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Construção social da opressão de gênero capítulo 1

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Construção social da opressão de gênero capítulo 1 • 
 Construção social da opressão de gênero A opressão de gênero é uma construção histórica e social que vai depender de cada cultura e não ocorre concomitantemente, ainda que haja uma influência das lutas internacionais no panorama brasileiro. Na primeira onda do movimento feminista, as mulheres vão lutar pelo direito ao voto, uma questão de conquista da cidadania política. Num segundo momento, o movimento vai discutir o papel da mulher na família, baseado no patriarcado, e uma das formas mais opressoras de subordinação feminina ao masculino; a economia vai influenciar na divisão do trabalho e, consequentemente, do exercício do poder e a política revelará que até os dias atuais, a construção da cidadania de gênero em seus aspectos social, político e ambiental não ocorreu da mesma maneira para os gêneros e existem comprovadamente preferências, preconceitos e desrespeitos à diversidade. Este capítulo traz as contribuições teóricas dos autores que pensaram e escreveram sobre essa temática, como Raewyn Connell, Luce Irigary, Joan Scott, Simone de Beauvoir, Judilh Buttler, Guacira Lopes Louro, Heleith Safiotti, Alda Britto da Motta, Célia Regina Raul Pinto e outras. Eles vão nos fazer refletir sobre a história da opressão, que é construída socialmente, no exercício do poder entre o opressor e o oprimido e na distribuição não equitativa dos papéis de gênero, inclusive delimitados pela família, pela escola e pelo estado. Para além do conceito biológico/binário de gêneros, a terceira onda vai ampliar para uma categoria de análise fluida e mutável. A discussão sobre o intersexo, o transexo, transcende a característica biológica, e vai refletir sobre o comportamento e o pensamento das pessoas que estão para além do conceito binário. Essas pessoas estão em família, na sociedade, nas escolas, nos mais variados espaços.
 OBJETIVOS • Analisar as manifestações feministas contra a opressão de gênero; • Caracterizar gênero como uma categoria analítica; • Conceituar gênero, sexo e sexualidade; • Indicar filmes do ponto de vista de gênero, da história de luta e opressão. capítulo 1 • 9 As origens da opressão sexista. Construção social e biológica do ser homem e ser mulher. A opressão do sexo feminino foi denunciada em diversos momentos e movimentos de luta e de manifestações políticas do feminismo, através das três ondas, marcadas pela liberdade de expressão nas manifestações nos espaços públicos. No século XVIII, já se encontra história sobre a luta pela igualdade entre os sexos através das “precursoras do feminismo estão Olympe de Gouges, com a “Declaração dos Direitos da Mulher” de 1791, e Mary Wollstonecraft, com seu livro “Reivindicação dos direitos da mulher” de 1792. Em suas obras, ambas questionavam a falta de acesso das mulheres à educação e a impossibilidade do exercício pleno da cidadania” (DEIFELT, 2003, p. 171) O movimento feminista ocorre no século XX, onde escritoras se destacam, mas o movimento feminista de fato é mais recente. AUTORA A autora da Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne (Declaração dos direitos da mulher e da cidadã) é Marie Gouze, mais conhecida como Olympe de Gouges (1748-1793). Em 1793 ela foi guilhotinada em Paris. E a condenação deveu-se ao fato de ela ter-se oposto aos conhecidos revolucionários Robespierre e Marat, que a consideraram mulher “desnaturada” e “perigosa demais”. Ao ser conduzida à morte, Olympe de Gouges teria afirmado: “A mulher tem o direito de subir ao cadafalso; ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna”. Foi com o nome de Olympe de Gouges que esta filha de um açougueiro do sul da França assinou suas dezenas de peças de teatro e panfletos, revelando e propalando o seu entusiástico apoio à Revolução Francesa (1789). Dois anos depois da Revolução, em 1791, Olympe de Gouges ousa propor uma Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, com uma dedicatória à Rainha, Maria Antonieta, esposa de Luís XVI. O documento é encaminhado à Assembleia Nacional da França, para que fosse aprovado, como havia ocorrido com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (agosto de 1789). Fonte: . © WIKIMEDIA.ORG capítulo 1 • 10 LEITURA Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher, cujo título original em inglês é A Vindication of the Rights of Woman: with Strictures on Political and Moral Subjects (1792), escrito por Mary Wollstonecraft, uma proto-feminista britânica do século XVIII, é uma das primeiras obras de filosofia feminista. Nele, Wollstonecraft responde aos teóricos da educação e política do século XVIII que não acreditam que as mulheres devem ter acesso ao sistema educacional, argumentando que as mulheres devem ter uma educação compatível com a sua posição na sociedade, que as mulheres são essenciais para a nação, porque educam seus filhos e poderiam ser "companheiras racionais" para seus maridos, ao invés de meras esposas. Em lugar de ver as mulheres como enfeites para a sociedade, ou uma propriedade a ser negociada no casamento, Wollstonecraft afirma que elas são seres humanos merecedores dos mesmos direitos fundamentais fornecidos aos homens. Wollstonecraft foi impelida a escrever os Direitos da Mulher depois de ler o relatório de 1791 feito por Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord para a Assembleia Nacional Francesa, o qual afirmava que as mulheres só deveriam receber uma educação doméstica; ela usou seu comentário sobre este evento específico para lançar um amplo ataque contra as desigualdades de gênero e contra os homens por encorajarem as mulheres a se entregarem aos excessos emocionais. Wollstonecraft escreveu a obra às pressas para responder diretamente aos eventos em curso; tinha a intenção de escrever um segundo volume mais profundo, mas morreu antes de concluí-lo. Enquanto Wollstonecraft põe a igualdade entre os sexos em determinadas áreas da vida, como a moralidade, ela não afirma explicitamente que homens e mulheres são iguais. Suas declarações ambíguas a respeito da igualdade entre os sexos, desde então, tornaram difícil classificar Wollstonecraft como uma feminista no sentido moderno, particularmente porque a palavra e o conceito ainda não existiam na época. Embora seja comumente assumido que os Direitos da Mulher foi recebido de forma desfavorável, isto é um equívoco moderno baseado na crença de que Wollstonecraft foi tão criticada durante sua vida como ela foi depois da publicação de Memoirs of the Author of A Vindication of the Rights of Woman (1798), do seu marido William © WIKIMEDIA.ORG capítulo 1 • 11 Godwin. A obra de Wollstonecraft foi realmente bem recebida quando foi publicada pela primeira vez em 1792. Um contemporâneo chamou-o de "talvez o livro mais original do século". Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Uma_Reivindica%C3%A7%C3%A3o_pelos_Direitos_da_Mulher “Saindo de casa”, uma metáfora para explicar que as mulheres vão conquistando outros espaços, como o direito ao voto, ao Cadastro de Pessoa Física (até então utilizava o CPF do marido, porque não tinha o seu registro próprio), a liberdade de escolha do casamento e a independência financeira. Saffioti (1997) afirmou que a partir do momento em que os homens criam regras diferentes para as mulheres, eles as obrigaram a cumpri-las, senão seriam potencialmente transgressoras dessas normas. Num primeiro momento, nas décadas de 20 e 30 do século XX nos Estados Unidos, a luta feminista foi pelo voto. No Brasil, as mulheres adquirem o direito ao voto no governo de Getúlio Vargas em 1932. Esse direito foi de votar e não para ser votada, o que consiste em uma luta atual e muito desigual, facilmente identificada pelo mapeamento de quantas mulheres ocupam cargos eletivos no país. CURIOSIDADE Apenas uma única mulher ascendeu ao Poder Executivo Federal, cargo máximo de um dos três poderes, em 1º. de janeiro de 2011, a Presidente Dilma Vana Rousseff, sendo reeleita em 2014. Para refletir sobre a luta das mulheres contra a opressão e hegemonia masculina, os movimentos feministas foram se organizando em várias épocas e em diversospaíses em busca de algo para além da igualdade, em busca de uma identidade própria, de gênero, que contasse a história das manifestações libertárias dos estigmas da subordinação, da inferioridade de raça, de cor, de gênero. Movimento feminista: as três ondas Na época da primeira onda feminista, século XIX e início do século XX, começa com tímidas e restritas manifestações pontuais que não representava a capítulo 1 • 12 totalidade dos anseios que se contextualiza na modernidade, segundo Guacira Louro, os objetivos traçados eram relacionados a interesses particulares de um grupo específicos de mulheres. Seus objetivos mais imediatos (eventualmente acrescidos de reivindicações ligadas à organização da família, oportunidade de estudo ou acesso a determinadas profissões) estavam, sem dúvida, ligados ao interesse das mulheres brancas de classe média, e o alcance dessas metas (embora circunscrito a alguns países) foi seguido de uma certa acomodação no movimento (LOURO,1999, p. 15) Numa segunda onda do movimento feminista ou Neofeminista, preocupa-se e defende a libertação da mulher, para além das fronteiras da igualdade entre o feminino e o masculino, através do movimento para libertação da mulher (1960 – 1980), das obras de Catharina Halkes (1985) e dos estudos sobre masculinidade (1980 -1990). Esse discurso da segunda onda do movimento feminista coaduna-se com a ideia da modernidade. Então ser moderno significa viver uma vida de paradoxo e contradição. É sentir-se fortalecido pelas imensas organizações burocráticas que detêm o poder de controlar e frequentemente destruir comunidades, valores, vidas; e ainda sentir-se compelido a enfrentar essas forças, a lutar para o seu mundo transformando em nosso mundo. É ser ao mesmo tempo revolucionário e conservador: aberto a novas possibilidades de experiência e de aventura, aterrorizado pelo niilista ao qual tantas das aventuras modernas conduzem, na expectativa de criar e conservar algo real, ainda quando tudo em volta se desfaz (BERMAN,1994, 13- 14). Na década de 70, o movimento feminista de segunda onda ou fase amplia a luta pelos direitos, além da igualdade de direitos políticos, agora sociais, como os trabalhistas, e de liberdade sexual, ampliando a discussão sobre gênero, e não mais o binarismo biológico sexista de macho ou fêmea, ou do masculino e do feminino, como uma distribuição social de papéis em razão da biologia do sexo. A discussão sobre gênero como uma categoria analítica, no sentido de compreender as imposições às mulheres, ao longo da história, de uma subordinação em relação aos homens, que gerou desigualdade e compartimentalização bem definida dos papéis sociais. O termo “identidade de gênero” foi usado pela primeira vez pelo psicanalista Robert Stoller, em 1964. E algumas autoras foram fundamentais para impulsionar os movimentos feministas de segunda onda, destacam-se: Gloria Jean capítulo 1 • 13 Watkins, Heleieth Iara Saffioti, Joan Scott, Betty Friedan, Nancy Fraser, Juliet Mitchell etc. Num plano internacional, em 1975, ocorreu a I Conferência Internacional da Mulher, no México, em que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou os próximos dez anos como a década da mulher (1975-1985). Os movimentos de mulheres e os movimentos feministas transcendem o espaço doméstico para denunciar a violência contra as mulheres, consequência da opressão vivida por causa da subordinação, percebida como uma questão cultural e política. Por isso é explorado o conceito de patriarcado para justificar esse vínculo. Na década de 1970, e também nos fins da anterior, especialmente as conhecidas como radicais, prestaram um grande serviço aos então chamados estudos sobre mulher, utilizando um conceito de patriarcado {...}sendo sua intenção bastante política, ou seja, denunciar a dominação masculina e analisar as relações homem-mulher delas resultantes (SAFFIOTI, 2015, p.101). Mais que isso, buscava-se uma identidade para cada gênero, bem como uma identidade para cada sexo e a construção dessas relações e inter-relações. Os conflitos ficam cada vez mais acirrados, pautados no patriarcalismo, na dominação masculina durante séculos, da única voz e decisão final do homem, das escolhas de profissão e de casamento, da única economia doméstica, das rodas de conversas e dos espaços públicos serem predominantemente masculinos. Constata-se através de fatos, a histórica subordinação feminina ao poder masculino exercido primeiro pelo pai, depois pelo marido. Até 1977, o casamento civil não se dissolvia, por falta de legislação que amparasse tal propósito. A Lei 6.515 de 1977, mais conhecida como a Lei do Divórcio, foi promulgada e publicada para regularizar primeiro o desquite, para depois o divórcio. Um grande avanço para a mulher que não era mais obrigada a permanecer no casamento escolhido pelo seu pai. Ainda em 1977, a homossexualidade era tratada como homossexualismo, doença, com número de CID (Cadastro Internacional de Doença) 10 F 65, até revisão realizada em 1990, que retirou a homossexualidade do CID. Quando afirmamos que as identidades de gênero e as identidades sexuais se constroem em relação, queremos significar algo distinto e mais complexo do que oposição entre dois polos; pretendemos dizer que as várias