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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf WILLEN GARCIA DE FRANCISCO O EMPREGO DE UM BATALHÃO DE INFANTARIA NO APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS: UMA ANÁLISE DA LOGÍSTICA NECESSÁRIA EM OPERAÇÕES DE AJUDA HUMANITÁRIA Rio de Janeiro 2018 Cap Inf WILLEN GARCIA DE FRANCISCO O EMPREGO DE UM BATALHÃO DE INFANTARIA NÃO APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS: UMA ANÁLISE DA LOGÍSTICA NECESSÁRIA EM OPERAÇÕES DE AJUDA HUMANITÁRIA Dissertação apresentada à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Operações Militares. Orientador: Cel Inf Júlio César de Sales Rio de Janeiro 2018 F819e 2018 Francisco, Willen Garcia de O emprego de um batalhão de infantaria no apoio a órgãos governamentais: uma análise da logística necessária em operações de ajuda humanitária / Willen Garcia de Francisco. – 2018. 262 f. : il. Dissertação (Mestrado em Ciência Militares) – Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, 2018. 1. Operações de Ajuda Humanitária. 2. Logística Militar. 3. Apoio à Defesa Civil. I. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais II. Título. CDD: 355.35 Cap Inf WILLEN GARCIA DE FRANCISCO O EMPREGO DE UM BATALHÃO DE INFANTARIA NO APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS: UMA ANÁLISE DA LOGÍSTICA NECESSÁRIA EM OPERAÇÕES DE AJUDA HUMANITÁRIA Dissertação apresentada à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Operações Militares. Aprovado em 11 de outubro de 2018. BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Eraldo Francisco dos Santos Filho – Cel - Presidente Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais ___________________________________ Nelson de Souza Junior – Cel – Ms. Membro Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais ________________________________ Júlio César de Sales – Cel – Membro Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais A minha querida Carolina uma singela homenagem como merecida recompensa por todo o apoio prestado para a conclusão do presente trabalho. AGRADECIMENTOS Ao Grande Arquiteto do Universo, fonte fecunda de Luz, por me guiar em todos os meus caminhos por meio de dedicação, pesquisa, inspiração e sabedoria. Aos meus pais, que jamais deixaram de me incentivar, contribuindo diretamente para que eu tivesse um caminho mais fácil durante esta jornada. Especialmente à Carolina, pelo carinho, compreensão, paciência e pelo apoio na confecção do Resumen deste trabalho. Aos amigos Cap Int Carlos Eduardo Del Gallo Júnior e Maj Inf Marcelo Sousa de Pinho, pelos conselhos preciosos. À EsAO e seu corpo docente, por ter me dado todas as ferramentas que me permitiram chegar ao resultado deste trabalho e, em particular, ao senhor Cel Inf Sales, meu orientador, pela paciência, pela compreensão e pelas inúmeras e valiosas orientações ao longo de todo o trabalho. Aos profissionais do Exército Brasileiro e Corpo de Bombeiros de Santa Catarina que, direta ou indiretamente, contribuíram na realização das presentes pesquisas. “O Exército pode passar cem anos sem ser usado, mas não pode passar um minuto sem estar preparado” (RUI BARBOSA). RESUMO O novo conceito de Operações de Cooperação e Coordenação com Agências, inserida nas situações de não guerra, reflexo da moderna Doutrina Militar Terrestre, envolve as ações subsidiárias em cooperação com diversos órgãos públicos e privados. Neste contexto, a Logística Militar de um Batalhão de Infantaria nas Operações de Ajuda Humanitária apresenta-se desfavorável, refletindo em meios e materiais inadequados para que o Batalhão de Infantaria possa cumprir suas missões humanitárias, primordiais para preservar o bem-estar dos cidadãos e proteger a sociedade. Desta forma, torna-se essencial que a Força Terrestre detenha uma Logística Militar compatível para enfrentar os desafios do século XXI. Neste sentido, com a finalidade de cooperar com a doutrina para o emprego de tropas do Exército Brasileiro em Operações de Ajuda Humanitária, tanto em território nacional como no exterior, este trabalho pretendeu analisar a logística necessária para a participação de um Batalhão de Infantaria em Operações de Ajuda Humanitária, destacando a doutrina atualmente empregada pelo Exército Brasileiro e apresentando outras doutrinas civis e militares, nacionais e internacionais relevantes. Assim, para atingir o objetivo proposto, esta pesquisa está dividida em cinco capítulos. O capítulo 1, Introdução, teve a finalidade de situar o leitor em relação ao problema em análise, bem como aos objetivos, às questões de estudo e às justificativas do trabalho. O capítulo 2 aborda a metodologia empregada ao longo do trabalho, aspecto fundamental para a validação dos resultados obtidos. No capítulo 3, por sua vez, apresentamos a Revisão de Literatura, com toda a base teórica que ampara o desenvolvimento dos estudos desenvolvidos. No Capítulo 4, apresentamos e discutimos os resultados obtidos, com base no embasamento teórico estudado e nos instrumentos de coleta de dados utilizados. Por fim, no capítulo 5, apresentamos as conclusões finais do trabalho, tendo sido confirmado como o emprego dos adequados meios materiais podem contribuir para a conquista de um permanente estado de prontidão operativa dos Batalhões de Infantaria em Operações de Ajuda Humanitária e Apoio à Defesa Civil, através de um QDM moderno. Palavras-chave: Operações de Ajuda Humanitária, Logística Militar, Apoio à Defesa Civil. RESUMEN El nuevo concepto de Operaciones de Cooperación y Coordinación con Agencias, incluida en las situaciones de no guerra, reflejo de la moderna Doctrina Militar Terrestre, envuelve las acciones subsidiarias en cooperación con diversos órganos públicos y privados. En este contexto, la Logística Militar de un Batallón de Infantería en las Operaciones de Ayuda Humanitaria se presenta desfavorable, reflejado en medios y materiales inadecuados para que el Batallón de Infantería pueda cumplir sus misiones humanitarias, primordiales para preservar el bienestar de los ciudadanos y proteger la sociedad. De esta forma, se vuelve esencial que la Fuerza Terrestre sostiene una Logística Militar compatible para enfrentar los desafíos del siglo XXI. En este sentido, con la finalidad de cooperar con la doctrina para el empleo de militares del Ejército Brasileño en Operaciones de Ayuda Humanitaria, tanto en el territorio nacional como en el exterior , este trabajo está destinado a analizar la logística necesaria para la participación de un Batallón de Infantería en Operaciones de Ayuda Humanitaria, destacando la doctrina actualmente empleada por el Ejército Brasileño y presentando otras doctrinas civiles y militares, nacionales e internacionales relevantes. Así, para llegar al objetivo propuesto, esta búsqueda está dividida en cinco capítulos. El capítulo 1, introducción, tuvo la finalidad de situar al lector en relación al problema en análisis, bien como a los objetivos, a las preguntas de estudio y las justificaciones de trabajo. El capítulo 2, aborda la metodología empleada a lo largo del trabajo, aspecto fundamental para la validación de los resultados obtenidos. En el capítulo 3, a su vez, presentamos la Revisión de Literatura, con toda la base teórica que amparael desenvolvimiento de los estudios desenvueltos. En el capítulo 4, presentamos y discutimos los resultados obtenidos, con base en el fundamento teórico estudiado y en los instrumentos de recolección de datos utilizados. Por fin, en el capítulo 5, presentamos las conclusiones finales del trabajo, habiendo sido confirmado como el empleo de los adecuados medios materiales pueden contribuir para la conquista de un permanente estado de preparación operativa de los Batallones de Infantería en Operaciones de Ayuda Humanitaria y Apoyo a la Defensa Civil, a través de un QDM moderno. Palabras clave: Operaciones de Ayuda Humanitaria, Logística Militar, Apoyo a la Defensa Civil. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Distribuição dos desastres naturais por regiões brasileiras ...................... 24 Figura 2 - Força de Ajuda Humanitária Estruturada com Base em um Comando de Unidade Local ........................................................................................................... 54 Figura 3 - Força de Ajuda Humanitária Estruturada com a Utilização de um Comando Enquadrante .............................................................................................................. 55 Figura 4 - Constituição do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) ................................................................................................................................... 58 Figura 5 - Organização da Defesa Civil de Santa Catarina ...................................... 62 Figura 6 - Estiagem e seca por região ...................................................................... 66 Figura 7 - Percentual de ocorrências de inundações nas regiões brasileiras ........... 67 Figura 8 - DRI – MA2 ................................................................................................ 69 Figura 9 - Estrutura organizacional da F Aj Hum do CMNE ...................................... 70 Figura 10 - A Cia C Ap da F Aj Hum do CMNE ......................................................... 72 Figura 11 - A Cia Log da F Aj Hum do CMNE ........................................................... 72 Figura 12 - A Cia E da F Aj Hum do CMNE .............................................................. 73 Figura 13 - A Cia Rsg Slv da F Aj Hum do CMNE .................................................... 