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Estilo e História do Mobiliário Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Renata Guimarães Puig Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Civilizações Clássicas e Idade Média • Pré-História; • Egito; • Grécia; • Roma; • Bizâncio; • Alta Idade Média e Europa Gótica. • Ver a divisão clássica de História, iniciando com os primeiros assentamentos humanos na Pré-História, civilização egípcia, grega e romana; • Estudar a Idade Média com o estilo Bizantino e, por último, o estilo Gótico. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Civilizações Clássicas e Idade Média Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média Contextualização A História do Mobiliário não pode ser desvinculada da História Geral da humani- dade, não são histórias diferentes. Há uma relação da produção de móveis com os costumes de um povo, sua organização política, sua religião. Assim como em Ar- quitetura existe uma relação das edificações com o período da História das Artes, o mobiliário faz parte do universo cultural do homem e por isso vamos, ao longo da disciplina, traçar um paralelo com o desenvolvimento da civilização. Importante! Na História da Arte, estudamos o período Barroco, de magníficas pinturas no interior das igrejas. Suas características propiciavam ao expectador verdadeiros cenários que o levavam ao divino, que representavam o céu, os santos e toda a importância da religião. Essa Arte estava ligada a um movimento da igreja católica em retomar fiéis, em firmar seu poder e expansão de seus domínios após o período de abalos com o surgimento do Protestantismo. Na Arquitetura, as edificações também foram influenciadas pelo perí- odo Barroco: adornos nas construções, curvas, exageros de formas, tudo fazia parte do estilo artístico do momento. E é claro que os móveis acompanharam esse estilo de Arte. Importante! De maneira geral, podemos entender a História do Mobiliário por diferentes enfoques: primeiro pela sua utilidade, ou seja, o móvel criado para alguma função básica, como a necessidade do homem de sentar, dormir, apoiar e guardar objetos. Assim surgiram os bancos, cadeiras, camas, mesas, baús e guarda-roupas. Segundo, pela importância dos móveis como indicadores da posição social. Quanto mais alta a hierarquia social, mais importância à mobília de uma residência. Em terceiro lugar, podemos destacar as inovações tecnológicas da produção mobiliária. Desde a fabricação artesanal com madeiras, à produção em série em fábricas após a Revolução Industrial e a utilização de novos materiais, como vidros, metais, polímeros, ferragens etc. O móvel acompanha o desenvolvimento tecnoló- gico da humanidade. Nos últimos anos, principalmente após as grandes guerras, o avanço foi muito maior do que em vários séculos anteriores. O quarto e último aspecto seria a disposição e organização dos móveis no espa- ço das moradias. Por exemplo, a separação dos ambientes em espaços para refei- ções, dormitórios, salas de estar é uma modificação que vem ocorrendo ao longo da história, certamente influenciada pela cultura, pelo domínio de novas técnicas construtivas e pelo modo de vida. Para ilustrar esse primeiro contato com o tema, podemos citar a presença, atual- mente, do home-office nas residências. Há alguns anos, ninguém pensava em traba- lhar em casa, o local de trabalho era a empresa, a indústria, o escritório ou comércio. 