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UNIVERSIDADE LICUNGO 
FACULDDE DE EDUCACAO E PSICOLOGIA 
 
 
 
Movimento feminista 
 
 
 
Nome: Esperança Diroteio 
 
 
 
Curso: licenciatura em psicologia 
Ano: 2 
Disciplina: teorias sobre a diferença de género 
Docente: Dr. Piedade Alferes 
 
 
 
Quelimane Maio de 2021 
 
 
 
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UNIVERSIDADE LICUNGO 
FACULDDE DE EDUCACAO E PSICOLOGIA 
 
 
 
Movimento feminista 
 
 
 
Nome: Esperança Diroteio 
 
 
 
Trabalho de carácter avaliativo a ser entregue 
 No departamento de educação e psicologia 
 na cadeira de teorias e diferença sobre género 
A ser leccionado por Dr. Piedade Alferes 
 
 
 
 
 
Quelimane Maio de 2021 
 
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Índice 
2. Introdução ............................................................................................................................. 4 
2.2. Metodologia .................................................................................................................. 5 
3. História do movimento feminista .......................................................................................... 6 
2.1. Primeira onda do movimento feminista ............................................................................. 7 
3.2. Segunda onda do movimento feminista ........................................................................ 8 
3.3. Terceira onda do movimento feminista ....................................................................... 10 
4. Teorias sobre a diferença de género .................................................................................... 12 
3.1. Teorias essencialistas ....................................................................................................... 13 
3.1.1. Teoria do deficit ........................................................................................................ 13 
3.1.2. Teoria da dominação ................................................................................................. 14 
3.1.3. Teoria das duas culturas (da diferença) ..................................................................... 14 
4.2. Teorias não-essencialistas ........................................................................................... 15 
4.2.1. Teoria performativa ou construcionista ............................................................... 15 
5. Conclusão ............................................................................................................................ 16 
6. Referências bibliográficas ................................................................................................... 17 
 
 
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2. Introdução 
Uma das questões mais centrais quando o tema é a presença da mulher na arena pública 
de decisão, em geral, ou na política, em particular, é a seguinte: que mulheres querem 
nos cenários políticos? Todas as mulheres, independente de classe, posição política, 
comprometimento com as questões de reconhecimento das minorias sem poder? Ou 
estamos lutando para elegermos nos parlamentos e nas posições-chave de poder, 
mulheres feministas que defendam as grandes causas do movimento? 
Todavia, esta presença não garante que as mulheres tenham se eleito com plataformas 
feministas ou que sejam feministas. Mesmo assim é muito mais provável que as 
demandas por direitos das mulheres sejam defendidas por mulheres do que por homens, 
independente da posição política, ideológica e mesmo da inserção no movimento 
feminista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1.1 Objectivos 
 Objectivos gerais 
 Abordar sobre o movimento feminista. 
 Objectivos específicos 
 Descrever a história do movimento feminista; 
 Caracterizar as ondas do movimento feminista; 
 Resumir sobre as teorias sobre diferença de género. 
 
2.2.Metodologia 
No que diz respeito a metodologia para a realização do trabalho foi feita através de 
leitura e de consultas bibliográficas relacionadas a esta área de estudo. As obras 
consultadas que tornaram o trabalho possível encontram-se listadas no final do trabalho, 
depois da conclusão, estando organizadas em ordem alfabética. 
 
