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Universidade Estadual de Londrina CENTRO DE TECNOLOGIA E URBANISMO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Lincoln Flanklin de Almeida LONDRINA – PARANÁ 2014 ANÁLISE MULTICRITÉRIO CONSTRUTIVISTA PARA GERAÇÃO DE INDICADORES DO DESEMPENHO DO TRANSPORTE COLETIVO URBANO EM UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE LINCOLN FLANKLIN DE ALMEIDA ANÁLISE MULTICRITÉRIO CONSTRUTIVISTA PARA GERAÇÃO DE INDICADORES DO DESEMPENHO DO TRANSPORTE COLETIVO URBANO EM UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE Trabalho apresentado como requisito parcial para a Conclusão do Curso de Engenharia Civil do Centro de Tecnologia e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina. COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Dr. Carlos Alberto Prado da Silva Junior Universidade Estadual de Londrina ______________________________________ Prof. Drª. Heliana Barbosa Fontenele Universidade Estadual de Londrina ______________________________________ Prof. Dr. Mario Cezar Stamm Junior Universidade Estadual de Londrina Londrina, ____ de Novembro de 2014 i DEDICATÓRIA A Deus, por ser extremamente paciente e piedoso comigo. Aos meus pais e irmã que foram companheiros em todas as horas. ii AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela oportunidade que me deu de poder concluir mais uma etapa da minha vida, mesmo com todas as turbulências que apareceram no meio do caminho. Ao Professor Carlos Alberto Prado da Silva Júnior por ter se disponibilizado a me orientar durante todos esses meses, mesmo com tantas outras responsabilidades. Pela enorme paciência, pelo incentivo, pela credibilidade, compreensão e pelos conselhos. À minha família, que esteve ao meu lado, sendo o alicerce da minha vida. Por acreditar no meu potencial, sempre demonstrando orgulho pelas minhas conquistas, me dando carinho e amor em todos os momentos, e ajudando a me tornar a pessoa que sou hoje. Aos amigos que fiz durante esses cinco anos de faculdade. Em especial à Matheus Lustosa, Matheus Clemes, Renan Borelli, Luis Alexandre, Fernanda Palhao, Thais Santos, Patricia Batilani, Pamela Martins e Marcela Ochiro, que me ajudaram de várias formas a concluir esta etapa e permaneceram sempre presentes quando eu mais precisava. A todos que contribuíram para o andamento desta pesquisa através da internet. Sem vocês este trabalho não iria acontecer. Muito obrigado! iii EPÍGRAFE “O êxito da vida não se mede pelo caminho que você conquistou, mas sim pelas dificuldades que você superou no caminho”. Abraham Lincoln iv ALMEIDA, Lincoln F. Análise Multicritério Construtivista para geração de indicadores do desempenho do transporte coletivo urbano em cidade de médio porte. 2014. 52. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Engenharia Civil – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014. RESUMO Este trabalho tem como objetivo o estudo e obtenção de descritores através de uma metodologia de avaliação de desempenho para o atual sistema de transporte coletivo urbano em uma cidade de médio porte, onde foi aplicada a metodologia Multicritério de Apoio a Decisão Construtivista (MCDA). Nele, foram apresentados o atual cenário da mobilidade urbana no país, o transporte coletivo urbano nas médias e grandes cidades e as alternativas encontradas por essas cidades para driblar o crescente caos do deslocamento urbano. Com a aplicação da metodologia MCDA-C através de um questionário online, a partir das ideias, perspectivas e valores identificados, puderam-se analisar os aspectos mais importantes para o desempenho dos transportes coletivos urbanos em diversas áreas, como acessibilidade, planejamento, segurança, comportamento, etc. Desse modo, foram criados os descritores para possíveis mensurações futuras do desempenho do transporte coletivo urbano por ônibus numa cidade de médio porte. Palavras-chave: MCDA-C. Avaliação de desempenho. Transporte Coletivo Urbano. Ônibus. v ALMEIDA, Lincoln F. Constructivist Multicriteria analysis to create indicators the performance of the urban public transport in a medium-sized city. 2014. 52 . Monograph of the Civil Engineering course – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014. ABSTRACT This project aims to study and obtain descriptors through a methodology of performance evaluation for the current system of urban public transport in a medium sized city, where the methodology Multicriteria Decision Support Constructivist (MCDA) was applied. In it, the current situation of urban mobility in the country, the collective urban transport in medium and large cities and the alternatives faced by these cities to circumvent the growing chaos of urban displacement were presented. With the application of MCDA-C methodology through an online questionnaire, as of ideas, perspectives and values identified, it was possible to analyze the most important aspects to the performance of the urban public transport in many areas such as accessibility, planning, safety, behavior, etc. Thus, the descriptors were created for possible future measurements of the performance of the urban public transport buses in a medium-sized city. Keywords: MCDA-C. Performance analysis. Urban public transport. Bus. vi LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Crescimento Populacional e Urbano no Brasil.........................................09 Figura 2 - Divisão modal das viagens pesquisadas no Brasil...................................12 Figura 3 - Sistema BRT na cidade de Curitiba .........................................................14 Figura 4 - Canaletas de placas de concreto do BRT em Curitiba.............................16 Figura 5 - Placa de sinalização indicando a faixa exclusiva de ônibus.....................18 Figura 6 - Transporte coletivo interurbano circulando na faixa exclusiva de ônibus em Londrina.............................................................................................18 Figura 7 - Terminais urbanos e empresas operantes do transporte coletivo em Londrina...................................................................................................20 Figura 8 - Fases da MCDA-C....................................................................................25 Figura 9 - Apresentação do questionário online com o auxilio da ferramenta Google Docs........................................................................................................30 Figura 10 - Identificação do contexto decisório da MCDA-C....................................31 Figura 11 - Questão final do questionário elaborado pelo autor para os internautas identificarem os principais problemas no sistema de transporte público urbano na cidade de Londrina ...............................................................34 Figura 12 - Resumo das respostas dos usuários – Faixa etária e sexo...................34 Figura 13 - Esboço do mapa de relações meio e fim................................................41 vii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Quantidade de elementos relacionados ao problema, fruto das respostas dos internautas........................................................................................35 Tabela 2 - Repetições dos elementos relacionados ao problema..................................................................................................36 Tabela 3 - Áreas de atuação dos elementos.............................................................37 Tabela 4 - Elementos relacionados à ação representados pelas cores desuas áreas de atuação...............................................................................................38 