74 Figura 14 - O Dst Com da F Aj Hum do CMNE ......................................................... 75 Figura 15 - A Constituição básica do GBREC ........................................................... 78 Figura 16 - Elementos de busca técnica a serem agregados ao GBREC ................ 78 Figura 17 - Elementos de gerenciamento necessários para atuação isolada do GBREC ...................................................................................................................... 79 Figura 18 - Componente logístico necessário para o emprego isolado do GBREC . 79 Figura 19 - Estrutura Organizacional Básica da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz ......... 81 Figura 20 - Organização da Cia C Ap da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz .................... 83 Figura 21 - Cia E da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz .................................................... 83 Figura 22 - Organização do Dst Com ........................................................................ 84 Figura 23 - Composição orgânica da UME ............................................................... 88 Figura 24 – Organização da UME na Espanha ......................................................... 89 Figura 25 - Intervenções da UME entre 2007-2017 (traduzido pelo autor) ............... 91 Figura 26 - Equipe da UME confeccionando um sistema de escoramento com bambu ................................................................................................................................... 95 Figura 27 - Níveis de atuação da ORSEC ................................................................ 98 Figura 28 - Atuações da ORSEC nos desastres na França ...................................... 99 Figura 29 - Plano Particular de Intervenção da ORSEC ......................................... 100 Figura 30 - Plano Particular de Intervenção da ORSEC (continuação) .................. 101 Figura 31 - Distribuição dos Meios Aéreos da Sécurité Civile ................................ 102 Figura 32 - Atuações da Fuerza de Apoyo em Caso de Desastres ........................ 103 Figura 33 - Hércules C-130 utilizado no transporte de pessoal e material ............. 105 Figura 34 - Boeing 727 utilizado no transporte de pessoal ..................................... 105 Figura 35 - Helicóptero MI-17 utilizado no reconhecimento e transporte de pessoal ................................................................................................................................. 106 Figura 36 - Escavadeira do Grupamento de Engenheiros utilizada na remoção de escombros ............................................................................................................... 107 Figura 37 - Apronto Operacional do Serviço de Saúde ........................................... 108 Figura 38 - Serviço de Intendência na distribuição de alimento .............................. 108 Figura 39 - Formatura do Serviço de Polícia Militar ................................................ 109 Figura 40 – Militar inspecionando um albergue ...................................................... 111 Figura 41 - Célula de busca, resgate e salvamento atuando numa enchente ........ 112 Figura 42 - Célula de engenheiros atuando na desobstrução de vias .................... 112 Figura 43 - Célula de limpeza na remoção de lama após uma enchente ............... 113 Figura 44 - Célula de saneamento na limpeza de vias ........................................... 114 Figura 45 - Célula de segurança realizando a segurança de uma instalação ........ 114 Figura 46 - Célula de serviço médico no atendimento à população afetada .......... 115 Figura 47 - Cozinha comunitária e a distribuição de alimentação emergencial ...... 116 Figura 48 - Transporte aéreo de mantimentos ........................................................ 116 Figura 49 - Remoção de neve das vias ................................................................... 117 Figura 50 - Incêndios florestais na fronteira do México com os EUA ...................... 118 Figura 51 - Militares removendo escombros após um terremoto ............................ 119 Figura 52 - Distribuição dos desastres naturais ...................................................... 130 Figura 53 - Municípios mais atingidos no Brasil no período de 1991 a 2012 .......... 131 Figura 54 - Quantidade de refeições consumidas no Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz .............................................................................................................. 144 Figura 55 - Material Classe II utilizado no Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf ... 145 Figura 56 - Material Classe III (armamento) utilizado no Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz ........................................................................................................ 146 Figura 57 - Material Classe III (munição) utilizada no Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz .............................................................................................................. 147 Figura 58 - Material Classe VI utilizado no Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz ................................................................................................................................. 147 Figura 59 - Material Classe VII utilizado no Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz ................................................................................................................................. 148 Figura 60 - Material Classe VIII utilizadono Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz ........................................................................................................................... 149 Figura 61 - Material Classe IX utilizado no Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz ................................................................................................................................. 150 Figura 62 - Necessidades de recursos para Exercício da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz ........................................................................................................................... 152 Figura 63 - Necessidades de materiais a adquirir pelo 23º BI ................................ 152 Figura 64: Avião Canadair CL-215-T da UME ........................................................ 246 Figura 65: Características do avião Bombardier CL-415 e do helicóptero EC-135 da UME ......................................................................................................................... 247 Figura 66: Características dos helicópteros PUMA e SUPER PUMA da UME ....... 248 Figura 67: Ambulâncias da UME ............................................................................. 249 Figura 68: Características das autobombas URO BFP e florestal pesada IVECO ML140E28W ............................................................................................................ 250 Figura 69: Características das autobombas IVECO FF140E28W e IVECO Enfermeira ................................................................................................................................. 251 Figura 70: Característica da célula de habitabilidade polivalente familiar da UME . 252 Figura 71: Características do abrigo para 100 pessoas e do acampamento para 500 pessoas da UME ..................................................................................................... 253 Figura 72: Características das embarcações ZODIAK e de alumínio da UME ....... 254 Figura 73: Características das máquinas de engenharia retroescavadeira JCB e escavadeira CATERPILLAR JCB da UME .............................................................. 255 Figura 74: Características do trator esteira CATERPILLAR e retroescavadeira JCB da UME ................................................................................................................... 256 Figura 75: Características do basculante IVECO 380 e minimáquina MUSTANG da UME ......................................................................................................................... 257 Figura 76: Equipamento contra inundações EMBAL .............................................. 258 Figura 77: Máquinas de retirar neve IVECO 7226 e F3 T5T0 da UME ................... 259 Figura 78: As viaturas de transporte de pessoal da UME M-113 A1/A2 e Santana Aníbal ...................................................................................................................... 260 Figura 79: Veículos TT URO VAMTAC S-3 e caminhão leve IVECO 7226 da UME ................................................................................................................................. 261 Figura 80: Veículo pesado TT 10 Tm IVECO M-250 da UME ................................ 262 Figura 81: Motocicleta SUZUKI DRZ 400S da UME ............................................... 262 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Participação dos militares em Op Aj Hum e/ou Apoio à Defesa Civil .... 126 Gráfico 2 - Ano de participação dos militares em Op Aj Hum e/ou Apoio à Defesa Civil .......................................................................................................................... 127 Gráfico 3 - O município possui um Plano de Contingência? ................................... 128 Gráfico 4 - Conhecimento das OM sobre o Plano de Contingência ........................ 