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............................... Página 1 de 125 Sefer Devarim 44 – Parashá Devarim Deuteronômio 1:1-3:22 Moshê Reúne a Nação Benê Yisrael atingiram o final de seus quarenta anos no deserto. Todos os homens da geração de Moshê haviam morrido, e seus filhos agora eram adultos. Acamparam nas planícies de Moav. Esta era a última parada antes de Êrets Yisrael. Aharon e Miriam não eram mais vivos. Apenas Moshê sobrevivera: tinha 120 anos de idade. Mas parecia um homem jovem! Suas faces não eram encovadas, e não era enrugado. Seu rosto brilhava com os raios da Shechiná. Era forte e caminhava com os passos largos de um homem jovem. Porém, Moshê estava ciente de que não cruzaria o Rio Jordão e não entraria em Êrets Yisrael. "Preciso falar com Benê Yisrael pela última vez," pensou ele. "Repetirei a eles a Torá e as mitsvot, para me certificar de que as aprenderam bem. Também os ensinarei novas mitsvot que ainda não aprenderam." "Primeiro discutirei os pecados que seus pais cometeram no deserto. Isto os ajudará a fazer teshuvá e evitar transgressões similares. Sabendo que logo morrerei, certamente eles me darão ouvidos." A primeiro de Shevat, em 2.488 (trinta e seis dias antes de sua morte), Moshê anunciou: "Todo o Povo de Israel deve se reunir e escutar minhas palavras!" Por que Moshê desejava que cada judeu ouvisse seu discurso? Ele pensou: "Se alguém estiver ausente agora e mais tarde ouvir minhas palavras repetidas através de outros, poderá discordar de algumas partes. Isso de forma alguma deve acontecer! Deixe que todos estejam presentes agora e ouçam o que tenho a dizer. Se alguém achar que estou errado, poderá falar agora e esclarecerei minhas palavras!" É difícil imaginar isto, mas o último discurso de Moshê durou trinta e seis dias! A cada dia, Benê Yisrael se reunia e escutava as palavras de Moshê e seus ensinamentos. Todo o Livro de Devarim é o discurso de Moshê! Moshê Começa a Falar A voz de Moshê não era alta o suficiente para atingir 600.000 pessoas, mas ocorreu um milagre, e ele pôde ser ouvido por todos os judeus presentes. Moshê Rabênu começou: "Falarei a vocês sobre seus pecados no deserto. Devem entender que a única razão pela qual lembro estes episódios é porque eu os amo. Quero ajudá-los a refinar-se e a fazer teshuvá." "Um mês depois de começarmos a viajar no deserto, a massa que trouxemos do Egito acabou. Vocês se queixaram: ‘No Egito sempre tínhamos bastante para comer. Morreremos todos de fome! Queremos pão e carne!’ "Embora reclamassem ao invés de confiar em D’us, Ele foi misericordioso. Fez cair o maná do céu e também forneceu carne fazendo cair pássaros. D’us fez o maná cair diariamente por quarenta anos." O povo ouviu estas palavras. Pensaram: "Como Moshê tem razão! Não confiamos em D’us. Em vez de reclamar, deveríamos ter tido fé. No futuro não mais reclamaremos, mesmo se as coisas ficarem difíceis." Moshê esperou. Alguém iria discutir? Alguém o contradiria? Mas todo o Povo de Israel permaneceu em silêncio. Concordaram com Moshê e fizeram teshuvá. Isto é verdadeiramente espantoso. Se nós tivéssemos estado lá, certamente teríamos feito uma objeção: "Moshê, não reclamamos pela falta de comida. Nossos pais o fizeram!" O pecado mencionado por Moshê havia acontecido quarenta anos antes, no início da caminhada pelo deserto. Naquela época, a geração que agora escutava Moshê ainda não havia nascido ou então eram criancinhas. Mesmo assim, ninguém falou: "Não somos culpados!" Isto demonstra que a nova geração era de verdadeiros tsadikim. Grandes tsadikim aceitam a responsabilidade até pelos erros de seus pais, como se fossem os seus próprios. O povo estava envergonhado e fez teshuvá pelas falhas dos pais. Moshê continuou: "Lembram-se do que aconteceu nas planícies de Moav?" Benê Yisrael curvou a cabeça, sentindo vergonha. Lembraram-se do pecado em Chitim, nas planícies de Moav, apenas uns poucos meses antes. Na maioria, apenas os membros da tribo Shimon havia pecado com as filhas de Moav. Haviam também servido ao ídolo Ba’al Peor. Os pecadores foram condenados por Moshê, e uma praga havia irrompido. Esta cessou apenas após Pinechás matar Zimri e rezar a D’us.Os ouvintes fizeram teshuvá por isto, também, embora não tivessem participado, e os verdadeiros culpados já tivessem morrido. Novamente, foi ouvida a voz de Moshê: "Como vocês se comportaram nas praias do Mar Vermelho, quando viram o exército do Faraó se aproximando de nós? Entraram em pânico! Alguns de vocês gritaram de medo: ‘Se ao menos tivéssemos morrido no Egito, ao invés de sermos mortos aqui pelo exército do Faraó!’ "Mesmo depois que D’us afogou o exército do Faraó, vocês não confiaram n’Ele. Pensaram que os egípcios tinham escapado do Mar Vermelho assim como vocês! Para provar que estavam errados, D’us ordenou que o mar jogasse os corpos dos egípcios nas praias. Apenas então acreditaram no milagre." Novamente, Benê Yisrael concorda com Moshê e aceita os erros dos pais como se fossem seus. Moshê continuou. "E recentemente – após a morte de Aharon – vocês reclamaram sobre o maná! D’us disse-lhes que deveriam se aprofundar no deserto, à terra de Edom. Vocês objetaram: ‘De volta ao deserto outra vez? Estamos fartos de sempre comer maná.’" Uma vez mais, os ouvintes aceitaram as duras palavras de Moshê. Esta era de fato uma geração notável! Ninguém gritou: "Pessoalmente, não tenho culpa!" Moshê ainda não terminara com a lista dos erros: "Todos se lembram do que aconteceu no deserto de Paran! Vocês enviaram ............................... Página 2 de 125 espiões! Mais tarde, quando se aproximaram de Chatserot, Côrach se rebelou!" Finalmente, Moshê falou sobre o pecado mais grave de todos: o bezerro de ouro. "Vocês estavam ricos com ouro quando saíram do Egito!" Moshê disse: "Porém, usaram-no para fazer um bezerro de ouro. Ao invés de terem sido destruídos, D’us ordenou que construíssem um Mishcan e perdoou-os pelo mérito do Mishcan." Novamente, Benê Yisrael aceita a admoestação de Moshê. Fizeram teshuvá pelo pecado do bezerro de ouro. O quê a Torá nos diz sobre estas falhas? Se você abrir o Livro da Torá nesta parashá e tentar encontrar o discurso de Moshê, ficará surpreso. Não está lá! Tudo que se pode encontrar na Torá são estas poucas palavras: "Moshê falou a Benê Yisrael sobre o que aconteceu nas planícies de Moav, no Mar Vermelho, no deserto"... E assim por diante. A Torá apenas menciona o nome de cada local onde um pecado aconteceu. Por que não há mais detalhes? D’us queria poupar o povo judeu da vergonha de ter um grande número de falhas enumeradas no início de um novo Livro da Torá. Por consideração para com os judeus, a Torá Escrita apenas dá indícios do discurso de Moshê. Moshê Abençoa Benê Yisrael Moshê descreve o que acontecera no início da jornada pelo deserto: "Fui designado não apenas como seu professor de Torá, como também para ser seu juiz. Como eu estava ocupado! Havia tantas discussões e disputas entre vocês. Eu me sentava e julgava por boa parte do dia, enquanto vocês freqüentemente esperavam por horas para ver-me. Vocês cresceram até tornarem-se uma imensa nação, e hoje são tantos como as estrelas do céu. Que D’us os multiplique mil vezes mais, dando-lhes filhos que sejam tsadikim como vocês. Que Ele os abençoe como prometeu a seus antepassados!" Por que Moshê subitamente abençoou Benê Yisrael no meio de seu discurso? Uma explicação seria: Moshê havia reclamado sobre como era difícil lidar com um povo tão numeroso. Mas não queria que o povo pensasse que estava infeliz por eles serem tantos. Por isso, rapidamente acrescentou uma bênção para que se tornassem ainda mais numerosos! O Midrash fornece outra explicação: D’us disse a Moshê: "Veja como Benê Yisrael é justos! Poderia ter reclamado quando você lembrou de seus erros. Porém, aceitaram suas palavras e fizeram teshuvá. Por isto, mereciam ser abençoados." E assim, Moshê deu-lhes a berachá. O Midrash nos diz:Benê Yisrael é Comparado às Estrelas, Areia e Pó da Terra Moshê comparou Benê Yisrael às estrelas, mas na verdade D’us fizera uma promessa diferente a cada um dos antepassados: •A Avraham: "Olhe para o céu. Tente contar as estrelas! Assim como esta tarefa é impossível, da mesma forma será impossível contar seus filhos!" •A Yitschac: "Seus filhos serão tão numerosos como os grãos de areia na praia!" •A Yaacov: "Seus filhos serão como o pó da terra." Tentemos entender como os judeus são comparados - as estrelas, areia e pó: •Estrelas – Cada estrela é importante para o universo. Se apenas uma estiver faltando, a criação de D’us é imperfeita. Da mesma forma, cada judeu também é de suma importância. •Areia – Embora ondas poderosas quebrem contra a praia arenosa, a delicada areia é uma forte barreira. A água não pode passar por ela e carregá-la para longe. Similarmente, o povo judeu repetidamente sobrevive aos ataques das nações do mundo. •Pó da terra – Plantas e árvores não cresceriam sem o solo. Benê Yisrael pode ser comparados à terra porque, pelo seu mérito, todas as nações são abençoadas. Na época de Moshê, D’us já tinha completado Sua promessa de que Benê Yisrael seriam como as estrelas. Apenas na época de Mashiach todas as promessas que D’us fez aos patriarcas serão totalmente cumpridas. Como Moshê Escolhia os Juízes Moshê continuou seu discurso: "Disse-lhes que trouxessem a mim os homens justos que sejam sábios e compreensivos. Eu os escolheria como juízes. "Ao ouvir este pedido, vocês deveriam ter respondido: ‘Moshê, preferimos que sejas nosso único juiz! Tu é quem recebeste os mandamentos diretamente de D’us. Os outros juízes são apenas teus alunos; não possuem todo o teu conhecimento. "Mas vocês concordaram imediatamente. Pensaram: ‘Entre tantos juízes, alguns aceitarão suborno e nos favorecerão!’" "Eu disse aos novos juízes: ‘Julguem todos os casos que puderem. Se um caso for muito