Tabela 5 - Elementos relacionados à ação com seus respectivos conceitos orientados à ação e pólo negativo..........................................................40 Tabela 6 - Análise dos principais conceitos do mapa de relações meio e fim...........................................................................................................42 Tabela 7 - Identificação dos Pontos de Vista Fundamentais (PVF’s) e Pontos de Vista Elementares (PVE’s)......................................................................43 Tabela 8 - Descritores dos Pontos de Vistas Fundamentais..........................................................................................44 Tabela 9 - Quantidade de frequência de repetição de cada elemento e quantidade total de relações meio e fim.....................................................................45 Tabela 10 – Pesos dos descritores ..........................................................................46 viii LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 - Cálculo para a obtenção dos pesos dos descritores...............................................................................................46 SUMÁRIO DEDICATÓRIA i AGRADECIMENTOS EPÍGRAFE RESUMO ABSTRACT ii iii iv v LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE EQUAÇÕES vi vii viii 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 4 1.1 Problema................................................................................................... 5 1.2 Justificativa................................................................................................ 5 1.3 Questão de pesquisa ............................................................................... 6 1.4 Objetivos................................................................................................... 6 1.5 Contribuição esperada.............................................................................. 6 1.6 Hipótese.................................................................................................... 7 1.7 Estruturação do trabalho........................................................................... 7 2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... 8 2.1 Mobilidade Urbana.................................................................................... 8 2.2 Transporte Público Urbano....................................................................... 11 2.2.1 BRT – Bus Rapid Transit.......................................................................... 14 2.2.2 Breve histórico do sistema de transporte público urbano de Londrina..................................................................................................... 17 2.2.3 O sistema de transporte público de passageiros de Londrina..................................................................................................... 18 2 2.3 Atributos da qualidade do sistema de transporte público urbano por ônibus........................................................................................................ 20 2.4 Metodologia multicritério de apoio à decisão – MCDA-C ......................... 24 2.4.1 Fase de Estruturação................................................................................. 25 2.4.2 Fase de Avaliação...................................................................................... 27 2.4.3 Fase de Recomendações.......................................................................... 278 3 METODOLOGIA DE PESQUISA.................................................................. 29 3.1 Identificação do contexto decisório............................................................... 30 3.2 Avaliação das ações potenciais.................................................................... 31 3.3 Análise dos resultados e da sistemática e recomendações........................... 32 4. 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9 4.10 RESULTADOS.......................................................................................... Processo Decisório................................................................................... Os Atores do Processo Decisório............................................................. Levantamento dos Elementos Primários de Avaliação.............................. Áreas de Atuação...................................................................................... Criação dos Conceitos Orientados à Ação................................................ Criação do Mapa de Relações Meio e Fim................................................ Identificação dos Pontos de Vista Fundamentais...................................... Criação dos Descritores............................................................................. Criação das Funções de Valor – Pesos..................................................... Recomendações......................................................................................... 32 32 33 33 36 39 41 42 43 44 46 3 5. 6. CONCLUSÃO................................................................................................ BIBLIOGRAFIA............................................................................................... 48 49 4 1 INTRODUÇÃO O ligeiro processo de urbanização não planejado apurado nas duas últimas décadas no país marcou a explosão do crescimento das cidades, transformando o espaço urbano. Como características dessas cidades, dificuldades como inadequação da oferta de transporte público, congestionamentos e poluição causados pelo uso intenso de veículos motorizados, dão margem para um exemplo de mobilidade urbana que pode ser considerado precária no médio e longo prazo. O planejamento bem elaborado destas cidades é de suma importância para o desenvolvimento econômico e da promoção para uma melhora da qualidade de vida da população, diminuindo assim as desigualdades sociais. Dentre os vários enfoques do planejamento, o Sistema de Transporte Coletivo Urbano, é um dos aspectos de clara importância ao desenvolvimento das cidades. Atualmente, é no cenário mundial um meio necessário de deslocamento de grandes contingentes populacionais. O transporte coletivo quando de qualidade e utilizado pela população, diminui consideravelmente o tráfego de veículos sobre as vias, transporta um grande número de pessoas de forma relativamente rápida, e ainda representa uma economia para o usuário e para a gestão da cidade (BARROS; MOREIRA; POLIDORO, 2013). Além disso, assume papel fundamental nos deslocamentos diários da população brasileira, sendo responsável por 30% dos deslocamentos (KNEIB, 2011.). Esta importância insere-se na responsabilidade do planejamento de transportes, uma vez que não é necessário apenas atender à necessidade de deslocamentos por transporte coletivo, mas sim propor e proporcionar meios de melhorar a qualidade dos serviços ofertados, de forma a tornar tal serviço confiável, confortável e econômico. Neste trabalho foi apresentada uma análise do Sistema de Transporte Coletivo de Londrina e suas principais características sob a ótica dos usuários de ônibus através da análise multicritério construtiva. A partir destas análises e dos elementos primários de avaliação, elaborou-se um mapa cognitivo que permitirá visualizar os problemas de uma maneira ampla, para que a partir dele, sejam definidos os pontos de vista fundamentais e seus respectivos descritores, servindo de base para subsidiar as proposições apontadas e a indicaçãode propostas de melhorias cabíveis. 