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Justificacao e Regeneracao (Jus - Charles Leiter

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Prévia do material em texto

Justificação e Regeneração
Traduzido do original em inglês Justification and regeneration
por Charles Leiter © 2009 Charles Leiter ■
Publicado originalmente em inglês por Granted Ministries Press, a Division of Granted
Ministries P. O Box 1348 Hannibal, MO 63401-1348 USA
Copyright © 2015 Editora Fiel Primeira Edição em Português: 2015
 
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica
Literária PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS
EDITORES, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
■
Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Maurício
Fonseca dos Santos Júnior Revisão: Ingrid Rosane de Andrade Fonseca Diagramação:
Rubner Durais Capa: Rubner Durais Ebook: Yuri Freire
ISBN: 978-85-8132-345-9
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
L533j Leiter, Charles 
 
Justificação e regeneração / Charles Leiter ; [tradução:
Mauricio Fonseca dos Santos Júnior]. – São José dos
Campos, SP : Fiel, 2016.
 2Mb ; ePUB
 
Tradução de: Justification and regeneration.
ISBN 978-85-8132-345-9
 
1. Justificação (Teologia). 2. Regeneração (Teologia).
I. Título.
 CDD: 234.7
 
Caixa Postal, 1601
CEP 12230-971
São José dos Campos-SP
PABX.: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
http://www.editorafiel.com.br/
SUMÁRIO
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
1 – Pecado: O problema final do homem
2 – Pode um homem ser justo diante de Deus?
3 – Justificação: Suas características
4 – Regeneração: Tudo se faz novo
5 – Uma nova criação
6 – Um novo homem
7 – Um novo coração
8 – Um novo nascimento
9 – Uma nova natureza
10 – Crucificação e ressurreição
11 – Uma mudança de reino: da carne para o espírito
12 – Uma mudança de reino: da terra para o céu
13 – Uma mudança de reino: do pecado para a justiça
14 – Uma mudança de reino: da lei para a graça
15 – Uma mudança de reino: de Adão para Cristo
Apêndice A – Regeneração: um resumo
Apêndice B – “Não pode pecar”
Apêndice C – Romanos 7
Apêndice D – Todas as bênçãos em Cristo
Apêndice E – Perguntas frequentes
AGRADECIMENTOS
Quero expressar minha gratidão especial a Paul Washer, da
Sociedade Missionária HeartCry, por encorajar e apoiar a publicação
deste livro, e também a Garrett Holthaus de Kirksville, Missouri, por
oferecer tantas sugestões valiosas a respeito de seu conteúdo.
Ainda devo um agradecimento especial aos meus muitos revisores
por terem trabalhado cuidadosamente na correção dos meus erros,
e — acima de tudo — à minha esposa, Mona, por ter lido
alegremente o manuscrito para mim durante uma viagem de treze
horas de volta do Colorado, sugerindo-me uma série de
modificações muito úteis.
PREFÁCIO
Parece haver um grande abismo separando os teólogos bíblicos e
os crentes sentados nos bancos das igrejas. Embora os teólogos
sejam capazes de escalar o Everest das verdades de Deus e serem
transformados pela visão arrebatadora, eles frequentemente
comunicam essa visão em uma linguagem que está além da nossa
compreensão. Dessa forma, somos deixados à mercê da literatura
cristã popular que, em muitos casos, não é nada mais do que
histórias pitorescas, pragmatismo e psicologia batizada.
A igreja contemporânea não precisa de mais estratégias, passos
ou chaves para a vida cristã. A igreja precisa da verdade e, mais
especificamente, das grandes verdades que são o fundamento do
cristianismo histórico. Nesta obra, o pastor Charles Leiter prestou
um ótimo serviço à Igreja ao tomar duas das maiores doutrinas das
Escrituras e dois dos maiores milagres na vida cristã, e explicá-los
em uma linguagem simples sem perda de conteúdo.
Conforme lia o manuscrito deste livro, ficava maravilhado com
sua simplicidade e escopo. As grandes doutrinas da justificação e
regeneração só podem ser consideradas apropriadamente no
contexto das outras grandes doutrinas da fé — o caráter santo e
reto de Deus, a depravação humana, propiciação, arrependimento,
fé e santificação, para citar apenas algumas. O pastor Leiter não
apenas nos deu uma visão equilibrada de cada uma dessas
doutrinas, mas também demonstrou como elas interagem para
formar a fundação da vida cristã.
De particular interesse para mim foi a demonstração de uma
visão apropriada da regeneração. Na evangelização dos dias
modernos, esta preciosa doutrina foi reduzida a nada mais que uma
decisão humana de levantar a mão, ir até à frente, ou fazer a
“oração do pecador”. Como resultado, a maioria das pessoas
acredita que “nasceu de novo” (i.e., foi regenerada) mesmo que
seus pensamentos, palavras e obras sejam uma contínua
contradição à natureza e vontade de Deus. O pastor Leiter
demonstra que a regeneração é a obra sobrenatural de Deus por
meio da qual o coração de pedra morto e depravado do pecador é
substituído por um novo coração que tanto deseja quanto é capaz
de responder a Deus em amor e obediência. Em segundo lugar, o
pastor Leiter trata Romanos 6 e 7 de forma lógica, consistente e
com profunda simplicidade. A visão de nosso irmão concernente a
esses dois grandes capítulos tem sido fonte de grande força,
conforto e alegria para mim ao longo dos anos de minha própria
peregrinação.
Já li este livro muitas vezes antes de ter sido impresso. Fui
grandemente beneficiado por seus ensinos e posso recomendá-lo
de todo o meu coração. Que o Espírito de Deus possa iluminar seu
coração e sua mente para que você possa não somente
compreender as Escrituras conforme explicadas aqui, mas para que
elas também se tornem uma realidade em sua vida.
Paul David Washer
INTRODUÇÃO
Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes,
desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo
em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando,
porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu
amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas
segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar
regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre
nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que,
justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a
esperança da vida eterna.
Tito 3.3-7
 