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3. História do movimento feminista 
Ao longo da história ocidental sempre houve mulheres que se rebelaram contra sua 
condição, que lutaram por liberdade e muitas vezes pagaram com suas próprias vidas. A 
Inquisição da Igreja Católica foi implacável com qualquer mulher que desafiasse os 
princípios por ela pregados como dogmas insofismáveis. Mas a chamada primeira onda 
do feminismo aconteceu a partir das últimas décadas do século XIX , quando as 
mulheres, primeiro na Inglaterra, organizaram-se para lutar por seus direitos, sendo que 
o primeiro deles que se popularizou foi o direito ao voto. As sufragastes, como ficaram 
conhecidas, promoveram grandes manifestações em Londres, foram presas várias vezes, 
fizeram greves de fome. 
O movimento feminista tem uma característica muito particular que deve ser tomada em 
consideração pelos interessados em entender sua história e seus processos: é um 
movimento que produz sua própria reflexão crítica, sua própria teoria. Esta coincidência 
entre militância e teoria é rara e deriva-se, entre outras razões, do tipo social de 
militante que impulsionou, pelo menos em um primeiro momento, o feminismo da 
segunda metade do século XX: mulheres de classe média, educadas, principalmente, nas 
áreas das Humanidades, da Crítica Literária e da Psicanálise. Pode se conhecer o 
movimento feminista a partir de duas vertentes: da história do feminismo, ou seja, da 
acção do movimento feminista, e da produção teórica feminista nas áreas da História, 
Ciências Sociais, Crítica Literária e Psicanálise. Por esta sua dupla característica, tanto o 
movimento feminista quanto a sua teoria transbordaram seus limites, provocando um 
interessante embate e reordenamento de diversas naturezas na história dos movimentos 
sociais e nas próprias teorias das Ciências Humanas em geral. 
Foi na revolução francesa que as mulheres passaram a se questionar, pois, nessa 
época, os homens lutavam em busca de cidadania e as mulheres lutavam junto a eles, 
porém não foi o povo que dirigiu a revolução nem quem colheu o fruto. 
Beauvoir (2016, p.159), ou seja, as conquistas políticas ainda não chegavam até elas, 
não eram vistas como cidadãos de direito pela sociedade. Ao longo da história ocidental 
sempre houve mulheres que se rebelaram contra sua condição, que lutaram por 
liberdade e muitas vezes pagaram com suas próprias vidas. A Inquisição da Igreja 
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Católica foi implacável com qualquer mulher que desafiasse os princípios pregados 
como dogmas insofismáveis. Então, não é de hoje que mulheres questionam suas 
condições e reivindicam por mudanças, ao longo da história ocidental sempre houve 
mulheres que se rebelaram contra sua condição, que lutaram por liberdade e muitas 
vezes pagaram com suas próprias vidas. 
Pinto (2010 p.15) falar do movimento feminista é entrar em um caminho repleto de 
estudos e teorias esclarecedoras, sobre a relação de poder na sociedade em que estamos 
inseridos. O movimento feminista apresenta suas próprias reflexões críticas que se 
aprimoraram com o decorrer do tempo e o aprofundamento de seus estudos levam a 
tomada de consciência das condições impostas à mulher na sociedade. 
2.1. Primeira onda do movimento feminista 
Na metade do no século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, o movimento feminista 
passa a ser desenvolvido; é, nesse período, que se inicia a chamada primeira onda do 
movimento feminista que, segundo Cisne (2015), é o período em que as mulheres vão 
ter aproximação com as lutas sociais. A mesma autora afirma que, inicialmente, o 
movimento feminista é marcado por três correntes, começando pela corrente feminista 
liberal representada pelas mulheres burguesas que reivindicavam por direitos políticos 
iguais, educação e mudanças na legislação sobre o casamento. 
 Conforme Cisne (2015p.106), “o feminismo liberal buscava reduzir as desigualdades 
entre homens e mulheres por meio das políticas de acção positiva, podemos falar de um 
feminismo reformista” Mas, devido ao processo de industrialização, desenvolvem-se as 
classes e as mulheres passaram a serem incluídas nos trabalhos operários, então, as 
mulheres operárias passam a organizar reivindicações que alcançaram as mulheres da 
classe trabalhadora, conseguindo chamar uma atenção que proporcionou certa 
visibilidade (não significa que foi uma visibilidade positiva na sociedade) ao 
movimento. 
Com a consolidação do capitalismo, as mulheres são incluídas nesse sistema, sendo 
super exploradas e postas a situações abusivas e precárias, passando a trabalhar o dobro 
do que os homens trabalhavam e a receber um comparativo de 1/3 do salário masculino, 
dessa forma “a mulher era explorada mais vergonhosamente ainda do que os 
trabalhadores do outro sexo, Beauvoir (2016, p.166). Com isso, essas mulheres passam 
a vivenciar as lutas operárias e a se aproximar dos estudos marxistas, o que se torna 
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outra corrente do movimento feminista, as mulheres trabalhadoras romperam o silêncio 
e projectaram suas reivindicações na esfera pública. Com isso, as mulheres se unem aos 
homens em greves, contudo, o resultado das lutas operárias ainda excluía as mulheres. 
Devido a essa exclusão, as mulheres trabalhadoras desenvolvem a corrente feminista 
marxista. Nesse processo, o movimento feminista ganha força e visibilidade com as 
Sufragistas; esse movimento surge na Inglaterra no século XIX e sua principal 
reivindicação era o direito ao voto. As sufragistas uniam mulheres de todas as classes 
em busca do sufrágio feminino. Dois nomes bastante importantes nesse processo são o 
de Olympia de Gouges (1748-1793) que em 1789 fez críticas a Declaração dos direitos 
do homem e do cidadão, publicando uma versão do mesmo documento para o feminino 
a “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã” na França e Mary Wollstonecraft 
(1759-1797) publicou a obra “ uma vindicação dos direitos da mulher” em 1792 
trazendo reflexões sobre a emancipação das mulheres, defendendo a democracia e o 
direitos das mulheres na Inglaterra, ambas são reconhecidas como pioneiras do 
feminismo, e influenciaram a construção do movimento das Sufragistas que lutavam 
pelo direito ao voto, assim alcançando tanto as mulheres burguesas, como as operarias. 
O fim da primeira onda é marcado por algumas publicações que serviram de base 
para o início da segunda onda do movimento. No final da década de 1940, Simone de 
Beauvoir (1908-1986) uma escritora francesa, publica o seu livro “O segundo sexo”; 
essa 
obra traz novos questionamentos sobre os condicionamentos que a mulher sofre em sua 
socialização, segundo e contribuiu para as reflexões feministas na década de 1960. 
Simone de Beauvoir trouxe reflexões para além das desigualdades políticas, ela fazia 
questionamentos relacionados à cultura e ao processo de socialização, como também 
levantou reflexões sobre o que é ser mulher. “Ninguém nasce mulher: Torna-se mulher 
assim afirmava a autora onde explica a existência das definições do masculino e 
feminino na sociedade. 
3.2.Segunda onda do movimento feminista 
A segunda onda inicia-se no período pós-guerra, em que carregavam um lema “o 
político é pessoal”; esse lema se referia aos acontecimentos dentro do âmbito familiar 
que recebia uma intervenção da esfera pública e as mulheres que estavam envolvidas no 
movimento feminista buscavam por mudanças, abordavam em suas pautas a questão da 
violência social e doméstica que as mulheres sofriam, afirmando que essa questão 
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deveria ser tratada pela esfera pública em busca de soluções. Portanto, a segunda onda 
inicia-se trazendo reflexões relacionadas às condições das mulheres em âmbito 
doméstico e social e, além disso, passam a levantar questionamentos relacionados aos 
papéis de género. 
O livro de Beauvoir trouxe para o movimento feminista uma reflexão do género 
em sua forma social, considerando que o género é construído pelas relações sociais, ou 
seja, está relacionado ao que o indivíduo se torna após o seu nascimento e tudo que irá 
ser imposto por toda uma construção social. Com isso Betty Friedan (1921-2006) uma 
activista feminista americana, baseando-se nos estudos de Beauvoir, desenvolve um 
trabalho, publicado em 1963, chamado “A mística feminina”; o trabalho traz 
depoimentos de mulheres da classe média nos quais mostram suas frustrações 
relacionadas ao seu papel como “rainha do lar”. Esse livro traz a experiência e a 
vivência dessas mulheres no âmbito doméstico. Outro nome importante é de Kate Miller 
(1934-2017) uma activista americana que publicou o livro “Política Sexual”, no qual, 
fazia uma análise histórica das relações entre os sexos e da relação de poder prevalente 
em todas as culturas. E na mesma época, Juliet Mitchell (1940) um psicanalista 
feminista, pulica “A condição da mulher”, em que fazia reflexões sobre as esferas de 
produção da reprodução da sexualidade e da educação. 
Essas obras passam a contribuir no desenvolvimento dos estudos feministas no 
período 1960 a 1980: o movimento passa a adquirir novas características e as 
reivindicações que antes eram voltadas apenas para a desigualdade de direitos políticos, 
trabalhistas e civis, passam também a questionar e a estudar o que causa essas 
desigualdades. É nessa época que é desenvolvido uma nova corrente feminista, o 
feminismo radical, que será comentado um pouco mais à frente. 
Com isso, podemos perceber que o movimento feminista, na segunda onda, passa 
a abordar pautas relacionadas à opressão da mulher, a sexualidade, a construção cultural 
de género e dominação. O discurso agora estava focado nas relações de poder entre 
homens e mulheres, debatendo sobre questões de discriminação, desigualdades culturais 
e estruturas sexistas. 
Lembrando que antes, a luta se baseava em uma conquista política, relacionada à 
luta de classes e ao papel da mulher na sociedade; quando se conquista o direito ao voto, 
os questionamentos começam a ser para além desse debate. Portanto, a segunda onda é 
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caracterizada pelo começo dos questionamentos voltados ao género, opressão do sexo 
feminino e a reflexões acerca do sistema patriarcal. 
Também é nesse período que o movimento feminista traz discussões em torno da 
defesa de liberdade sexual da mulher; o aborto também passa a ser uma pauta do 
movimento nesse período, assim como a pauta da discussão sobre o direito de ser mãe a 
partir da vontade da mulher, a qual pudesse ter a liberdade de decidir se quer ou não ter 
filhos, bem como o momento de ter filhos seja escolha da mulher. Todas essas pautas 
foram construídas e desenvolvidas na chamada segunda onda, porém o movimento 
feminista logo sofrerá por mudanças em suas discussões. 
3.3.Terceira onda do movimento feminista 
A partir da década de 1990, o movimento feminista vivenciou a chamada terceira 
onda; os estudos e as pesquisas feministas vão enriquecendo e o movimento começa a 
passar por grandes transformações. Feministas passaram a questionar o próprio 
movimento, percebia-se que os estudos feministas abordavam experiências que 
representavam apenas as mulheres da classe média e brancas. Esse questionamento 
marcara a terceira onda, pois é, nesse momento, que, mulheres ligadas ao feminismo, 
farão críticas aos estudos que caracterizaram a segunda onda. 
Inicia-se um processo de desconstrução “universal” da mulher, ou seja, o próprio 
movimento feminista tratava a vida da mulher de forma colectiva como se todas as 
mulheres, de todas as classes e raça, vivessem os mesmos problemas, estivessem 
expostas à mesma forma de opressão. As feministas da terceira onda abordam sobre a 
exclusão das demais mulheres que não pertenciam à classe média e Consequentemente, 
o movimento passa a ganhar novas correntes que passam a considerara raça, a classe e 
a região. Reconheciam que existia uma pluralidade feminina. 
 O surgimento de novas correntes ou vertentes do movimento feminista surgem a partir 
de demandas e da necessidade de discussão da realidade das mulheres de classe mais 
baixa e diferenças raciais. 
A partir disso, podemos trazer exemplos de novas correntes feministas que 
estavam sendo desenvolvidas; nesse período, da terceira onda, o movimento feminista 
negro é o de maior destaque, segundo Miguel (2014 p.85), “Feministas negras 
questionaram os desdobramentos dessa construção da identidade da mulher” mostrando 
11 
 
