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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ - LICENCIATURA EM TURISMO NOME: TIAGO ALEXANDRE THOMÉ ANO: 2022 SEMESTRE: 1º COMPONENTE CURRICULAR: LÍNGUA PORTUGUESA Aula 1 – Linguagem e Língua: Conceitos Neste tema, são abordadas a distinção entre linguagem verbal e linguagem não verbal, as principais concepções de linguagem e as implicações dessas concepções no uso da língua. Esses elementos são fundamentais para compreensão da linguagem e de suas interferências no uso da Língua Portuguesa. Este tema tem como propósito a compreensão da diferença entre linguagem verbal e não verbal, as concepções de linguagem que geralmente adotamos, e as consequências de tais concepções no uso cotidiano da língua. Você já parou para pensar em quantos anos estudou a Língua Portuguesa na escola? Sabe a quantidade de regras gramaticais que tentou decorar ou de páginas que escreveu nas aulas de redação? Para muita gente, estudar Português é algo chato, relacionado à decoreba de regras gramaticais ou à produção de textos com pouca conexão com o mundo real da comunicação. Se essa foi a sua experiência, já adiantamos que você é convidado a olhar a Língua Portuguesa de outra forma. Caso sua relação com o idioma ao longo de vários anos na escola tenha contribuído para melhorar o uso da nossa língua, aqui você vai aprender ainda mais. MÓDULO 1 - Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal Vamos começar com a leitura de um poema para pensar um pouco sobre nossa experiência com a Língua Portuguesa. O título do poema é Aula de Português e foi escrito por Carlos Drummond de Andrade. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: Poeta mineiro, foi um dos principais nomes do Modernismo brasileiro. Entre suas principais obras, estão os livros: Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940) e A Rosa do Povo (1945). Um de seus poemas mais conhecidos é No meio do caminho, que tem os famosos versos No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho. AULA DE PORTUGUÊS Carlos Drummond de Andrade A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. O PORTUGUÊS QUE VOCÊ APRENDEU NA ESCOLA AINDA É UM MISTÉRIO, ALGO DISTANTE? O poema apresenta dois tipos de linguagem: a linguagem informal do cotidiano, que não precisa ser aprendida na escola, e a linguagem formal do professor ou dos livros, aprendida na sala de aula. No último verso, isso é resumido na frase “O português são dois”. Assim como Drummond entende que existem duas linguagens (formal e informal), precisamos entender que há diversos tipos de linguagem. Vamos conhecê-los para compreender por que o português é uma das que dispomos para a comunicação. LINGUAGEM VERBAL E LINGUAGEM NÃO VERBAL A linguagem constitui todos os sistemas de sinais ou signos convencionais que nos permite a comunicação. Mas, espera... Signo? O que é isso? Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há diferentes tipos de linguagem. A linguagem humana, por exemplo, pode ser verbal e não verbal. Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal. O semáforo é outro exemplo de linguagem não verbal. Vejamos mais detalhes sobre a relação das linguagens verbais e não verbais na galeria a seguir: LÍNGUA E LINGUAGEM VERBAL SÃO TERMOS CORRESPONDENTES. A partir da caracterização da linguagem verbal como uma linguagem humana que utiliza a palavra, perceba que a língua é um tipo de linguagem, mas ela não é a única linguagem de que dispomos. Ou seja, a língua é uma linguagem humana específica, baseada na palavra. EXPRESSÃO CORPORAL? LINGUAGEM MUSICAL? A música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que pertencem a outro tipo de linguagem humana, já denominada aqui como linguagem não verbal. Por isso, são comumente usadas expressões como linguagem da música, linguagem corporal, linguagem pictórica> etc. ASSOCIAÇÃO INERENTE “Que outro ser tem gestos significativos, pinta, fotografa, faz cinema? Compreende- se, assim, que o homem e a linguagem se relacionam de forma a não se conceberem um sem o outro e que a linguagem está indissoluvelmente associada com a atividade mental humana, a qual, absolutamente, não se manifesta só pelo verbal” (PALOMO, 2001). INTEGRAÇÃO ENTRE AS LINGUAGENS VERBAL E NÃO VERBAL Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem verbal (a fala) e da linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.). A história em quadrinhos é outro exemplo de integração de linguagem verbal e não verbal. A distinção entre linguagem verbal e não verbal não deve levar você a concluir que a comunicação acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de linguagem. LINGUAGEM PICTÓRICA: Linguagem pictórica é toda e qualquer manifestação de linguagem imagética – fotografia, pinturas, desenhos, iluminuras – que possuem características singulares em relação ao duplo processo de produção e reprodução da própria produção. O texto representado pelas figuras que marcam e estruturam para nós significados são, no limite, a linguagem imagética. LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA: Com as tecnologias digitais e a internet, essa integração entre linguagem verbal e não verbal fica muito evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons e outros recursos para interagir nas redes sociais. É cada vez mais comum trocarmos mensagens em que a escrita se mistura com emojis ou emoticons. Este material didático é um exemplo de integração entre diferentes tipos de linguagem, articulando texto escrito com vídeo, podcast, imagens e símbolos. Tudo isso é possível por causa de outra integração: convergência entre diferentes mídias formando o que tem sido chamado de hipermídia. É como se o livro impresso, o rádio, a televisão e o computador estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim, hoje em dia, fala-se de uma linguagem hipermidiática, um bom exemplo dessa integração de linguagem verbal e não verbal. É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos de comunicação. Mas você deve reconhecer que a linguagem não verbal está associada intimamente a nossas atividades e possui também sua relevância. Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa num texto escrito também dizem muito e, às vezes, até contradizem o que falamos ou escrevemos. Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca os olhos num ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas ou balança pernas e pés num movimento frenético. Dificilmente essa pessoa vai convencer o outro de que está calma. Assim, ao fazermos a distinção entre linguagem verbal e não verbal não queremos sugerir que apenas uma delas seja importante e precise ser cuidada. Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinais ou signos, que permitem a comunicação entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na palavra escrita ou oral, ele é identificado como linguagem verbal. Os demais tipos de signos formam outro conjunto de linguagens denominado linguagem não verbal, como é o caso da pintura e dos gestos. A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se intensificou com as tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática. MÓDULO 2 - Reconhecer as três principais concepções delinguagem Depois de fazer a distinção entre linguagem verbal e não verbal, é hora de prosseguir e apresentar as três principais concepções de linguagem. Veja quais são elas a seguir. LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO De acordo com essa concepção, a linguagem corresponde a uma expressão que se constrói no interior da mente e tem, na exteriorização, apenas uma tradução. A linguagem é entendida como uma forma de expressar pensamentos, sentimentos, intenções, vontades, ordens, pedidos etc. Nessa forma de entender a linguagem, a intenção de expressar alguma coisa é um ato monológico. Isso quer dizer que a enunciação ou o ato de fala (o modo como nos expressamos) está centrado na pessoa que se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta importância ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece. MONOLÓGICO: O uso do termo monológico (mono = um, único; logos = discurso racional) não se apresenta como a fundamentação de um tipo de teoria da comunicação, que defende o discurso como ato centrado apenas no emissor da fala. Apenas quer mostrar que, nesta concepção da linguagem, tal ato ainda está centrado na necessidade individual de se comunicar. O USO DA LÍNGUA É VISTO COMO ALGO QUE SE LIMITA A QUEM FALA OU ESCREVE. Não há preocupação sobre como o outro vai ler ou ouvir nossa mensagem. Assim, a exteriorização do “pensamento por meio de uma linguagem articulada e organizada” depende da capacidade de organizar, de maneira lógica, esse mesmo pensamento (TRAVAGLIA, 2003, p. 21). Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e escrever bem conforme a gramática normativa) depende das regras às quais o pensamento lógico deve estar sujeito. Dessa forma, se as pessoas não se expressam bem ou não usam a língua corretamente, isso acontece porque elas não estão pensando corretamente. A solução, então, para expressar adequadamente o que se está pensando é a internalização das regras gramaticais e de seu adequado uso. Mas há um problema: esta concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a linguagem funciona, pois há outros aspectos envolvidos além da intenção de exteriorizar o que pensamos. Não é o caso de afirmar que a concepção está errada. Precisamos avançar e verificar outras formas complementares de compreender a linguagem. LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO A linguagem deve ser compreendida além de sua função de expressar o que pensamos ou sentimos, pois, ao nos expressarmos, nos dirigimos a alguém, ou seja, comunicamos algum tipo de mensagem para uma ou mais pessoas. Por isso, há outra concepção de linguagem que compreende a língua, por exemplo, como um código por meio do qual elaboramos nossas mensagens para serem comunicadas. A língua é tomada predominantemente como um código, que deve ser utilizado com eficiência, ou seja, deve tornar inteligível a mensagem que se quer comunicar, levando o receptor a responder adequadamente ao objetivo da comunicação. CÓDIGO: O código é entendido como “um conjunto de regras que permite a construção e a compreensão de mensagens. É, portanto, um sistema de signos. A linguagem é, por conseguinte, um dentre outros códigos (código marítimo, código rodoviário)”. Dentre todos os outros códigos, a linguagem verbal, seja escrita ou oral, é o único código que “pode falar dos próprios signos que os constituem ou de outros signos” (VANOYE, 1987). Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua ou outro, precisa ser conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor para que a comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria língua, “é um ato social, envolvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”. Por isso, “é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22). A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem, porém, uma limitação. É uma concepção centrada no código, ou seja, voltada principalmente para o funcionamento interno da língua ou de outra linguagem utilizada, deixando de lado aspectos como a relação entre a linguagem e o contexto social e histórico. Por isso, você precisa conhecer outra concepção de linguagem, que permita avançar na compreensão da linguagem e seus usos. LINGUAGEM COMO LUGAR OU EXPERIÊNCIA DE INTERAÇÃO HUMANA Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do pensamento e, também, vai além da transmissão de informação ou da comunicação. Ao usar a língua, o indivíduo realiza ações, age, atua sobre o interlocutor. A linguagem, aqui, é um “lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23). Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente alguma coisa, na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores “interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23). Para ilustrar, veja um exemplo: Todos já observaram uma situação em que a identificação apenas da linguagem oral entre dois sujeitos corresponderia a um ato comunicativo direto. No entanto, notamos que a interação social faz com que aquilo que é dito seja muito maior. Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos mãe e filha interagindo, em que a primeira faz referência ao comportamento da segunda, com uma ordem direta. A reação da filha cria em nós, observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e interações que nos remetem à própria relação familiar. TUDO QUE FALAMOS E OUVIMOS TEM O PODER DE PROVOCAR REAÇÕES, PRODUZIR MUDANÇAS, DESPERTAR SENTIMENTOS E PAIXÕES, DESENCADEAR PROCESSOS E AÇÕES. Se um agente da lei, dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não está simplesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não é mesmo? Quando consideramos as palavras de um juiz ao proferir essa célebre frase clássica, temos um exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que expressão do pensamento ou comunicação de uma informação. Nesse caso, a fala da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico. O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como interação social, constituindo-se numa dimensão privilegiada do uso da língua. Para estar inserido na vida em sociedade, é preciso que a língua seja utilizada para favorecer a abertura ao diálogo, a interação entre as pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou seja, o que falamos e escrevemos se relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao longo da vida. DIÁLOGO: (Dia = separação, confronto; logos = discurso racional) apresenta-se como a exigência de, pelo menos, dois interlocutores no ato da fala, que é diferente da concepção monológica vista anteriormente. Trata-se, sem dúvida, de apresentar uma intencionalidade por parte daquele que fala. Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para além da sua finalidade de comunicação e da divisão entre linguagem verbal e não verbal. A linguagem pode ser concebida como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e, mais adequadamente, como lugar de interação humana. As três concepções da linguagem podem ser resumidas da seguinte forma: EXPRESSÃO DO PENSAMENTO: 1 - A expressão se constrói no interior da mente; 2 - Ato monológico, individual; 3 - Regras para a organização lógica do pensamento: gramática normativa; 4 - Para quem se fala, em que situação e para que se fala não são preocupaçõesno uso da língua. COMUNICAÇÃO: 1 - Meio objetivo para a comunicação; 2 - A expressão nasce da necessidade de se comunicar; 3 - Troca de mensagens entre emissor e receptor; 4 - Existência de códigos para a eficiência da comunicação; 5 - Preocupação com o meio, o destinatário, a mensagem e a utilização eficiente do código. INTERAÇÃO HUMANA: 1 - Experiência de interação humana; 2 - A expressão é também ação; 3 - Privilegia o diálogo e a interatividade; 4 - Valorização do contexto dos usuários da língua e adequação no uso da língua; 5 - Preocupação com as dimensões afetivas e sociais. MÓDULO 3 - Identificar implicações de diferentes concepções de linguagem no uso do português SOBRE AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para perceber como elas possuem um aspecto prático no uso cotidiano do idioma, compreendemos como a concepção da linguagem como interação pode nos auxiliar nessa construção. Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e nosso humor. O que falamos também provoca efeitos e reações no outro. Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch em seu livro A interação pela linguagem sobre esse aspecto: “DURANTE SÉCULOS, A LINGUAGEM FOI CONSIDERADA UM INSTRUMENTO PASSIVO DE COMUNICAÇÃO, QUE PERMITIA AO SER HUMANO APENAS DESCREVER O QUE PERCEBIA, SENTIA OU PENSAVA. HOJE SE RECONHECE QUE, AO FALAR, O INDIVÍDUO NÃO SÓ DESCREVE O QUE OBSERVA, MAS ATUA NO MUNDO E FAZ COM QUE CERTAS COISAS ACONTEÇAM. POR MEIO DA LINGUAGEM, ELE TAMBÉM PODE MODIFICAR SUAS RELAÇÕES COM OS DEMAIS E DESENVOLVER SUA PRÓPRIA IDENTIDADE. (...) É PRECISO PENSAR A LINGUAGEM HUMANA COMO LUGAR DE INTERAÇÃO, DE CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES, DE REPRESENTAÇÃO DE PAPÉIS, DE NEGOCIAÇÃO DE SENTIDOS, POR PALAVRAS, É PRECISO ENCARAR A LINGUAGEM NÃO APENAS COMO REPRESENTAÇÃO DO MUNDO E DO PENSAMENTO OU COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO, MAS SIM, ACIMA DE TUDO, COMO FORMA DE INTERAÇÃO SOCIAL.” (KOCH, 2003) INGEDORE VILLAÇA KOCH: Doutora em Língua Portuguesa, professora universitária e autora de diversas obras sobre Linguística Aplicada, coerência textual, argumentação e linguagem. AS IMPLICAÇÕES NO USO DO PORTUGUÊS Quando entendemos que a linguagem é mais do que expressão ou espelho do pensamento, que vai além de ser veículo de comunicação, devemos considerar nossas intenções na produção dos textos e o impacto naqueles que vão ouvir ou ler nossas palavras. Também devemos dar atenção ao contexto em que a mensagem é produzida e às possíveis situações em que será recebida. Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns elementos podem ser desejáveis no seu uso: 1 - Clareza e precisão no que queremos comunicar; 2 - Cortesia, polidez e tom cordial; 3 - Abertura ao diálogo; 4 - Sustentação de um posicionamento sem desmerecer a opinião do outro; 5 - Uso de recursos persuasivos. Se queremos manter o diálogo e construir pontes, devemos cuidar da maneira como falamos, escolhendo as palavras e o tom mais apropriado. Por isso, ao estudar a linguagem é preciso compreender que não basta escrever e falar com correção gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral deve promover o diálogo, a interação e as condições para mantermos relações civilizadas. É interessante lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que o candidato pode ser desclassificado ao escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou usando linguagem antissocial e inadequada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a Língua Portuguesa na expressão do nosso pensamento, nas situações de comunicação e nas interações com as pessoas, precisamos conhecer a língua e aproveitar os recursos que ela nos oferece. Aqui, você pôde observar parte desse conhecimento. Use o que você aprendeu para vivenciar novas experiências com a Língua Portuguesa. Aula 2 – Norma Culta e Variação Linguística Conhecimento de variação linguística, seus tipos e ocorrências. Apresentação da norma culta e seu uso na comunicação. Apresentar os diferentes casos de variação linguística e as implicações do conceito de norma culta no uso adequado da língua portuguesa. MÓDULO 1 - Reconhecer diferentes tipos e manifestações da variação linguística no português VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: O QUE É? A língua sofre variações ao longo do tempo, conforme o espaço geográfico, a estrutura social e a situação ou o contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua está sujeita a passar por modificações no tempo e no espaço a fim de satisfazer às necessidades de expressão e de comunicação, individuais ou coletivas, de seus usuários. ISSO É O QUE SE CHAMA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA. Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se levarmos em conta uma situação de comunicação qualquer, teremos alguns elementos que vão apontar para variedades no uso da língua. Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a situação ou com o contexto, conforme o falante e as pessoas que ouvem (interlocutores), o assunto tratado ou a intenção da mensagem. Perceba que a variação linguística corresponde a diferentes ocorrências de uma mesma língua. TIPOS DE VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Sem nos preocuparmos muito com classificações técnicas e exaustivas, próprias da Sociolinguística, podemos dizer que a variação linguística pode ser de, pelo menos, três tipos: SOCIOLINGUÍSTICA: Sociolinguística é uma área da Linguística que trata das relações entre linguagem e sociedade, estudando a função social da linguagem e a influência dos fatores sociais sobre a língua. REGIONAL Variações da língua numa perspectiva geográfica, originando os regionalismos. Manifestam-se, principalmente, pelo sotaque e por palavras ou expressões utilizadas pelos falantes de determinada região. Um exemplo desse tipo de variação são os falares ou dialetos. Veja a diferença entre alguns falares no Brasil: DIALETOS: São variações faladas por comunidades geograficamente definidas. Também denominados “falares” por alguns linguistas. CEARENSE: Êta que esse curso é bem arretado! CARIOCA: Caraca! Esse curso é muito maneiro! MINEIRO: Nossinhora! Esse curso é bom demais da conta, sô! GAÚCHO: Bah, esse curso é tri! As diferentes designações no Brasil para um mesmo referente ou aspecto da realidade é outro exemplo de variação linguística na dimensão geográfica: macaxeira no Nordeste, mandioca em São Paulo e aipim no Rio de Janeiro correspondem à mesma raiz utilizada na culinária nacional. Não podemos afirmar que determinada região do país fala “o português mais correto”. Tal afirmação é falsa, pois o que há são variações da língua portuguesa. A pronúncia do cearense ou do carioca, por exemplo, não é errada ou certa, mas, simplesmente, o modo próprio de articular os sons numa determinada comunidade linguística. Sendo o português uma língua falada por diversas nações, em diferentes continentes, é interessante lembrar que a língua também varia de um país para outro, tanto na fala quanto na escrita. Ainda que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa procure padronizar a grafia das palavras, há alguns aspectos na escrita que são peculiares em Portugal e outros no Brasil. DE REGISTRO Variações relacionadas com modalidades expressivas adotadas por um mesmo falante ou segmento social em função do contexto, do interlocutor e das expectativas sociais. De acordo com Coseriu (1980, p. 110-111), os registros linguísticos, ou estilos, são diferentes porque as situações e os interlocutores diferem muito, bem como as expectativas sociais, influenciadas pela cultura. Por isso, podemos perceber que, além dos registros individuais, háaqueles que expressam a identidade de grupos profissionais ou biológicos (homens, mulheres, jovens, crianças). Os registros ou estilos se classificam em pelo menos três tipos: GRAU DE FORMALISMO Representa uma escala de formalidade no uso dos recursos da língua. Podemos ir de um estilo muito informal e popular (troca despretensiosa de mensagens no WhatsApp, por exemplo) até um excessivo grau de formalidade no uso da língua (redação de um ofício, por exemplo). Simplificando, podemos afirmar que há pelo menos dois registros alusivos à formalidade: formal e informal. Logo, os diferentes estilos corresponderão ao grau de formalismo do contexto comunicativo, determinando as diferentes maneiras de usar a língua. MODO Representa as duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A língua falada pode usar recursos como entonação, ênfase de termos ou sílabas, duração dos sons, velocidade em que se dizem as sequências linguísticas etc. Além disso, a oralidade se caracteriza pelas hesitações, repetições, retomadas, correções e outras marcas que não são comuns à escrita. A escrita tende a ser mais formal e a fala mais informal, embora existam exceções; há textos altamente formais na língua falada e outros extremamente informais na língua escrita. SINTONIA Representa o ajustamento na estruturação das mensagens do falante, com base em informações específicas acerca do ouvinte ou leitor (status do interlocutor, tecnicidade do conteúdo da mensagem, necessidade de cortesia no trato com o outro, norma a ser seguida etc.). Imagine que um profissional da saúde, ao preparar ou orientar uma criança para determinado procedimento, usará um registro ou estilo de linguagem distinto da linguagem usada com um paciente adulto. Com a criança, por exemplo, o vocabulário será mais simples, com algumas palavras no diminutivo, e o tom de voz mais afetivo. Pense em outra situação: você precisa recusar dois convites que recebeu, um da pessoa que você namora e outro do diretor da empresa em que trabalha. Faz sentido usar as mesmas expressões ou estilo ao responder a pessoas com as quais você tem diferentes graus de intimidade? Certamente vamos usar estilos ou registros diferentes. SOCIAL As diferentes formas de falar marcam os grupos sociais ou, até mesmo, a faixa etária de determinado conjunto de pessoas. Ao ouvir alguém falando “percurá” (no lugar de procurar), “iorgute” (em vez de iogurte), “os hôme” (e não os homens) ou “pra mim fazer” (no lugar de para eu fazer), certamente você associará esse falante a um grupo social com baixa ou nenhuma escolaridade. A FALTA DE DOMÍNIO DA LÍNGUA PADRÃO, PRESTIGIADA SOCIALMENTE, É UM INDICADOR DE PERTENCIMENTO A DETERMINADO GRUPO SOCIAL. As gírias usadas por um falante podem revelar também a que grupo social e à qual faixa etária ele pertence. Do mesmo modo, os jargões técnicos podem indicar a atividade profissional de quem os utiliza. JARGÕES TÉCNICOS: Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Daí que podemos falar em jargão dos médicos, jargão dos militares etc. Ao ouvir expressões típicas do juridiquês ou do economês, por exemplo, você deve concluir que os falantes são adultos, com alta escolaridade e pertencentes a determinado grupo profissional. JURIDIQUÊS: Juridiquês é uma palavra criada para designar o uso rebuscado e exagerado de jargão e termos técnicos da área jurídica. ECONOMÊS: Economês designa os termos técnicos ou jargões utilizados pelos economistas. Note que o poema apresenta construções da língua portuguesa que são típicas de falantes de classes sociais menos escolarizadas, revelando pronúncias contrárias à ortoepia, ou seja, distintas do que a norma gramatical determina. As pronúncias fora da norma gramatical, no entanto, não impedem a comunicação e muito menos a construção dos telhados. Embora se trate de uma variedade linguística desprestigiada socialmente, o poema não estigmatiza essa variante linguística, pois sugere uma valorização do trabalho das pessoas mais simples com o verso final: “E vão fazendo telhados”. ORTOEPIA: Ortoepia é a parte da gramática que estabelece a pronúncia correta das palavras, conforme a língua culta ou padrão. A LINGUAGEM DA INTERNET Além das variações linguísticas que você acabou de conhecer, também é importante prestar atenção às alterações que a língua portuguesa apresenta nos meios digitais. Com a Internet e os diversos recursos para escrever e falar usando um computador ou celular, surge uma variedade linguística que recebeu o nome de Internetês. Algumas características da variedade linguística na Internet são: 1 - Abundância de siglas e abreviaturas não convencionais, dando mais agilidade e velocidade à escrita. 2 - Criação de palavras novas e uso de gírias, com mais liberdade para expressar novos conceitos ou adaptar termos de outras línguas. 3 - Estrangeirismos, usando e incorporando termos de outra língua, frequentemente do inglês. 4 - Uso de caracteres especiais (@, #) e emoticons (ou emojis) para adequação aos códigos utilizados em meios digitais ou como alternativa para expressar emoções e intuitos. 