difícil, tragam-no a mim.’" Embora Moshê assim falasse, D’us mostrou-lhe que mesmo ele não conseguiria cuidar sozinho de todos os casos difíceis. Quando as filhas de Tselofchad (na parashá de Pinechás) vieram perguntar a Moshê se a herança paterna deveria ser-lhes concedida, Moshê não respondeu de imediato, consultando primeiro D’us. Moshê então repetiu ao povo as regras que havia ensinado aos juízes. As Regras para os Juízes Judeus •O mesmo tipo de problema pode ser trazido a vocês mais de uma vez. Da primeira, será novo para vocês, assim estudarão cuidadosamente a solução. Da segunda vez, vocês não estudarão tão detalhadamente. Quando ouvirem o problema pela terceira vez pensarão: "Por que deveria eu escutar estas leis novamente? Já conheço este caso." Mas estão errados! Devem revisar ............................... Página 3 de 125 cuidadosamente cada caso antes de tomar uma decisão, mesmo se acharem que lhes é familiar. •Pode acontecer de lhe perguntarem sobre um caso a respeito de alguns centavos. Mais tarde, um caso envolvendo uma fortuna pode lhes ser apresentado. Não adiem a questão a respeito da pequena quantia, julgando o segundo em primeiro lugar. Devem ambos ter a mesma importância para você. •Quando duas pessoas entrarem para julgamento, não pensem: "Esta pessoa parece ser um vigarista. O outro aparenta ser uma pessoa decente!" •Ao contrário, ambas as partes devem parecer igualmente culpadas para vocês. Após aceitarem a decisão da justiça e saírem, ambos devem ser como tsadikim a seus olhos. •Um pobre e um rico têm uma disputa. Não pensem: "Esta é uma boa oportunidade de ajudar o homem pobre! Farei com que o rico perca o caso, para que pague dinheiro ao outro. Desta maneira, ajudarei o homem pobre!" Isto não é permitido! Não podem também favorecer o homem rico. Ambos devem ser iguais para vocês. •Nunca temam pessoa alguma. Se um rufião ameaçar: "Não ouse fazer-me perder, ou porei fogo em sua casa!" - não se deixem intimidar. •Vocês devem ouvir cada caso diretamente das pessoas envolvidas e não através de um tradutor. Por esta razão, para ser um membro do Sanhedrin (Suprema Corte) era preciso saber muitos idiomas. •Assuntos financeiros devem ser decididos por três juízes. Uma sentença de vida ou morte, porém, deve ser decidida por pelo menos vinte e três juízes. o Uma sentença de morte jamais pode ser pronunciada em um único dia. A decisão final deve ser tomada no dia seguinte. Moshê Fala Sobre os Espiões Moshê continuou suas palavras de admoestação a Benê Yisrael: "Dois anos após deixarmos o Egito, poderíamos ter entrado em Êrets Yisrael. Mas devido ao espiões, D’us nos manteve no deserto por mais 38 anos. "Na Outorga da Torá, vocês se comportaram respeitosamente. Mas quando vieram me falar sobre o envio de espiões a Êrets Yisrael, empurraram uns aos outros. As crianças abriam caminho empurrando os adultos, e os adultos eram desrespeitosos com os líderes, empurrando-os para o lado. "Em seguida agiram enganadoramente. Pediram que ‘mandássemos espiões para preparar o caminho para nossa conquista do país’. Mas esta não era a sua verdadeira intenção. Queriam evitar a luta com as nações que lá estavam. "Não confiaram na promessa de D’us de ajudá-los a conquistar as sete nações. Embora eu acreditasse em vocês, D’us entendeu suas verdadeiras intenções. "Escolhi doze dos melhores homens entre vocês. Eram tsadikim. Mas ao começarem a viagem, maus pensamentos perturbaram suas mentes. Começaram a planejar um relatório falso. Temiam lutar contra os canaanitas. Por isto, tentaram impedir que Benê Yisrael se envolvessem numa guerra. "Quando retornaram, apenas Yehoshua e Calêv louvaram Êrets Yisrael. Os outros falaram lashon hará sobre essa terra. "Novamente agiram de forma imprópria. Em vez de cerrar fileiras com Yehoshua e Calêv, acreditaram nos dez espiões. D’us havia nos falado sobre como a terra era boa. Por que não acreditaram n’Ele? "Vocês tinham medo de lutar contra as nações de Erets Yisrael. São realmente guerreiros poderosos, vivendo em cidades fortificadas até o céu. Há inclusive gigantes entre eles.’ ‘Mas disse a vocês para não sentirem medo - D’us lutaria por vocês! Viram como Ele cuidou de vocês amorosamente no deserto? Por que, então, não crêem que Ele lhes concederia mais bondade? "Após todo este comportamento impróprio, D’us ficou aborrecido: ‘Os homens desta geração não verão a boa terra que prometi aos seus antepassados’, prometeu Ele. ‘Apenas Yehoshua e Calêv terão este privilégio’" Moshê continuou: "Após o pecado dos espiões, D’us ficou descontente comigo também. Pelos próximos 38 anos, a profecia de D’us não foi transmitida com o mesmo amor, como antes do incidente dos espiões. Este acontecimento também causou minha morte no deserto. Porque golpeei a rocha em Mê Meriva, D’us disse-me que Yehoshua lideraria Benê Yisrael à Terra Prometida." Os Judeus e a Conquista da Terra de Israel "Embora D’us tivesse falado que traria apenas a próxima geração a Terra Prometida, alguns entre vocês disseram: ‘Não queremos esperar. Queremos entrar em Êrets Yisrael agora! Pecamos quando nos recusamos a lutar contra os canaanitas. Agora compensaremos por isto.’ "Vocês prepararam suas espadas, e estavam prontos a escalar a montanha na fronteira de Êrets Yisrael. Mas D’us advertiu: ‘Diga- lhes para não escalar! Não estou com eles! Serão derrotados!’ Mas vocês não deram ouvidos e mesmo assim foram para a batalha. Os emorim, que viviam na montanha, perseguiram e feriram vocês. Então aconteceu um milagre: qualquer emori que tocasse em vocês morria instantaneamente. Isto demonstrou como D’us controlava a situação." Benê Yisrael Não Conquistaram Três Nações Benê Yisrael estavam proibidos de conquistar três nações que faziam fronteira com Êrets Yisrael. As três nações eram: 1.Seir, onde os descendentes de Essav viviam. Um outro nome para este país é "Edom"; 2.Moav; 3.Amon. Por que Benê Yisrael foram proibidos de conquistá-los? Benê Yisrael e Seir (Edom) Moshê disse:............................... Página 4 de 125 "Ao final de nossa caminhada, D’us nos ordenou rumar para o norte, em direção a Êrets Yisrael, e passar pela terra de Seir. D’us advertiu: ‘Os descendentes de Essav são seus irmãos! Não os ataquem. Nem ao menos passem pela terra deles sem permissão. Se quiserem alimentos ou água, paguem por eles. Dei a terra de Seir a Essav até a era de Mashiach.’" D’us não permitiu que os judeus conquistassem Seir porque este país era a recompensa de Essav por honrar seu pai, Yitschac. De que Modo Essav se Destacou por Honrar seu Pai? Rabi Shimon ben Gamliel explicou: "Quando servi meu pai, vestia roupas comuns. Quando estava pronto para sair, me trocava e vestia roupas melhores. Quando Essav servia seu pai, usava as melhores roupas. Considerava seu pai um rei. Aprendi com Essav o quanto deve-se honrar os pais." Para não dar a Essav um espaço no Mundo Vindouro, D’us propositadamente concedeu a Essav a recompensa total por sua mitsvá neste mundo. Moshê continuou: "Enviamos mensageiros ao rei de Seir, pedindo-lhe que nos deixasse passar através de seu país. Ele recusou. Então, passamos ao redor do país de Seir." Benê Yisrael e Moav "Então nos aproximamos de Moav. Novamente, D’us advertiu: ‘Não podem conquistar Moav. Eu o dei aos descendentes de Lot até a era de Mashiach.’ Mesmo assim, D’us nos permitiu recolher os despojos deles. Foram eles que haviam contratado o mágico Bil’am para nos amaldiçoar e enviaram as suas filhas para nos fazer pecar (Parashat Balac)." Por que D’us ordenou aos judeus que não atacassem Moav? D’us previu que uma mulher notável nasceria em Moav. Tornar- se-ia judia, desposaria Boaz e seria mais tarde a avó do Rei David. Por causa dela, o povo de Moav não foi destruído. "Enviamos mensageiros ao rei de Moav, pedindo permissão para passar pelas suas terras. Mas ele também recusou, e então viajamos ao redor de Moav." Benê Yisrael e Amon "Quando nos aproximamos de Amon, D’us ordenou: ‘Benê Yisrael não podem lutar com os amonim. Nem ao menos lhes será permitido recolher os despojos deles. São descendentes de Lot, e receberam o país até que chegue a era de Mashiach.’" Por que Amon foi poupado? D’us previu que do povo de Amon nasceria uma mulher importante: Na’ama. Ela se tornaria judia e seria a mulher do Rei Shelomô. Seu filho, Rechavam, seria coroado rei após a morte de Shelomô. Há uma outra razão pela qual D’us proibiu a conquista de Moav e Amon: D’us poupou-os como recompensa pelo silêncio de Lot. Qual foi o mérito de Lot? No livro de Bereshit, na parashá de Lech Lechá a Torá nos relata o seguinte: Quando Avraham viajou ao Egito, fingiu que Sara era sua irmã. Lot, o sobrinho de Avraham, os acompanhou nesta viagem e sabia a verdade: Sara era a esposa de Avraham! Ele podia ter contado ao Faraó que Sara era a mulher de Avraham. O que poderia acontecer a Avraham? O Faraó o teria matado para ficar com Sara. Quando Lot ficou em silêncio, salvou a vida de Avraham. Como recompensa, D’us poupou as vidas de seus descendentes, os moavim e amonim. Por que Moshê lembrou aos judeus que D’us havia proibido a conquista de Seir, Amon e Moav? Benê Yisrael poderiam perguntar um dia: "Será que o exército de Moshê era muito fraco para derrotar aquelas nações?" Moshê deixou claro: "Embora D’us tivesse prometido a Avraham que vocês conquistariam dez nações, Ele está dando a vocês agora apenas sete nações. As outras três – Seir, Amon e Moav – serão dadas a vocês apenas na era de Mashiach. Não porque sejam muito fracos para sobrepujá-los, mas porque D’us assim o ordenou. Ele está esperando o momento certo para entregar estas três nações em suas mãos." Benê Yisrael Vencem Sichon e seu Exército Moshê continuou: "D’us não nos permitiu conquistar Edom, Amon e Moav. Mas Ele deixou-nos conquistar a terra de Sichon, rei dos emorim." Os emorim tinham tentado impiedosamente aniquilar os judeus. Ordenaram a seus soldados que se escondessem em cavernas na montanha, e atirassem suas flechas em Benê Yisrael enquanto estes estivessem passando por um estreito vale Emorita. Os judeus teriam sido destruídos se não fosse pela ajuda de D’us (veja Parashat Chucat). Moshê disse: "Enviei mensageiros a Sichon, pedindo: ‘Por favor, deixe-nos passar por seu país! Se precisarmos de comida, a compraremos de vocês.’ "Sichon recusou-se a nos deixar passar. Mesmo assim, senti que havia agido corretamente em enviar-lhe mensageiros. Aprendi de D’us que mesmo aos perversos deve-se dar uma chance." "Sichon mobilizou ser exército. Deixou a capital e marchou para atacar. Esta foi uma bondade especial de D’us. A capital de Sichon estava tão bem guarnecida que teríamos tido problemas em conquistá-la. Não tivemos que enfrentar diversos grupos de soldados espalhados em locais diferentes. O exército estava todo agrupado. Por isso, o capturamos rapidamente. "Matamos Sichon, o poderoso gigante e seu filho. Desta maneira, conquistamos a terra dos Emorim." A Derrota de Og O gigante Og era meio-irmão de Sichon. Governava o reino Emorita de Bashan. Quem era Og? O Midrash nos relata: Como Og Sobreviveu Até a Época de Moshê Todos os gigantes poderosos que viviam ao tempo de Nôach se afogaram no dilúvio. Apenas Og sobreviveu. Subiu por uma escada até a arca e implorou a Nôach: "Por favor, salve-me! Serei seu escravo para sempre," ............................... Página 5 de 125 Nôach refletiu: "Tantas pessoas tentaram salvar-se subindo na arca, mas nenhuma delas conseguiu. Como Og teve sucesso em chegar aqui, D’us provavelmente deseja que ele sobreviva!" Assim Nôach fez um pequeno furo na arca e passava comida a Og todos os dias. Só esta tarefa já mantinha Nôach e seus filhos muito ocupados! Nossos sábios dizem que Og devorava incríveis quantidades de comida, e que bebia galões de água. Mesmo assim, Nôach o alimentou, e Og sobreviveu. Por que D’us permitiu que vivesse? D’us desejava que o mundo visse um gigante da época anterior ao dilúvio. O mundo aprenderia então que D’us destruiu até mesmo esta raça de gigantes, porque rebelaram-se contra Ele. Og ainda estava vivo ao tempo de Avraham. Quando Lot, sobrinho de Avraham, foi capturado numa guerra, (Parashat Lech Lechá) Og pensou: "Vou correr e dizer a Avraham que seu sobrinho foi preso. Quando Avraham for resgatá-lo, será morto pelos captores de Lot. Poderei então casar-me com a linda Sara!" D’us imediatamente prometeu: "Pelos esforço que fizeste para trazer a Avraham a mensagem, terás vida longa. Mas como desejaste que Avraham fosse morto, serás destruído pelos seus descendentes!" Og era uma das pessoas convidadas ao berit milá de Yitschac. Os reis de Cnaan haviam sido convidados também. Os reis disseram a Og, "Você sempre chamou Avraham de ‘mula,’ dizendo que ele é como uma mula que não pode dar cria. Porém, veja, ele tem um filho, Yitschac!" Og olhou para o bebê de Avraham, um menino. Naquela época, os bebês nasciam tão grandes que mesmo os recém-nascidos precisavam de uma cama de adulto. Yitschac foi o primeiro bebê a nascer pequeno e fraco, como os bebês atuais. "Este bebê é tão pequeno que precisa de um berço!" - zombou Og. "Eu poderia matá-lo com um dedo!" "É assim que você fala do filho que dei a Avraham?" D’us disse. "Você viverá para ver dezenas de milhares de descendentes deste bebezinho! E você cairá em suas mãos." Quando Yaacov chegou ao Egito, Og estava visitando o Faraó. O Faraó disse a Og: "Você sempre afirmou que Avraham nunca teria filhos! Mas aqui está o neto de Avraham, Yaacov, e ele trouxe setenta dos descendentes de Avraham com ele!" Og ficou furioso. Desejou que todos os descendentes perecessem! "Seu malvado!" - disse D’us. "Por que lhe deseja mal? No fim, você será destruído!" Moshê contou a história: "Og tornou-se o governante de Bashan. Quando ouviu que havíamos conquistado Sichon, preparou seu exército para a guerra. "Chegamos perto de Edrê, a cidade fortificada de Og. Lá acampamos para passara noite e preparamo-nos para invadir a cidade pela manhã. "D’us disse-me: ‘Veja Og sentado sobre a muralha!’ Ele era tão imenso que quando sentava-se sobre a muralha, seus pés tocavam o solo. "Eu estava com medo. Pensei: ‘Este é o malvado que zombou de Avraham e Sara. Disse que eles eram como árvores próximas da água, mas que não dão frutos.’ ‘Não o tema,’ disse-me D’us. "Og apanhou uma enorme pedra para jogar em cima de nós. Mas D’us transformou-a em pedaços. Enquanto isso, apanhei um machado e atingi Og no calcanhar. Caiu para trás e morreu." "Enfrentamos o exército de Og. D’us fez o sol ficar imóvel até que a batalha terminasse. Assim, o mundo inteiro soube desta guerra e de nossa vitória." Derrotamos o exército emorita. Agora possuímos enormes lotes de terra a leste do Rio Jordão.Dividi a terra entre Reuven, Gad, e metade de Menashê. Ordenei então: ‘Embora já tenham recebido seu quinhão, devem acompanhar Benê Yisrael até Êrets Yisrael e ajudá-los a lutar. Depois, podem retornar à sua terra.’ "A Yehoshua, eu disse: ‘Você viu como D’us destruiu os poderosos gigantes Sichon e Og. Assim Ele destruirá todos os reis que vivem em Êrets Cnaan. Não tenha medo, pois D’us está lutando por você!’" Uma Boca Humana Falando a Palavra de D’us Por Eli Touger No Jardim da Tora - Adaptado de Likkutei Sichos, Vol. IV, p. 1087ff; Vol. XIX, p. 9ff A Singularidade de Devarim A leitura da Torá desta semana começa dizendo1: “Estas são as palavras que Moshê falou a todo o Povo Judeu”. Notando a diferença entre este livro e os quatro livros anteriores, que são todos “a palavra de D’us”, nossos Sábios explicam2 que Moshê recitou o Sefer Devarim “por sua própria iniciativa”. Isto não significa, D’us nos livre, que o Sefer Devarim seja meramente uma invenção humana. Nossos Sábios3 imediatamente esclarecem que Moshê pronunciou suas palavras “inspirado por D’us”. Da mesma forma, quando o Rambam define a categoria “daqueles que negam a Torá”4, ele inclui: “aquele que diz que a Torá, mesmo um versículo ou uma palavra, não emana de D’us. Se alguém disser: ‘Moshê fez estas declarações de forma independente’, ela está negando a Torá”. Nem um único comentarista afirma haver qualquer diferença neste sentido entre o Sefer Devarim e os quatro livros precedentes. O Sefer Devarim não contém meramente as palavras de Moshê. A identificação de Moshê com a Divindade era tão grande que quando ele declara5: “Eu concederei a chuva da tua terra em sua época”, ele fala na primeira pessoa apesar do pronome “Eu” claramente se referir a D’us. “A Presença Divina falava de sua boca”6. Por outro lado, também é claro que o livro envolve o próprio processo de pensamento de Moshê. Para dar um exemplo, há uma diferença de opiniões entre nossos Sábios se a proximidade de dois assuntos na Torá Escrita é importante ou não7. Uma opinião diz que sim, enquanto a outra explica que apesar de que quando os mortais estruturam seus pensamentos, a ordem é ............................... Página 6 de 125 importante, mas, “Já que a Torá foi dada pelo Todo-Poderoso, a ordem de precedência não é importante”8. Em relação a Devarim, entretanto, todas as autoridades concordam com a importância da sequência dos assuntos. “Moshê abordou passagem após passagem com o único propósito de permitir extrapolações”. Porque Devarim foi recitado por iniciativa de Moshê, a compreensão deste livro exige que as regras da sabedoria humana sejam levadas em consideração. Acima do Limite da Criação A explicação dos conceitos acima depende da apreciação da relação entre a Torá e nosso mundo. Nossos Sábios afirmam: “A Torá precedeu o mundo”9. Aqui, o conceito de precedência não é cronológico, pois o tempo, assim como o espaço, é uma criação, relevante somente depois que D’us criou a existência. Em vez disso, o objetivo é que a Torá está em um nível de verdade espiritual que transcende nossa estrutura material de referência. Apesar da Torá “descer” e “se revestir” em nosso mundo, falando de assuntos aparentemente comuns - como as leis da agricultura, códigos para uma prática comercial justa, e a estrutura adequada do casamento e os relacionamentos familiares - esta não é sua essência. A essência da Torá é “a vontade de D’us e Sua sabedoria”, unida com Ele em perfeita unidade10. Já que a Torá está fundamentalmente acima de nossa estrutura mundana, para que ela seja revestida pelo mundo, ela deve passar através de um mediador conectado tanto com o núcleo espiritual da Torá quanto com nossa natureza mortal. Moshê, nosso professor, possuía este atributo. Por um lado, Moshê representava o máximo em anulação, humildade, dedicação abnegada a D’us, um compromisso que transcende o pensamento mundano. Ao mesmo tempo, ele representava a perfeição no intelecto, emoção e até na força e estatura física de um humano11. Como tal, ele era capaz de transmitir a verdade espiritual transcendental da Torá de uma forma que os mortais pudessem compreender12. Dois Padrões Contrastantes Em particular, o pensamento chassídico descreve duas formas nas quais funciona um mediador13: a) Derech ma’avir: o mediador age meramente como um funil. Ele não muda ou modifica a influência que recebe; ele meramente a transfere. Assim, mesmo quando uma mensagem é trazida a um plano inferior, ela permanece transcendental. b) Derech hislabshus: o mediador coloca o conceito em suas próprias palavras. Isto muda a forma de apresentação do conceito e, assim, permite que ele seja captado pelos ouvintes. E assim é em relação à Torá. Os quatro primeiros livros foram transmitidos através de Moshê sem qualquer interferência de sua parte; ele os transmitiu ao Povo Judeu da mesma forma como os recebeu14. Com o Sefer Devarim, ao contrário, a palavra de D’us se tornou parte essencial do próprio pensamento de Moshê. Baseado nesta explicação, nós podemos ver porque todas as autoridades concordam que é possível derivar