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Logística Internacional Gabriel Nickolas Cazotto Logística Internacional Gabriel Nickolas Cazotto Todos os direitos desta edição são reservados ao Centro Universitário Facens. Nenhuma parte da obra “Logística internacio- nal” poderá ser reproduzida ou transmitida sem autorização prévia. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 com punição de acordo com artigo 184 do Código Penal. Centro Universitário Facens: Rodovia Senador José Ermírio de Moraes, 1425, Castelinho km 1,5 – Alto da Boa Vista – Sorocaba/SP. CEP: 18087-125. Tel.: 55 15 3238 1188 / email: facens@facens.br FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA “BIBLIOTECA FACENS” Eliane da Rocha CRB 8062/8ª Bibliotecária Responsável C386L Cazotto, Gabriel Nickolas. Logística internacional [recurso eletrônico] / Gabriel Nickolas Cazzotto ; ed. ED+ Content Hub; - Sorocaba, SP: Centro Universitário Facens, 2021. 1 E-book; (PDF). il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-993915-7-6 Modo de acesso: restrito 1. Logística internacional. 2. Macroeconomia - Política 3. Comércio internacional. 4. Importação e exportação. I. Ed+ Content Hub. III. Centro Universitário Facens. IV. Centro Universitário Newton Paiva. V. Título. CDD 658.78 Expediente Conselho Acadêmico (Newton Paiva) Reitoria Pró-Reitoria Acadêmica (presencial e a distância) Gerente de Pós-Graduação Conselho Editorial Curadoria de Design Educacional Autor Validadora Designer Educacional Ilustradores Diagramadores Revisoras Camila Ribeiro Romeiro Patrícia da Silva Klahr Monica Sabino Hasner Antônio Henrique Ribeiro Dalbem Mabel Oliveira Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Carina Macedo Martini Gabriel Nickolas Cazotto Isis Boostel Camila Carriel Martins Braga Daniela Pereira Ferreira Diego Kendi Godinho Diego Kendi Godinho Flora Carolina Fukuoka Silva Guilherme Oliveira Nascimento Dayane Beatriz de Lima Decaria Lílian Moreira Mendes Marina Bariani Trava Patrícia Ceolin do Nascimento Patrícia Maria de Oliveira Carvalho Moreira Sarah Elene Müller Rappl ED+ Content Hub Unidade 1 Globalização e logística internacional ................................. 6 Unidade 2 Acordos e blocos comerciais ..................................................... 27 Unidade 3 A logística internacional .........................................................49 Unidade 4 As políticas macroeconômicas .................................................65 Unidade 5 Os modelos de comércio e do comércio internacional no Brasil .............................................................................................84 Unidade 6 As vantagens competitivas e comparativas ....................... 102 Unidade 7 A anuência ao comércio e a logística internacional .......119 Unidade 8 As perspectivas futuras da logística internacional ......141 Conteúdo Palavras do autor Olá, aluno! Meu nome é Gabriel Cazotto. Sou mestre em Economia pela Universidade Presbite- riana Mackenzie, com foco em Economia Internacional. Leciono, na própria Mackenzie, disciplinas relacionadas à gestão internacional, geopolítica e escolas econômicas liberais. Sou docente, também, do Senac/SP, onde ministro aulas de economia mainstream, comércio exterior e logís- tica internacional. Convido você a aprender, nestas oito unidades, a constituição fundamental da logística interna- cional, que está diretamente ligada às questões do aumento exponencial do comércio exterior, principalmente pela ação de um mundo globalizado. Com isso em mente, você terá uma linha de aprendizado que foque tanto na criação e nas ações da logística internacional como nas ações geopolíticas que levaram ao seu desenvolvimento. Vai, ainda, entender as noções de mercado internacional e das práticas que impactam tanto o comércio como a logística internacional. Também estudará o contexto econômico, principal- mente a visão de macroeconomia nas ações do governo para promover o comércio internacional, no cenário de câmbio, juros e inflação. Além disso, compreenderá todo o movimento global e burocrático, tanto para a realização do comércio internacional como da logística, finalizando com o que poderá vislumbrar para o futuro de ambas. De tal modo, é importante você entender tanto os movimentos políticos, burocráticos, tarifá- rios e comerciais, para conhecer as diferentes ações atuais da OMC (Organização Mundial do Comércio) e dos órgãos reguladores do comércio dentro do País, quanto as principais tecnologias e ações logísticas, em conjunto com o movimento empresarial de cadeia de suprimentos. Você vai perceber que a ação dessa cadeia impacta o comércio, a expansão e a atuação internacional, e é muito importante que seja capaz de observar tais ações no mercado. Portanto, desejo boas-vindas ao componente curricular de Logística internacional! Espero que goste, aprenda e vislumbre como o mundo se torna cada vez mais globalizado e, mesmo que dividido, unido nas questões econômicas, comerciais e geopolíticas, principalmente na ação da logística, que age de maneira constante em todos os países. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 6 Globalização e logística internacional UNIDADE 1 Objetivo de aprendizagem: Entender o impacto da globalização na logística internacional, considerando: • As ações geopolíticas e o comércio internacional dos períodos da Primeira e da Segunda Guerra Mundial; • As implicações do Tratado de Bretton-Woods na criação dos órgãos de anuência da governança internacional; • Os efeitos desse tratado durante a Guerra Fria até a fase da globalização e os impactos na logística internacional. Tópicos de estudo: • De Bretton-Woods à globalização; • Os órgãos da governança internacional; • A globalização e o impacto na logística internacional. Iniciando os estudos: Você já parou para perceber que toda ação que tomamos em uma empresa logística, com foco no mercado internacional, depende das intervenções não apenas das empresas, mas de todos os movi- mentos dos países e suas atuações globais? Isso se chama Geopolítica, o estudo fundamental do impacto da atividade internacional dos prin- cipais players globais e como esses resultados macroeconômicos afetam de maneira microeco- nômica a tomada de decisão de sua empresa. Por exemplo, por que decidimos fazer uma exportação para um país e não para outro? Por que resol- vemos criar uma filial em outro país? Por que o aumento do valor do dólar impacta não apenas os produtos vendidos, mas também nossa produção, nossa ação na cadeia de suprimentos e até mesmo a contratação de funcionários? Nesta primeira unidade, você entenderá toda a linha do tempo desde o início da Primeira Guerra Mundial, quando temos a primeira participação em massa tanto do comércio internacional quanto da configuração da logística internacional, para suprir, nesse caso, a indústria bélica. Conhecerá também o Tratado de Bretton-Woods, que praticamente fomenta toda a estratégia do mercado internacional até hoje, fundamentalmente com a criação do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), que daria lugar à OMC, órgão que legisla todo o comércio internacional. Por fim, compreenderá a importância da globalização na expansão quase que exponencial de todo o mercado internacional, seja no aumento de Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 7 empresas vendendo internacionalmente, no próprio crescimento do comércio internacional ou ainda, por consequência, nas melhorias logísticas. Portanto, convido você, aluno, a acompanhar essa pequena “viagem no tempo”, a fim de que possa entender como passamos de um mundo fechado, quase sem informações entre países, para esse mundo extremamente globalizado, onde qualquer ação ou informação pode ser obtida pela internet e seja qual for o produto pode ser vendido não importa qual seja o país. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 8 1. DE BRETTON-WOODSÀ GLOBALIZAÇÃO Quando o terrorista bósnio Gavrilo Princip assassinou o arquiduque do Império Austro-húngaro, Francisco Ferdinando, no atentado a Sarajevo em 1914, que desencadeou a Primeira Guerra Mundial, pouco se sabia sobre o impacto dentro do comércio internacional e da logística global que o primeiro grande conflito de proporções mundiais causaria em todo o cenário geopolítico. A Revolução Industrial vinha a toda força, o maquinário e o carvão fomentavam as ferrovias e os navios mercantis ainda focavam no comércio internacional de alimentos e produtos agropecuários, trazidos das colônias para os principais países do período, como os EUA, na América do Norte, e outros da Europa Ocidental. Em conjunto, Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Suíça, Escandinávia e EUA (COMÉRCIO MUNDIAL, 2003) representavam mais de 80% do mercado exportador global. A logística, em seus primeiros passos nesse período, era voltada apenas para suprir a necessidade dos navios cargueiros e das grandes ferrovias, tendo principalmente quatro facetas importantes para abastecer o crescimento da população urbana durante períodos de guerras, como: a) a mobilização do aumento exponencial do tamanho dos exércitos, em que a logística militar se torna fundamental para a teoria da logística internacional; b) a nova tecnologia bélica de arma- mentos mais sofisticados de armas de fogo; c) a revolução econômica para alimentar, armar e transportar os exércitos de massa; e d) as técnicas de gerenciamento e organização que permiti- riam às nações a utilização em combate (FONTANELLA, 2020). Isso se daria logo a partir de uma enorme mudança nas ações geopolíticas, com o estourar da Primeira Guerra Mundial, tanto nos EUA como na Europa Ocidental (FERNANDES, 2020). O foco do comércio marítimo passa, então, do produto agrícola para fomentos à indús- tria bélica. O maior exemplo se dá durante diversos ataques da Tríplice Aliança – formada pelo Império Austro-húngaro, Alemanha, Bulgária e Império Otomano – sobre as brigadas inglesa e francesa, no que foi chamado de Guerra das Trincheiras, para restabelecer e suprir o fim do muni- ciamento das armas. Os EUA embarcavam navios movidos a carvão para levar a produção bélica às frontes de batalha, porém, com o tempo escasso, os próprios aliados europeus se ajudavam nas linhas ferroviárias com uma contribuição logística básica, de apenas reestruturar a munição, armas e veículos que os países utilizavam em combate (FONTANELLA, 2020). Podemos inferir que esse período se concretiza como uma fase de transição, tanto no comércio internacional quanto na logística, para a mudança que viria no pós-guerra. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 9 Com a derrota do eixo central, é realizado em Paris, no ano de 1919, o Tratado de Versalhes, que se caracterizou por um “revanchismo francês” voltado aos alemães. Destacaram-se no Tratado a desintegração dos impérios do eixo central em pequenos países e a atribuição, principalmente aos germânicos, do pagamento de todas as dívidas contraídas, tanto pelos países perdedores quanto pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial. Esse recurso seria utilizado principalmente para a reconstrução da Europa. Nessa reconstrução no período entre guerras, começa a aparecer para o mundo aquela que se tornaria a maior potência mundial e geopolítica nos últimos anos, os EUA. Fomentando um mercado agropecuário e de commodities, o país da América do Norte começa a vender produtos agrícolas e de infraestrutura para reconstruir uma França arrasada e um Reino Unido praticamente do zero (ROTHBARD, 2012). Até mesmo a Alemanha restabelece o comércio internacional com os EUA para suprir alimentos e a sua indústria de base, voltada à reconstrução do país totalmente devastado pela guerra. No mesmo período de tempo, a URSS nasce com a ação da Revolução Russa ao unir as Repúblicas Soviéticas sob um mesmo partido, em um mesmo país. Figura 1 - O comércio marítimo passou a ter foco em prover insumos à indústria bélica. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 10 E é dessa supremacia de venda de produtos e abastecimento global norte-americano que temos o segundo grande impacto na história geopolítica do período: a Grande Recessão norte-americana. Tomados pela supervalorização de preços e o boom das bolsas de valores norte-americanas, fomentadas por produtos agrícolas, os EUA entram em um período de deflação, durante o governo do presidente Hoover, e caminham para uma recessão drástica, impactando toda a economia norte-americana e acarretando não só um aumento da pobreza no país, mas um brusco corte no comércio internacional geral (ROTHBARD, 2012). Já que o país não possui mais dinheiro para comprar produtos de fora e o estoque interno não encontra compradores (inclusive o Brasil é impactado, tendo sacas estocadas de café no porto de Santos), ao ser eleito, Franklin Delano Roosevelt revoluciona a economia do país, a fim de deter o crescimento rápido da recessão norte-americana. Para tanto, adota políticas macroeconômicas com ações do Estado, como você vai acompanhar ainda nessa unidade. Entre elas, a mais conhe- cida é a criação do chamado New Deal, que tem como foco a ação do governo em reestruturar a economia americana com obras públicas, além de controlar estoques agrícolas com a queima de sacas dos produtos que não estão sendo vendidos e focar na força dos trabalhadores. Nesse período, nascem tanto os direitos trabalhistas quanto os sindicatos (ROTHBARD, 2012). Passado o período de declínio da economia norte-americana, e com a economia global, princi- palmente no comércio externo, ainda arrefecida, se tem o crescimento da Alemanha, coman- dada por Adolf Hitler. Empenhada em controlar todo o território europeu com um abastecimento logístico de enorme importância, o país consegue, em semanas, conquistar praticamente toda a Europa central, enviando abastecimento de tropas com mantimentos e material bélico, como você viu anteriormente. Figura 2 - Os EUA se torna o fornecedor principal de produtos agrícolas e infraestrutura em amparo aos países danificados pela Primeira Guerra. ED + Co nt en t H ub © 2 02 1 Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 11 APROFUNDE-SE Se na Primeira Guerra Mundial o foco da logística ainda “engatinhava”, na Segunda Guerra, com as ações de aumento e movimentação das tropas na Europa, a logística se torna fundamental para a vitória dos países aliados, além de ser elemento central na economia moderna, na distribuição da cadeia de suprimentos. Título: A logística na Segunda Guerra Mundial Disponível em: https://youtu.be/83vDQmlxGCg Acesso em: 22/04/2021. Após um período de paz, transcorre o início da Segunda Guerra Mundial. Com ela, há a movi- mentação de toda a logística internacional através das ferrovias e dos navios mercantis movidos a carvão para o abastecimento das tropas europeias. Quase como em um déja vu, incentiva-se o comércio internacional até o fim do conflito, quando os EUA (até agora apenas enviando mantimentos e munições para o combate) resolvem, no final de 1945, entrar de vez na guerra. Primeiro, com a invasão na Europa por tropas americanas e, depois, com os ataques nucleares em Hiroshima e Nagasaki. Do lado do eixo, a Alemanha tentava conquistar a União Soviética, que ao fechar e cortar todo o abastecimento logístico, conquista a vitória e faz a tropa alemã recuar, iniciando-se o cessar-fogo e a derrota alemã, de modo a ditar o final da Segunda Guerra. Depois de acompanhar os principais fatores que impactaram esse cenário logístico durante as duas grandes guerras mundiais, você vai conhecer aquela que é a questão central em nosso estudo: a modificação do panorama global, tanto na ótica geopolítica quanto na da logística, aliada ao comércio internacional. São determinantes, ainda, nesse contexto, os regulamentos voltados à governançainternacional, capazes de reger, por meio das leis, o movimento global dos países. Para que os países pertencentes à Liga das Nações não errassem uma segunda vez, como fizeram no Tratado de Versalhes – que resultou em uma hiperinflação na Alemanha, contribuindo para a chegada de Hitler ao poder, com a instauração do Terceiro Reich, e o consequente início da Segunda Guerra –, realiza-se em 1944 o Tratado de Bretton-Woods, cujo evento aconteceu em um hotel de mesmo nome, em Nova Iorque, EUA. https://youtu.be/83vDQmlxGCg Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 12 Nesse acordo, em que pela primeira e única vez se reúnem os principais nomes da Geopolítica mundial do período, entre eles Josef Stalin, Franklin Roosevelt e Winston Churchill, fica acordado que: a Alemanha seria dividida pelos países vitoriosos da Guerra; todo o comércio mundial ficaria atrelado às transações com o lastro em dólar-ouro, ou seja, o mercado cobraria internacional- mente a venda de mercadorias no valor do dólar, atrelado ao peso do ouro; e, por fim, seriam criadas as quatro principais organizações de governança internacional, que veremos mais espe- cificamente no tópico 2: a ONU, o BIRD, o GATT e o FMI (MAIA, 2007). ASSISTA Acesse na plataforma o vídeo: A formação da governança internacional A partir do Tratado de Bretton-Woods, cessa a Segunda Guerra Mundial, principalmente com a ONU fomentando uma paz global. Porém, dá-se início a uma guerra ideológica entre os dois maiores países vitoriosos do pós-guerra: EUA e URSS (FRIEDMAN, 2007). Esse conflito seria chamado de Guerra Fria, uma guerra velada entre ambos os países que tentavam buscar territórios, através de aliados ideológicos, na questão de capitalismo versus socialismo (EUA versus URSS). Figura 3 - Conferência de Bretton-Woods, em 1944, reuniu os principais representantes econômicos. Fonte: disponível em: https://bit.ly/3vTUkKQ Acesso em: 24 jun. 2021. https://bit.ly/3vTUkKQ Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 13 Essa guerra ideológica vai além: há ações na tecnologia bélica, com a criação de armamentos (como a bomba nuclear e a de hidrogênio), na tecnologia espacial (quando os EUA enviam o homem à Lua após Yuri Gagarin, da URSS, orbitar o planeta e clamar o famoso “O céu é azul”), e até no âmbito desportivo, com a busca dessa supremacia entre os países. Em um primeiro momento, o conflito se daria apenas por questões ideológicas. Mas em várias ocasiões acabou se revestindo de um perfil bélico, a exemplo do que aconteceu nas chamadas guerras de procuração, como foi na Coréia, no Vietnã e no Afeganistão (FRIEDMAN, 2007). As duas potências estavam interessadas principalmente na busca por aliados políticos em pontos princi- pais do globo, no entanto, esse jogo político constantemente elevava a preocupação mundial a níveis críticos. O ápice dessa tensão internacional durante a Guerra Fria aconteceu em 1962, na Baía dos Porcos, em Cuba, quando EUA e URSS, separados por mísseis atômicos, elevaram o conflito a uma possível guerra nuclear ou uma terceira guerra mundial (COX, 1990). Nesse período, os EUA fomentaram, por meio do Plano Marshall, a reconstrução europeia mediante a venda