouco sobre o caso Petrobras: quanto poderiam custar as informações do pré-sal para as principais potências produtoras de petróleo no mundo? No mundo da tecnologia informática, a espionagem é ainda mais acirrada. É o caso da antiga competição entre Apple (iOS) e Samsung (Android), ou iPhone e Galaxy, e entre Sony (PlayStation®) e Microsoft (Xbox). Observe que, nesses casos, a briga é por qualquer mero detalhe de informação, mas a competição principal é em relação à especifica- ção técnica e aos componentes utilizados (processador, bateria, memó- ria etc.). Por meio desses exemplos, podemos refletir sobre o que cada empresa está disposta a fazer para conseguir essas informações e o que cada uma faz para proteger seu conhecimento. • Inteligência • conceito: inteligência é a produção de conhecimento. • finalidade: assessorar o processo decisório. • Atividade de inteligência • limites: ética, moral e leis. • tripé: atividade, produto da atividade e unidade organizada para realizar a atividade de inteligência. • Regra dos 10 x 11 • 10 características: produção de conhecimento, assessoria, verdade com significado, busca de dados protegidos, ações especializadas, economia de meios, iniciativa, integração e abrangência, dinâmica e segurança. • 11 princípios: precisão, imparcialidade, objetividade, simpli- cidade, oportunidade, amplitude, interação, permanência, controle, compartimentação e sigilo. Para saber mais sobre o caso Petrobras e outros casos de espionagem industrial, visite a página disponível em: https:// exame.com/negocios/10- casos-de-espionagem- industrial/. Acesso em: 26 maio 2020. Saiba mais https://exame.com/negocios/10-casos-de-espionagem-industrial/ https://exame.com/negocios/10-casos-de-espionagem-industrial/ https://exame.com/negocios/10-casos-de-espionagem-industrial/ https://exame.com/negocios/10-casos-de-espionagem-industrial/ Fundamentos de inteligência 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, a atividade de inteligência é extremamente importante na sociedade moderna, devendo ser aplicada nas mais diversas áreas. Na atualidade, torna-se praticamente impossível alcançar a efetividade no mundo empresarial sem uma equipe de inteligência assessorando o tomador de decisões. É importante que os conteúdos vistos neste capítulo estejam consoli- dados, pois a disciplina é organizada em um processo de construção de conceitos em que um conhecimento dá suporte aos vindouros. Os limites da atividade, os valores e os princípios devem ser fixados, pois servem para guiar a atividade de inteligência e direcionar corretamente seus agentes. REFERÊNCIAS BÍBLIA SAGRADA. Antigo Testamento. Números. 92. ed. Tradução de José Simão. São Paulo: Ave Maria, 2013. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 maio 2020. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/del2848.htm. Acesso em: 13 maio 2020. BRASIL. Lei n. 9.296, de 24 de julho de 1996. 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Quais são os limites da atividade de inteligência e por que é tão importante que os agentes tenham pleno conhecimento de seus limites de atuação? 2. Diferencie os conceitos de inteligência e atividade de inteligência e comente como a inteligência tem sido empregada pelos gestores. 3. De acordo com o conteúdo estudado, o que você entende por atividade de inteligência e quais são as três características estratégicas para desenvolvê-la comoprofissão? Explique cada uma. Fontes de informação 33 2 Fontes de informação Você se recorda do filme Matrix (1999)? No longa-metragem, o personagem principal toma consciência de que pode ver todas as informações da matrix escondidas por trás das paredes, portas e pessoas, ou seja, passa a ver que tudo é constituído por dados, continuamente escritos, que estão na essencialidade das coisas. Neste capítulo, vamos “ler a matrix” de modo a identificar as fontes de informação, além de aprender algumas das principais técnicas operacionais para buscar as informações que necessita- mos. São várias as técnicas e os métodos utilizados para buscar dados e informações, e eles levam uma vida inteira para serem estudados e aprimorados. O objetivo aqui não é debater todas as técnicas profundamente, pois são inúmeras, mas mostrar quais caminhos podem ser trilhados para que o agente inicie seu desen- volvimento pessoal. 