8 9 Nos anos 80 do século XX, o personal computer ou PC foi se popularizando e entrando nas residências; na década de 90 foi a vez da internet chegar aos lares e logo a rede mundial de computadores modifi cou as relações de trabalho. Podemos trabalhar em casa, conectados à empresa, vender ou comprar produtos em qualquer parte do planeta, e um novo espaço surge dessa necessidade: o escritório dentro da residência. Na sequência, pensamos: a mesa para o computador, a cadeira confortável para fi car várias horas trabalhando, como adequar a sala ou o quarto para receber essa nova função? Ex pl or Essa evolução no modo de vida sempre aconteceu, desde os primeiros assentamen- tos humanos até a residência do século XXI, caminhando junto com a produção do mobiliário. E é nesta viagem à história da humanidade que embarcaremos, com o ob- jetivo de chegarmos ao fim conhecendo as principais características dos móveis produ- zidos na antiguidade até hoje. É importante estabelecer que seguiremos a divisão mais co- mum, ou a mais utilizada por diversos autores sobre História Geral, a periodização clássica: Pré-História - História Antiga – Idade Média – História Moderna e História Contemporânea. Nas próximas unidades, relacionaremos o período histórico com o movimento arquitetônico ou artístico correspondente e estudaremos como eram os móveis mais utilizados. Também faremos visitas virtuais a museus pelo mundo para conhe- cermos esses móveis. Então, sejam bem-vindos à nossa viagem! Pré-História Período que se inicia com o surgimento do Homem e se estende até cerca de 3.000 a.C., com o surgimento da escrita na Mesopotâmia. Esse período se subdi- vide em Paleolítico e Neolítico. O homem pré-histórico do Paleolítico era nôma- de, não se fixava no território, vivia da caça de animais e coleta de alimentos. Foi nesse período a descoberta do fogo. Já no período Neolítico houve a Revolução Agrícola e talvez a mais importante das revoluções. O homem passou a plantar e domesticar animais. Tem-se aí sua fixação no território, quando deixa de ser nô- made. As primeiras aldeias localizam-se na região denominada Crescente Fértil, entre os rios Tigre e Eufrates. Ainda na Pré-história, no período Neolítico, a chamada Idade dos Metais, quan- do o bronze e o ferro eram utilizados para fabricar instrumentos, contribuiu para o conjunto de transformações que deram início ao aparecimento das primeiras civili- zações da antiguidade. Em aproximadamente 3.000 a.C., os fenômenos escrita e cidade surgiram quase que simultaneamente. A produção agrícola começou a gerar excedentes, uma quantidade de alimentos para além das necessidades imediatas de consumo. A sociedade começou a se organizar em outras atividades que não somente o trabalho na agricultura. 9 UNIDADECivilizações Clássicas e Idade Média O excedente possibilitou a existência da cidade, onde moradores eram consumi- dores e não produtores agrícolas. Foram concebidas obras de irrigação, demarca- ções de terras e templos religiosos, como os zigurates na Mesopotâmia. A escrita surgiu da necessidade de registrar a acumulação de riquezas e conhecimentos. Infelizmente, existem poucos registros de como eram os objetos que compunham as residências das primeiras civilizações. O conhecimento do mobiliário das civili- zações primitivas é baseado em desenhos gravados em pedras ou pinturas que dão ideia da proporção e forma, mas sem detalhes. Skara Brae (Figura 1), na Baía de Skaill, nas ilhas Orkney, na Escócia, era um povoado neolítico final, composto por oito casas de pedra que foram habitadas entre 3.200 e 2.500 a.C. Este an- tigo assentamento é a aldeia neolítica mais bem preservada no norte da Europa. As paredes das estruturas ainda estão de pé e os becos cobertos de suas lajes de pedra originais. O arranjo interior de cada casa mostra a vida dos agricultores que ali viviam há mais de 5.000 anos, sua necessidade de armazenamento e composição de “mobiliário”. A descoberta de Skara Brae foi um acidente. Em 1850, uma violenta tempestade devastou a Baía de Skaill, revelando uma estrutura de tópicos de uma aldeia que consiste de uma série de pequenas casas sem telhados que estava enterrada sob as dunas de areia. Figura 1 – Povoado neolítico de Skara Brae, Escócia Fonte: Wikimedia Commons Ex pl or Egito O processo histórico egípcio marca a passagem da barbárie para a civilização, quando começa a se dar a Revolução Urbana. O surgimento da escrita colabora para o desenvolvimento e marca os primeiros registros da História. A civilização egípcia não foi eminentemente urbana, como