desenfreada de manufatura, produtos agrícolas e infraestrutura, assim como fizeram na Primeira Guerra Mundial. Porém, temeroso pelo poder crescente dos EUA e URSS, o mercado sofreu um desabastecimento do comércio internacional, principalmente porque os países do bloco socialista, chamados de Cortina de Ferro, embarcaram em políticas protecionistas de mercado que prejudicaram todo o comércio internacional global (VASCONCELLOS, 2007). Junto com a dívida interna que os EUA criaram ao abastecer uma guerra sem fim no Vietnã, tem-se um período em que o mundo, praticamente fechado pelo comércio internacional, passa por uma segunda virada nas ações geopolíticas. Figura 4 - Guerra Fria: EUA versus URSS. ED + Co nt en t H ub © 2 02 1 Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 14 Primeiro a França, um dos cinco países vistos pelas ações da governança internacional, começa a restabelecer o comércio exterior, mas sem movimentar em dólar-ouro como previa o Tratado de Bretton-Woods, logo seguida por Reino Unido e Japão. No mesmo período, desencadeia-se uma crise no petróleo, quando os preços das commodities ficam extremamente altos e impactam as principais empresas globais, que ficam com preços conflitantes no mercado de compra e venda internacional, além de impactar o abastecimento de empresas, como a Chevron ou a Shell. Tanto os EUA, como os maiores compradores, quanto a URSS, como a maior vendedora, ao lado do mundo árabe com a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), começam a sofrer com guerras na região do Golfo Pérsico (VASCONCELLOS, 2007). A Revolução Iraniana e a Guerra do Yom Kippur desencadeiam um momento crítico, em que o barril de petróleo passa dos US$100. Isso alavanca duas questões fundamentais para o resultado do comércio e da logística internacional de maneira global: 1. Primeiramente, o presidente dos EUA, Richard Nixon, quebrou o padrão ouro-dólar e praticamente demandou que todos os seus aliados fizessem comércio internacional com os EUA apenas em dólar, para reestruturar as contas públicas norte-americanas e aumentar as vendas internas, bem como o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Enquanto isso, o FMI fomentava práticas antiprotecionistas (VASCONCELLOS, 2007) para que os seus aliados agissem de acordo com o proposto no mercado internacional. 2. O preço alto do petróleo, aliado a uma “doença holandesa” sofrida pela URSS com a revolução de suas repúblicas formadoras, iria desencadear o declínio econômico e polí- tico que daria fim tanto à União Soviética como à Guerra Fria em geral, abrindo o mundo para a globalização. O mundo passa a atuar, conforme você verá no tópico 3, em um mercado internacional muito mais aberto, com influxo de informações e de mais multinacionais entrando nesse mercado global. A partir da financeirização do mercado mundial, tem-se de fato o ápice da globalização, com a fomentação do auge do comércio exterior e da logística internacional como foco global. Mas antes de você embarcar no que foi a globalização e em todo o seu impacto, vamos entender no tópico 2 o papel fundamental das organizações internacionais que pavimentaram e ainda pavimentam o mundo na atual governança internacional. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 15 2. OS ÓRGÃOS DA GOVERNANÇA INTERNACIONAL Vamos voltar um pouco no tempo, mais precisamente para 1944, para entender os resultados do Tratado de Bretton-Woods e como ele criou os alicerces para a governança internacional. Primeiramente: do que trata essa governança? Como a situação global “descarrilhou” com a eclosão de duas guerras mundiais, foi proposta em Bretton-Woods uma cartilha de ações pelos cinco países vencedores da Segunda Guerra Mundial – EUA, Reino Unido, França, URSS e China – para que qualquer ação global fosse regulada e não houvesse uma terceira guerra mundial ou algum impacto profundo nos resultados das ações internacionais. Isso recebeu o nome de governança e contou com a criação de organizações intragovernamentais que regularizariam as ações mundiais, fosse para manter a paz ou regular o comércio. REFLITA “A guerra no leste da Ucrânia recrudesceu nas últimas semanas. Os combates entre as forças ucranianas e os separatistas pró-russos, respaldados militar e politicamente pelo Kremlin, são os piores em vários meses, numa nova amostra de que as hostilidades, que já completaram sete anos e custaram 14.000 vidas, segundo a ONU, estão longe de ter um fim. Moscou elevou ainda mais a tensão ao mobilizar tropas a uma centena de quilômetros da fronteira com a Ucrânia, que por sua vez reforçou suas unidades no leste do país e junto à península da Crimeia,que a Rússia anexou para si em 2014. Os movimentos militares russos servem como teste para o apoio da União Europeia e dos Estados Unidos a Kiev, marcando uma nova disputa com Moscou no pior momento das relações entre a Rússia e o Ocidente em várias décadas. [...] A escalada no leste da Ucrânia, um ponto geoestratégico para a UE e a OTAN em suas relações com a Rússia, ocorre num momento de graves tensões também entre Moscou e o Ocidente por causa da situação do ativista de oposição Alexei Navalni, vítima de um envenenamento amplamente atribuído ao Kremlin. O contexto também se vê agravado pelos comentários do presidente norte-americano, Joe Biden, que declarou que considera Putin um assassino. Chega num momento em que a Rússia definiu como “inexistentes” suas relações com a UE ― à qual acusa de retardar por motivos políticos a aprovação da sua vacina contra o coronavírus ― e do fiasco da visita do alto representante de Política Externa da UE, Josep Borrell, a Moscou. Os EUA e a UE, que impuseram sanções à Rússia por anexar a Crimeia, apoiam economicamente a Ucrânia com centenas de milhões de dólares em ajuda internacional. Washington, além disso, dá assistência militar a Kiev. As intenções de Moscou com a nova escalada de tensão e os movimentos militares não estão claras para os especialistas. O fato de ocorrerem de maneira visível dá uma ideia de que sua intenção não seja a de lançar um ataque em grande escala, e sim, acredita Alyona Getmanchuk, diretora do gabinete de estratégia New Europe Center, mostrar musculatura e pôr em xeque a nova Administração de Biden” (EL PAÍS, 2021). Você deverá reler o excerto da notícia disponibilizada acima e aprofundar sua leitura em https://brasil. elpais.com/internacional/2021-04-06/nova-escalada- na-guerra-do-leste-da-ucrania-deixa-ue-e-eua- em-alerta.html. Depois, reflita se os cinco países que formam a governança internacional desde o Tratado de Bretton-Woods realmente não colocam os interesses próprios acima do interesse global, como pretendiam no início. Com essa função, um ano após a assinatura do Tratado de Bretton-Woods, em 1945, as quatro principais organizações mundiais foram criadas com o foco tanto em pavimentar um futuro global melhor, como para incrementar as questões econômicas, financeiras e do comércio exte- rior, a fim de, futuramente, como de fato aconteceu, expandir-se para regulamentações climá- ticas, geográficas, de soberania, de ações nucleares, de meio ambiente, de fome, de saúde, de turismo, da criança e assim por diante. https://brasil.elpais.com/internacional/2021-04-06/nova-escalada-na-guerra-do-leste-da-ucrania-deixa-ue-e-eua-em-alerta.html https://brasil.elpais.com/internacional/2021-04-06/nova-escalada-na-guerra-do-leste-da-ucrania-deixa-ue-e-eua-em-alerta.html https://brasil.elpais.com/internacional/2021-04-06/nova-escalada-na-guerra-do-leste-da-ucrania-deixa-ue-e-eua-em-alerta.html https://brasil.elpais.com/internacional/2021-04-06/nova-escalada-na-guerra-do-leste-da-ucrania-deixa-ue-e-eua-em-alerta.html Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 16 Essa ação começa com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU); do Banco Interna- cional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD); do Fundo Monetário Internacional (FMI); e da Organização Internacional do Comércio (OIC), que posteriormente se tornaria o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Acompanhe o significado de cada um deles e sua importância para o segmento internacional: Organização das Nações Unidas (ONU) A Organização das Nações Unidas (ONU) foi o primeiro e mais importante órgão da governança internacional a ser criado pelo Tratado de Bretton- -Woods, em 1945. Substituindo a antiga Liga das Nações, tinha como foco a união dos países para evitar conflitos bélicos, precisamente para, em um primeiro momento, evitar uma terceira guerra mundial, como dita a Carta das Nações Unidas: Para manter a paz e a segurança internacionais, e para o efeito: tomar medidas coletivas eficazes para a prevenção e remoção de ameaças à paz e para a supressão de atos de agressão ou outras violações da paz, e para realizar por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, ajuste ou solução de controvérsias ou situações internacionais que possam levar à violação da paz (ONU, 2020). Contando no início com 55 países, atualmente a ONU tem 193 estados-membros e dois observa- dores (Palestina e Vaticano), sendo ambos considerados estados soberanos perante a ONU. Figura 5 - A ONU é referência internacional em pautas que visam promover a paz e a segurança mundial. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 17 O país mais recente a integrar a ONU foi o Sudão do Sul em 2015, e o organismo possui como atual Secretário-Geral o português António Guterres (2021). Hoje, os seus objetivos incluem: manter a segurança e a paz mundial; promover os direitos humanos; auxiliar no desenvolvimento econômico e no progresso social; proteger o meio ambiente; e prover ajuda humanitária em casos de fome, desastres naturais e conflitos armados. A ONU é composta por seis órgãos gerenciais: Assembleia Geral; Conselho de Segurança; Conselho Econômico-Social; Conselho dos Direitos Humanos; Secretariado; e Tribunal de Justiça Interna- cional de Haia (UN, 2021). Em um segundo momento, expandiu-se para evitar conflitos envolvendo o clima, alimentação (FAO), turismo (OMT), trabalho (OIT) e desenvolvimento (PNUD), além de ser em prol das crianças (Unicef), da saúde global (OMS) e da educação, ciência e cultura (Unesco), com foco nas Metas do Desenvolvimento do Milênio – Millennium Development Goals. Figura 6 - Metas do Desenvolvimento do Milênio. Fonte: adaptado de United Nations (2015). Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 18 Fundo Monetário Internacional (FMI) O segundo dos mais importantes órgãos de governança criados em 1945 é o Fundo Monetário Internacional (FMI), um fundo monetário formado por cotas de países, que tem como objetivo promover a ajuda mone- tária entre eles, principalmente em momentos de crises mundiais ou defaults públicos (SILVA, 2008). Formado por um corpo técnico principalmente de economistas, funciona como um fundo de investimento em que o empréstimo dado para cada país que o requisita é oriundo de uma reserva percentual de ingresso financeiro da cota do país, sendo os EUA, enquanto país, o maior “emprestador” global, como você pode ver na tabela 1. União Europeia EUA Japão China Arábia Saudita 32% 17% 6,1% 3,7% 3,2% 2,9% 2,7% 1,9% 1,4% 29,1% Canadá Rússia Índia Brasil Demais países Os objetivos declarados da organização são: promover a cooperação econômica internacional, o comércio internacional, o emprego e a estabilidade cambial, inclusive mediante à disponibi- lização de recursos financeiros para os países-membros, a fim de ajudar no equilíbrio de suas balanças de pagamentos. O FMI, na sua criação, tinha como principais objetivos financiar países em dificuldade finan- ceira, a fim de capacitá-los para perseguir políticas fiscais expansionistas, e pressionar os demais países a escolherem políticas expansionistas, principalmente focadas no comércio internacional, avaliando-se práticas antiprotecionistas e requerendo condicionalidades para a ajuda do Fundo (BOECHAT; ESTEVES; LEITE, 2017). Após esse período, o FMI também atribuiu o equilíbrio fiscal dos países em ajuda à fomentação de sua balança comercial, com a eliminação dos controles cambiais, para permitir a converti- bilidade das contas correntes, e o financiamento dos desequilíbrios das contas de balanço de pagamentos nacionais. Em seguida, fez a adequação das políticas de privatização e de combate à corrupção e reformas nas políticas domésticas, como questões de condicionalidades para empréstimo do Fundo (SILVA, 2008). Tabela 1 - Cotas de cada país noFMI. Fonte: adaptado de International Monetary Fund (2021). Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 19 Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) O terceiro órgão, chamado de Banco Internacional para Recons- trução e Desenvolvimento (BIRD) e criado durante 1945, também era focado no período pós-guerra, mas a sua própria concepção não foi duradoura, pois fomentava a reconstrução dos países europeus destruídos pela Segunda Guerra Mundial. O foco do BIRD era parecido com o do FMI, no entanto o Banco teria que primeiro se afiliar ao Fundo para pedir uma ajuda bancária. Porém, isso ficou em segundo plano devido à ação de um de seus próprios criadores, os EUA. Pense: se você pouco sofreu internamente com o impacto de uma guerra e tem toda a possibilidade de movimentar o comércio interna- cional para abastecer os países, aos preços de venda que você requerer, por que ficar preso à criação de um banco de reconstrução e desenvolvimento? É nesse contexto do comércio global e de sua logística entre continentes que, no ínterim do pós-guerra, os EUA vão se confirmar como a maior nação político-econômica global, em grande parte devido à criação do “rival” do BIRD, o Plano Marshall – um plano solo, norte-americano, para reconstrução da economia europeia, visando a compra de produtos norte-americanos. Dada essa questão, o BIRD logo mudaria seu foco, visando a captação de crédito para inves- timentos na produção dos países subdesenvolvidos e de seus aliados, sem objetivar lucrativi- dade. Os juros e comissões por ele cobrados destinam-se a cobrir suas despesas e constituir um fundo de reserva (SILVA, 2008). A política de empréstimos se encontrou, inicialmente, subordinada aos interesses e pressões da política externa americana para conter o avanço comunista. Pouco crédito foi dado aos países em desenvolvimento, pois os empréstimos só eram feitos para projetos considerados rentáveis (SILVA, 2008). Para conseguir tais recursos, o interessado tinha que apresentar o projeto a ser empreendido, por meio do seu próprio Banco Central, para a Comissão Consultiva do então BIRD, que em 1980 é renomeado para Banco Mundial. Hoje, o órgão tem como foco ajudar os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, cobrando 0,25% de despesas administrativas e 1% de comissão anual sobre os empréstimos concedidos (GILPIN, 2002). Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 20 Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) Por fim, vou falar da criação do mais importante órgão para o seu estudo, aquele que irá, ao longo dos anos, regular todo o comércio internacional global. Em um primeiro momento, nasce com a criação da Organização Internacional do Comércio (OIC), em 1944, mas fica um tanto quanto esquecido pelas próprias ações dos EUA com o Plano Marshall. Por que criar um órgão regulatório nos seus preços de vendas internacionais se você quer lucrar fortemente no comércio internacional? Pois é com base nisso que a primeira proposta de um órgão regulatório de comércio internacional é vetada pelo congresso norte-ame- ricano. Posteriormente, em 1947, é criado o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Anos depois, o GATT começou a agir na regulamentação do comércio internacional, primeiramente para regular as relações econômicas internacionais, visando impulsionar a liberalização comercial e combater práticas protecionistas adotadas desde a década de 1930. O próprio GATT nasce das ações dos EUA e de seus aliados contra as práticas protecionistas vigentes no comércio inter- nacional, principalmente pelo bloco socialista. Ele é gerado por diversas rodadas de negociação com interesses econômicos e políticos para a remoção de barreiras comerciais, antes mesmo de estabelecer qualquer regra de ordem ao comércio internacional. Foca fundamentalmente na redução das alíquotas tarifárias e na discriminação entre produtos nacionais e não nacionais, como nos princípios de sua criação: a) o de não discriminação; e b) o de reciprocidade, com a determinação do acordo de que ambos os países que fizessem comércio bilateral se auxiliassem no comércio internacional (BOECHAT; ESTEVES; LEITE, 2017). Ao longo do tempo, com o desabastecimento global e o comércio internacional, um tanto quanto esquecido nas ações internacionais, o GATT começa a perder força entre os órgãos da gover- nança internacional e só vai restabelecer a sua função de regulamentação do comércio quando a globalização entra em voga nos anos 1990, com a rodada de Montevidéu, no Uruguai, em 1994, sendo negociados vários pontos, destacando-se (SILVA, 2008): 1. A mudança de nomenclatura e criação da Organização Mundial do Comércio (OMC); 2. O reforço das antigas regras do GATT ao movimento antiprotecionista do comércio inter- nacional, com a regulação de alíquotas tarifárias, subsídios, protecionismo, dumping, cláusulas de salvaguardas, barreiras técnicas, fitossanitárias e inspeção de embarque; 3. A negociação de um novo processo de solução de controvérsias; 4. A redação de um código de tarifas e de regras de comércio, estabelecido para um bem comum mundial e visando respeitar o primeiro conceito da criação do GATT, o de proibir a discriminação entre os produtos dos países e a atuação de regulamentação em zonas alfandegárias. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 21 Por fim, a criação da OMC teve como objetivo garantir o comércio internacional por meio da redução dessas barreiras alfandegárias e do tratamento igualitário dos seus membros, servindo como um mediador de confrontos internacionais. Além disso, também visava a proteção e o subsídio de mercado, bem como a ação e adoção de medidas antidumping (SILVA, 2008). APROFUNDE-SE Você quer aprender mais sobre a OMC e o antigo GATT, com toda a sua representatividade, tanto no comércio quanto na logística internacional? O artigo “Do GATT à OMC”, de Cláudio Ferreira da Silva, é um ótimo começo. Título: Do GATT à OMC: o que mudou, como funciona e perspectivas para o sistema multilateral do comércio Disponível em: https://bit.ly/3dhTS2K Acesso em: 28/04/2021. Com as metas mais aliadas aos demais órgãos, na rodada de Doha, em 2001, o órgão funda- mentou a prioridade da produção agrícola para os países subdesenvolvidos e em desenvolvi- mento, em detrimento do monopólio de países desenvolvidos, o que vai ser aceito, mas criará até hoje um verdadeiro conflito de ideias de regulamentação do comércio internacional pela OMC. https://bit.ly/3dhTS2K Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 22 3. A GLOBALIZAÇÃO E O IMPACTO NA LOGÍSTICA INTERNACIONAL Quando a URSS se divide em quinze países independentes e somos surpreendidos pela famosa imagem do premier Mikhail Gorbatchev, de um país outrora fechado, bebendo uma Coca-Cola com o então presidente dos EUA, Bill Clinton, e sua primeira-dama, Hillary Clinton, em Moscou, Rússia, temos a completa noção não apenas do final da guerra ideológica entre EUA e URSS, mas da completa abertura de mercado, com as multinacionais entrando no mercado internacional junto ao advento da informação via internet. Mas você sabe o que é a globalização? Desde o final da Guerra Fria e com o advento da internet e do comércio internacional, as ações econômicas, comerciais e políticas dos países começam a ser feitas em conjunto. O mundo ficou completamente interligado. Não somente isso, começou a haver uma expansão dos fluxos de informação, impactando indiví- duos, organizações e países; bem como um aumento acelerado das transações econômicas entre países, abrangendo materiais, produtos acabados e capitais financeiros; e uma difusão crescente de valores morais e políticos. Com isso em mente, a globalização traz quatro pontos fundamentais para a economia moderna adotada desde então: Figura 7 - A criação da internet foi um fator crucial que propiciou a interligação da comunicaçãoglobal. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 23 1. A movimentação geopolítica, como a criação das grandes organizações e blocos de comércio; 2. O nascimento das multinacionais e empresas globais, como a Coca-Cola, se expandindo para um mercado outrora fechado, como a Rússia, principal herdeira da antiga URSS; 3. A globalização do comércio internacional, principalmente em mercados mais fechados, em especial a China, que passa de um país comunista com pouca abertura comercial para um boom de expansão, inclusive na indústria e na venda de commodities minerais e agrícolas, que irão transformar o país na segunda maior economia global, a partir da segunda década dos anos 2000. 4. Por fim, o advento da logística internacional, que vai acompanhar toda a movimentação do comércio internacional e se expandir em toda sua cadeia logística e supply chain, a fim de prover os produtos necessários para que as grandes empresas e países possam fomentar e entregar o produto internacional (MAIA, 2007). ASSISTA Acesse na plataforma o vídeo: Os impactos da globalização na China APROFUNDE-SE Mas será que a globalização só traz benefícios à humanidade? Vejamos, a partir da pandemia da Covid-19, como a globalização também pode trazer malefícios à sociedade, desde crises financeiras até questões sanitárias. Título: A globalização do coronavírus e suas consequências Disponível em: https://bit.ly/3vS41tb Acesso em: 22/04/2021. https://bit.ly/3vS41tb Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 24 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, você conheceu o impacto da logística internacional na história global por meio de uma linha do tempo, que se inicia nos primórdios da indústria bélica. Acompanhou também como o espaço entre guerras transforma e arrefece o comércio internacional até o período atual, em que você percebe toda a movimentação do mercado mundial, oriunda da globalização, que vai ser fomentada pelos órgãos da governança internacional. Com o impacto da globalização, as ações econômicas mercadológicas atuarão diretamente em toda a tecnologia a ser empregada na logística. Você já pode vislumbrar que teremos um futuro cada vez mais volátil, dadas as constantes mudanças políticas, sociais, econômicas e tecnológicas que você encontra tanto na sociedade quanto no comércio internacional. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 25 GLOSSÁRIO Baía dos Porcos: localizada em Cuba, onde foi feita uma tentativa de tirar Fidel Castro do poder, em 1961, e serviu como local para a URSS apontar mísseis aos EUA, em 1962. Commodities: produtos vendidos em lotes, com o mesmo preço. Por exemplo: os agrícolas, como soja, arroz, café ou minerais, como minério de ferro e ouro. Cortina de Ferro: países aliados ao socialismo soviético, localizados na Europa Oriental. Default: em economia, significa o país “quebrar”, não pagar a dívida que possui com o FMI ou com as contas públicas. Déjá vu: do francês, já visto; sentimento de algo já ter ocorrido. Doença holandesa: o mal de sofrer com a produção e exportação de apenas um produto. Financeirização: o mercado movimentar dinheiro líquido ou em Bolsa de Valores. Geopolítica: geografia política; o impacto que cada ação dos principais países do mundo tem globalmente. Guerras de procuração: também chamadas de Guerra de Proxy, foram guerras nas quais os EUA e URSS, estando um contra o outro, apenas ajudavam seus aliados. Guerra do Yom Kippur: guerra na qual a República Árabe Unida (UAR), formada por Egito e Síria, atacou Israel no feriado religioso judaico do Yom Kippur, tanto pelo deserto de Góbi quanto pelas Colinas de Golã. Aconteceu em 1973 e impactou drasticamente no preço do petróleo. Hiperinflação: uma inflação extremamente alta; segundo o economista Philip Cagan, é um nível de inflação que supera os 50% mensais e que se encontra fora de controle. New Deal: política norte-americana para combater a deflação de 1929, focada nas ações do Estado. OPEP: acrônimo de Organização dos Países Exportadores de Petróleo; organização mundial e reguladora dos preços do petróleo. PIB: acrônimo de Produto Interno Bruto; a riqueza produzida por um país. Plano Marshall: plano solo norte-americano, focado em reestruturar a economia dos países euro- peus destruídos pela guerra com a venda de produtos no comércio internacional. Revolução Iraniana: revolução árabe e religiosa feita pelo aiatolá Khomeini, em 1979, para retirar o xá Mohammad Reza Pahlevi, aliado dos EUA, do poder. Supply chain: cadeia de suprimento, cadeia logística. Terceiro Reich: do alemão, terceiro reino; ação política nomeada por Adolf Hitler, que governou a Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Logística internacional | Unidade 1 - Globalização e logística internacional 26 REFERÊNCIAs BOECHAT, Andreia; ESTEVES, Emerson; LEITE, Ademir. Relações econômicas internacionais. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. COMÉRCIO MUNDIAL (séc. XIX a 1914). Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, c2003-2021. Dispo- nível em: https://www.infopedia.pt/$comercio-mundial-(sec.-xix-a-1914) Acesso em: 18 abr. 2021. COX, Michael. Beyond the cold war: superpowers at the crossroads. [S.l.]: University Press of America, 1990. EL PAÍS. Nova escalada na guerra do leste da Ucrânia deixa UE e EUA em alerta, 2021. Dispo- nível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-04-06/nova-escalada-na-guerra-do-leste- -da-ucrania-deixa-ue-e-eua-em-alerta.html Acesso em: 22 abr. 2021. FERNANDES, Claudio. Primeira Guerra Mundial: a grande guerra. História do Mundo, 2020. Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/primeira-guerra- -mundial.htm Acesso em: 04 maio 2021. FONTANELLA, Renato. O que a guerra tem a ver com a logística de hoje?. Brudam, 2020. Dispo- nível em: https://blog.brudam.com.br/2020/05/o-que-a-guerra-tem-a-ver-com-a-logistica-de- -hoje/ Acesso em: 16 abr. 2021. FRIEDMAN, Norman. 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Além disso, compreender principalmente a importância de um bloco comercial e como não ser impactado por práticas que não permitam o livre acesso de mercado- rias no comércio internacional. Tópicos de estudo: • Acordos e blocos comerciais – níveis de integração regional; • Acordos e blocos comerciais – USMCA, Mercosul e União Europeia; • Barreiras comerciais, tributárias e alfandegárias. Iniciando os estudos: Você já parou para pensar no impacto que a globalização teve no comércio internacional? O impacto não resulta apenas de uma maior movimentação do comércio internacional, quatro vezes mais do que o crescimento do PIB global (INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2021), mas também da criação de acordos comerciais entre os países, que se alinham em blocos para poder melhorar todas as vendas internacionais. A ação dos países no mercado internacional sobre se alinhar em acordos comerciais, denominada de regionalismo, tem como principal foco não apenas a diminuição de alíquotas tarifárias, mas também uma ação para que não haja um “bloqueio” ou que alguma questão impeça o comércio entre os países, tanto dentro do bloco quanto fora, como ao querer fazer comércio individualmente. Nesta unidade, você vai aprender sobre os principais acordos e blocos comerciais (USMCA, Mercosul e União Europeia), assim como conhecer as principais barreiras comerciais, tributárias, não tributárias e alfandegárias, que prejudicam o livre comércio de mercadorias. Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 28 1. ACORDOS E BLOCOS COMERCIAIS – NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL Para que o incremento do comércio internacional junto com a globalização fosse, de fato, algo que impulsionasse todo o cenário do mercado, foi necessário que os países quebrassem barreiras e se interligassem entre si. Em um primeiro momento, ocorre a regionalização, quando os países de uma mesma região, como na Europa, América do Sul, América do Norte e África, têm como foco adotar tarifas menores entre eles, de uma maneira que se estenda por todas as regiões internacionais. Assim, propi- ciam uma quantidade muito superior de venda de produtos internacionais, tanto na importação quanto na exportação, do que anteriormente em um cenário parado pela Guerra Fria. Esse primeiro impacto da regionalização terá que agir conforme as regras da OMC, que nasce no ápice da globalização, mas que vai tentar de todos os modos fazer com que o comércio internacional comece a se expandir cada vez mais e a ser feito entre países desconhecidos uns dos outros. Ainda nesse primeiro impacto, teremos ações de comércio anteriores ao advento da globalização, tanto bilaterais quanto multilaterais (SOUZA, 2009). Você sabe a diferença entre comércio bilateral e multilateral? Entendê-los será fundamental para compreender não apenas o que são acordos e blocos comerciais, mas qual o nível de integração regional que cada bloco vai possuir (HERZ; HOFFMANN, 2004). Comércio bilateral: normalmente, um acordo comercial entre dois países. Acontecia principalmente no período anterior à Primeira e à Segunda Guerras Mundiais, quando os EUA vendiam individualmente, de maneira bilateral, seus produtos para os países europeus. Por exemplo: havia um comércio só com a França, um acordo somente com o Reino Unido, um outro com a Alemanha, e assim por diante. Quais são as características dos acordos bilaterais? • Tendem a favorecer um dos dois países; • São menos burocráticos; • Sua negociação é rápida; • O processo é descomplicado (se um dos países não aceitar, o acordo não é realizado e outro país é procurado). Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 29 Comércio multilateral: normalmente, um acordo comercial entre dois ou mais países, principalmente em forma de blocos econômicos. Acontece principalmente como nos movimentos de regionalização, em que os países começam a agir em blocos comerciais para ter melhores alíquotas de produtos, normalmente isenções ou tarifas mais baixas. Os acordos começam a ser feitos não mais entre dois países apenas – como EUA e França, EUA e Reino Unido ou EUA e Alemanha, a exemplo do comércio bilateral –, mas sim entre um país e um bloco inteiro, como no caso dos EUA e o bloco europeu, cujos países inte- grantes do acordo serão representados por meio da União Europeia, um bloco comercial, como veremos a seguir. Quais são as características dos acordos multilaterais? • Favorecem de forma igual os países envolvidos; • São mais burocráticos; • Preveem rodadas de negociação; • Apresentam padronização e regulamentação; • Seus processos não são divulgados para a mídia; • Englobam diversas nações; • Trazem impacto na economia local. Bom, portanto, você pôde perceber que, em um mundo cada vez mais interligado pela globali- zação, como o que vivemos hoje em dia, tende-se a existir um maior comércio multilateral. Para que isso aconteça de uma maneira adequada, sem que haja problemas comerciais que deverão ser regulamentados, resolvidos ou acordados pela OMC, nascem os acordos e blocos comerciais. Tendo isso em mente, você saberia a diferença entre um acordo comercial e um bloco comercial? O acordo comercial, ou acordo de livre-comércio, é um tratado feito entre os países para benefí- cios mútuos, principalmente do ponto de vista tarifário, em uma situação de livre comércio. Já os blocos comerciais são áreas geográficas, as quais consistem em dois ou mais países que concordam em buscar uma integração econômica, por meio da redução de tarifas e outras restrições para o fluxo de produtos, serviços, capital e, em um estágio mais avançado, de mão de obra transfronteira. Como exemplos de blocos comerciais, temos: Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Mercado Comum do Sul (Mercosul), Comunidade do Leste Africano (EAC), Comunidade dos Estados Independentes (CEI), União Europeia (UE), Acordo de Livre-Co- mércio da América do Norte (NAFTA), Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), União do Magrebe Árabe, Liga Árabe, Aliança do Pacífico, entre outros. Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 30 Com essa informação em mente, é preciso entender que existem diversos tipos de acordos que podem ser feitos entre os países dos blocos comerciais, o que chamamos de zonas de integração regional. Como o próprio nome sugere, a integração dos países de dentro do bloco no comércio pode divergir de como fazem com países de fora do bloco ao qual pertencem. Segundo Souza (2010), há seis zonas de integração regional, no entanto, muitos internaciona- listas e economistas do comércio internacional agregam, dentro da união aduaneira, uma sétima modalidade. 1. Zona de preferência tarifária Nesse tipo de integração, há mais acordos com níveis tarifários preferenciais para os países que integram o próprio bloco. São definidas barreiras comerciais menos elevadas em relação aos países que não participam dessa área de integração dentro do bloco. Exemplo: antigo ALADI. 2. Área de livre-comércio Acordo mais simples e comum, em que os países-membros concordam em, gradualmente, eliminar as barreiras comerciais dentro do bloco, enquanto mantêm uma política comercial inter- nacional independente com os países de fora do bloco. Exemplo: NAFTA-USMCA. 3. União aduaneira Nesse nível de integração regional, além do processo de eliminação das barreiras tarifárias e nãotarifárias, há o estabelecimento de uma política comercial em relação aos países que não inte- gram esse grupo. Nesse modelo, adota-se uma Tarifa Externa Comum (TEC), aplicada aos países que não integram o bloco. Exemplo: Mercosul. 4. União aduaneira e monetária Semelhante à união aduaneira, mas com a utilização de uma moeda única entre a região de tarifa comercial. Exemplo: franco centro-africano. 5. Mercado comum No mercado comum, além da criação de uma área de livre circulação de mercadorias (união adua- neira), deve ocorrer também o mesmo processo com os serviços e demais fatores de produção. Exemplo: Mercado Comum Europeu, ou Comunidade Econômica Europeia (CEE), formado por Itália, Alemanha, França e Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), em vigor antes da formação da União Europeia em 1992 e da cisão da Comunidade dos Estados Independentes (CIS), formada pelos países que saíram do bloco Soviético e estabeleceram um Mercado Comum. Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 31 6. União econômica No estágio correspondente à união econômica, além da criação de um mercado comum, acon- tece a coordenação comum de políticas macroeconômicas. Desse modo, são definidos parâme- tros para execução da política fiscal. Há também, nessa etapa, a introdução de uma moeda única no mercado. Exemplo: União Europeia. 7. União política A união econômica total corresponde ao estágio mais avançado do processo de integração regional. Nesse nível de integração, os membros integrantes do bloco estabelecem a coorde- nação comum de todas as políticas econômicas. As características são as seguintes: • Unificação perfeita de todas as políticas de uma organização comum; • Submersão de todas as instituições nacionais separadas. Porém, esse tipo de integração continua sendo um tanto quanto utópico, um ideal ainda não alcançado pelos países (SOUZA, 2009). Exemplo: seria como se a União Europeia tivesse uma atuação política no Parlamento Europeu, como se fosse um único país. APROFUNDE-SE Você estudou como se dividem os blocos econômicos, mas quer se aprofundar em cada nível de integração regional? O artigo de Mayane Bento e Mário Amin Herreros vai ajudar você a entender melhor esse assunto. Título: Os desafios conceituais da integração regional e o impacto dos mega acordos regionais sobre o regime multilateral de comércio Disponível em: https://bit.ly/3kJQWAd Acesso em: 04/05/2021. 2. ACORDOS E BLOCOS COMERCIAIS – USMCA, MERCOSUL E UNIÃO EUROPEIA Dentre os principais acordos e blocos comerciais, destacam-se três de maior conhecimento geral e de maior importância para que você aprenda e se aprofunde nas diferentes diretrizes de tari- fação, logística e integração regional. https://www.researchgate.net/publication/335456139_OS_DESAFIOS_CONCEITUAIS_DA_INTEGRACAO_REGIONAL_E_OS_IMPACTOS_DOS_MEGA_ACORDOS_REGIONAIS_SOBRE_O_REGIME_MULTILATERAL_DE_COMERCIO_CONCEPTUAL_CHALLENGES_OF_REGIONAL_INTEGRATION_AND_THE_IMPACTS_OF_MEGA_RE Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 32 NAFTA-USMCA O primeiro, visto anteriormente como o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (NAFTA), esteve vigente de 1994 até o ano de 2020, quando o então presidente dos EUA, Donald Trump, “quebrou” o acordo, por indicar ser de péssima qualidade para as ações norte-americanas. Com isso, Trump, em conjunto com o presidente do México, Peña Nieto, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, criou um novo acordo comercial chamado de USMCA – United States, Mexico and Canada Agreement, que potencializa todo o mercado norte-americano e não o deixa à mercê de algumas questões prejudiciais do antigo NAFTA, como você verá a seguir. Por se tratar de uma zona de livre comércio, os EUA (assim como México e Canadá) podem fazer acordos bilaterais com outros blocos comerciais, sem a necessidade de integração dos três países no mesmo acordo. Ou seja, os EUA podem fazer um acordo com o Mercosul, por exemplo, sem a necessidade de que o México esteja inserido no processo ou até mesmo um acordo bilateral com um país, como Israel, sem a presença de ações tarifárias iguais, como a que tem com o Canadá dentro do bloco. Quando o NAFTA foi criado por Bill Clinton, em 1994, tinha como objetivos: • Eliminar