questões da lei a partir da ordem de assuntos do Sefer Devarim. Em relação aos quatro primeiros livros da Torá, a ordem é estruturada pela sabedoria Divina, de acordo com um padrão além do pensamento humano15. Já que a interpretação da lei da Torá “não está no céu”16, mas foi entregue ao intelecto humano, existem opiniões que mantêm que a proximidade de passagens naqueles livros não serve como um guia. O Sefer Devarim, entretanto, foi filtrado através do intelecto de Moshê, e a ordem de seus versículos corresponde àquele do pensamento humano. Portanto, a proximidade de assuntos neste texto pode servir como uma base para a derivação das leis da Torá. Conhecimento Interiorizado Mas, por que o Sefer Devarim é necessário? Revestir a Torá no intelecto humano nada faz além de diminuir o seu conteúdo espiritual. Para que propósito isto é necessário? No entanto, esta é a intenção de D’us ao entregar a Torá: que ela permeie o pensamento humano e, assim, eleve a compreensão do homem. Sempre que uma pessoa estuda a Torá, independentemente de seu nível espiritual, ela está tornando a sua infinita verdade parte de sua própria natureza. Se existissem somente quatro livros na Torá, teria sido impossível para os nossos poderes de entendimento terem se unido completamente com a Torá. Foi somente por ter passado o Sefer Devarim através do intelecto de Moshê que este objetivo foi cumprido. Além disso, a revisão da Torá por Moshê no Sefer Devarim nos dá a capacidade de entender os quatro livros anteriores de uma forma semelhante. Elevando a Torá Revestir a Torá no intelecto humano não concede simplesmente ao homem a oportunidade de avanço, mas também introduz, por assim dizer, uma qualidade superior na própria Torá. Pois revestir a espiritualidade ilimitada nos confins do intelecto humano representa uma fusão de opostos que é possível somente através da influência da essência de D’us17. Porque sua presença transcende tanto a finitude quando a infinitude, ela pode fundir as duas, trazendoa verdade espiritual da Torá ao alcance dos mortais. Nas Margens do Jordão Moshê recitou o Sefer Devarim enquanto os judeus estavam às margens do Rio Jordão, preparando-se para entrar em Eretz Yisrael. O cruzamento do Jordão seria um movimento tanto espiritual quanto geográfico. Durante suas jornadas através do deserto, os judeus dependeram de expressões milagrosas do favor Divino: eles comeram o maná, sua água vinha da Fonte de Miriam, e as Nuvens da Glória preservavam suas vestimentas. Depois de entrarem em Eretz Yisrael, entretanto, o Povo Judeu viveria dentro da ordem natural, trabalhando na terra e comendo os frutos de seu trabalho. Para tornar esta transição possível, eles precisaram de uma abordagem da Torá que relacionasse o homem da forma que ele funciona dentro deste meio mundano. Foi para este propósito que Moshê ensinou o Sefer Devarim. Nisto reside uma conexão com os dias de hoje, pois nós também estamos “às margens do Jordão”, preparando-nos para entrar em Eretz Yisrael junto com Mashiach. É através da abordagem ............................... Página 7 de 125 enfatizada pelo Sefer Devarim, fundindo a palavra de D’us com a sabedoria humana18, que nós mereceremos a era em que “a ocupação de todo o mundo será somente para conhecer D’us”19, a Era da Redenção. NOTAS 1.Devarim 1:1. 2.Megilá 31b. 3.Tosafos, op. cit. 4.Mishnê Tora, Hilchos Teshuvá 3:8. 5.Devarim 11:13. 6.Ver Zohar III, p. 232a; Shmot Rabá 3:15. 7.Berachot 21b; Yevamos 4a. 8.Raaban (Rabbi Eleazar ben Nasan), seção 34. 9.Midrash Tehilim sobre 90:4; Bereishis Rabá 8:2. Ver também a explicação deste conceito no maamar Issa B’Midrash Tehilim, 5653 [Sefer HaMaamarim 5708, p. 272ff, (o maamar recitado tanto pelo Rebe Rashab quanto pelo Rebe Anterior em suas celebrações de bar-mitsvá]. 10.Ver Tanya, cap. 4. 11.Ver Shabos 92a, Nedarim 38a. Ver também o comentário da Mishná (Sanhedrin 10:1), que descreve Moshê como “o mais perfeito de toda a humanidade”. 12.Ver Avos 1:1. 13.Ver Tanya, Kuntres Acharon, p. 158a, Or HaTorá, Vayicrá, Vol. II, p. 468ff. 14.Ver o oitavo dos Treze Princípios da Fé do Rambam (Comentários da Mishná, Sanhedrin 10:1). 15.Ver Shelo 402b. 16.Devarim 30:12; cf. Bava Metzia 59b. 17. Ver Likutei Sichot, Vol. VI, p. 117-118, que explica que o número 5 reflete uma conexão com a essência de D’us. É Devarim, o quinto livro da Torá, que expressa esta dimensão da forma mais completa. 18. Isto também está relacionado à especial contribuição da Chassidut Chabad. Chabad é um acrônimo das palavras hebraicas que significam “sabedoria, entendimento e conhecimento”. Como indicado, os ensinamentos de Chabad se esforçam para transmitir as profundas verdades místicas de nossa Torá de uma forma que possa ser captada pelos mortais. Como o Baal Shem Tov ensinou (ver a famosa carta enviada a seu cunhado Reb Gershon Kitover, publicada em Ben Poras Yosef), quando as fontes destes ensinamentos se espalharem, Mashiach virá. Ver o ensaio intitulado “Bridging the Gap” (Timeless Patterns in Time, Vol. I, p. 101). 19. Rambam, Mishneh Torah, Hilchos Melachim 12:5. Shabat Chazon: O Shabat da Visão A Haftará desta semana é a terceira de uma série de três “Haftarot de aflição”. Estas três Haftarot são lidas durante as Três Semanas de luto por Jerusalém, entre os jejuns de 17 de Tammuz e de 9 de Av. Yeshayahu ( 1:1-27) transmite aos judeus uma visão Divina que ele teve, castigando os residentes de Judah e Jerusalém por terem se rebelado contra D’us, criticando-os por repetirem seus erros e não abandonarem seus caminhos pecaminosos – mesmo depois de terem sido repreendidos e punidos. “Desgraça para uma nação pecadora, um povo pesado em iniqüidade, semente da transgressão, filhos corruptos. Eles abandonaram D’us; eles provocaram o Santo de Israel”. Duras palavras são empregadas, comparando os lideres judeus aos reis de Sodoma e Gomorra. D’us declara seu desgosto por seus sacrifícios e oferendas que foram temperadas com costumes pagãos. “Como ela se tornou uma prostituta, uma cidade pecaminosa; ela já foi repleta de justiça, na qual a virtude se alojava, mas, agora, é uma cidade de assassinos...”. Yeshayahu então fala palavras mais gentis, encorajando o povo a se arrepender sinceramente e praticar atos de justiça e bondade para os necessitados, órfãos e viúvas, e prometendo-lhes o melhor da terra em troca de sua obediência. “Se vossos pecados se mostrarem como o carmesim, eles se tornarão brancos como a neve; se eles se mostrarem vermelhos como a tinta carmesim, eles se tornarão como a lã”. A Haftará conclui com uma promessa de que D’us novamente estabelecerá os juízes e os líderes de Israel, quando “Tzyión será redimida através da justiça e seus penitentes através da justiça”. A primeira palavra da Haftará é “Chazon” (“A visão [de Yeshayahu]”). O Shabat em que esta Haftará é lida, o Shabat anterior a Tishá beAv é, assim, chamado de “Shabat Chazon”, o “Shabat da Visão”. De acordo com a tradição chassídica, neste Shabat, a alma de todo judeu é presenteada com uma “visão” do Terceiro Templo Sagrado que será reconstruído com a chegada do Mashiach. Devarim e Shabat Chazon A Parashat Devarim é sempre lida no Shabat Chazon (literalmente: “o Shabat da Visão”), o Shabat que antecede Tish’á BeAv, o dia nove do mês judaico de Av. Como não há coincidências no judaísmo, tem de haver, portanto, alguma ligação entre Parashat Devarim e o Shabat Chazon. O Chumash Devarim é singular por ser o único dos cinco livros da Torá que foi transmitido por Moshê à geração dos judeus que estava prestes a entrar na Terra de Israel. A geração dos judeus que vagaram pelo deserto é conhecida como “a geração do conhecimento”. Por estarem num nível espiritual tão elevado, que chegava a ser proporcional ao de Moshê, puderam ter uma existência totalmente espiritual. A geração que entrou em Israel, porém, iniciou um capítulo totalmente novo na história judaica. Por ter de ocupar-se com assuntos mais mundanos, seu nível espiritual é considerado inferior ao da geração que a antecedeu. Apesar de tudo, foi justamente a geração que entrou em Israel que pôde realizar o plano Divino. D’us quer que O sirvamos dentro do contexto do mundo material, estabelecendo “uma morada” para Ele nos “mundos inferiores”. Por isso, embora os judeus que entraram em Israel fossem ............................... Página 8 de 125 inferiores, em termos espirituais, comparados a seus pais, tinham certa vantagem sobre eles: os judeus que entraram em Israel conseguiram alcançar um nível de “paz e segurança” que a geração anterior não conseguiu. Shabat Devarim é, portanto, a junção de dois opostos. Por um lado, a entrada dos judeus em Israel foi uma descida muito grande, pois significava contato diário com assuntos mundanos. Por outro lado, foi justamente por meio dessa descida que puderam atingir o mais elevado dos picos: o cumprimento do plano de D’us. O Shabat Chazon é, também, repleto de contrastes. É durante os Nove Dias, uma época em que estamos de luto pela destruição do Bet Hamikdash. Mas ao mesmo tempo, como o famoso Rabi Levi Yitschak de Berditchev explicou, no Shabat Chazon todo judeu tem uma visão do Terceiro Bet Hamikdash, uma construção que será infinitamente superior aos dois Templos Sagrados que o precederam. Portanto, o Shabat Chazon representa, como Devarim, o mesmo tipo de descida que leva a uma subida. É justamente através da descida que causou a destruição do Templo que chegaremos ao mais elevado dos pináculos: o estabelecimento do Terceiro Bet Hamikdash por Mashiach, que seja imediatamente. Adaptado de Likutê Sichot, vol. II. (Traduzido de “L’Chaim Weekly”) O Lado Escuro da Lua O Poder da Rejeição Para ver realmente do que alguém é feito, observe a pessoa em tempo de crise. Moshê está nas notícias esta semana. Na porção desta semana da Torá lemos: Devarim – “estas são as palavras que Moshê falou…” Este é o início do