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Pesquisa Interdisciplinar em Estudos Ambientais

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Pesquisa interdisciplinar em estudos
ambientais
Diogenes S Alves
(Book) Ambiente e Sociedade Na Amazônia: Uma Abordagem Interdisciplinar (Ima Célia Guimarães
Vieira; Peter Mann de Toledo; Roberto Araújo de Oliveira Santos, edts ) p. 53-77.
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Pesquisa interdisciplinar em 
estudos ambientais
Diógenes Salas Alves
“Comme je ne trouve jamais rien que par une longue trainée 
de diverses considérations, il faut que je me donne tout à 
une matière lorsque j’en veux examiner quelque partie.” 
“Je ne mets pas [le titre] Traité de la Méthode, mais Discours de la 
méthode, ce qui est le même que [...] Avis touchant la méthode.”
“Je me résolus d’aller si lentement, et d’user de tant de circonspection 
pour [...] chercher la vraie méthode pour parvenir à la connaissance 
de toutes les choses dont mon esprit serait capable.”
René Descartes
Resumo: O campo ambiental inclui conhecimentos de um grande número 
de disciplinas, que podem apresentar graus de articulação diferentes para 
responder aos vários problemas ambientais. Neste trabalho, os conceitos 
de multi-, inter- e transdisciplinaridade são revisitados, buscando-se ex-
plorar os diferentes graus de articulação interdisciplinar encontrados nos 
estudos ambientais, que podem variar da construção de instrumentos de 
observação até estudos sobre o desenvolvimento da ideia de crise ambiental, 
e perpassar instituições como as Convenções para a Proteção da Camada 
de Ozônio, das Mudanças Climáticas e da Diversidade Biológica. As pes-
quisas que dão mais ênfase às questões da crise ambiental são assimiladas 
a tipos mais elaborados de transdisciplinaridade, que podem pressupor 
a articulação das ciências naturais e sociais e considerar modalidades 
de produção de conhecimentos no seio dos processos de mobilização 
política e de tomada de decisão que respondem à ideia de crise ambiental.
5 “Como nunca encontro nada se não através de uma longa série de considerações variadas, preciso me 
dedicar por inteiro a um assunto sempre que quero tratar de alguma de suas partes.”
“Não coloco [como título] Tratado sobre o método, mas Discurso sobre o método, que é o mesmo que 
[...] Nota a respeito do método.”
“Decidi-me por ir tão lentamente e ser tão circunspecto para [...] encontrar o verdadeiro método para 
chegar ao conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz.”
Reunindo conhecimentos fragmentados 
em múltiplas disciplinas
A maioria dos estudos no campo ambiental pressupõe a reunião de 
conhecimentos de várias disciplinas. Combinar o conhecimento fragmen-
tado em disciplinas não é preocupação exclusiva de nosso campo, porém; 
ela ocorre sempre que se reconhece que um objeto ou problema em estudo 
é multifacetado e que é preciso ultrapassar os limites da especialização 
disciplinar, explorar novos terrenos técnicos, metodológicos, teóricos e por 
vezes ilosóicos ou políticos. Frequentemente, tais problemas e objetos se 
situam em terrenos inexplorados, sem mapas, em que tentam se posicionar 
atores dos campos das ciências naturais, das ciências sociais, das técnicas 
e das agências de inanciamento. 
A disposição para colaborar interdisciplinarmente, porém, não é o 
suiciente, pois é necessária uma capacidade efetiva de cooperação, da 
qual se espera obter produtos, que serão sujeitos a critérios de avaliação 
interdisciplinar em programas cientíicos, de educação, de saúde etc. Além 
de responder à dinâmica intrínseca dos campos técnico e cientíico, a in-
terdisciplinaridade também pode se deparar com problemas e objetos que 
adquirem sentidos no próprio mundo social, colocando questões sobre as 
relações entre a ciência e a técnica, de um lado, e a construção institucional 
e a ação social, de outro.
A interdisciplinaridade – proposta e exercício de superar a fragmen-
tação disciplinar decorrente tanto da especialização das diferentes áreas do 
conhecimento quanto da incomensurabilidade entre áreas com histórias e 
arcabouços teórico-conceituais muito distintos – tem originado inúmeros 
esforços de relexão nos planos político-cientíico, metodológico e teórico 
dentro e fora do campo ambiental, conforme Apostel et al. (1972) apud 
Chettiparamb (2007), De Alvarenga et al. (2011), Goldenberg et al. (2003), 
Chettiparamb (2007), Moraes (2008), Hall et al. (2008), Pohl (2008), 
Stokols et al. (2008), Khagram et al. (2010), Klein (2010) e Philippi Jr. & 
Silva Neto (2011). Há, entretanto, algo peculiar a parcelas críticas da pro-
blemática ambiental: a ideia – hegemônica, porém, multifacetada – da crise 
ambiental, que tem colocado alguns desaios interessantes para a interdis-
ciplinaridade. Se, por um lado, essa ideia oferece uma enorme motivação 
para o pesquisador ultrapassar e mesmo transgredir limites disciplinares, 
por outro, temos consciência de que a crise pode impactar os ecossistemas 
numa escala planetária, e não se trata apenas de uma crise para a ecologia: 
as mudanças ambientais podem representar um risco para a ordem social 
numa escala global.
Essa peculiaridade da problemática ambiental leva frações diferentes 
do campo técnico-cientíico a assumir posições distintas e a conceber o 
problema da articulação interdisciplinar de perspectivas diferentes. Isso 
pode incluir, por exemplo, a avaliação das mudanças ambientais e suas 
incertezas, de impactos, vulnerabilidades e alternativas de adaptação – 
como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 
2007a; 2007b) –, a procura de novas políticas e técnicas para redução de 
impactos ou mitigação – como a Secretaria do Ozônio do Programa das 
Nações Unidas Para o Meio Ambiente (Pnuma) (IPCC, 2007c; Dias et al., 
2009) – ou mesmo a busca de problemas em que a interdisciplinaridade 
seja protagonista da inclusão de questões ecológicas ou ambientais na 
agenda política – como em Hodgson et al. (2007), Pohn (2008), Reyers et 
al. (2010) e Jahn et al. (2012). 
