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Justificação e Regeneração Traduzido do original em inglês Justification and regeneration por Charles Leiter © 2009 Charles Leiter ■ Publicado originalmente em inglês por Granted Ministries Press, a Division of Granted Ministries P. O Box 1348 Hannibal, MO 63401-1348 USA Copyright © 2015 Editora Fiel Primeira Edição em Português: 2015 Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE. ■ Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Maurício Fonseca dos Santos Júnior Revisão: Ingrid Rosane de Andrade Fonseca Diagramação: Rubner Durais Capa: Rubner Durais Ebook: Yuri Freire ISBN: 978-85-8132-345-9 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) L533j Leiter, Charles Justificação e regeneração / Charles Leiter ; [tradução: Mauricio Fonseca dos Santos Júnior]. – São José dos Campos, SP : Fiel, 2016. 2Mb ; ePUB Tradução de: Justification and regeneration. ISBN 978-85-8132-345-9 1. Justificação (Teologia). 2. Regeneração (Teologia). I. Título. CDD: 234.7 Caixa Postal, 1601 CEP 12230-971 São José dos Campos-SP PABX.: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br http://www.editorafiel.com.br/ SUMÁRIO Agradecimentos Prefácio Introdução 1 – Pecado: O problema final do homem 2 – Pode um homem ser justo diante de Deus? 3 – Justificação: Suas características 4 – Regeneração: Tudo se faz novo 5 – Uma nova criação 6 – Um novo homem 7 – Um novo coração 8 – Um novo nascimento 9 – Uma nova natureza 10 – Crucificação e ressurreição 11 – Uma mudança de reino: da carne para o espírito 12 – Uma mudança de reino: da terra para o céu 13 – Uma mudança de reino: do pecado para a justiça 14 – Uma mudança de reino: da lei para a graça 15 – Uma mudança de reino: de Adão para Cristo Apêndice A – Regeneração: um resumo Apêndice B – “Não pode pecar” Apêndice C – Romanos 7 Apêndice D – Todas as bênçãos em Cristo Apêndice E – Perguntas frequentes AGRADECIMENTOS Quero expressar minha gratidão especial a Paul Washer, da Sociedade Missionária HeartCry, por encorajar e apoiar a publicação deste livro, e também a Garrett Holthaus de Kirksville, Missouri, por oferecer tantas sugestões valiosas a respeito de seu conteúdo. Ainda devo um agradecimento especial aos meus muitos revisores por terem trabalhado cuidadosamente na correção dos meus erros, e — acima de tudo — à minha esposa, Mona, por ter lido alegremente o manuscrito para mim durante uma viagem de treze horas de volta do Colorado, sugerindo-me uma série de modificações muito úteis. PREFÁCIO Parece haver um grande abismo separando os teólogos bíblicos e os crentes sentados nos bancos das igrejas. Embora os teólogos sejam capazes de escalar o Everest das verdades de Deus e serem transformados pela visão arrebatadora, eles frequentemente comunicam essa visão em uma linguagem que está além da nossa compreensão. Dessa forma, somos deixados à mercê da literatura cristã popular que, em muitos casos, não é nada mais do que histórias pitorescas, pragmatismo e psicologia batizada. A igreja contemporânea não precisa de mais estratégias, passos ou chaves para a vida cristã. A igreja precisa da verdade e, mais especificamente, das grandes verdades que são o fundamento do cristianismo histórico. Nesta obra, o pastor Charles Leiter prestou um ótimo serviço à Igreja ao tomar duas das maiores doutrinas das Escrituras e dois dos maiores milagres na vida cristã, e explicá-los em uma linguagem simples sem perda de conteúdo. Conforme lia o manuscrito deste livro, ficava maravilhado com sua simplicidade e escopo. As grandes doutrinas da justificação e regeneração só podem ser consideradas apropriadamente no contexto das outras grandes doutrinas da fé — o caráter santo e reto de Deus, a depravação humana, propiciação, arrependimento, fé e santificação, para citar apenas algumas. O pastor Leiter não apenas nos deu uma visão equilibrada de cada uma dessas doutrinas, mas também demonstrou como elas interagem para formar a fundação da vida cristã. De particular interesse para mim foi a demonstração de uma visão apropriada da regeneração. Na evangelização dos dias modernos, esta preciosa doutrina foi reduzida a nada mais que uma decisão humana de levantar a mão, ir até à frente, ou fazer a “oração do pecador”. Como resultado, a maioria das pessoas acredita que “nasceu de novo” (i.e., foi regenerada) mesmo que seus pensamentos, palavras e obras sejam uma contínua contradição à natureza e vontade de Deus. O pastor Leiter demonstra que a regeneração é a obra sobrenatural de Deus por meio da qual o coração de pedra morto e depravado do pecador é substituído por um novo coração que tanto deseja quanto é capaz de responder a Deus em amor e obediência. Em segundo lugar, o pastor Leiter trata Romanos 6 e 7 de forma lógica, consistente e com profunda simplicidade. A visão de nosso irmão concernente a esses dois grandes capítulos tem sido fonte de grande força, conforto e alegria para mim ao longo dos anos de minha própria peregrinação. Já li este livro muitas vezes antes de ter sido impresso. Fui grandemente beneficiado por seus ensinos e posso recomendá-lo de todo o meu coração. Que o Espírito de Deus possa iluminar seu coração e sua mente para que você possa não somente compreender as Escrituras conforme explicadas aqui, mas para que elas também se tornem uma realidade em sua vida. Paul David Washer INTRODUÇÃO Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Tito 3.3-7 Dois grandes milagres encontram-se bem no coração e no cerne do evangelho. O primeiro é a justificação, por meio da qual criminosos são considerados justos aos olhos de um Juiz santo e reto. O segundo é a regeneração, por meio da qual pecadores malignos, escravizados e odiosos são transformados para amar a Deus e os homens. Seja direta ou indiretamente, esses dois milagres aparecem em toda parte no Novo Testamento. Eles são absolutamente a fundação para um entendimento apropriado tanto do evangelho quanto da vida cristã. Contudo, mesmo entre crentes genuínos, há muita confusão e ignorância a respeito dessas verdades preciosas e libertadoras da alma. Nas páginas seguintes, você encontrará uma tentativa de demonstrar, à luz clara da Bíblia, a natureza e as características da justificação e da regeneração. Para fazê-lo, primeiro precisamos considerar no Capítulo 1 por qual motivo todos os homens se encontram em tal necessidade desesperada desses dois atos divinos. Isso envolverá uma discussão tanto da culpa objetiva quando da corrupção interna causada pelo pecado. Porque todos os homens são culpados e corrompidos pelo pecado, há um grande dilema moral no caminho da salvação do homem: Como pode um Deus justo justificar pecadores injustos sem ele próprio se tornar injusto? O Capítulo 2 examina esse dilema e como a sabedoria divina o solucionou por meio da Pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo. No Capítulo 3, a natureza e as características da justificação são então exploradas à luz das sete verdades sobre a justificação, conforme demonstradas na Escritura. A Bíblia tem muito a dizer sobre regeneração. Em uma tentativa de obter uma visão clara do que é a regeneração, examinaremos nove descrições bíblicas deste grande milagre nos Capítulos 4 a 13. Cada descrição olha para a mesmarealidade gloriosa a partir de um ângulo diferente, iluminando suas diferentes facetas. No Capítulo 14, tanto a justificação quanto a regeneração são consideradas nos termos das categorias mais amplas de “lei e graça” conforme apresentadas no Novo Testamento. E, finalmente, no capítulo de conclusão, ambas são consideradas como parte de uma realidade ainda maior e mais abrangente de nosso estar “em Cristo”. Cristianismo é Cristo. Toda bênção espiritual é encontrada “nele” — incluindo todas as bênçãos da justificação e regeneração — e nenhuma bênção espiritual existe longe dele. Ao longo desse livro, deixei muitas referências importantes da Escritura nas notas de rodapé, colocadas ao final de cada página para facilitar a leitura. Charles Leiter Capítulo 1 PECADO O PROBLEMA FINAL DO HOMEM Para uma compreensão apropriada tanto da justificação quanto da regeneração, precisamos começar por onde a Bíblia começa, ou seja, pelo pecado. Todo pecado flui do desejo perverso do homem de se colocar no lugar de Deus — de ser o centro e a medida de todas as coisas e “conhecer” por conta própria o que é bom e o que é mau.1 De acordo com Tito 3.3-7, os homens em seu estado natural são “néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões”. Suas vidas são caracterizadas por “malícia, inveja e ódio”. Longe de reconhecerem essa situação, os homens perdidos se imaginam como “basicamente bons”, a menos que Deus em sua misericórdia lhes revele a verdadeira condição de seus corações endurecidos. O pecado é o problema final e, de fato, o único problema da humanidade. É o meu problema final e meu único problema, e o seu problema final e seu único problema. UMA VISÃO BÍBLICA DO PECADO A Bíblia tem muito a dizer sobre o pecado. Se quisermos compreender corretamente a verdadeira natureza do pecado, precisamos deixar que a luz desta revelação bíblica ilumine nossas mentes escurecidas e quebrante nossos corações endurecidos. Apenas