quintolivro da Torá, que na sua totalidade documenta as palavras que Moshê disse ao povo nos últimos 37 dias de sua vida na terra. Sabendo que tinha pouco tempo de vida, Moshê revê todos os eventos que os judeus tinham vivenciado no decorrer dos últimos 40 anos, desde que deixaram o Egito. Ele discute o relacionamento que os judeus tinham estabelecido com D'us, as instruções que D'us deu a eles, e os encoraja a cumprir esses ensinamentos nas gerações futuras. No Livro de Devarim, Moshê na verdade está deixando ao povo seu testamento e sua última vontade. De fato, em suas palavras imortais (Devarim), Moshê nos deixa mensagens eternas que são especialmente apropriadas para esta época do ano. Portanto não é coincidência que este período – quando lemos as palavras de Moshê no Livro de Devarim – coincida com a fase em que Moshê passou na montanha conversando com D'us. Tempo, segundo o pensamento judaico, é um fluxo espiral de energia que anualmente repete sua órbita. Os eventos na história são na verdade formas de energia-experiência que revivemos quando atingimos o mesmo ponto no tempo a cada ano. Portanto, embora Moshê tivesse subido a montanha 40 anos antes de falar suas últimas palavras, neste tempo a ‘energia’ prevalecente é a de Moshê e suas palavras. Isso também coincide com a parte mais triste do Calendário Judaico. No décimo terceiro dia da jornada de 40 dias de Moshê no Monte Sinai, entramos no difícil mês de Av. Esse é o segundo segmento dos três períodos de 40 dias que Moshê passará na montanha, O primeiro período de 40 dias (6 de Sivan-17 de Tamuz) é quando Moshê recebe e lhe é ensinada a Torá inteira. Ele então desce, descobre o bezerro de ouro, o destrói, quebra as Tábuas, e então retorna à montanha para o segundo período de 40 dias (18 de Tamuz-29 de Av), implorando perdão a D'us. Sem ter sucesso, ele volta para um terceiro período de 40 dias (30 de Av-10 de Tishrei) e dessa vez é bem- sucedido, e desce triunfante em Yom Kipur com as Segundas Tábuas nas mãos. Sabemos muito sobre o primeiro e o terceiro períodos de 40 dias. Ambos estão bem documentados na Torá. O primeiro – quando Moshê reeebe a Torá; o último quando D'us mostra a Moshê “Seus caminhos” e revela a ele os Treze Atributos Divinos de Compaixão. Em contraste, sabemos quase nada sobre o período intermediário de quarenta dias. Sabemos que são chamados dias de “ira” (Seder Olam cap. 6. Rashi Devarim 10:10), porque D'us não é receptivo às súplicas de Moshê (em contraste com o terceiro período de 40 dias, que são chamados “dias de compaixão”, quando D'us recebe bem as preces de Moshê). Como é comum, a curiosidade humana gravita para o desconhecido e misterioso. O que aconteceu nesse período intermediário de 40 dias? Como Moshê conseguiu encarar um D'us “furioso” por 40 dias no total? O que ele disse e o que ouviu? Acima de tudo, o que o fez insistir quando não estava recebendo qualquer resposta positiva? E como ele se aventurou a voltar pela terceira vez quando fora rejeitado por 40 longos dias e noites? O que é tão intrigante sobre isso é que é um verdadeiro caso a se estudar – talvez o supremo – sobre a resistência e confiança humanas. Quando se deparam com um desafio formidável, e o sucesso parece impossível, de que as pessoas são capazes? Quando devemos desistir e quando devemos persistir? E acima de tudo, como seguimos em frente quando tudo ao nosso redor está desmoronando? Se Moshê tivesse conseguido receber o perdão de D'us com pouco ou nenhum esforço, não teríamos uma lição. Obviamente, o grande Moshê tem o ouvido de D'us, portanto não é surpresa que ele possa vencer qualquer porta. Mas e quanto a nós, pessoas comuns, – o que podemos realmente esperar conseguir quando tudo parece perdido? Isso traz à mente uma história, que pode ou não ser relevante aqui [mas, uma boa história sempre é oportuna…]. O Baal Shem Tov reuniu dez tsadikim para rezar por uma criança muito doente, mas foi em vão. Como último recurso, ele foi aos arredores da cidade e reuniu dez ladrões e pediu-lhes que rezassem pela criança. As preces ajudaram, e a criança se recuperou. Mais tarde, quando lhe perguntaram como as preces dos ladrões podiam conseguir aquilo que os tsadikim não puderam, o Baal Shem Tov respondeu com um sorriso: “Eu vi que todos os portões do céu estavam selados, e eu precisava de alguém para arrombar…” Porém, Moshê não conseguiu facilmente romper os portões do céu. Nesse período intermediário de 40 dias, todos os esforços ............................... Página 9 de 125 dele não produziram os resultados que ele esperava. E mesmo assim, é exatamente nessa rejeição que podemos aprender as mais profundas lições na vida. De fato, esta é a mensagem mais profunda do mês em que estamos entrando, Av. Na superfície, Av é o mês mais triste do ano, sendo o tempo em que trágicos eventos ocorreram na história, dos quais o maior é a destruição dos dois Templos Sagrados em Jerusalém. Os Nove Dias (de 1 a 9 de Av) são tradicionalmente uma fase de luto, quando evitamos celebrações e entretenimento. A tristeza se intensifica à medida que nos aproximamos de Tisha B’Av (9 de Av), até o nono dia, que é um jejum de 25 horas, quando amortecemos as luzes e sentamos “shiva” – em luto pelos Templos destruídos. O que devemos fazer nesses dias tristes? O Arizal nos diz que na angústia da tarde de Tisha B’Av, quando as chamas estiverem consumindo o Templo, nasce o Mashiach. A Redenção é concebida das cinzas da destruição. Nas trevas mais profundas está a luz mais poderosa. No entanto, com a nossa limitada perspectiva, somente podemos ver uma dimensão por vez; ou vemos escuro ou vemos luz. Alguém com profunda visão e concentração muito forte pode ver a luz dentro da escuridão. Moshê foi uma pessoa assim. Quando D'us o recusou durante o segundo período de 40 dias, Moshê não sentiu rejeição; ele viu oportunidade. Onde outros viram “ira”, ele viu desafio. Onde outros viam desesperança, ele viu potencial. Moshê teve essa visão porque tinha uma fé inabalável na bondade essencial de D'us e absoluta confiança de que o bem sempre iria prevalecer. Não havia a palavra “não” em seu vocabulário, nem a palavra “impossível” ou “desesperança”. Armado com tamanha confiança, nada, absolutamente nada, poderia abalar Moshê. Ele nem mesmo aceitou D'us dizendo-lhe que seu pedido era impossível. Moshê era supremamente resoluto, persistente – absolutamente seguro de que sua causa era certa, e que aquilo que é certo irá triunfar. Rabi Akiva foi outro homem assim, quando riu enquanto olhava para o Monte do Templo desolado. E também o Arizal, quando viu a redenção em seus momentos mais sombrios. Nossa visão pode não estar bem no nível dessas grandes almas. Porém, somos abençoados com a capacidade de olhar para a vida por intermédio dos olhos deles. Quando lemos as palavras de Moshê, estamos essencialmente recebendo o dom de ver a vida pelos seus olhos. O mesmo com Rabi Akiva, o Arizal e outros desse calibre. Pergunte a si mesmo: como você lida com a rejeição? Com desapontamento, com sonhos esfacelados e promessas quebradas? Como olhar para os momentos mais sombrios da vida, para as falhas e as perdas? A jornada aparentemente mal-sucedida de Moshê ao Sinai nesses dias na verdade foi muito bem-sucedida, na medida que nos permite ter um vislumbre sobre um homem de D'us sob pressão; nos habilita com a capacidade de ver o processo, não apenas os resultados. Acima de tudo: fez surgir a compaixão dos 40 dias seguintes, culminando com Yom Kipur. O Shaloh escreve que Aryeh (a mazal/sinal do mês de Av) é um acrônimo para Elul. Rosh Hashaná, Yom Kipur, Hoshaná Rabá. A compaixão de Elul; a renovação de Rosh Hashaná; o perdão de Yom Kipur; e o encerramento de Hoshaná Rabá – todos nasceram da energia de Av. É verdade que não estamos satisfeitos com esses 40 dias de “ira” – nem Moshê ficou: o que queremos é ter compaixão em nossas vidas, e sentirconscientemente o triunfo da esperança que foi finalmente atingido em Yom Kipur. Porém, ao mesmo tempo, o sucesso tardio de Moshê foi determinado por como ele lidou mais cedo com a rejeição, melhor dizendo: como isso o deixou inabalável, e mais resoluto que nunca. O ditado afirma: há pessoas que são como saquinhos de chá. Você não sabe como são fortes até que as coloca na água quente. Quando você pensa a respeito, não parece demais dizer que esse período de 40 dias encerra o segredo da vida, o segredo de Moshê, o segredo da eternidade. Sua maneira de lidar com crise, com rejeição, com fracasso, irá determinar o quanto você será bem-sucedido no final. Pode-se dizer que o sucesso na verdade nasce do fracasso. Algumas pessoas ficam desmoralizadas e esmagadas quando fracassam. Outras pemitem que o insucesso as eduque e as motive, para embutir nelas uma força mais profunda, que lhes dá o poder para sair-se bem no futuro. Sim, existem aqueles que veem este mês como Av – o mês mais triste no calendário. Alguns até mesmo dominaram os métodos para prantear e lamentar. Porém, existem outros que veem o Menachem (em) Av (o nome completo do mês) – eles veem o conforto e o consolo dentro da tristeza. Rabi Levi Yitschak de Berditchev nos diz que em Shabat Chazon (o Shabat anterior a Tisha B’Av) é mostrado a cada um de nós o Terceiro Templo a distância, a fim de evocar em nós o desejo de ter o Templo conosco. Daí, o nome Shabat Chazon – o Shabat da Visão. Existem aqueles que têm a visão de Yeshayáhu, que descreve a visão da destruição; e aqueles que veem o Terceiro Templo reconstruído. Temos o poder de escolher nossas visões. Por que você não seria um daqueles que veem o Menachem em Av? A Herança Eterna do Povo Judeu Em Tor@mail - (Ensaio baseado num discurso falado pelo Rebe de Lubavitch em 4 Av 5740, 17 de julho de 1980) Na Parashá desta semana, Devarim, Moshé se despede de sua nação apenas algumas semanas antes de sua morte, e narra as experiências da jovem nação