5 1.1 Problema Atualmente com 537.566 habitantes (IBGE, 2013), Londrina pode ser considerada uma cidade de médio porte, se enquadrando em cidades brasileiras onde houve uma intensa migração da zona rural para a zona urbana. As migrações daqueles que residiam nas áreas rurais para a área urbana da cidade trouxeram várias dificuldades de adaptação tanto economicamente quanto em termos de infraestrutura. As questões de infraestrutura, desde então, têm sofrido com as bruscas mudanças devido à alta da população repentina. Pensando em equacionar parte desses problemas, pelo menos no sistema viário, há mais de dez anos foram implantadas as bilhetagens eletrônicas em Londrina, substituindo a bilhetagem tradicional de tickets de transporte por cartões recarregáveis com o propósito de proporcionar aos usuários do sistema de transporte de Londrina e região uma melhoria da qualidade dos serviços prestados, tornado o acesso aos ônibus mais rápido, seguro e permitindo a integração entre as linhas de qualquer ponto de parada de ônibus. No setor de infraestrutura viária, há cerca de cinco anos foram instaladas faixas exclusivas de ônibus em algumas vias consideradas de alto fluxo de veículos. Essas faixas possuem como objetivo priorizar os deslocamentos, diminuindo o tempo de viagem dos ônibus que realizam o transporte público urbano. Porém, mesmo com a implantação desse sistema de faixas exclusivas a velocidade de operação do transporte público, principalmente nos horários de pico, continua muito baixa. O principal efeito é que a população continua buscando formas de deslocamentos mais rápidos e investe cada vez mais no uso de veículos motorizados particulares, tais como: automóveis e motocicletas. 1.2 Justificativa A população pé-vermelha vem enfrentando inúmeros problemas de mobilidade nos últimos anos. Propostas de ampliações e melhorias da infraestrutura viária são cada vez mais frequentes e visam uma possível melhoria da qualidade de vida na cidade de Londrina, como por exemplo, a implantação de um sistema de BRT - Bus 6 Rapid Transit, que deverá ligar as regiões leste-oeste e norte-sul de Londrina. No entanto é necessário avaliar o sistema de transporte urbano por ônibus oferecido na cidade atualmente e verificar se as propostas mais recentes, de fato, trarão melhorias para a qualidade do serviço na cidade. 1.3 Questão de Pesquisa De acordo com os problemas citados acima, a seguinte questão de pesquisa para elaboração deste trabalho pode ser criada: “Como gerar indicadores para avaliar o transporte público por ônibus pela ótica dos usuários do sistema?”. 1.4 Objetivos O objetivo geral deste trabalho será gerar indicadores, por meio de uma metodologia de análise multicritério construtivista, que possam avaliar o desempenho operacional do transporte público por ônibus na cidade de Londrina. Para alcançar o objetivo geral, são necessárias ter como metas os seguintes objetivos específicos: Aprofundar o conhecimento sobre transporte público coletivo, mobilidade urbana e índices de avaliação utilizando-se da metodologia multicritério construtiva - MCDA-C; Conhecer os processos de aplicação da metodologia MCDA-C; Conhecer indicadores de avaliação do desempenho dos deslocamentos ou viagens na área urbana; Utilizar o programa MACBETH ou rotina computacional similar para aplicação dos princípios da MCDA-C; Propor melhorias futuras para a mobilidade urbana de uma cidade de médio porte; 1.5 Contribuição Esperada A principal contribuição desta pesquisa consiste no desenvolvimento de um grupo de indicadores que possam avaliar o sistema de transporte público urbano 7 por ônibus ofertados pela cidade no atual momento de operação a fim de se identificar os principais problemas enfrentados pelos usuários, para que, os projetos futuros, não atendam apenas as questões de mobilidade urbana, mas também que atendam os anseios da população. 1.6 Hipótese O emprego da metodologia de análise multicritério MCDA-C para testar a geração de indicadores de análise e avaliação do desempenho do transporte público coletivo urbano numa cidade de médio porte. 1.7 Estruturação do trabalho Este trabalho encontra-se estruturado da seguinte maneira: O capitulo 1 aborda o escopo do trabalho, dando uma apresentação do tema, a problemática de pesquisa, a justificativa do tema, o objetivo da pesquisa, a contribuição esperada do autor e a hipótese de trabalho. O capitulo 2 apresenta um referencial teórico, com conceito de mobilidade urbana, conceito de transporte público, BRT – Bus Rapid Transit, o histórico e o atual sistema de transporte coletivo urbano de Londrina, índices de avaliação do transporte público urbano e o conceito da metodologia multicritério decisiva construtiva – MCDA-C que será o principal ferramenta de trabalho. O capitulo 3 apresenta o método de pesquisa para a elaboração do trabalho, com seu desenvolvimento e etapas. No capitulo 4 são feitas as análises e os resultados com base na metodologia de pesquisa. No capítulo 5 é apresentada a conclusão final do autor com base nos resultados apresentados. Por fim, no capítulo 6 é abordado toda a referência bibliográfica que serviu de apoio para a elaboração desse trabalho de pesquisa. 8 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A finalidade desta pesquisa antevê uma avaliação do sistema de transporte público em uma cidade de médio porte, através da análise multicritério construtiva, visando à melhoria da qualidade de vida das pessoas. Assim, se fez necessária uma revisão da literatura baseada em conceitos e definições no âmbito da mobilidade urbana, do transporte público urbano e características de métodos de avaliação de sistemas de transporte público e da gestão da mobilidade urbana. A revisão literária é exibida nas seguintes subdivisões do capitulo e foi indispensável para o desenvolvimento da pesquisa, expandindo, deste modo, a informação e conhecimento na área. 2.1 Mobilidade Urbana O Brasil vem sofrendo atualmente o processo de urbanização vivenciado nos países desenvolvidos durante o século XX, resultando em uma grande concentração populacional em algumas cidades. Os grandes centros começam a se tornar palco de viagens mais demoradas, da perda de mobilidade das pessoas, congestionamentos, do aumento da poluição, do desperdício de energia, dos acidentes, das mortes, e do aumento da frota de veículos particulares (MAIA, 2013). Segundo CARVALHO (2011) o crescimento das grandes cidades brasileiras coincidiu com a instalação da indústria automotiva no país, em meados do século passado. Dessa forma, com o fenômeno do êxodo rural e também as altas taxas de fecundidade e crescimento populacionais verificados, os principais centros urbanos se expandiram aceleradamente desde meados do século passado, conforme a Figura 1. 9 Figura 1: Crescimento Populacional e Urbano no Brasil. Fonte: IBGE, 2011 A grande extensão territorial das urbes, porém, não deve ser assumida de forma isolada, como o único fator responsável pelas mudanças que a equação tempo/espaço adquiriu no mundo urbano atual. Ao lado da dimensão territorial, a própria organização das atividades urbanas que hoje se apresenta de forma muito dispersa é também um traço muito relevante e deve ser considerada. O importante conceito “tempo em grande escala” traduz de forma precisa as características da relação tempo/espaço nas metrópoles contemporâneas (MIRALLES-GUASCH, 1997 apud MEYER, 2014). E, como contrapartida natural dessa relação, a mobilidade urbana tornou-se recentemente a sua expressão concreta, material e viva. De acordo com MEYER (2014) o conceito de mobilidade urbana possui uma definição simples: é a soma dos deslocamentos individuais de todosos cidadãos em meios de transporte públicos e particulares no interior do território urbano. Tendo então papel de maximizar as relações de trocas de bens e serviços, cultura e informação entre seus habitantes, a mobilidade é um atributo associado às cidades e satisfaz essa facilidade de deslocamentos de pessoas e bens na área urbana (VARGAS, 2001). No entanto, para haver um deslocamento sem intervenções é necessário que alguns fatores sejam levados em conta, tais como: i) dimensões do espaço urbano; ii) complexidade das atividades nele presente; iii) disponibilidade de serviços de transporte; iv) a forma como a cidade é planejada; e v) as características da população (PAPPA e CHIROLI, 2011). 