2.1 Fontes de informação Vídeo Observe a figura a seguir, relacionada ao filme Matrix. Ela nos ajuda a compreender a quantidade de informações que nos circunda. Figura 1 Matrix ltu m m y/ Sh ut te rs to ck 34 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência Agora reflita: quais informações podemos extrair de uma porta? Pensou? Vamos realizar uma análise sobre o questionamento, para isso, pedimos que use sua imaginação para visualizar o que estamos propondo neste exemplo inédito. Visualize uma porta. Em seguida, responda: de que material ela é feita (madeira oca ou maciça, metal ou vidro)? Qual é o acabamento da porta (pintada, rústica ou desgastada)? Qual é o tipo de fechadura utilizada (simples, tetra-chave ou fecha- dura eletrônica)? É uma porta interna ou externa? Quais são os tipos de dobradiça utilizados (simples ou reforçados)? É utilizada para fechar qual ambiente? Possui alguma inscrição em sua superfície? Possui alguma digital deixada por alguém que a utilizou? Qual é a marca da empresa que a produziu? Onde foi comprada? Uma série de questionamentos pode ser realizada para aprofun- dar o estudo de uma simples porta, e cada questionamento gerado aprofunda ainda mais nosso conhecimento. No caso de uma porta de madeira, é possível saber, por exemplo, qual o tipo de madeira utilizada; se for uma porta interna ou externa, o requinte que apre- senta pode apontar para a condição econômica de seu proprietário; se for uma porta de metal com dobradiças reforçadas e utilizada no interior de alguma construção, pode indicar que algo de valor está protegido naquele local; o tipo de fechadura utilizado pode ajudar a identificar quão importante é manter o conteúdo daquele ambiente protegido, como é o caso de uma porta com fechadura eletrônica controlada por senha ou digital. Portas existem com a finalidade es- pecífica de limitar o acesso de pessoas a determinados ambientes, por isso precisam ser analisadas nesse contexto, uma vez que todas as portas guardam segredos. Ao realizar a análise de uma foto ou adentrar em algum ambiente, o agente de inteligência deve observar o cenário com esse olhar críti- co. Ocorre, por exemplo, quando acessamos o andar de uma empresa e rapidamente observamos que todos utilizam estações de trabalho abertas e facilmente fiscalizáveis, mas, por algum motivo, no canto há uma sala com paredes e uma porta. Isso indica que aquela é, possi- velmente, a sala do chefe, onde informações, reuniões e decisões de caráter sensíveis ocorrem e, por esse motivo, precisa estar apartada do restante do ambiente por uma porta. Apesar de ser uma ficção científica, o filme Matrix nos faz entender que o mundo é repleto de códigos sequenciais e que a consciência nos permite enxergar as informações escondi- das por trás das coisas. Algumas pessoas tomam a pílula azul e aceitam o mundo exatamente como lhe é apresentado, outras (agentes de inteligência) tomam a pílula vermelha e passam a tentar ques- tionar e a compreender tudo que nos circunda, buscando conhecimento verdadeiro. O filme está disponível na íntegra no canal Gold Filmes, no YouTube. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=4G- lB2tgxPI. Acesso em: 6 jul. 2020. Filme https://www.youtube.com/watch?v=4G-lB2tgxPI https://www.youtube.com/watch?v=4G-lB2tgxPI https://www.youtube.com/watch?v=4G-lB2tgxPI Fontes de informação 35 Mas, afinal, o que são fontes de informação? Consideram-se fon- tes de informação toda e qualquer origem de dados ou informações que sejam relevantes para o processo decisório. Nessa esteira, várias são as possibilidades de fontes de dados: pessoas, imagens, sinais de radiotelefonia, equipamentos, organizações, documentos, ambientes, percepções sensoriais (visão, olfato, paladar, audição e tato), além de várias outras que podemos encontrar utilizando a criatividade. Existe uma premente necessidade de classificar as fontes de infor- mação para que se possa saber a melhor forma de obtê-las, ou seja, saber em que campo elas se encontram para traçar a melhor estratégia de obtenção dos dados. As fontes de informação são definidas ou qua- lificadas de diferentes maneiras, por diversos autores. Obviamente, as classificações buscam se adaptar à realidade de cada um, em sua res- pectiva área de atuação, por isso alguns classificam as fontes em pes- soas, organizações e documentos, outros as definem como humanas ou cibernéticas, e assim por diante. Há autores que utilizam sinônimos para definir os mesmos conceitos, por exemplo, fontes cibernéticas, fontes virtuais ou fontes eletrônicas. No entanto, todas as diferentes formas de classificação são válidas e plenamente aplicáveis, pois, em panoramas gerais, circundam as mesmas ideias. Após muito estudo e reflexão sobre os autores que versam sobre o assunto, procuramos unificar o conhecimento e classificar as fontes quanto à sua materialidade, originalidade, natureza e detenção, con- forme discorreremos. Ke lse y A rm str on g Cr ea tiv e/ Sh utt ers to ck Materialidade (ou corporificação) Busca identificar quão “palpável” e perceptível ao tato é a fonte de informação, isto é, se a informação, no estado em que se en- contra, existe de maneira corpórea ou não. Nesse caso, as infor- mações podem ser: • tangíveis: informações que existem fisicamente; é o caso de documentos impressos, que podem ser facilmente carregados. • intangíveis: informações que não possuem forma física, portanto, não podem ser tocadas ou carregadas fisicamente; é o caso de dados informáticos, ideias e diálogos. 