128 Gráfico 5 - Ano que ocorreu o último evento climatológico com participação de militares ................................................................................................................... 132 Gráfico 6 - Tipo de evento climatológico que os militares participaram .................. 134 Gráfico 7 - A opinião sobre os meios e materiais adequados ................................. 135 Gráfico 8 - Verificação se a OM possui local adequado para acondicionar o material ................................................................................................................................. 136 Gráfico 9: Onde são acondicionados os materiais de Ajuda Humanitária e Defesa Civil? ........................................................................................................................ 136 Gráfico 10 - Materiais necessários em deslizamento de terra ................................ 155 Gráfico 11 - Materiais necessários em secas ......................................................... 156 Gráfico 12 - Materiais necessários nas enchentes ................................................. 157 Gráfico 13 - Materiais necessários nas tempestades tropicais e furacões ............. 158 Gráfico 14 - Materiais necessários nos incêndios florestais ................................... 159 Gráfico 15 - Materiais necessários nos acidentes QBRN ....................................... 160 Gráfico 16 - Efetivo empregado numa Op Aj Hum e/ou Apoio à Defesa Civil ........ 161 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Definição operacional da variável independente .................................... 38 Quadro 2 - Definição operacional da variável dependente ....................................... 39 Quadro 3 - Operação de Ajuda Humanitária X Apoio à Defesa Civil ........................ 56 Quadro 4 - Missões das Operações de Ajuda Humanitária X Missões de Apoio à Defesa Civil ............................................................................................................... 57 Quadro 5 - Abrangência das Operações de Apoio à Defesa Civil e Operações de Ajuda Humanitária ..................................................................................................... 57 Quadro 6: Meios que as OM possuem para emprego em Ajuda Humanitária e Defesa Civil ............................................................................................................. 139 LISTA DE ABREVIATURAS Ap Apoio Aprn Op Apronto Operacional BIE Bibliotecas Integradas do Exército Bda Inf Mtz BIEM B Log BTUME CCOp Cia Cia Rsg Slv CIEN CING C Mil A Cmdo CMNE CMS COD Com COz DRI Dst Dtz Brigada de Infantaria Motorizada Batalhão de Intervenções da UME Batalhão Logístico Batalhão de Comunicações da UME Centro de Coordenação de Operações Companhia Companhia de Resgate e Salvamento Companhia de Intervenções da UME Companhia de Engenheiros da UME Comando Militar de Área Comando Comando Militar do Nordeste Comando Militar do Sul Centro Operacional Departamental Comunicações Centro Operacional de Zona Destacamento de Resposta Imediata Destacamento Diretriz EB Elm EMFA ESG Exército Brasileiro Elemento Estado-Maior das Forças Armadas Escola Superior de Guerra F Aj Hum Força de Ajuda Humanitária F Ter Força Terrestre FA Forças Armadas FAB GBREC Força Aérea Brasileira Grupo de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas GU INSARAG MB MPE GptOpFuzNav GT GU MA1 MA2 Mth OCHA Grande Unidade Grupo Consultivo Internacional de Busca e Resgaste da ONU Marinha do Brasil Módulo Precursor Emergial Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais Grupo de Trabalho Grande Unidade Modelo Alternativo 1 Modelo Alternativo 2 Montanha Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários Op Aj Hum Operações de Ajuda Humanitária OM OME OrganizaçãoMilitar Organização Militar do Exército ONU Organização das Nações Unidas OTAN PEEx Pel Mnt Pel Sup Pel Trnp PP Organização do Tratado do Atlântico Norte Plano Estratégico do Exército Pelotão de Manutenção Pelotão de Suprimento Pelotão de Transporte Programa-Padrão QDM Quadro de Dotação de Material SCiELO SDIS SU U USAR Biblioteca Eletrônica e Científica Online Serviço Departamental de Incêndio e Segurança; Subunidade Unidade Busca e Resgate Urbano UME Unidade Militar de Emergências UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSC Universidade Federal de Santa Catarina SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 20 2 METODOLOGIA .................................................................................................... 36 2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO ......................................................................... 36 2.1.1 Definição conceitual das variáveis ................................................................... 37 2.1.2 Definição operacional das variáveis ................................................................. 37 2.1.3 As variáveis intervenientes ............................................................................... 40 2.2 AMOSTRA ........................................................................................................... 41 2.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA ....................................................................... 42 2.3.1 Procedimentos para a revisão da literatura ...................................................... 44 2.3.1.1 Fontes de busca ............................................................................................ 44 2.3.1.2 Estratégia de busca para as bases de dados eletrônicos ............................. 44 2.3.2 Procedimentos metodológicos ......................................................................... 44 2.3.3 Instrumentos ..................................................................................................... 45 2.3.4 Análise dos dados ............................................................................................ 46 3. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 47 3.1 A ATUAÇÃO DA DEFESA CIVIL E DA FORÇA DE AJUDA HUMANITÁRIA NO BRASIL ...................................................................................................................... 48 3.1.1 A Defesa Civil no Brasil .................................................................................... 48 3.1.2 A Força de Ajuda Humanitária do Exército Brasileiro ...................................... 51 3.1.3 Operação de Ajuda Humanitária X Operação de Apoio à Defesa Civil ........... 56 3.2 A ATUAÇÃO DOS PRINCIPAIS ÓRGÃOS E ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL DE ATUAÇÃO SIGNIFICATIVA NA ÁREA DE DEFESA CIVIL E AJUDA HUMANITÁRIA ................................................. 58 3.2.1 A atuação do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina .................................... 60 3.2.2 A atuação da Defesa Civil ................................................................................ 61 3.2.2.1 A Diretoria de Resposta aos Desastres ........................................................ 62 3.3 AS ORGANIZAÇÕES MILITARES COM MAIOR PROBABILIDADE DE EMPREGO ................................................................................................................ 64 3.3.1 A Força de Ajuda Humanitária no Comando Militar do Nordeste .................... 64 3.3.2 A Força de Ajuda Humanitária no Comando Militar do Sul .............................. 80 3.4 A FORÇA DE AJUDA HUMANITÁRIA NO MUNDO ............................................ 85 3.4.1 A Força de Ajuda Humanitária na Espanha – A Unidad Militar de Emergencias (UME) .......................................................................................................................86 3.4.1.2 As Capacidades Militares da UME ................................................................ 92 3.4.1.2.1 Capacidade de Comando e Controle ......................................................... 92 3.4.2.1.2 Capacidade de Intervenção e Luta Contra Incêndios Florestais ................ 93 3.4.2.1.3 Capacidade de Intervenção em Grandes Inundações ............................... 93 3.4.1.2.4 Capacidade de Intervenção em Nevadas e Fenômenos Meteorológicos .. 94 3.4.1.2.5 Capacidade de Intervenção em Terremotos, Erupções Vulcânicas e Deslizamento de Terra .............................................................................................. 94 3.4.1.2.6 Capacidade de Intervenção Ocasionada por Riscos Tecnológicos e Contaminações Ambientais ....................................................................................... 95 3.4.1.2.7 Capacidade de Intervenção em Atentados Terroristas e Atos Violentos ... 96 3.4.2 A Defesa Civil Francesa ................................................................................... 96 3.4.2.1 Os Meios Aereos da Defesa Civil Francesa ................................................ 102 3.4.3 A Força de Ajuda Humanitária no México ...................................................... 103 3.4.3.1 A atuação da Fuerza de Apoyo en Caso de Desastres nos Sistemas Tropicais ..................................................................................................................110 3.4.3.2 A atuação da Fuerza de Apoyo en Caso de Desastres nos Sistemas Invernais ..................................................................................................................117 3.4.3.3 A atuação da Fuerza de Apoyo en Caso de Desastres nos incêndios florestais ..................................................................................................................117 3.4.3.4 A atuação da Fuerza de Apoyo en Caso de Desastres nos fenômenos geológicos ...............................................................................................................118 3.4.3.5 O Plan DN - III - E e a atuação da Fuerza de Apoyo en Caso de Desastres ..................................................................................................................................120 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................... 