pense a respeito disso! De acordo com a Bíblia, o pecado é — Absolutamente Universal O pecado é absolutamente universal na raça humana. “Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho”.2 “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”.3 Você e eu podemos sequer nos conhecer, mas há uma coisa da qual podemos ter certeza antes mesmo de sermos apresentados — ambos somos pecadores. Todo homem, mulher e criança na face da terra, não importa o quão jovem ou velho seja, é um pecador. Mesmo as crianças pequenas, quando lhes é permitido andar em seu próprio caminho, são capazes das crueldades mais requintadas contra animais e umas contra as outras. Raça e nacionalidade, da mesma forma, não oferecem imunidade ao pecado; mesmo as nações mais evoluídas culturalmente são capazes de genocídios, assim como as mais bárbaras. As câmaras de gás dos “civilizados” são meramente formas mais sofisticadas dos facões empunhados pelos “não civilizados”. Da mesma forma, não existe tal coisa como o “bom selvagem” ou o “pagão feliz”. Nas palavras de um missionário aposentado, “eu fui ao campo missionário para impedir um Deus mau de mandar homens bons para o inferno. Quando cheguei, descobri que eles eram monstros da iniquidade”. A questão aqui não é se os homens tiveram uma oportunidade de “aceitar Jesus”. A questão é se eles tiveram uma oportunidade de maltratar o missionário e rejeitar sua mensagem — pois, longe da obra especial do Espírito Santo, certamente é isso que eles fariam.4 O pecado é universal na raça humana. Ubíquo Não somente o pecado é universal; ele é ubíquo. Todo aspecto da personalidade humana e da existência humana é afetado por ele: A mente é cegada. “O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz...”.5 A vontade é corrompida e incapacitada. “A maldade do homem se havia multiplicado na terra e... era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.6 “Não quereis vir a mim para terdes vida”.7 “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.8 As emoções são confusas e pervertidas. Alguns corações ardem em constante raiva e ódio; outros são atormentados dia e noite por medos sem sentido. Multidões riem de coisas que deviam fazê-las chorar, enquanto outras se derramam em lágrimas sem razão aparente. Tais são as profundas e ubíquas perversões causadas à personalidade humana, seja direta ou indiretamente, pelo pecado. Irracional O pecado é irracional. Muitos direitos de primogenitura sem preço foram trocados por um prato de sopa;9 muitos casamentos e famílias foram jogados de lado por uma noite de prazer ilícito. Pelo efeito temporário do uso de drogas ilegais, os maiores poderes do cérebro humano são rotineiramente e permanentemente destruídos. Um momento de reflexão sobre os pecados de nosso passado é suficiente para confirmar que nenhum deles faz o menor sentido. Tal é a insanidade das ações do filho pródigo que seu arrependimento envolveu nada menos que “cair em si mesmo”.10 Não existe pecado sábio. Enganoso O pecado é enganoso. A Bíblia fala sobre ser “endurecido pelo engano do pecado”.11 Assim como em todo engano, a vítima desconhece o seu estado de enganação. Ao mesmo tempo em que pensa que é “rico e abastado e não precisa de coisa alguma”, o homem é, na realidade, “infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”.12 Ele que “inculcando-se por sábio”, mas na realidade tornou-se um “louco”.13 Endurecedor Uma das coisas mais temíveis a respeito do pecado é seu poder de endurecer aquele que o pratica.14 Quanto mais fundo um homem mergulha no pecado, menos o pecado o incomoda. De acordo com a Bíblia, a própria consciência do homem se torna “cauterizada”.15 Todo pecador se encontra agora cometendo aqueles pecados que antes desprezava, e os pecados que despreza agora, ele se encontrará cometendo algum dia. Deveria nos chocar a lembrança de que, um dia, Adolph Hitler foi um menino brincando com seus brinquedos, como qualquer outro menino. O homem conhece o início do pecado, mas nenhum homem jamais conheceu o fim do pecado. Escravizador O pecado escraviza aqueles que o cometem. “Todo o que comete pecado é escravo do pecado”.16 Ninguém pode se libertar a si mesmo ou escapar dos laços do pecado. O pecado “reina” sobre o pecador e monta em suas costas como um tirano até que eventualmente o atira no poço da destruição e morte.17 Se você não for cristão, você possui uma corrente em volta do seu pescoço muito pior que qualquer corrente física. Você até pode conseguir abandonar um pecado específico, mas outro pecado imediatamente tomará o seu lugar — frequentemente o pecado do orgulho ou da justiça própria pelo que você imagina ter realizado ao mudar a si mesmo. O pecado é escravizador. Degradante O pecado afunda o mais distinto e mais nobre dos homens e das mulheres nas profundezas da vergonha e degradação. O jovem rapaz que antes vestia um terno fino e sentava-se em uma cadeira de couro em seu escritório agora se encontra com a barba por fazer, deitado sobre o próprio vômito como resultado do pecado. A jovem moça que antes era limpa, bela e inocente agora é vulgar, sensual e suja — mais uma vez, por causa do pecado. Homens e mulheres feitos à imagem de Deus, criados para sonharem sonhos imortais e pensarem os longos pensamentos da eternidade, são reduzidos pelo pecado a seres que se chafurdam na lama como um porco por um reles pedaço de pão. O pecado transformou anjos em demônios;18 e transforma homens em “animais irracionais”.19 O pecado é degradante. Pervertido Finalmente, o pecado é pervertido.20 O pecado não é uma frivolidade; o pecado não é “bonitinho”; o pecado não é divertido. O pecado é extremamente perverso e mau, é “sobremaneira maligno”.21 Todo pecado é depravado, feio e vil. Deveríamos nos chocar em ver como os homens perversos podem ser e o quão cauterizados podemos nos tornar a tal perversidade. Nós nos acostumamos comela! O primeiro bebê que nasceu no mundo cresceu para assassinar seu próprio irmão.22 E a história humana, desde então, tem sido um longo fluxo de constante guerra, concupiscência, ódio, tortura, estupro, perversão, abuso e brutalidade. É uma bênção para nós que não saibamos em detalhes os pecados que foram cometidos na noite passada em nossa própria cidade. Tal conhecimento seria por demais pervertido para alguém carregar. Dessa maneira, precisamos admitir o fato de que o mundo não é do jeito que é por ser habitado por algumas poucas pessoas tão más quanto Hitler; o mundo é do jeito que é porque é composto de multidões de pessoas como você e eu! Há uma profunda perversidade em cada um de nós. Algumas vezes Deus usa coisas aparentemente “pequenas” para nos mostrar esta perversidade. Para Agostinho, não foi tanto seu estilo de vida imoral, mas o roubo despropositado das peras da árvore de um vizinho em sua juventude — não por fome, mas por esporte — que lhe revelou a profunda depravação de seu próprio coração. O pecado, apenas pelo prazer de fazer o mal, sem qualquer razão ou recompensa, flui de dentro do coração humano e corrompe a todos nós. OS DOIS LADOS DO PROBLEMA DO PECADO DO HOMEM O pecado é o problema final e, de fato, o único problema da humanidade. Mas este “problema do pecado” possui dois aspectos distintos — um interno e outro externo. O Problema Interno — Um Coração Mau De acordo com o Senhor Jesus Cristo, o próprio homem é corrupto e vil. “O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.”23 Essa é a condição de todo coração humano longe de Cristo. Se um filme, até mesmo de nossos pensamentos passados, para não falar de nossas ações passadas, fosse projetado em um telão diante de nossa família e conhecidos, cada um de nós sairia correndo do cinema morrendo de vergonha. Todo não cristão é — em sua pessoa — mais repulsivo a um Deus santo do que ele jamais seria capaz de imaginar. Mas o problema do homem com o pecado vai ainda mais fundo que isso. Suponha que, por algum milagre, um pecador pudesse se tornar uma nova pessoa e nunca mais pecasse pelo resto de sua vida. Ele ainda assim iria certamente para o inferno. O assassino em série que sinceramente decide nunca mais matar precisa ainda assim pagar por seus crimes cometidos no passado. Em outras palavras, o problema do homem com o pecado possui outra dimensão além da interna. O homem não somente possui um coração mau; ele também possui um histórico mau aos olhos da lei de Deus. O Problema Externo — Um Histórico Mau Todo pecador é um fugitivo da justiça. A despeito da condição presente de seu coração, ele possui uma culpa objetiva, fora dele mesmo, aos olhos da lei de Deus. Talvez ele não tenha nenhum “sentimento de culpa”, mas ele se encontra “culpado” ou “condenado”, ainda assim. Todos os seus crimes passados clamam para que sua punição seja paga e que a justiça seja satisfeita. Esse clamor encontra-se ancorado no próprio caráter e ser de Deus, em seu atributo de justiça ou equidade. É por causa desse senso de equidade ou justiça que Deus colocou nas profundezas do coração humano que imediatamente nos sentimos moralmente ultrajados quando se permite que o perpetrador de um crime saia sem punição. Por quê é errado que um estuprador assassino receba apenas uma multa de dez reais? Nós não