10 De acordo com MACÁRIO (2005), as condições de mobilidade afetam diretamente o desenvolvimento econômico das cidades, podendo atrair ou afastar pessoas, investidores, indústrias e empregos. O agravamento dos problemas de transporte e a necessidade de uma nova forma para o planejamento da mobilidade têm elevado o uso de conceitos de sustentabilidade pelos gestores, visando assim uma melhor utilização das características das vias urbanas e melhor utilização desses recursos (COSTA, 2005). Segundo ANTUNES e SIMÕES (2013), a mobilidade urbana é fundamental para a qualidade de vida da população nas cidades brasileiras, porque os deslocamentos de pessoas são diários, frequentes e impactam diretamente na dinâmica urbana e no uso do solo urbano; sendo que, a escolha do modal a ser utilizado depende das características próprias de cada um e da decisão final do usuário, geralmente optando por um transporte eficiente por meio do qual ele possa fazer seu deslocamento com qualidade e de forma eficiente. Contudo, ainda há muita confusão quanto à definição da mobilidade urbana. Muitos acreditam que envolve apenas a prestação de serviços de transportes, principalmente dos modos motorizados. Desta forma, a análise da mobilidade estaria restrita apenas à circulação de automóveis e ao uso dos transportes coletivos (AZEVEDO FILHO, 2012). De acordo com MITCHELL (2008), na sua comparação entre cidades e pessoas, o funcionamento das metrópoles depende, principalmente, de um bom planejamento do uso do solo junto com um sistema de transporte eficiente. Daí surge o desejo de se construir cidades sustentáveis, o que tem sido item de vários estudos. Estes estudos incluem o desenvolvimento de um novo conceito para a mobilidade, que mantenha o foco na melhoria das condições de mobilidade e acessibilidade, visando uma melhor qualidade de vida para os cidadãos urbanos e buscando alcançar a sustentabilidade (RODRIGUES DA SILVA et al., 2008). A mobilidade urbana também desempenha um papel importante no campo da sustentabilidade, visto que o mundo experimenta crises de energia e expressa preocupação com questões ambientais (SUSNIENÉ, 2012). Atualmente a sustentabilidade energética e ambiental está entre os principais objetivos para no desenho do sistema de mobilidade (FALVO et al., 2011). Conforme KEPAPTSOGLOU et al. (2012), nas últimas duas décadas, o transporte sustentável 11 tem atraído o interesse da comunidade acadêmica e de profissionais que atuam no desenvolvimento de sistemas de tráfego. Com isso, a busca por transportes sustentáveis afetou metas e objetivos do processo de planejamento de transporte introduzindo novas estratégias para resolver esta questão. Na verdade, é demonstrado que o uso eficiente da energia e um sistema de transporte ambiental sustentável são essenciais para o desempenho de alta qualidade dos modernos sistemas econômicos (FALVO et al., 2011). Na visão de FERRAZ (1998), o transporte coletivo urbano constitui um modo de transporte imprescindível para reduzir congestionamentos, níveis de poluição e uso indiscriminado de energia automotiva, e minimiza a necessidade de construção de vias e estacionamentos. Mesmo não apresentando resultados sustentáveis tão satisfatórios, o transporte coletivo urbano por ônibus ainda é uma saída para a melhora da mobilidade urbana em grande parte das cidades. (SILVA et al, 2013). 2.2 Transporte Público Urbano O transporte exerce sobre a sociedade uma influência muito maior do que aquela comumente percebida (CELLOS, 2012). A grande mudança da urbanização que vem ocorrendo no mundo, de acordo com AMOZOU (2000), mostra não somente que um maior número de pessoas irá morar e trabalhar em grandes cidades, mas, também, que o cidadão vai precisar percorrer longas distâncias para satisfazer suas necessidades econômicas, sociais e culturais no espaço urbano. Com relação ao Brasil, em um estudo que considerou os municípios com mais de 60 mil habitantes, constatou-se que a maior parte das viagens das pessoas é realizada a pé (38,9%); seguida pelo transporte público coletivo (29,3%), pelo transporte individual motorizado (29,2%), e pelo transporte com bicicletas (2.7%), conforme Figura 2. 12 Figura 2: Divisão modal das viagens pesquisadas no Brasil. Fonte: ANTP, 2005 De acordo com KNEIB (2011), tais números indicam a importância do transporte coletivo e não motorizado, ratificando a necessidade de estudos que procurem a melhoria destes sistemas. O transporte público é uma das áreas que exerce grande influência no meio urbano. Sendo assim, o sistema de transporte integra um conglomerado essencial à vida urbana, constituindo-se em um objeto passível de se relacionar como um dos focos de pesquisas do planejamento. O planejamento do sistema de transporte e o planejamento urbano devem ser realizados em conjunto, pois é necessário contemplar dois aspectos que afetam diretamente a qualidade de vida da população: a acessibilidade e a mobilidade sustentável (FERRAZ e TORRES, 2004) Porém, FERRAZ (2004) relata que a preferência das pessoas é pelo modo de transporte mais confortável: o carro. O transporte público é utilizado quando ocorre uma ou mais das seguintes situações: restrição econômica pessoal, impossibilidade de dirigir, existência de transporte público de boa qualidade, trânsito congestionado, dificuldade de estacionamento, custo elevado de acesso (pedágio) e estacionamento, restrições impostas pelo poder público ao uso do carro, conscientização da comunidade em relação aos problemas provocados pelo uso massivo do carro, dentre outras. Para MORAIS (2012), é necessário levar em conta que a opção pelo transporte individual é motivada pela dispersão urbanística residencial e centralização das atividades e serviços, tornando a mobilidade nas cidades uma situação complexa. Conforme RIBEIRO (2008) a crescente utilização do automóvel torna cada vez mais ineficiente o transporte coletivo e, com isto, o aumento do nível 13 do ruído, poluição atmosférica e agravamento das condições de sustentabilidade energética. Por sua vez, o transporte público coletivo foi perdendo receitas, capital e o apoio político necessário ao seu desenvolvimento e, por isso, cada vez mais se afasta de seu objetivo que é prestar um serviço de transporte com qualidade para todos os cidadãos (MORAIS, 2012). FERRAZ e TORRES (2004) exibem as principais vantagens e desvantagens do transporte público urbano. Como vantagens citam o custo acessível para a população de baixa renda, a democratização da mobilidade, uma alternativa para reduzir os impactos do transporte individual e o fato de proporcionar uma ocupação mais eficiente do solo nas cidades. Os inconvenientes deste tipo de transporte são colocados pelos autores como principalmente a rigidez dos horários de passagem, a falta de flexibilidade do percurso, desconforto em relação às esperas e caminhadas em condições climáticas adversas, maior tempo de viagem entre outros. As cidades brasileiras vêm buscando promover melhorias no âmbito do transporte público para minimizar esses inconvenientes, vendo neste tipo de sistemauma das soluções para reduzir os congestionamentos e acidentes de trânsito. A qualidade do transporte público está diretamente ligada à eficiência de aplicação de políticas públicas que envolvam o conceito de sustentabilidade (MAIA, 2013). Uma das cidades brasileiras que se destacam pela qualidade do seu sistema de transporte público é Curitiba, localizada no estado do Paraná. Em 1974, foi criada a Rede Integrada de Transporte (RIT), que contava com uma infraestrutura diferenciada dotada de canaletas exclusivas para ônibus, o que melhorou consideravelmente a logística de transporte da cidade (URBS, 2013). O projeto foi desenvolvido pelo prefeito da época, o arquiteto Jaime Lerner. A partir dessa iniciativa, o transporte público da capital paranaense vem evoluindo no decorrer dos anos, agregando melhorias à mobilidade urbana (MAIA, 2013). (Figura 3) 14 Figura 3 – Sistema BRT na cidade de Curitiba. Fonte: website Green City Street Views Assim como Curitiba, o setor de transporte público coletivo urbano - em todo o Brasil - tem como principal característica institucional a presença do Estado, na figura do regulamentador do serviço (VASCONCELOS, 2008 apud CELLOS, 2012). 