122 4.1 MEIOS E MATERIAIS ADEQUADOS ................................................................ 124 4.1.1 Operacionalidade ........................................................................................... 125 4.1.1.1 Capacidade técnico-profissional dos recursos humanos ............................ 125 4.1.1.2 Eventos climatológicos na área da OM ....................................................... 129 4.1.1.3 Capacidade e disponibilidade dos materiais, viaturas e embarcações ....... 134 4.1.1.4 Realização de checklist de material ............................................................ 137 4.1.1.5 Tempo de planejamento e preparo para missão ......................................... 139 4.1.2 Recursos disponíveis ..................................................................................... 140 4.1.2.1 Gastos com meios e materiais .................................................................... 141 4.2 A CONQUISTA DO PERMANENTE ESTADO DE PRONTIDÃO OPERATIVA . 142 4.2.1 Preparo ........................................................................................................... 142 4.2.1.1 Apronto Operacional ................................................................................... 143 4.2.1.2 Diretrizes, Ordens de Serviço e Instrução, Cadernos de Trabalho e Análise Pós-Ação .................................................................................................................151 4.2.1.3 MeiosMilitares Empregados e QDM ........................................................... 154 4.2.1.4 Efetivo envolvido ......................................................................................... 161 4.2.1.5 Capacidade de outras agências e outros Exércitos .................................... 161 4.3 CONCLUSÕES PARCIAIS ................................................................................ 165 5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 168 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 176 GLOSSÁRIO ........................................................................................................... 181 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ........................................................................... 184 APÊNDICE B – OBSERVAÇÃO DIRETA .............................................................. 199 APÊNDICE C – ROTEIRO DE PERGUNTAS DE ENTREVISTA ........................... 206 APÊNDICE D - PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO ............................. 207 APÊNDICE E – TRADUÇÃO DE ILUSTRAÇÕES ESTRANGEIRAS .................... 240 ANEXO A – CATÁLOGO DOS EQUIPAMENTOS, SISTEMAS E PLATAFORMAS DOS BIEM DA UME ................................................................................................ 246 20 1 INTRODUÇÃO A Força Terrestre (F Ter) deverá manter-se em permanente estado de prontidão para atender as demandas da Defesa Nacional, para contribuir para garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais e da lei e da ordem (BRASIL, 2017d, p.1-1). Desta forma, destacada do manual EB70-MC-10.223, Operações (BRASIL, 2017d), a citação anterior resume a importância dos elementos da Força Terrestre (F Ter) em manter-se permanentemente em condições de responder às demandas de interesse nacional, conforme suas atribuições constitucionais e, consequentemente, atuar no grande desafio da atualidade que é o complexo ambiente humanitário, onde possuir uma logística adequada significa um fator imprescindível para o sucesso da missão. Neste contexto, em atenção à Diretriz de Implantação do Subprojeto Força Humanitária (BRASIL, 2014a, p. 6/13), o Exército Brasileiro (EB) iniciou a experimentação doutrinária da Força Humanitária em 2014, desenvolvendo seu Projeto Piloto no Comando Militar do Nordeste, em 2015. Os subprojetos de implantação da Força de Ajuda Humanitária nos demais Comandos Militares de Área (C Mil A) ocorrerão até 31 de dezembro de 2022. Com isso, alinhado com os objetivos estratégicos Nr 03 (contribuir com o desenvolvimento sustentável e a paz social), Nr 05 (implantar um novo e efetivo Sistema Operacional Terrestre) e Nr 14 (ampliar a integração do Exército à sociedade), estabelecidos no Plano Estratégico do Exército (PEEx) 2016-2019 (BRASIL, 2015, p. 3, 5 e 44), o EB possui curto prazo para capacitar seus profissionais para realizar ações de Ajuda Humanitária. Desta forma, o PEEx tem como visão de futuro (BRASIL, 2015a): Até 2022, o Processo de Transformação do Exército chegará a uma NOVA DOUTRINA - com o emprego de produtos de defesa tecnologicamente avançados, profissionais altamente capacitados e motivados - para que o Exército enfrente, com os meios adequados, os desafios do século XXI, respaldando as decisões soberanas do Brasil no cenário internacional (BRASIL, 2015a, p. 4, grifo nosso). 21 À vista disso, com o intuito de revelar os meios adequados para que o EB enfrente os desafios do século XXI e de apresentar o papel desenvolvido pela logística no complexo ambiente humanitário, o presente trabalho pretende analisar a logística necessária para a participação de um Batalhão de Infantaria em Operações de Ajuda Humanitária (Op Aj Hum), destacando a doutrina atualmente empregada pelo Exército Brasileiro (EB) e apresentando outras doutrinas civis e militares, nacionais e internacionais. Como contribuição, o presente trabalho poderá propor alterações no QDM (Quadro de Dotação de Material) de um Batalhão de Infantaria, atualizando-o de forma que contribua para o fortalecimento da efetividade logística deste tipo de Unidade no apoio às Ações de Defesa Civil e Op Aj Hum. Assim, este trabalho pretende colaborar para a prontidão operativa de um Batalhão de Infantaria para atuar em Op Aj Hum, apoiando a Defesa Civil e contribuindo para a sua interoperabilidade em operações de cooperação e coordenação com agências. 1.1 PROBLEMA As Operações de Ajuda Humanitária possuem, em sua essência, uma estreita relação com o conceito de Operações de Apoio às Ações de Defesa Civil. Conforme será abordado mais adiante, o Brasil começou a introduzir a F Aj Hum somente em 2015, já sua participação no Apoio à Defesa Civil, já vem sendo mantida há tempo. Assim, será impossível abordar o termo Ajuda Humanitária sem mencionar em algumas oportunidades o termo Defesa Civil. Com a finalidade de elucidar o problema, o manual MD35-G-01, Glossário das Forças Armadas, define Defesa Civil como “Conjunto de ações preventivas, de socorro assistencial e recuperativo, destinado a evitar ou minimizar os desastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalidade social” (BRASIL, 2007, p. 77/274). Corroborando com a definição já citada anteriormente pelo manual EB20-MC- 10.201, Operações em Ambiente Interagências, a Nota de Coordenação Doutrinária 22 (NCD) Nr 01/2014 - C Dout Ex/EME, de 10 de abril de 2014, define Operações de Ajuda Humanitária como: Operação concebida especificamente para aliviar o sofrimento humano, decorrente de desastres, que representem séria ameaça à vida ou resultem em extenso dano ou perda de propriedade, bem como para prestar assistência cívico-social. Destina-se a complementar, com a utilização de meios militares, o esforço de resposta a desastre do governo e de organizações não governamentais (BRASIL, 2014d, p. 4). Assim, percebe-se, guardando as devidas proporções, que as duas definições partilham do mesmo propósito de socorrer a população em ambientes afetados por desastres, o que será, em algumas ocasiões, feitas alusões à Defesa Civil para chegar ao objetivo pretendido. Para elucidar o problema que será abordado, o manual EB20-MF-10.102, Doutrina Militar Terrestre, apresenta o emprego, as missões e tarefas da F Ter. E na sua visão, a participação do EB em Operações de Ajuda Humanitária, conforme se observa: Cabe ao Exército o preparo da F Ter para cumprir sua missão constitucional da defesa da Pátria e da garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. Além disso, a F Ter deve cumprir as atribuições subsidiárias gerais previstas na legislação complementar, que são: cooperar com o desenvolvimento nacional e com a defesa Civil, bem como apoiar a política externa do País e participar de operações internacionais de paz e de ajuda humanitária (BRASIL, 2014c, p. 7.1, grifo nosso). Diante disso, e ambientando a elucidação do problema a conhecer, o manual EB20-MC-10.201, Operações em Ambiente Interagências, cita a abrangência deste tipo de operação, inserindo a Ajuda Humanitária no contexto “Operações em Ambiente Interagências”: Apesar da importância de se dispor de forças militares com capacidades efetivas para o combate, o ambiente operacional contemporâneo tem implicado de forma crescente na participação de vetores não militares de diferentes matizes no espaço de batalha. É normal, neste espaço, a presença de diferentes vetores nas Operações no Amplo Espectro, no desempenho de suas atividades de interesse ou tarefas específicas necessárias em prol da população local, com possível envolvimento de agências civis de órgãos nacionais, internacionais e interestatais, cuja presença testemunha e proporciona legitimidade às ações militares. Essas ações, desde a ajuda humanitáriaàquelas voltadas à pacificação e reconstrução local, estarão sendo desenvolvidas em ambiente interagências (BRASIL, 2013, p. 4-1, grifo nosso). 