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ECONOMIA BRASILEIRAECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEACONTEMPORÂNEA INDUSTRIALIZAÇÃOINDUSTRIALIZAÇÃO FORÇADA: DÍVIDAFORÇADA: DÍVIDA EXTERNA E INFLAÇÃOEXTERNA E INFLAÇÃO Autor: Me. Leonardo Aparecido Santos Silva Revisor : C láudia Rodr igues IN IC IAR introdução Introdução Após o milagre econômico, o país continuou seu processo de industrialização, em um momento de piora na economia internacional. Por um lado, a aposta valeu a pena dado o avanço na complexidade industrial, por outro o desequilíbrio externo provocou um cenário de muita instabilidade na década de 1980, inclusive com um descontrole in�acionário não resolvido. Nesse contexto, ao ler essa unidade você vai melhorar a compreensão sobre: o II PND e o processo de substituição de importação (PSI); a relação entre o cenário externo e doméstico; o problema da dívida externa; a crise econômica do Brasil na década de 1980; os planos para a contenção da in�ação; a elaboração da nova Constituição Federal. Após 1968, o país passou por um rápido processo de crescimento econômico, com estabilidade interna (in�ação) e equilíbrio externo (balanço de pagamentos em equilíbrio). Nesse período, existia abundância de recursos monetários no mercado internacional, proporcionando uma situação ideal para o �nanciamento das atividades domésticas através do aumento da dívida pública externa e, ao mesmo tempo, o aumento do investimento estrangeiro direto no país. Prezado(a) estudante, o primeiro plano da ditadura militar (Paeg) atuou para controlar a in�ação e apresentar reformas institucionais na economia brasileira. Na sequência, o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED) retomou a trajetória de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, conseguiu manter a in�ação controlada e equilíbrio externo durante o avanço da industrialização (bens duráveis), como aponta Hermann (2016a). Esgotamento do Modelo Econômico O Período Pós-O Período Pós- MilagreMilagre Durante o milagre econômico, a balança comercial (exportações - importações de bens) esteve equilibrada no período, contudo, o país ampliou sua dívida pública externa. Isso porque a elevada oferta de recursos monetários no mercado �nanceiro internacional reduziu as taxas de juros, facilitando a tomada de empréstimos, fazendo com que o setor público brasileiro captasse recursos no exterior para �nanciamento da indústria (LACERDA et al ., 2018). Desse modo, ocorreu elevação na dívida pública externa dada a facilidade de empréstimos, sendo o capital emprestado repassado para as empresas que operavam no mercado doméstico e necessitavam de divisas estrangeiras. Portanto, não foi utilizado para o �nanciamento de grandes dé�cits em transações correntes durante o período do milagre econômico (LACERDA et al ., 2018). Na mesma direção, Hermann (2016a) explica que o elevado crescimento da economia entre 1968-73 foi proporcionado pela alta entrada de capital, seja através do investimento estrangeiro direto ou diretamente pelos empréstimos. [...] o endividamento externo líquido passou de US$ 3,1 bilhões, em 1967, para US$ 6,2 bilhões, em 1973. Já as reservas chegaram a US$ 6,4 bilhões em 1973, partindo de apenas US$ 200 milhões em 1967. Do endividamento bruto total de US$ 12,6 bilhões, em 1973, metade eram reservas. O intenso crescimento de seis anos provocou um aumento de apenas US$ 3,1 bilhões no endividamento líquido do país. Logo, dois terços do aumento de endividamento total foram convertidos em reservas (LACERDA et al., 2018, p. 110). As contradições do crescimento econômico surgiram após 1973, ano com a maior taxa de crescimento do PIB (14%). A ine�ciência do Estado brasileiro em promover avanços consideráveis na complexidade industrial na direção dos bens de produção, implicava em importações desses bens na medida em que a produção agregada aumentava. Logo, durante esse período, a importação de bens de produção saiu de 20% (1964) para 30% (1973), já a produção interna de bens de consumo duráveis aumentou 97% e de bens intermediários 45% (LACERDA et al ., 2018). Na questão in�acionária, o dé�cit comercial já força o nível de preços para cima e aliado ao aumento das exportações da agricultura (diminuição da oferta interna), as pressões in�acionárias voltaram a surgir, pressionando o nível de preços no mercado interno. Concomitante com esse processo, a volta da trajetória de alta nos juros no mercado externo passou a pressionar a conta de transações correntes (LACERDA et al ., 2018). No tocante ao mercado internacional, o choque do petróleo de 1973 (choque exógeno) pressionou os preços no mercado interno dado o aumento de custos que o preço do petróleo proporcionou na economia mundial, prejudicando a trajetória de crescimento econômico. Portanto, existiam condicionantes domésticos e externos pressionando a in�ação no período �nal do milagre econômico na economia brasileira. Hermann (2016a) explica que no período �nal do milagre econômico, a conta de serviços e rendas aumentou a saída de capital (dé�cit), saindo de 600 milhões de dólares (1967) para pouco mais de 2 bilhões de dólares (1973). Consequentemente, era necessário a captação de novos empréstimos para o equilíbrio no balanço de pagamentos, impactando no aumento da dívida pública externa que aumentou pouco mais de 90% entre 1968 e 1974 (LACERDA et al ., 2018). Em suma, alguns dos grandes problemas no período estão relacionados à correção monetária (in�ação), dependência em relação ao setor externo em bens de produção e empréstimos (dívida externa), como aponta Hermann (2016a). De forma complementar, Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2017) destacam que a concentração de renda (política salarial restritiva) foi um dos principais problemas do período, dadas as condições de vida piores para os trabalhadores. Além da perseguição aos desafetos da ditadura militar. Prezado(a) estudante, a