2.2.1 BRT – Bus Rapid Transit O BRT - Bus Rapid Transit (BRT: Transporte Coletivo Rápido por Ônibus – Tecnologia baseada em ônibus tipicamente operando em faixas exclusivas com prioridade de passagem no nível da superfície; em alguns casos passagens subterrâneas ou túneis são utilizados para proporcionar separação de nível em interseções ou áreas centrais densas. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008). O sistema BRT é considerado a melhor opção para a mobilidade urbana por se encaixar como a solução mais barata, rápida e moderna para todos os desafios das grandes cidades (LIMA, 2011). O BRT é um modo de transporte público sobre pneus, veloz e flexível, que combina estações, veículos, serviços, vias e elementos de sistema inteligente de transporte (ITS) em um sistema integrado com uma forte identidade positiva que evoca uma única imagem (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008). Definindo o BRT como um sistema a parte, mesmo se tratando de ônibus, 15 aponta seu alto nível de serviço, em relação ao sistema convencional, mesmo com uma base simples podendo ser aplicado rapidamente e a custos muito inferiores a sistemas metro-ferroviários. Conforme o MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008 BRT é “um modo de transporte rápido que consegue combinar a qualidade dos transportes férreos e a flexibilidade dos ônibus”. Este sistema operacional se baseia na eliminação de todo e qualquer tipo de interferência possível na via, como veículos de passeio, caminhões, motos ou até mesmo outros veículos coletivos que não façam parte do sistema (LIMA, 2011). Esta ideia se faz importante, pois busca evitar outras questões do viário que implicam em perdas operacionais, e outros fatores problemáticos, como a presença de pedestres, conversões de veículos, cruzamentos, acidentes, até mesmo animais na pista entre outros (LIMA, 2011). Segundo LIMA (2011), com a proposta de uma via exclusiva para o veículo coletivo, seja faixa exclusiva ou canaleta segregada, no qual seja de uso de um sistema integrado, os ganhos são consideráveis devido ao aumento da velocidade dentro do sistema que, entre outros fatores, deve contar com comunicação entre os veículos, para que seja de fato um sistema integrado. Ainda de acordo com o autor, a estrutura criada para o BRT como um todo, promove a macro acessibilidade dos usuários, transportando-os de um terminal a outro terminal, cujo são unidos por eixos. Assim obtendo um maior aproveitamento de frota, considerando a redução de tempo de percurso, redução de avarias de veículos devido a baixíssimos números de ocorrências na via, boa conservação da mesma, que via de regra, deve utilizar pavimento rígido (placas de concreto) para suportar o uso por veículos coletivos, assim prolongando sua vida útil (Figura 4). 16 Figura 4 – Canaletas de placas de concreto do BRT em Curitiba. Fonte: Website Cimento Itambé, 2014 Dentro de qualquer operação deve haver a consciência das oscilações de demanda que existem, para efetuar uma operação enxuta. O BRT consegue adequar-se a queda de demandas, assim não havendo desperdícios com mão-de- obra, uso e desgaste de veículos em baixo nível de carregamento (LIMA, 2011). Sistemas de BRT já foram implantados em várias cidades como Bogotá, São Paulo e Cidade do México. Em Curitiba, o RIT, sendo o projeto piloto que posteriormente consolidou o sistema Transmilênio em Bogotá como outro caso de sucesso. É um transporte público de alta qualidade, orientado ao usuário, que realiza mobilidade urbana rápida, confortável e de custo eficiente. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008). Com a liberação de verba do governo federal através do recurso de Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2) para a construção de 24km de BRT (Bus Rapid Transit), Londrina passará os próximos 5 (cinco) anos por uma radicalização em seu sistema de mobilização. A proposta inicial da Prefeitura de Londrina é que cada estação de BRT tenha um bicicletário e ao longo de boa parte do percurso dos ônibus devem ser construídos cerca de 50 quilômetros de ciclovias, contanto uma via para cada lado dos corredores. (FOLHA DE LONDRINA, 2014). 17 2.2.2 Breve histórico do sistema de transporte público de Londrina Com início na década de 50 o Sistema de Transporte Público Urbano (STPU) no município, até janeiro do último, foi operado por uma única empresa. Em 1958, a administração do Prefeito Antonio Fernandes Sobrinho, delegou o serviço de forma temporária e precária à Viação Urbana Londrinense (VUL), de Irmão Lopes S/A Comércio, Transporte e Agricultura, que passou então a operar com 05 (cinco) linhas incluindo o transporte interurbano, ligando Londrina à Cambé e Ibiporã, tendo como terminal, a Praça Gabriel Martins (ESTEVES, 1997). Em 1976, o serviço foi colocado em Concorrência Pública pelo Prefeito José Richa e em janeiro de 1977 foi assinado o Contrato de Concessão com a Firma Irmão Lopes Comércio, Transporte e Agricultura, com vigência de 10 (dez) anos, podendo ser renovado por mais 10 (dez) anos. Com o crescimento dos serviços, em 1978, a Viação Urbana Londrinense, já com 125 (cento e vinte e cinco) ônibus, deixa de existir para dar lugar à Empresa de Transportes Coletivos Grande Londrina, (TCGL). O Terminal Urbano de Transporte Coletivo é inaugurado em novembro de 1988, dez anos após a TCGL assumir a frota principal de Londrina. A obra foi construída com recursos das companhias regentes e possibilitou a integração do Sistema de Transporte Urbano. Dez anos mais tarde, A TCGL conquista a certificação ISO 9002 de Qualidade Total do serviço. As mais recentes conquistas do sistema de transporte público urbano da cidade pé-vermelha foram as implantações das bilhetagens eletrônicas em 2004, substituindo a bilhetagem tradicional de tickets de transporte por cartões recarregáveis, trazendo mais comodidade e benefícios ao usuário, tornado o acesso aos ônibus mais rápido, seguro e permitindo a integração entre as linhas de qualquer ponto de parada de ônibus; e a criação de faixas exclusivas de ônibus em algumas vias consideradas de alto fluxo de veículos em 2010 (Figuras 5 e 6). Essas faixas possuem como objetivo priorizar os deslocamentos, diminuindo o tempo de viagem dos ônibus que realizam o transporte público urbano (TCGL, 2014). 18 Figura 5 – Placa de sinalização indicando a faixa exclusiva de ônibus. Fonte: Gilberto Abelha, Jornal de Londrina Figura 6 – Transporte coletivo interurbano circulando na faixa exclusiva de ônibus em Londrina. Fonte: website Bonde. 