Ao mesmo tempo, essas posições se deparam com mobilizações em 
várias esferas, que incluem movimentos ambientalistas, movimentos sociais, 
organizações econômicas e políticas, e podem se reletir em instituições 
como as Convenções da Diversidade Biológica e das Mudanças Climáticas, 
conforme Da Cunha (1999), Da Cunha e Almeida (2001), Saloranta (2001), 
IPCC (s.d.; 1990; 1995; 1996; 2000; 2001; 2007a; 2007b; 2007c), Santos e 
Alves (2008) e Alves (2012a). 
Um grande desaio que enfrentam os atores nessas posições é a di-
iculdade de conceber perspectivas teórico-metodológicas amplas e con-
sensuais o suiciente para chegar a uma articulação interdisciplinar efetiva. 
Em particular, quando se procura articular as ciências naturais e sociais, o 
desaio pode se tornar ainda maior devido aos impasses que surgem quando 
se suspeitam dimensões sociais, econômicas, ideológicas ou políticas no 
problema da crise (ver, por exemplo, Harvey, 1974, e Latour, 2004). 
Outra grande diiculdade para conciliar posições cientíicas e polí-
ticas no campo ambiental decorre das incertezas que envolvem a própria 
extensão da crise. De um lado, os cientistas reconhecem que não têm 
conhecimento completo dos problemas – seja devido às descontinuidades 
da fragmentação disciplinar, à natureza caótica inerente a alguns proces-
sos, ou às precariedades ou incompletudes de observações e modelos. De 
outro, as posições no campo político reletem tanto os progressos e as pe-
culiaridades da mobilização ambiental quanto as dúvidas sobre o preço a 
pagar por efetuar, propor ou ignorar mudanças que podem afetara ordem 
social e econômica mais profundamente, como indicam Beck (1992), Da 
Cunha (1999), Funtowicz e Ravetz (1993), Castells (1999), Giddens (2001), 
Da Cunha e Almeida (2001) e Carvalho e Brussi (2004).
Este capítulo trata da pesquisa interdisciplinar nos estudos ambien-
tais, recapitulando algumas ideias importantes que são comuns a vários 
campos de pesquisa e mantendo em perspectiva a diversidade de posições 
que assumimos face à crise ambiental. O problema geral de articulação 
interdisciplinar é apresentado e, em seguida, os tipos de articulação mul-
ti-, inter- e transdisciplinar, que aparecem frequentemente na literatura, 
são ressistematizados e ligeiramente ampliados, procurando-se exemplos 
para ilustrar diferentes experiências de articulação no campo ambiental. 
As relações entre o conhecimento cientíico e técnico e os problemas das 
mobilizações e decisões políticas são consideradas no contexto na articu-
lação interdisciplinar, considerando-se a produção do conhecimento e as 
ilosoias que inspiram a questão ambiental e o trabalho cientíico dessa 
questão.
O problema da articulação 
interdisciplinar e seus tipos
Conhecimento, fragmentação e articulação interdisciplinar
A natureza da articulação entre disciplinas pode ser concebida de 
formas muito diferentes e depender, em última instância, do que se entende 
por disciplina, por ciência, técnica e método cientíico, por epistemologia, 
pelos vários sentidos da própria palavra conhecimento, que faz alusão ao 
mesmo tempo a saber e a cognição. De todo modo, seja qual for a perspectiva 
ilosóica adotada, a necessidade da articulação interdisciplinar é parte da 
realidade do trabalho de nosso campo e de vários outros toda vez que os 
cientistas se confrontam com a fragmentação disciplinar na deinição ou 
resolução de problemas que transcendem os limites de uma especialidade. 
Daí surge um problema metodológico num sentido bem amplo: como 
conceber e tratar da interdisciplinaridade?
Como sugerem as citações em epígrafe, o problema não é tão recen-
te. Não se trata, obviamente, de atribuir a responsabilidade das barreiras 
interdisciplinares de hoje a Descartes e seus quatro preceitos – duvidar, 
fragmentar (dividir), reordenar e recompor, e revisar. Entretanto, há as-
pectos da teoria de Descartes sobre o conhecimento que podem ilustrar 
a discussão sobre o desenvolvimento cientíico e, a partir daí, tratar da 
articulação interdisciplinar.
Para nossos propósitos, o elemento mais interessante do programa 
cartesiano diz respeito à sua concepção do processo de construção do co-
nhecimento. Seus quatro preceitos lhe serviram para fundar sua Geometria 
(Descartes, 1886), que nos seduz até hoje pela amplitude de concepção analítica 
que superou o trabalho restrito a proporções – como era o caso, por exemplo, 
de De Cusa (1990), Kepler (1609) e Galilei (1914) – e pela apresentação de 
alguns casos de “problemas que podiam ser construídos empregando apenas 
círculos, retas” e “curvas”. Ele mostrou efetivamente o quanto era possível para 
a época escrever coisas numa “língua matemática [...] de [iguras geométricas]” 
(Galilei, 1973) e intuiu formas de representação que terminariam fundando o 
cálculo ininitesimal. Mas, para além da conjugação de geometria com álgebra, 
os preceitos deveriam poder ser usados para o conhecimento em qualquer 
outro domínio. Podemos notar que a ideia de “suivre le vrai ordre, et [...] dé-
nombrer exactement toutes les circonstances de ce qu’on cherche” transcende 
a ilosoia da matemática de sua época, e Descartes declara que espera poder 
aplicá-los “aussi utilement aux diicultés des autres sciences, que j’avais fait à 
celles de l’algèbre” (Descartes, 1997). Podemos também sugerir que a concep-
ção analítico-matemática conjugada ao segundo e ao terceiro preceitos pode 
haver oferecido elementos fundamentais para arcabouços conceituais como 
os dos balanços de despesas do Tableau Économique proposto por Quesnay 
no século XVIII (Denis, 1990) e, mais tarde, da abordagem sistêmica como 
conceituada por von Bertalanfy (1950).
Há alguns elementos dessa época sobre os quais pode ser útil reletir. 
Descartes compartilha com contemporâneos importantes como Kepler 
(1609) e Galileu (Galilei, 1973) a dupla aspiração de tirar as máximas con-
sequências da observação – sempre pontual, particular – e incluir cada 
descoberta num quadro mais geral, alguma mathesis universalis, que não se 
declarava substituta da teologia, mas abarcava, qualquer que fosse a razão, 
dimensões que poderíamos chamar de cósmicas ou ontológicas, conforme 
apontam Russell (1969) e Buzon (1997). Sua teoria sobre o conhecimento 
seria tanto mais respeitada e melhor sucedida quanto mais seu método 
permitisse controlar as condições de observação fragmentando (dividindo) 
e isolando objetos de estudo particular. Porém, a amplitude da validade de 
qualquer teorização ou generalização dependeria tanto das necessidades e 
das escolhas iniciais de fragmentação quanto das explanações e inferências 
6 “ seguir a verdadeira ordem e [...] enumerar exatamente as circunstâncias do que se busca”.
