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Introdução à profissão - Fundamentos da Fisioterapia

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Introdução à profissão - Fundamentos da Fisioterapia
1. Introdução à fisioterapia
1.1 Definição de Fisioterapia
A palavra fisioterapia é composta dos elementos gregos physis (natureza) e
therapeia (tratamento). Desse modo, seria o tratamento do que é próprio da
natureza.
O filósofo grego Aristóteles (384 a 322 a.C) estudou muito o conceito de natureza (a
physis grega). Para ele, “natureza é o princípio e a causa do movimento e do
repouso, é a substância das coisas que tem o princípio do movimento em si
próprias” (ABBAGNANO,1998, p.699). Talvez venha daí o conceito de fisioterapia
como a ciência do movimento.
Mas tratamento, o que é? Tratar significa servir, dar assistência. Assim, a
Fisioterapia seria aquilo que “dá assistência ao movimento”.
O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional considera
- que a fisioterapia é uma ciência aplicada, cujo objeto de estudos é o
movimento humano em todas as suas formas de expressão e
potencialidades, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas
repercussões psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter,
desenvolver ou restaurar a integridade de órgão, sistema ou função”
(COFFITO-80).
- Esse mesmo Conselho diz que “Fisioterapia é uma Ciência da Saúde que
estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em
órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por
traumas e por doenças adquiridas. Fundamenta suas ações em mecanismos
terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da Biologia, das ciências
morfológicas. Fisiológicas, patológicas, bioquímicas, biofísicas,
biomecânicas, cinesioterápicas, além das disciplinas sociais e
comportamentais” (COFFITO, s.d.).
Podemos ver nessas definições dois pontos fundamentais para entendermos melhor
o que vem a ser a fisioterapia. Fisioterapia é uma ciência, e, portanto, tem
conhecimento próprio e comprovação de sua eficácia. Seus profissionais trabalham
baseados em evidências científicas, buscando melhorar a qualidade de vida dos
pacientes.
A fisioterapia trabalha com os distúrbios do movimento humano, também
chamados de distúrbios cinéticos funcionais. Utilizando-se de recursos físicos e
mecânicos, é capaz de prevenir e tratar os desajustes da biomecânica e da
funcionalidade humana.
Assim, o objeto de trabalho da fisioterapia engloba não só o movimento do sistema
locomotor (ossos, músculos e articulações), mas todas as demais funções do corpo
humano, fundamentais para garantir a vida e a realização das mais diversas tarefas.
1.2 Objeto de trabalho da fisioterapia
Objeto de trabalho significa o que será transformado, a matéria-prima, aquilo sobre o qual
age a ação do trabalhador. No caso da fisioterapia, podemos dizer que são as funções do
corpo humano.
Assim, a fisioterapia trabalha com todas as funções humanas: motora (a primeira a ser
lembrada quando se trata de fisioterapia), respiratória, cardíaca, nervosa, sensorial, urinária
etc.
A forma como a fisioterapia se apropria do seu objeto de trabalho é no sentido de usar seus
recursos próprios para manter, tratar e reabilitar essas funções. Barros (2011, p. 89)
considera “o estudo do movimento humano (cinesiologia) a principal base científica para os
tratamentos desenvolvidos pelos fisioterapeutas”.
O fisioterapeuta deve estar atento para a eficácia do movimento, traduzida pela função.
Muitas podem ser as causas das dificuldades dos pacientes em realizarem suas funções:
doenças congênitas ou adquiridas, traumas, pós-operatório. Também há a dor e o medo,
que podem ser altamente incapacitantes.
Assim, o fisioterapeuta deve considerar aspectos do paciente que vão além do físico: seu
estado emocional e psicológico, suas expectativas, seu estilo de vida, por exemplo. Por isso,
cada atendimento é único, estabelecido de forma individual. O fisioterapeuta deve buscar
melhorar a qualidade de vida de seus pacientes.