Dois grandes milagres encontram-se bem no coração e no cerne
do evangelho. O primeiro é a justificação, por meio da qual
criminosos são considerados justos aos olhos de um Juiz santo e
reto. O segundo é a regeneração, por meio da qual pecadores
malignos, escravizados e odiosos são transformados para amar a
Deus e os homens. Seja direta ou indiretamente, esses dois
milagres aparecem em toda parte no Novo Testamento. Eles são
absolutamente a fundação para um entendimento apropriado tanto
do evangelho quanto da vida cristã. Contudo, mesmo entre crentes
genuínos, há muita confusão e ignorância a respeito dessas
verdades preciosas e libertadoras da alma.
Nas páginas seguintes, você encontrará uma tentativa de
demonstrar, à luz clara da Bíblia, a natureza e as características da
justificação e da regeneração. Para fazê-lo, primeiro precisamos
considerar no Capítulo 1 por qual motivo todos os homens se
encontram em tal necessidade desesperada desses dois atos
divinos. Isso envolverá uma discussão tanto da culpa objetiva
quando da corrupção interna causada pelo pecado.
Porque todos os homens são culpados e corrompidos pelo
pecado, há um grande dilema moral no caminho da salvação do
homem: Como pode um Deus justo justificar pecadores injustos sem
ele próprio se tornar injusto? O Capítulo 2 examina esse dilema e
como a sabedoria divina o solucionou por meio da Pessoa e obra do
Senhor Jesus Cristo. No Capítulo 3, a natureza e as características
da justificação são então exploradas à luz das sete verdades sobre
a justificação, conforme demonstradas na Escritura.
A Bíblia tem muito a dizer sobre regeneração. Em uma tentativa
de obter uma visão clara do que é a regeneração, examinaremos
nove descrições bíblicas deste grande milagre nos Capítulos 4 a 13.
Cada descrição olha para a mesmarealidade gloriosa a partir de um
ângulo diferente, iluminando suas diferentes facetas.
No Capítulo 14, tanto a justificação quanto a regeneração são
consideradas nos termos das categorias mais amplas de “lei e
graça” conforme apresentadas no Novo Testamento. E, finalmente,
no capítulo de conclusão, ambas são consideradas como parte de
uma realidade ainda maior e mais abrangente de nosso estar “em
Cristo”. Cristianismo é Cristo. Toda bênção espiritual é encontrada
“nele” — incluindo todas as bênçãos da justificação e regeneração
— e nenhuma bênção espiritual existe longe dele.
Ao longo desse livro, deixei muitas referências importantes da
Escritura nas notas de rodapé, colocadas ao final de cada página
para facilitar a leitura.
Charles Leiter
Capítulo 1
PECADO O PROBLEMA FINAL
DO HOMEM
Para uma compreensão apropriada tanto da justificação quanto da
regeneração, precisamos começar por onde a Bíblia começa, ou
seja, pelo pecado. Todo pecado flui do desejo perverso do homem
de se colocar no lugar de Deus — de ser o centro e a medida de
todas as coisas e “conhecer” por conta própria o que é bom e o que
é mau.1 De acordo com Tito 3.3-7, os homens em seu estado
natural são “néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda
sorte de paixões”. Suas vidas são caracterizadas por “malícia, inveja
e ódio”. Longe de reconhecerem essa situação, os homens perdidos
se imaginam como “basicamente bons”, a menos que Deus em sua
misericórdia lhes revele a verdadeira condição de seus corações
endurecidos. O pecado é o problema final e, de fato, o único
problema da humanidade. É o meu problema final e meu único
problema, e o seu problema final e seu único problema.
UMA VISÃO BÍBLICA DO PECADO
A Bíblia tem muito a dizer sobre o pecado. Se quisermos
compreender corretamente a verdadeira natureza do pecado,
precisamos deixar que a luz desta revelação bíblica ilumine nossas
mentes escurecidas e quebrante nossos corações endurecidos.
Apenas pense a respeito disso! De acordo com a Bíblia, o pecado é
— Absolutamente Universal
O pecado é absolutamente universal na raça humana. “Todos
nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou
para o seu próprio caminho”.2 “Não há justo, nem um sequer, não há
quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram,
à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um
sequer”.3 Você e eu podemos sequer nos conhecer, mas há uma
coisa da qual podemos ter certeza antes mesmo de sermos
apresentados — ambos somos pecadores. Todo homem, mulher e
criança na face da terra, não importa o quão jovem ou velho seja, é
um pecador. Mesmo as crianças pequenas, quando lhes é permitido
andar em seu próprio caminho, são capazes das crueldades mais
requintadas contra animais e umas contra as outras.
Raça e nacionalidade, da mesma forma, não oferecem imunidade
ao pecado; mesmo as nações mais evoluídas culturalmente são
capazes de genocídios, assim como as mais bárbaras. As câmaras
de gás dos “civilizados” são meramente formas mais sofisticadas
dos facões empunhados pelos “não civilizados”.
Da mesma forma, não existe tal coisa como o “bom selvagem” ou
o “pagão feliz”. Nas palavras de um missionário aposentado, “eu fui
ao campo missionário para impedir um Deus mau de mandar
homens bons para o inferno. Quando cheguei, descobri que eles
eram monstros da iniquidade”. A questão aqui não é se os homens
tiveram uma oportunidade de “aceitar Jesus”. A questão é se eles
tiveram uma oportunidade de maltratar o missionário e rejeitar sua
mensagem — pois, longe da obra especial do Espírito Santo,
certamente é isso que eles fariam.4
O pecado é universal na raça humana.
Ubíquo
Não somente o pecado é universal; ele é ubíquo. Todo aspecto
da personalidade humana e da existência humana é afetado por ele:
A mente é cegada. “O deus deste século cegou o entendimento dos
incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz...”.5
A vontade é corrompida e incapacitada. “A maldade do homem se
havia multiplicado na terra e... era continuamente mau todo desígnio
do seu coração”.6 “Não quereis vir a mim para terdes vida”.7
“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.8
As emoções são confusas e pervertidas. Alguns corações ardem
em constante raiva e ódio; outros são atormentados dia e noite por
medos sem sentido. Multidões riem de coisas que deviam fazê-las
chorar, enquanto outras se derramam em lágrimas sem razão
aparente. Tais são as profundas e ubíquas perversões causadas à
personalidade humana, seja direta ou indiretamente, pelo pecado.
Irracional
O pecado é irracional. Muitos direitos de primogenitura sem preço
foram trocados por um prato de sopa;9 muitos casamentos e
famílias foram jogados de lado por uma noite de prazer ilícito. Pelo
efeito temporário do uso de drogas ilegais, os maiores poderes do
cérebro humano são rotineiramente e permanentemente destruídos.
Um momento de reflexão sobre os pecados de nosso passado é
suficiente para confirmar que nenhum deles faz o menor sentido. Tal
é a insanidade das ações do filho pródigo que seu arrependimento
envolveu nada menos que “cair em si mesmo”.10
Não existe pecado sábio.
Enganoso
O pecado é enganoso. A Bíblia fala sobre ser “endurecido pelo
engano do pecado”.11 Assim como em todo engano, a vítima
desconhece o seu estado de enganação. Ao mesmo tempo em que
pensa que é “rico e abastado e não precisa de coisa alguma”, o
homem é, na realidade, “infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”.12
Ele que “inculcando-se por sábio”, mas na realidade tornou-se um
“louco”.13
Endurecedor
Uma das coisas mais temíveis a respeito do pecado é seu poder
de endurecer aquele que o pratica.14 Quanto mais fundo um homem
mergulha no pecado, menos o pecado o incomoda. De acordo com
a Bíblia, a própria consciência do homem se torna “cauterizada”.15
Todo pecador se encontra agora cometendo aqueles pecados que
antes desprezava, e os pecados que despreza agora, ele se
encontrará cometendo algum dia. Deveria nos chocar a lembrança
de que, um dia, Adolph Hitler foi um menino brincando com seus
brinquedos, como qualquer outro menino. O homem conhece o
início do pecado, mas nenhum homem jamais conheceu o fim do
pecado.
Escravizador
O pecado escraviza aqueles que o cometem. “Todo o que comete
pecado é escravo do pecado”.16 Ninguém pode se libertar a si
mesmo ou escapar dos laços do pecado. O pecado “reina” sobre o
pecador e monta em suas costas como um tirano até que
eventualmente o atira no poço da destruição e morte.17 Se você não
for cristão, você possui uma corrente em volta do seu pescoço muito
pior que qualquer corrente física. Você até pode conseguir
abandonar um pecado específico, mas outro pecado imediatamente
tomará o seu lugar — frequentemente o pecado do orgulho ou da
justiça própria pelo que você imagina ter realizado ao mudar a si
mesmo. O pecado é escravizador.
Degradante
O pecado afunda o mais distinto e mais nobre dos homens e das
mulheres nas profundezas da vergonha e degradação. O jovem
rapaz que antes vestia um terno fino e sentava-se em uma cadeira
de couro em seu escritório agora se encontra com a barba por fazer,
deitado sobre o próprio vômito como resultado do pecado. A jovem
moça que antes era limpa, bela e inocente agora é vulgar, sensual e
suja — mais uma vez, por causa do pecado. Homens e mulheres
feitos à imagem de Deus, criados para sonharem sonhos imortais e
pensarem os longos pensamentos da eternidade, são reduzidos
pelo pecado a seres que se chafurdam na lama como um porco por
um reles pedaço de pão. O pecado transformou anjos em
demônios;18 e transforma homens em “animais irracionais”.19 O
pecado é degradante.
Pervertido
Finalmente, o pecado é pervertido.20 O pecado não é uma
frivolidade; o pecado não é “bonitinho”; o pecado não é divertido. O
pecado é extremamente perverso e mau, é “sobremaneira
maligno”.21 Todo pecado é depravado, feio e vil. Deveríamos nos
chocar em ver como os homens perversos podem ser e o quão
cauterizados podemos nos tornar a tal perversidade. Nós nos
acostumamos comela! O primeiro bebê que nasceu no mundo
cresceu para assassinar seu próprio irmão.22 E a história humana,
desde então, tem sido um longo fluxo de constante guerra,
concupiscência, ódio, tortura, estupro, perversão, abuso e
brutalidade. É uma bênção para nós que não saibamos em detalhes
os pecados que foram cometidos na noite passada em nossa
própria cidade. Tal conhecimento seria por demais pervertido para
alguém carregar.
Dessa maneira, precisamos admitir o fato de que o mundo não é
do jeito que é por ser habitado por algumas poucas pessoas tão
más quanto Hitler; o mundo é do jeito que é porque é composto de
multidões de pessoas como você e eu! Há uma profunda
perversidade em cada um de nós. Algumas vezes Deus usa coisas
aparentemente “pequenas” para nos mostrar esta perversidade.
Para Agostinho, não foi tanto seu estilo de vida imoral, mas o roubo
despropositado das peras da árvore de um vizinho em sua
juventude — não por fome, mas por esporte — que lhe revelou a
profunda depravação de seu próprio coração. O pecado, apenas
pelo prazer de fazer o mal, sem qualquer razão ou recompensa, flui
de dentro do coração humano e corrompe a todos nós.
OS DOIS LADOS DO PROBLEMA DO PECADO
DO HOMEM
O pecado é o problema final e, de fato, o único problema da
humanidade. Mas este “problema do pecado” possui dois aspectos
distintos — um interno e outro externo.
O Problema Interno — Um Coração Mau
De acordo com o Senhor Jesus Cristo, o próprio homem é
corrupto e vil. “O que sai do homem, isso é o que o contamina.
Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os
maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os
adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a
blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de
dentro e contaminam o homem.”23 Essa é a condição de todo
coração humano longe de Cristo. Se um filme, até mesmo de
nossos pensamentos passados, para não falar de nossas ações
passadas, fosse projetado em um telão diante de nossa família e
conhecidos, cada um de nós sairia correndo do cinema morrendo de
vergonha. Todo não cristão é — em sua pessoa — mais repulsivo a
um Deus santo do que ele jamais seria capaz de imaginar.
Mas o problema do homem com o pecado vai ainda mais fundo
que isso. Suponha que, por algum milagre, um pecador pudesse se
tornar uma nova pessoa e nunca mais pecasse pelo resto de sua
vida. Ele ainda assim iria certamente para o inferno. O assassino em
série que sinceramente decide nunca mais matar precisa ainda
assim pagar por seus crimes cometidos no passado. Em outras
palavras, o problema do homem com o pecado possui outra
dimensão além da interna. O homem não somente possui um