5 - Integração ou hibridismo entre escrita, sons, imagens e outras linguagens (hipertexto, por exemplo) para maior expressividade. A informalidade e a irreverência da linguagem na Internet acabam se distanciando da formalidade da língua que utilizamos nos documentos, nos livros, na escola ou nas relações mais formais no trabalho. Por isso mesmo, haverá inadequação no uso da língua quando escrevermos um trabalho acadêmico ou redigirmos um e-mail na empresa em que trabalhamos com a informalidade ou alguma característica do Internetês. Algumas pessoas acham que o uso despreocupado da língua portuguesa na Internet, em relação às normas gramaticais, seria um tipo de deformação que contribuiria para um empobrecimento linguístico e cultural. Quer saber o motivo por trás desse pensamento? Leia mais! LEIA MAIS: A invasão de palavras inglesas, ligadas à informática e à Internet, é vista como ameaça à língua portuguesa, levando os usuários a incorporarem expressões e valores culturais estrangeiros que redundariam em prejuízo à cultura nacional e local. Conforme diz Saldanha (2001, p. 35), deve-se ter o cuidado de não se impor um único registro da língua, elegendo-se determinada variação ou modalidade linguística padrão para a Internet, nem tampouco fechar-se temerariamente a qualquer tipo de contribuição linguística vinda de fora. Valer-se criteriosamente da contribuição de outras línguas é, na verdade, o recomendável nessa questão; reconhecendo-se, dessa forma, uma prática histórica que ocorre no seio da língua portuguesa em relação a línguas como o grego, o italiano, o francês e outras mais desde muito tempo. “A INTERNET, PELA SUA ESPECIFICIDADE, EXIGE OU PROPICIA UM TIPO DE TEXTO ESPECIAL. TAMBÉM AQUI A INADEQUAÇÃO CONSISTE EM QUERER REDIGIR UM TEXTO QUALQUER FORA DA INTERNET COMO SE FORA PARA ELA, OU VICE-VERSA. TODO TEXTO – NA INTERNET OU NÃO –, COMO TODA EXPRESSÃO LINGUÍSTICA, DEVE ESTAR ADEQUADO ÀS IDEIAS, AO INTERLOCUTOR E ÀS CIRCUNSTÂNCIAS.” (BECHARA, 2000) Constatar que a língua varia, seja em seu uso na Internet ou na diversidade de espaços e situações comunicativas, deve nos levar a reconhecer a legitimidade das diferentes linguagens e evitar o preconceito ou a estigmatização de falares, dialetos ou qualquer variedade linguística. Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que a língua aprendida na escola constitui a norma para comunicação e convívio no ambiente acadêmico e profissional, além daqueles espaços e das interações sociais em que a língua padrão é a mais adequada. NO PRÓXIMO MÓDULO, VOCÊ CONHECERÁ ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA PADRÃO, TAMBÉM CHAMADA NORMA CULTA, ALÉM DE REFLETIR SOBRESEU USO NAS SITUAÇÕES EM QUE ELA É NECESSÁRIA. MÓDULO 2 - Esclarecer o conceito de norma culta e suas implicações no uso da língua portuguesa CONTEXTUALIZAÇÃO Quando constatamos que a língua portuguesa varia em função da diversidade dos falantes, do espaço, do tempo, da situação de comunicação e de outros fatores, podemos nos perguntar se toda forma de usar a língua é válida, desde que as pessoas se entendam; ou indagar se esses diferentes usos da língua não seriam desvios e incorreções da língua padrão, da norma culta. Tais questionamentos são importantes porque todos nós aprendemos na escola a chamada língua culta, mas convivemos boa parte do tempo com usos da língua distantes ou diferentes da norma padrão, que estudamos nos livros de gramática. É PRECISO ENTENDER O QUE É A NORMA CULTA E QUAL O OBJETIVO DA GRAMÁTICA NO APRENDIZADO DA LÍNGUA PARA, ENTÃO, RESPONDERMOS SOBRE QUE TIPO DE LÍNGUA USAR NAS DIVERSAS SITUAÇÕES DE COMUNICAÇÃO DO DIA A DIA. NORMA CULTA A norma culta é aquela formada por um conjunto de estruturas concebidas como corretas, que podem ser usadas tanto para falar quanto para escrever. Trata-se da chamada variante padrão ou norma padrão. Ela é tão valorizada socialmente que, quando estão em um ambiente mais formal, os indivíduos com alto nível de escolaridade procuram monitorar sua fala. Como você pôde perceber, os registros informais e distintos da norma culta caracterizam o papel social do falante da língua. Se o falante tem baixa escolaridade e pertence a uma comunidade linguística que se comunica dessa forma, o uso que ele faz da língua evidencia exatamente o grupo social ao qual pertence. Nesse caso, não deve haver uma expectativa de uso da língua padrão. Por outro lado, se o falante teve acesso à educação formal e possui alto grau de escolaridade, a expectativa é de que ele utilize a norma culta como a opção mais adequada para se expressar em situações formais de comunicação. Caso isso não aconteça, ele frustrará a expectativa em função da classe social e comunidade linguística às quais pertence. Imagine um professor universitário em uma videoaula dizendo o seguinte: EMBORA O USO DO PRONOME ELA COMO OBJETO DIRETO SEJA COMUM NA FALA DE MUITAS PESSOAS – MESMO ESCOLARIZADAS –, NÃO É PRESCRITO PELA GRAMÁTICA. LOGO, A FORMA ADEQUADA CONFORME A NORMA CULTA É: Usar o pronome oblíquo A substituindo um substantivo é algo formal, mas, uma boa alternativa seria optar pelo uso de um termo equivalente ou sinônimo: “A exposição foi encerrada, mas eu vi as obras de arte no ano passado”. A língua pode ser comparada a um guarda-roupa, com vestimentas para diversas ocasiões e finalidades. A norma culta seria comparada a vestuários convenientes em situações formais, com diferentes graus de formalidade, como cerimônia de casamento, audiência num tribunal, entrevista de emprego, ambiente de trabalho, ambiente acadêmico etc. Terno, gravata, vestido longo, tailleur, terninho e alguns acessórios e adereços seriam adequados a algumas dessas situações. Não é adequado comparecer a esses ambientes ou participar dessas situações como se fôssemos à praia, usando sunga ou biquíni, por exemplo. ESSA IMAGEM OU COMPARAÇÃO DA LÍNGUA COM O GUARDA-ROUPA NOS AJUDA A COMPREENDER O CONCEITO DE ADEQUAÇÃO NO USO DA LÍNGUA. Quem faz uma analogia similar é o linguista brasileiro Marcos Bagno (2005), que compara a língua padrão ao molde de um vestido. Leia mais. É adequado usar a norma culta quando essa é a expectativa da sociedade ou da comunidade linguística em função do nosso status, classe social, formação acadêmica ou atividade profissional. Também é adequado o seu uso nas situações de comunicação formais, oficiais, nas atividades escolares e acadêmicas, na atividade profissional etc. Em situações mais informais ou quando a expectativa da comunidade linguística em que interagimos for de uma comunicação coloquial, então usaremos a língua num registro menos formal, ainda que não inteiramente distante da norma culta. É preciso cuidado com as escolhas linguísticas que fazemos para que nosso interlocutor não as interprete como erro ou grosseria. Também devemos atentar para a escrita, pois algumas liberdades ou licenças numa fala mais informal podem ser inadequadas na escrita. Por exemplo, não fica bem escrever nas redes sociais ou num e-mail expressões ou incorreções gramaticais muito comuns na fala coloquial ou descuidada. A seguir, reunimos dois jeitos de comunicar a mesma coisa: de acordo com o Registro culto (ou seja, a norma culta da língua) e de acordo com o Registro coloquial, que representa os usos mais comuns na oralidade, mas que têm que ser evitados – principalmente em textos escritos. O QUE DEFINE A NORMA CULTA DA LÍNGUA? De acordo com o professor e linguista Luiz Travaglia (2001, p. 25-26), os argumentos ou as justificativas para o estabelecimento da norma culta são os seguintes: ESTÉTICOS: Uso de critérios como elegância, colorido, beleza, finura, expressividade. Rejeição de vícios como a cacofonia, colisão, eco, pleonasmo etc. ELITISTAS OU ARISTOCRÁTICOS: Opção pelo uso da língua pertencente à classe de prestígio em detrimento do uso das classes populares. POLÍTICOS: Critério de purismo e vernaculidade. Rejeição de estrangeirismo ou qualquer aspecto que “ameace” a identidade ou soberania da nação ou da cultura nacional. COMUNICACIONAIS: Critérios relacionados com a facilidade de comunicação e compreensão. As construções e o léxico devem resultar na “expressão do pensamento”. HISTÓRICOS: Recorre-se à tradição para critérios de exclusão e permanência de usos da língua. A NORMA CULTA OU LÍNGUA PADRÃO É DEPENDENTE DA OBSERVÂNCIA E USO DAS REGRAS ESTABELECIDAS PELA GRAMÁTICA NORMATIVA. POR ISSO, VALE ENTENDER UM POUCO MELHOR O QUE É E COMO ELA FUNCIONA. GRAMÁTICA NORMATIVA A gramática normativa é a gramática da escola, por meio da qual você aprendeu as principais regras ou normas da língua padrão, principalmente da modalidade escrita. Ela prescreve o que é considerado correto e reprova o que é errado de acordo com a norma culta, a única considerada como válida. Por isso mesmo, a gramática normativa também é denominada “gramática prescritiva”. “A GRAMÁTICA NORMATIVA TENDE A CONSIDERAR APENAS OS FATOS DA LÍNGUA ESCRITA, TOMANDO A VARIEDADE ORAL DA NORMA CULTA COMO IDÊNTICA À ESCRITA. APRESENTA UMA DESCRIÇÃO DO PADRÃO CULTO DA LÍNGUA E DITA NORMAS DE BEM FALAR E ESCREVER, VALORIZANDO A CORREÇÃO GRAMATICAL.” (TRAVAGLIA, 2001, p. 30-31) Oswald de Andrade (1890-1954), no poema Pronominais, publicado em 1925, já retratava de forma irreverente e provocativa a imposição das regras da gramática normativa e a dificuldade de seu uso na fala das pessoas despreocupadas com a norma culta ou mesmo sem o seu domínio. O poema é um interessante registro literário da variação linguística em função de diferentes modalidades (escrita e oralidade) e diferentes grupos ou classes sociais (letrados e não letrados). O poema opõe os usos do pronome “me” DÊ-ME UM CIGARRO – Registro Formal Ênclise - Norma Culta: não se inicia frase com pronome átono antes do verbo (próclise), pois o correto é o pronome átono após o verbo (ênclise). ME DÁ UM CIGARRO – Registro Informal Próclise - Forma Coloquial: inadequação gramatical, a gramática prescreve a ênclise. ÊNCLISE: Quando o pronome é colocado após o verbo. PRÓCLISE: Quando o pronome é colocado antes do verbo. Segundo Travaglia (2001, p. 24), a gramática normativa pode ser entendida, também, como “um manual com regras de uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se expressar adequadamente”. Assim, somente é abonado ou aceito pela gramática o que obedecer às normas do bom uso da língua, configurando o falar e o escrever corretamente. Por isso, todas