7 “de forma tão útil às diiculdades de outras ciências como eu havia feito no caso algebra”.
feitas a partir dos experimentos sobre objetos particulares: de uma forma 
geral, as forças por trás desses movimentos não parecem favorecer muito 
a articulação entre domínios do conhecimento desde essa época. 
O contexto histórico costuma ser um elemento importante nas nar-
rativas sobre teorias e ilosoias como a cartesiana. Descartes é valorizado, 
em geral, contra o pano de fundo do apagar de uma idade de trevas e das 
reações à teoria heliocêntrica, porém, também é possível vê-lo no quadro do 
movimento de preeminência burguesa sobre as estruturas feudais (Sartre, 
1987). Isso pode ser interessante para lembrar tanto das tensões que pio-
neiros como Descartes viveram quanto dos progressos da especialização 
técnica e industrialização que corroboraram. 
Para terminar, notemos que o foco da proposta – “chercher la vraie 
méthode pour [...] la connaissance” – concebe método como uma série de 
passos e não como uma teoria ou um arcabouço teórico-conceitual sobre a 
própria natureza do conhecimento. Isso dito, devemos sempre esperar que 
a fronteira entre método e teoria possa ser tênue. A proposta que se iniciou 
com a dúvida sistemática e com “je pense, donc je suis” enfrenta, às vezes, 
grande resistência para reunir cientistas de campos muito diferentes, a co-
meçar pela separação do “eu” pensante do resto da natureza. Na realidade 
da articulação interdisciplinar, o programa cartesiano pode servir como 
exemplo de a visões reducionistas e mecanicistas, que podem enveredar 
pela “teoria de que os animais eram autômatos” e têm “diiculdades com 
o livre arbítrio” (Russell, 1969). Pode ser útil postular que, na era em que 
a problemática ambiental se autonomiza, esse programa pode não estar 
muito interessado nos problemas que se confrontam com os impasses de 
que “se a História me escapa, isso não decorre do fato de que não a faço: 
decorre do fato de que o outro também a faz” (Sartre, 1987) ou da natureza 
do “impacto prático das ciências” quando se considera o papel do agente 
humano conhecedor (Giddens, 2001).
A abordagem cartesiana, centrada no método para conhecer, pode 
ser contrastada com outra concepção clássica, a de Auguste Comte sobre 
a dependência entre o conhecimento dos diferentes domínios cientíicos:
[para determinar] a dependência real entre os diversos estudos cientíicos [...] 
é possível classiicá-los em um pequeno número de categorias [...] colocadas 
de tal forma que o estudo racional de cada categoria se fundamente sobre o 
conhecimento das leis [...] da categoria precedente e se torne o fundamento 
do estudo da seguinte [...] de onde decorre [a] dependência sucessiva [dos 
fenômenos observáveis] (Comte, 2013).
Nessa proposta, a construção do conhecimento cientíico – notemos, 
referente aos fenômenos observáveis – é concebidacomo um processo 
articulado e interdependente, que ao mesmo tempo pressupõe que as cate-
gorias descobertas ou formuladas em uma disciplina lhe sejam especíicas. 
Nessa concepção, formas de reducionismo inclinadas para a mecânica ou 
a álgebra não despertam muito entusiasmo e chegam mesmo a ser critica-
das, como é o caso das concepções revolucionariamente reducionistas de 
Laplace (1825), consideradas por Comte (2013) um “simples jogo ilosóico”.
No contexto histórico-cientíico, a concepção comtiana procura 
responder à amplitude do conhecimento alcançada nos domínios que ele 
chama de física inorgânica – que inclui a física celeste e a terrestre, esta 
última formada pela mecânica e pela química, e reúne “os principais ramos 
dentro da ciência geral que estuda os corpos brutos” – e da isiologia e da 
física social – que mais tarde admitirá ser a sociologia –, que constituem “as 
duas grandes seções dentro da física orgânica”. Nesse contexto, a ideia da 
dependência entre conhecimentos de várias disciplinas pode ser considerada 
mais empírica, em comparação com abstrações analítico-matemáticas mais 
platonianas e ideais, como em Galileu, Descartes e em vários dos grandes 
físicos e matemáticos dos séculos XVII e XVIII. Ao mesmo tempo, ela po-
deria servir de tipo ideal de articulação interdisciplinar para concepções de 
abordagem holística que ocorrem em várias instâncias no campo ambiental.
Um aspecto importante da proposta de Comte é sua relação com a 
teoria dos três estados: no estado positivo ou cientíico, as categorias de que 
ele trata são parte da racionalidade cientíica em que se poderia fundar uma 
nova ordem social que superaria os estados teológico e metafísico, funda-
mentados no direito divino e na soberania do povo. O mérito mais imediato 
dessa ilosoia política para a ciência provavelmente está em que ela pode 
ser fácil e didaticamente confrontada com outras ilosoias da ciência que 
podem ser úteis para apreender e expor as dimensões ecológico-políticas 
das problemáticas ambientais. Por um lado, o programa positivo se afasta 
de algumas questões empíricas clássicas que não podem ser esquecidas no 
campo ambiental, relativas à disputa pela terra e por recursos escassos, ou 
ao entrelaçamento entre ordem social e relações sociais, como aparecem, 
por exemplo, em Machiavelli, Hobbes ou Montesquieu. 
Esse afastamento pode levar em particular a eludir a questão dos 
conlitos ambientais (Alonso & Costa, 2002), central para as articulações 
interdisciplinares mais transversais. Por outro lado, essa ilosoia da ciência 
pode ser contrastada com visões empíricas como a de homas Malthus, 
que considera que salários acima das necessidades naturais básicas ou 
programas de transferência de renda terminam por subtrair riquezas dos 
“membros mais industriosos e dignos da sociedade”, conforme apontado 
por Russell (1969) e Harvey (1974); de Friedrich Nietzsche, que se interessa 
pela realidade das “forças irracionais que mobilizam os homens” (Scott, 
2006); de Pareto (1988), cuja ciência “exclusivamente cientíica” e livre de 
preceitos morais lhe permitiria demonstrar a inexorabilidade da concen-
tração das riquezas nas mãos de elites que se digladiam e se sucedem. A 
discussão metódica e sistemática desses programas e questões em nosso 
campo pode ser justiicada porque a própria ilosoia da sustentabilidade 
tem se mostrado inalienável das questões da equidade.