coração mau; ele também possui um histórico mau aos olhos da lei
de Deus.
O Problema Externo — Um Histórico Mau
Todo pecador é um fugitivo da justiça. A despeito da condição
presente de seu coração, ele possui uma culpa objetiva, fora dele
mesmo, aos olhos da lei de Deus. Talvez ele não tenha nenhum
“sentimento de culpa”, mas ele se encontra “culpado” ou
“condenado”, ainda assim. Todos os seus crimes passados clamam
para que sua punição seja paga e que a justiça seja satisfeita. Esse
clamor encontra-se ancorado no próprio caráter e ser de Deus, em
seu atributo de justiça ou equidade.
É por causa desse senso de equidade ou justiça que Deus
colocou nas profundezas do coração humano que imediatamente
nos sentimos moralmente ultrajados quando se permite que o
perpetrador de um crime saia sem punição. Por quê é errado que
um estuprador assassino receba apenas uma multa de dez reais?
Nós não podemos provar que ele merece punição pior, mas
intimamente sabemos que sim. Esse conhecimento inescapável
dentro de nós é algo mais fundamental e certo que qualquer “prova”
teórica. É algo absolutamente básico à constituição humana — um
reflexo da própria natureza de Deus.
Muito poderia ser dito a respeito do atributo da justiça de Deus,
especialmente nestes dias em que o próprio conceito de justiça
parece ter se perdido na sociedade de forma geral. Há três razões
básicas por que um crime deve ser punido: em primeiro lugar, para a
satisfação da justiça (ou seja, porque crimes merecem ser punidos e
devem ser punidos); em segundo lugar, para o bem da sociedade
(ou seja, para a prevenção de crimes futuros); e em terceiro lugar,
para o benefício do ofensor (ou seja, para levá-lo a uma mudança
de rumo na vida). Dessas três, a satisfação da justiça é a principal e
mais fundamental que as outras duas. Se a punição de um crime
não é por si própria justa e merecida, ela não deterá crimes futuros
nem corrigirá o ofensor.
Em nossos dias, a razão primária e mais fundamental para a
punição — a satisfação da justiça — tem sido quase que
completamente suprimida e negada. Apenas a segunda e a terceira
razão permanecem, sendo que mesmo essas têm sido trocadas em
ordem de importância. A “correção” do ofensor é atualmente a razão
primária, e as prisões não são mais chamadas de prisões, mas de
“centros de correção”. Mesmo aqueles que ainda acreditam que o
crime deve ser punido pelo bem da sociedade mantêm a crença de
que assassinos devem receber sua sentença não por terem
cometido assassinato, mas apenas a fim de prevenir homicídios
futuros. Tal filosofia é perversa e falsa, e baseia-se na mentira de
que homens e mulheres não são verdadeiramente responsáveis por
suas ações.
Não é difícil de compreender como essa situação veio a se
formar. Porque os homens querem eles próprios ser Deus,24 eles
odeiam o pensamento de um Legislador soberano a quem precisam
prestar contas. Eles buscam suprimir essa verdade inescapável de
que Deus está ao redor deles e dentro deles,25 afirmando o
contrário, que Deus não existe.26 Essa negação da existência de
Deus lhes facilita fingir que não existe tal conceito de certo e errado.
Ao invés de serem pecadores culpados, homens e mulheres são
vistos como vítimas indefesas de suas circunstâncias. Em um
cenário desses, a punição a fim de satisfazer a justiça torna-se
impensável. O homem é livre para agir conforme lhe agrada e não
responde a ninguém.
Mas não importa o quanto os homens tentem suprimi-la, ainda
existe uma verdade indelével no coração humano de que certo e
errado são reais,27 que os homens são responsáveis por suas
transgressões, e que o pecado merece ser punido.28 Lá no fundo,
todos os homens sabem que a balança da justiça precisa ser
equilibrada no fim das contas.29 Se você não for cristão e estiver
lendo essas linhas, a balança da justiça está muito desequilibrada
em sua vida presente, e você pode estar certo — baseando-se no
próprio ser e no caráter justo de Deus — de que se você continuar
em sua condição atual, ele nunca descansará ou cederá até que
você esteja no inferno. Todo o tecido moral do universo entraria em
colapso caso ele não colocasse você no inferno.
É neste contexto que a Bíblia nos fala da “ira de Deus”. A ira de
Deus não é uma perda temporária de autocontrole ou um ataque
emocional egoísta. É o seu ódio santo e incandescente pelo pecado,
a reação e o asco de sua natureza santa contra tudo que é mau. A
ira de Deus está ligada diretamente à sua justiça. Ela tem a ver com
sua determinação justa de punir todo pecado, de equilibrar a
balança da justiça e endireitar tudo que está errado. É por isso que
a ira de Deus “permanece” sobre todo incrédulo.30 Quanto mais o
homem persiste no pecado, mais ele “acumula contra si mesmo ira
para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”.31 A ira de
Deus irá, afinal, ser “derramada”; ele é um juiz justo e não irá
permitir que o pecado siga sem punição eternamente.
1. Gênesis 3.4-5
2. Isaías 53.6, NVI
3. Romanos 3.10-12
4. Mateus 22.1-6
5. 2 Coríntios 4.4
6. Gênesis 6.5
7. João 5.40
8. João 6.44
9. Hebreus 12.16
10. Lucas 15.17
11. Hebreus 3.13
12. Apocalipse 3.17
13. Romanos 1.22
14. Hebreus 3.13
15. 1 Timóteo 4.2
16. João 8.34
17. Romanos 5.21
18. Mateus 25.41
19. 2 Pedro 2.12; Judas 1.10
20. Marcos 7.20-23
21. Romanos 7.13
22. Gênesis 4.8
23. Marcos7.20-23
24. Gênesis 3.4-5
25. Romanos 1.18ss.
26. Salmo 10.4; 14.1; 53.1
27. Romanos 2.14-16
28. Romanos 1.32
29. Atos 28.4
30. João 3.36
31. Romanos 2.5
Capítulo Dois
PODE UM HOMEM SER JUSTO
DIANTE DE DEUS?
É neste ponto que encontramos o maior de todos os obstáculos
imagináveis à salvação humana: Como um Juiz absolutamente justo
e reto pode de alguma forma justificar (declarar justo) um criminoso
absolutamente culpado e condenado? Como qualquer ser humano
pode escapar da condenação do inferno? O próprio Deus nos diz
que aquele “que justifica o perverso e o que condena o justo
abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro”.32 Suponha
que um pai chegue em casa e encontre sua família assassinada.
Depois de uma perseguição agonizante, ele consegue capturar o
assassino. Quando o criminoso finalmente se apresenta diante do
juiz, ele é inquestionavelmente considerado culpado pelo crime. Mas
quando chega a hora da sentença, o juiz faz a seguinte declaração:
“Este homem cometeu um crime terrível, mas eu sou um juiz
profundamente amoroso e escolho declará-lo inocente. Na verdade,
eu o declaro justo diante da lei”! Tal juiz seria corretamente
considerado um criminoso tão grande quanto o assassino! Ele
“justificou o perverso” e “é abominável para o senhor”.
Mas se isso pode ser considerado verdadeiro mesmo à luz da
justiça humana, quanto mais verdadeiro não é quando tratamos da
justiça de Deus? Como os filhos perversos e culpados de Adão
podem algum dia ter a esperança de se encontrarem diante de
Deus, o justo Juiz do universo? Como Deus poderia de alguma
forma “justificar o ímpio” sem ele próprio se tornar abominável? “O
que disser ao perverso: Tu és justo; pelo povo será maldito e
detestado pelas nações.”33 Como Deus pode dizer a pecadores
como nós, “Tu és justo”, sem violar o seu próprio caráter? Como
Deus pode de alguma forma salvar-nos dele próprio e de sua
própria retidão e justiça?
Esse dilema criou misérias indizíveis para cada alma sensível à
culpa. Foi um problema terrível para o patriarca Jó. “Como pode o
homem ser justo para com Deus? Se quiser contender com ele, nem
a uma de mil coisas lhe poderá responder.”34 “Que é o homem, para
que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo? Eis que
Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos
seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e corrupto,
que bebe a iniquidade como a água!”35 “Como, pois, seria justo o
homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de
mulher? Eis que até a lua não tem brilho, e as estrelas não são
puras aos olhos dele. Quanto menos o homem, que é gusano, e o
filho do homem, que é verme!”36
Ninguém sente a força desse dilema moral mais que o pecador
arrependido. Ele sabe que merece ir para o inferno. Na esfera dos
governos humanos, com alguma frequência, os criminosos se
entregam às autoridades para que a justiça seja feita, ao invés de
continuar vivendo com um senso insuportável de culpa! Pecadores
arrependidos sabem que merecem ser punidos, e que não seria
justo que não o fossem. Eles sabem que Deus não pode
simplesmente “varrer os seus pecados para debaixo do tapete” e
simplesmente esquecê-los. Dessa forma, o clamor de seus
corações é: “Como pode um Deus justo algum dia sorrir para mim?
Como este fardo de culpa pode ser removido? Como Deus pode
pronunciar uma bênção sobre mim? Como um homem como eu
pode ser justo diante de Deus”!
IMPUTAÇÃO
Só existe uma única resposta para esse dilema. Alguém precisa
pagar pelos pecados dos pecadores. A justiça precisa ser satisfeita.
Ou ela será satisfeita pelos sofrimentos do próprio pecador
eternamente no inferno, ou ela terá de ser satisfeita por alguma
outra pessoa no lugar do pecador.
Maravilha das maravilhas! Esse “Alguém” veio! O Senhor Jesus
Cristo “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os
nossos pecados”.37 “Certamente, ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi
traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas
iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas
suas pisaduras fomos sarados.”38
Como essa grande transação acontece? Para compreendê-la,
precisamos considerar a pequena palavra “imputar”. Ela também é
traduzida como “reconhecer”, “contar”, “considerar”. Podemos
começar a entender o que ela significa ao atentar para uma
passagem da carta de Paulo a Filemon a respeito do retorno de seu
escravo Onésimo: “Se, portanto, me consideras companheiro,
recebe-o, como se fosse a mim mesmo. E, se algum dano te fez ou
se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta”.39 Aqui, Paulo
instrui Filemon a “lançar em sua conta” [literalmente, “imputar”]
qualquer débito que Onésimo pudesse estar devendo a Filemon.
Essa não era realmente uma dívida de Paulo, mas Paulo, por sua
própria vontade, tomou para si aquele débito, e ele foi lançado em
sua conta!
Agora, essa mesma palavra e suas variações são usadas para se
referir a pecado. Por exemplo, a Bíblia diz que “o pecado não é
imputado (“lançado em nossa conta”), não havendo lei”.40
Novamente, em Romanos 4, Paulo diz: “Mas, ao que não trabalha,
porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída
como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-
aventurado o homem a quem Deus atribui (“imputa”) justiça,
independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas
iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-
aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado”.41
Que transação gloriosa! Nossos pecados não são imputados a nós,
porque foram imputados a Cristo, e, aceitando-os como se fossem
seu próprio débito, ele os pagou completamente!
Podemos ver essa mesma realidade no conceito de “carregar os
pecados” do Antigo Testamento. No grandioso Dia da Expiação, dois
bodes eram sacrificados — um derramava seu sangue para expiar
os pecados,42 enquanto o outro bode (vivo) carregava esses
pecados embora para um lugar solitário43: “Arão fará chegar o bode
sobre o qual cair a sorte para o SENHOR e o oferecerá por oferta pelo
pecado. Mas o bode sobre que cair a sorte para bode emissário
será apresentado vivo perante o SENHOR, para fazer expiação por
meio dele e enviá-lo ao deserto como bode emissário”.44 Aqui Deus
utiliza dois bodes para nos ensinar uma verdade a respeito da obra
expiatória do Senhor Jesus Cristo. Por um lado, ele morre por
nossos pecados, e por outro — como resultado daquela morte —,
ele eficazmente leva nossos pecados embora da presença de Deus.
Perceba a realidade gloriosa da imputação presente aqui! “Arão
porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode vivo e sobre ele
confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, todas as suas
transgressões e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça
do bode e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem à
disposição para isso. Assim, aquele bode levará sobre si todas as
iniquidades deles para terra solitária; e o homem soltará o bode no
deserto.”45 A pergunta que cada um de nós deveria fazer a si
mesmo é a seguinte: “Será que eu já pus as mãos da fé sobre o
Senhor Jesus Cristo e dei-lhe todos os meus pecados para que ele
os levasse a uma terra solitária?
 