formas de sexualidade e de gênero são interdependentes, ou seja, afetam umas às outras (LOURO, 1999, p. 49). capítulo 1 • 14 Em 1975, Gayle Rubin discute em seu livro “O tráfico das mulheres: notas sobre a economia política do sexo” os conceitos de sexo e de gênero, definindo o sistema sexo/gênero como o conjunto de arranjos através dos quais uma sociedade transforma a sexualidade biológica em produtos da atividade humana (PISCITELLI, 2001, SANTANA, 2016). O conceito de gênero começou a ser desenvolvido como uma alternativa ante o trabalho com o patriarcado. Ele foi produto, porém, da mesma inquietação feminista em relação às causas da opressão da mulher. A elaboração desse conceito está associada à percepção da necessidade de associar essa preocupação política a uma melhor compreensão da maneira como o gênero opera em todas as sociedades, o que exige pensar de maneira mais complexa o poder (PISCITELLI, 2001, p. 11). Há que se considerar o conceito de gênero aplicado a várias relações desiguais de poder para explicar a opressão, justificar os movimentos de mulheres e movimentos feministas. A terceira onda dos movimentos feministas surge num período político e econômico conturbado, com o mercado globalizado transnacional, flexibilizações trabalhistas, recuo dos movimentos sociais que encontram um panorama repressivo ideológico e econômico desfavorável para os avanços na luta que já tem uma história construída. Formada por algumas autoras da segunda onda, nasceu o “pós-feminismo” ou “feminismo da diferença” que estabeleceu um paralelo crítico ao caráter universal, monolítico e generalizante da segunda onda. A terceira onda elabora uma teoria fluida, particular e flexibilizada, rechaçando o estruturalismo e focando no micropoder e na micropolítica. Objetivando desestabilizar o conceito de gênero enquanto categoria imutável e fixa. Há uma reafirmação das lutas feministas, e se destacam autoras como Susan Bordo, Elizabeth Grosz, Judith Butler e Donna Haraway na produção intelectual, formulando novas categorias de análise à dominação masculina na atualidade e propõem a ressignificação dos gêneros numa perspectiva pós-identitária, como a Teoria Queer. Várias foram as contribuições da terceira onda para o feminismo, a exemplo do questionamento do enclausuramento fechado do conceito de gênero, da contestação expressa à heteronormatividade, a construção dos corpos, o transfeminismo e a sexualidade - a expressão “pós-feminismo” e a ideologia da negação de uma revolução estrutural concede interpretação de que não há mais uma razão política do lutar coletivo feminista, vez que a igualdade formal estaria satisfeita e bastaria capítulo 1 • 15 a mulher, individualmente, buscar a satisfação de sua liberdade plena, centralizada na sexualidade ou no poder de consumo. Assim,notam-se alguns avanços significativos como a percepção dos recortes de classe e raça e o avanço do feminismo para além das mulheres brancas e de classe média, abandonando as relações estruturais voltadas apenas para o patriarcado e o machismo, que assumem com o racismo e com a exploração capitalista um novo centro. Uma crítica ao movimento é a de que a libertação jamais ocorre de maneira individual e fechada, mas prescinde da organização e da superação de qualquer forma de violência e subordinação de todas as mulheres e não apenas àquelas que “decidem” ou “querem” ser livres no plano pessoal. O feminismo negro norte-americano surgiu, nessa perspectiva de resistência e organização, quando teóricas e militantes afrodescendentes como Patricia Hill Collins, bell hooks, Kimberle Crenshaw e Audre Lorde pontuaram que o feminismo tradicional não conseguia responder aos anseios das mulheres negras porque reduzia a categoria mulher a uma identidade única e fixa. Na direção contrária, as mulheres negras apontavam a interseccionalidade como uma estratégia analítica necessária para uma melhor compreensão do entrelaçamento entre as múltiplas identidades - de gênero, racial, de classe, de orientação sexual etc. - passíveis de serem assumidas por um indivíduo ou grupo (MALTA; OLIVEIRA, 2016, p. 58). No terceiro capítulo deste livro será abordado o movimento feminista negro iniciado nos Estados Unidos que vai questionar o seu lugar dentro do gênero. Além da repercussão e identificação no Brasil numa fala contemporânea como novo objeto de estudo de discussão. Breves considerações sobre o Movimento Feminista no Brasil No Brasil, a primeira onda do feminismo acompanhou a luta internacional pelo direito das mulheres ao voto. O movimento Sufragetes, foi liderado por Bertha Lutz, que estudou no exterior e retornou ao Brasil em 1910. Foi uma das fundadoras da Federação Brasileira do Progresso Feminino, que levou ao Senado Federal, em 1927, um abaixo-assinado pelo direito ao voto da mulher, sendo conquistado em 1932 (PINTO, 2010, p. 16). Outro movimento de significativa importância foi das operárias de ideologia anarquista, reunidas na “União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas”, em 1917, chamando atenção para as precárias condições de trabalho nas fábricas capítulo 1 • 16 e nas oficinas, perdendo força na década de 30, retomando na década de 60 (PINTO, 2010). O movimento feminista amplia seus anseios e lutas libertárias, depois do voto, dos direitos trabalhistas, da igualdade de direitos entre homens e mulheres, as mulheres querem o direito a decidir sobre sua vida e seu próprio corpo, envolvendo questões como aborto e liberdade sexual. Apesar de que no Brasil ocorreu tardiamente e não acompanhou a época europeia e americana, por causa do regime militar na década de 60 implantado como um golpe de estado, adiando os planos das feministas de reivindicação pela liberdade e igualdade. Betty Friedan lança em 1963 o livro que seria uma espécie de “bíblia” do novo feminismo: A mística feminina. Durante a década, na Europa e nos Estados Unidos, o movimento feminista surge com toda a força, e as mulheres pela primeira vez falam diretamente sobre a questão das relações de poder entre homens e mulheres. O feminismo aparece como um movimento libertário, que não quer só espaço para a mulher – no trabalho, na vida pública, na educação –, mas que luta, sim, por uma nova forma de relacionamento entre homens e mulheres, em que esta última tenha liberdade e autonomia para decidir sobre sua vida e seu corpo. (PINTO, 2010, p.16) O movimento feminista de segunda onda no Brasil é marcado por uma reação contra o patriarcado, conceito criticado e estigmatizado como sendo um movimento de mulheres brancas, heterossexuais e de classe média, que se encontravam numa condição opressora de subordinação doméstica, primeiro aos seus pais e, em seguida, aos seus esposos. Acompanhando a terceira onda do feminismo