durante os quarenta anos de jornada no deserto do Sinai, no caminho para a Terra Santa. Durante essa longa caminhada: desde o Egito até as margens orientais do Rio Jordão, passando pela península do Sinai, os forçou a passar por vários países vizinhos, todos antagonistas ao povo de Israel. Moshé registra então as instruções que dá aos Israelitas de como tratar esses países vizinhos. Suas palavras são tanto chocantes como atordoantes; seu poder moral ecoa até os dias de hoje. “D’us disse a mim,” Moshé relembra, “Dê ao povo as seguintes instruções: ‘Vocês estão passando pelas fronteiras de seus irmãos, os descendentes de Essav, que moram em Seir-Edom [Sudeste de Israel]. Embora eles temam vocês, vocês devem ser muito cuidadosos. Vocês não devem provocá-los, pois não lhes darei nem uma porção de sua terra. Como herança para Essav já lhes dei o Monte Seir... ............................... Página 10 de 125 Vocês devem comprar comida deles pagando em dinheiro para que tenham o que comer; e água também vocês devem comprar pagando em dinheiro para ter o que beber.” Além de Edom-Seir essa mesma cena se repete com o povo de Moav e Amon (descendentes de Lot). D’us nos proíbe de tomar qualquer parte da terra de Moav e de Amon, assim como ordenou em relação a Seir. Essas palavras pronunciadas há mais de 3 mil anos são impressionantes. Quando o mundo ainda era um deserto moral, uma sociedade pagã e bárbara, os judeus foram impedidos de tomar mesmo um centímetro de terra dos territórios de Seir, Moav e Amon. Por que a Torá, um livro mais de ensinamentos morais do que de dados históricos, registra uma instrução aparentemente insignificante com relação ao encontro dos judeus com 3 países? Que relevância isso tem para nós hoje? A resposta é dramaticamente clara. A Torá está nos comunicando as circunstâncias ligadas à conquista e estabelecimento de nossa terra, Erets Israel, para que quando as Nações Unidas, a Côrte Internacional de Justiça, a Comunidade Europeia, os países Árabes etc. decretarem Israel como um estado que ocupa terras árabes anexadas de outros países, o povo judeu possa abrir sua própria constituição, a Torá, e mostrar a mensagem inabalável de verdade moral: “Ouçam bem, defensores da ‘moralidade e direitos humanos’! Não venham falar conosco sobre terra roubada. Numa época em que a maior parte das tribos e nações degolavam seus próprios filhos para deuses pagãos, onde pais praticavam infanticídio regularmente, canibalismo era a dieta diária, e a maior parte das pessoas nem tinha ideia do que era certo ou errado – o povo judeu aprendeu que não deveria tocar no que não era seu. Não podiam colocar o pé num território que não fosse seu. O mesmo D’us que os instruiu a não entrar em solo estrangeiro, lhes concedeu a Terra de Israel – todo o território da Jordânia ao Mediterrâneo – como Seu presente para o povo judeu. Não é terra roubada; é a herança eterna do povo judeu!” Israel se tornou uma nação em 1313 AEC, 2000 anos antes do Islã. 40 anos depois, em 1273 AEC os judeus conquistaram a terra de Israel e a dominaram por mil anos. Nesse tempo todo Israel contou com a presença contínua de judeus nos últimos 3.300 anos. Chamar os israelenses de “ocupantes dos territórios da Margem Ocidental, Gaza e Jerusalém Oriental é como chamar os Franceses de ocupantes de Paris e Britânicos ocupantes de Londres. O conflito atual entre Israel e os países árabes não tem absolutamente nada a ver com qualquer ocupação. Em 1967, quando não havia nenhuma colônia judia e nenhuma ocupação, cinco países Árabes – Jordânia, Síria, Egito, Iraque e Líbano se juntaram à Arábia Saudita e criaram um plano para aniquilar Israel e “jogar os judeus no mar”. Yashiko Sagamori, um porta voz da “National Unity Coalition for Israel”, colocou muito bem num artigo: “Se você tem certeza de que a Palestina, o país, tem algum passado na história registrada, você deve responder algumas perguntas: “Quem fundou a Palestina e quando? Quais eram suas fronteiras? Qual era sua capital? Quais eram suas principais cidades? Que tipo de governo tinha? Qual era o idioma desse país? Qual era a religião principal? Qual era o nome de sua moeda? Escolha qualquer época da história e diga quanto essa moeda equivalia com relação ao dólar americano, marco alemão, yen japonês, yuan chinês etc. E, finalmente, já que não existe esse país hoje, o que causou sua derrubada e quando isso aconteceu? Na realidade, os palestinos são árabes normais, indiferenciáveis dos jordanianos, sírios, libaneses, iraquianos, egípcios etc. O principal erro estratégico e diplomático israelense provém da aceitação do pedido árabe por uma terra palestina. O mundo fica confuso: a posição árabe está clara para todos; a posição israelense está coberta em mistério. ‘Afinal de contas, eles acreditam que aquela terra pertence a eles ou não? Se acreditam, que parem de dizer que consentem a criação de um estado palestino lá. E se não acreditam, porque continuam lá?’ Quando falamos a verdade, devemos ser firmes e resolutos. Um Testamento de Amor "Estas são as palavras que Moshê falou a todos de Israel além do Rio Jordão, no deserto, em Aravat, em frente ao Suf, entre Paran e Tofel, e Lavan e Chatzerot e Di-Zavah" (Devarim 1:1). Embora este versículo possa representar a abertura e introdução ao Sêfer Devarim, à primeira vista o versículo parece permeado de passagens problemáticas e expressões. O observador atento perceberá imediatamente que não apenas os judeus não foram localizados no deserto, como o versículo parece sugerir (eles estavam na verdade nas planícies de Moav), mas em lugar algum da Torá encontramos menção a locais como Paran, Tofel e Lavan. Rashi resolve o enigma com a explicação de que na realidade este versículo não tem intenção de informar-nos sobre a localização dos filhos de Israel. Ao contrário, estas frases são na verdade alusões a fatos e servem como continuação da primeirametade do versículo. Dessa maneira, o versículo poderia na verdade ser lido: "Estas são as palavras (de admoestação) que Moshê falou a todos de Israel," com o versículo continuando a delinear os vários pecados cometidos pelos judeus no deserto, cada "lugar" referindo-se a um mal diferente. Entretanto, deparamo-nos imediatamente com outra dificuldade: por que deveria Moshê mascarar suas palavras de repreensão com um manto de disfarce? Por que não simplesmente vir direta e claramente delinear os crimes do povo judeu? Uma vez mais Rashi vem em nossa ajuda, explicando que Moshê escolheu ocultar sua repreensão em pistas e alusões para não arriscar-se a insultar ou ofender o próximo judeu. Se nos detivéssemos apenas um momento para refletir sobre as palavras de Rashi, poderíamos facilmente dispensá-las e seguir adiante. Entretanto, o tempo empregado em mergulhar um pouco mais a fundo na interpretação de Rashi vale a pena, pois ela revela ser um tesouro notável. O Livro de Devarim representa a conquista final de Moshê como líder dos filhos de Israel. Ele guiou os judeus através do deserto por quarenta anos, agindo às vezes como pai e, em outras, como ............................... Página 11 de 125 mediador e negociador. Cuidou de tudo. Agora chegou a hora de Moshê pronunciar suas palavras finais de admoestação e encorajamento. É agora ou nunca; se os judeus não entenderem a mensagem desta vez, jamais o farão. Certamente, poder-se-ia esperar que Moshê desejasse que suas intenções ficassem tão claras quanto possível, a fim de não deixar margem para mal-entendidos. Entretanto, encontramos exatamente o oposto neste versículo, pois Moshê mascara sua mensagem com um véu de alusões e referências enigmáticas. E por qual razão? Para não ofender e embaraçar o judeu, o que poderia levar à desunião entre o povo. Moshê está disposto a correr o risco de que suas palavras finais de advertência possam ser mal interpretadas ou aplicadas erroneamente, a fim de manter a harmonia no acampamento de Israel. A demanda pela paz é tão grande que até mesmo supera a significativa mensagem de Moshê em seu discurso final. Na verdade, encontramos a mesma idéia nas palavras de nossos sábios a respeito do reino de Achav, um dos reis mais perversos que Israel teve. O Talmud (Tratado Yerushalmi Pe'ah) ensina que embora a prática de idolatria tenha engolfado praticamente toda a população judaica em Israel na época, mesmo assim os exércitos de Achav foram capazes de derrotar seus inimigos na guerra. Por quê? Por causa da unidade e harmonia que reinava entre os judeus, que suplantou mesmo o grave pecado da idolatria. A mensagem é clara – a necessidade de paz e solidariedade entre o povo judeu é da maior importância. Mesmo a última vontade e testamento de Moshê, ou o mal da idolatria, não podem minar a importância da unidade. Embora devamos estar sempre cientes desta realidade, o período no qual nos encontramos agora clama para que tenhamos mais atenção ainda com o assunto. Este intervalo entre Shivah Asar B'Tammuz e Tishah B'Av, conhecido simplesmente como "Três Semanas", comemora os acontecimentos que culminaram com e incluíram a real destruição dos dois Templos Sagrados em Tishav B'Av. O Talmud (Tratado Yoma 9b) ensina que a destruição do Segundo Templo foi provocada pelo mal do ódio injustificado para com outros. Foi a falha dos judeus daquela época em reconhecer a importância de respeitar e honrar as necessidades do irmão judeu que levou à infortunada destruição do Templo. Cabe a nós retificar esta omissão, levando a sério a importante lição oculta nas palavras de Rashi na porção desta semana da Torá. Pois assim como o Templo foi destruído por causa de ódio não justificado, assim também será reconstruído pela bondade não justificada. O Presente da Identidade Por Rabi Mordechai Gafni O Sêder é uma noite mística, mágica. Porém é muito mais que isso. É a noite em que os pais dão aos filhos o presente da identidade. Através desse rito de