Nas condições de hoje, a concepção comtiana de interdependência 
entre disciplinas mostra limitações sérias, seja isso devido ao processo 
contínuo de especialização, seja porque o progresso técnico-cientíico 
não pode contar com nenhum tipo de programa uniicador que articule 
a priori os vários domínios e campos técnicos e cientíicos. Ao observar o 
trabalho cientíico, é impossível não se deparar com a grande fragmentação 
disciplinar associada a histórias de conceituação e de desenvolvimento que 
podem ser tanto mais independentes quanto mais separadas forem suas 
disciplinas. Observemos que, mesmo nos limites de uma única disciplina, o 
conhecimento nem sempre é monolítico, e qualquer campo disciplinar pode 
admitir teorias e interpretações não hegemônicas. Frequentemente é útil 
contar com o recurso de “acentuação unilateral de um ou vários pontos de 
vista” (Weber, 2005), seja com o propósito de abstrair uma classe de objetos 
pela valorização de apenas algumas de suas características, seja para delinear 
uma hipótese que não pode ser validada ou refutada num dado momento.
As duas concepções acima sobre o problema da articulação do co-
nhecimento científico – uma mais focada no método e outra na natureza 
interdependente do conhecimento – representam duas visões “clássicas” 
que influenciaram e influenciam em muito nossas aspirações de articu-
lação interdisciplinar. Elas compartilham o mérito de haver fornecido 
referenciais para o trabalho científico como um todo e também o ideal 
de formas de construção do conhecimento científico que a própria 
fragmentação disciplinar termina por subverter. De fato, a fragmenta-
ção disciplinar que nos aflige não é resultante de nenhum programa de 
especialização originado de uma totalidade compartilhada por várias 
ciências, mas, antes, decorre de nosso próprio sucesso em providenciar 
respostas – frequentemente de maneira ad hoc e “desarticulada” – a 
inúmeros problemas que colocamos e que nos são colocados, sem partir 
de nenhuma completude do conhecimento. Não se trata, obviamente, 
de demonstrar que a unidade do conhecimento científico ou a univer-
salidade de certos métodos analíticos são impossíveis ou inexequíveis. 
Nossa intenção é apenas a de considerar o fato da fragmentação do 
conhecimento atual e as possibilidades oferecidas pelos vários tipos de 
articulação interdisciplinar de que podemos dispor.
No que diz respeito especiicamente ao campo ambiental, vamos 
postular que a fragmentação disciplinar é inseparável da diversidade de 
perspectivas teóricas, apontada por vários autores. Essa diversidade aparece 
no contexto de nosso trabalho de pesquisa, mas também relete as condi-
ções como o próprio mundo social pode conceituar o problema ambiental 
para si mesmo. Sem a intenção de generalizar, é útil ter em mente duas 
dimensões de articulação interdisciplinar: uma relacionada à diversidade 
de categorias, concepções metodológicas e teóricas admitidas nas várias 
disciplinas e outra às dimensões sociais e políticas da questão clássica das 
disputas por recursos percebidos como escassos ou pelos efeitos da degra-
dação ambiental sobre a ordem social. 
No primeiro caso, o objeto “ambiente” poderia servir duplamente 
como arquétipo e evidência refutatória do programa comtiano positi-
vista: arquétipo quando um estudo busca articular conhecimentos sobre 
as “partes” interdependentes que compõem o “ambiente”, evidência para 
refutação quando a diversidade ou incompatibilidade teórica e as incerte-
zas colocam em dúvida a possibilidade de prever. No segundo, que pode 
rapidamente fugir aos limites deste trabalho mas é útil manter em mente, 
o problema de como tratar das dimensões sociais e políticas pode levar 
à questão de onde tratar dessas questões: no campo cientíico, no campo 
dos argumentos técnicos porém expostos a uma audiência ampliada ou 
no próprio campo político, em que cada parte hábil pode recorrer a seus 
próprios especialistas.
Nosso ponto de vista é que essa diversidade de perspectivas conceituais 
e teóricas tem implicações tanto maiores quanto mais se reivindicar uma 
articulação das ciências naturais e sociais para compreender ou responder 
à crise ambiental. Esse problema tem pelo menos dois aspectos relevantes: 
primeiro, a multiplicidade de perspectivas teórico-metodológicas admiti-
das nas ciências sociais contemporâneas pode representar um obstáculo 
sério para tratar do problema em conjunto com as ciências naturais, como 
vemos, por exemplo, em Liverman e Costa (2008) e Alves (2012a; 2012b). 
8 Cf. Harvey (1974, Rhoads (1991), Mortimore (1993),Giddens (2001; 2002), Latour (2004), Montibellier 
Filho (2008) e Alves (2012a; 2012b).
Por outro lado, o desenvolvimento do campo ambiental tem levado 
a reletir cada vez mais e buscar perspectivas em outros campos de articu-
lação interdisciplinar, perspectivas que são enriquecedoras para debater o 
problema no âmbito mais imediatamente crítico: o metodológico. Podemos 
citar, como exemplos de subsídios que podem ser oferecidos por essas 
relexões: Oliveira Filho (1976), que propõe uma reconstrução da relação 
entre os sistemas teóricos e de veriicação e o domínio metateórico, este 
decorrente da própria diversidade de fundamentos lógicos, epistemológicos 
e ontológicos que precondicionam a concepção ou a escolha de um mé-
todo; Lambright (1998; 2008), que recapitula diversas dimensões políticas 
da relação governo-ciência e, em particular, da Mission to Planet Earth 
da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) – componente importante 
das pesquisas em mudanças globais – e sugere a necessidade de uma va-
riedade de critérios e estratégias para reduzir a fragilidade dessa relação; 
van Kerkhof (2005), que analisa o conceito de “integrated research” para 
explorar como o ele ultrapassa o campo cientíico e pode ser útil também 
no campo político-administrativo ambiental – “environmental policy” no 
original –, sendo, ao mesmo tempo, ambíguo; Pohn (2005), que reconhece 
o desaio da colaboração entre cientistas naturais e sociais, mas alerta que 
essa colaboração pode se restringir a apenas uma divisão de tarefase rei-
vindica um maior entusiasmo pelo princípio de articulação interdisciplinar 
pelas instâncias de gestão da pesquisa; Pohn (2008) e Jahn et al. (2012), 
que postulam várias dimensões para o conceito de transdisciplinaridade e 
consideram sua importância para a articulação com a sociedade; e Khagram 
et al. (2010), que propõem considerar diferentes tipos de teorias, ilosoias 
do conhecimento e estratégias de pesquisa que são admitidos nas diversas 
disciplinas que tratam do ambiente.