a grega, mas já apre- sentava o dinamismo das civilizações urbanizadas. Destaca-se a importância das obras hidráulicas, como barragens, canais de irrigação e uma série de obras monu- mentais. Muitos objetos da civilização egípcia foram mantidos ao longo dos séculos 10 11 em túmulos ou câmaras em boas condições de conservação que possibilitaram a reconstrução de seu modo de vida. De acordo com a condição social, as casas egípcias eram muito diferentes umas das outras. As cabanas de trabalhadores quase não possuíam móveis: bancos de baixa altura, feitos de terra e cobertos com esteiras de junco ou com rolos de linho que podiam servir de assentos e camas. Importante! Os egípcios criaram muitas peças de mobiliário ainda em uso nos dias de hoje, como, por exemplo, camas, cadeiras, bancos e arcas. As camas eram estreitas, não havia cama de casal e sua altura raramente excedia 30 centímetros (Figura 2). Você Sabia? Figura 2 – Cama em madeira gessada e dourada Fonte: Oates, 1981 Tanto as camas quanto as cadeiras das classes mais privilegiadas tinham os pés talhados em forma de patas de animais. O touro e o leão eram os mais copiados. Havia também elementos decorativos com motivos florais, a flor de lótus e do pa- piro eram as mais comuns (Figura 3). Figura 3 – Cadeira da rainha Hetefere Fonte: Oates, 1981 11 UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média Algumas peças de linho dobrado formavam colchões empalhados. Os bancos podiam ser dobráveis ou fixos, simples ou com muitos ornamentos, muitas vezes decorados também imi- tando patas de animais. Havia grande diversidade na altura de bancos e ca- deiras, muitos eram baixos, cerca de 25 centímetros do chão. Existiam ca- deiras largas e baixas com pés e braços novamente imitando patas de animais (Figura 4). Figura 4 – Trono de TutancâmonFonte: Oates, 1981 Para armazenar alimentos, usavam cestos de junco, palhinha e fibra de palma. Arcas e caixas com dobradiças metálicas guardavam roupas e objetos pessoais. Utilizavam mesas para manter objetos afastados do solo. Pelos registros de pintu- ras, não se alimentavam sentados ao redor de uma mesa de refeições. Também utilizavam vasos decorativos. Outro tipo de móvel encontrado em túmulos reais foi a cama com dossel, com restos de um linho muito fino que, provavelmente, era usado para proteção de mosquitos, além da cadeira de transporte com ornamen- tação em ouro (Figura 5). Figura 5 – Cadeira de transporte da rainha Hetefere Fonte: Oates, 1981 Grécia Não existem peças de mobiliário do período da Grécia antiga que chegaram até nós, como as que foram encontradas no Egito. É possível somente fazer uma reconstituição do modo de vida pelos relevos esculpidos, pinturas em vasos e litera- tura. Textos de Homero, Aristóteles e Platão retratam algumas cenas. Na arquitetura, os gregos usaram proporção, formas geométricas, pilares, fron- tões. Construíram teatros, templos e edifícios públicos, mas poucos registros se têm do interior de suas residências, usadas para refeições e dormitório, como a ca- 12 13 deira Klismos, mais usada pelas mulheres pelo conforto proporcionado para o uso diário e para amamentação (Figura 6). A vida na Grécia antiga era fora das casas, com o uso para cerimônias ao ar livre da cadeira/cama Kline. Figura 6 – Cadeira grega Klismos Fonte: Oates, 1981 Algumas escavações nos dão ideia de como eram as divisões da habitação. Construídas de tijolos cozidos e sobre fundações de pedra, eram voltadas para o interior. Um pátio interno descoberto, muitas vezes com um lago, que captava água da chuva e armazenava-a numa cisterna subterrânea. Salas de estar, cozinha e local para banho. As paredes interiores eram decoradas com um estuque colorido. No pátio era comum um altar para o deus Zeus. Em nichos abertos na parede do pátio, utilizavam braseiras para aquecimento e iluminação. Importante! Em uma pintura de um vaso, por exemplo, os gregos retrataram a montagem de uma elegante cadeira de madeira fi xada com cavilhas (encaixes na