Nem todo o sangue de animais
Mortos sobre o judaico altar
Pode dar à consciência culpada paz,
Ou todas suas manchas lavar.
 
Mas Cristo, o Cordeiro celestial,
Leva todos os nossos pecados embora,
Um sacrifício de nome mais nobre
E sangue mais rico que eles.
 
Minha fé poria sua mão
Sobre aquela tua cabeça querida,
Enquanto como um penintente estou,
E lá confesso meu pecado.
Isaac Watts
Um substituto morreu em nosso lugar! “Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho,
mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.”46 É
dessa forma que um Deus justo pode justificar criminosos de uma
vida toda em seu tribunal celestial. Ele abre nossas contas e vê que
o débito já foi imputado a seu Filho amado. Mais do que isso, ele vê
que o nossodébito foi realmente pago por completo por ele. Aleluia!
Deus, em seu grande amor,47 desenvolveu uma forma de nos salvar
dele mesmo e de sua própria justiça! Ele o fez ao entregar seu único
Filho para morrer em nosso lugar.
O CORAÇÃO DO EVANGELHO
Essas realidades estão no próprio coração do evangelho. Elas são
expostas pelo apóstolo Paulo em Romanos 3.21-26, uma passagem
um tanto complexa que se torna clara à medida que
compreendemos o significado da imputação discutida acima:
Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada
pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus
Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há
distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo
justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há
em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como
propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus,
na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente
cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo
presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé
em Jesus.
 
Aqui, Paulo declara que Cristo morreu para pagar o nosso débito
de pecado a fim de que Deus pudesse “justificar” pecadores e ao
mesmo tempo permanecer “justo”. Ao longo do Antigo Testamento,
os pecados foram meramente “deixados impunes”, o pagamento de
sua culpa sendo postergado ano após ano, até que viesse o
Cordeiro cuja morte os levaria verdadeiramente embora.48 Durante
todo esse tempo, parece que Deus estava sendo injusto, visto que
ele justificou homens (como Abraão e Davi) sem que a justiça fosse
realmente satisfeita. Portanto, era necessário que Cristo morresse
“publicamente”, manifestando abertamente a justiça de Deus para
que todos a vissem, satisfazendo-a completamente na cruz pelos
pecados cometidos. Nesse sentido, Cristo morreu não somente para
justificar homens, mas para justificar Deus! Sua morte na cruz
vindicou e manifestou a justiça absoluta de Deus ao justificar seu
povo. Como uma “propiciação” (i.e., um sacrifício que remove a ira)
pelos nossos pecados, Cristo tira de sobre nós a ira judicial de
Deus. Somos “justificados gratuitamente” (a justificação é
absolutamente de graça para nós), “mediante a redenção que há em
Cristo Jesus” (a justificação custou muito caro para Deus). Somos
justificados ao receber a “graça para a justificação”,49 “justiça de
Deus mediante a fé em Jesus Cristo”.50
Você ainda está carregando o fardo de sua culpa e seus
pecados? Você ainda está sob a ira de Deus? “Eis o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo!”51 “Haverá uma fonte para
remover pecado e impureza”.52 “O sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo o pecado”.53 Não importa quão terríveis sejam os
seus pecados, eles não são nada comparados ao valor infinito do
sangue de Cristo!54 “Onde abundou o pecado, superabundou a
graça”.55 Venha a ele! Ele o convida e também ordena que venha;
você não precisa temer estar sendo presunçoso ao vir: “Aquele que
tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”.56
Venha a ele! Tome a água da vida! Lance seus pecados sobre ele e
confie nele como quem levará seus pecados. “Crê no Senhor Jesus
e serás salvo”.57
32. Provérbios 17.15
33. Provérbios 24.24
34. Jó 9.2-3
35. Jó 15.14-16
36. Jó 25.4-6
37. 1 Pedro 2.24
38. Isaías 53.4-5
39. Filemon 17-18
40. Romanos 5.13
41. Romanos 4.5-8
42. Levítico 16.16
43. Levítico 16.22
44. Levítico 16.9-10
45. Levítico 16.21-22
46. Isaías 53.6
47. João 3.16; 1 João 4.9-10
48. Hebreus 9.15
49. Romanos 5.17
50. Romanos 3.22
51. João 1.29
52. Zacarias 13.1
53. 1 João 1.7
54. 1 Pedro 1.18-19; Atos 20.28
55. Romanos 5.20
56. Apocalipse 22.17; Mateus 11.28
57. Atos 16.31
Capítulo Três
JUSTIFICAÇÃO: SUAS
CARACTERÍSTICAS
Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas
dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e
oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído
pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre
ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o
SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
Isaías 53.4-6
 
Vimos que o maior problema do homem é o pecado. Mas esse
problema do pecado possui dois aspectos: o primeiro é interno — o
homem possui um coração mau. O segundo é externo — o homem
possui um histórico mau. Dizendo isso de outra forma: para todo
aquele que não é cristão, o pecado tanto o corrompe (o que tem a
ver com aquilo que ele é) quanto o condena (o que tem a ver com
aquilo que ele fez). Por um lado, o poder do pecado está reinando
dentro dele; por outro lado, a punição do pecado está clamando pela
morte dele. E, mesmo que ele não fosse impotente para se libertar
do poder do pecado, ainda assim estaria desesperançado por conta
da punição do pecado. Somente quando um homem vem a enxergar
essas realidades terríveis que o nome “Jesus” passa a significar
alguma coisa para ele. “E lhe porás o nome de Jesus [“Jeová é
salvação”], porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”.58 O
Senhor Jesus Cristo salva seu povo dos pecados deles — tanto da
punição por seus pecados quanto do poder de seus pecados. Ele
realiza este na justificação e aquele na regeneração.
No Capítulo 2, começamos a considerar a justificação: Como um
homem pode “estar justo” diante de Deus? Esse é o dilema que tem
atormentado os homens ao longo da História. Ele levou Martinho
Lutero a rastejar de joelhos subindo os degraus da assim chamada
Scala Sancta em Roma e levou monges a vestir camisas feitas de
cabelo humano e anzóis em uma tentativa de pagar por seus
pecados. Até os dias de hoje, ele leva os nativos das ilhas da
Polinésia a sacrificar galinhas e aspergir seu sangue para os
deuses. Em países mais “civilizados”, muitos se contentam em “ir à
igreja” ou com alguma outra forma de “boas obras” a fim de aplacar
suas consciências culpadas. E em todo lugar os homens estão
tentando se “justificar”, racionalizando ou apresentando desculpas
para seus atos perversos.
Como um homem pode ser justo diante de Deus? Existe apenas
uma única resposta: um homem pode ser justo diante de Deus
unicamente por meio da vida e morte do Senhor Jesus Cristo em
seu lugar. “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro,
os nossos pecados.”59 “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”60
Somente Cristo pode nos fazer justos diante de Deus.61 Neste
capítulo, consideraremos sete verdades que são ensinadas nas
Escrituras a respeito desse grande tema.
A JUSTIFICAÇÃO É BASEADA NO SANGUE DE
JESUS
“Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira.”62 “O sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado.”63 O que significa dizer que a justificação é
baseada no sangue de Jesus? Significa que a justificação acontece
com base no pagamento de um resgate; ela acontece com base na
satisfação da justiça. Em outras palavras, quando Deus “justifica”
uma pessoa, ele não está mais olhando para a própria pessoa. Ao
invés disso, ele está olhando para o sangue de Cristo. Somos
“justificados pelo seu sangue”! Deus não justifica um homem com
base em qualquer coisa inerente ao próprio homem. Em particular,
não é porque o homem é — de alguma maneira, forma ou modo —
piedoso que Deus o justifica. Somos especificamente informados
em Romanos 4.5 de que Deus “justifica o ímpio”! Essas palavras
são verdadeiramente surpreendentes e maravilhosas. Você se sente
indigno de receber a justificação? Você é mesmo! Tudo a seu
respeito clama por sua condenação. Longe do sangue e da justiça
de Cristo, você não tem qualquer esperança.
Não há nada no homem que leve Deus a justificá-lo, incluindo seu
arrependimento e fé. Arrependimento não paga pelos pecados. O
remorso de um criminoso por seus crimes cometidos não satisfaz as
justas demandasda lei. Da mesma forma, a fé não pode pagar
pelos pecados! Somente o sangue de Jesus pode pagar pelos
pecados! A Justificação é baseada no sangue de Cristo.
 