podemos provar que ele merece punição pior, mas intimamente sabemos que sim. Esse conhecimento inescapável dentro de nós é algo mais fundamental e certo que qualquer “prova” teórica. É algo absolutamente básico à constituição humana — um reflexo da própria natureza de Deus. Muito poderia ser dito a respeito do atributo da justiça de Deus, especialmente nestes dias em que o próprio conceito de justiça parece ter se perdido na sociedade de forma geral. Há três razões básicas por que um crime deve ser punido: em primeiro lugar, para a satisfação da justiça (ou seja, porque crimes merecem ser punidos e devem ser punidos); em segundo lugar, para o bem da sociedade (ou seja, para a prevenção de crimes futuros); e em terceiro lugar, para o benefício do ofensor (ou seja, para levá-lo a uma mudança de rumo na vida). Dessas três, a satisfação da justiça é a principal e mais fundamental que as outras duas. Se a punição de um crime não é por si própria justa e merecida, ela não deterá crimes futuros nem corrigirá o ofensor. Em nossos dias, a razão primária e mais fundamental para a punição — a satisfação da justiça — tem sido quase que completamente suprimida e negada. Apenas a segunda e a terceira razão permanecem, sendo que mesmo essas têm sido trocadas em ordem de importância. A “correção” do ofensor é atualmente a razão primária, e as prisões não são mais chamadas de prisões, mas de “centros de correção”. Mesmo aqueles que ainda acreditam que o crime deve ser punido pelo bem da sociedade mantêm a crença de que assassinos devem receber sua sentença não por terem cometido assassinato, mas apenas a fim de prevenir homicídios futuros. Tal filosofia é perversa e falsa, e baseia-se na mentira de que homens e mulheres não são verdadeiramente responsáveis por suas ações. Não é difícil de compreender como essa situação veio a se formar. Porque os homens querem eles próprios ser Deus,24 eles odeiam o pensamento de um Legislador soberano a quem precisam prestar contas. Eles buscam suprimir essa verdade inescapável de que Deus está ao redor deles e dentro deles,25 afirmando o contrário, que Deus não existe.26 Essa negação da existência de Deus lhes facilita fingir que não existe tal conceito de certo e errado. Ao invés de serem pecadores culpados, homens e mulheres são vistos como vítimas indefesas de suas circunstâncias. Em um cenário desses, a punição a fim de satisfazer a justiça torna-se impensável. O homem é livre para agir conforme lhe agrada e não responde a ninguém. Mas não importa o quanto os homens tentem suprimi-la, ainda existe uma verdade indelével no coração humano de que certo e errado são reais,27 que os homens são responsáveis por suas transgressões, e que o pecado merece ser punido.28 Lá no fundo, todos os homens sabem que a balança da justiça precisa ser equilibrada no fim das contas.29 Se você não for cristão e estiver lendo essas linhas, a balança da justiça está muito desequilibrada em sua vida presente, e você pode estar certo — baseando-se no próprio ser e no caráter justo de Deus — de que se você continuar em sua condição atual, ele nunca descansará ou cederá até que você esteja no inferno. Todo o tecido moral do universo entraria em colapso caso ele não colocasse você no inferno. É neste contexto que a Bíblia nos fala da “ira de Deus”. A ira de Deus não é uma perda temporária de autocontrole ou um ataque emocional egoísta. É o seu ódio santo e incandescente pelo pecado, a reação e o asco de sua natureza santa contra tudo que é mau. A ira de Deus está ligada diretamente à sua justiça. Ela tem a ver com sua determinação justa de punir todo pecado, de equilibrar a balança da justiça e endireitar tudo que está errado. É por isso que a ira de Deus “permanece” sobre todo incrédulo.30 Quanto mais o homem persiste no pecado, mais ele “acumula contra si mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”.31 A ira de Deus irá, afinal, ser “derramada”; ele é um juiz justo e não irá permitir que o pecado siga sem punição eternamente. 1. Gênesis 3.4-5 2. Isaías 53.6, NVI 3. Romanos 3.10-12 4. Mateus 22.1-6 5. 2 Coríntios 4.4 6. Gênesis 6.5 7. João 5.40 8. João 6.44 9. Hebreus 12.16 10. Lucas 15.17 11. Hebreus 3.13 12. Apocalipse 3.17 13. Romanos 1.22 14. Hebreus 3.13 15. 1 Timóteo 4.2 16. João 8.34 17. Romanos 5.21 18. Mateus 25.41 19. 2 Pedro 2.12; Judas 1.10 20. Marcos 7.20-23 21. Romanos 7.13 22. Gênesis 4.8 23. Marcos7.20-23 24. Gênesis 3.4-5 25. Romanos 1.18ss. 26. Salmo 10.4; 14.1; 53.1 27. Romanos 2.14-16 28. Romanos 1.32 29. Atos 28.4 30. João 3.36 31. Romanos 2.5 Capítulo Dois PODE UM HOMEM SER JUSTO DIANTE DE DEUS? É neste ponto que encontramos o maior de todos os obstáculos imagináveis à salvação humana: Como um Juiz absolutamente justo e reto pode de alguma forma justificar (declarar justo) um criminoso absolutamente culpado e condenado? Como qualquer ser humano pode escapar da condenação do inferno? O próprio Deus nos diz que aquele “que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro”.32 Suponha que um pai chegue em casa e encontre sua família assassinada. Depois de uma perseguição agonizante, ele consegue capturar o assassino. Quando o criminoso finalmente se apresenta diante do juiz, ele é inquestionavelmente considerado culpado pelo crime. Mas quando chega a hora da sentença, o juiz faz a seguinte declaração: “Este homem cometeu um crime terrível, mas eu sou um juiz profundamente amoroso e escolho declará-lo inocente. Na verdade, eu o declaro justo diante da lei”! Tal juiz seria corretamente considerado um criminoso tão grande quanto o assassino! Ele “justificou o perverso” e “é abominável para o senhor”. Mas se isso pode ser considerado verdadeiro mesmo à luz da justiça humana, quanto mais verdadeiro não é quando tratamos da justiça de Deus? Como os filhos perversos e culpados de Adão podem algum dia ter a esperança de se encontrarem diante de Deus, o justo Juiz do universo? Como Deus poderia de alguma forma “justificar o ímpio” sem ele próprio se tornar abominável? “O que disser ao perverso: Tu és justo; pelo povo será maldito e detestado pelas nações.”33 Como Deus pode dizer a pecadores como nós, “Tu és justo”, sem violar o seu próprio caráter? Como Deus pode de alguma forma salvar-nos dele próprio e de sua própria retidão e justiça? Esse dilema criou misérias indizíveis para cada alma sensível à culpa. Foi um problema terrível para o patriarca Jó. “Como pode o homem ser justo para com Deus? Se quiser contender com ele, nem a uma de mil coisas lhe poderá responder.”34 “Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo? Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que bebe a iniquidade como a água!”35 “Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher? Eis que até a lua não tem brilho, e as estrelas não são puras aos olhos dele. Quanto menos o homem, que é gusano, e o filho do homem, que é verme!”36 Ninguém sente a força desse dilema moral mais que o pecador arrependido. Ele sabe que merece ir para o inferno. Na esfera dos governos humanos, com alguma frequência, os criminosos se entregam às autoridades para que a justiça seja feita, ao invés de continuar vivendo com um senso insuportável de culpa! Pecadores arrependidos sabem que merecem ser punidos, e que não seria justo que não o fossem. Eles sabem que Deus não pode simplesmente “varrer os seus pecados para debaixo do tapete” e simplesmente esquecê-los. Dessa forma, o clamor de seus corações é: “Como pode um Deus justo algum dia sorrir para mim? Como este fardo de culpa pode ser removido? Como Deus pode pronunciar uma bênção sobre mim? Como um homem como eu pode ser justo diante de Deus”! IMPUTAÇÃO Só existe uma única resposta para esse dilema. Alguém precisa pagar pelos pecados dos pecadores. A justiça precisa ser satisfeita. Ou ela será satisfeita pelos sofrimentos do próprio pecador eternamente no inferno, ou ela terá de ser satisfeita por alguma outra pessoa no lugar do pecador. Maravilha das maravilhas! Esse “Alguém” veio! O Senhor Jesus Cristo “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados”.37 “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”38 Como essa grande transação acontece? Para compreendê-la, precisamos considerar a pequena palavra “imputar”. Ela também é traduzida como “reconhecer”, “contar”, “considerar”. Podemos começar a entender o que ela significa ao atentar para uma passagem da carta de Paulo a Filemon a respeito do retorno de seu escravo Onésimo: “Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta”.39 Aqui, Paulo instrui Filemon a “lançar em sua conta” [literalmente, “imputar”] qualquer débito que Onésimo pudesse estar devendo a Filemon. Essa não era realmente uma dívida de Paulo, mas Paulo, por sua própria vontade, tomou para si aquele débito, e ele foi lançado em sua conta! Agora, essa mesma palavra e suas variações são usadas para se referir a pecado. Por exemplo, a Bíblia diz que “o pecado não é imputado (“lançado em nossa conta”), não havendo lei”.40 Novamente, em Romanos 4, Paulo diz: “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem- aventurado o homem a quem Deus atribui (“imputa”) justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem- aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado”.41 