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INTRODUÇÃO À PEDAGOGIA Daiane Duarte Lopes Revisão técnica Marcia Paul Waquil Assistente Social Mestre em Educação Doutora em Educação Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 L732i Lima, Caroline Costa Nunes. Introdução à pedagogia / Caroline Costa Nunes Lima, Daiane Duarte Lopes, Alex Ribeiro Nunes ; [revisão técnica: Marcia Paul Waquil]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 207 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-376-5 1. Pedagogia. I. Lopes, Daiane Duarte. II. Nunes, Alex Ribeiro. III. Título. CDU 37.01 Pedagogia no Brasil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar o legado histórico da Pedagogia no Brasil. � Reconhecer a LDB como o documento normativo que rege a edu- cação brasileira. � Identificar, na atualidade, a formação do pedagogo no contexto his- tórico/social brasileiro. Introdução Neste capítulo, poderemos analisar o legado histórico da Pedagogia no Brasil com os diversos atravessamentos causados pela diversidade histórica e cultural. Será ilustrado um panorama sobre a LDB, no qual poderemos reconhecer a sua importância normativa para a regência da educação brasileira. Por fim, identificaremos, na atualidade, a formação do pedagogo no contexto histórico/social brasileiro. O legado histórico da Pedagogia no Brasil O curso de Pedagogia no Brasil, desde a sua criação, em 1939, foi marcado pela busca de uma identidade e por sua consolidação enquanto um campo epistemológico próprio. Nesse sentido, sua constituição foi caracterizada pela composição de fundamentos da Filosofia, das Ciências Sociais, da Psi- cologia, entre outras, objetivando que estas colaborassem com subsídios para a compreensão dos processos educativos de uma maneira mais ampla, contribuindo com a apreensão dos processos para além dos ambientes educa- cionais, mas que contemplasse todo o contexto social e cultural dos sujeitos U N I D A D E 3 na sociedade. Dessa forma, a Pedagogia no Brasil recebeu forte influência de todo o percurso da educação no Brasil, bem como seu legado social, cultural e político (KADLUBITSKI; JUNQUEIRA, 2009). A educação no Brasil teve sua construção estruturada pela catequização dos povos indígenas. Educação essa que, inicialmente, tinha como objetivo primordial a transformação de condutas, focando na alfabetização ou nos processos pedagógicos somente o necessário para o condicionamento de novos comportamentos (CALEGARI, 2014). Os jesuítas foram os primeiros a inaugurar um modelo educacional no Brasil. Para isso, buscaram preservar os costumes indígenas, utilizando, muitas vezes, suas músicas e seus instrumentos tribais para promover uma aproximação entre os povos (europeus e indígenas). Dessa maneira, os jesuítas evangelizavam utilizando as letras musicais, os autos, que eram as encena- ções teatrais, bem como as danças típicas dos povos Tupis, o que promoveu, lentamente, uma migração dos costumes indígenas para os da civilização europeia (FRANCA, 1952). Nesse período, duas personalidades fizeram frente para a construção educacional no Brasil: Manoel da Nóbrega (1517-1570) e Inácio de Loiola (1491-1556). Manuel da Nóbrega foi o sacerdote jesuíta que instaurou a cons- trução do primeiro modelo de escola, a partir da necessidade de atender aos filhos dos europeus. Por meio de cartas, ele designava o delineamento de um modelo pedagógico focado na leitura e na escrita. Inácio de Loiola era fundador da companhia de Jesus e foi o responsável pela reforma cristã que inseriu o estudo de áreas de conhecimento, como hu- manidades, Filosofia e, posteriormente, Teologia em um programa educacional chamado de Ratio Studiorum (CALEGARI, 2014). Nos dois primeiros séculos depois da chegada dos portugueses ao Brasil, os jesuítas construíram, conforme suas crenças e seus saberes, a educação do Brasil. O controle da população e a passividade conformada dos povos indígenas com a colaboração de trabalho explorador das terras, sob uma justi- ficativa educacional, o que possibilitou a exploração de recursos do território brasileiro, foram derivados da proximidade pacífica dos jesuítas. É impor- tante conhecermos esse processo inicial para compreender sobre a origem do sistema educacional no Brasil, tendo em vista, como podemos entender pela história, que a educação foi inicialmente forjada a serviço da obediência e da resignação (CALEGARI, 2014). Os jesuítas também inauguraram, no final do século XVII, a primeira universidade no Brasil. Nesta, foram formados, durante o século XVIII e XIX, novos sacerdotes, engenheiros e doutores (FRANCA, 1952). Em 1890, Pedagogia no Brasil2 a necessidade de criação de um curso normal superior foi defendida por Caetano de Campos, no