Será que meu zelo não conhecerá descanso, Ou minhas lágrimas para
sempre fluirão, Tudo pelo pecado que não pode ser expiado; Tu
precisas salvar, e Tu somente.
Augustus Toplady
Isso explica porque uma pessoa pode ter uma fé muito fraca e
ainda assim ser justificada. Imagine duas pontes cruzando um
abismo: uma delas é muito fraca e duvidosa; a outra é muito forte.
Um homem pode ter uma fé muito forte na ponte fraca e
confiantemente passar por sobre ela. Sua fé forte não o poupará de
despencar para sua própria morte. Por outro lado, um homem pode
ter uma fé muito fraca na ponte forte e, apenas com muito medo e
tremor, ser capaz de aventurar-se a passar por sobre ela. A ponte o
manterá em segurança, a despeito de sua fraca fé. Tudo que é
necessário é que ele tenha fé o suficiente para atravessar a ponte!
Quando alguém disse a Hudson Taylor que ele deveria ser um
homem de muita fé, ele respondeu: “Não, eu sou um homem de fé
muito pequena em um Deus muito grande”.
Quando o Anjo da Morte passou sobre o Egito na noite de
Páscoa, Deus estava olhando apenas para uma coisa — o sangue
nos umbrais das portas. “Quando eu vir o sangue, passarei por
vós.”64 Aqueles dentro das casas certamente estavam cheios de
temor e tremor, mas isso não fez a menor diferença, contanto que o
sangue estivesse no umbral da porta.
Em sua autobiografia Seen and Heard [Visto e Ouvido], o
evangelista itinerante escocês James McKendrick nos conta da
gloriosa conversão de George Mayes, conhecido por toda a região
como o mais ultrajante dos pecadores. Quando, algum tempo
depois, McKendrick retornou ao local onde Mayes vivia, encontrou-
o, no entanto, em um estado de alma atormentado. “Já não pareço
sentir-me como me sentia antes”, George lamentou. “George”, disse
McKendrick, “se você tivesse um xelim em seu bolso e se sentisse
maravilhosamente feliz por isso, por acaso esse xelim valeria quinze
centavos apenas porque você estava se sentindo feliz?” “Não”,
disse George. “Bem, quanto então o xelim valeria?” “Apenas doze
centavos”, ele respondeu. “E suponha que você estivesse
extremamente infeliz e ainda possuísse aquele xelim em seu bolso,
por acaso ele valeria somente nove centavos por conta da sua
infelicidade?” Novamente, George respondeu, “Não”. “Quanto
valeria então?” perguntou McKendrick. “Doze centavos”, disse
George. “Bem, você é capaz de perceber que sua alegria não
adiciona nada ao valor do xelim, nem sua infelicidade tira qualquer
valor desse mesmo xelim, e que ele continuará valendo doze
centavos independentemente de como você se sinta?” “Sim, eu
creio nisso”, respondeu George. “Então, diga-me — são os seus
sentimentos de felicidade ou o sangue de Cristo que afasta os seus
pecados?” “Ah, é o sangue de Cristo”, respondeu George. “Então,
você não é capaz de enxergar que quando estiver feliz você não
está mais seguro, e quando estiver infeliz não está menos seguro?
É o sangue de Cristo que afasta os seus pecados, coloca-o em
segurança e o mantém salvo ao longo do ano inteiro”, McKendrick
concluiu. A respeito disso só podemos dizer, “Aleluia”!
 
Ouço as palavras de amor,
Contemplo o sangue,
Vejo o sacrifício poderoso,
E tenho paz com Deus.
 
Esta paz eterna!
Tão certa quanto o nome de Jeová;
Tão sólida quanto seu trono inabalável,
Para todo o sempre imutável.
 
As nuvens podem ir e vir,
E as tempestades podem varrer meu céu —
Esta amizade selada com o sangue jamais mudará;
A cruz sempre perto está.
Horatius Bonar
Cristão, você está olhando para dentro de si em busca de
confiança? Assim você jamais a encontrará! Mesmo as imensas
âncoras dos navios transatlânticos não servirão para nada se
ficarem guardadas em seus compartimentos. Elas precisam ser
lançadas para fora do navio! Lance sua âncora sobre Jesus Cristo!
Coloque toda sua confiança nele! Somente a justiça dele é a sua
confiança e esperança.
JUSTIFICAR SIGNIFICA “DECLARAR JUSTO”
“Justificar” significa “declarar justo”; não significa “tornar justo”.
Quando Deus nos justifica, ele declara que algo é verdadeiro sobre
nós “no lado de fora” (i.e., “objetivamente”); Ele declara que somos
justos (“retos”) à vista de sua lei. Justificação não nos torna bons por
dentro. (Deus de fato nos torna bons por dentro, mas isso tem a ver
com regeneração — o novo homem é “criado em justiça e retidão
procedentes da verdade”65) Justificação, em contraste, é uma
afirmação (uma declaração) sobre nossa posição aos olhos da lei de
Deus.
O fato de que a justificação é uma declaração a respeito de nossa
posição pode se tornar mais claro quando consideramos que o
oposto de “justificar” é “condenar”. “Quem intentará acusação contra
os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os
condenará?”66 Quando um juiz “condena” um homem, ele não muda
aquilo que o homem é por dentro, mas “intenta uma acusação
contra ele.” Ele o declara culpado aos olhos da lei. Igualmente,
quando um juiz “justifica” um homem, ele não muda aquilo que o
homem é por dentro, mas apenas declara que ele é justo aos olhos
da lei.
A JUSTIFICAÇÃO NÃO POSSUI GRADAÇÕES
OU NÍVEIS
Ou um homem é 100% justo, ou está condenado. Se um assassino
é acusado de sete homicídios, mas é condenado por apenas um,
ele ainda assim é um homem condenado! Leitor, ainda que você
tivesse que pagar apenas um pecado por conta própria, você estaria
condenado ao inferno por toda a eternidade! Para o cristão já não
há condenação. Nenhuma, qualquer que seja! “Agora, pois, já
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”67 Se
você pertence a Cristo, já está 100% justificado nele; não há
nenhuma condenação para você. E a justiça que você possui aos
olhos da lei de Deus não é simplesmente uma boa justiça; é a
própria justiça de Cristo; é a “justiça de Deus”! “Aquele que não
conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele,
fôssemos feitos justiça de Deus.”68
A justificação não possui gradações! Ó, cristãos, lançai mão
dessa verdade! O diabo tentará fazê-lo pensar que você está pelo
menos um pouquinho condenado à vista da lei de Deus. Mas você
não está! Maravilha das maravilhas! O apóstolo Paulo conhecia a
Deus melhor do que nós, mas ele não estava nem um pouquinho
mais justificado que nós! Nem mesmo o próprio Senhor Jesus era
mais justificado que nós, pois sua própria justiça é nossa! Nossa
justificação é perfeita e absoluta.
 
Jesus, teu sangue e justiça Minha beleza são, minhas vestes gloriosas;
Em meio aos mundos flamejantes, assim vestido, Com alegria
levantarei minha cabeça!
Este manto imaculado parece o mesmo, Quando a natureza arruinada
afunda por anos;
Nem mesmo o tempo pode alterar sua matiz gloriosa,
O manto de Cristo está sempre novo.
Nicholas von Zinzendorf JUSTIFICAÇÃO É MAIS DO QUE PERDÃO
Em muitos governos, o presidente ou governante tem o poder de
perdoar criminosos. Isso é conhecido como “clemência executiva”.
Presidentes têm sido conhecidos por perdoarem ex-presidentes, e
governadores de estados têm sido conhecidos por perdoarem todos
os criminosos no corredor da morte como último ato de seu governo.
Algumas questões são levantadas: “Quando esses homens foram
perdoados, os crimes cometidos por eles foram pagos”? A resposta
é não! “Será que a sentença da lei sob ameaça foi cumprida?”
Novamente, a resposta é não! “A justiça foi satisfeita?” Não! Todas
essas negativas fluem do fato de que o perdão não tem como base
o pagamento pelo pecado. O perdão deixa o criminoso “se livrar de
uma boa”, por assim dizer. A sentença da lei nunca é cumprida. O
perdão é um ato de autoridade por um governante.
Em contraste, a justificação é uma declaração de um juiz, e tem
como base a justiça. Cristão, quando Deus o justifica, ele não está
“deixando você se livrar de uma boa” com os seus pecados ainda
pairando no ar. Ele não finge que os seus pecados já foram pagos.
Em vez disso, ele vê que os seus pecados realmente já foram pagos
por Cristo, e então faz uma declaraçãobaseada nesse fato. Ele faz
uma declaração sobre a forma como as coisas de fato são. Se isso
não fosse verdade, seria impossível a qualquer crente andar de
cabeça erguida. Pense em Carol Everett, uma ex-proprietária de
uma clínica de aborto responsável pela morte de dezenas de
milhares. Pense em David Berkowitz, o famoso assassino em série,
agora um crente em Cristo. Pense em si próprio!
A única maneira pela qual um pecador arrependido pode agora
andar de cabeça erguida é saber que os seus pecados já foram
todos pagos! Se ele pensasse que simplesmente “se livrou de uma
boa”, o pecador arrependido preferiria satisfazer a justiça no inferno
que viver com a culpa de seus crimes passados. Amado cristão,
você pode ter memórias terríveis de seu passado pecaminoso, mas
pode ter certeza de uma coisa: nenhum desses pecados está
pairando no ar. Eles desceram… sobre o Senhor Jesus Cristo!69 E
ele já pagou por todos eles! Ele levou seus pecados sobre seu
próprio corpo na cruz.70
A JUSTIFICAÇÃO É TANTO POSITIVA QUANTO
NEGATIVA A justificação é tanto positiva
quanto negativa. Vemos essa verdade
claramente em Romanos 4.6-8:
E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a
quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem-
aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos
pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor
jamais imputará pecado.
 