Que transação gloriosa! Nossos pecados não são imputados a nós, porque foram imputados a Cristo, e, aceitando-os como se fossem seu próprio débito, ele os pagou completamente! Podemos ver essa mesma realidade no conceito de “carregar os pecados” do Antigo Testamento. No grandioso Dia da Expiação, dois bodes eram sacrificados — um derramava seu sangue para expiar os pecados,42 enquanto o outro bode (vivo) carregava esses pecados embora para um lugar solitário43: “Arão fará chegar o bode sobre o qual cair a sorte para o SENHOR e o oferecerá por oferta pelo pecado. Mas o bode sobre que cair a sorte para bode emissário será apresentado vivo perante o SENHOR, para fazer expiação por meio dele e enviá-lo ao deserto como bode emissário”.44 Aqui Deus utiliza dois bodes para nos ensinar uma verdade a respeito da obra expiatória do Senhor Jesus Cristo. Por um lado, ele morre por nossos pecados, e por outro — como resultado daquela morte —, ele eficazmente leva nossos pecados embora da presença de Deus. Perceba a realidade gloriosa da imputação presente aqui! “Arão porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode vivo e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem à disposição para isso. Assim, aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles para terra solitária; e o homem soltará o bode no deserto.”45 A pergunta que cada um de nós deveria fazer a si mesmo é a seguinte: “Será que eu já pus as mãos da fé sobre o Senhor Jesus Cristo e dei-lhe todos os meus pecados para que ele os levasse a uma terra solitária? Nem todo o sangue de animais Mortos sobre o judaico altar Pode dar à consciência culpada paz, Ou todas suas manchas lavar. Mas Cristo, o Cordeiro celestial, Leva todos os nossos pecados embora, Um sacrifício de nome mais nobre E sangue mais rico que eles. Minha fé poria sua mão Sobre aquela tua cabeça querida, Enquanto como um penintente estou, E lá confesso meu pecado. Isaac Watts Um substituto morreu em nosso lugar! “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.”46 É dessa forma que um Deus justo pode justificar criminosos de uma vida toda em seu tribunal celestial. Ele abre nossas contas e vê que o débito já foi imputado a seu Filho amado. Mais do que isso, ele vê que o nossodébito foi realmente pago por completo por ele. Aleluia! Deus, em seu grande amor,47 desenvolveu uma forma de nos salvar dele mesmo e de sua própria justiça! Ele o fez ao entregar seu único Filho para morrer em nosso lugar. O CORAÇÃO DO EVANGELHO Essas realidades estão no próprio coração do evangelho. Elas são expostas pelo apóstolo Paulo em Romanos 3.21-26, uma passagem um tanto complexa que se torna clara à medida que compreendemos o significado da imputação discutida acima: Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus. Aqui, Paulo declara que Cristo morreu para pagar o nosso débito de pecado a fim de que Deus pudesse “justificar” pecadores e ao mesmo tempo permanecer “justo”. Ao longo do Antigo Testamento, os pecados foram meramente “deixados impunes”, o pagamento de sua culpa sendo postergado ano após ano, até que viesse o Cordeiro cuja morte os levaria verdadeiramente embora.48 Durante todo esse tempo, parece que Deus estava sendo injusto, visto que ele justificou homens (como Abraão e Davi) sem que a justiça fosse realmente satisfeita. Portanto, era necessário que Cristo morresse “publicamente”, manifestando abertamente a justiça de Deus para que todos a vissem, satisfazendo-a completamente na cruz pelos pecados cometidos. Nesse sentido, Cristo morreu não somente para justificar homens, mas para justificar Deus! Sua morte na cruz vindicou e manifestou a justiça absoluta de Deus ao justificar seu povo. Como uma “propiciação” (i.e., um sacrifício que remove a ira) pelos nossos pecados, Cristo tira de sobre nós a ira judicial de Deus. Somos “justificados gratuitamente” (a justificação é absolutamente de graça para nós), “mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (a justificação custou muito caro para Deus). Somos justificados ao receber a “graça para a justificação”,49 “justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo”.50 Você ainda está carregando o fardo de sua culpa e seus pecados? Você ainda está sob a ira de Deus? “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”51 “Haverá uma fonte para remover pecado e impureza”.52 “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”.53 Não importa quão terríveis sejam os seus pecados, eles não são nada comparados ao valor infinito do sangue de Cristo!54 “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”.55 Venha a ele! Ele o convida e também ordena que venha; você não precisa temer estar sendo presunçoso ao vir: “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”.56 Venha a ele! Tome a água da vida! Lance seus pecados sobre ele e confie nele como quem levará seus pecados. “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”.57 32. Provérbios 17.15 33. Provérbios 24.24 34. Jó 9.2-3 35. Jó 15.14-16 36. Jó 25.4-6 37. 1 Pedro 2.24 38. Isaías 53.4-5 39. Filemon 17-18 40. Romanos 5.13 41. Romanos 4.5-8 42. Levítico 16.16 43. Levítico 16.22 44. Levítico 16.9-10 45. Levítico 16.21-22 46. Isaías 53.6 47. João 3.16; 1 João 4.9-10 48. Hebreus 9.15 49. Romanos 5.17 50. Romanos 3.22 51. João 1.29 52. Zacarias 13.1 53. 1 João 1.7 54. 1 Pedro 1.18-19; Atos 20.28 55. Romanos 5.20 56. Apocalipse 22.17; Mateus 11.28 57. Atos 16.31 Capítulo Três JUSTIFICAÇÃO: SUAS CARACTERÍSTICAS Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Isaías 53.4-6 Vimos que o maior problema do homem é o pecado. Mas esse problema do pecado possui dois aspectos: o primeiro é interno — o homem possui um coração mau. O segundo é externo — o homem possui um histórico mau. Dizendo isso de outra forma: para todo aquele que não é cristão, o pecado tanto o corrompe (o que tem a ver com aquilo que ele é) quanto o condena (o que tem a ver com aquilo que ele fez). Por um lado, o poder do pecado está reinando dentro dele; por outro lado, a punição do pecado está clamando pela morte dele. E, mesmo que ele não fosse impotente para se libertar do poder do pecado, ainda assim estaria desesperançado por conta da punição do pecado. Somente quando um homem vem a enxergar essas realidades terríveis que o nome “Jesus” passa a significar alguma coisa para ele. “E lhe porás o nome de Jesus [“Jeová é salvação”], porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”.58 O Senhor Jesus Cristo salva seu povo dos pecados deles — tanto da punição por seus pecados quanto do poder de seus pecados. Ele realiza este na justificação e aquele na regeneração. No Capítulo 2, começamos a considerar a justificação: Como um homem pode “estar justo” diante de Deus? Esse é o dilema que tem atormentado os homens ao longo da História. Ele levou Martinho Lutero a rastejar de joelhos subindo os degraus da assim chamada Scala Sancta em Roma e levou monges a vestir camisas feitas de cabelo humano e anzóis em uma tentativa de pagar por seus pecados. Até os dias de hoje, ele leva os nativos das ilhas da Polinésia a sacrificar galinhas e aspergir seu sangue para os deuses. Em países mais “civilizados”, muitos se contentam em “ir à igreja” ou com alguma outra forma de “boas obras” a fim de aplacar suas consciências culpadas. E em todo lugar os homens estão tentando se “justificar”, racionalizando ou apresentando desculpas para seus atos perversos. Como um homem pode ser justo diante de Deus? Existe apenas uma única resposta: um homem pode ser justo diante de Deus unicamente por meio da vida e morte do Senhor Jesus Cristo em seu lugar. “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados.”59 “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”60 Somente Cristo pode nos fazer justos diante de Deus.61 Neste capítulo, consideraremos sete verdades que são ensinadas nas Escrituras a respeito desse grande tema. A JUSTIFICAÇÃO É BASEADA NO SANGUE DE JESUS “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.”62 “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.”63 O que significa dizer que a justificação é baseada no sangue de Jesus? Significa que a justificação acontece com base no pagamento de um resgate; ela acontece com base na satisfação da justiça. Em outras palavras, quando Deus “justifica” uma pessoa, ele não está mais olhando para a própria pessoa. Ao invés disso, ele está olhando para o sangue de Cristo. Somos “justificados pelo seu sangue”! Deus não justifica um homem com base em qualquer coisa inerente ao próprio homem. Em particular, não é porque o homem é — de alguma maneira, forma ou modo — piedoso que Deus o justifica. Somos especificamente informados em Romanos 4.5 de que Deus “justifica o ímpio”! Essas palavras são verdadeiramente surpreendentes e maravilhosas. Você se sente indigno de receber a justificação? Você é mesmo! Tudo a seu respeito clama por sua condenação. Longe do sangue e da justiça de Cristo, você não tem qualquer esperança. Não há nada no homem que leve Deus a justificá-lo, incluindo seu arrependimento e fé. Arrependimento não paga pelos pecados. O remorso de um criminoso por seus crimes cometidos não satisfaz as justas