no Brasil, foram criados ao longo das duas últimas décadas temas transversais de opressões e o reconhecimento das sujeitas protagonistas de sua transformação a partir de uma identidade comum, como é o caso das mulheres negras (Rede de Mulheres Negras), lésbicas (Articulação Brasileira de Lésbicas – ABL), transexuais (transfeminismo), camponesas (Movimento de Mulheres Camponesas – MMC), da Marcha Mundial de Mulheres que debate a relação entre classe e Gênero etc. Tais movimentos organizam-se principalmente em redes que se descentralizam nas regiões e focam principalmente na reivindicação de políticas públicas com os recortes específicos. A militância feminista chega ao auge no Brasil, na década de 80, com a formação dos Partido dos Trabalhadores e a integração das mulheres na militância coletiva na política reivindicando por direitos trabalhistas e ampliando a discussão. Depois a incorporação dos movimentos LGTB’s nessa luta que capítulo 1 • 17 agrega ideologias já discutidas e agora revisitadas em razão do enfrentamento e da tensão do conceito de gênero. No Brasil, na década de 70, ocorreram dois eventos que marcaram a luta feminista. O primeiro aconteceu em 1975 uma semana de debates sob o título “O papel e o comportamento da mulher na realidade brasileira”, patrocinado pelo Centro de Informações da ONU. No mesmo ano, Terezinha Zerbini lançou o Movimento Feminino pela Anistia, que terá papel muito relevante na luta pela anistia, que ocorreu em 1979. Esse foi o traçado das três ondas dos movimentos das mulheres e movimentos feministas que iniciaram pelo direito ao voto, depois pela rejeição ao patriarcado, rediscutindo o conceito de gênero, por fim, trazendo a questão da interseccionalidade, a mudança de gênero, que transcende a cirurgia de transgenitalização, e se observa a autonomia do outro nascer com um aparelho genital, mas se perceber na essência com o comportamento e a psique do outro gênero. Na terceira onda dos movimentos, também é tratada a questão de raça e de cor, que ficou, durante muito tempo, sem espaço nas discussões acadêmicas, e, para reparar o erro, na contemporaneidade, a discussão transcende as três ondas quanto ao gênero que faz um diálogo com outras categorias como raça, cor, classe, grau de instrução. COMENTÁRIO Tanto o CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria criado em 1989) e a AGENDE (ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento) atuam na esfera da alta política. Já a Articulação da Mulher Brasileira (AMB), criada para preparar a ida das mulheres brasileiras à Conferência Mundial de Pequim em 1995, atua como contraponto, assessorando e organizando os movimentos de base. Outra ONG, formada em 1991, foi a Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos conhecida como Rede Saúde, que congrega 110 filiadas em 20 estados. Cita ainda a Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (CEPIA), a Assessoria Jurídica (THEMIS) e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM). Menciona, como significativa, a página eletrônica do Governo Federal na Internet, uma seção com informações sobre projetos em debate no Congresso Nacional, sobre programas em ministérios e informações em geral relativas aos direitos das mulheres (www.redegoverno.gov.br/ mulhergoverno). Fonte: (PINTO, 2003). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ref/v12n2/23971.pdf capítulo 1 • 18 Conceito de gênero, sexo e sexualidade A construção social sobre gênero, sexo e sexualidade encontra respostas de acordo com o olhar de quem pesquisa e discute sobre a temática. Foucault na obra “História da Sexualidade” adere ao discurso de opressão ao gênero feminino como uma das formas de exercício de poder e que coincide com o desenvolvimento do capitalismo através da força de trabalho, num sistema repressivo de liberdade do que faz, do que se pensa e do que se fala. O discurso sobre sexo constitui à época uma maneira subversiva ao sistema capital. Esse discurso sobre a repressão moderna do sexo se sustenta. Sem dúvida porque é fácil de ser dominado. Uma grave caução histórica e política o protege; pondo a origemda Idade da Repressão no século XVII, após centenas de anos de arejamento e de expressão livre, faz-se com que coincida com o desenvolvimento do capitalismo: ela faria parte da ordem burguesa (FOUCAULT, vol. 1, 1988, p. 10) AUTOR Michel Foucault (1926-1984) foi um filósofo francês, que exerceu grande influência sobre os intelectuais contemporâneos. Ficou conhecido por sua posição contrária ao sistema prisional tradicional. Michel Foucault morreu em consequência das complicações da aids, em Paris, França, no dia 26 de junho de 1984. Fonte: https://www.ebiografia.com/michel_foucault/ Algumas contribuições europeias na defesa do feminismo A morfologia e a semântica do Gênero (Gender) podem ser traduzidas como um substantivo, apenas um termo gramatical, todavia o seu uso para falar de capítulo 1 • 19 pessoas ou criaturas do gênero masculino ou feminino, com o significado de sexo masculino ou feminino, constitui uma brincadeira (permissível ou não, dependendo do contexto) ou um equívoco) (Fowler, Dictionnary of Modern English Usage, Oxford 1940). “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir, filósofa, teve livro publicado em França em 1949, pós-Segunda Guerra Mundial, e faz uma crítica ao determinismo biológico do sexo, às abordagens psicológicas e ao materialismo histórico, trazendo como argumento de que “não se nasce mulher, torna-se mulher”, ampliando a discussão sobre a construção social do ocidente. Feminista, assina o manifesto do Movimento de Libertação da Mulher da França, sendo a favor do aborto, da desconstrução do mito da maternidade, da liberdade como uma circunstância e a não generalização do gênero mulher e de outras questões que envolvem o universo feminino, inclusive a companhia e vivência com outros parceiros (SAFIOTTI, 2000, p. 18). Butler interpreta a noção de gênero para Simone de Beauvoir, como sendo “construído, mas há um agente implicado em sua formulação, um cogito que de algum modo assume ou se apropria desse gênero, podendo em princípio, assumir algum outro” (BUTLER, 2016, p. 28). “O corpo é uma situação”, sendo possível compreender através dos estudos culturais, que está para além do biológico. A crítica que se faz a Simone é pelo fato de se referir à mulher como sendo o outro em comparação com o homem. Ficando subtendida a condição inferior ou subalterna do gênero feminino em relação ao masculino. Num contraponto está Margaret Mead, antropóloga americana, que publicou em 1949, o livro “Macho e Fêmea”, além de “Sexo e temperamento”, onde trouxe a problematização às identidades sexuais a partir de uma perspectiva comparativa e cultural dos papéis masculino e