própria madeira), assento de junco e balaústres verticais no encosto. Importante! As residências eram diferentes na cidade e no campo, havia habitações coletivas em Ate- nas. Os homens, responsáveis pela política, fa- ziam reuniões para conversar. O mobiliário mais elaborado era o da sala de jantar, vários sofás colocados em volta das paredes, que derivavam da cama egípcia, com pernas mais compridas e de forma retangular sem entalhes, projetavam-se por cima do assento formando um encosto. As pernas e a armação dos sofás eram pintadas ou tinham embutidos de madeira, pedras preciosas ou metal (Figura 7). Figura 7 – Cadeira e arca grega Fonte: Oates, 1981 13 UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média Usavam mesas com maior frequência do que os egípcios, mas também não era a mesa de jantar como usamos hoje, faziam pequenas mesas retangulares para os sofás. Criaram a mesa pequena redonda de três pés, que também aparece na sala de jantar, porta-lanternas de bronze com três pernas arqueadas com formato de patas de animais. Os gregos utilizavam almofadas, tecidos, paredes coloridas e pavimentos com mosaicos. Ex pl or O banco estava presente em grande variedade, muitas vezes leve e dobrável. Muitos possuíam pernas em forma de animais. As arcas eram parecidas com as egípcias para guardar objetos. Ainda não existiam guarda-louças ou cômodas, os artigos de uso imediato eram pendurados nas paredes. As mulheres guardavam espelhos, joias e adornos em pequenas caixas e cestos de vime. Roma Os romanos foram conquistando vários povos e assimilando suas culturas, o império teve longa duração e abrangeu um imenso território do Atlântico ao Rio Eufrates, o Mar Negro, o Danúbio, Reno, do Mar do Norte ao Saara e os desertos da Arábia (Figura 8). Hibernos Caledônia Eburaco Deva Camuloduno Londínio Britânia Eburaco Ébuso Íbero Bétis Anas Tago Dúrias Bracara Astúrica Palância Numância Toleto Emérita Augusta Sagunto Cartago Nova Córduba Gades Olisipo Escálabis Tingis Lixo Volubilis Lusitânia Bética Hispânia Tarraconense Mauritânia Siga Altava AlériaCórsega Túrris Calaris Sardenha Siracusa MessanaSicília Régio Brundísio Gênua Aquileia Roma Neápolis Tarento Itália Mediolano Rubicão Pado Tibre Salona Dalmácia Sírmio Singiduno Bonônia Viminácio Sarmizegutusa Raciácia Savo Danúbio Nova Dorostoro Axiópolis Tomis Nivioduno Dácia Buros Cotinos Costóbocos Carpos Bastarnas Quados Jáziges Roxolanos Moguntiaco Augusta dos Tréveros Argentorato Colônia Agripina Noviômago Vesôncio Augusta Raurica Lutécia dos Parísios Rotômago Avárico Lugduno Burdígala Arelate Narbo Massília RódanoGarumna Líger Sequana Reno Frísios Chaucos Lombardos Queruscos Quamavos Têncteros Quatos Hermúnduros Suevos Burgúndios Lúgios Marcomanos Vindobona Carnunto Aquinco Aquitânia Gália Récia Nórico Panônia Dravo Hadrumeto Tapso Tisdro Girba Capsa Bágradas Tacape Hipona Útica Cartago Icósio Cesareia Numídia África Léptis Magna Tripolitânia Musulâmios Gétulos Garamantes Mauros Cirene Cirenaica Paretônio Amônio Oxirrinco Mênfis Ptolemais Alexandria Mio Hôrmio Tebas Siene Hierasicamino Berenice Aila Leuce Come Hegra Come Nilo Egito HegraNasomenes Cidônia Cálcis Creta Chipre Pafos Salamis Tebas Atenas Corinto Acaia Épiro Macedônia Salonica Ásia Éfeso Lícia Panfília Trácia Bizâncio Mésia Bitínia Galácia Icônio Sinope Trapezo Ponto Capadócia Cilícia Sérdica Naísso Araxes 117 AD Petra Jerusalém Bostra Tiro Sídon Trípoli Emesa Antioquia Palmira NísibisEdessa Osroena Armênia Ardaã Armavir Vagarsapate Artaxata Gardman Gordiena Adiabena Assíria Mesopotâmia Babilônia Ctesifonte Selêucia Babilônia Susa Charax Tigre Eufrates Ibéria Lazos Cólquis Abasgos Apsilas Sanigas Siracos Alanos AorsosMeotas Albânia Panticapeu Fanagória Quesoneso Ólbia Tiras Tanais Reino do Bósforo Império Parta Figura 8 – Mapa da época Fonte: Wikimedia Commons Por meio de ruínas de edifícios romanos e principalmente com a descoberta da cidade de Pompéia, soterrada sob as lavas do Vesúvio, totalmente intacta, com edificações, móveis e objetos, podemos ter a história do modo de vida dos roma- nos reconstruída. Casas com pavimentos de mosaicos, paredes com pinturas e janelas envidraçadas. 