economia brasileira estava em uma situação bastante delicada no início da década de 1970. O lado positivo foi o avanço no setor industrial, com estabilidade no nível de preços e setor externo. O lado negativo estava relacionado com a política de salários restritiva, o necessário avanço no desenvolvimento da indústria de bens de produção e o exponencial aumento na dívida pública externa. O II PND A década de 1970 teve como característica a instabilidade política e econômica nas economias globais. Isso porque o acordo de Bretton Woods (paridade ouro-dólar) foi desfeito em 1971, permitindo a �utuação cambial. No ano de 1973 ocorreu o primeiro choque do petróleo (choque de oferta), elevando exponencialmente os preços do petróleo (produto básico das economias de mercado). Ainda, no �nal da década, em 1979 ainda aconteceria o segundo choque do petróleo, ampliando a instabilidade econômica em diversos países (inclusive Brasil). Prezado(a) estudante, é nesse contexto geral que devem ser entendidas as ações do governo brasileiro para a manutenção do crescimento econômico e desenvolvimento industrial durante a década de 1970. Ao contrário dos anos anteriores, a conjuntura externa foi se degradando ao longo da década e existiam duas opções para a ditadura militar brasileira: i. aceitar um ajuste recessivo dada a conjuntura externa; ii. continuar o processo de industrialização. Como faltava completar a matriz industrial em direção aos bens de produção, a segunda opção foi a escolhida. Contudo, vale destacar que no primeiro momento o Ministro Mário Henrique Simonsen optou pelo ajustamento, mas a crise �nanceira no Brasil pela quebra do banco Halles e, também, questionamentos políticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), forçaram a continuidade dos investimentos (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017). Nessa direção, o Brasil criou o II Plano Nacional de Desenvolvimento, que esteve ativo ao longo da década de 1970 (GREMAUD, VASCONCELLOS; TONETO JR, 2017). Esse plano foi elaborado por João Paulo dos Reis Velloso (Ministro do Planejamento), seguindo um contexto deplanejamento aos moldes do Plano de Metas (LACERDA et al ., 2018). O plano foi desenvolvido porque o governo entendia como uma crise duradoura (cenário externo), mas com um cenário positivo de capital para empréstimos (taxa de juros baixa e longo prazo de amortização). No II PND, o foco de investimentos era para o setor de bens de produção da economia, como foi o caso dos investimentos para a construção do complexo nuclear brasileiro (alta tecnologia), como apontam Lacerda et al . (2018). Em momentos de maior incerteza na economia internacional, os agentes econômicos privados tendem a ter maiores precauções no momento da tomada de decisão sobre novos investimentos, procurando a segurança nas economias desenvolvidas. Portanto, os investimentos dos grandes conglomerados oligopolistas (multinacionais), não tinham grande interesse em ampliar investimentos pesados nas economias em desenvolvimento. Por outro lado, o choque de petróleo aumentou a renda dos países exportadores e um mercado volumoso de dólares (conhecido como petrodólares) no período. Hermann (2016b) destaca que o preço do barril saiu de US$ 2,48 (1972) para US$ 11,58 (1974). Portanto, a ditadura optou por forçar o crescimento econômico, ampliando o endividamento externo (industrialização). Lacerda et al . (2018) apontam os empréstimos externos (conta capital e �nanceira) como os responsáveis por �nanciar o II PND, visto que a conta de transações correntes era de�citária no Brasil e o balanço de pagamentos precisava ser mantido equilibrado. Assim, diferentemente do processo que vinha sendo implementado desde Juscelino Kubitschek, o II PND teve como capital principal o setor público, em detrimento da iniciativa privada, para a �nalização do Processo por Substituição das Importações (PSI), através do avanço da complexidade de produção da indústria doméstica (LACERDA et al ., 2018). Como é possível observar na Figura 3.1, a conjuntura econômica nacional e internacional não permitiu elevado crescimento econômico, sendo bastante voláteis as taxas de crescimento após 1974. Mesmo ampliando os gastos públicos (dívida externa) para completar o modelo PSI, tornando a economia brasileira industrializada, os resultados não vieram na mesma proporção que no período do milagre. Ainda, o deterioramento estrutural dos agregados macroeconômicos brasileiros viria a impactar negativamente a economia no início da década de 1980, com a recessão entre 1981 e 1983 (queda na produção agregada - PIB). Para realizar o II PND, o Estado foi assumindo dívida externa, para manter o crescimento econômico e o funcionamento da economia, em consequência dos juros baixos no período, o que, por sua vez, facilitava o pagamento dos empréstimos tomados. No entanto, como tomava empréstimos com taxa de juros �utuante, o país correu o risco de ver as taxas aumentarem no futuro para completar sua matriz industrial na direção dos bens de produção (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017). Figura 3.1 - PIB em preços de mercado - variação real anual Fonte: Adaptada de IPEADATA (2020, on-line). praticar Vamos Praticar Após o milagre econômico, o país optou por continuar seu processo de industrialização, mesmo com o cenário externo desfavorável. Assim, o governo optou por ampliar os investimentos na economia nacional para ampliar a indústria de bens de produção. Nesse sentido, qual foi a consequência desse processo? a) O segundo milagre econômico. b) Modi�cação da moeda nacional. c) Ampliação da importação de bens básicos. d) Aumento da dívida externa. e) Redução do processo in�acionário. O período de 1974-78 apresentou os re�exos do choque do petróleo, que causou mudanças nas economias, como o aumento na taxa de juros nos países industriais e queda na atividade econômica (1974-1975). A deterioração nos termos de