Desta breve revisão do problema da articulação interdisciplinar, vamos 
reter as ideias de que a fragmentação do conhecimento cientíico é resultante 
tanto da especialização e da divisão do trabalho no campo cientíico quanto 
da disposição de responder aos inúmeros problemas que nos são colocados. 
Nos dois casos, não foi institucionalizada nenhuma forma de continuidade 
ou totalidade conceitual ou teórica, mas foram mantidos e respeitados os 
princípios do debate aberto, junto com regimentos de estruturação – em 
departamentos, universidades, institutos de pesquisa – mais ou menos 
permanentes no mundo moderno. 
A diversidade nos planos conceitual, metodológico, teórico e mesmo 
político-cientíico acarreta um desaio metodológico considerável, mas 
podemos admitir que ela não deve causar frustrações ontológicas ou 
epistemológicas insuperáveis, como mostram vários progressos, muitos 
dos quais no campo ambiental. Consideremos antes que, do desaio da 
diversidade no plano conceitual e teórico, poderíamos reconhecer um 
certo progresso na diversidade de problemas, alcançado através de dife-
rentes tipos de compromissos na articulação disciplinar, alguns dos quais 
tratados na próxima seção.
Tipos de interdisciplinaridade
Ao analisar a diversidade de problemas a que o campo técnico-cientíico 
procura responder, encontramos toda uma gama de desenvolvimentos em 
que a natureza, o grau e a dinâmica de construção da articulação interdis-
ciplinar são diferentes, o que tem servido de inspiração para diferentes 
tipologias de interdisciplinaridade, segundo várias perspectivas. Nosso 
ponto de partida serão os tipos multi-, inter- e transdisciplinar – muito 
citados e, por isso, de importância prática mais imediata –, que iremos 
recapitular e complementar ligeiramente buscando distinguir o grau até o 
qual categorias e conceitos podem se originar e entrelaçar nos processos de 
discussão de problemas especíicos ou em iniciativas formais de articulação 
interdisciplinar.
Obviamente, nossos tipos de interdisciplinaridade não são nem 
únicos nem originais. A literatura apresenta várias tipologias de interdis-
ciplinaridade que têm como foco o grau de integração ou justaposição 
teórico-conceitual, as práticas adotadas em trabalhos que envolvem várias 
disciplinas, os propósitos da interdisciplinaridade, ou, ainda, que tomam a 
própria interdisciplinaridade como questão teórica, metodológica, político-
-cientíica, política, educacional, discursiva, etc.
Para ins práticos, distinguiremos seis tipos de articulação interdisci-
plinar a partir dos usuais multi-, inter- e transdiciplinar, procurando con-
siderar como se desenvolve o conhecimento no domínio teórico-conceitual 
e no próprio processo de articulação de ideias e de conhecimentos. Eles 
serão chamados disciplinaridade dominante ou induzida, especialização 
híbrida ou cruzada, multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar linear 
e transdisciplinar relexivo (Tabela 1). 
9 Cf. Pohl (2005), Van Kerkhoff (2005), Klein (2006), Barry (2008), Klein (2008), Pohl (2008), Stokols 
et al. (2008), Broto et al. (2009) Huutoniemi et al. (2010), Klein (2010), De Alvarenga et al. (2011) e 
Jahn et al. (2012).
Tipo
Problema/obje-
to de estudo
Exemplo no campo
ambiental
Outros exemplos
Disciplinaridade
dominante 
ou induzida
Objeto/problema 
disciplinar determi-
na contribuições de 
outras disciplinas.
Monitoramento 
ou observação 
remota de variá-
veis ambientais.
Observação de parâ-
metros médicos com 
meios eletrônicos.
Especialização
híbrida ou 
cruzada
Objeto/problema de 
uma disciplina absorve 
referências teórico-
-conceituais de outra.
Estudos 
ecológico-políticos.
Estudos 
sociológico-políticos.
Multidisciplinar
Objeto/problema reúne 
elementos de várias 
disciplinas, tratados 
separadamente.
Análise de impac-
tos ambientais.
Laudo médico 
multidisciplinar.
Interdisciplinar
Objeto ou problema 
inclui elementos de vá-
rias disciplinas, articu-
lados por um ou mais 
conceitos integradores.
Estimativa de pro-
dutividade de ecos-
sistemas (conceito 
integrador – troca de 
matéria e energia).
Estudos de marca-
dores na investiga-
ção de distúrbios 
psiquiátricos.
Transdisciplinar
linear
Objeto/problema inclui 
a definição de con-
ceitos fundamentais 
ou do próprio objeto 
como resultado do 
trabalho conjunto de 
várias disciplinas.
Estudos das associa-
ções entre aerossóis 
e precipitação.
Estudos das res-
postas do cérebro 
à música nas 
neurociências.
Transdisciplinar
reflexivo
Objeto/problema na 
sobreposição dos 
campos técnico-
-científico e político.
Coprodução dos 
conceitos de detec-
ção e atribuição das 
mudanças climáticas.
Investimentos em 
alta tecnologia 
envolvendo múl-
tiplos atores.
Tabela : Tipos de articulação interdisciplinar numa concepção orientada pela “acentuação 
unilateral de um ou vários pontos de vista”.
Esses tipos de articulação, que vamos buscar conceber como “ideais” 
no sentido de serem enunciados pela “acentuação unilateral de um ou vá-
rios pontos de vista” (Weber, 2005), não precisam se apresentar de forma 
completa e acabada e podem em certo grau entrelaçar-se ou sobrepor-se. 