feminino, certamente sob influência do antropólogo cultural Franz Boas, com quem manteve uma relação acadêmica. Trazia para o seu escrito a relação com a maternidade, chamando-a de “mãe natural” numa visão mais mística que científica do sentido da fêmea. ... não temos mais bases para falar desses aspectos do comportamento como sendo determinados pelo sexo... O material estudado sugere que podemos dizer que muitos, se não todos, os traços de personalidade que identificamos como masculino ou feminino são tão determinados pelo sexo quanto as vestimentas, maneiras ou o tipo de chapéu que uma sociedade a um determinado período designa para cada sexo (MEAD, 1968, p.259-260). capítulo 1 • 20 Para refletir sobre o conceito de algo, rompe-se com as estruturas fechadas e imutáveis, desconstruindo-os. Isto não significa abandonar a construção histórica, mas sim de admitir que sempre se tem algo a agregar ao conceito e redefini-lo. Repensar os modelos pré-moldados, pré-conceitos, nas molduras aprisionadas pelas teorias clássicas. Eis a proposta do pós-estruturalismo, romper com os conceitos fechados. CONCEITO O pós-estruturalismo consiste em uma forma de repensar as teorias estruturalistas através de uma desconstrução de conceitos considerados como verdades absolutas e centrais. Segundo Peters (2000), o termo “pós-estruturalismo” tem sua origem nos Estados Unidos e teria surgido para nomear uma prática típica daquele país, baseada na assimilação do trabalho de uma gama diversificada de teóricos. Para alguns autores, o termo mais adequado seria “neoestruturalismo”, enfatizando a ideia de continuidade com o estruturalismo; ou ainda “superestruturalismo” como uma espécie de expressão chave, tendo como base os pressupostos comuns. “Todas essas expressões mantêm como central a proximidade histórica, institucional e teórica do movimento ao estruturalismo” (PETERS, 2000, p. 28). Uma das significativas contribuições encontra-se na pesquisa de Joan Scott, Historiadora, cujas ideias se adequam ao pós-estruturalismo, utiliza o método da desconstrução para rediscutir o conceito de gênero, em seu artigo publicado em 1986, “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, ao fazer uma crítica da sua utilização literal dos dicionários e analisa sob a perspectiva feminista das organizações sociais das relações entre os sexos, ao negar o seu uso com base na distinção biológica entre os sexos, num verdadeiro embate com o determinismo biológico. Gênero precisa ser observado como uma categoria útil de análise histórica, a partir da seguinte questão: o que é ser homem? O que é ser mulher? Associar gênero à questão feminina adveio com o movimento feminista na luta pela igualdade de gênero, todavia a questão do masculino, na mesma proporção, é uma questão de gênero. AUTORA Joan Wallach Scott é uma Historiadora Norte-americana, nascida em 18 dezembro de 1941 no Brooklyn, cujo trabalho, inicialmente dedicado à história francesa (movimento operário e história intelectual) foi direcionado na década de 1980 para a história das capítulo 1 • 21 mulheres a partir da perspectiva de gênero. Ela atualmente ocupa a cadeira Harold F. Linder na Instituto de Estudos Avançados de Princeton. Entre suas publicações mais notáveis está o artigo "Gênero: uma categoria útil de análise histórica", publicado em 1986 no American Historical Review Este artigo, "sem dúvida, um dos artigos mais lidos e citados na história da revista", foi essencial na formação de um campo de história de gênero dentro dos estudos históricos anglo-americanos. O artigo foi traduzido para o português e é referência teórica importante no estabelecimento dos estudos de gênero no Brasil. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Joan_Scott Scott avança no pensamento à época, quando analisa e constitui numa percepção sobre as diferenças sexuais, hierarquizando os sexos, um em relação ao outro, em moldes, que ditam comportamentos sociais, convencionando o que é permitido e o que não é para cada sexo, nas relações sociais, construídas com base em significados e símbolos. Pensar sobre o corpo é perceber a sua estrutura voltada para uma função social. As linguagens e os discursos construídos em torno dessa hierarquização dos papéis sexuais nas relações sociais. Pensar sobre gênero nos faz cair numa armadilha do universal e do relacional. Uma pessoa é de um gênero, porque não é do mesmo gênero que a outra. Não há dúvida que o conceito foi definido, redefinido, redesignado e não se tem uma hegemonia no discurso, porque se faz o cruzamento da categoria com outras categorias. Uma dessas análises aponta o gênero como sendo “uma estrutura de relações sociais na qual as capacidades reprodutivas dos corpos humanos são postas na história, e na qual todos os corpos férteis ou não, são definidos por sua colocação na arena reprodutiva” (CONNELL, 2016, p. 60). Algumas contribuições de pesquisadoras brasileiras na defesa do feminismo Na verdade, não existe um feminismo autônomo, desvinculado de uma perspectiva de classe. Heleieth Saffioti Safiotti publica “A mulher na sociedade de classes” e vai criticar o modo de produção como fenômeno histórico que não surge acabado, porque existem variáveis capítulo 1 • 22 como sociedade e cultura específicas de cada um que vão influenciar na formação das atividades do capital. Além disso, a solidariedade entre os sexos está subordinada à condição de classe de cada um. Este pensamento marca a primeirafase de Safiotti, de meados de 1960 até final dos anos 80, quando faz uma análise do trabalho feminino. A questão do trabalho feminino comparado ao masculino e, em muitas vezes, restringindo-o quer por uma convenção social, disfarçada de incapacidades, sempre ocupou o discurso sobre a opressão do sexo feminino. Implícito ao tipo de atividade laborativa estão os tratamentos, os olhares, os discursos, as vestimentas, os comportamentos, os salários, as jornadas de trabalho etc. A outra fase de Safiotti compreende o início dos anos 90 até final do ano de 2010, voltada para a investigação da violência doméstica. Havendo uma transversalidade entre as fases marcadas pelas variáveis de gênero, raça/etnia e classe social (GONÇALVES, 2011, p.121). Como reconhecer o gênero pela imagem? Como adotar estereótipos do discurso, da cor, das brincadeiras de criança, dos brinquedos e das companhias? O sexo anatomicamente biológico com fisiologias distintas entre o macho e a fêmea, relacionando-se e complementando-se para procriação, é, sem dúvida, objeto de estudo das ciências naturais, todavia, o conceito de gênero ultrapassa o caráter biológico, porque não se tem como explicar um transgênero feminino para o masculino gestar um feto e sentir prazer com o masculino ou o feminino, porque isso vai depender de