troca de países como o Brasil resultou em dé�cits comerciais, contudo, o aumento dos petrodólares (OPEP) permitiu a tomada de empréstimos, viabilizando o balanço de pagamentos, como aponta Hermann (2016b). No �nal da mesma década (1979), a OPEP produziu o segundo choque do petróleo na década, com a cotação do barril subindo mais de 160% entre 1978 e 1980. Esse corte levou incerteza ao mercado, aumentando as taxas de juros e impactando nos empréstimos de países que utilizaram o sistema de taxa de juros �utuante, como o Brasil (HERMANN, 2016b). Esse choque foi devido aos desdobramentos da Revolução Islâmica no Irã no mesmo ano, levando a incerteza nas economias e diminuindo os petrodólares (PIRES, 2010a). Recessão e aRecessão e a História da NovaHistória da Nova RepúblicaRepública Nesse cenário de crise econômica, o país não conseguia aumentar suas exportações, as importações estavam relativamente mais caras e o aumento na taxa de juros impactou no crescimento dos juros pagos devido aos empréstimos a taxas �utuantes. Pires (2010a) ressalta o aumento na taxa de juros da Inglaterra e Estados Unidos (EUA) no período, para conter o processo in�acionário, inclusive com os EUA passando por uma recessão entre 1981- 1982. Aliado a esse cenário pessimista externo, mesmo com juros mais altos não existia disponibilidade dos agentes �nanceiros em ampliar os empréstimos para o Brasil. Como apontam Lacerda et al . (2018), a dívida pública líquida aumentou 36% somente entre 1979 e 1981, se for considerar a diferença entre 1974 e 1981 o aumento foi de surpreendentes 359%, portanto, �ca clara a trajetória explosiva da dívida pública externa do país. reflita Re�ita Prezado(a) estudante, a década de 1970 foi bastante instável, não é mesmo? Existiram diferentes condicionantes internos e externos que impactaram na volatilidade de diferentes economias, correto? Assim, é importante re�etir sobre a inserção brasileira e seu projeto de desenvolvimento ao longo do período, considerando os pontos positivos e negativos sobre essa tomada de decisão. Em decorrência desse aumento explosivo, ocorreu a conhecida crise da dívida no Brasil, visto que o país não conseguia mais �nanciar seus dé�cits nas transações correntes com superávits na conta �nanceira através dos empréstimos externos, impactando toda a dinâmica brasileira. Esse foi o principal custo para o país do aumento da trajetória da dívida pública iniciada no período do milagre econômico e aprofundada no II PND. Cabe destacar que o país conseguiu avançar consideravelmente na indústria de bens de produção, em setores de bens de capital como siderurgia e química pesada, na parte de energia no setor do petróleo, elétrica e álcool. Portanto, é nesse contexto de avanço na complexidade industrial, desequilíbrio externo e crise econômica que o período da Nova República (1985-1990) surgiu. Pires (2010a) destaca que esse processo de dívida externa também ocorreu em países como México e Argentina, pois 50% dos empréstimos internacionais para os países em desenvolvimento eram para os três países. Nos anos 1980, a economia brasileira passou por instabilidades ligadas aos setores externo e interno, como os dois anos (1981 e 1983) com queda na produção agregada (PIB, Figura 3.1). Em 1982, o país precisou do socorro do FMI (Fundo Monetário Internacional) em decorrência da moratória da dívida externa mexicana (1982). Outra preocupação era com a in�ação que se tornava um elemento de maior preocupação dada sua trajetória explosiva, chegando ao �nal de 1989 como uma hiperin�ação (LACERDA et al ., 2018). A chamada década perdida caracterizou-se pela queda nos investimentos e no crescimento do PIB, pelo aumento do dé�cit público, pelo crescimento das dívidas externa e interna e pela ascensão in�acionária. O PIB apresentara um crescimento médio de 7% entre 1947 e 1980, caindo para 2% entre 1981 e 1990. Em função desse desempenho medíocre do PIB, a renda per capita manteve-se praticamente constante ao longo da década de 1980 (LACERDA et al., 2018, p. 126). Portanto, em decorrência da grande instabilidade, em 1985 começa a Nova República atravésde um governo civil eleito indiretamente (sem participação popular). Prezado(a) estudante, nesse período ocorreu um forte movimento de redemocratização, as “Diretas Já”, você já conhece? Desde o início da crise brasileira na década de 1980, o governo aplicou um forte programa de redução do dé�cit público para conseguir recursos com o FMI, implicando em aumento do desemprego e minando a popularidade da ditadura militar. As “Diretas Já” (1983) re�etiu a insatisfação crescente em diversos setores da sociedade, empresários e trabalhadores, partidos políticos e movimentos sociais, avançando fortemente no ano de 1984 e, assim, culminando no �m da ditadura militar (PIRES, 2010a). Assim, esse período proporcionou novos horizontes, não é mesmo? Contudo, já começou com uma tragédia visto que o Presidente eleito Tancredo Neves acabou falecendo e o então Vice-Presidente José Sarney assumiu. Castro (2016) apresenta o período da Nova República (1985-1989) como um período marcado pelas tentativas de estabilização da in�ação. A Economia às Vésperas para o Plano Cruzado Em decorrência da crise política e econômica na primeira metade da década de 1980, a Nova República tinha três grandes desa�os econômicos, após o sucesso do movimento “Diretas Já” e �m da ditadura militar: i. dívida externa. ii. dé�cit público. iii. in�ação (PIRES, 2010b). A década de 1980 é conhecida como a “década perdida” por causa do fracasso nessas três linhas, principalmente no controle in�acionário e estabilização econômica para a volta do crescimento robusto. Já os anos de destaque, como 1984 e 1985, de elevado crescimento econômico, ocorreram com avanço das exportações e redução do dé�cit operacional (CASTRO, 2016). Esse resultado positivo foi decorrente da maturação dos investimentos do II PND, que também aumentou as exportações