demandasda lei. Da mesma forma, a fé não pode pagar pelos pecados! Somente o sangue de Jesus pode pagar pelos pecados! A Justificação é baseada no sangue de Cristo. Será que meu zelo não conhecerá descanso, Ou minhas lágrimas para sempre fluirão, Tudo pelo pecado que não pode ser expiado; Tu precisas salvar, e Tu somente. Augustus Toplady Isso explica porque uma pessoa pode ter uma fé muito fraca e ainda assim ser justificada. Imagine duas pontes cruzando um abismo: uma delas é muito fraca e duvidosa; a outra é muito forte. Um homem pode ter uma fé muito forte na ponte fraca e confiantemente passar por sobre ela. Sua fé forte não o poupará de despencar para sua própria morte. Por outro lado, um homem pode ter uma fé muito fraca na ponte forte e, apenas com muito medo e tremor, ser capaz de aventurar-se a passar por sobre ela. A ponte o manterá em segurança, a despeito de sua fraca fé. Tudo que é necessário é que ele tenha fé o suficiente para atravessar a ponte! Quando alguém disse a Hudson Taylor que ele deveria ser um homem de muita fé, ele respondeu: “Não, eu sou um homem de fé muito pequena em um Deus muito grande”. Quando o Anjo da Morte passou sobre o Egito na noite de Páscoa, Deus estava olhando apenas para uma coisa — o sangue nos umbrais das portas. “Quando eu vir o sangue, passarei por vós.”64 Aqueles dentro das casas certamente estavam cheios de temor e tremor, mas isso não fez a menor diferença, contanto que o sangue estivesse no umbral da porta. Em sua autobiografia Seen and Heard [Visto e Ouvido], o evangelista itinerante escocês James McKendrick nos conta da gloriosa conversão de George Mayes, conhecido por toda a região como o mais ultrajante dos pecadores. Quando, algum tempo depois, McKendrick retornou ao local onde Mayes vivia, encontrou- o, no entanto, em um estado de alma atormentado. “Já não pareço sentir-me como me sentia antes”, George lamentou. “George”, disse McKendrick, “se você tivesse um xelim em seu bolso e se sentisse maravilhosamente feliz por isso, por acaso esse xelim valeria quinze centavos apenas porque você estava se sentindo feliz?” “Não”, disse George. “Bem, quanto então o xelim valeria?” “Apenas doze centavos”, ele respondeu. “E suponha que você estivesse extremamente infeliz e ainda possuísse aquele xelim em seu bolso, por acaso ele valeria somente nove centavos por conta da sua infelicidade?” Novamente, George respondeu, “Não”. “Quanto valeria então?” perguntou McKendrick. “Doze centavos”, disse George. “Bem, você é capaz de perceber que sua alegria não adiciona nada ao valor do xelim, nem sua infelicidade tira qualquer valor desse mesmo xelim, e que ele continuará valendo doze centavos independentemente de como você se sinta?” “Sim, eu creio nisso”, respondeu George. “Então, diga-me — são os seus sentimentos de felicidade ou o sangue de Cristo que afasta os seus pecados?” “Ah, é o sangue de Cristo”, respondeu George. “Então, você não é capaz de enxergar que quando estiver feliz você não está mais seguro, e quando estiver infeliz não está menos seguro? É o sangue de Cristo que afasta os seus pecados, coloca-o em segurança e o mantém salvo ao longo do ano inteiro”, McKendrick concluiu. A respeito disso só podemos dizer, “Aleluia”! Ouço as palavras de amor, Contemplo o sangue, Vejo o sacrifício poderoso, E tenho paz com Deus. Esta paz eterna! Tão certa quanto o nome de Jeová; Tão sólida quanto seu trono inabalável, Para todo o sempre imutável. As nuvens podem ir e vir, E as tempestades podem varrer meu céu — Esta amizade selada com o sangue jamais mudará; A cruz sempre perto está. Horatius Bonar Cristão, você está olhando para dentro de si em busca de confiança? Assim você jamais a encontrará! Mesmo as imensas âncoras dos navios transatlânticos não servirão para nada se ficarem guardadas em seus compartimentos. Elas precisam ser lançadas para fora do navio! Lance sua âncora sobre Jesus Cristo! Coloque toda sua confiança nele! Somente a justiça dele é a sua confiança e esperança. JUSTIFICAR SIGNIFICA “DECLARAR JUSTO” “Justificar” significa “declarar justo”; não significa “tornar justo”. Quando Deus nos justifica, ele declara que algo é verdadeiro sobre nós “no lado de fora” (i.e., “objetivamente”); Ele declara que somos justos (“retos”) à vista de sua lei. Justificação não nos torna bons por dentro. (Deus de fato nos torna bons por dentro, mas isso tem a ver com regeneração — o novo homem é “criado em justiça e retidão procedentes da verdade”65) Justificação, em contraste, é uma afirmação (uma declaração) sobre nossa posição aos olhos da lei de Deus. O fato de que a justificação é uma declaração a respeito de nossa posição pode se tornar mais claro quando consideramos que o oposto de “justificar” é “condenar”. “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará?”66 Quando um juiz “condena” um homem, ele não muda aquilo que o homem é por dentro, mas “intenta uma acusação contra ele.” Ele o declara culpado aos olhos da lei. Igualmente, quando um juiz “justifica” um homem, ele não muda aquilo que o homem é por dentro, mas apenas declara que ele é justo aos olhos da lei. A JUSTIFICAÇÃO NÃO POSSUI GRADAÇÕES OU NÍVEIS Ou um homem é 100% justo, ou está condenado. Se um assassino é acusado de sete homicídios, mas é condenado por apenas um, ele ainda assim é um homem condenado! Leitor, ainda que você tivesse que pagar apenas um pecado por conta própria, você estaria condenado ao inferno por toda a eternidade! Para o cristão já não há condenação. Nenhuma, qualquer que seja! “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”67 Se você pertence a Cristo, já está 100% justificado nele; não há nenhuma condenação para você. E a justiça que você possui aos olhos da lei de Deus não é simplesmente uma boa justiça; é a própria justiça de Cristo; é a “justiça de Deus”! “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”68 A justificação não possui gradações! Ó, cristãos, lançai mão dessa verdade! O diabo tentará fazê-lo pensar que você está pelo menos um pouquinho condenado à vista da lei de Deus. Mas você não está! Maravilha das maravilhas! O apóstolo Paulo conhecia a Deus melhor do que nós, mas ele não estava nem um pouquinho mais justificado que nós! Nem mesmo o próprio Senhor Jesus era mais justificado que nós, pois sua própria justiça é nossa! Nossa justificação é perfeita e absoluta. Jesus, teu sangue e justiça Minha beleza são, minhas vestes gloriosas; Em meio aos mundos flamejantes, assim vestido, Com alegria levantarei minha cabeça! Este manto imaculado parece o mesmo, Quando a natureza arruinada afunda por anos; Nem mesmo o tempo pode alterar sua matiz gloriosa, O manto de Cristo está sempre novo. Nicholas von Zinzendorf JUSTIFICAÇÃO É MAIS DO QUE PERDÃO Em muitos governos, o presidente ou governante tem o poder de perdoar criminosos. Isso é conhecido como “clemência executiva”. Presidentes têm sido conhecidos por perdoarem ex-presidentes, e governadores de estados têm sido conhecidos por perdoarem todos os criminosos no corredor da morte como último ato de seu governo. Algumas questões são levantadas: “Quando esses homens foram perdoados, os crimes cometidos por eles foram pagos”? A resposta é não! “Será que a sentença da lei sob ameaça foi cumprida?” Novamente, a resposta é não! “A justiça foi satisfeita?” Não! Todas essas negativas fluem do fato de que o perdão não tem como base o pagamento pelo pecado. O perdão deixa o criminoso “se livrar de uma boa”, por assim dizer. A sentença da lei nunca é cumprida. O perdão é um ato de autoridade por um governante. Em contraste, a justificação é uma declaração de um juiz, e tem como base a justiça. Cristão, quando Deus o justifica, ele não está “deixando você se livrar de uma boa” com os seus pecados ainda pairando no ar. Ele não finge que os seus pecados já foram pagos. Em vez disso, ele vê que os seus pecados realmente já foram pagos por Cristo, e então faz uma declaraçãobaseada nesse fato. Ele faz uma declaração sobre a forma como as coisas de fato são. Se isso não fosse verdade, seria impossível a qualquer crente andar de cabeça erguida. Pense em Carol Everett, uma ex-proprietária de uma clínica de aborto responsável pela morte de dezenas de milhares. Pense em David Berkowitz, o famoso assassino em série, agora um crente em Cristo. Pense em si próprio! A única maneira pela qual um pecador arrependido pode agora andar de cabeça erguida é saber que os seus pecados já foram todos pagos! Se ele pensasse que simplesmente “se livrou de uma boa”, o pecador arrependido preferiria satisfazer a justiça no inferno que viver com a culpa de seus crimes passados. Amado cristão, você pode ter memórias terríveis de seu passado pecaminoso, mas pode ter certeza de uma coisa: nenhum desses pecados está pairando no ar. Eles desceram… sobre o Senhor Jesus Cristo!69 E ele já pagou por todos eles! Ele levou seus pecados sobre seu próprio corpo na cruz.70 A JUSTIFICAÇÃO É TANTO POSITIVA QUANTO NEGATIVA A justificação é tanto positiva quanto negativa. Vemos essa verdade claramente em Romanos 4.6-8: E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem- aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado. Em primeiro lugar, há um aspecto negativo