asoutras formas de uso da língua são consideradas desvios, erros, deformações ou degenerações. Para encerrarmos os estudos deste módulo, observe um exemplo de como a gramática normativa indica a formalidade de uso da língua. Como a gramática normativa indica a formalidade de uso da língua Frequentemente, ouvimos na fala do indivíduo considerado culto a seguinte frase: O livro que eu gosto já está esgotado. No entanto, a gramática normativa prescreve uma construção diferente: O livro de que eu gosto já está esgotado. Essa prescrição é baseada no fato de que, de acordo com a norma culta, a regência do verbo gostar exige a preposição de. Exemplo: Eu gosto disso. Confira outros casos de uso da norma culta estabelecida na gramática. Como você deve ter aprendido na escola, eu é pronome pessoal do caso reto e só pode ser usado na função de sujeito: • Com verbo no infinitivo: Não há nada entre eu sair e você ficar em casa. • Sem verbo no infinitivo: Não há nada entre mim e você. Vamos a outro exemplo de uso da norma culta dele / de ele: 1) Dele quando corresponde a um pronome possessivo. Exemplo: A paciência dele acabou, e ele saiu da sala. 2) Dele quando corresponde à combinação da preposição de com o pronome pessoal oblíquo tônico ele, na função de objeto indireto. Exemplo: Ana gosta muito dele, e ele saiu da sala. 3) De ele como preposição de mais o pronome pessoal ele. Essa combinação só pode ser usada quando ele for sujeito de uma oração reduzida de infinitivo. Exemplos: Conversamos sobre isso de ele sair. (= de que ele saísse) Apesar de ele ter comprado o carro, foi de táxi à festa. O segredo é o verbo no infinitivo. Só podemos usar de ele quando houver esse verbo. Exemplo: Fizemos a surpresa antes de ele chegar ao curso. Veja ainda outra ocorrência na língua coloquial distinta do que estabelece a gramática normativa: Para mim ou para eu? 1) Eu é um pronome pessoal do caso reto e exerce a função de sujeito; 2) Mim é um pronome pessoal oblíquo tônico, nunca exerce a função de sujeito e, obrigatoriamente, deve ser usado com preposição: “a mim”, “de mim”, “entre mim”, “para mim”, “por mim” etc. Exemplos: Ana trouxe o livro para eu ler. (= sujeito) Ana trouxe o livro para mim. (= não é sujeito) No primeiro caso, há duas orações: 1) Ana trouxe o livro: oração principal 2) para eu ler: oração reduzida de infinitivo (= para que eu lesse) Nesse caso, devemos usar o pronome pessoal do caso reto (EU), porque ele exerce a função de sujeito do verbo infinitivo (LER). Em síntese, a diferença entre para mim e para eu está na presença ou não de um verbo (sempre no infinitivo) após o pronome. Portanto, sempre que houver um verbo no infinitivo, devemos usar os pronomes pessoais retos. Isso ocorrerá com qualquer preposição. Exemplos: Minha irmã saiu da festa antes de mim. Ela voltou para o escritório antes de eu chegar. Nossos professores fizeram isso por mim. Mariana fez isso por eu estar cansada. Observe, no entanto, a mudança no significado trazida pelo uso da vírgula: Para eu sair de casa, foi preciso organizar minhas finanças. Para mim, vender meu primeiro imóvel foi uma grande conquista. Na primeira frase, o pronome pessoal reto (eu) é o sujeito do infinitivo (sair). Já na segunda frase, a vírgula indica que para mim está deslocado. Nesse caso, devemos usar o pronome oblíquo (mim), pois ele não é o sujeito do verbo vender. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como temos visto, a gramática normativa está mais voltada para a variedade escrita da língua e se ocupa com a manutenção de regras consideradas próprias da língua culta ou de prestígio. Há, sem dúvida, uma tradição em se prestigiar a língua escrita. Possivelmente por ter características mais conservadoras, transformar-se mais lentamente e estar sob a proteção da ortografia. A escrita manifesta-se sempre em descompasso com as transformações da fala, cuja dinâmica do uso lhe traz alterações contínuas, naturais e bem mais velozes. Mas, como você aprendeu aqui, tanto a escrita quanto a fala de uma língua apresentam variações e mudam com o tempo e com os inúmeros estímulos que recebem. Estudar a língua portuguesa levando em conta o fenômeno da variação linguística e o entendimento do que vêm a ser a norma culta e a gramática normativa ajudará, certamente, você a se apropriar cada vez mais dos recursos da língua para um uso adequado às diversas situações comunicativas. Aula 3 – Texto e Discurso Este tema aborda o conceito de texto e discurso, bem como a distinção e a complementaridade entre eles, além de apresentar uma caracterização dos gêneros textuais e alguns cuidados necessários na produção e leitura de textos. Compreender o conceito de texto, discurso e gênero textual para identificar estratégias e cuidados necessários à elaboração e à leitura de um texto. MÓDULO 1 - Distinguir os conceitos de texto e de discurso Todas as vezes em que você se comunica ou interage com alguém, há sempre uma intenção ao falar ou ao escrever. Dependendo dessa intenção ou da finalidade do ato de comunicação, haverá maneiras diferentes de construir sua fala e sua escrita, ou seja, você acabará usando modos específicos para se expressar ou interagir por meio da língua. VEJAMOS A SEGUINTE SITUAÇÃO: Imagine que Rodrigo chegou em casa ansioso por contar algo que aconteceu no trabalho, uma situação ocorrida que lhe deu muita esperança de ser promovido. Falamos e escrevemos com as mais diferentes intenções, adequando nosso ato de comunicação a partir delas, por isso devemos concluir que há diversas formas de organizar o discurso. Isso também implica dizer que existem diversos gêneros textuais, além daquelas modalidades que você deve ter aprendido na escola, como narração, descrição e dissertação. No diálogo acima, qual modalidade você acha que Rodrigo utilizou para contar o fato ocorrido? Ao contar o episódio, tentando mostrar as chances de ter uma promoção, ele utilizou aspectos característicos da narração, que é um tipo específico de se organizar o discurso, assim como nós também fazemos comumente no dia a dia. Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos típicos da narração, como: personagem, espaço, tempo etc. ENUNCIAÇÃO O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve). Para compreender tudo isso e identificar possíveis aplicações no uso da língua, você aprenderá os conceitos de discurso e de texto para, então, verificar como o conhecimento dos diferentes gêneros textuais o ajudará a escrever e a ler melhor. CONCEITO DE TEXTO E DISCURSO Para distinguir texto e discurso, primeiramente é preciso conceituá-los, além de identificar a utilidade dessa distinção. Mas, em vez de começar logo com uma definição, vamos pensar um pouco sobre a prática, ou seja, vamos considerar uma situação concreta de uso da língua. Imagine que alguém diga a um colega o seguinte: A resposta "sei" provavelmente frustrou quem perguntou. A decepção ou mesmo o estranhamento diante de tal resposta ocorre porque a intenção de quem pergunta não é obter uma informação sobre o conhecimento ou não do horário, mas pedir um dado que traga sentido, referência e clareza. A INTENÇÃO DE QUEM PERGUNTA É UM ELEMENTO FUNDAMENTAL NA ENUNCIAÇÃO, ASSIM COMO A FORMA COM QUE O TEXTO É RECEBIDO PELO ENUNCIATÁRIO. O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos da linguagem, o conceito de enunciação, assim como tantos outros, apresenta variações na forma como é definido,conforme a abordagem teórica em que seja tomado. A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso da nossa hipotética situação de comunicação, pode-se imaginar a presença explícita dessa enunciação do seguinte modo: ENUNCIAÇÃO: O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve). É possível que um texto não explicite as intenções do autor, ou seja, a enunciação pode estar implícita. Nesse caso, será preciso ouvir ou ler o texto, entendê-lo e perceber as intenções do autor. Teremos, então, uma decodificação desse texto. Além da intenção, que pode estar implícita ou explícita na interação por meio da linguagem, temos sujeitos que interagem em determinado tempo ou contexto a partir de um texto ou mensagem. OS ASPECTOS RELACIONADOS COM A PESSOA (QUEM FALA/OUVE OU QUEM ESCREVE/LÊ) E COM O TEMPO (EM QUE MOMENTO OU CONTEXTO A COMUNICAÇÃO SE DÁ) TAMBÉM FAZEM PARTE DA ENUNCIAÇÃO. Mesmo que esses aspectos nem sempre estejam explicitados ou claros no texto, a produção textual envolve os seguintes elementos da enunciação: INTENÇÃO, INTERLOCUTORES E CONTEXTO. A partir dessa abordagem inicial sobre enunciação, vamos a uma primeira caracterização de texto e de discurso. Segundo Abreu (2004), podemos dizer que: O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo e, muitas vezes, com algumas marcas da enunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo. O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo de codificação e só termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de decodificá- lo. Por isso, também se afirmar que o discurso é histórico. Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser considerado algo acabado e estático. No entanto, o discurso teve seu início juntamente com o texto e vai se completando à medida que o texto vai sendo lido por seus leitores. Por isso, Abreu (2004) nos diz que o discurso é sempre dinâmico e pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo do repertório de seus leitores. AS CONCEPÇÕES DE TEXTO E DE DISCURSO NOS PERMITEM, ENTÃO, MAIS DO QUE FAZER UMA DISTINÇÃO, PERCEBER QUE ELES SÃO COMPLEMENTARES. Por isso, podemos afirmar: Discurso é o texto em atividade comunicativa; vindo a público e se realizando. É bom observar que o texto pode ser escrito ou oral, embora enfatizemos na maioria das vezes o texto escrito. O discurso também pode se realizar tanto a partir de um texto escrito quanto de um texto oral. Não confunda discurso com a fala de um orador! Podemos, então, concluir que todas as vezes que escrevemos ou falamos temos um texto que se realiza como discurso. Isso acontece porque quem fala e escreve tem uma intenção ou objetivo contido na mensagem e até na forma de comunicá-la. Quem ouve e lê precisa decifrar (compreender) a mensagem e a sua intenção a partir do próprio conhecimento de mundo e, claro, do próprio texto. Mas, você pode se perguntar: PARA QUE SERVE DEFINIR TEXTO E DISCURSO, ALÉM DE FAZER A DISTINÇÃO ENTRE ELES? QUAL A UTILIDADE DESSES CONCEITOS? Essas perguntas são muito importantes e serão respondidas na continuidade deste tema. MÓDULO 2 - Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual CUIDADOS NA ELABORAÇÃO DO TEXTO Compreender a relação entre texto e discurso deve levá-lo a determinados cuidados na produção do texto e na sua leitura. Em relação à leitura, você deve lembrar que o discurso é um conceito relacionado com as intenções presentes no texto (de forma explícita ou implícita) e outros elementos da comunicação como: 1 - Quem escreve; 2 - Quem lê; 3 - Em que contexto o texto foi produzido; 4 - O momento em que o texto é lido. Isso quer dizer que o discurso é algo situado, ou seja, ele é produzido por alguém, com determinada intenção, em algum contexto e tendo em vista o interlocutor. PARA A COMPREENSÃO OU INTERPRETAÇÃO ADEQUADA DO TEXTO, SERÁ PRECISO CONSIDERAR TAMBÉM ESSES ELEMENTOS OU ASPECTOS, MUITAS VEZES ESCONDIDOS NAS ENTRELINHAS. Você certamente percebeu o quão importante é a construção do discurso e a relevância de refletir sobre ele. Mas sejamos um pouco mais práticos, trataremos agora da elaboração do texto. ELABORAÇÃO DO TEXTO Ao elaborar um texto, você deve ter em mente que não escreve para si mesmo, pois seu texto é produzido para que outros o leiam, ele se transformará em discurso. Por isso, deve haver cuidado na elaboração, na forma pela qual suas intenções estarão marcadas ou presentes na mensagem. Se escrevemos e falamos para que outros nos entendam ou mesmo atendam aos objetivos de nossa comunicação, precisamos nos esforçar para irmos além da simples expressão do que temos em mente. Isso tem a ver com um importante mecanismo da comunicação, que foi resumido pelo professor Blikstein (1990), em seu livro Técnicas de comunicação escrita, da seguinte forma. Os princípios do mecanismo da comunicação seriam: 1 - Toda comunicação escrita deve gerar uma resposta a uma determinada ideia ou necessidade que temos em mente. 2 - A comunicação escrita será correta e eficaz se produzir uma resposta igualmente correta. 3 - Resposta correta é a que esperamos, isto é, aquela que corresponde à ideia ou necessidade que temos em mente. 4 - Para avaliarmos a correção e a eficácia de uma comunicação escrita, temos que verificar sempre se houve uma resposta e se ela corresponde à ideia ou necessidade que queremos passar ao leitor. Veja o exemplo: É preciso, então, cuidado em relação a vários aspectos no uso da língua nas situações de comunicação. Vejamos três deles: 1. VOCABULÁRIO: Preferir palavras e expressões que, além de expressar o que pensamos, ajudem o leitor ou ouvinte a identificar a nossa intenção ou o objetivo do texto. Palavras pouco conhecidas ou rebuscadas, termos técnicos e vocabulário restrito a uma área diferente da do nosso interlocutor podem oferecer alguma dificuldade. O vocabulário sempre deve estar adequado ao contexto em que comunicamos nossa mensagem e ao nosso interlocutor. Se precisarmos usar alguma palavra difícil ou pouco conhecida, é recomendável que ela venha acompanhada de alguma explicação, evitando deixar o texto pedante ou pretencioso. Não é um vocabulário excessivamente formal ou com preciosismos que vai demonstrar nosso domínio da língua. 2. ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM ÀS SITUAÇÕES E AOS LEITORES QUE TEMOS EM VISTA: O estilo e o nível de linguagem que usamos em nossa escrita ou fala devem estar adequados ao contexto da comunicação, ao objetivo ou à intenção da nossa mensagem e ao interlocutor (o receptor, a pessoa com quem nos comunicamos): Se o objetivo, por exemplo, for escrever um manual com procedimentos e orientações para o uso de um celular, o texto deverá ter um estilo que respeite a língua culta, mas que será simples, objetivo e claro, com predomínio de verbos no imperativo ou infinitivo, além de descrições e outras características desse gênero textual. Se escrevermos um bilhete ou enviarmos um recado por um aplicativo de mensagens, usaremos uma linguagem mais coloquial, um tom pessoal e talvez algumas abreviaturas, entre outras características. Mais adiante você aprenderá outros aspectos importantes na produção e na elaboração do texto em função de seu gênero. Mais adiante você aprenderá outros aspectos importantes na produção e na elaboração do texto em função de seu gênero. 3. CONSTRUÇÃO DAS FRASES E CORREÇÃO GRAMATICAL: Organizar cada parágrafo do texto, os períodos e as frases que o compõem é uma forma de deixar o texto claro, coeso e coerente. Escrever e falar sem incorreções gramaticais também contribui para o melhorentendimento da mensagem, além de dar credibilidade ao autor em virtude do seu domínio da língua padrão. Há outros cuidados na elaboração do texto que destacamos para ajudá-lo a escrever melhor. São aspectos que o ajudarão a perceber características que devem estar presentes em todos os textos e, além disso, a aprender uma outra forma de definir o que é um texto. Vamos, então, conhecer quatro importantes recomendações que você precisa considerar ao escrever e ao ler um texto: 1 - NÃO CONFUNDA TEXTO COM A MERA SOMA OU AGLOMERADO DE FRASES: Um texto deve ser um todo orgânico com encadeamentos que interliguem as suas partes. Isso implica, na leitura, que não devemos tomar as frases ou partes do texto isoladamente, sem considerar o seu contexto. Se o texto é um todo orgânico, então sua compreensão não pode se basear apenas em um fragmento isolado do contexto. 2 - DELIMITE O SEU TEXTO! Os professores Platão e Fiorin (2003) nos lembram em seu livro Para entender o texto que o texto deve ser “delimitado por dois espaços de não sentido, dois brancos, um antes de começar o texto e outro depois”, ou seja, tem início e fim, está delimitado num determinado espaço. Isso implica uma organização textual. Se o texto é uma unidade, ele deve ter começo, meio e fim. 3 - FAÇA COM QUE SEU TEXTO SEJA UM GERADOR DE SENTIDO: O que você escreve tem que fazer sentido para quem vai ler. Caso isso não aconteça, não se produzirá um discurso, o texto não se realizará. Os sentidos têm de ser marcados pela coerência; devem ser, também, confirmados a partir de seu contexto. 4 - ESTEJA ATENTO A ELEMENTOS DO CONTEXTO DURANTE A PRODUÇÃO: De acordo com Platão e Fiorin (2003), o texto é o produto de um sujeito que pertence “a um grupo social num tempo e num espaço”, alguém que expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social. Assim, é necessário entender as concepções existentes na época e na sociedade em que o texto foi produzido para não correr o risco de compreendê-lo de maneira distorcida. Esses cuidados na elaboração do texto correspondem a uma forma de entender o que é um texto. Por isso, é hora de apresentar a seguinte definição: O texto é um todo orgânico gerador de sentido. Essa definição nos ajuda a perceber que um texto tem que fazer sentido e possui princípio e fim, mesmo que ele seja um texto muito pequeno. Imagine que alguém, diante de um princípio de incêndio, grite: FOGO. Ou vamos supor que uma professora, diante de uma sala de aula muito barulhenta, escreva numa lousa a palavra: SILÊNCIO. Nos dois casos temos um exemplo de texto, por menor que seja sua estrutura. Isso acontece porque nessas situações de comunicação existe uma unidade linguística delimitada e que produz sentido a partir da intenção de quem fala ou escreve. LINGUÍSTICA: Estudo científico da linguagem e das línguas naturais. A utilização deste termo depende das perspectivas metodológicas, das teorias e das disciplinas que estudam os diferentes fenômenos. Compreender que o texto é um todo orgânico que produz sentido também traz como desdobramento estabelecer correspondência e articulação entre suas partes. As frases não podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa sequência sem sentido e sem unidade. A palavra TEXTO está relacionada, emsua origem, com a palavra TECIDO. Daí que podemos falar na "tecitura de um texto",em "tecer um texto". É preciso tecer os fios, ou tecer as palavras, de tal forma que o texto se apresente coeso e orgânico: uma unidade articulada. O processo de articulação do texto, que permite a integração entre suas partes, é chamado de encadeamento semântico (semântico = sentido). Ele é que produz a textualidade ou a “trama semântica”. A coesão, segundo Abreu (1999), é exatamente esse processo de encadeamento que produz a textualidade, que cuida da estruturação da sequência superficial do texto. Conforme nos ensinam Platão e