2.2.3 O sistema de transporte público de passageiro de Londrina atualmente O sistema de transporte público de Londrina é gerenciadopela Companhia 19 Municipal de Trânsito e Urbanização - CMTU. Esta foi instituída no ano de 1993, pela Lei Municipal nº. 5.496, sendo intitulada pelo nome antigo Companhia Municipal de Urbanização – COMURB. Por intermédio da lei municipal nº. 8.191 de 19 de junho de 2000, a Companhia passou a ter autoridade de trânsito no âmbito municipal, sendo então denominada pelo nome atual (CMTU, 2009). O município conta com duas empresas para a realização do transporte público urbano, que são: Transportes Coletivos Grande Londrina Ltda - TCGL e a Francovig Transportes Coletivos (Figura 7). São empresas privadas que, através de licitações, são encarregadas de operar o transporte público de passageiros do município. As duas empresas contavam com mais de 120 linhas para uma demanda de, aproximadamente, 140 mil passageiros/dia (CMTU, 2009). Os veículos utilizados pelas empresas são de dois tipos: os convencionais e o chamado Psiu (micro-ônibus mais confortável de deslocamento ágil). Este tipo de veículo foi introduzido no transporte coletivo urbano em setembro de 2001 e conta com poucas unidades e número de trajetos reduzidos. Ele foi criado para atender uma parcela da população que se dispõe a pagar mais caro pelo transporte coletivo. O Psiu opera com cinco linhas distintas, três pela TCGL e duas pela Francovig, ligando as regiões Norte/Centro, Leste/Oeste, Sul/Centro e Norte/Sul. Sem pontos de paradas definidos, atende as solicitações dos clientes tanto no embarque quanto no desembarque, obedecendo às leis de trânsito e a segurança das vias (TCGL, 2008). Este tipo de transporte é uma boa alternativa para acessar com rapidez o local desejado ao mesmo tempo em que diminui a lotação nos ônibus convencionais. Em relação aos terminais urbanos, o sistema de transporte conta com o terminal central e mais seis terminais de integração (Figura 7). Desses, três estão localizados na zona Norte, dois na região Sul e um na região Oeste. O terminal urbano central é o principal responsável pela distribuição dos usuários por todas as regiões da cidade, contando com mais de 50 pontos de embarque e desembarque – estes com uma distância de, no máximo, 300 metros entre si - e uma circulação de aproximadamente 140 mil usuários por dia (CMTU, 2009). 20 Figura 7 - Terminais urbanos e empresas operantes do transporte coletivo em Londrina. Fonte: BARROS; MOREIRA; POLIDORO, 2013 2.3 Atributos da qualidade do sistema de transporte público urbano por ônibus De acordo com a legislação brasileira, os usuários dos serviços públicos têm 21 o direito de receber um “serviço adequado”. Conforme o art. 6º da Lei 8.987/95, em Brasil (1995), serviço adequado “é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”. A qualidade do serviço, de acordo com o manual do TCRP (2013), reflete a percepção que o passageiro tem do desempenho do sistema de transporte público. Ela mede tanto a disponibilidade quanto o conforto e as facilidades oferecidas e depende, em grande parte, de decisões operacionais tomadas num sistema de transporte sobre onde, com que frequência, em que período do dia e com que características o serviço deve ser oferecido. Definir os atributos necessários para que o sistema de transporte público urbano por ônibus tenha indicadores de qualidade do serviço é uma tarefa complexa e multivariável. Cada parte envolvida, neste caso, os usuários e os gestores, tem visões distintas (ANTUNES e SIMOES, 2013). No Brasil, os estudos que apontam os atributos necessários ao sistema de transporte público urbano por ônibus são: CANDADO (1995), CARDOSO (2008), FARIA (1985), FERRAZ e TORRES (2004), dentre outros. O trabalho de FERRAZ e TORRES (2004) discorre sobre os principais atributos do sistema de transporte público, entre os quais pode-se citar: i) acessibilidade, ii) tempo de viagem, iii) pontualidade, iv) lotação, v) confiabilidade, vi) característica dos veículos, vii) características dos pontos de paradas, viii) segurança, ix) sistema de informação e x) comportamento dos operadores. A acessibilidade é a distância percorrida pelo usuário para iniciar e finalizar a viagem por transporte público e a comodidade experimentada nesse percurso (FERRAZ e TORRES, 2004). A acessibilidade, na visão de SANTOS (2008) está diretamente relacionada às características da rede, como sua configuração, localização e distância entre pontos de parada. A falta de acessibilidade pode gerar aflição e insegurança, e em muitas cidades, a ligação entre a origem e o destino das linhas do sistema de transporte nem sempre é clara; dessa forma, o usuário tem que descobrir sozinho o caminho desejado, o que gera desconforto (ANTUNES e SIMÕES, 2013). O segundo atributo é o tempo de viagem, definido como o tempo gasto no interior dos veículos. Depende da velocidade média, da distância percorrida (FERRAZ e TORRES, 2004) e da geometria das linhas. A velocidade depende da distância média entre pontos de parada, do grau de separação entre o transporte 22 público e o tráfego em geral, das condições de trânsito e rolamento proporcionada pela pavimentação das vias. A geometria das linhas depende das rotas: se são diretas, velocidade é maior; se sinuosas, a velocidade é menor (ANTUNES e SIMÕES, 2013). A pontualidade é o terceiro atributo dado pelos autores FERRAZ e TORRES, definindo a mesma como a regularidade dos horários das linhas. Ainda segundo os autores, atrasos leves, de dois a três minutos, são geralmente perdoados pelos usuários, porém, atrasos maiores são vistos de forma muito negativa. O quarto atributo é a lotação, definida como a quantidade de passageiros no interior dos coletivos (FERRAZ e TORRES, 2004). A lotação excessiva traz alguns inconvenientes, porque viagens de grande duração realizadas de pé são cansativas, o contato corpóreo com outras pessoas causa desconforto e as operações de embarque/desembarque ficam mais difíceis de serem executadas. O quinto atributo é a confiabilidade no sistema de transporte público. É o grau de certeza dos usuários de que o veículo irá passar na origem e chegar ao destino (FERRAZ e TORRES, 2004). FERRAZ (1990) afirma que diversos fatores podem ocasionar o não cumprimento dos horários de partida e chegada. O não cumprimento dos horários ou a não realização das viagens representam inconvenientes quanto menor for a frequência de atendimento. Em linhas de lata frequência, geralmente, o aspecto confiabilidade não é, em geral, afetado por pequenos atrasos ou adiantamentos. Relacionado à frequência de acidentes e assaltos envolvendo veículos coletivos, a segurança é apresentada por FERRAZ e TORRES (2004) como o sexto atributo. Os roubos a ônibus, geralmente direcionados aos cobradores, constituem uma típica modalidade criminosa e costumam ser repetitivos em algumas localidades. Nessas áreas, o roubo a ônibus tem impacto na população, pois a experiência coletiva do medo, principalmente quando é muito frequente, tende a difundir uma sensação de impotência e de revolta na vida dos que utilizam esse meio de transporte (PESSOA e LIMA NETO, 2004). O sétimo atributo é as características dos veículos que influenciam diretamente a percepção dos usuários sobre o conforto dos ônibus. A tecnologia e o estado de conservação dos veículos são fatores determinantes na comodidade dos usuários (FERRAZ e TORRES, 2004). O conforto é um conceito amplo e engloba tudo o que se refere ao bem-estar do usuário em relação ao transporte e à sua 23 condição de operação. É determinado pela disponibilidade de assento, espaçamento entre assentos, solavancos, aceleração (ANTUNES; SIMÕES, 2013), higiene, segurança, espaço para circulação