14 15 O Tratado de Arquitetura escrito por Vitrú- vio, um engenheiro-arquiteto romano, regis- trou todas as normas construtivas e influen- ciou a arquitetura de diversos períodos a partir de sua redescoberta no Renascimento. Os romanos desenvolveram muitas técni- cas construtivas e na Antiguidade clássica foi o povo que mais criou tipologias de edificações diferentes. Construíram estradas ligando toda a extensão do império e também aque- dutos que levavam água a terras distantes, garantindo seu domínio. Construíram teatros, fóruns, termas, basílicas, arcos de triunfo, entre outros. Preocupavam-se pouco com o aspecto exterior das residências, as Domus (confira no link a seguir). Não possuíam janelas para as ruas. O interior era com- posto de um átrio, onde havia um altar e estátuas de antepassados. Dividia-se entre pátio e recepção com espaço descoberto ao centro. Também faziam capta- ção da água das chuvas, como os gregos. No lado oposto, estava a área privada da casa, com pilares alinhados e, muitas vezes, embelezada com estátuas, fontes e lago; ao redor, localizavam-se os dormitórios, salas, cozinha e sala de jantar. Domus romana, no link a seguir: https://goo.gl/ZeyZXs Ex pl or Não havia muitos móveis, apenas camas, mesas, cadeiras, sofás e arcas. As for- mas dos móveis, em geral, eram simples, mas nas casas mais ricas a decoração era mais elaborada. Sofás com apoio nas cabeceiras e nos pés, muitos já apresentavam um estofamento, camas de bronze (Figura 9), caixas para guardar objetos pessoais de marfim e metal. Uma novidade do período eram as mesas feitas de mármore com pés esculpidos com figuras de plantas e animais. Candelabros e alguns bancos eram de bronze, já dominavam técnicas de fundição. Figura 9 – Cama em bronze Fonte: Oates, 1981 Figura 10 – Sofá com apoios laterais Fonte: Oates, 1981 Havia pinturas nas paredes e pavimentos elaborados com mosaicos, possuíam cortinas de várias cores, almofadas e colchas, até nas residências das províncias existia um conforto geral e equilibrado. A reunião do jantar era o principal aconte- Utilizavam pedras, mármores e uma argamassa denominada pozolana, uma mistura de terra vulcânica. Dominaram técni- cas construtivas como o arco e a abóboda, que permitiram a construção em altura. 15 UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média cimento da vida social romana, os convidados acomodavam-se em assentos como o Lectus (para comer, sentar, repousar) (Figura 10), apoiados sob o cotovelo esquerdo, e serviam-se de alimentos dispostos em mesas redondas. Candelabros de bronze ou prata ficavam em locais estratégicos para iluminação. Nesse período, surgiu a mesa console, ou seja, uma mesa de três pés para ser apoiada à parede (Fi- gura 11). Também eram populares os suportes de bacias ou tabuleiros com tripés metálicos. Figura 11 – Mesa com tripé em mármore Fonte: Oates, 1981 Bancos de fechar, baseados nos modelos gregos, e as cadeiras com pernas em x podiam ser encontradas em todo o império. Cadeiras de vime com as costas curvas eram utilizadas pelas mulheres para os cuidados de beleza. Os romanos aperfeiço- aram algumas ferramentas, como a serra de arco, serrotes e plainas. Após um grande período de auge e estabilidade, o Império Romano sofreu inú- meros ataques e invasões, principalmente dos bárbaros do norte, e entrou em deca- dência. Suas cidades foram destruídas, deu-se início à Idade das Trevas. A tomada do Império Romano em 476 d.C., pelos bárbaros, marca o fim da Antiguidade Clássica e o início da Idade Média. Bizâncio Roma, a capital do império romano, foi transferida em 330 d.C. para Bizâncio, cidade grega situada na confluência de rotas comerciais, pelo imperador Constanti- no. Rebatizada de Constantinopla, tornou-se um grande centro comercial, político, religioso e artístico. Concentrava um grande número