Em primeiro lugar, há um aspecto negativo na justificação: Deus
“não leva em consideração” nossos pecados. Nossos pecados
foram “cobertos”, e ele “jamais imputará pecado” a nós (v. 7-8).
Deus pode fazer isso somente porque nossa dívida de pecado foi
imputada a Cristo e paga por ele. Aprendemos do ensinamento do
Senhor Jesus Cristo que o pecado pode (de algumas formas)
corretamente ser comparado a uma dívida financeira: “Perdoa-nos
as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos
devedores”.71 Cada um de nós possui uma imensa dívida com a
justiça de Deus. Qual o tamanho dessa dívida? Em Mateus capítulo
dezoito, Jesus conta uma parábola comparando nossa dívida com
Deus à dívida de um homem que devia dez mil talentos ao seu rei.
Isso era o equivalente a 164.000 anos de trabalho para um
trabalhador comum, sem levar em consideração sábados, domingos
e feriados! Nossa dívida com a justiça de Deus é verdadeiramente
imensa, mas Cristo paga essa dívida pelo seu povo na cruz. Isso
nos leva de volta ao zero a zero; não temos mais nenhuma dívida,
mas ao mesmo tempo, não temos nenhum dinheiro na conta
bancária.
Mas também há um aspecto positivo na justificação: Deus coloca
sua “bênção” sobre nós “atribuindo-nos justiça” (v. 6). Em outras
palavras, Cristo não somente paga nossa dívida; ele também
deposita uma vasta fortuna em nossa conta bancária. Por meio de
sua perfeita obediência como homem, ele computa sobre nós e
deposita em nossa conta uma justiça positiva aos olhos de Deus.
Cristo tomou seu lugar como o “último Adão”72 e foi bem sucedido
precisamente onde o primeiro Adão falhou: “Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores,
assim também, por meio da obediência de um só, muitos se
tornarão justos”.73
Para compreender o significado disso, precisamos nos lembrar de
que a Lei possui tanto um aspecto positivo quanto negativo. Por um
lado, a lei ameaça que “a alma que pecar, essa morrerá”.74 Mas por
outro lado, a lei promete que “aquele que observar os seus preceitos
por eles viverá”.75 Essa promessa de “vida” tinha uma aplicação
temporal aos judeus — enquanto obedecessem aos preceitos
exteriores da Lei de Moisés, eles “viveriam” na terra que Deus havia
dado a eles. Mas a promessa também possui um significado mais
profundo — ela não está relacionada apenas com “vida na terra”,
mas vida eterna. O Senhor Jesus deixou isso claro em mais de uma
ocasião: “E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com
o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para
herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito
na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor,
teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as
tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Então, Jesus lhe disse: Respondeste
corretamente; faze isto e viverás”.76
Da mesma forma, quando o “jovem rico” perguntou a Jesus:
“Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna”? Sua
resposta foi, “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os
mandamentos”.77 Isso significa que aqueles que obedecem
perfeitamente à lei podem merecer, ou ser dignos da vida eterna
exercitando sua própria justiça aos olhos da lei.78 “Ora, Moisés
escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei
viverá por ela.”79 Somente uma pessoa na história humana foi capaz
de fazer isso; todos os outros falharam miseravelmente. Somente o
Senhor Jesus Cristo “cumpriu toda a justiça”.80 Ele não apenas
pagou por nossos pecados; ele viveu uma vida de perfeita retidão
que é creditada a nós, e tendo recebido o “dom” da sua justiça,
temos o direito à vida!81 Não somente a maldição que cabia a nós
caiu sobre ele, mas a bênção devida a ele caiu sobre nós.
Paulo expressa tanto os resultados positivos quanto os negativos
da justificação em Romanos 5:1-2: “Justificados, pois, mediante a fé,
temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo... e
gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” O primeiro resultado
da justificação é negativo: nós já não estamos mais debaixo de uma
maldição. Temos paz com Deus — não somente paz de nossa
parte, mas paz da parte de Deus. Quando um criminoso solta sua
arma e se rende, o policial que o perseguia não faz a mesma coisa.
Ele mantém sua arma apontada para o meliante até que ele tenha
sido seguramente encarcerado, e a justiça seja finalmente satisfeita.
Somente então ele pode abaixar sua arma. A glória da justificação é
que Deus não é mais nosso inimigo — as demandas da justiça
foram atendidas, nossos pecados foram pagos, e agora Deus pode
“abaixar sua arma” no que diz respeito a nós. Ele está em paz
conosco!
O segundo resultado da justificação é positivo: Agora mesmo
podemos exultar em esperança (expectativa confiante) na glória de
Deus (céu). Não somente não estamos mais debaixo de uma
maldição; temos a vida eterna — agora mesmo. A vida eterna não é
algo que talvez recebamos algum dia no futuro, mas uma posse
presente. “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha
palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra
em juízo, mas passou da morte para a vida.”82 Glória a Deus! A
bênção merecida por Cristo foi dada a nós.
A JUSTIFICAÇÃO É DE UMA VEZ POR TODAS
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus.”83 A
justificação é de uma vez por todas, um evento completado no
passado com resultados que duram para sempre. Um homem não é
primeiramente justificado, então condenado, e então justificado
novamente. A justificação é de uma vez por todas. Isso significa que
a justificação nos coloca em uma nova categoria, status ou posição
diante de Deus. “Justificados, pois,... obtivemos igualmente acesso,
pela fé, a esta graça na qual estamos firmes.”84 Os cristãos se
encontram firmes em uma posição completamente nova, e é na
graça que estão firmados.
A maravilha da justificação de uma vez por todas e de nossa
nova posição firmes na graça pode ser ilustrada da seguinte
maneira: suponha que um marido cristão se levante pela manhã e
seja grosseiro com sua esposa de alguma maneira, mas não
perceba seu pecado até mais para o final do dia. Quando percebe o
que fez, pede perdão a Deus e à sua esposa. Seu comportamento
anterior foi verdadeiramente pecaminoso, ainda que ele não
estivesse completamente consciente disso naquela hora. Agora
suponha que este homem tenha morrido antes de perceber e
confessar o seu pecado. Ele teria ido para o inferno? Certamente
não! Suas primeiras palavras de confissão ao perceber seu pecado
mostram que sua posição diante de Deus tem sido uma relação de
filiação o tempotodo: “Pai, perdoa-me pela minha grosseria”. Muitos
concordam com essa análise, mas poucos pararam para perceber o
que ela significa. E ela significa que o cristão permanece em um
estado justificado mesmo durante o tempo entre o cometimento de
um pecado e a confissão deste mesmo pecado! Em outras palavras,
o pecado não é imputado a ele durante o tempo entre seu
cometimento e sua confissão.
Esse argumento pode ainda ser reforçado da seguinte maneira:
suponha que este mesmo marido cristão levante-se pela manhã,
tenha uma discussão com sua esposa e saiba que foi grosseiro com
ela. Ao invés de confessar seu pecado, ele vai mal-humorado para o
trabalho. Passa a manhã inteira muito aborrecido. Finalmente, não
aguentando mais essa situação, ele curva sua fronte e pede perdão
a Deus, em seguida liga para sua esposa e pede também o seu
perdão. Suponha que esse homem tenha morrido antes de
confessar o seu pecado. Ele teria ido para o inferno? Novamente, a
resposta é “Certamente não!”. Afinal de contas, por que ele estaria
se sentindo tão mal a manhã inteira, se não pelo fato de que ele
permanece um filho de Deus com um coração renovado mesmo
durante o tempo de sua rebelião?
Dizer isso é apenas afirmar que o verdadeiro cristão permanece
em um estado de justificação o tempo todo. Por quê? Porque ele
possui toda uma nova condição diante de Deus. O cristão não é
mais um criminoso sob a ira de Deus; ele é o filho debaixo do
cuidado de um Pai amoroso.85 E, assim como qualquer pai
amoroso, às vezes Deus precisa disciplinar seus filhos, mas a
disciplina é completamente diferente da punição judicial.
Estritamente falando, a punição é o sofrimento infligido para a
satisfação da justiça. A disciplina, por outro lado, é o sofrimento
infligido para o próprio bem do ofensor. Há uma vasta diferença
entre as duas coisas!
A Justificação é de uma vez por todas. Se isso não fosse
verdade, todos nós perderíamos a salvação toda vez que
cometêssemos ainda que um só pecado, e estaríamos expostos à
condenação eterna até que chegássemos ao ponto de confessar
aquele pecado e ser justificados (e convertidos) novamente! Essa
não é a verdadeira natureza da justificação, ou mesmo da vida
cristã.
A natureza de uma vez por todas da justificação é claramente
ilustrada pelo escritor aos Hebreus:
Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real
das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os
mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.
Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que
prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais
teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se
recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o
sangue de touros e de bodes remova pecados.86
 