36 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligência ku ro ks ta / Sh ut te rs to ck Originalidade Busca identificar se o conhecimento é original ou se foi alterado por meio do produto da percepção de outra pessoa, isto é, se é um conhecimento retransmitido ou que não seja “puro”. É o caso daquela brincadeira infantil, chamada telefone sem fio: quanto mais distante da fonte que originou a informação, maior é a probabilidade de ter sofrido alterações. Nesse quesito, as fontes de informação podem ser (SANTOS, 2015): • Primárias: são aquelas obtidas diretamente da fonte, portanto, são originais e sem qualquer tipo de manipulação. É o caso das informações obtidas mediante “entrevista” direta com o alvo, o qual transmite informações de “primeira mão”. É importante esclarecer que não se enquadra aqui a retransmissão de informação, o famoso “disse que me disse”. • Secundárias: são as informações que sofreram alguma modificação, muitas vezes em virtude da interpretação dada por quem as recebeu inicialmente, portanto, são consideradas “de ‘segunda mão’, editadas ou interpretadas” (PIERCE, 2008 apud SANTOS, 2015, p. 2.306). É o caso de dados obtidos pela imprensa, revistas, relatórios etc. ku ro ks ta / Sh ut te rs to ck Natureza da fonte Tem por finalidade definir quão facilitado está o acesso às informações e o grau de dificuldade para acessá-las. Nesse caso, as informações podem estar em fontes abertas ou fechadas (FERREIRA,2017). • Fontes abertas: é toda informação que se encontra dis- ponível para ser consultada ou acessada, independente- mente de onde esteja localizada. É o caso de pesquisas realizadas em sites, reportagens, documentos públicos, arquivos de fácil acesso dentro da própria organização etc. Desse modo, não há qualquer barreira entre o agente e as informações, simples ações de coleta são suficientes para a obtenção dos dados. Para conhecer mais sobre a brincadeira do telefone sem fio, assista ao vídeo descontraído de uma dinâmica de grupo com essa brincadeira. Disponível em: hhttps://www. youtube.com/watch?v=e3YtWL- 5p1_4&ab_channel=AlexGrigolli. Acesso em: 6 jul. 2020. Vídeo Fontes de informação 37 • Fontes fechadas: é toda informação de acesso restrito que possua acesso não autorizado e, por algum motivo, protegido, impedindo ou dificultando seu acesso para quem tente obtê-la. É o caso de documentos guardados em cofres, gavetas trancadas, pen-drives protegidos por senha etc. A inteligência se refere a essas informações como dado protegido e dado negado; para o primeiro é necessário credenciamento (senha, por exemplo) para acessá-lo, quanto ao último, são necessárias ações operacionais para obtê-lo. Cu be 29 / Sh ut te rs to ck Fonte de detenção Busca identificar qual é a fonte detentora da informação, dividindo-se, principalmente, em fontes humanas, documentais e eletrônicas. • Fontes humanas: ocorre quando pessoas são as detentoras da informação. Nesse caso, o ponto focal de esforço para a obtenção dos dados é o ser humano, logo, utiliza-se informantes e entrevistas com alvos a fim de obter a informação. • Fontes documentais: ocorre quando as informações se encontram materializadas em um documento físico, por exemplo: cartas, relatórios empresariais impressos, revistas, jornais, livros, e assim por diante. • Fontes eletrônicas: ocorre quando as informações encontram- se em ambiente virtual ou, nas palavras de Ferreira (2017, p. 7): “equipamentos eletrônicos [...] detentores dos dados obtidos através da inteligência de sinais, inteligência de imagens e inteligência cibernética”, como é o caso de interceptação de comunicações, imagens de satélites e bancos de dados, respectivamente. • Fontes baseadas em imagens: com base em imagens de satélites, veículos aéreos não tripulados (VANT), fotografias etc. Como já mencionado, é imprescindível saber classificar a fonte de informação para que se possa traçar a melhor estratégia para conse- gui-la. Se os dados são virtuais, será necessário enviá-los por e-mail ou transportá-los por meio de uma cópia feita em pen-drive; se físicos, pre- cisam ser carregados; se em fontes humanas, é necessário saber a me- lhor forma de abordagem para que se consiga os dados. Igualmente, é importante saber se os dados são abertos ou fechados para entender o grau de dificuldade que será enfrentado na missão. 