de artistas e artífices que pro- duziam sedas, tapeçarias, bordados, esmaltes, trabalhos em metal e marfim. O estilo bizantino espalhou-se por várias cidades do mundo antigo. Novamente não há exemplares do mobiliário doméstico que resistiu ao tempo. Apenas pintu- ras, manuscritos, marfins entalhados, pinturas murais e mosaicos que retratam o cenário de como era a vida naquela época. As casas de classe alta eram parecidas com o que vimos na Grécia e Roma, voltadas para o interior em torno de um átrio central. Tinham uma área de recepção para os homens que utilizavam todo o tér- reo. Na parte superior, ficavam as mulheres e crianças. Os mosaicos, que revestiam as paredes dos palácios, mosteiros e igrejas, re- tratavam uma vida de riquezas e conforto. A base da arte bizantina foi a mescla 16 17 de duas tradições: o requinte do Helenismo combinado com o formalismo do Oriente. O clássico misturou-se gradualmente com representações abstratas, suas formas elegantes e sutis foram substituídas por formas estáticas, adaptando-se ao esplendor formal dos palácios e casas bizantinas. Helenismo é um termo que designa tradicionalmente o período histórico e cultural durante o qual a civilização grega se difundiu no mundo mediterrânico, euroasiático e no Oriente, fundindo-se com a cultura local. Ex pl or Nos banquetes no palácio real, os convidados acomodavam-se à maneira roma- na; quando a sós, a família real utilizava cadeiras para as refeições. Nas residências, arrumavam as mesas frequentemente com toalhas bordadas. Utilizavam talheres, mas muitos ainda comiam com as mãos. Mesas geralmente redondas ou em forma de D eram metálicas ou de pedra. Nas casas modestas eram retangulares e de ma- deira, algumas apresentavam um guarda-louças sob o tampo. Os tronos produzidos no período eram grandiosos, feitos com materiais luxuosos, como joias e tecidos requintados. Muitos trabalhos delicados de relevo em marfim eram encontradosem arcas (Figura 12), estojos e portas. Um exemplo que é possível ver ainda hoje é o Trono de Maximiano, na cidade italiana Ravena (Figura 13). Figura 12 – Sarcófago bizantino Fonte: Oates, 1981 Figura 13 – Trono de Maximiano Fonte: Oates, 1981 Continuaram produzindo as populares cadeiras e bancos de fechar em X e assentos de couro. Banquinhos para apoiar os pés também eram comuns. Produ- ziam os mais variados tamanhos de caixas, desde para guardar pequenos objetos, até caixas que serviam de assento, mesa ou cama. A estrutura muitas vezes era almofadada, com marchetaria em madeiras raras, ouro e prata ou, ainda, chape- adas de marfim. 17 UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média Nesse período surgiram as estantes, os palácios e mosteiros organizavam ma- nuscritos nesse tipo de armário. No uso doméstico, ainda guardavam objetos de uso geral e de vestuários em arcas, mas pode ser que arrumavam alguns objetos em prateleiras, porém ainda não existiam guarda-roupas. A caligrafia era prati- cada por pessoas instruídas, os escribas, por isso surgiu a mesa-secretária, que muitas vezes ficava junto a um armário com prateleiras (Figura 14). Figura 14 – Armário para manuscritos e mesa Fonte: Oates, 1981 As camas eram simples e derivadas do período clássico, muitas com pernas torneadas ou com estrutura de colunas para dossel. As pessoas mais ricas dormiam em camas com tecidos bordados, colchas e acolchoados. Os comerciantes bizanti- nos também usufruíam de um alto padrão de vida, havendo relatos de que faziam uso de pratas, talheres, lamparinas, castiçais etc. Em contraste com a prosperidade do Império Oriental, a Europa Ocidental es- tava em decadência. Durante mais de 200 anos, os romanos tentaram inutilmen- te conter os bárbaros, cidades que outrora foram centros de vida urbana, empo- brecidas e despovoadas ficaram destruídas. Houve uma ruralização da sociedade. Somente onde havia centro religioso ou centros de produção artesã foi possível alguma vida urbana. Na maioria dos locais, os germânicos elegiam reis, e