Para atuar na fisioterapia, além de preencher as exigências legais, deve-se ter
conhecimento do campo de atuação, das técnicas de diagnóstico e de tratamento e, não
menos importante, saber se relacionar com o paciente e enxergá-lo como um ser humano,
com todas suas potencialidades. O profissional fisioterapeuta deve ir além da aplicação das
técnicas.
2. O profissional fisioterapeuta
O que é necessário para ser um fisioterapeuta? Quais características pessoais são
desejáveis para esse profissional?
A fisioterapia é considerada uma das profissões mais novas da saúde. Ela foi
regulamentada no Brasil como profissão pelo Decreto-Lei n. 938, de 13 de outubro
de 1969, que concedeu ao fisioterapeuta, e também ao terapeuta ocupacional, o
exercício de suas profissões, sendo considerado um profissional diplomado por
escolas e cursos reconhecidos e de nível superior (MARQUES, 2017).
2.1 Exercício da profissão
Para o exercício da atividade profissional de fisioterapia, além da formação em
curso superior, é obrigatória a inscrição no Conselho Regional (Conselho
profissional) da circunscrição em que atuar, na forma da legislação em vigor, mantendo
obrigatoriamente seus dados cadastrais atualizados junto ao sistema
COFFITO/CREFITOS (COFFITO-424).
Toda empresa que presta assistência fisioterápica e/ou está ligada à produção de
equipamentos usados na fisioterapia precisa, obrigatoriamente, se registrar no Conselho
Regional. E, no momento da solicitação de seu registro, deverá apresentar profissional
fisioterapeuta para assumir a responsabilidade técnica da empresa perante o órgão de
fiscalização.
2.2 Perfil do profissional
Se você caminhar por uma grande universidade, perceberá que há grupos distintos de
estudantes, não somente diferentes na forma de se vestir, falar e se comportar, mas
também nos valores e nas características pessoais.
As pessoas escolhem que profissão seguir baseadas nas suas funções, no mercado de
trabalho, no salário e no status. Também levam em consideração suas habilidades,
preferências e personalidade. Vamos pensar: quais seriam as competências pessoais
importantes para o fisioterapeuta?
Podemos observar que,
além do conhecimento
sobre o corpo humano e
técnicas de tratamento, o
fisioterapeuta deve ter
outras habilidades.
A comunicação é uma
habilidade importante. O
fisioterapeuta deve
sempre explicar ao
paciente e seus familiares
a importância do seu
trabalho, e da
colaboração durante as
sessões e nas
orientações domiciliares.
Também deve se
comunicar de forma
eficiente e cortês com os
demais membros da
equipe de saúde, para
que juntos proporcionem
o melhor para os
pacientes. O paciente
que procura a fisioterapia, muitas vezes, tem dor, está com medo, vergonha, triste,
apático, ou até mesmo revoltado com sua situação. Assim, entram em jogo as
habilidades de contornar situações adversas, ter equilíbrio emocional, perseverança,
dinamismo e criatividade.
O trabalho do fisioterapeuta exige uma boa disposição física para acompanhar os
pacientes durante os exercícios. Assim, além das habilidades intelectuais e
emocionais, necessita também de habilidades físicas: habilidade motora e
capacidade motora fina.
O fisioterapeuta usa suas habilidades em todas as etapas do chamado processo
fisioterápico.
3. O processo fisioterápico
As atividades do fisioterapeuta estão ordenadas no chamado processo fisioterápico,
cujo objetivo é sanar ou minimizar as queixas e dificuldades do paciente. Para isso,
o fisioterapeuta utiliza-se dos seus conhecimentos e dos recursos próprios da
profissão, como a cinesioterapia, a eletroterapia, a mecanoterapia, entre outros.
3.1 Etapas do processo fisioterápico
O fisioterapeuta é habilitado para diagnosticar distúrbios cinético-funcionais, fazer
prognósticos e prescrições, além de intervenções e alta. O desenvolvimento das
competências e habilidades inerentes ao seu perfil profissional devem fluir com
responsabilidade, ética e autonomia (CREFITO-1).
O que acontece durante uma sessão de fisioterapia? Ela se inicia com a consulta, que é
a primeira etapa do processo fisioterápico.