Perceba o argumento que é colocado aqui: “Sabemos que é
impossível que o sangue de touros e de bodes remova os pecados,
porque eles eram oferecidos todos os anos, vez após vez”. Alguém
poderia responder dizendo: “O que isso prova? Eles precisavam ser
oferecidos todos os anos porque novos pecados eram cometidos
todos os anos. Os pecados de cada ano traziam nova condenação”.
Mas, de acordo com Hebreus, esse tipo de resposta revela uma
compreensão equivocada da verdadeira natureza da justificação.
Quando o que presta culto é “purificado”, não há mais “consciência
dos pecados”. Quando o sangue de Cristo é aplicado, somos
“aperfeiçoados para sempre”! “Porque, com uma única oferta,
aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto
nos dá testemunho também o Espírito Santo; porquanto…
acrescenta: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus
pecados e das suas iniquidades, para sempre.”87 Em outras
palavras, a promessa da Nova Aliança de que Deus “de modo
nenhum se lembrará de nossos pecados”, significa que toda a
categoria de “pecados” está para sempre longe dos olhos de Deus,
no que diz respeito à lei e à satisfação da justiça. Os crentes foram
“aperfeiçoados” em suas consciências,88 não tendo mais
“consciência de pecados”89 no que diz respeito à ira de Deus! Nesse
sentido, não há mais necessidade de uma “recordação de
pecados”90 na Nova Aliança. “Ora, onde há remissão destes, já não
há oferta pelo pecado.”91 “Temos sido santificados, mediante a
oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.”92
O que isso tudo significa em nossa vida cotidiana? Significa que,
como cristão, posso me levantar cedo pela manhã sabendo que sou
aceito em Cristo. Deus se deleita em mim como seu filho, e a culpa
pelos meus pecados se foi para sempre. Se cometer um pecado,
tenho “consciência” do meu pecado como um filho, não como um
criminoso condenado, e confesso meu pecado a Deus como um
filho confessa a seu pai, não como um criminoso confessa a um juiz.
E, assim, entro com intrepidez no Santo dos Santos, pelo sangue de
Jesus.93 “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É
Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem
morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e
também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo?
Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou
perigo, ou espada?”94
A JUSTIFICAÇÃO É RECEBIDA PELA FÉ
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus.”95 O sangue
de Cristo é a base da justificação, mas a fé é o instrumento ou canal
pelo qual recebemos o “dom da justiça”.96 “Que devo fazer para que
seja salvo? Crê no Senhor Jesus e serás salvo.”97
O que é fé? Fé não é algum tipo de força ou poder que podemos
dominar para alcançar e realizar as coisas que queremos.
Igualmente, ninguém pode “liberar sua fé”, a despeito do que
ensinam alguns falsos mestres. A fé é simplesmente o oposto de
tais conceitos equivocados. A justificação pela fé não é “fazer”
alguma coisa; pelo contrário, ela é a desistência em fazer qualquer
coisa e simplesmente descansar na misericórdia de Deus. Isso pode
ser ilustrado pelo testemunho de uma irmã que passou por grandes
tribulações antes de encontrar descanso em Cristo. Ciente de sua
condição de perdida e tentando fazer tudo quanto possível para
escapar do inferno, ela eventualmente se viu sem chão: “Eu me
sentia como se estivesse pendurada na beira de um precipício pela
ponta dos meus dedos. Abaixo de mim estava o inferno. Eu não
queria ir para o inferno e havia me esforçado à exaustão tentando
me manter longe do inferno. Finalmente, não tive mais forças para
continuar segurando. Soltei meus dedos e caí… direto nos braços
amorosos de Jesus”. Isso é fé!
Perceba ainda que não somos salvos por uma fé genérica; mas
somos salvos pela fé em Cristo. Algumas pessoas confiam em uma
“decisão” feita no passado, mas uma “decisão” nunca poderá pagar
os nossos pecados! Outras têm confiança no batismo, em uma
experiência emocional passada, ou mesmo em sua suposta “fé”.
Certo homem idoso que não dava qualquer evidência de sua
verdadeira conversão, quando perguntado se alguma vez havia sido
incomodado pelo pensamento da eternidade, respondeu: “Não,
jamais me incomodei com isso, porque a Bíblia diz que se você tem
fé será salvo, e eu tenho um monte de fé”. No que esse homem
estava confiando? Não era em Cristo ou em seu sangue, mas em
sua própria “fé”. A confiança de um cristão é completamente
diferente. Se subitamente o chão se abrisse derrubando todos nós
em um abismo nesse exato momento, cada verdadeiro cristão
exclamaria: “Senhor Jesus”! Nenhum deles exclamaria: “Minha fé”!
Fé é o olho que não pode olhar para si mesmo. A fé está ocupada
com seu objeto, e este objeto é o Senhor Jesus Cristo. “E do modo
por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o
Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha
a vida eterna.”98 Aqui Jesus nos diz que a serpente na haste era na
verdade uma sombra dele próprio na cruz. Como as pessoas foram
salvas em relação à serpente? “Todo mordido que a mirar viverá.”99
O que, então, é crer? Crer é “olhar”! Olhe e viva! Coloque toda a sua
esperança no SenhorJesus Cristo e seja salvo.
 
‘Olhe e viva’, meu irmão, viva,
Olhe para Jesus agora e viva!
Está escrito em sua Palavra, Aleluia!
Basta que você ‘olhe e viva’.
W. A. Ogden
58. Mateus 1.21
59. 1 Pedro 2.24
60. 2 Coríntios 5.21
61. João 14.6; 1 Timóteo 2.5-6; Atos 4.12
62. Romanos 5.9
63. 1 João 1.7
64. Êxodo 12.13
65. Efésios 4.24
66. Romanos 8.33-34
67. Romanos 8.1
68. 2 Coríntios 5.21
69. Isaías 53.6
70. 1 Pedro 2.24
71. Mateus 6.12
72. 1 Coríntios 15.45
73. Romanos 5.19
74. Ezequiel 18.4
75. Gálatas 3.12; Levítico 18.4
76. Lucas 10.25-28 (compare Levítico 18.4)
77. Mateus 19.16-17
78. Filipenses 3.9
79. Romanos 10.5
80. Mateus 3.15
81. Romanos 5.17
82. João 5.24
83. Romanos 5.1
84. Romanos 5.1-2
85. Gálatas 4.4-7
86. Hebreus 10.1-4
87. Hebreus 10.14-17
88. Hebreus 9.9,13-14
89. Hebreus 10.1-2
90. Hebreus 10.3
91. Hebreus 10.18
92. Hebreus 10.10
93. Hebreus 10.19-22
94. Romanos 8.33-35
95. Romanos 5.1
96. Romanos 5.17
97. Atos 16.30-31
98. João 3.14-15
99. Números 21.8
Capítulo Quatro
REGENERAÇÃO TUDO SE FAZ
NOVO
Já vimos que o pecado é o maior e, de fato, único problema da
humanidade, e que o problema do homem com o pecado possui
dois aspectos, um interno e outro externo: não somente todo filho
caído de Adão possui um coração mau, mas também possui um
registro negativo aos olhos da lei de Deus. O pecado tanto
contamina quanto condena o homem; seu poder reina dentro dele, e
sua punição repousa sobre ele. O homem está tanto impotente
quanto desesperançado — seu problema é realmente insolúvel.
Nessa situação de trevas e desespero, uma grande luz brilhou.100
Jesus veio. Ele pode e irá salvar o seu povo101 tanto da punição
quanto do poder de seus pecados. Ele realiza aquele na justificação,
e este na regeneração.
No segundo e terceiro capítulo consideramos a grande doutrina
bíblica da Justificação. Agora focaremos no tema da regeneração. A
justificação acontece no céu, na corte de Deus. A regeneração, por
outro lado, acontece na terra, no coração do homem. Justificação é
uma declaração feita por um Juiz; regeneração é um ato de criação
feito por um Criador onipotente.
UMA PARÁBOLA UNIVERSITÁRIA
Em toda faculdade e universidade, os alunos estudam muito para
conseguir tirar a nota máxima no final do curso. Quando eu era
estudante, fiz a mesma coisa. Mas havia uma aula que era
diferente. Era uma matéria do último ano da faculdade, exigida
apenas dos alunos do bacharelado de física e química, e havia
apenas quatro ou cinco alunos na sala. No primeiro dia de aula,
nosso professor nos surpreendeu com o seguinte anúncio: “Vocês
não precisam se preocupar com suas notas nesta matéria — todos
já estão com dez. Agora nós podemos simplesmente nos
tranquilizar e aproveitar a aula”.
É exatamente isso que Deus faz na justificação. Deus nos dá
nota máxima logo no início da nossa vida cristã! Não temos de
batalhar para merecer a vida eterna no final do ano letivo; já
começamos com vida eterna.102 Agora mesmo podemos nos exultar
no fato de que não passarão mais que algumas batidas do nosso
coração e estaremos no céu!103
Homens religiosos, mas perdidos, costumam ter duas respostas
básicas a esta doutrina. Por um lado, os legalistas a odeiam. Esse
fariseu cheio de justiça própria só faz “boas obras” porque está
tentando tirar nota máxima ao final de sua vida. Se pudesse, ele
gostaria de viver em pecado, e ressente-se do fato de que não
pode. Sua objeção é a seguinte: “Se Deus der aos homens vida
eterna logo no início da vida cristã, o que os impedirá de continuar
vivendo em pecado? Se ele der aos homens nota máxima no
primeiro dia de aula, ninguém estudará a matéria”.104
Por outro lado, o homem religioso sem a lei gosta da doutrina da
justificação pela fé. “Bem, eu já tirei minha nota máxima! Agora
posso jogar todos os meus livros na lata de lixo, ignorar o professor
e viver minha própria vida.” Tais homens “transformaram em
libertinagem a graça de nosso Deus”.105 Eles enxergam a “graça
livre” como uma “licença para pecar”. Nesses dias de “evangelho
barato”, igrejas de todo lugar estão cheias de tais pessoas não
convertidas — homens perdidos que gostam de pensar de si
mesmos como “crentes carnais”.
O que está errado tanto com o pensamento do legalista quanto
do libertino? Por acaso Deus dá uma nota máxima logo no início do
ano letivo simplesmente para nos dar a chance de matar aula e
mesmo assim ficarmos com a melhor nota? Ou será que ele paga
judicialmente pelos crimes de um criminoso na justificação apenas
para que o criminoso continue a matar, estuprar e roubar, mas agora
com imunidade da punição? Absolutamente não! O que Deus faz,
então? Exatamente ao mesmo tempo em que nos dá nota máxima
no início do nosso ano letivo, também nos muda por dentro para que
amemos estudar aquela matéria! Em outras palavras, quando Deus
justifica um homem, ele também o regenera. A regeneração é
inseparável da justificação, e uma nunca acontece sem a outra. E
esta é a resposta de Paulo, tanto aos judeus legalistas que
reivindicavam que o ensino de Paulo levaria os homens a
“permanecerem em pecado”, quanto aos libertinos que queriam usar
seu ensinamento como uma oportunidade para a licenciosidade:
“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a
graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda
no pecado, nós os que para ele morremos?”106 De acordo com
Paulo, todo cristão passou por uma transformação radical que torna
impossível para ele continuar em pecado. Essa transformação
ocorre na regeneração. A verdadeira “graça” sempre nos educa
“para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas,
vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”.107 A
marca invariável de todo homem que encontrou a genuína paz com
Deus é que ele imediatamente começa uma jornada que vai até o
fim de sua vida para conhecer e seguir o Deus que ele agora
ama.108 (O homem com falsa paz, por outro lado, retorna aos seus
próprios interesses egoístas tão logo se sinta seguro dos perigos do
inferno.) O verdadeiro cristão jamais utilizará a graça como uma
“licença para pecar”; ele naturalmente já peca mais do que gostaria!
Os cristãos realizam boas obras, então, não porque estejam
buscando merecer uma nota máxima de Deus, mas porque
receberam novos corações que amam “estudar a matéria”. Isso
provoca algumas questões que nos sondam: Será que leio a Bíblia e
oro porque é minha obrigação? Será que me sinto enganado por
não poder correr atrás do pecado como o resto do mundo? Existe
algo em mim que simplesmente ama a Deus por quem ele é e ama
o que é bom apenas por ser bom? Tenho algum prazer nas coisas
de Deus? A resposta a essas perguntas nos revelará muito a
respeito da condição de nossas almas.
REPRESENTAÇÕES BÍBLICAS DA
REGENERAÇÃO
A Bíblia tem muito a dizer a respeito da regeneração. Nas páginas a
seguir examinaremos nove representações bíblicas desse grande
milagre. (Duas outras estão resumidas brevemente no Apêndice A).
Cada uma delas mostra a mesma realidade gloriosa, mas a partir de
ângulos diferentes, iluminando diferentes facetas dessa realidade.
Conforme consideramos as diversas representações das Escrituras
a respeito da regeneração, é importante mantermos em mente que
as coisas invisíveis que elas descrevem são tão reais quanto o
mundo visível e temporal que enxergamos com nossos olhos físicos.
Na verdade, o mundo invisível pode ser considerado ainda mais real
que o mundo visível, visto que as coisas da esfera espiritual são
permanentes e eternas.109
100. Mateus 4.16
101. Mateus 1.21
102. João 5.24
103. Romanos 5.2
104. Romanos 6.1
105. Judas 4
106. Romanos 6.1-2
107. Tito 2.11-12
108. Filipenses 3.10
109. 2 Coríntios 4.18
Capítulo Cinco
UMA NOVA CRIAÇÃO
O que é regeneração? De acordo com a Bíblia, é uma nova criação.
Quando Deus regenera um homem, é um milagre da mesma ordem
de quando Deus criou o universo!110 Na verdade, moralmente
falando, é um milagre muito maior. Regeneração é um ato criativo
de Deus.
TODO CRISTÃO É UMA NOVA CRIATURAE,
assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura; as coisas antigas já passaram; eis
que se fizeram novas. Ora, tudo provém de
Deus…
2 Coríntios 5.17-18
 