Nossa premissa é que, pactuando-os segundo o princípio do tipo ideal we-
beriano, eles ajudarão a reconhecer nuances e diferenças no que diz respeito 
à preeminência de uma ou outra disciplina ou técnica na deinição de um 
problema, ao grau de entrelaçamento de conceitos e teorias entre várias 
disciplinas e à fecundidade com que podem ser efetivamente produzidos 
conceitos inéditos, seja no âmbito estritamente técnico-cientíico, seja no 
campo de articulações entre a técnica, a ciência e o mundo político. Notemos 
que nossa intenção não é deinir uma tipologia abrangente e acabada, mas 
apenas, partindo do conceito de tipo ideal e de alguns tipos frequentes na 
literatura, ressistematizar algumas articulações que aparecem cotidianamente 
no campo de pesquisasambientais.
O tipo da disciplinaridade dominante ou induzida pressupõe que o pro-
blema ou objeto em estudo seja deinido no seio de uma disciplina técnica 
ou cientíica capaz de estabelecer e especiicar os conceitos e parâmetros 
necessários para deinir, pelo menos num estágio inicial, a contribuição 
de outras especialidades. Em nosso campo, podem-se identiicar casos 
de disciplinaridade induzida em que uma especialidade ou conjunto de 
especialidades cientíicas especiicam requisitos para que disciplinas mais 
“técnicas” desenvolvam instrumentos ou efetuem medições ambientais 
(Tabela 1). Também podemos reconhecer casos em que, em domínios mais 
puramente tecnológicos, são induzidas investigações cientíicas de várias 
especialidades que utilizam e validam instrumentos de alta tecnologia, como 
sensores de satélites de observação da Terra. Vamos considerar que, neste 
tipo ideal de articulação de disciplinas, o conhecimento de todas as espe-
cialidades geralmente é comensurável graças à existência de um repertório 
compartilhado e suicientemente amplo entre disciplinas, frequentemente 
passíveis de expressão como requisitos técnicos, que autoriza a solução de 
um problema deinido no campo disciplinar indutor.
No tipo de especialização híbrida ou cruzada, assume-se que uma dis-
ciplina assimila referências teóricas, lógicas e conceituais de outra disciplina 
ou domínio do conhecimento para especializar ou reinar o conhecimento 
em seu próprio campo. Esse tipo ideal de articulação nos interessa por 
mostrar um processo de fertilização de um domínio cientíico por outro, 
que pode ocorrer com ou sem mecanismos de articulação formalmente 
instituídos. Ele é possível em particular graças ao encontro cotidiano de 
ideias e ao debate permanente, seja programático ou informal, seja de incli-
nação orgânica ou eclesiástica, de que o campo acadêmico tem conseguido 
não se privar e que, se não desfragmenta e articula as disciplinas, incentiva 
a associação entre ideias e conhecimentos. Em alguns casos, esse tipo de 
entrecruzamento pode ser entendido como simples analogias e metáforas 
que emprestam conceitos entre disciplinas ou campos do conhecimento 
sem maior compromisso teórico ou metodológico.10 Em nosso campo, 
acreditamos ser útil considerar as referências conceituais, teóricas e metodo-
lógicas da economia política e das ciências políticas no desenvolvimento do 
campo da ecologia política (Tabela 1), que busca reconquistar as dimensões 
políticas da problemática ambiental.11 Os estudos no campo da ecologia, 
nessa visão, passam a considerar as lógicas de disputa pelos recursos da 
natureza ou pela distribuição ou apropriação desses recursos.
O tipo multidisciplinar pressupõe um grau de articulação teórico, 
metodológico ou conceitual relativamente incipiente, e é útil para toda 
uma gama de problemas em que não se exigem mais que contribuições 
individuais, conceitual e tecnicamente válidas de especialidades diferentes. 
Em alguns casos, estudos multidisciplinares podem abstrair a questão da 
comensurabilidade do conhecimento entre as várias disciplinas. Em nosso 
campo, esse tipo pode ser exempliicado pelas análises de impacto ambiental 
(Tabela 1), que, deve-se notar, geralmente respondem a exigências legais 
ou políticas. No caso do Brasil, essas exigências fazem parte da própria 
Constituição Federal de 1988, que requer o “[estudo prévio de impacto 
ambiental, a que se dará publicidade] para instalação de obra ou atividade 
potencialmente causadora de signiicativa degradação do meio ambiente” 
(Art. 225). Pode-se observar que as análises de impacto ambiental podem 
ser objetos multidisciplinares – portanto, de grau modesto de articulação 
interdisciplinar – porque isso é admissível no plano de exigências legais 
já instituídas. Ao mesmo tempo, elas podem ser concebidas como objetos 
de articulação bem mais complexos, seja por justiicarem reivindicações – 
mais notadamente no campo acadêmico – de abordagens interdisciplinares 
sistêmicas ou holísticas, seja porque, ao serem submetidas a alguma forma 
de escrutínio público, elas podem expor elementos de uma concepção 
transdisciplinar relexiva, como descrito abaixo.
Na nossa deinição do tipo interdisciplinar, a ênfase é colocada na 
existência de um ou mais “conceitos integradores” (Tabela 1) que, acredi-
tamos, predispõem certas classes de estudos ambientais a uma dinâmica 
própria de articulação interdisciplinar que se privilegia ou se organiza ao 
redor dos conceitos adotados. Nossa premissa é de que, graças ao conceito 
integrador, as barreiras representadas por diferentes sistemas teóricos, 
10 Ver, por exemplo, Buckley (1971) sobre analogias entre sociedades, mecanismos e organismos em 
Vilfredo Pareto e Herbert Spencer.