1 - Consulta: o paciente pode chegar ao fisioterapeutapor demanda espontânea, ou
seja, ir diretamente a esse profissional. Ou então pode chegar encaminhado por outro
profissional, geralmente um médico. É papel do médico realizar o diagnóstico médico,
que nada mais é do que o reconhecimento da doença que o paciente tem.
A partir dessa doença, o fisioterapeuta busca entender como ela se manifesta naquele
paciente, quais suas queixas e alterações funcionais. Durante a consulta, o
fisioterapeuta realiza a anamnese, que é uma entrevista, na qual serão levantadas a
queixa principal do paciente, a história da sua doença, a presença de outras
enfermidades e alterações, seus antecedentes pessoais e familiares, suas atividades de
trabalho e de lazer, seus hábitos e vícios e os medicamentos em uso.
A seguir, o fisioterapeuta realiza a avaliação do paciente, que, dependendo da área
clínica, pode ser uma avaliação postural, avaliação da força muscular, da função
respiratória, sensorial, etc. Por fim, avalia os exames complementares do paciente,
como radiografias e outros.
2 - Diagnóstico fisioterápico : Também chamado de diagnóstico cinético-funcional,
irá identificar quais disfunções o paciente apresenta e em que grau. Vamos ver
alguns exemplos. Uma senhora chega na fisioterapia com bursite no ombro direito
(diagnóstico médico). Após a consulta, o fisioterapeuta nota dor e limitação nos
movimentos de flexão, extensão e abdução, fraqueza muscular e diminuição da sua
capacidade de realizar as tarefas domésticas rotineiras (diagnóstico
cinético-funcional). Um senhor foi internado no hospital com quadro de enfisema
(diagnóstico médico). Na consulta o fisioterapeuta aponta diminuição da ventilação
na base de ambos os pulmões, diminuição da expansão diafragmática e torácica
nas inspirações, aumento da cifose torácica e cansaço aos médios esforços
(diagnóstico cinético-funcional)
3 - Prognóstico: É uma previsão sobre a evolução do paciente e a duração do
tratamento. Ou seja, é uma antevisão sobre o progresso do paciente e o tempo que
se espera levar para isso.
4 - Prescrição: Compõe-se da eleição dos recursos que serão utilizados, das
estratégias terapêuticas e da dosimetria. Por exemplo: 2 sessões semanais de
fisioterapia, cada uma com duração de 45 minutos. O fisioterapeuta iniciará com
eletroterapia para analgesia, seguida de exercícios de alongamento e fortalecimento
e, por fim, treino de marcha e de equilíbrio.
5 - Intervenção: É o atendimento em si, coerente com o diagnóstico e o
prognóstico.
6 - Alta: Acontece quando os objetivos iniciais foram atingidos. É importante que o
fisioterapeuta forneça orientações domiciliares para o paciente e elabore um
relatório de alta.
O fisioterapeuta é responsável por todas as etapas do processo fisioterápico,
possuindo as habilidades e competências práticas e legais para isso. Para tanto,
utiliza-se dos denominados recursos fisioterápicos.
3.2 Recursos fisioterápicos
Os recursos fisioterápicos variam conforme os objetivos terapêuticos e a
disponibilidade do local de atendimento. Podemos classificá-los em:
Cinesioterapia: terapia pelo movimento. É o recurso mais utilizado na fisioterapia.
Os exercícios podem ser ativo-assistido (o fisioterapeuta aplica uma força no
sentido do movimento, auxiliando o paciente), ativo-livre (o paciente faz o
movimento sozinho), ativo-resistido (o paciente realiza o movimento contra a
aplicação de uma força externa) ou passivo (o fisioterapeuta faz o movimento, sem
ajuda do paciente). Cada um desses tipos de exercícios tem sua indicação e
objetivos. De uma forma geral, podemos dizer que os objetivos da Cinesioterapia
são: promover a atividade, manter ou aumentar as amplitudes de movimento
articulares, fortalecer os músculos, melhorar o equilíbrio e encorajar os pacientes a
desempenharem atividades funcionais (como rolar, levantar, andar, subir escadas
etc). A cinesioterapia pode ser aplicada de forma individual ou em grupo.