23 No sentido de melhor entender o termo “Operações Ambiente Interagências”, o mesmo EB20-MC-10.201, Operações em Ambiente Interagências (BRASIL, 2013, p. 1-2) esclarece que as Operações em Ambiente Interagências e as Operações Interagências, no sentido amplo, possuem o mesmo significado. Assim, seguindo a doutrina deste manual, faz-se a conceituação de Operações Interagências, que seria uma operação coordenada com outra agência para alcançar um objetivo comum, sem duplicidade de ação e do modo mais eficiente possível, conforme se observa: Interação das Forças Armadas com outras agências com a finalidade de conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de ações, a dispersão de recursos e a divergência de soluções com eficiência, eficácia, efetividade e menores custos (BRASIL, 2013, p.1- 2). Sobre o termo agência, visto na definição de Operações Interagências, o EB20-MF-10.102 aponta para uma organização, instituição ou entidade, que poderia ser de caráter governamental ou não, civil ou militar, pública ou privada, nacional ou estrangeira que tenha como objetivo a prevenção de ameaças, no gerenciamento de crises e/ou na solução de conflitos (BRASIL, 2013, p. 1-2). 1.1.1 Antecedentes do problema De acordo com o Plano de Emprego das Forças Armadas em casos de Desastres 2013/2014 (BRASIL, 2013, p. 1), os fenômenos relacionados aos desastres naturais no Brasil tendem a ocorrer com maior frequência, principalmente a seca no nordeste e chuvas nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Neste cenário, tais fenômenos naturais têm requerido frequentemente a participação das Forças Armadas (FA) em cooperação com as Ações de Defesa Civil. Desastres estes, que corroboram com o emprego das FA, conforme se vê na figura 01 a seguir, em que se observa a distribuição dos mesmos dentro das regiões geográficas do Brasil. 24 Figura 1 - Distribuição dos desastres naturais por regiões brasileiras Fonte: Atlas Brasileira de Desastres Naturais- 1991 a 2012 (UFSC, 2013) Do gráfico acima, pode-se extrair informações que servem para ratificar o abordado anteriormente no Plano de Emprego das Forças Armadas em casos de Desastres 2013/2014 (BRASIL, 2013) que justificam o motivo das Op Aj Hum e em Apoio à Defesa Civil ter ganhado maior vulto nos últimos anos. Nele, nota-se o Nordeste, o Sul e o Sudeste como as regiões com maiores ocorrências de desastres naturais, sendo que no Nordeste e Sudeste, a predominância da seca e estiagem, enchente e inundações. Já no Sul, a maior frequência ocorre com a seca e estiagem, enchente e vendaval. Com isso, o emprego das FA tem se mostrado capital para resolução dos problemas causados por desastres naturais: A participação das Forças Armadas em auxílio da população afetada por uma catástrofe, de qualquer tipo, remonta à própria existência dos exércitos. 25 As Forças Armadas são um instrumento do Estado e, como tal, devem ser usadas nessas circunstâncias e para esses fins que sejam necessárias em todos os momentos (ESPANHA, 2014, p. 7, tradução nossa). Nesse contexto, de acordo com manual EB70-MC-10.223, Operações (BRASIL, 2017d), o emprego do EB e, particularmente, dos Batalhões de Infantaria, são imprescindíveis nas atribuições subsidiárias gerais de cooperações com o desenvolvimento nacional e com a defesa civil (BRASIL, 2017d, p. 3-16). Boa prova das recentes participações dos Batalhões de Infantaria no Apoio à Defesa Civil observa-se na Operação Enchentes, em 2010, executada pela 10ª Bda Inf Mtz em Recife-PE (OPERAÇÃO, 2010, p. 39-43); Operação Serrana, em 2011, planejada pela 1ª DE no Rio de Janeiro-RJ (OPERAÇÃO, 2011, p. 33); Operação Mão Amiga, em 2015, empregando principalmente Comando de Fronteira Acre e 4º Batalhão de Infantaria de Selva (ENCHENTES, 2015); e da 3ª Companhia/63º Batalhão de Infantaria, Tubarão-SC, após o vendaval que abalou o município em 16 de outubro de 2016 (DIÁRIO, 2016). Porém, apesar da atualidade do emprego das FA neste cenário, seu emprego não se iniciou recentemente. Para demonstrar sua importância, significativos antecedentes histórico-militares afirmam o papel decisivo dos militares no sucesso das Op Aj Hum e em Apoio à Defesa Civil, vistos a seguir, que são coerentes com o desenvolvimento deste trabalho. Sendo assim, dois episódios da História Militar, ocorridos na Segunda Guerra Mundial serão abordados, pois, na atualidade, e em outras épocas, a Defesa Civil representa e representou um aspecto relevante para a solução de emergências O primeiro acontecimento histórico-militar mostra o surgimento da Defesa Civil durante os ataques das Forças do Eixo, em 1940 e 1941, contra o Reino Unido, durante a Segunda Guerra Mundial, cuja preocupação seria manter a população segura diante do ambiente instável desta guerra. (BRASIL, 2012b). O segundo episódio, por sua vez, um reflexo do primeiro, ocorreu no território brasileiro. Passa-se no mesmo momento e contexto histórico, logo após o bombardeio de navios brasileiros por navios alemães na costa do Nordeste do país. Tal acontecimento foi decisivo ao governo brasileiro, que o levou a declarar guerra à Alemanha e Itália, e, imediatamente, a inserção do país na Segunda Guerra Mundial. Como consequência, houve a criação do Serviço de Defesa Passiva 26 Antiaérea, embrião da Defesa Civil no Brasil. Tudo isso é observado abaixo, no Histórico da Defesa Civil, publicado pelo Ministério da Integração Nacional (BRASIL, 2012b). Os dois episódios anteriormente se tornaram o marco da Defesa Civil. O primeiro, no Reino Unido e, consequentemente, no mundo. O segundo, no Brasil, porém, não consolidado imediatamente. Desta forma, buscando a afirmação da Defesa Civil no território brasileiro, em 1943, o Serviço de Defesa Passiva Antiaérea passa a ser chamado de Serviço de Defesa Civil, porém, foi extinto em 1946, permanecendo pouco explorado pelo Governo Federal até a década de 60 (BRASIL, 2012b). Citação complementada por um ângulo militar, na visão de Oliveira (2006): Terminado o conflito mundial, com a euforia da paz, verificou-se uma natural tendência de relaxamento nas medidas de defesa civil e, em 1946, aquele serviço foi extinto, sem que ao menos fosse criada uma doutrina ou mesmo uma mentalidade sobre o assunto (OLIVEIRA, 2006, p. 18). Nesta lacuna temporal, entre 1946 até a década de 60, mais precisamente 1966, deparada com a inércia dos demais órgãos do Poder Público, as FA realizaram alguns estudos de grande valia, que contribuiriam significativamente para o seu crescimento diante desta demanda, sendo, praticamente, os únicos que permaneceram capazes de atuar em Ações de Defesa Civil nesta época. Assim, em 1949, no então governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra, o Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) organiza um Anteprojeto de Defesa Civil em âmbito nacional, estadual e municipal que visava particularmente, medidas educativas, conforme Oliveira (2006, p. 18). Em 1950, a Escola Superior de Guerra (ESG) propõe que o assunto Defesa Civil deveria ser planejado pelas Regiões Militares, devido às diferentes características geográficas e operacionais, ainda que explicado por Oliveira (2006): b) em 1950, a Escola Superior de Guerra (ESG) elaborou um trabalho que recomendava a criação de um órgão central, de âmbito federal, e outros regionais, em número equivalente às Regiões Militares do Exército, com as quais deveriam manter íntima ligação. Previa, como no Anteprojeto de Lei do EMFA, a criação dos serviços capazes de cumprir as missões de defesa civil (OLIVEIRA, 2006, p. 18). E, em 1958, as FA retificam o Anteprojetocitado, mais detalhado e definido que o anterior, e o remete ao Governo Federal, porém, pouco aproveitado pelo Poder Público, segundo esclarecimento de Oliveira (2006, p.18). 27 Cabe ressaltar que, somente a partir 1966, com enchentes e fortes chuvas no extinto Estado da Guanabara e no Estado de São Paulo, a temática toma novamente força e vigor no Governo de Humberto Castelo Branco, consolidando a primeira Defesa Civil Estadual do Brasil, no estado da Guanabara, preocupada em dar assistência à população nos casos de calamidades (BRASIL, 2012b). Nesse sentido, o próximo marco importante, segundo o Ministério da Integração Nacional, (BRASIL, 2012b) foi a reunião promovida pela Assembléia Geral da ONU, realizada em 22 de dezembro de 1989, que tinha como finalidade a preocupação com a redução de riscos de desastre. Nesta reunião, seria aprovada a Resolução 44/236, que estabelecia o ano de 1990 como início da Década Internacional para Redução dos Desastres Naturais (DIRDN), cujo objetivo era minimizar de perdas de vidas, danos ao nível socioeconômico, provocado por diversos tipos de desastres naturais. Recentemente no Brasil, na 1ª Conferência Nacional de Defesa Civil e Assistência Humanitária, em 2009, passa a ser mencionado o termo Ajuda Humanitária juntamente com a Defesa Civil, cujos objetivos eram mais amplos como a construção de um banco de dados de desastres, mapeamento amplo, organização de Planos, Políticas e Sistemas voltados para a Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012b). Fruto do constante e atual emprego militar em missões desta natureza, em 10 de abril de 2014, foi publicada a Nota de Coordenação Doutrinária (NCD) Nr 01/2014 – C Dout Ex/EME, Operações de Ajuda Humanitária, cujo objetivo pretendido era “Estabelecer a concepção doutrinária para o emprego de tropas do Exército Brasileiro em Operações de Ajuda Humanitária, tanto em território Nacional como no exterior” (BRASIL, 2014d, p. 3), que amplia o emprego da Força em Ações de Defesa Civil, capacitando-a a receber as missões típicas nas Operações de Ajuda Humanitária (Op Aj Hum), como