Fiorin (2003), podemos também dizer que a coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto, por meio de “elementos formais que assinalam o vínculo entre os componentes do texto”. Quando um conteúdo escrito apresenta repetições desnecessárias, retomando uma palavra ou ideia sempre com o mesmo termo, temos um caso de falta de coesão. O exemplo a seguir, retirado do livro Curso de redação, do professor Antônio Suarez Abreu, é uma boa oportunidade para verificar a falta de coesão num texto. Se você levar em conta que o termo “revendedoras de automóveis” pode ser substituído por agência, concessionária ou loja, e “automóveis” pode ser substituído por carros, veículos, produto ou mercadoria, é possível reescrever o texto estabelecendo a coesão. Veja: Perceba que, além de evitar a repetição de “revendedoras de automóveis” e da palavra “automóveis”, substituindo esses termos por sinônimos, foram utilizados mecanismos de coesão como a elipse, ou seja, omissão de um termo. Nesse exemplo, na oração desiste de comprar o automóvel, foi omitido o complemento da forma verbal “desiste”, sem prejuízo à compreensão do texto. Também se substituiu o termo “os automóveis” na frase para vender os automóveis mais caro pelo pronome oblíquo átono junto ao verbo vender: “para vendê-los mais caro”. Outro mecanismo de coesão utilizado foi a retomada do termo “revendedora de automóveis” valendo-se de um advérbio, no caso, o advérbio de lugar “lá”: “o cliente vai lá...”. Há diversas outras formas de articular as partes de um texto, as sentenças ou frases que formam cada período ou parágrafo, garantindo a coesão textual. Se queremos, por exemplo, articular duas sentenças com o sentido de oposição, podemos usar conectores ou articuladores como: Mas; Porém; Contudo; No entanto; Todavia. Se a ideia for articular sentenças diferentes com o sentido de causalidade, usaremos articuladores como: Porque; Uma vez que; Já que; Visto que; Devido a; Por causa de. Veja o exemplo a seguir: “A DIRETORA DA ESCOLA CONVOCOU OS PAIS E OS RESPONSÁVEIS DOS ALUNOS PARA UMA REUNIÃO ONTEM À TARDE, PORÉM POUCOS COMPARECERAM, JÁ QUE UMA FORTE CHUVA INUNDOU OS PRINCIPAIS ACESSOS AO COLÉGIO.” Perceba que duas informações iniciais estão articuladas com a ideia de oposição: a convocação e o não comparecimento de quem foi convocado. Em seguida, apresenta-se a causa para o não comparecimento: a forte chuva. A coesão também se manifesta ao se evitar a repetição desnecessária da expressão “os pais e os responsáveis” na oração: porém poucos compareceram, além de se retomar o termo “escola” pelo sinônimo “colégio” na última oração. O Quiz de Português é um aplicativo de perguntas e respostas que abrangem as divisões da gramática e as regras gerais de construção textual, como os recursos de coerência e coesão. É voltado para todos que querem melhorar ou apenas testar o seu conhecimento na língua portuguesa, além de educadores e alunos da área. MÓDULO 3 - Reconhecer o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos GÊNEROS TEXTUAIS Você já aprendeu que, ao falar ou escrever, a intenção e outros aspectos se fazem presentes no ato comunicativo, correspondendo a um modo característico de construção do discurso. Esse modo específico de organizar o discurso se constitui num conjunto de características relativamente estáveis, configurando diferentes textos ou gêneros textuais. A noção de gêneros textuais foi desenvolvida por um pensador russo, Bakhtin (1895-1975), no começo do século XX. Ele usou a palavra gêneros para se referir aos textos orais ou escritos que elaboramos nas diversas situações de comunicação. EXEMPLOS: Um bilhete que alguém deixa para sua mãe, uma piada que se conta na mesa de um bar, uma ata redigida durante uma reunião ou um artigo de opiniãopublicado nas redes sociais são exemplos de gêneros textuais, pois apresentam um conjunto de características sociocomunicativas e uma estrutura específica. SOCIOCOMUNICATIVAS: Diz-se daquilo que está inserido em um contexto social e tem função comunicativa. Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos típicos da narração, como: personagem, espaço, tempo etc. Há gêneros textuais que são típicos da vida acadêmica. Se você tiver que apresentar os resultados de um trabalho acadêmico ou de uma pesquisa realizada ao final do curso, provavelmente terá de escrever uma monografia ou um artigo acadêmico, que constituem também exemplos de gêneros textuais. Caso queira apresentar os resultados de uma visita técnica ou de uma inspeção que tenha realizado, poderá elaborar um relatório, outro exemplo de gênero textual. O e-mail enviado a um colega também faz parte de um gênero textual. A lista de exemplos poderia se estender bastante. Conforme conceituado por Marcuschi (2002), os gêneros textuais são os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Agora que você já sabe o que é um gênero textual, tenha cuidado para não cair numa confusão muito comum que alguns estudantes fazem entre gêneros e tipos textuais. Para ajudá-lo a compreender a diferença entre eles, veja o quadro a seguir: TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS Definem-se por propriedades linguís-ticas que vão caracterizar os gêneros: vocabulário, relações lógicas, tempos verbais, construções frasais etc. São realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas, ou seja, dentro de um contexto cultural e com função comunicativa. Exemplos: narração, argumentação, descrição, injunção (ordem) e exposi-ção (texto informativo). Exemplos: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, aula expositiva, romance, reunião de condomínio, lista de compras, conversa espontânea, entrevistas, cardápio, receita culinária, inquérito policial, blog, e-mail etc. Podem variar entre cinco e nove tipos. Correspondem a um conjunto pratica-mente ilimitado de características deter-minadas pelo estilo do autor, conteúdo, composição e função. De certo modo, nossa experiência de estudo da língua portuguesa na escola está mais relacionada com os tipos de textos, também denominados tipos textuais. Mas precisamos ter cuidado para não achar que escrever ou ler um texto se resume a compreender os aspectos gramaticais e linguísticos relacionados com um número limitado de tipos textuais. Os gêneros textuais podem ser tanto escritos quanto orais. Há gêneros textuais que são bem tradicionais, como os sermões, as cartas e os diários pessoais. Por exemplo: Numa carta pessoal encontraremos um remetente escrevendo a um destinatário sobre assuntos variados, numa linguagem mais afetiva, estilo menos formal e, às vezes, num tom confessional. Já numa carta comercial, a finalidade da mensagem impõe linguagem e aspectos formais como a disposição da data e do local; a maneira de se dirigir ao destinatário (como escrever o vocativo ou que forma de tratamento escolher); uso de expressões características da área ou até mesmo jargões profissionais; a forma de o remetente assinar etc. Outros gêneros são mais recentes, resultado das tecnologias digitais. O e-mail, por exemplo, é um gênero textual digital que nos remete às cartas ou aos bilhetes, enquanto o blog se aproxima mais dos diários pessoais ou mesmo das crônicas. UM GÊNERO TEXTUAL PODE CONTER DIFERENTES TIPOS TEXTUAIS. Vejamos a seguinte situação: Vamos supor que você tenha uma página e poste um texto sobre uma viagem que tenha realizado. Provavelmente haverá um trecho com relato de algum “perrengue” pelo qual você tenha passado (narração), outra parte com detalhes dos brinquedos de um parque sensacional que você conheceu (descrição) e, ao final, a defesa da ideia de que viajar é uma das melhores coisas da vida (argumentação). Nesse exemplo, a postagem contém texto narrativo, descritivo e argumentativo. Vamos praticar? Que tal ir a alguma de suas redes sociais e fazer dois posts? Em um deles, utilize os seguintes tipos textuais: narração, descrição e argumentação. No outro, escolha apenas uma dessas tipologias. Em seguida, avalie qual dos dois posts produziu mais interações, como likes e comentários. Todas essas informações e exemplos sobre os gêneros textuais servem para deixar muito claro que deveremos ter estratégias de leitura adequadas a cada gênero textual, pois eles possuem estrutura, intenções e estilos próprios. Uma estratégia adequada de leitura passa pela expectativa correta em relação ao texto ou seu gênero textual. Um leitor competente deve possuir conhecimentos prévios sobre cada gênero textual para identificar no texto características próprias de cada gênero. Você não deve ler um e-mail como lê um blog. A prática de leitura de um romance é distinta da leitura de uma notícia ou de um artigo no jornal. Não se deve ouvir um sermão na Igreja do mesmo modo que se ouve alguém numa conversa ao telefone. Quando lemos um texto, precisamos identificar o gênero textual ao qual ele pertence. Ninguém deve procurar instruções sobre procedimentos e informações precisas num gênero textual como o conto ou o poema, assim como não se deve ler uma receita culinária procurando expressões poéticas sobre os sentimentos ou mesmo tentando entender algum enredo de uma história. Vejamos um exemplo de gênero textual: o anúncio publicitário. Um gênero textual como o anúncio publicitário, por exemplo, tem como intenção influenciar o leitor, persuadi-lo a consumir determinado produto ou levá-lo a aderir ao que está sendo anunciado. Para atrair a atenção