Fototerapia: terapia com o uso das radiações compreendidas no espectro
eletromagnético, entre o infravermelho e o ultravioleta. Algumas dessas radiações
produzem calor, (como o infravermelho e o laser), enquanto as radiações químicas,
como as do ultravioleta, geram alterações celulares.
Termoterapia: terapia pelo calor. É um recurso muito utilizado na fisioterapia, pois
diminui a dor e aumenta o fluxo sanguíneo local. Pode ser calor profundo (gerado
por bolsas térmicas e banho de parafina, por exemplo) ou profundo (calor oriundo
das ondas curtas e do micro-ondas).
A dor em decorrência da tensão muscular pode ser aliviada com o calor. Com o
aumento da temperatura local, há dilatação dos vasos sanguíneos, levando mais
sangue para os músculos, melhorando, assim, a sua função.
Eletroterapia: terapia por correntes elétricas. Dependendo da corrente utilizada,
tem efeito analgésico (diminuição da dor) ou estimulação funcional muscular
(provocando contrações musculares que melhoram o fortalecimento muscular e a
funcionalidade). Há ainda correntes que aumentam a circulação e o metabolismo
local.
Hidroterapia: terapia que utiliza a água nos estados líquido, sólido ou gasoso. A
água aquecida pode ser utilizada na piscina terapêutica ou em turbilhões, facilitando
a realização de movimentos pelo paciente, e promovendo analgesia e relaxamento
pelo calor.
A água pode ser usada também no estado sólido (gelo), a denominada crioterapia.
O frio irá provocar vasoconstrição local, sendo benéfico em casos de edemas e
hematomas.
Por fim, a hidroterapia utiliza-se também dos vapores, na forma de saunas, para
promover relaxamento e eliminação de toxinas.
Massoterapia: terapia que se utiliza das massagens terapêuticas, visando
promover relaxamento, melhora da circulação sanguínea e linfática e mobilização de
músculos e do tecido conjuntivo.
Mecanoterapia: terapia que usa aparelhos mecânicos, como halteres, mesa
ortostática, barras paralelas, prancha de equilíbrio, faixas elásticas, bolas
terapêuticas e vários outros. Os objetivos da mecanoterapia são inúmeros, podendo
citar: aumento da força e da amplitude de movimento, treino do equilíbrio e da
marcha, promoção do ortostatismo (postura ereta) e correção postural.
Outros recursos são: equoterapia (terapia com cavalos), recursos bioenergéticos
(acupuntura, shiatsu, reflexologia), osteopatia e quiropraxia.
O uso de alguns desses recursos datam do período do início da humanidade, onde
o homem utilizava-se do que a natureza lhe oferecia para tratar de seus
desconfortos.
4. História da fisioterapia
O surgimento da fisioterapia se confunde com o próprio surgimento da Humanidade,
com o sentimento de autopreservação e de preservação da espécie. A partir da
necessidade de cuidados de saúde, vão surgindo as bases das várias profissões.
No Brasil, a fisioterapia iniciou-se como uma prática técnica, e aos poucos foi
desenvolvendo autonomia e conquistando novos espaços. Veremos a seguir como
a fisioterapia evoluiu, quais foram seus desafios e conquistas.
4.1 Surgimento da fisioterapia
O homem sempre se preocupou em se livrar de dores e outros incômodos. Para isso,
fazia uso dos recursos naturais que tinha à sua disposição: calor do sol (helioterapia) e
do fogo, a água, a massagem e os exercícios físicos.
Podemos subdividir a história da humanidade em três grandes momentos, quando se
envolve as ciências da saúde e, consequentemente, o desenvolvimento e a formação da
fisioterapia: o período que antecede a Primeira Guerra Mundial, compreendido da Idade
Antiga, da Idade Média, do Renascimento e da Industrialização, o período das grandes
guerras e, por fim, o período contemporâneo (MARQUES, 2017, p. 13).