entanto, tal proposta não se efetivou. Foi na década de 1920 que Sampaio Dória idealizou a construção da faculdade de educação para a formação de inspetores, diretores de escolas normais, ginásios e grupos escolares, além de professores para escolas complementares. Embora esse projeto tenha se tornado lei, ele não teve sua consolidação e somente uma década depois, dentro da faculdade de Filosofia, que a trajetória do curso de Pedagogia teve seu início (VIEIRA, 2008), coincidentemente em um momento histórico em que o mercado de trabalho passou a se tornar mais exigente, sob a influência do panorama econômico de países mais emergentes. Década de 1930 Na década de 1930, quatro projetos de qualificação do Magistério se afirma- ram, entre eles o Instituto de Educação da Universidade de São Paulo, criado por Fernando de Azevedo, em 1934, e a Escola de Educação da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, em 1935, criada por Anísio Teixeira (EVANGELISTA, 2002). No entanto, o golpe de estado pôs fim aos projetos que se referiam ao curso de Pedagogia como formador de professores, con- solidando a criação da Universidade do Brasil em 1937, resultando, a partir desse projeto, na criação da Faculdade de Filosofia. Nesse período, o curso se destinava à formação de quadros técnicos administrativos para a educação e de professor para as escolas normais. O curso de Pedagogia foi criado pelo Decreto-Lei nº 1190, de 04 de abril de 1939, formando, inicialmente, bacharéis, respeitando um padrão curricular no qual o bacharel, formado em um curso com duração de três anos, que desejasse se licenciar, completaria seus estudos com mais um ano no curso de Didática. Os pedagogos que concluíam o curso de Bacharel em Pedagogia atuavam em cargos técnicos de educação no Ministério da Educação e os pedagogos que complementavam sua formação com o curso de didática se tornavam licenciados, ou seja, estavam habilitados ao magistério no Ensino Secundário e Normal (VIEIRA, 2008). É importante saber que o curso de Pedagogia surgiu em um período mar- cado por intenso debate político relacionado às questões educacionais, espe- cialmente com discussões sobre a formação docente, por se considerar que a educação tinha um papel fundamental na construção do país, com destaque para a construção de uma cultura em que a ciência e a técnica estruturariam a racionalização do trabalho e a composição de políticas públicas, bem como 3Pedagogia no Brasil a projeção brasileira internacional. Dessa maneira, criar universidades e formar professores secundários fez parte de uma estratégia para a reforma da sociedade, o que só poderia ser possível com uma reforma educacional que potencializava a formação docente, atribuindo uma espécie de redenção, pois a educação representava a possibilidade de criar soluções para os problemas mais estruturais que, já nessa época, assolavam o país (VIEIRA, 2008). Décadas de 1940 e 1950 Foi em 1945, com a denominada Redemocratização do país, que as discussões acerca da democratização do ensino e da igualdade de oportunidades que o papel do pedagogo foi mais bem conceituado, podendo expandir a sua prática aos chamados Ensino Primário e Ensino Secundário. Dessamaneira, além de atuarem como docentes em disciplinas dos cursos de educação, esses profissionais passaram a poder exercer sua prática em disciplinas de Filosofia, História e Matemática no Ensino Secundário (CHAVES, 1980). A formação docente entra em foco nesse período e o modelo educacional implementado na década de 1930 sofre uma crise no final da década de 1950, sendo necessário, a partir de então, a criação de diretrizes básicas para uma educação que contemplasse todas as classes sociais (AGUIAR; SCHEIBE, 1999). Décadas de 1960 e 1970 Na década de 1960, a Pedagogia começou a ser amparada pela formação de leis e decretos, designados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), para a construção de um Conselho Federal de Educação, criado pela Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. O conselho passou a organizar a criação de currículos mínimos para vários cursos de graduação, entre os quais está o de Pedagogia. Em 1962, o Parecer nº 251 regulamentou o curso de Pedagogia, recomendando a necessidade de o professor primário ter formação de Ensino Superior, fixando também o tempo de duração do curso de Pedagogia, bem como um currículo que formasse uma unidade básica nacional de conteúdos (VIEIRA, 2008). No entanto, a proposta do parecer não foi muito bem vista pelos educadores que reivindicavam um currículo mais flexível e coerente com as peculiaridades de cada região do país. A maioria das orientações do parecer nunca foram postas em prática. O início da década de 1960 foi marcada pela problema- Pedagogia