passagem, os pais transmitem ao filho uma certeza intrínseca sobre seu lugar no mundo. A criança aprende que é infinitamente valiosa e digna; entende intuitivamente que sua existência no mundo como judeu tem um significado e um propósito. Como esta poderosa "certeza de ser" emerge de uma refeição festiva que celebra um antigo acontecimento histórico? Na monotonia da vida diária, a certeza de ser parece eternamente ilusória. Parte do problema está na maneira pela qual vivenciamos o tempo. Com freqüência, vivemos segundo as palavras de um adágio medieval: "O passado não é mais, o futuro ainda não é, e o presente é um piscar de olhos." Nessa concepção, não temos uma âncora no fluxo torrencial do tempo. Todos os vestígios de uma identidade firme são varridos para longe. O presente fugaz está divorciado do passado e do futuro. Uma maneira radicalmente diferente de vivenciar o tempo é aquilo que chamo de "Tempo Pêssach" – um presente que encerra tanto o passado como o futuro. Prisioneiros que estiveram encarcerados durante décadas no gulag dizem que sua capacidade de sentir a vida através do prisma de suas memórias e sonhos foi uma âncora de esperança num presente intolerável. Foi sua capacidade de viver em "Tempo Pêssach" que lhe deu a força para enfrentar uma realidade que lhes negava dignidade e valor. Foi isso que lhes deu esperança. A memória é a essência da esperança: este é o significado profundo do ensinamento de Rabi Nachman de Breslav, que quando um judeu acorda pela manhã, deve lembrar-se do mundo como poderia ser – como será um dia. Como escreve Gabriel Marcel – "A esperança é a memória do futuro." Em resposta à pergunta de "Quem sou eu?" o ser humano responde: "Sou minha memória e meus sonhos; sou minha história e minha esperança. Tanto o passado quanto o futuro vivem no presente e informam minha identidade interior. Sou a soma de minhas memórias do passado e do futuro. Eles dão à minha vida seu semblante, caráter e forma únicos." Sob o ponto de vista judaico, a memória individual não está sozinha. Ela se funde com a memória do povo, à medida que o coletivo e o pessoal se juntam. A identidade de um judeu é formada pela simbiose da história de sua pessoa e a história de seu povo. Em contraste com o judeu está Amalêc – um povo sem memória. Esta concepção sublinha o ensinamento cabalista de que Amalêc é igual a safec (incerteza). Analise este exemplo histórico: Os Filhos de Israel deixaram o Egito. Enquanto viajam pelo deserto, "as nações estremecem". Ainda está fresca na memória a impressionante exibição do poder Divino que caracterizou o Êxodo. Não é para menos que todas as nações tenham evitado atacar Israel. Somente um país ataca: Amalêc. Por quê? Porque Amalêc não tem memória, vive numa realidade afastada do passado e do futuro. É por este motivo que Amalêc é o símbolo bíblico do mal. Para os Gregos, o mal se origina na falta de conhecimento. Platão escreveu que a virtude é conhecimento, e a ignorância é a fonte do mal. Para os judeus, no entanto, a fonte primária do mal é a perda da memória, não a falta de conhecimento. Apropriadamente, Amalêc – o símbolo do mal nas fontes judaicas – é a pessoa ou o povo sem memória. Uma das modernas encarnações de Amalêc foi o movimento nazista. Elie Wiesel tentou capturar a essência daquilo que o nazista disse ao judeu em seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel. "’Esqueça. Esqueça de onde veio, esqueça quem você foi. Somente o presente importa.’" Os nazistas não apenas queriam matar os judeus, como queriam também destruir sua certeza de ............................... Página 12 de 125 identidade. Portanto, esse foi o método nazista: a destruição da memória. Não é surpresa que a principal atividade intelectual dos simpatizantes contemporâneos do Nazismo seja o revisionismo histórico, ou a negação do Holocausto. Revisar a história é destruir a memória, o que equivale a assassinar mais uma vez. A redençãosegundo o modelo bíblico depende da erradicação de Amalêc. A redenção é a recuperação da memória. Assim, é correto que a resposta judaica a Amalêc seja: "Lembra-te do que Amalêc fez quando tu deixaste o Egito." O Sêder de Pêssach é uma refeição da memória. Lembramo-nos e nos identificamos com a certeza que o povo de Israel sentiu na infância de sua nação. Os 40 anos no deserto são a "primeira infância" de Israel. D’us age no papel de um pai amoroso, concedendo a seus filhos o alimento (maná) e proteção contra o mal. Nós recordamos o amor incondicional que D’us tem por nós. No decorrer de toda a incerteza dos anos subseqüentes, é o poder deste amor incondicional que nos sustenta. Terminamos o Sêder com um sonho para o futuro. No próximo ano em Jerusalém. Não apenas Jerusalém, a cidade física, mas Jerusalém, o símbolo de um amanhã melhor. No Sêder de Pêssach, damos aos nossos filhos a promessa de um sonho e o mais doce de todos os presentes: o dom da memória. A Ciência da Sobrevivência Judaica Por Dov Greenberg Há mais de três mil anos, um grupo de escravos judeus foram libertados do Egito. Desde então, nessa época do ano, revivemos sua história em Pêssach, a Festa da Liberdade. Imagine que pudéssemos viajar de volta no tempo e dizer ao Faraó: "Temos boas e más notícias. A boa é que um dos povos que estão vivos hoje sobreviverá e mudará a paisagem moral do mundo. A má notícia é: não será o seu povo. Será aquele grupo ali de escravos hebreus, que estão construindo seus gloriosos templos, os Filhos de Israel." Nada poderia ser mais ultrajante. O Egito do tempo dos faraós era o maior império do mundo antigo, brilhante em artes e ciências, formidável na guerra. Os israelitas eram um povo sem terra, escravos indefesos. De fato, já na antiguidade, aqueles no poder acreditavam que os israelitas estavam em vias de extinção. A primeira referência a Israel fora da Bíblia é um obituário do povo judeu. Está inscrito numa pedra grande de granito, que hoje se encontra no Museu do Cairo: Ali diz: "Israel acabou. Sua semente não existe mais." A história da sobrevivência judaica é tão excepcional, vasta e sem paralelos que desafia a imaginação. Em nosso próprio século, as duas grandes potências que anunciaram: "Israel acabou" – o Terceiro Reich de Hitler e a União Soviética – foram esmagados e desmantelados. Porém o povo de Israel vive. Muitos pensadores e cientistas sociais tentaram, e ainda estão tentando, entender a sobrevivência de um povo, uma fé e um legado durante três milênios de condições históricas praticamente impossíveis. Blaise Pascal, o notável pensador, matemático, teólogo, físico francês do Século Dezessete, escreveu: "Em algumas partes do mundo podemos ver um povo peculiar, separado dos outros povos do mundo, chamado de povo judeu… Este povo não apenas é de impressionante antiguidade como também tem perdurado por um tempo singularmente longo… Pois enquanto os povos da Grécia e Itália, de Esparta, Atenas, Roma e outros que surgiram muito depois pereceram há tanto tempo, este ainda existe, apesar dos esforços de tantos reis poderosos que tentaram uma centena de vezes acabar com ele, como seus historiadores atestam, e como pode ser facilmente julgado pela ordem natural das coisas no decorrer de tantos anos. Eles sempre foram preservados, no entanto, e sua preservação foi prevista… Meu encontro com esse povo me surpreende…"1 Este é um tributo comovente, mas exige explicações. A Ciência da Sobrevivência Talvez possamos encontrar nossa resposta nos grandes pensadores empíricos de nosso tempo, os cientistas. Eles nos dizem que quando um cientista procura determinar as leis que governam um determinado fenômeno, ou descobrir as propriedades essenciais de um elemento da natureza, deve fazer uma série de experimentos sob as mais variadas condições para descobrir aquelas propriedades ou leis sob as quais todas as condições são as mesmas. O mesmo princípio poderia ser aplicado à sobrevivência judaica. É um dos povos mais antigos do mundo, começando sua história nacional com a revelação no Sinai há mais de três mil anos. No decorrer desses séculos, os judeus viveram sob condições extremamente variadas. Foram dispersos pelo mundo. Tiveram múltiplos idiomas, possuíram uma diversidade de culturas. Por exemplo, Rashi viveu na França cristã. Maimônides nasceu na Espanha islâmica. Rabi Akiva viveu sob o governo romano; os sábios talmúdicos sob a hegemonia babilônica. Suas sociedades foram totalmente diferentes. Tudo que os ligava no espaço e tempo eram uma fé, o estilo de vida de Torá. Nenhum outro povo sobreviveu durante tanto tempo sob tais circunstâncias. Se quisermos descobrir os elementos essenciais que formam a causa e a própria base da existência de nosso povo e sua força singular, devemos concluir que não foi sua terra, idioma, cultura, predisposição racial ou herança genética. O único fator constante que preservou nosso povo durante todas as vicissitudes é o tenaz apego ao nosso legado espiritual. Foi isso que tornou nosso povo indestrutível apesar de milênios de investidas contra o corpo e alma judaicos por bandidos e monstros de todas as espécies. O que a História Judaica nos diz é que a força do nosso povo como um todo, e de cada indivíduo, está num compromisso fiel à nossa herança espiritual, a base e essência de nossa existência. O peixe e a raposa Ninguém expressou isso melhor que Rabi Akiva, o grande sábio do Segundo Século. O Talmud relata como Rabi Akiva ensinava Torá em público na época em que o governo romano, sob o Imperador Adriano, proibiu essa atividade. Outro sábio, Pappus ben Judah, advertiu-o de que estava arriscando a própria vida. Rabi Akiva respondeu com a seguinte parábola: Uma raposa certa vez caminhava pela margem de um rio, quando viu peixes pulando de um local para outro. "Por que estão fugindo?" perguntou ela aos peixes. "Para escapar das redes do pescador." “Neste caso", disse a raposa, "venham viver na terra seca junto comigo." ............................... Página 13 de 125 "Você é aquele que descrevem como o mais esperto dos animais?" disse o peixe. "Você não é esperta, mas tola. Se estamos em perigo dentro da água, que é onde vivemos, imagine em terra seca, onde certamente morreremos."2 A Torá é para a sobrevivência judaica, disse Rabi Akiva, como a água para o peixe. Sim, estamos em perigo, mas se deixarmos a Torá, que sustenta nossa identidade, para entrarmos na terra seca dos Romanos, certamente morreremos. Esta não era meramente a convicção pessoal de um certo Rabi Akiva. É a própria história de Pêssach. Deixar o Egito foi apenas o início da liberdade, não o fim. Mas o que seria Pêssach sem sua conexão íntima com Shavuot? O que seria a liberdade israelita sem a Revelação no Sinai? 