Na Antiguidade, há descrição de práticas de cura com massagens, hidroterapia e
helioterapia no Papiro de Ebers, datado de 3.000 a.C. Também há registros de obras
abordando a cura pelo movimento na China, no ano de 2.698 a.C (LINDEMANN, 1975,
apud BARROS, 2011).
Já na Grécia antiga, Aristóteles descrevia a ação dos músculos, ficando,
posteriormente, conhecido como “o pai da cinesiologia”, enquanto Galeno registrava um
caso de exercíciospara tronco e pulmões que corrigiram deformidades de um rapaz
(BARROS, 2017).
Durante a Idade Média (entre os séculos V e XV), com a dominação religiosa do
Cristianismo e o movimento das Cruzadas, houve uma valorização do espírito e
uma desvalorização do corpo. Com isso, segundo Rebelatto e Botomé (1999, p. 34),
“a Idade Média foi uma época em que ocorreu uma interrupção no avanço dos
estudos e da atuação na área da saúde”.
Com o surgimento do período Renascentista (séculos XV ao XVI), marcado pelo
momento cultural e literário, há a retomada dos estudos na área das ciências da
saúde. Em 1750, há relatos de que o Instituion Nationale dês Invalides, em Paris,
utilizava estímulos elétricos para o tratamento de pessoas com paralisia. Há
publicações de 1780 que enfatizavam técnicas de terapia manual para as
mobilizações das articulações (MARQUES, 2017).
A Revolução Industrial (entre os séculos XVIII e XIX) iniciou-se na Inglaterra e,
posteriormente, difundiu-se por toda a Europa, trazendo vários problemas sociais e de
saúde pública. A mudança da população do campo para a cidade, e o estilo de trabalho
nas indústrias, com movimentos repetitivos e longas jornadas de trabalho, ocasionaram
o aparecimento das primeiras doenças ocupacionais, como a tendinite e a bursite, além
das lesões por acidentes de trabalho. As condições habitacionais e a falta de
saneamento básico contribuíram para o crescimento de epidemias de cólera e
tuberculose.
Nesse cenário, aumenta o uso de recursos físicos para ações de cura e reabilitação. Em
1864, em Berlim (Alemanha), surgem as primeiras escolas de reabilitação de indivíduos
com deficiências, sendo, nesse momento, a visão da fisioterapia na ação curativa e
reabilitadora (MARQUES, 2017).
No século XX, dois acontecimentos são fundamentais para as mudanças na área da
saúde, e, consequentemente, para a fisioterapia:
● as epidemias de poliomielite; e
● as grandes guerras mundiais.
A poliomielite, também conhecida por paralisia infantil, é uma doença contagiosa,
causada por vírus que ataca o sistema nervoso, causando paralisia dos movimentos
musculares. Durante o século XX ocorreram epidemias de poliomielite espalhadas pelo
mundo todo, causando deficiências físicas em milhares de pessoas, principalmente
crianças.
Segundo MATURANA, 2002, apud BARROS, 2011, p. 86, “a reabilitação beneficiou os
doentes com poliomielite, mas esta também proporcionou uma maior consolidação desta
atividade especializada durante as décadas dos anos cinquenta e sessenta”.
Já a 1ª e a 2ª grandes guerras mundiais resultaram em milhares de mutilados e
lesionados que necessitavam ser incorporados à vida social e de trabalho.
Esse grande número de pessoas com deficiências, sejam originadas da poliomielite,
sejam das guerras, levaram à criação dos centros de reabilitação. Nesses locais, havia
uma preocupação não somente com a estabilidade clínica dos pacientes, mas com sua
integração na sociedade. Surge então uma demanda por profissionais qualificados,
dentre os quais os fisioterapeutas.
No Brasil, a fisioterapia também foi direcionada para a reabilitação, sendo que até hoje
há quem se surpreenda com o fato de o fisioterapeuta agir em outros níveis de atenção
à saúde.