no Brasil4 tização das estruturas da sociedade, acarretando em extensas discussões e pesquisas sobre os rumos que a educação brasileira poderia tomar. Então, após uma construção democrática, criada no mundo pós-segunda guerra mundial, o Brasil é assaltado pelo Golpe Militar em 1964 (CHAVES, 1980). Eis que todas as discussões e construções de um pensamento coletivo passaram a ser censuradas e silenciadas. A partir disso, o Decreto-Lei nº 53/66 designou novas normas para a for- mação em Pedagogia, fixando princípios e normas de organização para as universidades federais, unificando as faculdades de Filosofia, Ciências e Letras. Esse decreto também fixou normas de organização e funcionamento do Ensino Superior e, em 1968, foi anexada a Lei nº 5.540, a qual definiu a atuação do pedagogo no sistema de ensino como especialista, podendo exercer funções na administração, no planejamento, na inspeção, na supervisão e na orientação, manteve a habilitação do pedagogo apenas para a docência em nível médio e nível superior, designando então a formação do professor de ensino primário pela habilitação no Magistério, conforme a Lei nº 5.692, que foi criada na reforma de 1971 (VIEIRA, 2008). Outro parecer do Conselho Federal de Educação também exerceu considerá- vel importância. O Parecer nº 252/69 extinguiu a separação entre Bacharelado e Licenciatura em Pedagogia, ao mesmo tempo em que inseriu a caracterização de Especialista em Administração Escolar, Inspeção Escolar, Supervisão Pedagógica e Orientação Educacional e a habilitação para a docência nas dis- ciplinas pedagógicas dos cursos de formação de professores, implementando a titulação como Licenciatura em qualquer uma das habilitações, determinando então que a disciplina de didática fosse obrigatória a quaisquer habilitações e ainda instituindo a obrigatoriedade de estágio supervisionado (AGUIAR; SCHEIBE, 1999). Décadas de 1980 e 1990 Embora o início da década de 1980 ainda estivesse sob Regime Militar, os educadores estavam interessados na construção de uma política de formação para o profissional da educação e, a partir dessa inquietação, organizaram a I Conferência Brasileira de Educação (CBE), a qual foi reunida em São Paulo em 1980, sendo este um importante marco para as discussões a respeito da formação do pedagogo e do professor, pois foi criado o Comitê Nacional Pró-Reformulação dos Cursos de Pedagogia e Licenciaturas com o objetivo de estimular educadores e estudantes para a problematização, em torno de 5Pedagogia no Brasil novos possíveis formatos e conteúdos dos cursos de formação dos educadores (VIEIRA, 2008). A década de 1980 referiu significativa importância para os pedagogos, devido à realização de diversos encontros, visando a discutir e a buscar criar novos rumos para a formação desses profissionais. Tanto em São Paulo, com a CBE, como em Belo Horizonte, com o Comitê em Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação de Educadores (CONARCFE), as elaborações dos encontros produziram rupturas com um modelo tecnicista da formação e da prática do pedagogo, promovendo a conscientização do caráter sócio-histórico dos pedagogos. Em 1990, o CONARCFE se transformou na Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) devido ao caráter formal e permanente de suas atividades (AGUIAR; SCHEIBE, 1999). O processo de redemocratização do Brasil foi consideravelmente influen- ciado pela atuação política dos professores que atuaram, fortemente, como facilitadores da apropriação e da responsabilização do cidadão enquanto agente de transformação, atribuindo maior valor à formação do pedagogo como um potencializador dos processos democráticos, viabilizando a concretização das mudanças. Em meio a esse processo de redemocratização, o Brasil necessitou acompa- nhar a reestruturação da economia mundial e, dessa forma, aderir a políticas neoliberais. Foi nesse momento que o Ministro da Educação, Murílio Hingel, do governo do então presidente Fernando Collor de Melo, elaborou o chamado Plano Decenal de Educação para Todos, em 1993. Este é um documento que atestava a adesão do Estado brasileiro às diretrizes internacionais para a educação (VIEIRA, 2008). A readequação do Brasil, nesse período, originou uma sucessão de leis, decretos, resoluções e pareceres na tentativa de sistematizar uma atuação mais efetiva e concreta do papel do Estado. Tais normativas acabaram por gerar novas configurações na educação nacional, o que acarretou na criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9.394, de dezembro de 1996. A mais importante lei brasileira que se refere à educação é composta por 92 artigos, os quais tratam sobre os temas mais pertinentes da educação brasileira, abrangendo desde o Ensino Infantil até