campo- neses trabalhavam para eles em troca de proteção. Estava surgindo o Feudalismo, a propriedade mantida à força, construção de castelos por toda a parte e povoados cercados por muralhas. O poder da Igreja ia aumentando na medida em que o an- tigo império ia esfacelando-se. 18 19 Alta Idade Média e Europa Gótica O modo de vida doméstico e a decoração voltaram a níveis primitivos. As ca- sas da população camponesa em geral eram compostas de apenas um cômodo, onde aconteciam todas as funções: estar, dormir, cozinhar e estrebaria de animais. Outras tinham divisões, como despensa, copa, sala central e um aposento para dormitório. Esse tipo de construção foi encontrado até o século XV. Os normandos faziam casas com torres de guarda, com altura de dois ou três andares, que utiliza- vam como defesa e alojamento de armas. O mobiliário foi influenciado pelo período de grande instabilidade, muitas famí- lias tinham que se deslocar para áreas desabitadas na Europa e para administrar suas propriedades espalhadas em vastas regiões. Os agrupamentos familiares po- diam ter uma centena de pessoas e eram necessárias carroças e cavalos para trans- portar as arcas com pertences pessoais, como tapetes, roupas de cama, colchões, almofadas. Móveis de fechar para conseguir levar louças, joias, vidros, tudo era produzido para facilitar o transporte. Importante! Móvel, palavra originária de meubles em francês, surgiu nessa época, que quer dizer algo transportável. Você Sabia? As características de alguns móveis, como, por exemplo, as cadeiras, mos- travam a posição social das pessoas. A cadeira de espaldar mais alto era usa- da pelo homem de posição social mais elevada, distinguia-se por possuir uma tapeçaria por trás e um baldaquino por cima. O restante das pessoas sentava- -se em bancos comuns. O baldaquino (cobertura) tornou-se símbolo de cate- goria social elevada, podiam também usar sobre camas, tronos e até sobre o bufete (Figura 15). Figura 15 – Mesa com baldaquino ao centro Fonte: Oates, 1981 19 UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média O bufete ou dressoir era também uma mobília que demonstrava o prestígio social. Era uma peça simples em degraus com prateleiras abertas, o número de degraus revelava a categoria do proprietário. Era um móvel para arrumação ou exposição, funcionava como um aparador (Figura 16). Figura 16 – Bufete com degraus Fonte: Oates, 1981 Um dressoir mais estreito ficava na parte do salão destinada ao serviço e era usado para guardar a louça. Utilizavam mesa com caixote também para guardar louça e preparar alimentos. Nas casas mais nobres, eram comuns dois salões, um maior para banquetes e solenidades, outro menor, ligado aos quartos, usado para refeições diárias. Os empregados dormiam no mesmo quarto que os senhores, usavam colchões de palha ou camas com rodas que podiam ser encaixadas embaixo da cama do senhor ou da senhora. Além da cama, havia uma arca, cabide ou varão onde penduravam as roupas. O conforto e beleza eram dados pelas almofadas, tapetes e paredes pintadas. As camas mais elaboradas possuíam quatro colunas, elevadas cerca de trinta centímetros do colchão e das roupas, decoradas com entalhes ou torneadas e arrematadas com florões e esferas. No século XIII, o dossel e o baldaquino adquiriram importância na cama. As ar- cas eram o elemento do mobiliário mais usado, difundido e muito necessário. A gravação de entalhes popularizou-se a partir do século X, pintados com cores vivas (Figura 17). Figura 17 – Arca com entalhes Fonte: Oates, 1981 20 21 O banco em X ou de fechar era muito corrente e acrescentado de costas rígidas e braços, transformou-se na popular cadeira de braços (Figura 18). Figura 18 – Banco em X Fonte: Oates, 1981 Os assentos de pedra que eram construídos dentro das paredes, comumente nos edifícios religiosos, podiam ser encontrados nas habitações. A madeira de carvalho era a mais utilizada na época medieval. A nogueira, com menos abundância, po- dia ser encontrada na Espanha, Itália