e a adesão do leitor, além de usar verbos no imperativo e trabalhar com efeitos criativos como os de humor ou de ironia, as mensagens publicitárias se valem de elementos visuais e outros recursos para “fisgar” o leitor. O efeito que a peça publicitária provoca está relacionado não somente com o risco no trânsito, ao se dirigir sob efeito do álcool, mas se vincula ao próprio contexto do carnaval. A campanha vai além do mote “Se beber, não dirija!” para mostrar que o incentivo a brincar no carnaval não se aplica ao brincar no volante. Esse tipo de cuidado em relação ao gênero textual pode ajudar a evitar interpretações equivocadas na leitura de um texto. Não se deve buscar uma verdade ou fato histórico num texto ficcional, como no caso de um romance, já num texto científico ou numa buladeremédio, não é apropriada uma leitura imaginativa e de entretenimento. Ao ler uma anedota ou piada, nossa expectativa deve ser encontrar algum efeito de humor. Ao ler o manual de um celular, devemos esperar descrições objetivas das características do aparelho, assim como procedimentos sobre sua utilização. Alguns textos que pertencem a determinado gênero apresentam uma configuração típica de outro gênero textual, ou seja, assumem a forma de outro gênero buscando maior impacto sobre o leitor ou efeitos que não são tão comuns. O nome que se dá a essa fusão de gêneros textuais é intergenericidade ou intertextualidade de gêneros. Aula 4 – Dificuldades Gramaticais Mais Comuns Revisão de itens gramaticais a partir das dificuldades mais comuns no uso da língua portuguesa. Desenvolver as competências leitora e escritora a partir de subsídios para revisão gramatical da língua portuguesa, conforme a norma culta da língua. MÓDULO 1 - Identificar as principais dificuldades ortográficas da Língua Portuguesa Falar e escrever corretamente é essencial para uma vida acadêmica, profissional ou mesmo social. O uso corretoda língua contribui para a compreensão exata da mensagem que se quer transmitir, bem como dá mais credibilidade a quem está falando ou escrevendo. Por isso, agora vamos analisar algumas situações e identificar se a norma culta está sendo empregada da maneira correta. DIFICULDADES ORTOGRÁFICAS Mariana adora viajar e compartilhar em suas redes sociais as experiências que viveu. A sua última viagem foi para Bonito - MS e, após concluir a viagem, Mariana logo fez algumas postagens em seu Facebook com dicas para quem deseja ir àquela cidade. “Oi, gente! Viagem para Bonito concluída com exito! O lugar é incrível, indico para quem curte ecoturismo. Lá você tem bastante contato com a natureza e ainda consegue fazer flutuações por rios de águas cristalinas. Uma dica superlegal de atividade logo no primeiro dia da viagem é conhecer o Projeto Jiboia, lá você fica sabendo de tudo sobre o universo das serpentes.” Se você leu a postagem de Mariana com atenção, percebeu que a grafia de algumas palavras não está correta. Assim como Mariana, muitos usuários nas redes sociais não se preocupam em escrever corretamente. VOCÊ CONSEGUE IDENTIFICAR ONDE MARIANA ERROU? Leia a postagem novamente e marque, a seguir, as opções que estão com a grafia errada. EXITO: A grafia correta é: Êxito. INCRIVEL: A grafia correta é: Incrível. JIBÓIA: A grafia correta é: Jiboia. VOCÊ SABE EXPLICAR POR QUAL MOTIVO AS OPÇÕES QUE MARCOU ESTÃO ERRADAS? VAMOS RELEMBRAR? A forma correta de escrever uma palavra aparece nas gramáticas no capítulo dedicado à ortografia, cujas regras nem sempre são simples. Há situações em que devemos simplesmente observar o que se convencionou como grafia aceitável para determinado vocábulo ou palavra. ACENTUAÇÃO GRÁFICA PROPAROXÍTONAS: Todas as proparoxítonas são acentuadas graficamente. Lâmpada; Mérito; Trânsito; Cômodo; Líquido. OXÍTONAS: São acentuadas graficamente aquelas terminadas em a(s), e(s), o(s), em, ens. Também são acentuadas as oxítonas terminadas em ditongo aberto éi(s), éu(s), ói(s). Não devem ser acentuadas graficamente palavras como caqui, saci, angu, menu urubu, Itu etc. Crachá; Você; Até; Cipó; Avô; Avós; Alguém; Contém; Parabéns; Armazéns; Reféns; Anéis; Fiéis; Chapéu; Herói. PAROXÍTONAS: São as palavras mais encontradas na língua portuguesa e que, por isso, possuem regras de acentuação gráfica mais complexas. Em geral, são acentuadas graficamente as paroxítonas terminadas em: L - Incrível, inflamável, útil, pênsil, móvel; N - Íon, hífen, próton, sêmen, elétron; R - Repórter, caráter, éter, mártir; X - Tórax, ônix, látex; PS - Bíceps, tríceps; I(S) - Táxi, lápis, grátis; US, UM, UNS - Vírus, ônus, bônus, álbum, fórum, álbuns; Ã, ÃS, ÃO, ÃOS - Ímã, órfã, órfãs, bênção, órgão, órfãos, sótãos. DITONGOS ORAIS: Água, árduo, jóquei, vôlei, cáries. A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo poder) é acentuada graficamente para diferenciar-se de pode (terceira pessoa do singular do presente do indicativo). Existem algumas situações em que não ocorre acento gráfico em função do Novo Acordo Ortográfico: PALAVRAS PAROXÍTONAS COM DITONGOS EI E OI NA SÍLABA TÔNICA: Ideia, boleia, assembleia, apoio, jiboia, europeia, heroico FORMAS VERBAIS TERMINADAS POR EEM: Creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem. VOGAL TÔNICA DO HIATO OO: Voo, perdoo, povoo (verbo povoar) PREFIXOS PAROXÍTONOS TERMINADOS EM R E I: Inter-helênico, super-homem, semi-intensivo. Cuidado para não acentuar heroico, ideia, estreia, asteroide e outras palavras que são paroxítonas e não oxítonas. HIATOS ACENTUADOS: Quando a segunda vogal de um hiato for I ou U e tônica, seguida ou não de S, será acentuada. Saúde; Saída; Proíbo; Faísca; Baú; Viúva; Juíza; Juízo; País; Jaú; Jacareí; Cabreúva; Piauí; Luís. Se a vogal tônica do hiato for seguida de outra consoante ou nh, não haverá acento: Luiz; Juiz; Raiz; Raul; Cairmos; Contribuinte; Sair; Cauim. Também não são acentuadas graficamente as vogais I ou U dos hiatos nas palavras paroxítonas quando precedidas de ditongo: Feiura; Bocaiuva; Baiuca. CONTÉM: Verbo conter. DITONGO ORAIS: Essa regra vale para os ditongos orais seguidos ou não de s. Veja mais alguns exemplos: Fáceis; Inflamáveis; Lírio; Lírios; Mágoas. APOIO: Singular do presente do indicativo do verbo apoiar. HEROICO: Diferentemente de herói, que é oxítona. USO DOS PORQUÊS O uso dos porquês costuma gerar várias dúvidas. Algumas pessoas acham que basta saber a diferença entre por que separado, que seria usado nas perguntas, e porque junto, usado nas respostas. Mas não é bem assim, pois por que separado não é utilizado apenas para fazer perguntas; além disso, temos por quê (separado e com acento) e porquê junto e com acento. VAMOS ENTENDER MELHOR COMO USAR CADA UMA DAS QUATRO SITUAÇÕES DE USO DOS PORQUÊS? POR QUE (SEPARADO E SEM ACENTO) Equivale a por qual razão, por qual motivo. Em alguns casos, equivale a pelo qual. É utilizado comumente em perguntas, mas também pode ser usado em orações ou frases que não são interrogativas. Exemplos – POR QUAL RAZÃO: Por que o motorista cancelou a viagem? Não sei por que o motorista cancelou a viagem. A empresa ainda não informou por que o motorista cancelou a viagem. Exemplos – PELO QUAL: O cancelamento de viagens é um problema por que muitos usuários estão passando. Você deve ter notado que nos exemplos em que aparece por que temos perguntas e afirmativas. Por isso, cuidado para não achar que usamos por que somente em perguntas. POR QUÊ (SEPARADO E COM ACENTO) Usado no final da frase ou antes de alguma pausa. Também tem o mesmo sentido de por que, ou seja, pode ser substituído por por qual razão, por qual motivo ou pelo qual, dependendo do sentido da frase. Exemplos: Você não veio por quê? - POR QUAL RAZÃO O gerente não explicou a mudança, nem eu sei por quê. - POR QUAL MOTIVO Se a agência sonegou alguma informação, eu queria saber por quê. - POR QUAL RAZÃO PORQUE (JUNTO E SEM ACENTO) Equivale a pois, já que, uma vez que, como. Pode também indicar finalidade, equivalendo a para que, a fim de. É comumente utilizado em respostas. Exemplos: O motorista cancelou a viagem porque ficou retido no engarrafamento. - POIS Imagino que receberemos a indenização porque ninguém contestou nosso pedido. - UMA VEZ QUE Não julgues porque não te julguem. - PARA QUE PORQUÊ (JUNTO E COM ACENTO) Representa um substantivo e tem o mesmo sentido de causa, razão, motivo. É utilizado, geralmente, acompanhado de um termo determinante, como um artigo, por exemplo. Exemplos: Não me deu pelo menos um porquê de sua ausência. - MOTIVO Descobri o porquê de o motorista ter cancelado a viagem. - A RAZÃO Todos os porquês da demissão do funcionário foram revelados um a um. - AS CAUSAS MÓDULO 2 - Distinguir a grafia e o sentido corretos de palavras ou expressões similares PALAVRAS E EXPRESSÕES PARECIDAS, MAS DIFERENTES VOCÊ JÁ FICOU EM DÚVIDA EM COMO USAR UMA PALAVRA EM DETERMINADA FRASE OU SITUAÇÃO? Há palavras parecidas na forma de se escrever ou pronunciar que, no entanto, são diferentes em algum detalhe. Em alguns casos, elas possuem sentidos diversos. A partir de agora vamos relembrar como usá- las corretamente. Para isso, vamos primeiro analisar alguns casos e tentar identificar se as palavras foram aplicadas da maneira adequada. A / HÁ Observe o texto a seguir: AS PALAVRAS A E HÁ FORAM APLICADAS ADEQUADAMENTE? Apenas a palavra há foi aplicada da maneira correta. VOCÊ SABE EXPLICAR O USO ADEQUADO DESSAS PALAVRAS?
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