na justificação: Deus “não leva em consideração” nossos pecados. Nossos pecados foram “cobertos”, e ele “jamais imputará pecado” a nós (v. 7-8). Deus pode fazer isso somente porque nossa dívida de pecado foi imputada a Cristo e paga por ele. Aprendemos do ensinamento do Senhor Jesus Cristo que o pecado pode (de algumas formas) corretamente ser comparado a uma dívida financeira: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”.71 Cada um de nós possui uma imensa dívida com a justiça de Deus. Qual o tamanho dessa dívida? Em Mateus capítulo dezoito, Jesus conta uma parábola comparando nossa dívida com Deus à dívida de um homem que devia dez mil talentos ao seu rei. Isso era o equivalente a 164.000 anos de trabalho para um trabalhador comum, sem levar em consideração sábados, domingos e feriados! Nossa dívida com a justiça de Deus é verdadeiramente imensa, mas Cristo paga essa dívida pelo seu povo na cruz. Isso nos leva de volta ao zero a zero; não temos mais nenhuma dívida, mas ao mesmo tempo, não temos nenhum dinheiro na conta bancária. Mas também há um aspecto positivo na justificação: Deus coloca sua “bênção” sobre nós “atribuindo-nos justiça” (v. 6). Em outras palavras, Cristo não somente paga nossa dívida; ele também deposita uma vasta fortuna em nossa conta bancária. Por meio de sua perfeita obediência como homem, ele computa sobre nós e deposita em nossa conta uma justiça positiva aos olhos de Deus. Cristo tomou seu lugar como o “último Adão”72 e foi bem sucedido precisamente onde o primeiro Adão falhou: “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”.73 Para compreender o significado disso, precisamos nos lembrar de que a Lei possui tanto um aspecto positivo quanto negativo. Por um lado, a lei ameaça que “a alma que pecar, essa morrerá”.74 Mas por outro lado, a lei promete que “aquele que observar os seus preceitos por eles viverá”.75 Essa promessa de “vida” tinha uma aplicação temporal aos judeus — enquanto obedecessem aos preceitos exteriores da Lei de Moisés, eles “viveriam” na terra que Deus havia dado a eles. Mas a promessa também possui um significado mais profundo — ela não está relacionada apenas com “vida na terra”, mas vida eterna. O Senhor Jesus deixou isso claro em mais de uma ocasião: “E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás”.76 Da mesma forma, quando o “jovem rico” perguntou a Jesus: “Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna”? Sua resposta foi, “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos”.77 Isso significa que aqueles que obedecem perfeitamente à lei podem merecer, ou ser dignos da vida eterna exercitando sua própria justiça aos olhos da lei.78 “Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela.”79 Somente uma pessoa na história humana foi capaz de fazer isso; todos os outros falharam miseravelmente. Somente o Senhor Jesus Cristo “cumpriu toda a justiça”.80 Ele não apenas pagou por nossos pecados; ele viveu uma vida de perfeita retidão que é creditada a nós, e tendo recebido o “dom” da sua justiça, temos o direito à vida!81 Não somente a maldição que cabia a nós caiu sobre ele, mas a bênção devida a ele caiu sobre nós. Paulo expressa tanto os resultados positivos quanto os negativos da justificação em Romanos 5:1-2: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo... e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” O primeiro resultado da justificação é negativo: nós já não estamos mais debaixo de uma maldição. Temos paz com Deus — não somente paz de nossa parte, mas paz da parte de Deus. Quando um criminoso solta sua arma e se rende, o policial que o perseguia não faz a mesma coisa. Ele mantém sua arma apontada para o meliante até que ele tenha sido seguramente encarcerado, e a justiça seja finalmente satisfeita. Somente então ele pode abaixar sua arma. A glória da justificação é que Deus não é mais nosso inimigo — as demandas da justiça foram atendidas, nossos pecados foram pagos, e agora Deus pode “abaixar sua arma” no que diz respeito a nós. Ele está em paz conosco! O segundo resultado da justificação é positivo: Agora mesmo podemos exultar em esperança (expectativa confiante) na glória de Deus (céu). Não somente não estamos mais debaixo de uma maldição; temos a vida eterna — agora mesmo. A vida eterna não é algo que talvez recebamos algum dia no futuro, mas uma posse presente. “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.”82 Glória a Deus! A bênção merecida por Cristo foi dada a nós. A JUSTIFICAÇÃO É DE UMA VEZ POR TODAS “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus.”83 A justificação é de uma vez por todas, um evento completado no passado com resultados que duram para sempre. Um homem não é primeiramente justificado, então condenado, e então justificado novamente. A justificação é de uma vez por todas. Isso significa que a justificação nos coloca em uma nova categoria, status ou posição diante de Deus. “Justificados, pois,... obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes.”84 Os cristãos se encontram firmes em uma posição completamente nova, e é na graça que estão firmados. A maravilha da justificação de uma vez por todas e de nossa nova posição firmes na graça pode ser ilustrada da seguinte maneira: suponha que um marido cristão se levante pela manhã e seja grosseiro com sua esposa de alguma maneira, mas não perceba seu pecado até mais para o final do dia. Quando percebe o que fez, pede perdão a Deus e à sua esposa. Seu comportamento anterior foi verdadeiramente pecaminoso, ainda que ele não estivesse completamente consciente disso naquela hora. Agora suponha que este homem tenha morrido antes de perceber e confessar o seu pecado. Ele teria ido para o inferno? Certamente não! Suas primeiras palavras de confissão ao perceber seu pecado mostram que sua posição diante de Deus tem sido uma relação de filiação o tempotodo: “Pai, perdoa-me pela minha grosseria”. Muitos concordam com essa análise, mas poucos pararam para perceber o que ela significa. E ela significa que o cristão permanece em um estado justificado mesmo durante o tempo entre o cometimento de um pecado e a confissão deste mesmo pecado! Em outras palavras, o pecado não é imputado a ele durante o tempo entre seu cometimento e sua confissão. Esse argumento pode ainda ser reforçado da seguinte maneira: suponha que este mesmo marido cristão levante-se pela manhã, tenha uma discussão com sua esposa e saiba que foi grosseiro com ela. Ao invés de confessar seu pecado, ele vai mal-humorado para o trabalho. Passa a manhã inteira muito aborrecido. Finalmente, não aguentando mais essa situação, ele curva sua fronte e pede perdão a Deus, em seguida liga para sua esposa e pede também o seu perdão. Suponha que esse homem tenha morrido antes de confessar o seu pecado. Ele teria ido para o inferno? Novamente, a resposta é “Certamente não!”. Afinal de contas, por que ele estaria se sentindo tão mal a manhã inteira, se não pelo fato de que ele permanece um filho de Deus com um coração renovado mesmo durante o tempo de sua rebelião? Dizer isso é apenas afirmar que o verdadeiro cristão permanece em um estado de justificação o tempo todo. Por quê? Porque ele possui toda uma nova condição diante de Deus. O cristão não é mais um criminoso sob a ira de Deus; ele é o filho debaixo do cuidado de um Pai amoroso.85 E, assim como qualquer pai amoroso, às vezes Deus precisa disciplinar seus filhos, mas a disciplina é completamente diferente da punição judicial. Estritamente falando, a punição é o sofrimento infligido para a satisfação da justiça. A disciplina, por outro lado, é o sofrimento infligido para o próprio bem do ofensor. Há uma vasta diferença entre as duas coisas! A Justificação é de uma vez por todas. Se isso não fosse verdade, todos nós perderíamos a salvação toda vez que cometêssemos ainda que um só pecado, e estaríamos expostos à condenação eterna até que chegássemos ao ponto de confessar aquele pecado e ser justificados (e convertidos) novamente! Essa não é a verdadeira natureza da justificação, ou mesmo da vida cristã. A natureza de uma vez por todas da justificação é claramente ilustrada pelo escritor aos Hebreus: Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.86 Perceba o argumento que é colocado aqui: “Sabemos que é impossível que o sangue de touros e de bodes remova os pecados, porque eles eram oferecidos todos os anos, vez após vez”. Alguém poderia responder dizendo: “O que isso prova? Eles precisavam ser oferecidos todos os anos porque novos pecados eram cometidos todos os anos. Os pecados de cada ano traziam nova condenação”. Mas, de acordo com Hebreus, esse tipo de resposta revela uma compreensão equivocada da verdadeira natureza da justificação. Quando o que presta culto é “purificado”, não há mais “consciência dos pecados”. Quando o sangue de Cristo é aplicado, somos “aperfeiçoados para sempre”! “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo; porquanto… acrescenta: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre.”87 Em outras palavras, a promessa da Nova Aliança de que Deus “de modo nenhum se lembrará de nossos pecados”, significa que toda a categoria de “pecados” está para sempre longe dos olhos de Deus, no