que a realidade das mulheres negras trabalhadoras é totalmente diferente das mulheres 
brancas de classe média. 
Então, a terceira onda do movimento feminista é marcada pelo reconhecimento de 
uma pluralidade feminina; esse reconhecimento contribuiu para o desenvolvimento de 
vertentes que representassem e considerassem as particularidades das mulheres como a 
classe, a raça e a localidade. Hoje, nós podemos contar com diversas vertentes, 
incluindo as iniciativas que foram desenvolvidas no período da primeira e segunda 
onda. 
Nesse ponto, podemos recapitular sobre as principais características de algumas 
correntes citadas a cima; o movimento feminista liberal estava representado pelas 
mulheres burguesas, e, ainda hoje, tem esse perfil em que mulheres da classe mais alta 
fazem parte desse grupo. Essa vertente lutava por uma reforma nas políticas em que as 
desigualdades entre homens e mulheres pudessem ser reduzidas, reivindicavam por 
direitos políticos iguais, educação e mudanças na legislação sobre o casamento. 
Resumindo, na actualidade, o movimento feminista liberal acredita na ideia de que o 
problema vivenciado pelas mulheres pode ser resolvido a partir de mudanças políticas e 
legais. 
Como o movimento feminista liberal está representado pelas mulheres da classe 
média, o movimento feminista marxista é representado pelas mulheres da classe 
trabalhadora; com a consolidação do capitalismo, as mulheres passam a serem incluídas 
no mercado de trabalho; com a revolução industrial, temos o desenvolvimento dos 
movimentos sociais e, com isso, as mulheres operárias passam a participar das lutas 
operárias, aproximando-se dos estudos marxistas. 
 Essa vertente trabalha com a ideia de que a divisão da sociedade em 
classes influência nas relações sociais; com isso, suas reivindicações partem da ideia de 
que a mulher vem sendo oprimida pela sociedade e, mesmo que as leis sejam 
modificadas, dando assim um perfil igualitário para homens e mulheres, as mulheres 
ainda continuaram sempre atrás do homem, que sempre foi privilegiado e beneficiado 
pelo sistema. Como a primeira onda focalizava suas lutas em mudanças políticas, na 
segunda onda surge uma nova discussão voltada a um sistema patriarcal e estruturador, 
sobre o que é género e o que é ser mulher. Dito isso, na segunda onda, desenvolve-se 
outra vertente, o movimento feminista radical. O radical vem de raiz, trabalham com a 
ideia de que as mudanças só ocorreriam quando transformassem a raiz da questão e a 
12 
 