3 Imagine a Bíblia como a narrativa de um mero grupo cultural ou étnico. Leríamos sobre a escravidão dos israelitas no Egito. Continuaríamos a ler com entusiasmo sobre como eles conquistaram sua liberdade e foram levados a uma terra própria. Depois leríamos sobre como eles se mesclaram à paisagem ao redor, casaram-se com canaanitas, jebusitas e os outros povos do antigo Oriente Próximo, e se evaporaram com o tempo, irrevogavelmente. Sobrevivemos porque levamos a Torá conosco até Israel. Somos quem somos por causa de uma fé importante, fé que se provou mais forte que os maiores impérios da história. O Antigo Egito e Roma construíram grandes monumentos para sobreviverem aos ventos e às areias do tempo. Aquilo que eles construíram está de pé e em alguns aspectos jamais foi superado. Porém somente a arquitetura permanece, não a civilização que uma vez lhes deu vida. O Antigo Israel se tornou construtor, também, mas não de monumentos em pedra. Em vez disso eles foram chamados ao Sinai para construírem um mundo de justiça, digno de ser a morada da Divina Presença. Suas pedras seriam suas ações sagradas, e sua argamassa o estudo de Torá e compaixão.Ao ensinar os israelitas que o Arquiteto desse mundo é D'us, os construtores são todos que desejam se tornar Seus "parceiros na obra da criação". Moshê transformou um grupo de escravos num povo eterno. Notas: 1 - Pascal, "Pensees". 2 - Talmud, Berachot 61b. 3 - Perante o Faraó, Moshê não exigiu simplesmente em nome de D'us: "Deixa Meu povo ir", mas "Deixa Meu povo ir; para que eles Me sirvam. (Shemot 7:16). veja também Sefer HaChinuch (Mitsvá 306), que a razão de ser do Êxodo foi entrar num pacto com D'us que é nossa força de apoio. Então, Shavuot é a única festa que não tem data marcada no calendário. A Torá o designa como o 50º dia após Pêssach. Como Shavuot é o complemento de Pêssach, o propósito do Êxodo foi concretizado somente no dia em que ficamos no Sinai. Uma Missão Especial Por Jay Litvin "Tu nos escolheste dentre as nações" (Sidur). Os judeus são chamados de "Povo Escolhido". Muitos judeus se perguntam: "para que missão eu fui escolhido?" A resposta está na passagem da Torá (Shemot 19:3-6), na qual D’us se dirige a Moshê logo depois de Sua revelação no Sinai: Moshê subiu até D’us, e D’us o chamou da montanha, dizendo: "Assim dirás à Casa de Yaacov, e relata aos Filhos de Israel: ‘Vocês viram o que Eu fiz ao Egito, e que Eu os conduzi nas asas de águias e os trouxe para Mim. E agora, se Me ouvirem e cumprirem o Meu pacto serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação sagrada.’ Estas são as palavras que deves falar aos Filhos de Israel." O propósito do judeu é levar D’us ao mundo e aproximar o mundo de D’us. Estas palavras encerram o motivo pelo qual D’us "escolheu" os judeus; ou seja, para serem um "reino de sacerdotes e uma nação sagrada". A referência feita a sacerdotes não se refere aos Cohanim, sacerdotes descendentes de Aharon o Sumo Sacerdote, pois obviamente todo Israel não é constituído de sacerdotes naquele sentido. Ao contrário, a referência aqui é à "função sacerdotal". A função sacerdotal é "levar" D’us ao povo, e elevar o povo para ficar mais perto de D’us. O propósito do judeu é levar D’us ao mundo e aproximar o mundo de D’us. Em nossa associação com o mundo exterior cada um de nós – homem ou mulher – deve cumprir funções sacerdotais. A justaposição de um "reino de sacerdotes" e uma "nação sagrada" indica que sendo sagrados e dedicados à Torá e mitsvot em nossa vida privada, podemos ser embaixadores bem-sucedidos para o mundo exterior. Nosso impacto sobre o mundo exterior está relacionado com nossa dedicação à Torá e mitsvot. Esta "função sacerdotal" foi chamada pelo profeta Yeshayáhu de "uma luz entre as nações". Onde quer que os judeus se encontrem, na Diáspora ou na Terra de Israel, até um único judeu num canto remoto da terra, cabe a todo judeu e a toda comunidade judaica lembrar que é uma parte, e um representante, de todo o povo judeu, e portanto encarregado desta tarefa. Mesmo quando se encontram na galut (exílio), somente o corpo judaico está no exílio. A alma judaica nunca é exilada e está isenta de qualquer subjugação externa. Conseqüentemente, embora no exílio, os judeus não devem ignorar sua tarefa, nem subestimar sua capacidade, não importa quão limitados possam ser os seus poderes materiais. A extensão do dever da pessoa está na proporção direta à sua posição na vida. É maior no caso de um indivíduo que ocupa uma posição de certa proeminência que lhe dá oportunidade de exercer influência sobre outros, especialmente os jovens. Estas pessoas devem valorizar a responsabilidade que a Divina Providência investiu nelas para divulgar a luz da Torá e combater as trevas, seja qual for a forma que ela se apresente. A alma judaica nunca é exilada e está isenta de qualquer subjugação externa. Que ninguém pense: "Quem sou eu, o que sou eu, para ter tamanha influência?" Pois já vimos – para nossa consternação – o que mesmo uma pequena quantidade de matéria pode fazer em termos de destruição através da liberação da energia atômica. Se ............................... Página 14 de 125 tamanho poder está oculto numa pequena quantidade de matéria para destruição – contrariando o desígnio e o propósito da criação – muito maior é o poder criativo confiado a todo indivíduo para trabalhar em harmonia com o Divino propósito. Neste caso, a pessoa recebe capacidades especiais e oportunidades concedidas pela Divina Providência, para atingir a meta para a qual foi criada; a concretização de um mundo no qual "Cada criatura reconhecerá que Tu a criaste, e cada alma declarará: ‘D’us, o D’us de Israel, é Rei, e Seu reinado é supremo sobre tudo’" (Preces de Rosh Hashaná). Foi dada ao povo judeu a diretiva: "Não pela força ou pelo poder, mas pelo Meu espírito, diz D’us." Para o povo judeu e a comunidade judaica (até para o judeu como indivíduo), capacidades Divinas especiais foram concedidas para cumprir sua tarefa da maneira mais completa possível. Pois, seus poderes físicos estão conectados, e subordinados, aos seus poderes especiais, que são infinitos. Um exemplo histórico disso é encontrado no tempo do Rei Shelomô, Salomão, quando o povo judeu se destacou entre as nações do mundo por ter atingido o mais alto grau de sua perfeição. Nossos Sábios, referindo-se a esse estado, o descrevem como "a lua em sua plenitude", pois, como se sabe, o povo judeu é comparado à luz, e eles "contam" seu tempo (meses do calendário) pela lua. Uma das explicações para isso é que, assim como a lua passa por mudanças periódicas em sua aparência, segundo sua posição em relação ao sol cuja luz ela reflete, também o povo judeu passa por mudanças segundo a medida da luz de D’us que refletem, pois está escrito: "Pois D’us Elo-kim é sol e escudo." Esta perfeição no tempo do Rei Shelomô (sem considerar o fato de que, mesmo então, os judeus constituíam numérica e fisicamente "a menor de todas as nações" expressou-se de maneira bem distinta nas relações entre o povo judeu e os outros países do mundo. A reputação da sabedoria do Rei Shelomô despertou um forte desejo entre reis e líderes de irem até ele, observar sua conduta e aprender com sua sabedoria – a sabedoria pela qual ele rezara e recebera de D’us – permeada com santidade. E quando eles foram também viram como, sob a sua liderança, o povo vivia, até na vida material, "com segurança, todo homem em sua vinha e sob sua fogueira", numa terra onde "os olhos de D’us, seu D’us, estão constantemente sobre ela, do início ao final do ano." E foi isso que levou a paz entre os judeus e todas as outras nações. Assim, fica claramente demonstrado que quando os judeus vivem segundo a Torá, atingem a verdadeira paz, e servem como uma luz guia para as nações – "as nações seguirão pela sua luz" – a luz da Torá e mitsvot. A missão do judeu e da comunidade judaica não está limitada ao tempo em que estão como "lua cheia", mas também quando no exílio, "espalhados e dispersos entre as nações". Tornar-se um povo sagrado aos olhos de D’us não é um título ganho em um sorteio ou concurso, mas na dedicação de anular- se para cumprir a Sua vontade e tornar-se responsável e apto a levar seu papel adiante neste mundo e em todas as gerações. Judeu, Quem é Você? O que quer que você seja, sempre é e será um judeu. Homem ou mulher, jovem ou adulto, empresário, estudante, ecologista, você pode ser o que quiser, lembrando sempre que além disso você é judeu. Mesmo que queira deletar, existe sempre alguém que irá lhe lembrar. O que é que o faz ser um judeu? Será que a pronúncia do seu nome ou sobrenome soando judaico faz de você um judeu? Ou por que gosta de varenikes e outros pratos tradicionais que o torna judeu? Ou talvez são seus traços físicos? Obviamente, nada disto. Há mais de 3300 anos, nossos ancestrais foram escravizados pelos faraós no Egito. Seis milhões de nossos irmãos judeus foram massacrados pelos nazistas. Houveram os gregos, romanos, inquisidores, cruzados e cossacos, para mencionar e se você vivesse em qualquer um destes períodos,