de assistência imediata, apoio aos deslocados e refugiados, segurança de área, assistência técnica e funções de apoio e gerenciamento de consequências (BRASIL, 2014d, p. 14-15). Desta forma, foi concebida a Força de Ajuda Humanitária (F Aj Hum), que seria, conforme a NCD Nr 01/2014 uma “Força temporária constituída para realizar uma Operação de Ajuda Humanitária, integrando, com os meios necessários, o esforço de resposta em caso de desastre no Brasil ou no exterior” (BRASIL, 2014d, p. 5), que poderia atuar na cooperação direta com os Governos Municipais e/ou 28 Estaduais, apoiando em pessoal e material, conforme solicitação da Defesa Civil local e de acordo com a disponibilidade; e também, na coordenação das Ações e/ou Operações de Defesa Civil, por determinação presidencial, que seria em dimensões que comprometam a capacidade de coordenação e resposta dos governos estaduais e municipais (BRASIL, 2014d, p. 23-24). Desta maneira, diante da atual situação climatológica no Brasil e da frequente participação das FA neste cenário, elaborou-se o manual MD33-I-01, Instruções para Emprego das Forças Armadas em Apoio à Defesa Civil (BRASIL, 2015b), que trata sobre o emprego das FA em Apoio às Ações de Defesa Civil: Cooperar, mediante autorização, com os órgãos e entidades que possuem competências relacionadas com a Defesa Civil. Para isso, ficar em condições de apoiar ações preventivas, incluindo planejamentos, instrução e simulações, e de resposta a desastres, tudo com vistas a evitar ou mitigar os efeitos daquelas ocorrências; a preservar o bem-estar da população; e a restabelecer a normalidade social. (BRASIL, 2015b, p. 15/26). No entanto, pode-se perceber que não cabe à F Ter assumir o papel principal nas Ações de Defesa Civil, conforme o manual MD33-I-01, “Sem comprometimento de sua destinação constitucional, cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária geral, cooperar com a Defesa Civil, conforme o art. 16 da Lei Complementar nº 97, de 1999” (BRASIL, 2015b, p. 15/26). Além disso, de acordo com esta Lei, “Cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária geral, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma determinada pelo Presidente da República” (BRASIL, 1999). Ainda, o emprego das FA em Apoio a Órgãos Governamentais, como a cooperação com a Defesa Civil, ocorre de forma planejada e emergencial. No caso de um emprego emergencial com os governos municipais e/ou estaduais, o Plano de Emprego das Forças Armadas em casos de Desastres 2013/2014 (BRASIL, 2013) complementa: A Organização Militar mais próxima da área do desastre natural atenderá prontamente ao pedido de apoio formulado, com meios de pessoal e de material orgânicos solicitados pela Defesa Civil local, de acordo com suas disponibilidades e orientações previamente estabelecidas pelos seus Comandos (BRASIL, 2013, p. 4). 1.1.2 Formulação do problema 29 Desta maneira, no sentido suprir as necessidades logísticas de um Batalhão de Infantaria em Operações de Ajuda Humanitária e no Apoio à Defesa Civil, a Doutrina de Implantação do Subprojeto Força Humanitária (BRASIL, 2014a) menciona que: “Os equipamentos e materiais a serem utilizados no Subprojeto são os existentes, sendo desejável que sejam complementados com itens novos, com tecnologia avançada” (BRASIL, 2014a, p. 7/13, grifo nosso). Além do mais, a Nota de Coordenação Doutrinária Nr 01/2014, que estabelece a concepção doutrinária para o emprego do EB em Op Aj Hum, no território nacional e no exterior (BRASIL, 2014d), diz que: “A F Aj Hum será estruturada com base nas OM existentes na região do desastre, consideradas as suas peculiaridades e os meios dos quais são dotadas” (BRASIL, 2014d, p. 17). Com isso, verifica-se a possibilidade de se melhorar a logística de alguns batalhões do EB, em particular dos Batalhões de Infantaria, para mantê-los em permanente estado de prontidão operativa, por meio da aquisição de itens novos e modernos, mais adequados para cumprir missões de Ajuda Humanitária. Desta forma, no sentido de colaborar para o aperfeiçoamento doutrinário do tema, o presente trabalho propõe o seguinte problema: como o emprego dos adequados meios materiais podem contribuir para a conquista de um permanente estado de prontidão operativa dos Batalhões de Infantaria em Op Aj Hum e de Apoio à Defesa Civil, através de um QDM moderno? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Com a finalidade de cooperar com a doutrina para o emprego de tropas do EB em Op Aj Hum, tanto em território nacional como no exterior, este trabalho tem por objetivo geral analisar os meios materiais necessários para a participação de um Batalhão de Infantaria em Operações de Ajuda Humanitária (Op Aj Hum), propondo os meios adequados que contribuirão para a conquista de um permanente estado de 30 prontidão operativa de um Batalhão de Infantaria para atuar em ambiente interagências. 1.2.2 Objetivos Específicos Por conseguinte, para permitir alcançar o objetivo geral em análise, alguns objetivos específicos foram propostos, auxiliando no desenvolvimento lógico do raciocínio descritivo apresentado neste estudo: a. apresentar a atuação da Defesa Civil e da F Aj Hum atualmente existente no EB. b. apresentar a atuação dos órgãos privados e entidades da administração pública federal, estadual e municipal de atuação significativa na área de Defesa Civil. c. analisar como as OM da F Ter com maior probabilidade de emprego em eventos de defesa civil e Ajuda Humanitária se prepararam, no tocante aos meios e materiais empregados. d. comparar no âmbito da Logística Militar, a doutrina existente no EB com as doutrinas existente nos países com maior expressão no emprego de tropas em Op Aj Hum e de Apoio à DefesaCivil. e. apresentar a estrutura logística necessária para um Batalhão de Infantaria ser empregado em Op Aj Hum e em ações de Apoio à Defesa Civil, destacando eventuais oportunidades de melhoria que contribuam para uma maior efetividade logística. f. propor um QDM moderno e coerente para Op Aj Hum e ações de Apoio à Defesa Civil, restritos aos desastres naturais, por meio do estudo dos meios e materiais utilizados por um Batalhão de Infantaria. 1.3 QUESTÕES DE ESTUDO 31 No intuito de analisar os meios mais adequados utilizados pelo EB, e oportunidades de melhoria para o fortalecimento de um permanente estado de prontidão operativa de um Batalhão de Infantaria, em Op Aj Hum e na cooperação com a Defesa Civil, em ambiente interagências, de forma continuada e eficiente, as seguintes questões de estudo foram elaboradas: a) quais são as ações desenvolvidas pela Defesa Civil e F Aj Hum? b) quais são as ações desenvolvidas pelos órgãos privados e entidades da administração pública federal, estadual e municipal de atuação significativa na área de Defesa Civil? c) como as OM da F Ter com maior probabilidade de emprego em eventos de defesa civil e Ajuda Humanitária se prepararam, no tocante aos meios e materiais empregados? d) o EB possui uma moderna doutrina de Logística Militar, que permita uma interoperacionalidade efetiva com os órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil? e) quais são os procedimentos logísticos adotados pelo EB e como a doutrina de Logística Militar pode ser aperfeiçoada, de modo que contribua para uma maior efetividade logística da tropa empregada? f) quais são os meios materiais necessários para que um Batalhão de Infantaria cumpra missões de Ajuda Humanitária e de Apoio à Defesa Civil, restritos aos desastres naturais? 1.4 JUSTIFICATIVA O interesse deste militar pelo tema iniciou-se por ocasião da realização do Curso Básico de Emergências, na Espanha, onde o mesmo observou algumas oportunidades de melhoria na doutrina logística sobre a Força de Ajuda Humanitária no Brasil. Diante disso, este trabalho faz-se relevante, porque os eventos climatológicos no Brasil tornaram-se comuns e o emprego do EB em ações no Apoio à Defesa Civil tem sido cada vez mais frequente. 32 A grande quantidade de eventos climatológicos no Brasil é a justificativa inicial para os presentes estudos, conforme observado no Relatório Especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2016): De acordo com o IBGE, 37,1% dos municípios brasileiros foram atingidos por alagamentos entre 2008 e 2012, enquanto 895 municípios foram vítimas de desabamentos no mesmo período. Localmente, as regiões Sudeste e Sul respondem pela maior concentração de eventos de alagamentos, com 45,2% e 43,5%, respectivamente, destacando-se os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Santa Catarina. Já a região Nordeste lidera os eventos de deslizamentos e desabamentos, sendo responsável por 50,06% dos eventos, enquanto o Sudeste aparece em segundo lugar, com 45,32% dos incidentes. Nessas regiões, destacam-se os estados de Pernambuco, com 5.910 ocorrências, São Paulo, com 4.981 eventos, e Rio de Janeiro, com 4.969 incidentes (UFRJ, 2016, p. 48). E, no Relatório de Danos Materiais e Prejuízos Decorrentes de Desastres Naturais no Brasil 1994-2014, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2016), pode-se observar os gastos públicos referentes a estes eventos climatológicos: Considerando-se os eventos de Santa Catarina, em 2008; Pernambuco e Alagoas, em 2010; e Região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011, os prejuízos econômicos foram estimados na ordem de R$ 15,5 bilhões. De forma ainda mais preocupante, é preciso mencionar que tais resultados são parciais tendo em vista a limitação da disponibilidade de dados e a impossibilidade prática de avaliação de todos os eventos registrados em um país (UFSC, 2016, p. 17). Outra relevância do presente trabalho está no crescente