raiz de toda opressão é o sistema patriarcal, um exemplo específico das relações de 
género que gera uma relação de poder e dominação masculina. A vertente também 
trabalha com a ideia de que a luta feminista deve ser colectiva e sem recortes, que todas 
as mulheres, de diferentes classes e raças, devem lutar juntas contra esses sistemas que 
estruturam as relações sociais e que dá privilegio ao homem. 
Após a segunda onda, iniciam-se grandes questionamentos relacionados a esses 
recortes, em que mulheres negras e de classe baixa não se identificam com as lutas 
anteriores, já que a mulher negra tem necessidades específicas, sua realidade não condiz 
com a realidade de mulheres brancas. Devido a essa questão, o movimento feminista 
negro é desenvolvido na terceira onda e tem, em suas pautas, além do preconceito que 
existe a mulher, também trazem o preconceito racial e a esse sofrimento duplo que a 
mulher negra sofre na sociedade. Também, na terceira onda, desenvolvem-se vertentes 
que surgem na mesma perspectiva do movimento negro, na ideia de representar 
mulheres com necessidades específicas, como o movimento feminista lésbico, 
interseccional, transfeminismo, entre muitas outras vertentes que surgem de acordo com 
as demandas e as necessidades de discussão da realidade das mulheres. 
4. Teorias sobre a diferença de género 
Primeiramente, sinalizarei as teorias essencialistas que surgiram no fim dos anos setenta 
e foram classificadas, segundo suas pesquisadoras, como: teoria do deficit, teoria da 
dominação e teoria das duas culturas sendo esta focada nos papéis inadequados como a 
origem da diferença, em que a abordagem “cultural” ou “da diferença” seria focada na 
socialização da separação dos sexos como a origem. 
 Na teoria do deficit, há um suposto bilinguismo da mulher, ou seja, há diferenças da 
linguagem relativas ao género. A teoria das duas culturas, relacionada às diferenças 
sociais de necessidades do homem e da mulher, leva-nos a culturas comunicativas 
diferenciadas pelo género. Na abordagem relativa ao poder, não há só diferenças 
culturais, mas também de autoridade exercidas entre ambos os géneros, de acordo com 
Lakoff (1975) e Cameron (1995). 
 Algumas destas teorias, ao contrário, propõem uma postura não essencialista ao 
classificar género. Durante a década de noventa, já se percebe, pelos estudos das teorias 
13 
 