o Ensino Superior, bem como a formação dos pedagogos. Pedagogia no Brasil6 Diferença entre a formação em Pedagogia e outras licenciaturas Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96 Inspirada em princípios da Constituição Federal Brasileira, a LDB, também chamada de Lei nº 9.394/96, é um conjunto de normas que legisla e define, regulamentando o sistema educacional brasileiro, seja ele público ou privado, determinando o direito à educação de todos os cidadãos, desde a Educação Básica até o Ensino Superior. Referida pela primeira vez no ano de 1934, a LDB foi criada efetivamente em 1961 e passou por duas publicações até executar, em 1996, a sua versão definitiva, a qual está em exercício até hoje no Brasil (BRASIL, 1996). A sua criação determina os deveres do Estado brasileiro, estabelecendo as responsabilidades de cada âmbito administrativo – União, Distrito Federal e municípios –, em colaboração mútua, bem como os princípios que regem a educação. Ou seja, a LDB acolhe temas como os recursos financeiros e também a formação dos profissionais da educação. A LDB prevê uma gestão democrática do ensino público, bem como uma contínua e progressiva autonomia pedagógica e administrativa da gestão financeira das unidades escolares. Assim, as escolas podem criar seus projetos políticos pedagógicos (PPPs) junto com a comunidade escolar – famílias, 7Pedagogia no Brasil alunos e comunidade –, constituindo apropriação e singularização da proposta pedagógica de acordo com os costumes e as condições do contexto. Com esse projeto, é possível viabilizar formas de gerir parte dos recursos financeiros querecebem, desde que o façam de acordo com as normas (BRASIL, 1996). Determinando que a educação brasileira seja provida em dois níveis, Edu- cação Básica e Ensino Superior, a LDB entende que a Educação Básica englobe Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. No Artigo 5º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI –, a Educação Infantil corresponde à primeira etapa da Educação Básica, sendo esta oferecida em creches e pré-escolas, as quais são caracterizadas como espaços institucionais não domésticos. Esses estabelecimentos educacionais podem ser públicos ou privados e é neles onde se educa e cuida de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial. Esses locais são regulados e supervisionados pelo órgão competente do sistema de ensino e submetidos ao controle social, caracterizando como práticas pedagógicas, nessa etapa do desenvolvimento, a composição de propostas curriculares, tendo como eixos norteadores as interações e as brincadeiras (BRASIL, 2010). Na teoria, os municípios também são responsáveis pela oferta gratuita do Ensino Fundamental, caracterizado pelos anos iniciais (1º ao 5º ano) e anos finais (6º ao 9º ano). Contudo, na prática, o município atende aos anos iniciais e o Estado acolhe os anos finais (BRASIL, 1996). O Ensino Médio, compreendido em três anos, também pode ter incluso o Ensino Técnico e Profissionalizante e atua como preparatório para o ingresso no Ensino Superior, além de ser de inteira responsabilidade do Estado. Em 2017, a Lei nº 13.415, que propôs a chamada Reforma do Ensino Médio, cita mudanças no Artigo 36º. Com essas mudanças, o currículo do Ensino Médio passa a ser composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, os quais deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, compreendendo, dessa forma, as seguintes áreas de aprendizagem: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas; e formação técnica e profissional (BRASIL, 2017). O Ensino Superior pode ser ofertado pelo Estado ou pelo município, mas é uma atribuição da União, bem como é de competência desta a fiscalização das instituições privadas (BRASIL, 1996). Pedagogia no Brasil8 Nesses níveis educacionais — básico e superior —, existem ainda modali- dades específicas de educação, como a educação especial, preferencialmente oferecida pela rede regular de ensino, o ensino a distância, com exceção do período de ensino fundamental, a educação de jovens e adultos e a educação indígena, planejando o ensino com respeito às peculiaridades dos índios, fortalecendo as práticas socioculturais e a língua materna de cada comunidade (BRASIL, 1996). A educação especial, de acordo com a LDB, idealmente busca estimular que o sistema escolar esteja preparado para atender a todas as diferenças, concedendo um acesso igualitário e uma educação integralmente de qualidade, além de disponibilizar ao corpo docente uma formação continuada e um am- biente escolar que tenha as condições adequadas de trabalho, possibilitando, assim, a participação efetiva do aluno com deficiência, sem que este ocupe o espaço apenas como um corpo estranho na turma regular (BRASIL, 1996). Em sua última atualização, ocorrida em 2016, a LDB determinou a equa- lização dos níveis de ensino com a Base Nacional Comum Curricular, con- templando itinerários formativos específicos e comuns em todo o território nacional, inclusive para as escolas particulares, e pretendendo contemplar a ênfase em áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional (BRASIL, 1996). O curso de Pedagogia no Brasil foi mediado pela criação de algumas re- gulamentações, entre as quais está o Decreto-Lei nº 1.190/1939, que instituiu a criação do curso de Pedagogia, o Parecer nº 251/1962, que estabeleceu os conteúdos mínimos para o curso, o Parecer nº 252/1969, que fixou o currículo mínimo, bem como a duração do curso e a resolução CNE/CP nº 1/2006, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica, em Nível Superior, com o curso de Licenciatura de Graduação Plena. A LDB promoveu discussões sobre a formação docente, com questões sobre o propósito e a função do pedagogo (ARANTES; GEBRAN, 2013). Tais mediações inspiraram as propostas do PNE (Plano Nacional de Educação) nos aspectos relacionados ao fazer pedagógico e à constante necessidade de formação continuada do saber docente. 9Pedagogia no Brasil O PNE determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional dos próximos 10 anos, de acordo com a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, compreendendo, atualmente, o período de 2014 a 2024. Divido em 4 blocos de metas, tendo, no primeiro, as metas estruturantes para a garantia do direito à Educação Básica com qualidade para, dessa forma, promover a garantia do acesso à universalização do ensino obrigatório e a ampliação das oportunidades educacionais. No segundo bloco há as metas especi- ficamente relacionadas à redução das desigualdades e à valorização da diversidade, entendendo, assim, os caminhos imprescindíveis para a equidade. O terceiro abrange as metas para a valorização dos profissionais da educação, sendo essa meta considerada estratégica e fundamental para que as anteriores sejam atingidas. Por fim, o quarto bloco engloba as metas referentes ao Ensino Superior. Fonte: Brasil ([2018?]). A formação do pedagogo na atualidade O Plano Nacional de Educação (PNE) pretende, no terceiro eixo de metas, que haja a formação específica de Nível Superior nas áreas de conhecimento em que atuam todos os professores da Educação Básica. O Curso normal Superior em Pedagogia compreende, para a formação de professores da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental, programas de formação continuada que possibilitem a atualização profissional de docentes da Educação Básica e programas de formação pedagógica para profissionais que, embora não estejam matriculados em cursos de Licenciaturas, queiram ensinar nas séries iniciais do Ensino Fundamental, Médio ou na Educação Profissional de Nível Técnico em áreas de conhecimento ou disciplinas de sua especialidade. Além de garantir, como referido na Meta 15, um regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, no prazo de um ano de vigência desse PNE, a Política Nacional de Formação de Professores, que trata os incisos I, II e III, do caput do artigo 61º da LDB, assegura que todos os professores e professoras da Educação Básica tenham formação especifica de nível superior, obtida em Curso de Licenciatura na área de conhecimento em que atuam (BRASIL, 2014). A Resolução CNE/CP 1/06 prevê uma amplitude na formação do pedagogo, contando com a prática pedagógica e o estágio supervisionado (BRASIL, Pedagogia no Brasil10 2006). Atualmente, com o fluxo constante de comunicação, transmutação de ideias e inovações em todos os setores do viver, o pedagogo se posiciona para ocupar lugares inusitados e extremamente necessitados dessa prática. Dessa maneira, o pedagogo hoje tem como campo profissional uma in- finidade de propostas, não apenas pelo momento histórico com acentuada renovação de conhecimentos, mas principalmente pela atuação do pedagogo em conceituar uma pluralidade na construção do saber entre as diversas culturas na sociedade, com base no respeito pela diferença. Sua formação deve, prioritariamente, buscar atender à multiplicidade desse campo prático, proporcionando reflexão e problematização do papel do pedagogo, seja dentro do contexto escolar, seja nas mais diversas instituições ou ambientes da co- munidade, como os movimentos sociais, os meios de comunicação de massa, as empresas,os hospitais, as instituições penitenciárias, os projetos culturais ou os programas comunitários com propostas para melhorar a qualidade de vida (LIBÂNEO, 1996). Portanto, os cursos de formação do pedagogo precisam estar despertos para a constante construção e reformulação de seus papéis como