de bens industriais. A maxidesvalorização da moeda nacional (1983), recessão de 1981 e 1983, e recuperação dos Estados Unidos, contribuíram para o resultado positivo em 1984 e aumentaram as reservas internacionais substancialmente chegando a US$ 11,6 bilhões (CASTRO, 2016). Nesse contexto, em 1985 o cenário externo já era favorável para o Brasil, com diminuição do preço do petróleo, desvalorização do dólar, proporcionando maior crescimento econômico. Contudo, existiam problemas sobre a economia brasileira decorrente do acúmulo da dívida externa, impactando na dinâmica do dé�cit público do país. A desvalorização do câmbio, apesar de melhorar as exportações, também aumentava o serviço da dívida pública, concomitante com a elevada taxa de juros do período, aumentou a dívida externa de 14,9% (1981) para 33,2% (1984). Essa questão ainda foi agravada pela di�culdade em rolar a dívida por falta de �nanciamento (queda na liquidez), como aponta Castro (2016). Para estabilizar a economia, ocorreu um ajuste ortodoxo via redução do dé�cit público através de corte nos salários e investimento público (1983- 1984) e no ano seguinte ocorreram medidas de controles �scais e monetários. Porém, além da instabilidade externa, a in�ação passava a incomodar o governo cada vez mais, visto que não se reduzia nem nos anos de baixo crescimento (CASTRO, 2016). O problema in�acionário piorou após a maxidesvalorização (1983), chegando a 235% em 1985. No ano de 1986, quando considerada a in�ação anualizada, as estimativas já chegavam a 450%, demonstrando a ine�cácia do ajuste �scal desenvolvido nos anos anteriores (CASTRO, 2016). Prezado(a) estudante, para a estabilização no país no início da década de 1980 foi necessário recorrer ao socorro do FMI para evitar a falta de pagamento da dívida pública externa, principalmente após a moratória da dívida mexicana. Após a moratória, o �uxo de capital que já era pouco devido à instabilidade internacional, simplesmente secou para as economias latino-americanas, colocando outras economias em crise econômica, como a brasileira (LACERDA et al ., 2018). Lanzana (2017) sintetiza bem o período após o II PND e anterior ao plano cruzado, ou seja, a estabilização das contas públicas entre 1981-1984, com as seguintes medidas: i. maxidesvalorização cambial, com câmbio variando com a in�ação; ii. política salarial restritiva; iii. redução dos gastos públicos; iv. aumento nos tributos; v. controle monetário (monetização da dívida); vi. aumento na taxa de juros. Contudo, a in�ação continuou a aumentar, mesmo com essas medidas de cunho ortodoxo utilizadas pela economia brasileira. As Causas da In�ação na Nova República Em decorrência da instabilidade, e principalmente do descontrole in�acionário, que passava por forte aceleração na metade da década (1980), o foco dos gestores públicos eram controlar a in�ação. Assim, foi ampliado o debate público no Brasil de qual ou quais seriam as causas para a espiral in�acionária e quais medidas deveriam ser tomadas para que a trajetória voltasse para a normalidade, sendo quatro as principais teorias do período. O diagnóstico da in�ação através do “ Pacto Social ” apontava para con�ito de renda na sociedade brasileira que proporciona uma espiral in�acionária dada sua incompatibilidade com a demanda agregada do país. Portanto, era preciso ocorrer uma ampla negociação entre capitalistas e trabalhadores para acabar com a in�ação (CASTRO, 2016). O choque ortodoxo utilizava a Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) que aponta para a relação entre preços e oferta de moeda. Consequente, o aumento na oferta de moeda impactava no aumento da in�ação no país na mesma proporção. Esse aumento era posto em prática para o pagamento dos dé�cits do governo brasileiro, sendo a solução uma política contracionista de corte de gastos públicos e aumento das receitas (CASTRO, 2016). Castro (2016) explica que as propostas do choque heterodoxo e reforma monetária tinham como base a questão da in�ação inercial, visto que os planos ortodoxos de ajuste recessivo impostos pelo FMI (contenção de gastos) na crise brasileira (1981-83) não tiveram sucesso em conter a in�ação. Assim, a in�ação inercial tinha como foco atacar o problema de indexação da economia brasileira. Na mesma direção, Pires (2010b) ressalta o amplo debate sobre os aspectos centrais que incidam sobre a in�ação, contrapondo a visão monetarista (ortodoxa) - in�ação como consequência da expansão monetária para �nanciar os dé�cits públicos (TQM) - com a análise heterodoxa - foco na in�ação inercial decorrente da indexação na economia, resultando em expectativas geradas nos agentes econômicos devido à “memória in�acionária” do período anterior. De acordo com a teoria da in�ação inercial, a manutenção do patamar de in�ação decorre do con�ito distributivo entre agentes econômicos (não apenas entre empresas e trabalhadores, mas também entre as próprias empresas) que aumentam seus preços defasada e alternadamente. As expectativas dos agentes econômicos não podem ser mudadas facilmente, em função de mudanças na política monetária, ou, mais amplamente, em função da mudança do “regime de política econômica”, como pretendem os monetaristas, porque essas expectativas estão baseadas em um fenômeno real – a in�ação passada –, na qual está ancorado o con�ito distributivo. (BRESSER PEREIRA, 1989, p. 3 apud PIRES, 2010b, p. 251). Ao longo da segunda metade da década de 1980, os planos de estabilização da in�ação partiam da possibilidade de existência da in�ação inercial, considerando o congelamento de preços, reformas monetárias, dentre outros como ferramentas importantes para reduzir e estabilizar a in�ação em patamar “civilizado”. Os planos “tinham ligação” na medida em que os erros anteriores eram assimilados na tentativa de implementar novos planos de estabilização (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017). praticar Vamos Praticar As