38 Gestão de conhecimento, inteligência e contrainteligênciaNa ttl e/ Sh ut te rs to ck 2.2 Ações de inteligência e técnicas operacionais de inteligência Vídeo Após identificada a fonte de informação, os agentes passarão a utilizar-se das mais variadas técnicas e métodos para conseguir os da- dos necessários à produção de conhecimento. Antes de prosseguir, precisamos fazer uma importante diferencia- ção entre os termos busca e coleta. A Coordenadoria-Geral de Inteligên- cia da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) (BRASIL, 2002) as define da seguinte maneira: • busca: é a obtenção de dados não disponíveis. • coleta: é a obtenção de conhecimentos e/ou dados disponíveis; Já a Escola de Inteligência de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (Esisperj), conforme doutrina elaborada pelo Cel. Ferreira (2017, p. 2), as define da seguinte forma: ações de coleta, ou simplesmente, Coleta, são todos os proce- dimentos realizados, ostensiva ou sigilosamente, a fim de re- unir dados cadastrados e/ou catalogados em fontes abertas, disponíveis, sejam elas oriundas de indivíduos, órgãos públi- cos ou privados. Ações de Busca, ou simplesmente, Busca, são todos os proce- dimentos realizados pelo conjunto ou parte dos agentes do Elemento de Operações (ELO), envolvendo ambos os ramos da Inteligência de Segurança Pública (ISP) a fim de reunir dados ne- gados, em um universo antagônico, de difícil obtenção. Em ambas as definições, o ponto focal está na disponibilidade do dado ou da informa- ção: se disponível e de fácil acesso, a ação será de coleta; se de difícil aces- so ou protegido por algum motivo, teremos ações de busca. Um exemplo lúdico para facilitar a compreensão é uma árvore fru- tífera (Figura 2). Imagine que essa árvore frondosa possui galhos que produzem frutos, dentre os quais, al- Figura 2 Árvore da coleta e da busca Fontes de informação 39 guns estão ao alcance de um braço, enquanto outros encontram-se em galhos mais altos, que passam dos cinco metros. Podemos dizer que, ao estender o braço para pegar um fruto, você realizará a ação de coleta. Todavia, para alcançar os frutos nas derivações frutíferas mais elevadas, você precisará de uma longa ripa de madeira com um cesto coletor em sua ponta. Nesse caso, temos a ação de busca de frutos, pois esses estão inacessíveis por alguma razão. São ações de coleta pesquisas em sites da internet e vídeos do You- Tube, por exemplo; e, ações de busca a aplicação de técnicas de in- teligência para a aquisição de dados, como informações confidenciais que estão em posse de determinada pessoa, sendo necessário realizar uma entrevista ou aplicar outras técnicas de inteligência para obter a informação, que em regra é negada ou está protegida em alguma sala trancada ou com senha em arquivos digitais. 2.2.1 Conceitos e terminologias operacionais Para que possamos prosseguir, será necessário conceituar algu- mas terminologias utilizadas na área de inteligência, de acordo com a Senasp (BRASIL, 2002). Definimos o seguinte: • Ação de busca: é uma ação limitada, planejada e executada com emprego de técnicas e meios sigilosos, com vistas à obtenção de dados específicos. Não deve ser confundida com investigação cri- minal. É importante pontuar que na atividade de inteligência o que se busca é o dado ou a informação, não sendo necessário produzir provas dessa informação. Quando um informante diz que algo grave está para acontecer, não é necessário apresentar provas dos fatos, basta um simples relato. Após análise do agente de inteligência, checagem e confrontação de verossimilhança, ele relatará a seu chefe para que sejam tomadas as atitudes neces- sárias para a mitigação dos riscos. • Investigação criminal: todo o conhecimento produzido visa sub- sidiar o processo criminal, assim, tudo que for falado ou coletado em termo de declaração deverá ser provado, ou pelo declaran- te (na condição de vítima, autor, testemunha ou informante), ou pela autoridade de polícia judiciária, que deve buscar elementos que possam sustentar as declarações prestadas, diferentemente do que ocorre em uma ação de busca. O artigo 144 da Constitui- ção Federal traz as com- petências das polícias, ba- sicamente, divididas em polícia judiciária e polícia administrativa. Resumida- mente, compete à polícia judiciária a apuração de infrações penais, ou seja, investigar crimes e produ- zir provas para subsidiar a ação penal, a exemplo do que ocorre com a Polí- cia Federal e Polícias Civis dos estados. À polícia administrativa compete a preservação da ordem pública por meio do policiamento ostensivo preventivo, a exemplo da Polícia Rodoviária Federal e Polícias Militares dos estados. Para mais informações, acesse: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 6 jul. 2020. Curiosidade http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 40
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