sua escolha. O caráter bio-psicossocial das nomenclaturas sexo/gênero não se comporta mais em caixas de pandora fechadas e estigmatizadas. A percepção do ser pode ser uma, o sentir, outro e o desejar aqueloutro. Multiplicidade de olhares a partir do próprio indivíduo enquanto ser definido ao nascer e redefinido pelo transformarse. Trata-se de uma escolha íntima de cada um, e que para ser “aceito” ou não pelo seu ser social, é nominado de subversivo ou aquele que não segue padrões e convenções sociais. São essas decisões políticas que também vão apontar para outra direção, como o estudo sobre gerações. Gênero e Gerações são duas variáveis importantes para compreender o contexto das histórias de vida, da dinâmica social, da questão econômica e do comportamento dos indivíduos e sua relação com os demais em relação à idade e ao sexo. São também chamadas de categorias relacionais. Essa análise científica é demonstrada em vários estudos, como (Attias-Donfut, 1988; Delbes & Gaymu, 1993; Balandier, 1977). capítulo 1 • 23 É que historicamente a sociedade, a par de ter-se desenvolvido tendo a idade – e o sexo/gênero – como critérios fundamentais de organização e integração social, principalmente de participação na divisão do trabalho, foi construindo, ao mesmo tempo, formas organizativas outras que redundaram em discriminação, marginalização ou exclusão igualmente baseadas na idade – assim como em critérios relativos ao gênero. E de tal forma que, na modernidade, a vida social apresenta-se impregnada de etarismo (ageism). Tanto quanto de sexismo. Apenas o preconceito/discriminação contra a idade se apresenta de forma menos perceptível, mais sutil que o sexismo, porque mais naturalizado pela evidência dos registros da passagem do tempo nos corpos. E os corpos são de várias idades, em suas diferentes transformações e possibilidades, individuais e sociais. (BRITTO DA MOTTA, 2010, p. 226-7) Num sentido macrossociológico, gerações significa “designa um coletivo de indivíduos que vivem em determinada época ou tempo social, têm aproximadamente a mesma idade e compartilham alguma forma de experiência ou vivência, ou têm a potencialidade para tal” (BRITTO DA MOTTA, 2010, p.229). Esses indivíduos representam o gênero a que pertencem. Numa sociedade patriarcal, os papéis definidos do masculino, do autoritário, do opressor (marxista), de outro lado mais frágil, o feminino, da submissão, da oprimida. Essa geração é facilmente identificada através dos padrões até o século XX. Mesmo com embriões de teoria queer, do transexualismo e demais posições que questionam a pureza da delimitação analítica de gênero. A luta pelo reconhecimento do intersexo Qual a relação entre os termos gênero e intersexo? Gênero é um conceito que surge fora da gramática e da linguística, aproximadamente nos anos 1950, quando o Dr. John Money, da Universidade John Hopkins, o utiliza no estudo da redesignação sexual de pessoas intersexuais. Neste caso, John se pergunta: Se estas pessoas nasceram com genitália ambígua, como é possível que o genital seja fator decisivo na constituição do gênero? Não pode ser. Então, utiliza-se de tal conceito, para designar o resultado de seu tratamento de “reorientação do gênero” das pessoas intersexo. (VIEIRA,2015) capítulo 1 • 24 CURIOSIDADE Primeira pessoa no mundo a conseguir registro civil como gênero neutro, nem homem e nem mulher. Isso ocorreu na Austrália e seu nome é Norrie May-Welby. As pesquisas científicas no campo cultural apontam para uma destruição do conceito binário de gênero, fazendo uma reflexão sobre as “tecnologias de gênero” já inaugurada pelo Oscar Wilde. Diferentemente dos estudos feministas que concentram num sujeito clássico do feminismo “branco”, clássico de classe média, acadêmico e elitista; em confronto com o continnum lésbico de Monique Wittig, proveniente das feministas negras, latinas, operárias e lésbicas. Judith Butler, em “Problemas de gênero”, revisita conceitos postos pelos seus antecessores, a exemplo de Michel Foucault, e discute com o seguinte argumento: Se alguém “é” uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é, o termo não logra ser exaustivo, não porque os traços predefinidos de gênero da “pessoa” transcendam a parafernália específica de seu gênero, mas porque o gênero nem sempre se constituiu de maneira coerente ou consistente nos diferentes contextos históricos, e porque o gênero estabelece interseções com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas (BUTLER, 2016, p.21). Butler traz contribuições sobre a discussão de gênero. Primeiro: a política feminista poderia trazer respostas, uma vez que a observadora é um sujeito na categoria “mulher”? O inconsciente coletivo do universo feminino é uma construção “fantasística” e que nega a complexidade e indeterminação do termo gênero. O que é interessante pensar, quando se atribui certos comportamentos aqueles adotados apenas por mulheres. Como se todas as mulheres tivessem um padrão de comportamento e a discussão sobre gênero fosse apenas relacionada ao feminino. O que não é verdade, porque masculino também é gênero e as pessoas que não se encaixam nesses padrões de gênero, seriam classificadas como? Depois Butler propõe uma construção do agente através do ato, e não o inverso. “É exatamente a construção discursiva variável de cada um deles, no e através do outro” (BUTLER, 2016, p.246) Assim o sujeito tem uma existência anterior à capítulo 1 • 25 cultura que ele vive ou que passa, assim “cultura” e “discurso” são variáveis que irão influenciar a identidade do indivíduo. A ambientação do sujeito à cultura vai sendo construída com base nas negociações. A ordem do ser de um gênero está fadada ao insucesso, porque as pessoas são diversas e plurais para construir configurações que não são típicas daquele gênero. E como ficariam essas pessoas cujos discursos não são completos nem finitos? Desprovidas de gênero ou encaixadas em outro? No próximo capítulo será ampliada a discussão sobre a interseção entre a opressão de gênero, classe e etnia. MULTIMÍDIA Indicações de Filme O sonho de Wadjda Diretora: Haifaa Al Mansour País de Origem: Arábia Saudita, Alemanha Gênero: Drama Tempo de Duração: 107 minutos Ano de Lançamento: 2013. É o primeiro filme produzido dentro da Arábia Saudita. e, o que é mais marcante, dirigido por uma mulher, Haifaa Al Mansour, num país onde elas sofrem diversas restrições, não podendo nem mesmo conduzir automóveis. Seu roteiro, igualmente escrito por Haifaa, traça um painel agudo de uma sociedade que oprime as mulheres em seu cotidiano de forma assustadoramente onipresente e, o que é pior, com a participação das próprias mulheres. A protagonista é a garotaWadjda (a estreante Waad Mohammed), de 12 anos, cujo comportamento chama a atenção na escola onde estuda por coisas banais, como o fato de ela usar tênis, em vez de sapatos pretos, e eventualmente falar mais alto do que a diretora hussa (ahd) acha aceitável para uma mocinha. Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/2013-05-02/filme-saudita-osonho-de-wadjda-retrata-opressao-feminina-no-pais.html capítulo 1 • 26 As Sufragistas Diretora: Sarah Gavron País de Origem: Reino Unido Gênero: Drama, Histórico Tempo de Duração: 107 minutos Ano de Lançamento: 2015. Numa época em que as mulheres não tinham direitos e voz, foi preciso muito escândalo e muita luta sim, essas mulheres foram presas e hostilizadas por uma sociedade. Hoje, é importante lembrar dessas vozes que já gritaram tanto e que gritam até hoje por direitos. Fonte: http://www.feedyourhead.com.br/2016/03/ 5-filmes-sobre-opressao-luta-e.html Revolução em Dagenham Diretor: Nigel Cole País de Origem: Reino Unido Gênero: Drama, Histórico, Comédia Tempo de Duração: 113 minutos Ano de Lançamento: 2015. A luta das mulheres por melhores condições salariais em um ‘mundo de homens’ é a temática central do filme. as operárias da fábrica da ford de dagenham vivenciam uma rotina desgastante de trabalho, atrelada a condições precárias e longas jornadas. o basta vem em 1968 quando são classificadas como não qualificadas. motivadas por rita o’grady, as mulheres passam a reivindicar a igualdade de direitos em relação aos salários e o fim da discriminação sexual. inicialmente direcionada aos patrões, a manifestação se volta contra o governo em uma luta que foi fundamental para que o parlamento britânico consolidasse o projeto de paridade salarial em 1970. Fonte: http://educacaointegral.org.br/reportagens/16-filmespara-debater-os-direitos-das-mulheres capítulo 1 • 27 Malala Diretora: Davis Guggenheim País de Origem: Estados Unidos Gênero: Documentário Tempo de Duração: 87 minutos Ano de Lançamento: 2015. A menina que desafiou o talibã para ter o direito a estudar! é incrível que com quase cem anos as separando ainda consigamos ver pontos de interseção entre o filme de malala e as sufragistas, ambos os filmes lutam por direitos básicos negados às mulheres. Fonte: http://www.feedyourhead.com.br/2016/03/ 5-filmes-sobre-opressao-luta-e.html O Sorriso de Mona Lisa (Mona Lisa Smile) Diretor: Mike Newell País de Origem: Estados Unidos Gênero: Comédia dramática, Romance Tempo de Duração: 119 minutos Ano de Lançamento: 2004. É um filme americano de 2003 produzido pelo Revolution Studios e Columbia Pictures, dirigido por Mike Newell e escrito por Lawrence Konner e Mark Rosenthal. O título é uma referência à Mona Lisa, uma pintura famosa de Leonardo da Vinci. Recria a atmosfera e os costumes do início da década de 1950. Conta a história de uma professora de arte que, educada na liberal Universidade de Berkeley, na Califórnia, enfrenta uma escola feminina, tradicionalista – Wellesley College, onde as melhores e mais brilhantes jovens mulheres dos Estados Unidos recebem uma dispendiosa educação para se transformarem em cultas esposas e responsáveis mães. No filme, a professora irá tentar abrir a mente de suas alunas para um pensamento liberal, enfrentando a administração da escola e as próprias garotas. O maior desafio para essa professora será fazer com que suas alunas assumam sua identidade cultural como ser social e histórico. Esse filme nos traz a visão mais ampla de novos conhecimentos. capítulo 1 • 28 Rememorando as origens da opressão de gênero FRIEDRICH ENGELS PUBLICA EM 1884 O LIVRO “A ORIGEM DA FAMÍLIA, DA PROPRIEDADE PRIVADA E DO ESTADO” APONTA A ORIGEM DA OPRESSÃO ÀS MULHERES. CONNELL (2016) DESTACA O ASPECTO CULTURAL DESSA EXPLORAÇÃO DE CORPOS, DESENHANDO-O EM DUAS CATEGORIAS: AQUELES CORPOS QUE GERAM LUCROS E AQUELES QUE NÃO DÃO LUCROS. ORIGEM DA OPRESSÃO FOUCALT EM “HISTÓRIA DA SEXUALIDADE” ADERE AO DISCURSO DE OPRESSÃO AO GÊNERO FEMININO COMO UMA DAS FORMAS DE EXERCÍCIO DE PODER E QUE COINCIDE COM O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO ATRAVÉS DA FORÇA DE TRABALHO. Teorias sobre gênero e sexualidade MARGARET MEAD, EM 1949, PUBLICOU O LIVRO “MACHO E FÊMEA”, ALÉM DE “SEXO PROBLEMATIZAÇÃO AS IDENTIDADES SEXUAIS A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA COMPARATIVA E CULTURAL DOS PAPÉIS MASCULINO E FEMININO E TEMPERAMENTO “ESSE DISCURSO SOBRE A REPRESSÃO MODERNA DO SEXO SE SUSTENTA. SEM DÚVIDA PORQUE É FÁCIL DE SER DOMINADO. UMA GRAVE CAUÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA O PROTEGE; PONDO A ORIGEM DA IDADE DA REPRESSÃO NO SÉCULO XVII, APÓS CENTENAS DE ANOS DE AREJAMENTO E DE EXPRESSÃO LIVRE, FAZ-SE COM QUE COINCIDA COM O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO: ELA FARIA PARTE DA ORDEM BURGUESA”. MICHEL FOUCAULT JUDITH BUTLER “AS CONFIGURAÇÕES CULTURAIS DO SEXO E DO GÊNERO PODERIAM ENTÃO PROLIFERAR OU SUA PROLIFERAÇÃO ATUAL PODERIA ENTÃO TORNAR-SE ARTICULÁVEL NOS DISCURSOS QUE CRIAM A VIDA CULTURAL INTELEGÍVEL, CONFUNDINDO O PRÓPRIO BINARISMO DO SEXO E DENUNCIANDO SUA NÃO INATURALIDADE FUNDAMENTAL”. “O SEGUNDO SEXO” DE SIMONE DE BEAUVOIR “NÃO SE NASCE MULHER, TORNA-SE MULHER.” JOAN SCOTT “GÊNERO PRECISA SER OBSERVADO COMO UMA CATEGORIA ÚTIL DE ANÁLISE SOCIAL, A PARTIR DA SEGUINTE QUESTÃO: O QUE É SER HOMEM? O QUE É SER MULHER?” capítulo 1 • 29 ATIVIDADES Essas atividades vão revisitar os objetivos propostos no início deste capítulo. 01. Analise as origens da opressão de gênero, a partir da articulação dos discursos de Donaldson, Connell e Britto da Motta. Os corpos dos homens da classe trabalhadora eram consumidos – estressados, lesionados ou levados à exaustão – num processo que construía a masculinidade hegemônica nas comunidades da classe trabalhadora ao mesmo tempo em que criava lucro para seus empregados (DONALDSON, 1991, apud CONNELL, 2016, p. 56-57) A incorporação do trabalho remunerado na vida das mulheres – ocorrido antes na classe trabalhadora do que nas camadas médias – rompe a ideologia do marianismo. A emergência das mulheres na esfera pública afia questões de subordinação, e a forma da política de gênero muda. Entre as mais privilegiadas, como boa parte do trabalho reprodutivo – trabalho doméstico e cuidados com crianças – é repassado a mulheres da classe trabalhadora. Um padrão do antigo trabalho feminino permite a modernização elitista das relações de gênero. Ainda assim, persiste uma imagem genérica das mulheres como mães. ( CONNELL, 2016, p. 35-36) É que historicamente a sociedade, a par de ter-se desenvolvido tendo a idade – e o sexo/gênero – como critérios fundamentais de organização e integração social, principalmente de participação na divisão do trabalho, foi construindo, ao mesmo tempo, formas organizativas outras que redundaram em discriminação, marginalização ou