4.2 Fisioterapia no Brasil
No Brasil colonial, as práticas de saúde eram exercidas por inúmeras pessoas, cujos
conhecimentos, na maioria das vezes, eram passados por familiares ou aprendidos por
observação e experiência. Havia curandeiros, pajés, feiticeiros, benzedeiros, parteiras, e
até mesmo barbeiros, todos praticantes de cura ou terapias.
As práticas formais da saúde no Brasil iniciam-se em 1808, com a vinda da família real
portuguesa, que impulsionou o surgimento das primeiras escolas de ensino
médico. Já no século XIX, os recursos fisioterápicos faziam parte da terapêutica
médica.
- No período de 1879 a 1883, com a industrialização e com o aumento do
número de acidentes de trabalho, passou-se a ter a utilização de recursos
físicos voltados para a assistência curativa e reabilitadora. Surgiu assim,
nessa época, o serviço de hidroterapia no Rio de Janeiro, existente até os
dias atuais, denominado “Casa das Duchas” (MARQUES, 2017, p. 15).
- Em 1919, o médico Raphael de Barros fundou o serviço de eletricidade
médica na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(MARQUES, 2017).
- Em 1929, o médico Waldo Rolim de Moraes instalou o serviço de
fisioterapia no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999). Idealizou e instalou ainda o serviço
de fisioterapia do Hospital das Clínicas de São Paulo (MARQUES e
SANCHES, 1994).
Esses serviços coincidem com os primeiros planos que a Organização Mundial de
Saúde (OMS) aplicou nos países latino-americanos, incentivando a instalação de
centros de reabilitação formados por vários profissionais, trabalhando em equipe.
- 1951, O Dr. Waldo Rolim de Moraes criou o primeiro curso técnico de
fisioterapia, com duração de um ano, em período integral, ministrado por
médicos (MARQUES, 2017, p. 16). Esse curso funcionou até 1958, no 7º
andar do Instituto Central do Hospital das Clínicas.
- 1957, surgiu a Associação Paulista de Fisioterapeutas, que tinha como
objetivo promover o aperfeiçoamento profissional do ponto de vista jurídico,
científico e deontológico da formação e do exercício da profissão. Em 1959,
foi fundada a Associação Brasileira de Fisioterapeutas, que tinha como
principal objetivo unificar a classe profissional de todo o país (MARQUES,
2017, p. 16).
Entre as décadas de 40 e 50
Surgem importantes serviços de fisioterapia no Rio de Janeiro (serviço de fisioterapia nos
Hospitais Barata Ribeiro e Carlos Chagas, Instituto Pestalozzi e APAE) e em São Paulo (Lar
Escola São Francisco, AACD e Instituto Nacional de Reabilitação.
Fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, em 1955 foi criado, na Bahia, o Instituto
Bahiano de Reabilitação, e em 1969, em Brasília, o Centro de Reabilitação Sara
Kubitscheck.
A atuação da fisioterapia nesse período era recuperadora e reabilitadora, o que
resultou na consolidação da profissão como um sinônimo de reabilitação.
A Lei n. 5.029/1958 do Estado de São Paulo criou o primeiro curso de Fisioterapia
no Brasil com padrão internacional mínimo. Com duração de 2 anos, o curso era
ministrado no Instituto de Reabilitação, anexo à cadeira de Ortopedia e
Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Com o avanço da atuação dos fisioterapeutas e com uma formação mais completa,
os aspectos legais também evoluíram. Conforme Marques e Sanches (1994), um
dos primeiros documentos oficiais que definem a ocupação do fisioterapeuta e os
limites de seu trabalho e de sua atividade é o Parecer n. 388/63, do Conselho
Federal de Educação. O documento reconhecia os cursos de fisioterapia, indicava
que teriam duração de três anos e estabelecia um currículo mínimo. Caracterizava,
pela primeira vez, os técnicos em fisioterapia, cujas funções também foram
definidas neste parecer.
Segundo o parecer, os fisioterapeutas eram auxiliares médicos, devendo atuar sob
orientação e supervisão destes profissionais. Não podiam fazer diagnóstico nem
prescrição, somente realizar aquilo prescrito pelos médicos. Além disso, mesmo
sendo formados por curso superior, eram denominados de técnicos em fisioterapia.