sobre género/sexo, uma visão mais realista, ou seja, não essencialista, que não sugere 
uma correspondência entre as identidades e aspectos da realidade social. 
 Na teoria performática/construcionista, os actos/performance dos géneros/sexos 
acontecem de acordo com os vestígios culturais, isto é, expresso em comportamentos 
linguísticos, práticas e/ou acções em contextos sociais particulares. 
3.1. Teorias essencialistas 
 Surgiram no final dos anos setenta. Propõem uma postura essencialista sobre género. 
3.1.1. Teoria do deficit 
 Lakoff (1975) foi quem identificou as formas linguísticas, para ela, enfraquecidas ou 
mitigadas do discurso feminino. Suas observações forneceram um ponto de partida para 
explorar a complexidade das relações entre género e discurso. 
 Esta teoria aponta que a linguagem da mulher seria deficitária em relação à do homem, 
ou seja, existiria um suposto bilinguismo da mulher, isto é, formas linguísticas inerentes 
à fala feminina e à masculina. As características da fala da mulher apontariam para essa 
deficiência/desvio através de um menor número de palavras em seu vocabulário, com 
sentenças menos complexas e um estilo que veicularia a incerteza. 
 Esta teoria teve como consequência um foco de pesquisas voltado para a “diferença” da 
fala feminina em relação à masculina; criou-se a expectativa de que as mulheres 
deveriam interpretar a linguagem do homem e pressionou-se para que a mulher usasse a 
linguagem do homem, ou seja, treinasse a “defectividade” masculina, quando 
pretendesse ser, por exemplo, assertiva. 
Em Oliveira (1993, p.78-81) encontramos algumas reflexões sobre esta teoria: “A 
existência de dois discursos, dois estilos, dois modos de expressão, um feminino e outro 
masculino, tributário cada um do pertencimento a uma esfera de vida e a um espaço 
social, merecem uma produção teórica importante, sobretudo de pesquisadores norte-
americanos. 
A linguagem nos usa tanto quanto nós usamos a linguagem a nossa escolha e as formas 
de expressão são guiadas pelos pensamentos que queremos expressar, da mesma forma 
que a maneira como sentimos as coisas no mundo real governa a maneira como nos 
expressamos sobre essas coisas. 
14 
 