instabilidades da economia brasileira durante a década de 1980 proporcionaram um debate consideravelmente rico sobre as circunstâncias que levavam o país a conviver com o problema in�acionário naquele período,com diferentes autores apontando quais seriam as possíveis causas. Assim, a Teoria Quantitativa da Moeda tem relação com qual teoria? a) Choque heterodoxo. b) Reforma monetária. c) Pacto social. d) Reforma interna. e) Choque ortodoxo. Prezado(a) estudante, a década de 1980 foi bastante rica na questão do debate sobre as possíveis soluções para o problema in�acionário do país, em consequência de diferentes teorias procurarem resolver esse problema. Você consegue diferenciar os planos desenvolvidos para controle in�acionário após 1985? Apesar do amplo debate na sociedade brasileira, os planos não obtiveram o sucesso almejado. Ainda, a instabilidade constante do período resultou em baixo crescimento econômico em relação às décadas anteriores, desde o início do processo de industrialização e com o agravante do aumento da in�ação. Um outro motivo que reforçava o processo in�acionário do período foi a indexação da dívida pública, para facilitar o �nanciamento de seus dé�cits. Outro mecanismo promovido era a indexação dos títulos para evitar perdas em consequência da espiral in�acionária (HERMANN, 2016b). Os Planos Cruzado,Os Planos Cruzado, Bresser e VerãoBresser e Verão In�ação Inercial Prezado(a) estudante, lembre-se de que os mecanismos de correção monetária passaram a existir no Brasil a partir da década de 1960, no início da ditadura militar, sendo utilizado de forma crescente nos anos seguintes. Contudo, a partir do desequilíbrio externo, passou a ser utilizado de maneira sistemática para o governo conseguir manter suas operações na década de 1980, ampliando a indexação da economia. Nesse contexto, a teoria da inércia in�acionária aponta para os mecanismos de indexação, como os responsáveis pelo processo de espiral in�acionária que o país passava à época. Nesse período, o país passou a adotar mecanismos de correção automática sobre os principais preços da economia, tais como: I) salários; II) câmbio; III) ativos �nanceiros; dentre outros (LANZANA, 2017). Mas, o que é a correção automática? Essa correção “traz” a in�ação passada para o presente, através do aumento nos principais preços, pelo valor da in�ação do período anterior. Através desse mecanismo de correção, a in�ação se perpetua na economia, impedindo o sucesso de outras políticas econômicas para controlar a in�ação. Assim, quando todos os preços sobem apenas considerando a in�ação passada, não deveria ocorrer mudanças nos preços relativos e a in�ação deveria �car em um nível estável (LANZANA, 2017). No entanto, para ocorrer in�ação crescente numa economia indexada (como era o caso brasileiro ao longo da década de 1980), outros fatores também deveriam impactar a trajetória da in�ação, fora o componente inercial promovido pela correção automática existente no período. Sob esse ponto de vista, os teóricos heterodoxos da in�ação inercial também argumentaram que outros mecanismos eram necessários, como o congelamento dos preços e salários (choque heterodoxo) e a troca simultânea de moeda (reforma monetária), como aponta Lanzana (2017). Na época, Francisco Lopes (choque heterodoxo), apontava a inércia in�acionária como consequência de contratos com cláusulas de indexação. O fator agravante era a possibilidade de choques de oferta (choque do petróleo) ou de choques de demanda (descontrole �scal) acabarem sendo incorporados pela in�ação. O diferencial dos preços relativos quando a in�ação é recomposta em determinado momento (choque real), também era uma fonte de aumento da in�ação (CASTRO, 2016). Prezado(a) estudante, em relação aos planos heterodoxos, dois tinham destaques na época: I) Choque Heterodoxo; II) Reforma Monetária. O choque heterodoxo (Francisco Lopes) via que o problema da estabilização teria a solução com base em um pacto de adesão compulsória (congelamento de preços). Já a reforma monetária (Pérsio Arida e André Lara Resende) era contrária ao congelamento, pois era eliminado o mecanismo de autorregulação dos mercados via preços, causando distorções alocativas. Portanto, eram favoráveis à troca de moeda, através de uma moeda “paralela”, circulando junto da moeda o�cial (CASTRO, 2016). O Plano Cruzado O Plano Cruzado foi elaborado no governo de José Sarney para enfrentar a in�ação, pelo Ministro da Fazendo Dílson Funaro, seguindo a proposta do Choque Heterodoxo de Francisco Lopes (CASTRO, 2016). Dessa maneira, a ideia do Plano Cruzado era combater a in�ação, atacando, principalmente, a inércia in�acionária, sendo a principal medida o congelamento de preços. Castro (2016) contrapõe a ideia ao argumentar que o plano foi introduzido considerando quatro questões: I) reforma monetária e congelamento (moeda Cruzado e “tabela da Sunab” para seguir o congelamento, tabelamento de preços); II) desindexação da economia (criação da tablita de conversão e mudança sobre os títulos públicos e proibição da indexação para um período inferior a um ano); III) índice de preços e cadernetas de poupança (modi�cação no índice de preço utilizado para evitar contaminação da in�ação de fevereiro/86); IV) política salarial. Os salários foram congelados considerando a média dos últimos seis meses mais um aumento real de 8%. Ainda, o plano tinha um mecanismo de “gatilho sobre o salário”, se a in�ação chegasse a atingir os 20% (LANZANA, 2017). O plano teve um grande sucesso no curto prazo, chegando a causar euforia na sociedade brasileira, visto que a in�ação em fevereiro de 1986 era de 22,6%. Já no primeiro mês do Plano Cruzado (março/1986), ocorreu de�ação de - 1% (LANZANA, 2017). Já o plano foi encerrado em fevereiro de 1987, em decorrência do �m do congelamento de preços e pilar central do plano (CASTRO, 2016). Apesar da equipe econômica do governo perceber os problemas decorrentes