interna, dimensões das portas, roleta, apoios, altura dosdegraus e as condições ambientais, como conforto térmico, ruídos e iluminação (SANTOS, 2008). O oitavo atributo é as características dos locais de parada, relacionadas com a sinalização adequada e a existência de cobertura e bancos para sentar (FERRAZ e TORRES, 2004). O abrigo de ônibus é o primeiro elemento do sistema de transporte público que o usuário entra em contato, é o elemento que vai encorajar as pessoas a usarem o transporte público. Segundo ANTUNES e SIMÕES (2013), as características esperadas pelos gestores nos abrigos de ônibus são: custo baixo, fácil manutenção, material resistente. Para o usuário, é relevante ter boa aparência, tamanho adequado, iluminação suficiente, distância adequada entre os pontos, localização adequada, informações sobre as linhas e horários. No planejamento desses abrigos devem-se observar as características citadas e as características ambientais como topografia, vegetação e clima (SUTHERLAND, 2008), por exemplo, em Dubai os pontos de ônibus tem ar-condicionado, sendo adaptados ao clima local. O nono atributo é o sistema de informação do transporte. Envolvem horários dos veículos, itinerários, informações sobre as linhas, informações no interior dos veículos (FERRAZ e TORRES, 2004). MARQUES (1995) cita que a identificação das características dos pontos de paradas, identificação da linha, número/código e croqui de itinerários são exigências mínimas nas instalações dos pontos de parada. Além disso, como equipamento urbano, um cesto para lixo é fundamental. Por fim, o décimo atributo é a percepção dos usuários em relação ao comportamento dos operadores e outros funcionários. A pesquisa de ANTUNES, GRAEBIN e SIMÕES (2008) aponta que 89% dos usuários do sistema de transporte público de Maringá consideram essencial que os funcionários da empresa prestadora de serviço sejam atenciosos e educados. Além disso, a pesquisa também aponta que 75% dos usuários acham essencial que a empresa ofereça atendimento diferenciado a idosos, gestantes e deficientes. Definir os principais atributos de qualidade do sistema de transporte público urbano por ônibus, sob o ponto de vista do usuário, pode ser um instrumento complementar para o planejamento e avaliação do sistema de transporte público coletivo. Para tanto, é preciso definir padrões de serviços aceitáveis para efeito de 24 planejamento que agrade pelo menos a maioria dos clientes. Todos os atributos citados são percebidos pelos usuários de forma diferente; diante disso, podem ocorrer diversos problemas, como o risco dos clientes não perceberem corretamente o que foi realizado e, a partir daí, ficarem insatisfeitos ou supervalorizarem os resultados esperados (ANTUNES e SIMÕES, 2013). Sendo assim, é necessário conhecer os problemas enfrentados pelos usuários do sistema de transporte público de uma cidade de médio porte para que sejam satisfeitos os seus anseios. O objetivo do presente documento é realizar a pesquisa com os usuários de ônibus de Londrina (PR) através da metodologia multicritério decisiva construtiva, a MCDA-C. 2.4 Metodologia multicritério de apoio à decisão – construtivista (MCDA-C) A MCDA-C encontra suas mais remotas origens há mais de dois séculos. Contudo, sua consolidação como instrumento científico de gestão ocorre somente a partir da década de 1980 com os trabalhos de ROY (1996) e LANDRY (1995) ao definir os limites da objetividade para os processos de apoio à decisão, de SKINNER (1986) e KEENEY (1993) ao reconhecer que os atributos (objetivos, critérios) são específicos ao decisor em cada contexto, de BANA e COSTA (1993) ao explicitar as convicções da MCDA, dentre outros (ENSSLIN et al. 2010). A Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão – Construtivista, consiste em uma forma de auxiliar na tomada de decisões, considerando as percepções e valores dos envolvidos no processo sob a perspectiva de uma visão epistemológica, acerca da tomada de decisões (TEZZA; ZAMCOMPÉ e ENSSLIN, 2009). A MCDA-C surge como uma ramificação da MCDA tradicional para apoiar os decisores em contextos complexos, conflituosos e incertos. Complexos por envolverem múltiplas variáveis qualitativas e quantitativas, parcialmente ou não explicitadas. Conflituosos por envolverem múltiplos atores com interesses não necessariamente alinhados e/ou com preocupações distintas do decisor que não tem interesse de confrontá-los, mesmo reconhecendo que estes estarão disputando os escassos recursos. Incertos por requererem o conhecimento de informações qualitativas e quantitativas que os decisores reconhecem não saber quais são, mas que desejam desenvolver este conhecimento para poder tomar decisões conscientes, fundamentadas e segundo seus valores e preferências (ENSSLIN, 25 2010). BANA e COSTA e PIRLOT (1997) afirmam que, segundo a metodologia MCDA, duas convicções básicas informam a modelação da situação investigada: i) a consideração simultânea dos elementos de natureza objetiva e subjetiva e ii) a convicção construtivista que tem a participação e a aprendizagem dos decisores, como pilares do paradigma que a informa (ENSSLIN et al. 2010). Com o intuito de cumprir o objetivo, ao qual se propõe, a MCDA – C utiliza- se de atividades de apoio à decisão, as quais são subdivididas em três fases: Estruturação; Avaliação e Elaboração das Recomendações (Figura 8) (ENSSLIN; MONTIBELLER e NORONHA, 2001). Figura 8 - Fases da MCDA-C. Fonte: Ensslin, Dutra & Ensslin (2000) 2.4.1 Fase de Estruturação A primeira fase consiste na estruturação dos aspectos inerentes ao contexto decisório, com a finalidade de entendê-lo. A identificação dos atores envolvidos é a etapa seguinte da contextualização. Segundo ZANELLA (1996) apud ENSSLIN (2010), os atores são agentes 26 que de alguma forma interveem no processo decisório, através de seu sistema de valores, expressando suas preferências, com o propósito de atingir os seus objetivos: sendo influenciado pelo sistema de valores dos demais atores, como também, interagindo com o ambiente, no qual está inserido. Ainda na fase de contextualização, é definido o rótulo para o problema em questão (TEZZA; ZAMCOMPÉ e ENSSLIN, 2009). O processo de estruturação é de suma importância para se ter um entendimento comum sobre o problema, orientar o processo de criação das ações e, por fim, servir de base para o processo de avaliação das mesmas. É nesta fase que o facilitador deve investir a maior parte do tempo disponível. O facilitador é quem aplica as ferramentas e irão: apoiar o raciocínio; gerar o conhecimento; e, comunicar sobre a realidade (ENSSLIN et al, 2010). É, também, nesta fase do processo decisório que os valores dos decisores serão levados em conta a respeito da situação do problema. Nesta etapa, são de extrema relevância as considerações de KEENEY (1993) a respeito do “pensamento focado no valor”, ou seja, focar nos valores dos decisores para que eventuais objetivos existentes, que estejam ocultos, sejam considerados e, desta forma, permitam obter mais consistência nas decisões. ENSSLIN et al (2010) cita que “o processo para construir o modelo deve estar fundamentado no fato de que o decisor tem pleno arbítrio sobre o mesmo e, desta forma, o modelo e os conhecimentos desenvolvidos tem como propósito servir como elementos de reflexão para seu entendimento pelo decisor e demais atores”. Por “atores”, entende-se como sendo todos os indivíduos envolvidos no processo decisório. Como primeira etapa a ser considerada tem-se a definição, junto ao decisor, de um “rótulo para o problema”. A função principal do rótulo é de delimitar o contexto decisório nesta etapa do processo, não sendo, portanto, definitivo. ENSSLIN