exclusão, igualmente baseadas na idade – assim como em critérios relativos ao gênero. E de tal forma que, na modernidade, a vida social apresenta-se impregnada de etarismo (ageism). Tanto quanto de sexismo. Apenas o preconceito/discriminação contra a idade se apresenta de forma menos perceptível, mais sutil que o sexismo, porque mais naturalizado pela evidência dos registros da passagem do tempo nos corpos. E os corpos são de várias idades, em suas diferentes transformações e possibilidades, individuais e sociais. (BRITTO DA MOTTA, 2010, p. 226-7) 02. Caracterize gênero como uma categoria analítica a partir da afirmação de Simone de Beauvoir “não se nasce mulher, torna-se” capítulo 1 • 30 03. Conceitue gênero, sexo e sexualidade a partir da afirmação de Vieira: Gênero é um conceito que surge fora da gramática e da linguística, aproximadamente nos anos 1950, quando o Dr. John Money, da Universidade John Hopkins, o utiliza no estudo da redesignação sexual de pessoas intersexuais. Neste caso, John se pergunta: Se estas pessoas nasceram com genitália ambígua, como é possível que o genital seja fator decisivo na constituição do gênero? Não pode ser. Então, utilizase de tal conceito, para designar o resultado de seu tratamento de “reorientação do gênero” das pessoas intersexo. Anexo Declaração dos direitos da mulhere da cidadã Para ser decretada pela Assembleia Nacional nas suas últimas sessões ou na próxima. Preâmbulo As mães, as filhas, as irmãs, representantes da nação, reivindicam constituíremse em Assembleia Nacional. Considerando que a ignorância, o esquecimento ou o menosprezo dos direitos da mulher são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção no governo, resolveram expor, em uma declaração solene, os direitos naturais inalienáveis e sagrados da mulher. Assim, que esta declaração, constantemente presente a todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; que, sendo mais respeitados, os atos do poder das mulheres e os atos do poder dos homens possam ser a cada instante comparados com o objetivo de toda instituição política; e que as reivindicações das cidadãs, fundamentadas doravante em princípios simples e incontestáveis, sempre respeitem a constituição, os bons costumes e a felicidade de todos. Consequentemente, o sexo superior em beleza e em coragem, em meio aos sofrimentos maternais, reconhece e declara, na presença e sob a proteção do Ser Supremo, os seguintes Direitos da Mulher e da Cidadã. Artigo primeiro A Mulher nasce livre e permanece igual ao homem em direitos. As distinções sociais só podem ser fundamentadas no interesse comum. Artigo segundo O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis da Mulher e do Homem. Estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança, e, sobretudo, a resistência à opressão. capítulo 1 • 31 Artigo terceiro O princípio de toda soberania reside essencialmente na Nação, que nada mais é que a reunião da mulher e do homem: nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que não emane expressamente deles. Artigo quarto A liberdade e a justiça consistem em restituir tudo que pertence a outrem. Sendo assim, o exercício dos direitos naturais da mulher não tem outros limites senão a perpétua tirania que o homem lhe impõe; estes limites devem ser reformados pelas leis da natureza e da razão. Artigo quinto As leis da natureza e da razão proíbem todas as ações nocivas à sociedade; tudo que não é defendido por tais leis, sábias e divinas, não pode ser impedido, e ninguém pode ser constrangido a fazer aquilo que elas não ordenam.
 Artigo sexto A lei deve ser a expressão da vontade geral; todas as cidadãs e cidadãos devem colaborar pessoalmente ou por seus representantes, para a sua formação; ela laerte deve ser igual para todos: todas as cidadãs e todos os cidadãos, sendo iguais frente a ela, devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos, de acordo com sua capacidade, e sem qualquer distinção a não ser por suas virtudes e seus talentos. Artigo sétimo Nenhuma mulher pode ser exceção; ela é acusada, presa e detida nos casos estabelecidos pela lei: as mulheres obedecem, assim como os homens, a esta lei rigorosa. Artigo oitavo A lei só deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada às mulheres. Artigo nono Com toda mulher declarada culpada, deve ser exercido todo rigor da lei. Artigo décimo Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo que sejam de princípio; a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; mas ela deve igualmente ter o direito de subir à tribuna, contanto que suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei. Artigo décimo primeiro A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões constitui um dos direitos mais preciosos da mulher, dado que esta liberdade garante a legitimidade dos pais em relação aos filhos. Toda cidadã pode, portanto, dizer livremente: “eu sou a mãe de um filho que lhe pertence”, sem que um preconceito bárbaro a force a esconder a verdade; sob pena de responder pelo abuso dessa liberdade nos casos estabelecidos pela lei. capítulo 1 • 
32 Artigo décimo segundo A garantia dos direitos da mulher e da cidadã necessita de uma utilidade maior; tal garantia deve ser instituída para vantagem de todos, e não para a utilidade particular daqueles a quem ela foi confiada. Artigo décimo terceiro Para a manutenção da força pública, e para os gastos administrativos, as contribuições da mulher e do homem devem ser iguais; ela participa de todos os trabalhos ingratos, de todas as tarefas pesadas; ela deve, por conseguinte, ter a mesma participação da distribuição dos postos, dos empregos, dos cargos, das dignidades e da indústria. Artigo décimo quarto As cidadãs e os cidadãos têm o direito de verificar por eles mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuição pública. As cidadãs só podem aderir a ela através de uma partilha igual, não apenas nos bens, mas também na administração pública, determinando a quota, o tributável, a cobrança e a duração do imposto. Artigo décimo quinto O conjunto das mulheres, igualada aos homens na contribuição, tem o direito de pedir contas de sua administração a qualquer agente público. Artigo décimo sexto Toda sociedade em que a garantia dos direitos não é assegurada, nem é determinada a separação dos poderes, não tem Constituição; a Constituição é nula se a maioria dos indivíduos que compõem a nação não contribuiu para a sua redação. Artigo décimo sétimo As propriedades pertencem em conjunto ou separadamente a todos os sexos; para cada um, elas constituem um direito, enquanto a necessidade pública, legalmente constatada, evidentemente não o exigir, sob a condição de uma justa e prévia indenização.

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