A partir de 1967, os cursos de fisioterapia passam a ter duração de três anos letivos.
Porém, continuavam com foco somente na reabilitação. Foi somente nos anos 80
que os cursos passaram a ter quatro anos de duração.
Em 1969, o então presidente da República do Brasil, general Artur da Costa e Silva,
sofre um acidente vascular encefálico (AVE). A Junta Militar, sensibilizada com o
bom tratamento oferecido ao presidente pelos fisioterapeutas, por intermédio dos
ministros da Marinha, Exército e Aeronáutica, determina o Decreto-Lei n. 938, de
13 de outubro de 1969. Nele, a denominação do profissional passou de técnico em
fisioterapia para fisioterapeuta, e a execução de métodos e técnicas fisioterápicas
passarama ser atividades privativas do fisioterapeuta.
Em 17 de dezembro de 1975, foi promulgada a Lei n. 6.316 pelo Congresso Nacional, e
sancionada pelo presidente da República Ernesto Geisel, ao criar o Conselho Federal de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e os Conselhos Regionais de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (CREFITO). O documento destaca os locais onde o fisioterapeuta
poderá exercer suas funções: estabelecimentos hospitalares, clínicas, ambulatórios,
creches, asilos, englobando os exercícios de cargo, função, assessoramento, chefia e
direção. A criação desses conselhos deve-se à implantação, meses antes, do plano de
classificação de cargos no serviço público federal. A fisioterapia e a terapia ocupacional
juntem-se no mesmo conselho, pois, à época, o número de profissionais era insuficiente
para criar conselhos separados (NICIDA, 2002).
A fisioterapia, na sua origem mundial, e também no Brasil e no decorrer de sua trajetória,
assim como as outras profissões da área da saúde, conduziu a sua atuação profissional
para as atividades reabilitadoras e curativas. Nos anos 1980, sofreu influências das técnicas
europeias e norte-americanas, trazendo para o Brasil novas técnicas e maiores incentivos à
pesquisa. Em 1996, o MEC, por intermédio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), concedeu, oficialmente, o primeiro mestrado brasileiro
em fisioterapia pela Universidade de São Carlos (UFSCar). A partir desse marco, a
fisioterapia passou a integrar, de maneira formal, a comunidade científica no Brasil
(MARQUES, 2017).
Atualmente, a fisioterapia não é mais centrada apenas na reabilitação, mas atua também na
prevenção e no tratamento. Além das áreas historicamente tradicionais da fisioterapia
(ortopedia, respiratório e neurologia), outras áreas foram se somando, como esportiva,
ginecológica, oncológica e dermato-funcional. A fisioterapia continua seu avanço, baseada
em pesquisas e evidências científicas, promovendo saúde em todos seus níveis de atuação.
5. A profissão dentro da área da saúde
A fisioterapia está presente em todo o mundo, apesar dos seus profissionais receberem
denominações diferentes: fisioterapistas, terapeutas físicos e cinesiologistas são alguns
exemplos. No Brasil, vemos a ampliação da demanda pelos serviços de fisioterapia e o
surgimento de novas especializações.
5.1 Aspecto regional
“um mapeamento da disponibilidade de fisioterapeutas no Brasil por população
residente. Concluíram que há uma distribuição desigual desses profissionais,
observando dois focos de densidade muito alta na região Sudeste, um no estado de
São Paulo e outro no estado do Rio de Janeiro. Por outro lado, observaram uma
grande área com ausência de profissionais principalmente na região Norte, mais
precisamente em estados como Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Pará.”
Pela dimensão do Brasil e suas variações socioeconômicas, é de se esperar uma
distribuição também desigual no acesso aos serviços de saúde, concentrando-se em
regiões com melhor desempenho econômico. Isso demonstra a urgência de se criar
mecanismos de expansão dos serviços de fisioterapia em áreas menos
desenvolvidas, principalmente, pela ampliação de vagas na rede pública.