da economia aquecida, pouco se podia fazer para evitar as pressões in�acionárias. Isso porque a retirada do congelamento era politicamente inviável e economicamente difícil. Se por um lado o descongelamento parcial impactaria na relação de preços da economia, o descongelamento total provavelmente levaria ao acionamento do “gatilho”, proporcionando novos reajustes aos trabalhadores e retroalimentando a in�ação (CASTRO, 2016). Nesse contexto, após o PMDB (governista) vencer as eleições de novembro de 1986, foi lançado o Cruzado II (pacote �scal), para aumentar a arrecadação federal em % do PIB (4%) via aumento nos impostos indiretos, também foram autorizadas remarcações de preços em tarifas públicas (energia, telefones, tarifas postais). Portanto, o Cruzado II foi utilizado para o abandono do congelamento de preços, em janeiro/1987 o aumento de 16,8% fez o gatilho ser acionado pela primeira vez e no mês seguinte foi encerrado o plano. Ainda em fevereiro, foi decretada a moratória dos juros externos (desequilíbrio externo), como aponta Castro (2016). Apesar do sucesso inicial, as políticas monetárias e �scais expansionistas impediram a estabilização permanente da in�ação. O aumento no salário real pressionou uma economia que já estava aquecida. Nesse contexto, a união desses fatores acabou levando a um quadro de aumento na demanda e consequente desequilíbrio externo (LANZANA, 2017). De forma complementar, Castro (2016) aponta que o diagnóstico de que o problema era somente a in�ação inercial estava errado. O congelamento de preços durou muito tempo (11 meses), com os preços sendo congelados em nível corrente ao invés de médio, como os salários, causando distorções nos preços relativos. O gatilho reintroduziu e agravou o problema da indexação no país. Além disso, existiam problemas na condução do câmbio �xo e nas tarifas públicas. Os Planos Bresser e Verão Luís Carlos Bresser-Pereira substituiu Dílson Funaro com o objetivo de elaborar um novo plano econômico para controlar a in�ação: Plano Bresser. Esse plano tinha como objetivo promover um choque de�acionário na economia, buscando evitar os erros do Plano Cruzado, com o diagnóstico da in�ação sendo decorrentesde dois componentes: I) in�ação inercial (heterodoxo); II) in�ação de demanda (ortodoxo); portanto, podendo ser de�nido como um plano híbrido de combate à in�ação (CASTRO, 2016). Em relação ao diagnóstico ortodoxo: as políticas �scal e monetária, ao contrário do ocorrido no Cruzado, seriam ativamente usadas contra a in�ação. Os juros reais positivos serviriam para contrair o consumo e também evitar a especulação com estoques. Pretendia-se reduzir o dé�cit público através de aumentos de tarifas, eliminação do subsídio do trigo, corte de gastos, e, como posteriormente anunciado, corte de investimentos públicos (CASTRO, 2016, p. 114). Em relação ao diagnóstico heterodoxo: Do lado heterodoxo, foi decretado um congelamento de preços e salários no nível vigente quando do anúncio do Plano, a ser realizado em três fases: (1) congelamento total por três meses; (2) �exibilização do congelamento; e (3) descongelamento. Os salários �cavam indexados a uma nova base: a Unidade de Referência de Preços (URP), que era pre�xada a cada três meses com base na taxa de in�ação média (geométrica) dos três meses precedentes (CASTRO, 2016, p. 115). Lanzani (2017) destaca que o plano tinha que buscar o equilíbrio externo e o combate à in�ação, através das medidas ortodoxas e heterodoxas adotadas. A volta da aceleração da in�ação foi consequência da ampliação do dé�cit público, reindexação por meio da URP e desvalorização cambial (LANZANI, 2017). Com a saída de Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega assumiu a economia, retirando os componentes heterodoxos de combate à in�ação e adotando uma política gradualista ortodoxa. Assim, o objetivo era estabilizar a in�ação em 15% e combater o dé�cit público, política conhecida como “Feijão com Arroz” (CASTRO, 2016). Lacerda et al . (2018) ressaltam que Maílson da Nóbrega tinha como objetivo cortar o dé�cit operacional de 8% para 4%, para reduzir a atividade econômica através do corte de reajustes aos servidores públicos e adiamento dos aumentos de preços administrados para atingir o objetivo. Castro (2016) explica que a in�ação �cou próxima ao objetivo no primeiro semestre de 1988, contudo, um choque agrícola desfavorável fez a in�ação acelerar em julho a in�ação atingiu 24%. Ainda, a política monetária expansionista auxiliou a impulsionar a in�ação. Com o �m do gradualismo de Maílson de Nóbrega (�nal de 1989), o terceiro plano econômico da era Sarney foi anunciado, o Plano Verão. Esse plano também tinha elementos heterodoxos e ortodoxos, com a nova moeda sendo chamada de Cruzado Novo (NCz $), equivalente a mil cruzados, sendo relacionada ao dólar em NCz $ 1,00, após desvalorização da moeda nacional (LACERDA et al ., 2018). Castro (2016) aponta os elementos ortodoxos como medidas de restrição às políticas econômicas expansionistas. Já os elementos heterodoxos do plano eram os já conhecidos congelamentos de preços e salários, mas agora por tempo indeterminado. Em relação à e�cácia do Plano Verão, a in�ação reduziu no primeiro mês de sua implementação (fevereiro), mas no mês seguinte entrou em rota ascendente, inviabilizando o sucesso do plano. Embora os três planos (Cruzado, Bresser e Verão) tenham procurado eliminar ou reduzir a in�ação, não obtiveram sucesso. Isso, pois, a taxa de in�ação anual em 1989 foi de 1.764,86% (LACERDA et al ., 2018). Nesse contexto, a falta de sucesso dos planos de estabilização da década de 1980 podem ser observados através da Figura 3.2. Figura 3.2 - In�ação mensal (%) Fonte: Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2017, p. 454). Como se pode observar na Figura 3.2, os planos econômicos desenvolvidos na segunda metade da década de 1980 não conseguiram resolver o problema in�acionário. Isso, pois, a