Vemos aqui que o cristão é descrito como uma nova criatura. Em
outras palavras, quando Deus faz o cristão, ele faz alguma coisa
nova, a partir do nada, que não existia antes! Ademais, a
regeneração sempre envolve esse milagre criativo — “se alguém”,
em qualquer lugar, está em Cristo, é uma nova criatura. Não há
exceções; se alguém não é uma nova criatura, ele não está “em
Cristo”! Isso não é simplesmente um quadro bonito, mas uma
realidade: “As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas”. “A antiga ordem já se foi, e uma nova ordem já começou.”
Tudo é novo para o cristão; ele enxerga o mundo sob uma nova luz
— mesmo os pedregulhos ao lado da estrada e as latinhas de
cerveja nas valas!
 
O céu acima é de um azul mais suave, A terra ao redor é de um verde
mais doce; Algo vive em cada tonalidade Que olhos sem Cristo nunca
viram.
G. Wade Robinson
Não temos qualquer participação em fazer esse milagre
acontecer. (Algo não pode se criar por si próprio!) Deus faz todo o
trabalho! “Tudo provém de Deus.” (v. 18) Que trabalho grandioso é
este! A Bíblia se refere a ele como uma “criação” vez após vez.
CRIADO PARA BOAS OBRAS
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos
feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus
de antemão preparou para que andássemos nelas.
Efésios 2.8-10
 
É extremamente significativo que, quando Paulo pensa sobre
salvação, nosso ser “salvo pela graça mediante a fé”, ele pensa em
termos de uma obra criativa de Deus. Os cristãos são chamados
especificamente de “feitura criada” de Deus. Se o nosso conceito de
salvação é unicamente o de que alguém “toma uma decisão” — sai
da fila daqueles que estão indo para o inferno e entra na fila dos que
estão a caminho do céu — então temos uma visão muito
equivocada da salvação. Os cristãos foram “criados em Cristo
Jesus”!
Qual a natureza dessa obra criativa? Em primeiro lugar, é “em
Cristo Jesus”. Isto é, ela acontece na esfera da união com Cristo.
Isso faz um paralelo com o que Paulo disse em 2 Coríntios 5.17, “Se
alguém está em Cristo, é nova criatura.” Em segundo lugar, é para
“boas obras”. O propósito desta obra criativa é assegurar que as
boas obras sejam o resultado final. Essas boas obras foram
“preparadas de antemão” para que andássemos nelas, e todos os
cristãos de fato andam nelas, porque, como novas criaturas, foram
especialmente projetados, desenvolvidos e criados por Deus para
tanto!
A IGREJA É UMA NOVA CRIAÇÃO
Para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a
paz.
Efésios 2.15
 
A partir dessa importante passagem, aprendemos que Paulo usa
a linguagem da “criação” para descrever a existência, não apenas
de cristãos individualmente, mas da igreja como um todo. A igreja
não é uma organização; ela é um organismo criado — uma coisa
viva e uma coisa “nova”. Cristo tomou dois grupos completamente
divergentes (judeus e gentios) e em “si mesmo” criou dos dois “um
novo homem” — o “corpo de Cristo”. Esse corpo vivo é habitado por
um único espírito — o Espírito Santo,111 e compartilha de uma vida
comum — a própria vida de Cristo.112
Tanto a igreja como um todo (todo o corpo de Cristo) quanto a
igreja em suas manifestações locais (corpos individuais de crentes)
são criações miraculosas de Deus. Nenhum homem pode “começar
uma igreja”; Deus precisa fazer o impossível e criar algo do nada
para que uma igreja possa existir. Ele faz isso, “criando” um número
de cristãos individuais, feitos um pela virtude de sua vida comum.
 
O único fundamento da Igreja é Jesus Cristo seu Senhor: Ela é sua
nova criação, pelo Espírito e pela Palavra.
Do céu ele veio e a buscou, para ser sua santa noiva; Com seu próprio
sangue a comprou, e por sua vida morreu.
Samuel J. Stone CRIADO EM JUSTIÇA E RETIDÃO
No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho
homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e
vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do
novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes
da verdade.
Efésios 4.22-24
 
De acordo com Paulo, não apenas a igreja, como um todo, é um
“novo homem”, mas cada cristão individualmente é igualmente um
novo homem. A coisa importante que devemos perceber aqui é que
esse novo homem é descrito novamente como alguém que foi
criado. Como ele é? Ele foi criado “segundo Deus, em justiça e
retidão procedentes da verdade”. Essas são as características
dessa “nova criatura”! Tais descrições deveriam nos dar um senso
de quão real é essa obra criativa: o novo homem foi criado segundo
Deus em justiça e retidão! A linguagem de Paulo aqui não é a
linguagem da imaginação poética, mas a linguagem da realidade
concreta! Uma descrição paralela dessa obra criativa é encontrada
em Colossenses 3.9-11:
Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho
homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se
refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em
todos.
 
Mais uma vez encontramos nessa passagem a afirmação de que
o novo homem já foi “criado” segundo a imagem de Deus. Portanto,
como aqueles que se “revestiram do novo homem”, os cristãos são
“santos e amados” (v. 12) aos olhos de Deus. Em resposta à
pergunta “Quem sou eu?”, todo cristão deveria responder: “Sou uma
nova criatura, criada em justiça e santidade, santo e amado aos
olhos de Deus”.
NADA MAIS IMPORTA Pois nem a circuncisão
é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser
nova criatura.
Gálatas 6.15
 
A partir de tudo o que foi dito nos parágrafos anteriores, não é
surpreendente que Paulo considere a nova criação como algo da
maior importância. Nada mais importa, exceto essa obra criativa de
Deus! Nem circuncisão, nem batismo, nem qualquer outra ação
humana externa ou ritual religioso é “coisa alguma” se a nova
criação estiver ausente. Por outro lado, se Deus nos fez novas
criaturas, a falta da circuncisão (“incircuncisão”) ou do batismo ou de
qualquer outro ritual religioso também não é “coisa alguma”! A única
coisa que importa para qualquer um de nós é isto: “Será que sou
uma nova criatura, ou ainda sou a mesma pessoa que sempre fui?”
Se sou a mesma pessoa que sempre fui, então não sou cristão, e a
quantidade de vezes que vou à igreja participo das liturgias e
cerimônias religiosas, “vou à frente após o apelo” ou “aceito Jesus”
não significará coisa alguma. O que é regeneração? É uma nova
criação! Em resumo, é um milagre, não uma “decisão” ou algum tipo
de ato humano, qualquer que seja.
110. 2 Coríntios 4.6
111. 1 Coríntios 12.12-13
112. João 15.4-5
Capítulo Seis
UM NOVO HOMEM
Para que dos dois criasse… um novo homem.
Efésios 2.15
No sentido de que… vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e
vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e
retidão procedentes da verdade.
Efésios 4.22-24
Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho
homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se
refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em
todos.
Colossenses 3.9-11
 
Conforme vimos no Capítulo 5, cada uma das passagens citadas
acima é muito significativa em descrever a regeneração como um
ato criativo de Deus. Mas outra faceta da regeneração também é
esclarecida nessas passagens: Regeneração é a criação de um
novo homem.
Não somente a igreja como um todo é “um novo homem” (Efésios
2.15), mas cada cristão individualmente também é um novo homem!
É muito importante perceber que, sob o ponto de vista de Paulo, o
cristão não é tanto

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