11 Cf. Alimonda (2002), Alonso & Costa (2002), Alier (2007). Para uma compreensão similar da sociologia 
política ver, por exemplo, Klein (2010).
empíricos, lógicos, epistemológicos, semiológicos ou ontológicos podem 
ser rebaixadas e a articulação entre disciplinas pode ser iniciada no patamar 
oferecido pelos conceitos integradores, que oferece a principal referência 
para explorações especulativas entre disciplinas. Em nosso campo, a exis-
tência de conceitos integradores oferece ponto de partida privilegiado para 
os estudos da dinâmica de ecossistemas, do sistema terrestre, e, de uma 
forma geral, dos estudos em que um processo de mudança – quaisquer que 
sejam as escalas temporais e espaciais – é o foco principal. Notemos que 
o tipo ideal pressupõe que o conceito integrador deve transcender ideias 
abstratas como “interação” ou “abordagem sistêmica”, que não oferecem 
termos concretos de comensurabilidade para a articulação de ideias e co-
nhecimentos. Exemplos de “conceito integrador” são oferecidos por ideias 
como a de troca de massa e energia em estudos do sistema terrestre,12 ou 
da associação geomorfologia-paisagem em alguns estudos integrados da 
transformação da paisagem, como em Tricard (1994). No tipo interdisci-
plinar, o “conceito integrador” oferece um ponto de partida para iniciar a 
colaboração entre várias especialidades e uma referência para pensar um 
problema ao longo de todo um estudo. Ele não pressupõe entretanto que 
um estudo deva engendrar novos conceitos, teorias ou interpretações que 
não existam nos domínios disciplinares originais: a investigação de um 
“sistema” pode provocar dúvidas e incentivar reinterpretações ou reteori-
zações sobre um objeto-sistema, mas isso não é obrigatório.
O tipo transdisciplinar linear distingue-se, no modelo apresentado 
aqui, pelo compromisso de procurar e criar novos conceitos, processos, 
teorias, ou interpretações, inicialmente inexistentes num conjunto de 
disciplinas que tratam de um dado objeto ou problema. Vamos propor 
que a pesquisa transdisciplinar dessa natureza pode aparecer, em nosso 
campo, como resultado da evolução natural de estudos do tipo interdis-
ciplinar, como nos casos dos avanços do conhecimento sobre o papel de 
compostos orgânicos voláteis na ecologia de espécies ou na interação 
entre a biosfera e a atmosfera, como em Laothawornkitkul et al. (2009), 
ou sobre a relação entre aerossóis e nuvens, como em Graf (2004) (Tabela 
1). De certa forma, podemos dizer que a transdisciplinaridade linear se 
alimenta da própria incomensurabilidade do conhecimento e pode levar 
ao surgimento de novas disciplinas ou especialidades quando um objeto, 
problema ou desaio técnico se autonomiza, criando um novo domínio 
de conhecimento.
12 Cf. Alves (2012a; 2012b).
O tipo transdisciplinar relexivo é concebido como uma ampliação da 
transdisciplinaridade linear em que novos conceitos, processos, teorias, ou 
interpretações podem surgir nos casos em que um problema ou objeto seja 
sujeito ao escrutínio tanto no campo técnico-cientíico quanto no político. 
Esse tipo ideal pode ser visto como uma forma de conceber a transversali-
dade e a relexividade do conhecimento envolvendo ambos esses campos,13 
como pode ocorrer nos casos das problemáticasambiental, da saúde, da 
educação e no campo do desenvolvimento tecnológico com articulações 
político-governamentais ou político-empresariais importantes. Ele pres-
supõe modalidades de geração do conhecimento em que a fragmentação 
disciplinar pode se somar à segmentação, às assimetrias e à estratiicação 
próprias ao campo social e reletir não apenas critérios de demarcação do 
campo cientíico, mas também as condições de mobilização do mundo social.
No que diz respeito mais especiicamente ao campo ambiental, vamos 
sugerir que é justamente no domínio da transdisciplinaridade relexiva que 
a crise ambiental mostra a maior mobilização de recursos e toma a forma 
de processos de ação social com todas as suas consequências. Pode-se con-
ceber esse tipo de transdisciplinaridade pode ser a vontade de superar ou 
transgredir os" por "como resultante da composição de forças que levam 
a superar ou transgredir os limites da incomensurabilidade de conceitos e 
teorias entre disciplinas técnicas e cientíicas, mas também entre o campo 
técnico-cientíico e o da mobilização e da decisão políticas. Deve-se notar que 
a intenção de superar esses limites é frequentemente admitida no campo 
cientíico, mas ele não precisa – ou não deve – ter como consequência 
única o âmbito do fornecimento unidirecional de subsídios para processos 
políticos, e pode na verdade ser entendida como um sintoma de formas 
peculiares de produção do conhecimento sobre a problemática ambiental 
que transcendem os muros da academia.
Esse tipo ideal, no nosso entendimento, não tem como motivação 
garantir protocolos ixos para o luxo unidirecional de dados da parte 
técnico-cientíica para os campos das mobilizações e decisões. Antes, ele 
procura colocar a questão sobre como conceituar a própria produção de 
conhecimentos – e mesmo o papel da ciência – quando esta envolve pro-
cessos de mobilização política – no campo político amplo – e de tomada 
de decisões – num âmbito mais político-administrativo –, admitindo a 
13 Para exemplos, Ver Beck (1992), Funtowicz & Ravetz (1993), Gibbons et al. (1994), Giddens (2001), 
Latour (2004), Jasanoff (2006), Hulme (2009), Pohn (2008) e Jahn et al. (2012).
possibilidade de produção de conhecimentos no âmbito desses processos 
e não apenas nos domínios técnico-cientíicos. 
Tal questão pode ser tratada a partir de perspectivas teóricas muito 
distintas sobre o papel da ciência que por si só acarretam consequências 
políticas e merecem ser elucidadas. Elas podem reletir, por exemplo, os 
pressupostos da engenharia social “gradual” (“piecemeal”) de Popper (1974), 
da sociedade do risco (Beck, 1992), das condicionantes da autonomização 
da questão ambiental e do status particular do movimento ambientalista, 
como em Carvalho e Brussi (2004), Castells (1999) e também Beck (1992), 
da identidade e das diferenças entre situação social e consciência social, 
como em Sartre (1987), Giddens (2002) e Martins (2002) da dupla herme-
nêutica (Giddens, 2001), da co-produção do conhecimento (Jasonof, 2006) 
e da ciência pós-normal (Funtowicz & Ravetz, 1993), que tem encontrado 
referências na literatura, como vemos em Saloranta (2001), Hulme (2009) 
e Alves (2012a).
Para terminar, consideremos que a questão sobre as consequências da 
degradação e das mudanças ambientais deve considerar conceitos como 
os de risco (Beck, 1992) e das incertezas que cercam a crise ambiental,1 
e requerer, de um lado, a distinção entre risco, perigo e contingência 
(Bruseke, 2007) e, de outro, a contínua reavaliação e regeneração dos ris-
cos no quadro da modernidade tardia. Como resultado, a totalidade das 
consequências da degradação e das mudanças ambientais pode terminar 
por ser intangível no sentido de nunca ser plenamente alcançável, e que 
essa forma particular de intangibilidade pode levar, na nossa concepção, a 
desaios transdisciplinares especíicos. 