in�ação sempre voltava a aumentar após o choque promovido pelo plano econômico. Note que o plano cruzado conseguiu resolver o problema in�acionário em um curto período de tempo, mas logo voltou a subir (foi o plano em que a in�ação �cou um maior período mais baixa). Na sequência, os planos Bresser e Verão também conseguiram diminuir a espiral in�acionária, só que em um curto período de tempo. Apesar de não ser o foco da unidade, vale destacar que após os planos frustrados da década, a in�ação começou a avançar exponencialmente a partir de meados de 1989 até a implementação do Plano Collor 1. Contudo, ainda assim não obteve o sucesso esperado, com a in�ação persistindo até a implementação do Plano Real em 1994. praticar Vamos Praticar O Brasil sempre teve que lidar com problemas in�acionários e períodos de forte elevação da in�ação, como foi o início da década de 1960, sendo necessário elaborar planos econômicos. Esse processo também foi desenvolvido na década de 1980, nesses planos qual era o diagnóstico para a in�ação? a) Dívida pública interna. b) In�ação externa. c) In�ação de demanda. d) In�ação inercial. e) In�ação de custo. Desde a reforma de 1964, veri�cou-se uma forte centralização dos recursos no governo federal. Com a redemocratização e a Constituição de 1988, ocorreu a tentativa de alterar essa tendência centralizadora, ampliando a participação de Estados e Municípios na receita disponível através dos mecanismos de transferências desenvolvidos (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR., 2017). No �nal da década (1988), ocorreu a promulgação da nova Constituição do Brasil (Constituição Cidadã). Como consequência dos abusos e torturas da época ditatorial (1964-1985), a Carta de 1988 tornou crimes a tortura e grupos armados (civis ou militares), considerando-os crimes ina�ançáveis (CASTRO, 2016). A Constituinte de 1988 Em 15 de março de 1985 chegou ao �m a ditadura militar brasileira, em grande parte a campanha das “Diretas Já” dos anos anteriores. Através da 1988: a Constituição1988: a Constituição CidadãCidadã eleição indireta de Tancredo Neves, que veio a falecer antes de ser efetivado Presidente da República, assumindo o Vice-Presidente José Sarney, o Brasil teve que rapidamente lidar com problemas de liquidez e �nanciamento externo e, ao mesmo tempo, com a in�ação crescente no país. Ainda, foi necessário desenvolver uma nova Constituição para o país, dada a obsolência da passada. A Assembleia Nacional Constituinte foi convocada em 1985, com a participação de 559 parlamentares (72 senadores e 487 deputados federais), para um trabalho de 20 meses, com contribuição dos demais agentes da sociedade que poderiam enviar durante cinco meses suas sugestões que poderiam ser inseridas na Constituição. Durante praticamente dois anos, ocorreram intensos debates e surgimentos de ideias para a construção da Constituição brasileira, até sua aprovação no dia 5 de outubro de 1988. Em seu preâmbulo, a Constituição (BRASIL, 1988) diz que: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pací�ca das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (BRASIL, 1988, on-line). Desse modo, com a elaboração da Constituição Federal de outubro de 1988 (CF/88), apresentaram-se as diretrizes básicas que deveriam ser seguidas pelos anos seguintes, visto que toda a ação dos agentes econômicos (famílias, empresas e governos) deve ter como base os direitos e deveres expostos na CF/88. Isso posto, através do processo constituinte foi possível a elaboração da Constituição Federal de 1988, responsável por guiar o Estado brasileiro desde então. Muitos foram os agentes que participaram de sua elaboração, inclusive a própria sociedade brasileira. Através da nova Constituição, foi possível deixar para trás diversos mecanismos utilizadospela ditadura militar, também apresentando proibições sobre alguns desses mecanismos. Os Direitos Sociais Garantidos na CF/88 A Constituição Federal de 1998 (CF/88), apresenta em seu capítulo dois “DOS DIREITOS SOCIAIS” as questões relativas à temática social, como, por exemplo, o Art. 6° que explica o que são os direitos sociais: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a saibamais Saiba mais Prezado(a) estudante, você conhece os mecanismos que culminaram na Constituição Federal de 1988? As etapas e fases da Constituinte? Para compreender esse importante acontecimento de nossa história recente, consulte o site elaborado pela Câmara dos Deputados e Senado Federal pelos 30 anos da Constituição da Cidadania. ACESSAR https://www.camara.leg.br/internet/agencia/infograficos-html5/constituinte/index.html assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988, on-line ). Ainda nas questões dos direitos sociais, a CF/88 no Art. 7° aponta diversas questões sobre esses direitos tanto para trabalhadores urbanos quanto rurais, para melhorar sua condição social. Portanto, os trabalhadores devem possuir direito ao seguro-desemprego, fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS), salário mínimo, piso salarial em relação à complexidade do trabalho, décimo terceiro salário, jornada de trabalho especí�ca, repouso semanal remunerado (em especial no domingo), licença à gestante, dentre outras (BRASIL, 1988). Prezado(a) estudante, pela própria palavra “social” é possível identi�car sua importância na Constituição Federal, como é o caso do Título VII “DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA”. Nessa seção, são apresentadas diretrizes para a diminuição da desigualdade, por exemplo, um caráter social. Além disso, são apresentadas questões relacionadas à polêmica da reforma agrária no país (BRASIL, 1988). Preocupação com a parcela mais vulnerável da sociedade também está exposta no Título VIII “DA ORDEM SOCIAL”, visto que existe um capítulo especí�co para tratar da seguridade social. Em seu Art. 194 diz que: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988, on-line ). Ainda nesse