3.1.2. Teoria da dominação 
 A abordagem relativa ao poder – também conhecida como teoria da 
dominância/dominação – teve a contribuição das pesquisas de Lakoff (1975) e uma 
releitura por Cameron (1995). Talteoria faz uma crítica em relação às outras teorias 
(das duas culturas/diferença e do deficit) à medida que propõe a reflexão sobre o papel 
do discurso feminino frente ao masculino hegemonicamente construído. 
 Nesta teoria, as autoras acreditam que não existem problemas culturais que sinalizem 
problemas discursivos entre os sexos. O problema é da dominação/dominância e/ou 
poder. 
Lakoff (1975) considera que a fala da mulher seria caracterizada por implicatórias 
conversacionais. A autora atribui características próprias ao “falar” feminino, como por 
exemplo, ser menos assertivas ao comunicar-se. Além disso, a fala da mulher também 
seria marcada por formas de polidez como, por favor, muito obrigada. Sob o ponto de 
vista comunicativo, a autora considera a fala feminina como hesitante, trivial, educada e 
incerta. Ao falar como uma dama, por exemplo, a mulher seria vista como insegura e 
incapaz de participar de discussões sérias. A autora estabelece relações entre a natureza 
da fala da mulher com a falta de poder da mesma na sociedade norte-americana, por 
exemplo. 
3.1.3. Teoria das duas culturas (da diferença) 
 A teoria das duas culturas (ou paradigma da diferença) originou-se nos estudos da 
linguística antropológica em que vários estudiosos contribuíram para constituir essa 
proposta sobre a natureza da fala feminina em contraposição à masculina. 
 Esta seção baseia-se nos estudos de Tannen (1994,1996). Pressupõe que as diferenças 
sociais levam a culturas comunicativas diferenciadas em função do género dos falantes. 
Haveria, assim, diferentes culturas de fala nos estilos conversacionais de homens e 
mulheres. 
 Revela, ainda, que os problemas de comunicação entre os sexos se dão por homens e 
mulheres pertencerem as diferentes subculturas sociolinguísticas, tendo diferentes 
concepções da conversação e interpretação. As diferenças sociais das necessidades do 
homem e da mulher levam-nos a culturas comunicativas diferenciadas pelo género. A 
origem, por exemplo, seria nas formas de socialização da criança, em que meninas 
brincam em ambientes fechados, em pequenos grupos, dedicando menos tempo aos 
15 
 
