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FUNDAÇÕES E CONTENÇÕES Aula 10: Fundações profundas – carga admissível Curitiba, 16 de maio de 2022. Prof.ª MSc. Larissa Vieira CARGA ADMISSÍVEL 𝑃𝑎 = 𝑅 𝐹𝑆 Pa = carga admissível do estaqueamento; R = capacidade de carga média do estaqueamento; FS = fator de segurança global Fator de segurança: métodos semiempíricos NBR 6122/2019: Carga de catálogo (Pe): É a carga admissível do elemento estrutural da estaca, indicada no catálogo do fabricante ou executor da estaca, em função da seção transversal do fuste e do tipo da estaca. Como a carga de catálogo é definida inicialmente, ela passa a representar o limite superior para a carga admissível da fundação: Pa ≤ Pe Exemplos: (tabelas para demais tipos de estaca no livro) Escolha do tipo de estaca • Dados da edificação: tipo, porte, localização, valores das cargas dos pilares etc.; • Dados do terreno: sondagem SPT; • Localização: vizinhança pode restringir alguns tipos de fundação (necessidade de limitação dos níveis de ruído e/ou vibração); • Distância de centros urbanos: disponibilidade de equipamentos para certos tipos de fundação; • Grandeza das cargas de pilar pode excluir determinados tipos de estaca, bem como a posição do nível d’água. A análise dos dados da edificação e do terreno permite delimitar os tipos de fundação tecnicamente viáveis, recaindo a escolha final sobre os fatores custo e prazo de execução. Escolha do tipo de estaca • Se a variação das cargas de pilar for muito ampla, é possível trabalhar com dois ou até três diâmetros diferentes no mesmo projeto (cada diâmetro é considerado estaqueamento separado, com sua carga admissível); • Devem ser considerados dois aspectos relativos à exequibilidade: 1) Comprimento máximo da estaca limitado pelo equipamento disponível; 2) Redução da eficiência do equipamento com o aumento da resistência do solo, podendo provocar a parada da estaca → limites máximos para a penetrabilidade no terreno (cravabilidade ou escavabilidade) Escolha do tipo de estaca Metodologias de projeto • Um projeto de fundações deve prever a cota de parada das estacas e fixar a carga admissível; • Pode-se trabalhar com a sondagem média (média do resultado de vários furos de SPT); ou dividir o estaqueamento em regiões de abrangência de cada furo de sondagem e analisar separadamente cada uma das regiões. • Cintra e Aoki (2000, 2001) propõem três metodologias de projeto, apresentadas a seguir 1ª metodologia • Escolhido o tipo de estaca e o diâmetro (ou seção transversal do fuste), temos a correspondente carga de catálogo; • Então, adotamos a carga admissível como sendo a própria carga de catálogo; • Multiplicando a carga de catálogo (aqui considerada como carga admissível) pelo fator de segurança, é obtida a capacidade de carga. • Em seguida, por tentativas e utilizando um dos métodos semiempíricos, procuramos o comprimento da estaca (L) compatível com a capacidade de carga obtida. Pa = Pe → R = Pa . FS → L 2ª metodologia • Uma limitação do equipamento pode impor um comprimento máximo (Lmáx) exequível para a estaca; • Então, adotamos o comprimento da estaca como sendo o comprimento máximo; • Calculamos a capacidade de carga por um dos métodos semiempíricos; • Aplicamos o fator de segurança e chegamos à carga admissível L = Lmáx → R → Pa = R/FS 3ª metodologia • De acordo com a Tabela 2.7, para cada tipo de estaca há uma faixa de valores de NSPT que provocam a parada da estaca, devido à ineficiência do equipamento a partir desses valores; • Então, buscamos nas sondagens os valores de NSPT que estão dentro desses limites, os quais indicam as prováveis cotas de parada e os prováveis comprimentos da estaca (L); • Para cada um dos comprimentos, calculamos a capacidade de carga e a carga admissível. Nlim → L → R → Pa = R/FS Interdependência das metodologias As três metodologias são interdependentes, ou seja, a escolha por uma delas não significa que ela possa ser seguida até o final... Sempre devem ser verificadas todas as metodologias! • Quando começamos pela 1ª metodologia, pode ocorrer que o comprimento encontrado para a estaca seja superior ao máximo exequível. Nesse caso, adotamos L = Lmáx e passamos para a 2ª metodologia; ou • Se encontrarmos um comprimento L que, para ser atingido, exigiria atravessar camadas com NSPT além dos limites de eficiência do equipamento. Nesse caso mudamos para a 3ª metodologia. Interdependência das metodologias • Quando começamos pela 2ª metodologia, pode resultar uma carga admissível superior à carga de catálogo, o que indica a necessidade de passar para a 1ª metodologia; • Ou encontramos um comprimento L que, para ser atingido, exigiria atravessar camadas