capítulo, o artigo seguinte (Art. 195) aponta como toda a sociedade sendo responsável pela contribuição para a contribuição social (BRASIL, 1988). Em relação a CF/88, Castro (2016) ressalta que o ponto mais relevante da constituição foi a prioridade dada aos direitos sociais, isso pois os direitos sociais �caram na frente de questões ligadas à própria organização do Estado. Por exemplo, o Art. 5° diz que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]” (BRASIL, 1988, on-line ). Nessa perspectiva, é possível observar a grande importância dada para as questões sociais na elaboração da Constituição Federal do Brasil de 1988, visto que os responsáveis por sua elaboração estavam preocupados em fortalecer os direitos básicos da sociedade brasileira. Contudo, com o passar do tempo, começaram a existir preocupações dadas as elevadas exigências que a CF/88 impõe no tocante aos direitos sociais, enrijecendo o orçamento público brasileiro. Apesar das questões positivas sobre os direitos dos cidadãos, uma possível crítica ao formato da CF/88 é falta de controle sobre os gastos públicos, impactando na viabilidade econômica e �nanceira do próprio Estado brasileiro ao longo do tempo, principalmente em momentos de instabilidades e/ou crise econômica que, por si só, já implica em redução das receitas públicas. Lanzana (2017) aponta o caráter de maiores direitos sociais expostos na CF/88 ao demonstrar que ocorreu uma maior participação dos gastos do governo sobre a assistência e previdência. Isso porque entre 1970-1979 as despesas eram de 7,2% do PIB, já no período recente (2011-2015), as despesas estavam na casa dos 12% do PIB, dada as maiores facilidades para aposentadoria e aumento na expectativa de vida dos cidadãos brasileiros. praticar Vamos Praticar Após um longo período de ditadura militar no país (21 anos), a volta à democracia começou a partir de 1985, sendo elaborado processo de constituinte para que fosse desenvolvida a nova Constituição Federal do país, apresentando os direitos e deveres dos cidadãos. Assim, qual foi o maior foco apresentado na Constituição? a) Direitos sociais. b) Política �scal contracionista. c) Política monetária expansionista. d) Correção monetária. e) Criação de moeda. indicações Material Complementar WEB Economia Brasileira- A história Contada por Quem a Fez Ano: 2015 Comentário: O documentário é bastante interessante visto que retrata toda a história econômica do país, especi�camente nos episódios 5 e 6, são retratadas muitas questões apresentadas ao longo da unidade, como o avanço do endividamento e crise externa e os problemas in�acionários da década de 1980. Para conhecer mais, acesse o vídeo a seguir. ACESSAR https://www.youtube.com/watch?v=rke0-Sc5tBA&list=PLZxP0elzkoDNimHL4dZJHSQ5ZSm3LA5O0&index=5 LIVRO Economia brasileira contemporânea Editora: Elsevier Autor: Jennifer Hermann. Organizado por: Fábio Giambiagi et al. ISBN: 978-85352-6793-8 Comentário: A década de 1970 foi bastante instável, com o país sendo obrigado a escolher entre o ajuste recessivo e completar sua matriz industrial, optando pela segunda alternativa. Assim, o capítulo 4 apresenta com ricos detalhes toda a conjuntura do momento. LIVRO Economia Brasileira Editora: Saraiva Educação Autor: Antônio Corrêa de Lacerda et al. ISBN: 978-85-472-3178-1 Comentário: A parte IV do livro é de suma importância para compreender a grande instabilidade externa e interna pela qual o país passou durante a década de 1980. Contudo, especialmente o capítulo 13 apresenta com detalhes os planos econômicos desenvolvidos na segunda metade da década para o combate à in�ação. conclusão Conclusão As décadas de 1970 e 1980 apresentaram o �nal do auge e início da crise econômica no país. Através do II PND o país conseguiu avançar em sua complexidade industrial na direção dos bens de produção. Contudo, a deterioração do cenário externo e aumento da dívida pública externa provocou forte impacto na dinâmica da economia brasileira, impactando toda a década de 1980, primeiramente pela dívida externa e, na sequência, pelo forte descontrole in�acionário que não foi resolvido apesar da tentativa de diferentes planos econômicos entre 1985 e 1989, sendo que durante esses planos foi elaborada a Constituição Federal do Brasil em 1988. referências Referências Bibliográ�cas BRASIL. Câmara dos Deputados. 30 anos da Constituição . [2018]. Disponível em: https://www.camara.leg.br/internet/agencia/infogra�cos- html5/constituinte/index.html . Acesso em: abr. 2020. https://www.camara.leg.br/internet/agencia/infograficos-html5/constituinte/index.html BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário O�cial da União , Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm . Acesso em: 22 abr. 2020. CASTRO, L. B. Esperança, frustração e aprendizado: a história da Nova República. In: GIAMBIAGI, F. et al . Economia brasileira contemporânea . 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. p. 96-127. GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JR., R. Economia brasileira contemporânea . 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. HERMANN, J. Reformas, endividamento externo e o “milagre” econômico. In: GIAMBIAGI, F. et al . Economia brasileira contemporânea . 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016a. p. 48-72 x-y.HERMANN, J. Auge e declínio do modelo de crescimento com endividamento: o II PND e a crise da dívida externa. In: GIAMBIAGI, F. et al . Economia brasileira contemporânea . 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016b. p. 73-94. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA E APLICADA (IPEADATA). 2020. Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/ . Acesso em: 7 maio 2020. LACERDA, A. C. de et al . Economia brasileira . 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. LANZANA, A. E. T. Economia brasileira : fundamentos e atualidade. 5. ed. 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