jogos, tendo relativa intimidade entre elas e diferentes formas de lidar com o conflito. Já 
no “mundo dos meninos”, as brincadeiras se dão com grupos maiores, em jogos 
competitivos, grupos mais organizados, e, a fala, é usada para: 
 Marcar posição de dominação; 
 Atrair e manter a audiência; 
 Afirmar-se quando os outros têm a palavra. 
A indiretividade na fala feminina e a assertividade na fala masculina estariam 
relacionadas a diferenciações de princípios dos relacionamentos do ponto de vista do 
género: a intimidade e a independência. 
 Para Tannen (1994, 1996), essas diferenças podem dar ao homem e à mulher diferentes 
visões da mesma situação. O estilo de fala da mulher seria mais indireto, seja em termos 
da indiretividade conversacional ou da indiretividade por implicatórias, em função da 
inferência conversacional. 
4.2.Teorias não-essencialistas 
 A partir dos anos noventa, novos debates surgem com o objectivo de rever as teorias 
essencialistas de género. Defendem uma visão não-essencialista, ou seja, não propõem 
uma correspondência entre as identidades e aspectos da realidade social. 
4.2.1. Teoria performativa ou construcionista 
A crítica sobre a visão realista de género, em que existe uma correspondência entre 
identidade e alguns aspectos da realidade social. Género seria, um atributo variável, 
expresso em comportamentos linguísticos, práticas e/ou acções em contextos sociais 
particulares. A fala não seria apenas um veículo para manifestar propriedades 
essenciais: alguém fala de determinada forma por ser homem ou mulher. 
 O autor apresenta uma nova abordagem – a vez do obstrucionismo – em oposição às 
teorias essencialistas, em que género seria manifestado nas actividades cotidianas e nas 
práticas comunicativas. Mclvenny (2002: 02). Ele também propõe a pesquisa do uso da 
linguagem em relação à orientação sexual e à formação de identidades sexuais. 
 
16 
 
5. Conclusão 
Conclui que enquanto Psique dormia, Cupido derrama, então, algumas gotas de água da 
fonte amarga sobre os lábios da jovem, embora ao vê-la quase fora tomado de piedade; 
depois, tocou-a de lado com a ponta de sua seta. Ao contrário, Psique acordou e abriu os 
olhos diante de Cupido (ele próprio invisível), que, perturbado, feriu-se com sua própria 
seta, isto significa que o destino natural das mulheres era ser mãe, esposa, e dona de 
casa, marcado pela maternidade, casamento e dedicação ao lar, foi profundamente 
revolucionado no século XX. É nesse contexto que as feministas se viram frente ao 
desafio de demonstrar que não são características anatómicas e fisiológicas que definem 
as diferenças entre as desigualdades de género, mas a militância pelos direitos 
igualitários entre os seres humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
6. Referências bibliográficas 
. 
Beauvoir S. (2016) O segundo Sexo: a experiência vivida, volume2 - 3. ed. – Rio de 
Janeiro. 
Cisne (2015) Feminismo e consciência de classe no Brasil – São Paulo. 
Heilborn, Maria (1999) Estudos de Género Brasil. .. 
Oliveira (1992) Uma questão de género Rio de Janeiro. 
Scott (1978) Género: uma categoria útil para a análise histórica são Paulo.

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