que diz respeito à lei e à satisfação da justiça. Os crentes foram “aperfeiçoados” em suas consciências,88 não tendo mais “consciência de pecados”89 no que diz respeito à ira de Deus! Nesse sentido, não há mais necessidade de uma “recordação de pecados”90 na Nova Aliança. “Ora, onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado.”91 “Temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.”92 O que isso tudo significa em nossa vida cotidiana? Significa que, como cristão, posso me levantar cedo pela manhã sabendo que sou aceito em Cristo. Deus se deleita em mim como seu filho, e a culpa pelos meus pecados se foi para sempre. Se cometer um pecado, tenho “consciência” do meu pecado como um filho, não como um criminoso condenado, e confesso meu pecado a Deus como um filho confessa a seu pai, não como um criminoso confessa a um juiz. E, assim, entro com intrepidez no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus.93 “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?”94 A JUSTIFICAÇÃO É RECEBIDA PELA FÉ “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus.”95 O sangue de Cristo é a base da justificação, mas a fé é o instrumento ou canal pelo qual recebemos o “dom da justiça”.96 “Que devo fazer para que seja salvo? Crê no Senhor Jesus e serás salvo.”97 O que é fé? Fé não é algum tipo de força ou poder que podemos dominar para alcançar e realizar as coisas que queremos. Igualmente, ninguém pode “liberar sua fé”, a despeito do que ensinam alguns falsos mestres. A fé é simplesmente o oposto de tais conceitos equivocados. A justificação pela fé não é “fazer” alguma coisa; pelo contrário, ela é a desistência em fazer qualquer coisa e simplesmente descansar na misericórdia de Deus. Isso pode ser ilustrado pelo testemunho de uma irmã que passou por grandes tribulações antes de encontrar descanso em Cristo. Ciente de sua condição de perdida e tentando fazer tudo quanto possível para escapar do inferno, ela eventualmente se viu sem chão: “Eu me sentia como se estivesse pendurada na beira de um precipício pela ponta dos meus dedos. Abaixo de mim estava o inferno. Eu não queria ir para o inferno e havia me esforçado à exaustão tentando me manter longe do inferno. Finalmente, não tive mais forças para continuar segurando. Soltei meus dedos e caí… direto nos braços amorosos de Jesus”. Isso é fé! Perceba ainda que não somos salvos por uma fé genérica; mas somos salvos pela fé em Cristo. Algumas pessoas confiam em uma “decisão” feita no passado, mas uma “decisão” nunca poderá pagar os nossos pecados! Outras têm confiança no batismo, em uma experiência emocional passada, ou mesmo em sua suposta “fé”. Certo homem idoso que não dava qualquer evidência de sua verdadeira conversão, quando perguntado se alguma vez havia sido incomodado pelo pensamento da eternidade, respondeu: “Não, jamais me incomodei com isso, porque a Bíblia diz que se você tem fé será salvo, e eu tenho um monte de fé”. No que esse homem estava confiando? Não era em Cristo ou em seu sangue, mas em sua própria “fé”. A confiança de um cristão é completamente diferente. Se subitamente o chão se abrisse derrubando todos nós em um abismo nesse exato momento, cada verdadeiro cristão exclamaria: “Senhor Jesus”! Nenhum deles exclamaria: “Minha fé”! Fé é o olho que não pode olhar para si mesmo. A fé está ocupada com seu objeto, e este objeto é o Senhor Jesus Cristo. “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.”98 Aqui Jesus nos diz que a serpente na haste era na verdade uma sombra dele próprio na cruz. Como as pessoas foram salvas em relação à serpente? “Todo mordido que a mirar viverá.”99 O que, então, é crer? Crer é “olhar”! Olhe e viva! Coloque toda a sua esperança no SenhorJesus Cristo e seja salvo. ‘Olhe e viva’, meu irmão, viva, Olhe para Jesus agora e viva! Está escrito em sua Palavra, Aleluia! Basta que você ‘olhe e viva’. W. A. Ogden 58. Mateus 1.21 59. 1 Pedro 2.24 60. 2 Coríntios 5.21 61. João 14.6; 1 Timóteo 2.5-6; Atos 4.12 62. Romanos 5.9 63. 1 João 1.7 64. Êxodo 12.13 65. Efésios 4.24 66. Romanos 8.33-34 67. Romanos 8.1 68. 2 Coríntios 5.21 69. Isaías 53.6 70. 1 Pedro 2.24 71. Mateus 6.12 72. 1 Coríntios 15.45 73. Romanos 5.19 74. Ezequiel 18.4 75. Gálatas 3.12; Levítico 18.4 76. Lucas 10.25-28 (compare Levítico 18.4) 77. Mateus 19.16-17 78. Filipenses 3.9 79. Romanos 10.5 80. Mateus 3.15 81. Romanos 5.17 82. João 5.24 83. Romanos 5.1 84. Romanos 5.1-2 85. Gálatas 4.4-7 86. Hebreus 10.1-4 87. Hebreus 10.14-17 88. Hebreus 9.9,13-14 89. Hebreus 10.1-2 90. Hebreus 10.3 91. Hebreus 10.18 92. Hebreus 10.10 93. Hebreus 10.19-22 94. Romanos 8.33-35 95. Romanos 5.1 96. Romanos 5.17 97. Atos 16.30-31 98. João 3.14-15 99. Números 21.8 Capítulo Quatro REGENERAÇÃO TUDO SE FAZ NOVO Já vimos que o pecado é o maior e, de fato, único problema da humanidade, e que o problema do homem com o pecado possui dois aspectos, um interno e outro externo: não somente todo filho caído de Adão possui um coração mau, mas também possui um registro negativo aos olhos da lei de Deus. O pecado tanto contamina quanto condena o homem; seu poder reina dentro dele, e sua punição repousa sobre ele. O homem está tanto impotente quanto desesperançado — seu problema é realmente insolúvel. Nessa situação de trevas e desespero, uma grande luz brilhou.100 Jesus veio. Ele pode e irá salvar o seu povo101 tanto da punição quanto do poder de seus pecados. Ele realiza aquele na justificação, e este na regeneração. No segundo e terceiro capítulo consideramos a grande doutrina bíblica da Justificação. Agora focaremos no tema da regeneração. A justificação acontece no céu, na corte de Deus. A regeneração, por outro lado, acontece na terra, no coração do homem. Justificação é uma declaração feita por um Juiz; regeneração é um ato de criação feito por um Criador onipotente. UMA PARÁBOLA UNIVERSITÁRIA Em toda faculdade e universidade, os alunos estudam muito para conseguir tirar a nota máxima no final do curso. Quando eu era estudante, fiz a mesma coisa. Mas havia uma aula que era diferente. Era uma matéria do último ano da faculdade, exigida apenas dos alunos do bacharelado de física e química, e havia apenas quatro ou cinco alunos na sala. No primeiro dia de aula, nosso professor nos surpreendeu com o seguinte anúncio: “Vocês não precisam se preocupar com suas notas nesta matéria — todos já estão com dez. Agora nós podemos simplesmente nos tranquilizar e aproveitar a aula”. É exatamente isso que Deus faz na justificação. Deus nos dá nota máxima logo no início da nossa vida cristã! Não temos de batalhar para merecer a vida eterna no final do ano letivo; já começamos com vida eterna.102 Agora mesmo podemos nos exultar no fato de que não passarão mais que algumas batidas do nosso coração e estaremos no céu!103 Homens religiosos, mas perdidos, costumam ter duas respostas básicas a esta doutrina. Por um lado, os legalistas a odeiam. Esse fariseu cheio de justiça própria só faz “boas obras” porque está tentando tirar nota máxima ao final de sua vida. Se pudesse, ele gostaria de viver em pecado, e ressente-se do fato de que não pode. Sua objeção é a seguinte: “Se Deus der aos homens vida eterna logo no início da vida cristã, o que os impedirá de continuar vivendo em pecado? Se ele der aos homens nota máxima no primeiro dia de aula, ninguém estudará a matéria”.104 Por outro lado, o homem religioso sem a lei gosta da doutrina da justificação pela fé. “Bem, eu já tirei minha nota máxima! Agora posso jogar todos os meus livros na lata de lixo, ignorar o professor e viver minha própria vida.” Tais homens “transformaram em libertinagem a graça de nosso Deus”.105 Eles enxergam a “graça livre” como uma “licença para pecar”. Nesses dias de “evangelho barato”, igrejas de todo lugar estão cheias de tais pessoas não convertidas — homens perdidos que gostam de pensar de si mesmos como “crentes carnais”. O que está errado tanto com o pensamento do legalista quanto do libertino? Por acaso Deus dá uma nota máxima logo no início do ano letivo simplesmente para nos dar a chance de matar aula e mesmo assim ficarmos com a melhor nota? Ou será que ele paga judicialmente pelos crimes de um criminoso na justificação apenas para que o criminoso continue a matar, estuprar e roubar, mas agora com imunidade da punição? Absolutamente não! O que Deus faz, então? Exatamente ao mesmo tempo em que nos dá nota máxima no início do nosso ano letivo, também nos muda por dentro para que amemos estudar aquela matéria! Em outras palavras, quando Deus justifica um homem, ele também o regenera. A regeneração é inseparável da justificação, e uma nunca acontece sem a outra. E esta é a resposta de Paulo, tanto aos judeus legalistas que reivindicavam que o ensino de Paulo levaria os homens a “permanecerem em pecado”, quanto aos libertinos que queriam usar seu ensinamento como uma oportunidade para a licenciosidade: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”106 De acordo com Paulo, todo cristão passou por uma transformação radical que torna impossível para ele continuar em pecado. Essa transformação ocorre na regeneração. A verdadeira “graça” sempre nos educa “para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”.107 A