norteadores no processo de formação dos profissionais da educação, como consta nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. Na formação do pedagogo, os princípios constitucionais e legais obrigatoriamente considerarão: a diversidade social, étnico-racial e regional do país; a organização federativa do Estado brasileiro; a pluralidade de ideias e concepções pedagógicas; o conjunto de competências dos estabelecimentos de ensino e dos docentes; e o princípio da gestão democrática e da autonomia (BRASIL, 2006). A formação do pedagogo deve buscar contemplar a educação dos sujeitos, visando à sua cidadania, direcionando sua atuação por meio de “[...] ética, justiça, dialogicidade, respeito mútuo, solidariedade, tolerância, reconheci- mento da diversidade, valorização das diferentes culturas” (BRASIL, 2005, documento on-line) e pelas repercussões do contexto social. No ambiente educacional, a potência do pedagogo é ainda mais exigida, principalmente na atualidade, com a constante fluidez das informações, bem como a ne- cessidade de elaboração de temas relacionados à educação nas relações de gênero, nas relações étnico-raciais, na educação sexual, na sustentabilidade e na preservação do meio ambiente, relacionando a saúde e a qualidade de vida, além de outras questões de relevância local, regional, nacional e até mesmo internacional (LIBÂNEO, 1998). 11Pedagogia no Brasil A formação do pedagogo é como um fio que costura a prática do pedagogo ao ser pedagogo. É possível afirmar que o esse profissional nunca conclui sua formação, tendo em vista que sua prática exige estar em constante atualização, inspirada pelo contexto social e histórico em que está inserido. 1. Como o curso de Pedagogia foi criado no Brasil? a) Por um Decreto-Lei. b) Por Manuel da Nóbrega. c) De acordo com um Decreto de Portugal. d) Devido a exigências internacionais. e) Inicialmente o curso de Pedagogia era chamado de Didática. 2. Quais discussões o curso de Graduação em Pedagogia fez emergir logo após seu surgimento? a) Sobre a situação do ambiente educacional; b) Sobre a educação direcionada pela religião; c) Sobre a importância do ensino da escrita e leitura; d) Sobre as metodologias e teorias que seriam utilizadas; e) Sobre a formação docente; 3. Qual legislação inspirada nas diretrizes da educação, constantes na constituição federal, prevê uma gestão democrática do ensino público, assim como uma contínua e Pedagogia no Brasil12 progressiva autonomia pedagógica e administrativa da gestão financeira das unidades escolares? a) Normativas do conselho federal de educação. b) LDB Lei nº 9.394/96. c) Diretrizes da Primeira Conferência de Educação Brasileira. d) Diretrizes do Plano Decenal de Educação para Todos. e) Normativas da Base Nacional Curricular. 4. Como a ANFOPE influenciou a prática pedagógica? a) Criando debates sobre as melhores metodologias de ensino. b) Determinando regimentos internos para as escolas. c) Promovendo a integração somente do caráter sócio- -histórico dos pedagogos. d) Influenciando os teóricos da educação. e) Estabelecendo vínculo com teorias internacionalistas. 5. Hoje, o pedagogo tem como campo profissional uma infinidade de propostas em diversos contextos, mas o que a formação do pedagogo contribui para a prática comum a todos os ambientes? a) Sua didática. b) Sua base curricular. c) A proposta pedagógica determinada pelo curso de formação. d) As teorias metodológicas. e) A pluralidade na construção do saber entre as diversas culturas na sociedade, com base no respeito à diferença. AGUIAR, M.; SCHEIBE, L. Formação de profissionais da educação no Brasil: o curso de pedagogia em questão. Revista Educação & Sociedade, ano 20, n. 68, dez. 1999. ARANTES, A. P. P.; GEBRAN, R. A. Docência no Ensino Superior: trajetórias e saberes. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2013. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licencia- tura. Brasília, DF, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ rcp01_06.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2018. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 23 mar. 2018. 13Pedagogia no Brasil BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF, 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso em: 23 mar. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http:// www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13415-16-fevereiro-2017-784336-publica- caooriginal-152003-pl.html>. Acesso em: 23 mar. 2018. BRASIL. Parecer CNE/CP nº:5. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Peda- gogia. Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ pcp05_05.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. 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