emprego do EB em Operações desta natureza, como parte de sua missão subsidiária prevista na LC 97/99, e na importância dessas missões para a projeção da imagem do EB no Brasil e no mundo, além da preocupação de se manter preparado para essas demandas. Com isso, cresce de importância preparar a F Ter para atender esta necessidade, conforme a Desfesanet reforçou (2014): Na realidade, atualmente, é praticamente impensável se cogitar de uma intervenção da Defesa Civil em cenários de grandes catástrofes, sem o auxílio das Forças Armadas. Que, com suas aeronaves, veículos de carga, grande capacidade logística, e militares capacitados para o enfrentamento de condições adversas, vem se tornando a cada mais indispensáveis nestas missões de vocação humanitária. Motivo adicional para que as forças militares sejam sempre mantidas em boas condições operacionais. Pois, como visto, o seu aparelhamento não será utilizado apenas para a defesa da pátria. Mas também para o benefício da 33 sociedade, nas iniciativas em parceria com os organismos de Defesa Civil (DEFESANET, 2014, grifo nosso). Corroborada por Apte (2009), autor do livro Humanitarian Logistics: A new field of research and action, que cita o papel das Forças Armadas: As Forças Armadas (especialmente nos EUA) desempenham um papel importante na prestação de apoio durante as catástrofes. As Forças Armadas têm uma estrutura confiável e subjacente para o comando e controle. Essa estrutura é importante, tanto em caso de situação de guerra, como em desastres (APTE, 2009, p. 19, tradução nossa). E complementada na visão de Rasga Júnior (2012), que associa a alarmante quantidade de desastres naturais recentes no Brasil e seus prejuízos à necessidade do emprego militar: As regiões que mais tem solicitado o apoio do Exército por ocasião do acometimento de desastres naturais são: Norte (Estados do Amazonas e Pará), Nordeste (Estados de Pernambuco, Piauí, Sergipe, Alagoas e Maranhão), Sudeste (Rio de Janeiro) e Sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) (RASGA JÚNIOR, 2012, p. 51). Sobretudo, o projeto em estudo encontra-se no PEEx 2016-2019, dentro da ação estratégica de capacitar a Força para atuar em Ações de Ajuda Humanitária, e na atividade imposta de implantar a Sistemática de emprego de tropa em ações de ajuda humanitária, que através de meios adequados (BRASIL, 2015a, p. 15). Logo, a relevância do trabalho para o Processo de Transformação do Exército que é demonstrada no Plano supracitado, o insere na Capacidade Militar Terrestre 03 (Apoio aos Órgãos Governamentais), e na Capacidade Operativa 12 (Atribuições Subsidiárias), cujo objetivo é estabelecer a F Aj Hum, valor Unidade, nos Comandos Militares de Área (C Mil A) prioritários, colocando este tema na segunda prioridade a curto prazo (BRASIL, 2015a, p. 75-76). No que diz respeito ao emprego dos meios militares adequados, o presente estudo pretende-se mostrar como eles podem contribuir para o fortalecimento de um estado permanente de prontidão operacional, em uma OM, valor Batalhão, capacitando o EB e contribuindo para a interoperabilidade junto aos órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. Para a consagração do entendimento de “meios militares adequados” faz-se necessário esclarecer “efetividade logística”, que significa obter resultados satisfatórios face às demandas da F Ter, e conforme o Manual de Campanha 34 Logística - EB20-MC-10.204 (BRASIL, 2014b), “[...] é a capacidade de produzir e obter resultados desejados de forma continuada por meio de processos eficientes, segundo critérios ou normas estabelecidas (BRASIL, 2014b, p. 1-3, grifo nosso). Ademais, aperfeiçoar a efetividade logística da tropa militar terrestre empregada é importante, porque seu aperfeiçoamento está diretamente ligado ao princípio da economia de meios, conforme observado no manualC100-10, Logística Militar Terrestre (BRASIL, 2003): É a busca do máximo rendimento, por intermédio do emprego eficiente, racional e judicioso dos meios disponíveis. Não implica economia excessiva, mas distribuição adequada dos meios disponíveis, elegendo-se como prioritário o apoio na área da ação principal (BRASIL, 2003, p. 2-2). Então, percebe-se que a efetividade logística se torna importante para o EB, porque sua aplicação contribui para capacitar adequadamente um Batalhão de Infantaria, norteando o emprego adequado de meios militares para fortalecer uma logística autossuficiente da F Ter na interoperacionalidade com os órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, entendimento complementado pelo manual EB20-MC-10.204 (2014b): A principal tarefa logística da F Ter durante a ocorrência de uma calamidade é manter e prover as capacidades necessárias para a pronta resposta às demandas de apoio dos órgãos governamentais. A F Op empregada deve ser logisticamente autossuficiente (comida, água, combustível e outros), de modo a operar - desde as fases iniciais - desonerando a infraestrutura já debilitada na área de operações. (BRASIL, 2014b, p. 8-10). Assim, uma logística efetiva e materiais adequados seriam mais uma justificativa para os presentes estudos, até porque para Neiva Filho (2001): [...]a logística poderá tornar-se uma séria limitação às operações se não tiver capacidade de atender às necessidades dos sistemas operacionais. Por outro lado, será um multiplicador do poder de combate e da mobilidade dos exércitos, se gerida de forma eficaz. O gerenciamento da logística deverá ser encarado como um dos grandes fatores de eficiência da Força Terrestre tanto em tempo de paz, quanto na guerra (NEIVA FILHO, 2001, p. 6). Contudo, apesar da importância do assunto, constata-se inicialmente que a F Ter carece de uma doutrina específica para o emprego de uma OM, valor Batalhão, em Op Aj Hum e em cooperação a Defesa Civil. Aliás, as únicas publicações relativas ao tema proposto seriam os manuais de campanha EB20-MC-10.201 (BRASIL, 2013), EB20-MF-10.103 (BRASIL, 2014e), EB20-MC-10.204 (BRASIL, 35 2014b), a instrução MD33-I-01 (BRASIL, 2015b) e a Nota de Coordenação Doutrinária Nr 01/2014 - C Dout Ex/EME, de 10 de abril de 2014 (BRASIL, 2014d), os quais, conforme oportunamente analisados, são restritos e limitados no tocante ao tema. Assim, a carência de uma doutrina precisa sobre o tema torna-se prejudicial para a operacionalidade de uma OM do EB, a qual pode ser obrigada a cumprir suas missões sem a adequada capacitação que, se aplicada, poderia propor ao EB os meios mais adequados em Op Aj Hum em cooperação com a Defesa Civil, até mesmo, fornecer meios para a revisão do Quadro de Dotação de Material (QDM) e outros procedimentos logísticos referente aos materiais e meios operacionais necessários ao cumprimento deste tipo de missão, estabelecidas na Base Doutrinária do EB. Isso contribuiria, não apenas para uma efetividade logística no apoio prestado, mas também para a complementariedade (a fim de poupar recursos e esforços e maximizar os resultados), para a adaptabilidade (às mudanças no ambiente operacional) e para a simplicidade (no tocante ao emprego da tropa). O presente estudo justifica-se por atender os anseios do EB, aprofundando os estudos sobre missões subsidiárias da F Ter, abordando um assunto atual e relativamente pouco trabalhado, sendo um dos novos desafios impostos pela Era do Conhecimento. Desta forma, o EB necessita de uma doutrina militar que lhe permita atuar com efetividade, no complexo “espaço humanitário” do Ambiente Interagências: “Atuar nesse ambiente operacional exige efetivos militares com mentalidade, linguagem e estruturas adequadas ao relacionamento com essa diversidade de agências” (BRASIL, 2014c, p. 4-6). Finalmente, com os estudos desenvolvidos espera-se prover o EB com os meios mais adequados em Op Aj Hum e em Apoio a Defesa Civil, restritos aos desastres naturais, propondo alterações no QDM de um Batalhão de Infantaria, atualizando-o de forma que contribua para o fortalecimento da efetividade logística e possibilite um permanente estado de prontidão operativa, possibilitando uma adequada implantação da F Aj Hum. Tudo com o objetivo de obter-se uma pronta resposta do EB às demandas dos órgãos governamentais em ambientes interagências. 36 2 METODOLOGIA A metodologia sugerida busca detalhar a trajetória a ser estudada para prover o Batalhão de Infantaria do EB com os materiais e meios mais adequados em Op Cooperação e Coordenação com Agências, particularmente em Ações Subsidiárias de Apoio à Defesa Civil e Op Aj Hum, buscando propor um QDM moderno e coerente restrito ao emprego em desastres naturais, sempre pautado no menor custo possível e alinhado com a doutrina do EB. Em cima disso, obtendo e analisando dados e informações para a definição das dimensões dos estudos e da amostra. Desta feita, com o intuito de cumprir os objetivos propostos para este capítulo, sua organização compreende: Objeto Formal de Estudo, Amostra, e Delineamento da Pesquisa. Acerca do Objeto Formal de Estudo, sua organização compreende a definição conceitual das variáveis, a definição operacional das variáveis e, por fim, o alcance e os limites das mesmas. O Delineamento da Pesquisa, por sua vez, está organizado em Procedimentos para a Revisão de Literatura, Procedimentos Metodológicos, Instrumentos e Análise dos dados. 