marca invariável de todo homem que encontrou a genuína paz com Deus é que ele imediatamente começa uma jornada que vai até o fim de sua vida para conhecer e seguir o Deus que ele agora ama.108 (O homem com falsa paz, por outro lado, retorna aos seus próprios interesses egoístas tão logo se sinta seguro dos perigos do inferno.) O verdadeiro cristão jamais utilizará a graça como uma “licença para pecar”; ele naturalmente já peca mais do que gostaria! Os cristãos realizam boas obras, então, não porque estejam buscando merecer uma nota máxima de Deus, mas porque receberam novos corações que amam “estudar a matéria”. Isso provoca algumas questões que nos sondam: Será que leio a Bíblia e oro porque é minha obrigação? Será que me sinto enganado por não poder correr atrás do pecado como o resto do mundo? Existe algo em mim que simplesmente ama a Deus por quem ele é e ama o que é bom apenas por ser bom? Tenho algum prazer nas coisas de Deus? A resposta a essas perguntas nos revelará muito a respeito da condição de nossas almas. REPRESENTAÇÕES BÍBLICAS DA REGENERAÇÃO A Bíblia tem muito a dizer a respeito da regeneração. Nas páginas a seguir examinaremos nove representações bíblicas desse grande milagre. (Duas outras estão resumidas brevemente no Apêndice A). Cada uma delas mostra a mesma realidade gloriosa, mas a partir de ângulos diferentes, iluminando diferentes facetas dessa realidade. Conforme consideramos as diversas representações das Escrituras a respeito da regeneração, é importante mantermos em mente que as coisas invisíveis que elas descrevem são tão reais quanto o mundo visível e temporal que enxergamos com nossos olhos físicos. Na verdade, o mundo invisível pode ser considerado ainda mais real que o mundo visível, visto que as coisas da esfera espiritual são permanentes e eternas.109 100. Mateus 4.16 101. Mateus 1.21 102. João 5.24 103. Romanos 5.2 104. Romanos 6.1 105. Judas 4 106. Romanos 6.1-2 107. Tito 2.11-12 108. Filipenses 3.10 109. 2 Coríntios 4.18 Capítulo Cinco UMA NOVA CRIAÇÃO O que é regeneração? De acordo com a Bíblia, é uma nova criação. Quando Deus regenera um homem, é um milagre da mesma ordem de quando Deus criou o universo!110 Na verdade, moralmente falando, é um milagre muito maior. Regeneração é um ato criativo de Deus. TODO CRISTÃO É UMA NOVA CRIATURAE, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Ora, tudo provém de Deus… 2 Coríntios 5.17-18 Vemos aqui que o cristão é descrito como uma nova criatura. Em outras palavras, quando Deus faz o cristão, ele faz alguma coisa nova, a partir do nada, que não existia antes! Ademais, a regeneração sempre envolve esse milagre criativo — “se alguém”, em qualquer lugar, está em Cristo, é uma nova criatura. Não há exceções; se alguém não é uma nova criatura, ele não está “em Cristo”! Isso não é simplesmente um quadro bonito, mas uma realidade: “As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. “A antiga ordem já se foi, e uma nova ordem já começou.” Tudo é novo para o cristão; ele enxerga o mundo sob uma nova luz — mesmo os pedregulhos ao lado da estrada e as latinhas de cerveja nas valas! O céu acima é de um azul mais suave, A terra ao redor é de um verde mais doce; Algo vive em cada tonalidade Que olhos sem Cristo nunca viram. G. Wade Robinson Não temos qualquer participação em fazer esse milagre acontecer. (Algo não pode se criar por si próprio!) Deus faz todo o trabalho! “Tudo provém de Deus.” (v. 18) Que trabalho grandioso é este! A Bíblia se refere a ele como uma “criação” vez após vez. CRIADO PARA BOAS OBRAS Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Efésios 2.8-10 É extremamente significativo que, quando Paulo pensa sobre salvação, nosso ser “salvo pela graça mediante a fé”, ele pensa em termos de uma obra criativa de Deus. Os cristãos são chamados especificamente de “feitura criada” de Deus. Se o nosso conceito de salvação é unicamente o de que alguém “toma uma decisão” — sai da fila daqueles que estão indo para o inferno e entra na fila dos que estão a caminho do céu — então temos uma visão muito equivocada da salvação. Os cristãos foram “criados em Cristo Jesus”! Qual a natureza dessa obra criativa? Em primeiro lugar, é “em Cristo Jesus”. Isto é, ela acontece na esfera da união com Cristo. Isso faz um paralelo com o que Paulo disse em 2 Coríntios 5.17, “Se alguém está em Cristo, é nova criatura.” Em segundo lugar, é para “boas obras”. O propósito desta obra criativa é assegurar que as boas obras sejam o resultado final. Essas boas obras foram “preparadas de antemão” para que andássemos nelas, e todos os cristãos de fato andam nelas, porque, como novas criaturas, foram especialmente projetados, desenvolvidos e criados por Deus para tanto! A IGREJA É UMA NOVA CRIAÇÃO Para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz. Efésios 2.15 A partir dessa importante passagem, aprendemos que Paulo usa a linguagem da “criação” para descrever a existência, não apenas de cristãos individualmente, mas da igreja como um todo. A igreja não é uma organização; ela é um organismo criado — uma coisa viva e uma coisa “nova”. Cristo tomou dois grupos completamente divergentes (judeus e gentios) e em “si mesmo” criou dos dois “um novo homem” — o “corpo de Cristo”. Esse corpo vivo é habitado por um único espírito — o Espírito Santo,111 e compartilha de uma vida comum — a própria vida de Cristo.112 Tanto a igreja como um todo (todo o corpo de Cristo) quanto a igreja em suas manifestações locais (corpos individuais de crentes) são criações miraculosas de Deus. Nenhum homem pode “começar uma igreja”; Deus precisa fazer o impossível e criar algo do nada para que uma igreja possa existir. Ele faz isso, “criando” um número de cristãos individuais, feitos um pela virtude de sua vida comum. O único fundamento da Igreja é Jesus Cristo seu Senhor: Ela é sua nova criação, pelo Espírito e pela Palavra. Do céu ele veio e a buscou, para ser sua santa noiva; Com seu próprio sangue a comprou, e por sua vida morreu. Samuel J. Stone CRIADO EM JUSTIÇA E RETIDÃO No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. Efésios 4.22-24 De acordo com Paulo, não apenas a igreja, como um todo, é um “novo homem”, mas cada cristão individualmente é igualmente um novo homem. A coisa importante que devemos perceber aqui é que esse novo homem é descrito novamente como alguém que foi criado. Como ele é? Ele foi criado “segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”. Essas são as características dessa “nova criatura”! Tais descrições deveriam nos dar um senso de quão real é essa obra criativa: o novo homem foi criado segundo Deus em justiça e retidão! A linguagem de Paulo aqui não é a linguagem da imaginação poética, mas a linguagem da realidade concreta! Uma descrição paralela dessa obra criativa é encontrada em Colossenses 3.9-11: Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos. Mais uma vez encontramos nessa passagem a afirmação de que o novo homem já foi “criado” segundo a imagem de Deus. Portanto, como aqueles que se “revestiram do novo homem”, os cristãos são “santos e amados” (v. 12) aos olhos de Deus. Em resposta à pergunta “Quem sou eu?”, todo cristão deveria responder: “Sou uma nova criatura, criada em justiça e santidade, santo e amado aos olhos de Deus”. NADA MAIS IMPORTA Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. Gálatas 6.15 A partir de tudo o que foi dito nos parágrafos anteriores, não é surpreendente que Paulo considere a nova criação como algo da maior importância. Nada mais importa, exceto essa obra criativa de Deus! Nem circuncisão, nem batismo, nem qualquer outra ação humana externa ou ritual religioso é “coisa alguma” se a nova criação estiver ausente. Por outro lado, se Deus nos fez novas criaturas, a falta da circuncisão (“incircuncisão”) ou do batismo ou de qualquer outro ritual religioso também não é “coisa alguma”! A única coisa que importa para qualquer um de nós é isto: “Será que sou uma nova criatura, ou ainda sou a mesma pessoa que sempre fui?” Se sou a mesma pessoa que sempre fui, então não sou cristão, e a quantidade de vezes que vou à igreja participo das liturgias e cerimônias religiosas, “vou à frente após o apelo” ou “aceito Jesus” não significará coisa alguma. O que é regeneração? É uma nova criação! Em resumo, é um milagre, não uma “decisão” ou algum tipo de ato humano, qualquer que seja. 110. 2 Coríntios 4.6 111. 1 Coríntios 12.12-13 112. João 15.4-5 Capítulo Seis UM NOVO HOMEM Para que dos dois criasse… um novo homem. Efésios 2.15 No sentido de que… vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. Efésios 4.22-24 Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos. Colossenses 3.9-11 Conforme vimos no Capítulo 5, cada uma das passagens citadas acima é muito significativa em descrever a regeneração como um ato criativo de Deus. Mas outra faceta da regeneração também é esclarecida nessas passagens: Regeneração é a criação de um novo homem. Não somente a igreja como um todo é “um novo homem” (Efésios 2.15), mas cada cristão individualmente também é um novo homem! É muito importante perceber que, sob o ponto de vista de Paulo, o cristão não é tanto
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