e França e madeiras mais macias na Europa Central. Em 1320, foi inventada a serra mecânica, na Alemanha, que contribuiu juntamente com a serra hidráulica para aperfeiçoamentos na produção dos móveis no final da Idade Média. Os artífices puderam criar móveis mais le- ves e decorados. O mobiliário refletia as mu- danças da sociedade medieval do século XIV, o aumento das trocas comerciais, o governo mais centralizado, uma vez que a administra- ção ia ficando complicada fora dos muros do feudo. Havia menor necessidade de desloca- mento por parte de reis e nobres e podiam investir mais na decoração de suas casas, ad- quirindo mais conforto (Figura 19). Figura 19 – Dormitório medieval Fonte: Oates, 1981 O estilo gótico da Idade Média surgiu na França nas construções de igrejas e difundiu-se rapidamente pelo norte da Europa. Na Itália, ao sul, a tradição clássica nunca desapareceu por completo. A expansão da arquitetura gótica repercutiu na concepção do mobiliário. O pedreiro e o carpinteiro trabalhavam lado a lado na construção das igrejas e havia muita semelhança entre as atividades. Pilastras, arre- mates, florões e arcos ogivais eram adaptados ao mobiliário. 21 UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média Figura 20 – Trono medieval em bronze Fonte: Oates, 1981 Com o decorrer do tempo, o aumento da produção deu origem a uma maior diversidade para o mobiliário (Figura 20). Por exemplo, passaram a ter mais pos- sibilidades de escolha de mesas com tamanhos e formas diversas. Outro exemplo, o bufete com prateleiras abertas em cima para expor a baixela, com guarda-louças fechado no meio e suporte em baixo, encontrava-se não apenas no salão, mas também no quarto, onde recebiam convidados. Uma inovação que apareceu nesse período foi o armário de despensa para alimentos. As portas tinham recorte para ventilação e frequentemente ficava no dormitório para matar a fome durantea noite. O quarto funcionava também como uma sala de estar, visto que nele recebiam convidados, e o leito muitas vezes era usado como sofá. Nem nas casas mais ricas se observava rigor na disposição dos móveis, podiam ser arrumados ao acaso sem preocupação com simetria, embora as paredes fossem decoradas. O fim da Idade Média se deu por uma série de razões. O feudalismo estava em crise, pela escassez de alimentos; o crescimento da população e o trabalho servil dos camponeses não foram suficientes para suprir a demanda de gêneros alimentícios. A Europa já havia sido castigada pela Peste Negra, que se espalhou rapida- mente, matando cerca de 1/3 da população durante o século XIV. Além da fome, havia a luta entre nobreza e servos que conquistavam a autonomia das cidades. Aos poucos, os muros do feudo se interligavam com áreas de comércio ao seu redor e a burguesia enriquecida centralizava seu poder. Era o começo de um novo sistema econômico: o Capitalismo. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites The British Museum https://goo.gl/x2IE7B Os Móveis https://goo.gl/RqiV7g Filmes Gladiador e Pompéia Como uma boa sugestão para visualizar o período da Antiguidade, você pode assistir aos filmes Pompéia ou ainda Gladiador, para analisar os cenários da Roma Antiga. Leitura História do Mobiliário Egípcio SILVA, Carolina Moreira da. História do mobiliário egípcio. https://goo.gl/2sWqWZ 23 UNIDADE Civilizações Clássicas e Idade Média Referências BARBOSA, M. I. História de estilos e decoração. São Paulo: Editora Metalivros, 2011. (eBook) DENIS, R. C. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blucher, 2010. (eBook) DESIGN MUSEUM. Como criar uma cadeira. São Paulo: Editora Gutenberg, 2011. (eBook) MONTENEGRO, R. Guia da história do mobiliário. São Paulo: Presença, 1995. (eBook) MOUTINHO, S. O.; LONDRES, R.; PRADO, R. B. Dicionário de artes decora- tivas e decoração de interiores. São Paulo: Lexikon, 2011. OATES, Phyllis Bennet. História do mobiliário ocidental. Lisboa: Presença, 1991. 24
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