2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO O presente trabalho pretenderá colaborar para o aperfeiçoamento doutrinário do tema, verificando como o emprego dos meios militares adequados pode contribuir para um permanente estado de prontidão operativa dos Batalhões de Infantaria em Op Aj Hum e de Apoio à Defesa Civil, em ambiente interagências e, diante deste estudo, propor um QDM moderno e coerente para esse tipo de missão. Para atingir os objetivos pretendidos, foram realizados diversos tipos de pesquisas, conforme serão delineadas adiante. Assim, para que os objetivos propostos fossem atingidos e o problema da pesquisa fosse respondido, as Variáveis Dependente e Independente foram 37 definidas e delimitadas, tendo sido estabelecidas suas dimensões e seus indicadores. Diante da análise das variáveis do estudo, a variável independente são os meios militares adequados, pois se manipulada, causa efeito na variável dependente permanente estado de prontidão operativa. Ainda, foram observadas como variáveis intervenientes, que necessitam ser controladas: ferramentas e metodologias utilizadas, capacitação profissional, diretrizes do comando enquadrante e gestão financeira. 2.1.1 Definição conceitual das variáveis Sabendo que “a variável independente é aquela que, manipulada, causa ou contribui para a ocorrência de algum efeito na variável dependente” (RODRIGUES, 2006, p. 69), desta forma, a Variável Independente (VI) são os “meios militares adequados”. Para tanto, o Glossário das Forças Armadas define meios como “Força e elementos materiais que integram o poder de combate” (BRASIL, 2007, p.156/274). “A Variável Dependente (VD), por sua vez, sendo “aquela que se modifica (total ou parcialmente) em função da variável independente” (NEVES; DOMINGUES, 2007, p. 51), é a “conquista do permanente estado de prontidão operativa”, que “expressa uma capacidade de pronto atendimento da Força para fazer face às situações que podem ocorrer em um ambiente de combate” (BRASIL, 2015c, p. 3-1) Desta forma, sobre a busca dos materiais e meios mais adequados em Op Aj Hum e fruto dos conhecimentos aprofundados na Revisão de Literatura, observa-se a capacidade da Variável Independente influenciar o permanente estado de prontidão operativa, estruturado em torno de princípios e fatores igualmente influenciados pelos meios e materiais disponíveis. 2.1.2 Definiçãooperacional das variáveis Sobre a Variável Independente (VI) meios militares adequados e fruto dos estudos desenvolvidos por este pesquisador, pretende-se abordar suas dimensões (operacionalidade e recursos disponíveis), indicadores (eventos climatológicos na 38 área de atuação da OM, capacidade técnico-profissional dos recursos humanos, capacidade e disponibilidade dos meios e materiais, tempo de planejamento e preparo para a missão, realização de checklist de meios e materiais e gastos com meios e materiais) e medidores (Pesquisa Bibliográfica, Documental, Questionário e Observação Direta e Entrevista). Assim, as dimensões e indicadores da Variável Independente podem ser representados conforme Quadro 1 a seguir: Quadro 1 - Definição operacional da variável independente Definição operacional da variável independente Variável Dimensões Indicadores Forma de medição Meios e materiais adequados Operacionalidade Capacidade técnico-profissional dos recursos humanos Parte 1 e pergunta 3 do questionário Eventos climatológicos na área da OM Perguntas 1 e 2 do questionário Capacidade e disponibilidade dos materiais, viaturas e embarcações Perguntas 4 a 10 do questionário e entrevista Realização de Checklist de material Tempo de planejamento e preparo para a missão Pesquisa bibliográfica e documental, perguntas 1 a 3, 9 e 10 do questionário e Observação Direta Recursos Disponíveis Gastos com meios e materiais Fonte: o autor 39 Quanto à Variável Dependente (VD) conquista do permanente estado de prontidão operativa, pretende-se abordar suas dimensões (preparo e emprego), indicadores (Apronto Operacional, Diretrizes, Ordens de Instrução, Cadernos de Trabalho, Análise Pós-Ação, Ordens de Serviço e Briefings) e medidores (Pesquisa bibliográfica e documental, Questionário e Observação Direta e Entrevista). Desta forma, as dimensões e indicadores da Variável Dependente em análise podem ser representados conforme o Quadro 2 a seguir: Quadro 2 - Definição operacional da variável dependente Definição operacional da variável dependente Variável Dimensões Indicadores Forma de medição Conquista do Permanente Estado de Prontidão Operativa Preparo Apronto Operacional Observação Direta Diretrizes, Ordens de Instrução e Serviço, Cadernos de Trabalho, Análise Pós-Ação e Briefings Pesquisa bibliográfica e documental Emprego Meios militares empregados Observação Direta, perguntas 4, 5, 8 e 9 do questionário, pesquisa bibliográfica e documental e Entrevista QDM Tropa Empenhada Pesquisa bibliográfica e documental Capacidades de outras agências e outros Exércitos Fonte: o autor 40 2.1.3 As variáveis intervenientes As variáveis intervenientes “ferramentas e metodologias utilizadas, capacitação profissional, diretrizes do comando enquadrante e gestão financeira” serão controladas, para que não contamine o resultado pretendido “conquista do permanente estado de prontidão operativa”. Todavia, não há um aprofundamento na gestão financeira em relação ao processo de aquisição do material necessário, pois esta pesquisa está focada nos resultados alcançados através dos objetivos propostos. 2.1.4 Alcances e limites A análise da Variável Independente limitou-se, portanto, às dimensões compreendidas pela Operacionalidade e Recursos Disponíveis, baseadas, por sua vez, nos indicadores propostos no Quadro 1. Sobre a estrutura da Variável Dependente, os estudos estiveram delimitados pelas seguintes dimensões: preparo e emprego nas Operações de Ajuda Humanitária e Apoio à Defesa Civil, balizadas pelos indicadores propostos no Quadro 2. Ademais, com o objetivo de confrontar o estudo teórico do assunto com sua aplicação prática no âmbito das Op Aj Hum, foram desenvolvidos questionários euma entrevista que, respondidos por militares da Força Terrestre com experiência técnico-profissional no planejamento e execução de Operações Militares e na Logística Militar, que contribuirão para um melhor entendimento do problema em análise. Por vez, a Logística neste trabalho está limitada apenas ao estudo dos meios e materiais para aquisição de um QDM ideal para um Batalhão de Infantaria no emprego em Operações de Ajuda Humanitária e Apoio à Defesa Civil. Bem como, às Operações de Ajuda Humanitária estão focadas nos eventos e desastres climatológicos, não estendendo ao apoio aos refugiados. Ressalta-se, ainda, que a pesquisa bibliográfica desenvolvida buscou o aperfeiçoamento da doutrina existente no EB. Entretanto, a falta de uniformidade de 41 meios e materiais utilizados pelo EB nesse tipo de operação é um aspecto limitador que dificulta a experimentação de campo sobre o assunto. Dessa forma, o objeto formal de estudo prover o EB com os materiais e meios mais adequados em Op Aj Hum e cooperação com a Defesa Civil, buscando propor um QDM moderno e coerente para esse tipo de missão, está limitado às Classes de Suprimento do Sistema de Classificação Militar de acordo o artigo 8º das Normas Administrativas Relativas ao Suprimento - NARSUP (BRASIL, 2002), considerando sua importância para Era do Conhecimento: LXXVIII - Sistema de Classificação Militar dos Suprimentos – É o que classifica os itens de suprimento nas 10 (dez) classes que se seguem: a) Cl I – Material de Subsistência; b) Cl II – Material de Intendência; c) Cl III – Combustíveis e lubrificantes; d) Cl IV – Material de Construção; e) Cl V – Armamento e Munição; f) Cl VI – Material de Engenharia e Cartografia; g) Cl VII – Material de Comunicações, Eletrônica e de Informática; h) Cl VIII – Material de Saúde; i) Cl IX – Material de Motomecanização e Aviação; e j) Cl X – Material não incluído nas outras classes (BRASIL, 2002, p.16) 2.2 AMOSTRA Os procedimentos escolhidos para complementar a revisão literária no entendimento do problema foi a realização uma observação direta e a aplicação de questionários e entrevista. A Observação Direta incidiu sobre uma fração da F Aj Hum da 14ª Bda Inf Mtz, que estará dotada com materiais e meios mais adequados, na sua concepção, conforme suas capacidades e limitações, por ocasião do apronto operacional (Aprnt Op) do exercício da F Aj Hum, previsto para o mês de novembro de 2017, haja vista que a implantação da F Aj Hum no Comando Militar do Sul ocorrerá nesta Brigada. Os questionários foram aplicados numa amostra de 105 militares do EB que estão ou já estiveram envolvidos direta ou indiretamente em Op Aj Hum, tanto no cenário nacional ou internacional, e também, os militares que participaram de 42 missões de grande vulto no Apoio à Defesa Civil. Das 105 respostas, foram qualificadas 102 que, por se tratarem de opiniões específicas e de pessoal capacitado e experiente, foi possível generalizar os resultados obtidos. A entrevista realizada na Escola de aperfeiçoamento de Oficiais do EB, no Rio de Janeiro, a qual teve como escopo colher maiores informações acerca do emprego das OM do EB, principalmente dos Datalhões de Infantaria, nas Op Aj Hum restritas aos desasttres ambientais. A população da pesquisa respondente ao questionário está inserida no universo de militares do Exército Brasileiro que participam ou já tenham participado de Operações Militares de Apoio à Defesa Civil, bem como de militares que realizam ou já tenham realizado cursos no exterior nesta área, haja vista a experiência adquirida e a interação com elementos de outros Órgãos, Forças e/ou países. Para Minayo (1992 apud MINAYO, 2004, p. 43), a amostra ideal na pesquisa qualitativa é a que reflete o conjunto em suas múltiplas dimensões. Assim, corroborando com o entendimento do autor, esta amostra será constituída por oficiais, subtenentes e sargentos, de diferentes OM e de todas as Armas/Quadros e Serviços,
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