5.2 Aspecto nacional
Em 2019, a fisioterapia comemorou 50 anos de reconhecimento da profissão no
Brasil. Ao longo dessas décadas, muitas conquistas ocorreram, expandindo a atuação
da fisioterapia em diversos setores da saúde. O crescimento deu-se tanto do ponto de
vista técnico quanto científico, com novas ferramentas de diagnóstico e tratamento,
atualização dos currículos das universidades e consolidação da fisioterapia como
ciência.
Para continuar esse avanço, a profissão tem de ter união e organizar-se em entidades
de classe. Veja um pouco da história das associações de fisioterapeutas, conforme
Marques e Sanches (1994).
1959 - Associação Brasileira de Fisioterapeutas (ABF) foi fundada em São Paulo
(SP). Posteriormente, passou a se chamar Associação Brasileira de Fisioterapia,
com o objetivo de realizar a unificação da classe profissional dos fisioterapeutas de
todo o Brasil, reunindo-os em torno de um ideal comum, num esforço deliberado
pela categorização elevada da classe, em todos os setores de suas atividades.
1962, A Confederação Mundial de Fisioterapia (WCPT) reconheceu a ABF,
coroando a trajetória dessa importante associação em busca do reconhecimento da
profissão.
2005, Em 8 de outubro, durante o XVI COBRAF (Congresso Brasileiro de
Fisioterapia), foi criada a Associação de Fisioterapeutas do Brasil (AFB), que
defende o interesse da profissão e dos profissionais nos diversos locais e eventos
que participam no Brasil e no exterior. Logo a seguir passou a representar o Brasil
junto a World Confederation for Physical Therapy (WCPT) e a Confederaciòn Latino
Americana de Fisioterapia y Kinesiologia (CLAFK).
Dentre os objetivos da AFB (s.d), destacam-se:
● estimular a prática e educação da fisioterapia em alto nível;
● realizar a comunicação e a troca de informações, incluindo a organização
de congressos nacionais, estaduais e internacionais para fisioterapeutas,
debater os problemas políticos e sociais que afetam a saúde pública
nacional;
● contribuir para a solução dos problemas que acometem a profissão; e
● unir os fisioterapeutas e defender seus justos interesses.
Atualmente, são várias as associações de fisioterapia, cada qual unindo
fisioterapeutas de determinada área, visando o desenvolvimento científico e a
divulgação de novos avanços terapêuticos.
Alguns exemplos: Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia
em Terapia Intensiva (ASSOBRAFIR), Sociedade Brasileira de Fisioterapeutas
Acupunturistas (SOBRAFISA), Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE),
ABFO (Associação Brasileira de Fisioterapia em Oncologia), ABRAFIT (Associação
Brasileira de Fisioterapia do Trabalho) e Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia
(ABENFISIO).
5.3 Aspecto mundial
A organização que representa em nível mundial os fisioterapeutas é a Confederação
Mundial de Fisioterapia (WCPT, World Confederation for Physical Therapy), que é uma
organização sem fins lucrativos, fundada e registrada no Reino Unido, em 1951. Essa
confederação mantém relações oficiais com a Organização Mundial da Saúde e é
membro da Aliança das Profissões da Saúde do Mundo (World Health Professions
Alliance). A WCPT está vinculada a diversas organizações de fisioterapia no mundo,
inclusive no Brasil, com a Associação de Fisioterapeutas do Brasil (MARQUES, 2017).
A fisioterapia, tanto a nível regional, nacional e mundial, tem vários desafios a
vencer. As mudanças globais pelas quais as sociedades têm passado exige
responsabilidade ética e compromisso social dos fisioterapeutas, indo além do
procedimento técnico. O fisioterapeuta não está mais restrito à reabilitação, e sua
atuação na educação e na promoção de saúde, deve se ampliar cada vez mais. A
autonomia, duramente conquistada, deve ser mantida e, se possível, ampliada
sempre e amparada pelas pesquisas e pelas evidências científicas.
Com isso, todos temos a ganhar: os fisioterapeutas, os pacientes e a sociedade,
pois teremos mais saúde, funcionalidade e qualidade de vida.

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