Nessa concepção, novos desaios transdisciplinares podem surgir tanto 
em função das incertezas e da intangibilidade dos riscos quanto da percep-
ção dos custos de mobilização ou de tomada de decisão – evidentemente 
não restritos às dimensões ambientais e assimétricos em sua distribuição.
A pesquisa interdisciplinar e a crise ambiental
Este trabalho considerou que a pesquisa no campo ambiental com-
partilha com um grande número de domínios técnico-cientíicos uma 
série de progressos e de diiculdades na investigação de problemas e ob-
jetos que ultrapassam os limites da especialização disciplinar. Considerou 
igualmente que a diversidade e a amplitude dos problemas ambientais tem 
14 Ver Hulme (2009) e Alves (2012a) para o caso das incertezas sobre as mudanças climáticas globais.
se beneiciado, de uma forma geral, de diversas modalidades e tipos de 
articulação interdisciplinar.
Ao mesmo tempo, a percepção da crise ambiental representa uma 
especiicidade de nosso campo no que diz respeito tanto à avaliação que os 
especialistas fazem da importância social de seu trabalho e das formas como 
o mundo social pode absorver seus resultados quanto à avaliação atribuída 
à crise e ao próprio papel da técnica e da ciência no seio dos processos de 
mobilização e de decisão. Nessa visão, tratar dos efeitos da crise ambiental 
– que não devem ser confundidos com os impactos diretos da degradação 
e das mudanças ambientais – pode exigir explorar os signiicados de pro-
cessos ecológicos, parâmetros da ecologia humana, incertezas nos estudos 
ambientais, mas, também, daquilo que pode ser contingente, imponderável 
e intangível na ordem social e nas relações sociais.
Essa posição procura reletir sobre qual é a amplitude dos processos 
de articulação interdisciplinar e de produção de conhecimento no con-
texto da crise ambiental, que a pesquisa interdisciplinar tenha ou não 
tenha alcançado progressos consensuais. Especiicamente com respeito 
às relexões no domínio da academia, é possível encontrar esforços im-
portantes que buscam planos metodológicos amplos, em que o objeto da 
crise possa ser concebido sem as amarras de perspectivas reducionistas 
ou do pressuposto de formas de interdependência a priori entre disci-
plinas: a concepção de modos de transdisciplinaridade que admitem a 
produção de conhecimentos extramuros pode constituir um resultado 
signiicativo desses esforços. Ao mesmo tempo, quando acompanhamos 
os processos de mobilização, decisão e institucionalização que respon-
dem à crise ambiental, podemos encontrar indicações da latitude dos 
processos de produção de conhecimento que se relacionam aos efeitos 
da crise ambiental e que poderão ser explorados para conceber novos 
planos metodológicos e teóricos no futuro.
Para concluir, podemos nos referir rapidamente a alguns detalhes do 
quadro institucional da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de 
Ozônio, da Convenção da Diversidade Biológica e da Convenção Quadro 
das Mudanças Climáticas, para explorar algumas alternativas de produção 
de conhecimento em resposta à crise ambiental. Em primeiro lugar, notemos 
que as três convenções constituem exemplos de como as ciências e as técnicas 
puderam oferecer evidências e subsídios que redundaram em resultados 
institucionais efetivos de âmbito internacional. Em segundo lugar, nosso 
interesse é observar que a amplitude das contribuições técnico-cientíicas 
pode ser muito variada. 
A Convenção de Viena e seu Protocolo de Montreal possivelmente 
representam o exemplo mais completo de sucesso institucional envolvendo 
a descoberta de um elemento da crise ambiental pela ciência, a possibilidade 
de sua mitigação por avanços técnicos e o estabelecimento de compromissos 
entre nações, que efetivamente permitiram descontinuar a fabricação dos 
gases que afetam camada de ozônio. 
A Convenção da Diversidade Biológica permitiu conceber e construir um 
quadro institucional relacionado a um elemento-chave da crise ambiental – a 
perda da biodiversidade –, sobre o qual a biologia e a ecologia provavelmente 
forneceram as evidências mais completas e as referências conceituaisiniciais. 
Ao mesmo tempo, o cerne da Convenção é construído a partir de um quadro 
conceitual que faz referência ao uso sustentável e à proteção da diversidade, 
e, igualmente, à repartição justa e equitativa de recursos genéticos, respeitada 
a soberania de cada nação, o que expõe uma latitude de conceitos que só 
adquirem signiicado pleno em planos políticos particulares. 
Por sua vez, a Convenção do Clima provavelmente é o exemplo mais 
abrangente de produção de conhecimentos sobre um problema ambien-
tal, que inclui, de um lado, um corpo técnico-cientíico multidisciplinar e 
internacional de grande prestígio – o Intergovernmental Panel on Climate 
Change (IPCC) – e, de outro, quadros políticos qualiicados e irredutíveis 
no que diz respeito à articulação das as dimensões técnicas, cientíicas 
e políticas das mudanças climáticas. No contexto das negociações dessa 
convenção, o corpo técnico-cientíico tem se mostrado capaz de fornecer 
subsídios aceitos como irrefutáveis para dois elementos fundamentais para 
a exequibilidade de toda a política da Convenção – a detecção das mudanças 
climáticas e a atribuição das mudanças a fontes antropogênicas. Ao mesmo 
tempo, quando consideramos o objetivo principal do acordo – estabilizar as 
concentrações dos gases de efeito estufa em níveis que não sejam prejudi-
ciais para o sistema climático –, encontramos uma das histórias mais bem 
sucedidas de retroalimentação da própria ideia da crise ambiental, que pode 
ser utilizada para investigar a natureza relexiva do problema climático. 
Finalmente, deixemos claro que, nos três casos, nos limitamos a con-
siderar a disponibilidade de recursos técnico-cientíicos para a produção 
de evidências que, em última instância, satisfaziam a questões que são 
formuladas, reformuladas e reinterpretadas no seio do próprio campo 
político. Nesse campo, os processos de mobilização e de decisão, ou o 
próprio processo de construção institucional, não são isentos de assime-
trias, seja entre as nações, seja no plano dos atores e das organizações que 
personiicam, em distintas escalas e condições, a mobilização dos recursos 
técnicos e cientíicos segundo prerrogativas próprias.
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