com NSPT além dos limites de eficiência do equipamento. Nesse caso mudamos para a 3ª metodologia. Interdependência das metodologias • Quando começamos pela 3ª metodologia, pode resultar um carga admissível superior à carga de catálogo, o que indica a necessidade de passar para a 1ª metodologia; • Ou pode ocorrer que o comprimento encontrado para a estaca seja superior ao máximo exequível. Nesse caso, adotamos L = Lmáx e passamos para a 2ª metodologia Interdependência das metodologias Exercício 2 (Capítulo 2 Livro Fundações por Estacas) Para os mesmos dados do Exercício 1, determinar a carga admissível do estaqueamento: a) Considerando que 12 m é o máximo comprimento disponível dessa estaca, e que não há possibilidade de emenda b) Considerando a possibilidade de emendar as estacas. Dados do Exercício 1: • Estacas pré-moldadas de concreto centrifugado • Diâmetro de 0,33 m • Carga de catálogo de 750 kN Solução: a) A opção por não emendar as estacas impõe L =Lmáx = 12 m, condição esta para qual encontramos R = 950 kN (Exercício 1). Vamos revisar o Exercício 1: 1) Considerando estacas pré-moldadas de concreto centrifugado, com diâmetro de 0,33 m, carga de catálogo de 750 kN e comprimento de 12 m, cravadas em local cuja sondagem é apresentada na figura a seguir, com ponta à cota -13 m, fazer a previsão da capacidade de carga dessa fundação utilizando o Método Aoki-Velloso. Fatores de correção: estaca pré-moldada de concreto com D = 0,33 m F1 = 1 + D 0,80 = 1 + 0,33 0,80 = 𝟏, 𝟒𝟏 F2 = 2 F1 = 2 . 1,41 = 𝟐, 𝟖𝟐 Resistência lateral: -1 a -6 m: areia argilosa Nméd = 5 + 2 + 3 + 2 + 4 5 ≅ 3 -1 ou NL Resistência lateral: -1 a -6 m: areia argilosa Resistência lateral: -1 a -6 m: areia argilosa RL1 = ∝ .K . NL F2 . U . ∆L RL1 = 0,03 . 600 . 3 2,82 . π. 0,33 . 5 K = 0,60 MPa = 600 kPa U = π . D (perímetro da seção circular) 𝐑𝐋𝟏 = 𝟗𝟗 𝐤𝐍 Resistência lateral: -6 a -11 m: areia argilosa Nméd = 4 + 7 + 9 + 9 + 7 5 ≅ 7 ou NL Resistência lateral: -6 a -11 m: areia argilosa Resistência lateral: -6 a -11 m: areia argilosa RL2 = ∝ . K . NL F2 . U . ∆L RL2 = 0,03 . 600 . 7 2,82 . π. 0,33 . 5 K = 0,60 MPa = 600 kPa U = π . D (perímetro da seção circular) 𝐑𝐋𝟐 = 𝟐𝟑𝟐 𝐤𝐍 Resistência lateral: -11 a -13 m: areia argilosa Nméd = 7 + 9 2 ≅ 8 ou NL -13 Resistência lateral: -11 a -13 m: areia argilosa Resistência lateral: -11 a -13 m: areia argilosa RL3 = ∝ . K . NL F2 . U . ∆L RL3 = 0,03 . 600 . 8 2,82 . π. 0,33 . 2 K = 0,60 MPa = 600 kPa U = π . D (perímetro da seção circular) 𝐑𝐋𝟑 = 𝟏𝟎𝟔 𝐤𝐍 Resistência lateral total: RL = RL1 + RL2 + RL3 RL = 99 + 232 + 106 = 𝟒𝟑𝟕 𝐤𝐍 RL1 RL2 RL3 Capacidade de carga: R = RL + RP = 437 + 510 = 947 ≅ 950 kN Resistência de ponta (cota -13 m): Areia argilosa com NSPT = 14 -13 RP = K .NP F1 . AP RP = 600 . 14 1,41 . 𝜋 (0,33)² 4 𝐑𝐏 = 𝟓𝟏𝟎 𝐤𝐍 Retornando à solução do Exercício 2(a): A opção por não emendar as estacas impõe L = Lmáx = 12 m, condição esta para qual encontramos R = 950 kN (Exercício 1). Examinando as três metodologias: 1ª metodologia: Pa = Pe = 750 kN Pa = R/FS → R = FS . Pa R = 2 . 750 = 1.500 kN Para atingir R = 1500 kN, é necessário que L>> 12 m → não verifica 2ª metodologia: L = Lmáx = 12 m → ok R < 1.500 kN e NSPT = 14 < Nlim -13 3ª metodologia: 25 < NSPT < 35 → L = 19 a 23 m (obtido no perfil SPT) Resultam em L >> 12 m → não verifica -20 25 < NSPT < 35 Portanto, prevaleceu a 2ª metodologia, com L = 12 m e R = 950 kN. Aplicando o fator de segurança igual a 2, temos a carga admissível: Pa = R FS = 950 2 = 475 ≅ 500 kN b) Considerando a possibilidade de emendar as estacas Neste caso, fica descartada a 2ª metodologia, já que não há comprimento máximo estabelecido. Examinemos as outras duas metodologias, começando pela primeira: 1ª metodologia: Vamos, por tentativas, procurar o comprimento da estaca necessário para que Pa = Pe = 750 kN Aproveitando os dados obtidos do Exercício 1, vamos recalcular apenas a última parcela da resistência lateral (RL3) e a resistência de ponta (Rp) Ou seja, vamos recalcular a capacidade de carga e respectiva carga admissível aumentando o comprimento da estaca de 1 em 1 metro, até encontrar Pa = Pe = 750 kN Logo, pela primeira metodologia, a estaca deverá ter a ponta na cota -18 m (L = 17 m), com Pa =750 kN. 3ª metodologia: Pela 3ª metodologia, temos os valores limites de NSPT que correspondem à parada da estaca, no caso de pré-moldada com diâmetro superior a 0,30 m (Tabela 2.7): 25 < NSPT < 35 O que levaria a estaca até as cotas -20 a -24 metros (L = 19 a 23 m). Esses comprimentos de estaca, porém, resultariam em cargas admissíveis bem superiores ao limite máximo imposto pela carga de catálogo (Pe =750 kN) Portanto, prevalece a 1ª metodologia, com L = 17 m e Pa =750 kN.