barreiras alfandegárias: impostos de importação de bens e mercadorias; • Facilitar o trânsito de produtos e serviços entre os territórios dos países participantes do acordo; • Promover condições para que haja um ambiente de competição equilibrada dentro da área de abrangência do NAFTA; • Ampliar as oportunidades de investimento dentro dos países e entre os países partici- pantes do acordo; • Oferecer proteção efetiva e adequada, e garantir os direitos de propriedade intelectual no território dos países membros: esse objetivo aplica-se à produção científica e espe- cialmente à cultural. Apesar de apresentar um crescimento forte na economia norte-americana no período, os maiores incrementos foram para o Canadá e México, segundo o próprio NAFTA e dados do FMI: a) o comércio entre os membros mais do que triplicou, excedendo US$1 trilhão por ano; b) anual- mente, o investimento estrangeiro (IDE) nos Estados Unidos, no Canadá e no México aumentou de US$4 bilhões em 1993 para aproximadamente US$20 bilhões em 2006; c) tanto o Canadá quanto o México detêm, atualmente, 80% de seu comércio e 60% de suas ações de Investimento Direto Externo (IDE) com os Estados Unidos; d) exportações mexicanas para os Estados Unidos cresceram de US$50 bilhões para mais de US$160 bilhões por ano (SOUZA, 2010). No entanto, a principal crítica que movimentou a finalização do acordo se deu pelas empresas maquiladoras, que tinham isenções fiscais menores e mão de obra mais barata no México, o que fez as empresas norte-americanas preferirem colocar filiais no país latino-americano e quase “quebrarem” o setor automotivo de Detroit, por exemplo. Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 33 Outra questão foi a força que a economia norte-americana tinha para fazer negócios com o México e o Canadá, o que beneficiaria ambas as partes, visto o poderio econômico dos EUA e a dependência dos dois países em relação ao mercado norte-americano, já que seus acordos comerciais, exportações e importações eram feitos principalmente com os EUA, o que fazia com que suas economias "gravitassem", ou seja, dependessem quase que exclusivamente do impacto com o comércio norte-americano. Vislumbrando esse poderio econômico, e a perda de muito dinheiro e de trabalhadores para empresas no México e Canadá, em 2020, Donald Trump encerrou o acordo unilateralmente e resolveu criar um novo, forçando o México e o Canadá a aceitarem por bem ou por mal (pois não seriam inseridos no novo acordo se não aceitassem, além de receberem tarifas e alíquotas maiores de vendas, caso isso acontecesse). Esse acordo propôs preços de mão de obra de US$16 a hora, o que não deixaria as empresas “submissas” à mão de obra mais barata mexicana, com a criação de um novo acordo a ser firmado e remodelado a cada 16 anos, nomeado como US-Mexico-Canada Agreement (USMCA). A proposta então teve que ser aceita por Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, o qual Trump ameaçou com o aumento de tarifas no setor metalúrgico, automotivo, de laticínios e de mineração, envolvendo o mercado entre Canadá e EUA, caso não aceitasse a proposta. Como resultado, foi criado tal acordo e, mesmo com a derrota de Trump nas eleições, o USMCA continua como um bloco comercial de zona de livre comércio, agora fomentado pelas ações prin- cipalmente dos EUA com Joe Biden (2021). Mercosul O bloco mais conhecido por nós, brasileiros, por englobar o Brasil. O Mercosul foi criado em 1991 como o bloco econômico mais forte da América do Sul, nascendo com a redemocratização pós-ditaduras militares e para a aproximação entre Brasil e Argentina no final dos anos 1980, com os presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín(HERZ; HOFFMANN, 2004). Seu ápice aconteceu no governo de Fernando Collor, com a abertura de mercado de 1991/1992, no Brasil, em uma ação conjunta com Carlos Menem, na Argentina, seguindo-se a um período de forte comércio propiciado pelas ações de Fernando Henrique Cardoso com o Plano Real, nos anos 1990. Fazem parte do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela. A Venezuela está suspensa (2021), enquanto a Bolívia aguarda a ratificação parlamentar de seu protocolo de adesão como membro pleno. Os principais objetivos do bloco são: • Acelerar o processo de redemocratização dos países-membros; • Estabelecer a livre circulação de bens e serviços, uma tarifa externa e uma política comercial em comum, e políticas monetária e fiscal coordenadas; • Eliminar gradativamente os obstáculos ao comércio recíproco dos países-membros; • Impulsionar vínculos de solidariedade e cooperação entre os povos latino-americanos; Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 34 • Auxiliar no livre acesso à entrada de mercadorias no comércio exterior entre os países- -membros; • Auxiliar na entrada e saída de pessoas, como viajantes ou expatriados, sem necessidade de visto nos países-membros; • Cooperação científica e tecnológica. APROFUNDE-SE O Brasil é a maior força do Mercosul, o principal bloco comercial da América Latina. Junto com Argentina, Uruguai e Paraguai, fomenta o comércio internacional da região. Você já viu como o bloco foi formado, mas você sabe da sua importância? Título: Vídeo oficial Mercosul 2019 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=O4l_T-EcPLE Acesso em: 04/05/2021. A grande questão do Mercosul, no entanto, é por se tratar de uma união aduaneira. Esse ponto traz duas questões críticas para o Brasil e a Argentina, que costumam rotineiramente levar seus problemas comerciais para serem resolvidos pela OMC. O primeiro grande motivo é a abertura comercial brasileira e seu poderio econômico, principal- mente ligado à Tarifa Externa Comum (TEC). O Brasil detém quase 70% do resultado financeiro e do comércio internacional do Mercosul (MERCOSUL, 2020); enquanto Uruguai e Paraguai, por serem países menores e mais fracos economicamente, apoiaram-se no Fundo para Convergência Estrutural do Mercosul (FOCEM) e por isso recebem sua participação nos valores de venda da TEC sempre no mesmo percentual. A Argentina geralmente encontra um mercado inferior ao Brasil, o que a faz receber menos e reivindicar, assim, o aumento da tarifa. Mas você sabe o que é a TEC? Segundo Souza (2009), a Tarifa Externa Comum (TEC) é uma taxa comercial padroni- zada para um grupo de países, como a existente no Mercosul, usada numa união adua- neira, em uma área de livre comércio, junto a outras medidas que confirmem uma política comercial externa comum. Se for cobrada muito alta, cria barreiras comerciais tarifárias que impedem rodadas de negociações com outros blocos econômicos. https://www.youtube.com/watch?v=O4l_T-EcPLE Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 35 Com uma cobrança muito maior, a Argentina recebe mais dinheiro a curto prazo, mas em longo prazo, tanto ela quanto o Brasil acabam perdendo mais do que poderiam arrecadar caso resol- vessem “conversar”, quando, no entanto, resolvem levar problemas de barreiras comerciais, como o dumping, a serem resolvidos pela OMC. A segunda razão que impede uma melhor ação inter-regional por parte de uma união aduaneira e, mais precisamente, no caso do Mercosul, é a necessidade de se “levar” todos os países para uma rodada de negociação. Isso pode ser um desafio se considerarmos países com cenários econô- micos e políticos bem diferentes e em constantes brigas entre si, além da necessidade, neste caso, de incluir a Venezuela (mesmo suspensa e com todo o atual precário cenário econômico que apresenta). Isso impacta diretamente na demora da resolução e da criação de novos acordos econômicos com o Mercosul. Figura 1 - Países participantes do Mercosul, contendo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela (que hoje se encontra suspensa do bloco). Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 36 União Europeia O terceiro e último bloco a ser estudado é, talvez, o mais conhecido e importante, tanto no mercado de comércio e logística internacional quanto em sua atuação como uma união econô- mica, simplesmente pelo fato de ser tão integrado que possui uma moeda única para a maioria dos seus membros. A União Europeia é hoje a evolução máxima que se tem em níveis de integração regional de um bloco comercial, não apenas por agir comumente com todo o bloco na questão dos acordos e tarifas comerciais, mas principalmente pela adoção do Euro como uma moeda única. Isso cria políticas cambiais, comerciais e monetárias a serem usadas de maneira igual por todos os países do bloco, mesmo os mais fracos, através da ação do Banco Central Europeu (BCE). Mas nem toda ação da União Europeia, como união econômica, é bem-vista pelos seus países- -membros. Por isso houve, em 2016, a eleição do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, tema que será abordado mais adiante neste tópico. A União Europeia foi criada como uma evolução do Mercado Comum Europeu, com o avanço da globalização e a abertura comercial de seis membros em 1993: Itália, Alemanha, França e os países do Benelux – Bélgica, Países Baixos (Holanda) e Luxemburgo. Sua criação foi fomentada, principalmente, pelo movimento regionalista que se expandia na época e que vislumbrava: a possibilidade do cidadão europeu poder trabalhar e viajar sem a necessidade de um passaporte (o que seria conhecido como Schengen); a possibilidade de tornar-se uma região com uma única política comercial e econômica, para evitar guerras tarifárias entre seus países-membros, impul- sionando o comércio internacional entre eles e com os demais blocos comerciais; e a adoção de moeda única para facilitar ainda mais o comércio dentro das fronteiras (SOUZA, 2009). Os principais motivos para a sua criação foram, de acordo com Souza (2009): • Evitar guerra entre os países europeus e melhorar o comércio internacional; • Acessar o mercado: tarifas e barreiras não tarifárias foram eliminadas; • Remover barreiras à movimentação transnacional dos fatores de produção, como mão de obra, capital e tecnologia; • Criar regras comerciais para países-membros, que eliminassem em grande parte os procedimentos e as regulamentações aduaneiras, o que racionalizaria o transporte e a logística dentro da Europa; • Harmonizar padrões técnicos, regulamentações e procedimentos de fiscalização rela- tivos a bens, serviços e atividades comerciais. Dessa maneira, o bloco foi expandido até chegar aos 28 membros dentro da União Europeia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Suécia e Reino Unido, que está em processo de saída do bloco, deixando-o com 27 membros. Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 37 União Europeia Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Suécia e Reino Unido Já a zona do Euro é formada pelos 19 países que o utilizam como moeda de curso legal: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda) e Portugal. Todos respondem ao Banco Central Europeu (BCE), uma das principais formações institucionais que regulamentam a UE (União Europeia), sendo as demais formadas por (UE, 2021): 1. Conselhoda União Europeia: principal órgão decisório do bloco, decide as políticas econômicas e internacionais, bem como orçamentos e admissão de novos membros; 2. Comissão Europeia: representa os interesses da UE como um todo, propõe legislações e é responsável pela implementação das decisões do Parlamento e do Conselho da UE; 3. Parlamento Europeu: até 732 representantes participam de sessões a cada mês, com três funções principais: • Formar a legislação da UE; • Supervisionar as instituições da UE; • Tomar as decisões relacionadas ao orçamento da UE. 4. Corte de Justiça Europeia: interpreta e reforça as leis da UE e sedia batalhas legais entre os membros. Figura 2 - União Europeia, contemplando os 28 países-membros, ainda com o Reino Unido, que está em processo legal de saída do bloco. Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 38 Recentemente, o Reino Unido fez um referendo para sair da União Europeia. Você sabe por que ele tomou essa decisão? São quatro fatores fundamentais que impactaram na decisão da maioria da população para sair da União Europeia: Soberania A força da Alemanha sobre o Parlamento e BCE durante a crise de 2011/2012 ECONOMIA Burocratizada e comércio indiferente (sozinha estaria melhor) Social Críticas migratórias Política Nacionalismo com recentes ataques e perda de poder político na Comissão Ou seja, como você pode entender, esse crescimento muito forte e a integração de diversos países fracos economicamente impactaram de maneira significativa no resultado da saída do Reino Unido, o que mostra que podem ter mais ações como essa no futuro da União Europeia, se o Reino Unido conseguir, por exemplo, acordos comerciais melhores de maneira individual. ASSISTA Acesse na plataforma o vídeo: O Brexit Isso não foi muito aceito por um dos países formadores do Reino Unido. A Escócia foi majoritariamente contra o referendo. Ora, havia feito uma eleição a favor da independência em 2019, negada apenas para se manter na União Europeia, para um ano depois ver o país sair junto com o Reino Unido? Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 39 No entanto, em um primeiro momento, o impacto pode ser negativo, principalmente para o PIB, com uma possível queda drástica, e para as relações internacionais comerciais do Reino Unido com o resto da Europa, de tal modo que a Escócia até busca um novo referendo de independência para se manter na União Europeia. Figura 3 - Resultado da eleição do Brexit Fonte: adaptado de British Parlament (2016). Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 40 REFLITA Leia o texto a seguir, que traz dados sobre o impacto econômico da saída do Reino Unido da União Europeia: “No estudo levado a cabo pela OCDE, o Brexit é, de alguma forma, equiparado a um imposto sobre o PIB. As principais conclusões a que o estudo chega são, no essencial, as seguintes: • Todos os países da OCDE serão afetados pelo Brexit, muito embora os mais afetados sejam os países europeus; • Ocorrerá uma contração do PIB, em curto e longo prazos, no RU (Reino Unido); • Em todos os “cenários” alternativos considerados, ocorrerão consequências para o RU, em curto e longo prazos; • A curto prazo, prevê-se uma redução do PIB da ordem dos 3%; • A longo prazo, mais concretamente em 2030, prevê-se que o PIB do RU venha a ser inferior em 5% ao valor que apresentaria se se verificasse um “cenário” de permanência na UE. Já o estudo da Oxford Economics ,de 2020, aponta para estimativas do impacto do Brexit na economia do RU, que vão de uma perda de 0,1% do PIB, no “cenário” mais otimista, a uma redução de 4%, no “cenário” mais pessimista. Em relação ao setor privado, prevê-se que o investimento venha a sofrer uma redução de até 21,1 bilhões de libras esterlinas e que, no pior “cenário”, as exportações do RU venham a diminuir até 8,8% e as importações até 9,4%. [...] O estudo realizado pelo Comitê da Câmara dos Comuns procura fazer uma estimativa rigorosa dos efeitos econômicos de longo prazo do Brexit, fazendo uso de um modelo de equilíbrio geral (incluindo inputs derivados de cálculo de modelo gravitacional), tendo nomeadamente chegado às seguintes conclusões: • O PIB do RU deverá diminuir em todos os “cenários”, mais concretamente, -1,6% no caso de o RU permanecer no EEE (Espaço Econômico Europeu) e -7,7% no caso de as trocas comerciais se basearem nas regras da OMC – Organização Mundial do Comércio; • Os setores da economia britânica mais afetados pelo Brexit deverão ser o automobilístico, o químico e o farmacêutico; • O setor financeiro deverá ser profundamente afetado pelo Brexit se não houver uma negociação que permita a manutenção da possibilidade de os bancos britânicos continuarem a operar no mercado europeu” (SOUSA, 2020). Com base no texto, avalie se o impacto do Brexit realmente será benéfico para o país na sua visão. Caso queira ler o artigo completo, ele está disponível em: http://dspace.lis.ulusiada.pt/ bitstream/11067/5597/3/lee_28_2020_03.pdf Isso indica o quanto fazer parte de uma União Econômica, com a força da União Europeia, sustenta o crescimento econômico e, principalmente, comercial dos países pertencentes ao bloco, sobre- tudo para as ações mais abertas de comércio internacional, as quais buscam derrubar as barreiras comerciais que os países podem criar através de “guerras comerciais”. http://dspace.lis.ulusiada.pt/bitstream/11067/5597/3/lee_28_2020_03.pdf http://dspace.lis.ulusiada.pt/bitstream/11067/5597/3/lee_28_2020_03.pdf Logística internacional | Unidade 2 - Acordos e blocos comerciais 41 3. BARREIRAS COMERCIAIS, TRIBUTÁRIAS E ALFANDEGÁRIAS As “guerras comerciais” são ações que os países ou blocos tomam para proteger o comércio internacional de seu próprio país ou bloco, para que este consiga melhorar os resultados dentro do movimento de exportação e importação. São utilizadas duas práticas para esse controle, conhecidas como “barreiras comerciais” por impactar todo o sistema de comércio internacional e prejudicar o livre movimento do segmento. Estipula, assim, questões sobre o livre acesso de trânsito de mercadorias, tanto na forma tari- fária – as chamadas barreiras tarifárias – quanto nas ações de políticas econômicas que visam o comércio entre os países, para obter vantagem nele – as barreiras não tarifárias. Antes de entendermos cada uma delas, você deve compreender que o movimento livre do comércio, sem o impacto dessas barreiras comerciais ou da ação da OMC, que é requisitada para resolver problemas resultantes dessas barreiras, é o melhor cenário possível do comércio inter- nacional de bens e serviços, como o vencedor do prêmio Nobel de Economia de 1976, Milton Friedman, prega. Essa ação, chamada de liberalismo econômico, vai além de ações no mercado interno e deve ser praticada também no mercado internacional para incremento das ações econômicas de um país. Por exemplo, o foco em promover a produção de um simples produto básico, como um lápis, vai requisitar não apenas mão de obra, trabalho, pagamento e ações comerciais e alfandegárias, mas também o movimento de livre comércio para comprar grafite, madeira, borracha e aço de diversos países, que inclusive podem sequer ter relação conjunta ou até viver em guerra. Para Friedman, esse cenário abre todo o mercado externo e promove o movimento econômico, político e até das ações interpessoais no crescimento significativo do comércio externo, já que, em sua tese, não há nada que bloqueie o movimento internacional de venda de produtos, contando com uma ação conjunta dos países, sociedade e blocos comerciais. APROFUNDE-SE Por que é necessário um comércio internacional aberto e sem barreiras comerciais? Veja, pela visão do vencedor do prêmio Nobel de Economia, a integração global na manufatura de um lápis. Título: Milton Friedman - "A História de um Lápis" Disponível em: https://youtu.be/skx8a90xI78 Acesso em: 04/05/2021. https://youtu.be/skx8a90xI78
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