et al (2010) destaca que o facilitador deve definir o rótulo de acordo com a forma com que os decisores consideram a mais adequada. Após a contextualização,dando sequência à estruturação é feito o levantamento dos Elementos Primários de Avaliação (EPAs) que são, segundo KEENEY (1993), a primeira preocupação manifestada pelos decisores, quando estes confrontam a situação. Os EPAs têm como objetivo, gerar entendimento e definir os limites entre o pretendido e o mínimo aceitável. A organização dos EPAs é 27 feita pela construção dos mapas cognitivos, que para ENSSLIN; MONTIBELLER e NORONHA (2001) é uma hierarquia de conceitos relacionados por ligações de influência entre meios e fins. A partir do Mapa Cognitivo, é construída a árvore de pontos de vista ou estrutura hierárquica de valores (KEENEY, 1993) Os pontos de complexidade menor são conectados aos de complexidade maior, possibilitando sua mensuração (ENSSLIN et al. 2010). Segundo ENSSLIN, MONTIBELLER e NORONHA (2001), definida a Família de Pontos de Vista Fundamentais (PVF’s), dá-se início a construção do modelo multicritério para a avaliação das ações potenciais. Sendo, portanto, necessário a construção de um critério que permita mensurar a desempenho de cada ação potencial. Ressalta-se aqui que: “o objetivo de MCDA Construtivista é gerar conhecimento, a avaliação a ser realizada será apenas um meio para que o decisor tenha domínio da situação do problema” (ENSSLIN, 2003 apud MAZON et al, 2008). São dois os tipos de ponto-de-vista: Ponto-de-Vista Fundamental (PVF) – aspectos essenciais, considerados pelo decisor, como eixos de avaliação do problema e Ponto-de-Vista Elementar (PVE) – são aspectos-meio para atingir um fim, ou seja, meios para alcançar os PVF (ENSSLIN; MONTIBELLER e NORONHA, 2001). Após identificados todos os PVEs, passa-se à construção dos descritores para cada um deles. Construir descritores significa identificar um conjunto de níveis de impacto que representam, de forma não ambígua, os possíveis desempenhos de uma ação, ordenados em termos e preferência, segundo os sistemas de valores dos decisores (BANA E COSTA e SILVA, 1994 apud MAZON et. al, 2008). 2.4.2 Fase de Avaliação Na fase de avaliação, são construídas as funções de valor para cada descritor. A função de valor é a representação matemática da intensidade de preferência (diferença de atratividade) entre os níveis de impacto de um descritor (ENSSLIN et al. 2010). Após a fase de estruturação do modelo multicritério, por meio da construção dos Pontos de Vista Fundamentais e seus respectivos descritores, decorre-se então para a fase de avaliação. Nesta fase são construídas as funções de valor e determinadas as taxas de compensação do modelo (TEZZA; ZACOMPÉ; ENSSLIN, 28 2009). Destacou-se método do julgamento semântico, mais especificamente ao método MACBETH (Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique) de BANA e COSTA e VANSNICK (1995). O diferencial no método citado justifica-se basicamente pela simplicidade percebida pelo próprio decisor, pois o mesmo utiliza-se de julgamentos semânticos de “diferenças de atratividade” para determinar a função de valor correspondente. As categorias semânticas de diferença de atratividade utilizadas pelo MACBETH são: nenhuma; muito fraca; fraca; moderada; forte; muito forte; e, extrema. Com base na comparação entre a diferença de atratividade dos impactos considerados para cada ação, é estabelecida a matriz semântica que corresponde ao julgamento do decisor referente às diferenças de atratividade (TEZZA; ZACOMPÉ; ENSSLIN, 2009). As taxas de compensação, também chamadas de taxas de substituição, “estas expressam a perda ou ganho de desempenho que uma ação potencial deve sofrer em um critério para compensar o ganho ou perda de desempenho em outro” (ENSSLIN et al, 2010). Dentre os métodos para determinação de taxas de compensação, destaca-se o MACBETH, que adota lógica similar àquela utilizada para determinação de função de valor, ou seja, a do julgamento semântico. 2.4.3 Fase de Recomendações A terceira fase consiste nas recomendações e ações de melhoria e aperfeiçoamento dos critérios que não atendem às expectativas dos decisores. Nessa fase, são definidas as ações, segundo a problemática de referência, a análise da sensibilidade das respostas da modelagem frente às variações dos parâmetros utilizados, além da geração de estratégias orientadas à ação e análise de sensibilidade do modelo, perante o desempenho das ações (TEZZA; ZAMCOMPÉ e ENSSLIN, 2009). Para ENSLINN (2010), este é o momento em que serão sugeridos e discutidos futuros cursos de ações para a situação decisional. KEENEY (1993) destaca algumas possibilidades para o uso de um modelo multicritério construído, dentre elas: O modelo pode ser utilizado para avaliar ações descrevendo as suas consequências; O modelo pode ser utilizado para criar ações; O modelo pode auxiliar na canalização das discussões entre os decisores para aquilo que é mais 29 importante; O modelo pode ser utilizado para a defesa e justificativa de ações. 3 METODOLOGIA DA PESQUISA O presente estudo concentrou-se no sistema de transporte público urbano por ônibus de Londrina, sendo referenciada como uma cidade de médio porte. A pesquisa com os usuários desse sistema se dará através da internet, com o auxílio da ferramenta GoogleDocs, com o intuito de atingir a maior concentração de usuários possíveis afim de obter diferenciados pontos de vistas destes passageiros; contribuindo diretamente na elaboração do trabalho. A partir desses recursos, será criado um questionário com 13 (treze) perguntas, a fim de identificar a faixa etária, o sexo, o bairro onde mora, o grau de instrução dos usuários, etc. Além disso, será perguntado a todos a frequência de uso dos transportes coletivos, o destino dessas viagens e, claro, os problemas encontrados por eles no uso do transporte coletivo por ônibus. O questionário ficará aberto para os internautas usuários do transporte coletivo urbano de Londrina, desde o dia 21 de julho de 2014, acompanhado de uma breve apresentação do autor explicando as condições enfrentadas atualmente da mobilidade urbana por ônibus, convocando a colaboração de todos (Figura 9). Até o dia 15 de setembro de 2014, o formulário permanecerá aberto para todos responderem, logo após essa data, começarão então, os estudos das respostas para a elaboração da MCDA-C. 30 Figura 9 – Apresentação do questionário online com o auxilio da ferramenta Google Docs. Fonte: Autor. 3.1 Identificação do contexto decisório Nesta primeira etapa, será caracterizado o processo decisório, em que o apoio à decisão irá ocorrer, bem como os atores envolvidos, as ações a serem avaliadas e as diversas formas possíveis de avaliação das ações. Na identificação dos atores envolvidos no processo decisório, será definido, como decisor e facilitador, o autor da pesquisa assumindo a função de apoiar o processo de tomada 31 de decisão. Como intervenientes, os internautas usuários ou não do transporte coletivo de Londrina que responderam ao questionário e como agidos serão identificados como toda a população do transporte coletivo por ônibus da cidade, tendo como um horizonte de tempo de pesquisa de 5 (cinco) anos (Figura 8). A problemática levantada pelo decisor será a questão de que a avaliação do atual sistema de transporte coletivo de Londrina deverá ser realizada a fim de verificar se os projetos futuros de mobilidade urbana viária (como o BRT – Bus Rapid Transit) realmente trarão melhoras nesse setor. Podendo que no futuro, os projetos não atendam apenas as questões de mobilidade urbana, mas também que atendam os anseios de toda a população usuária do ônibus. Sendo assim, para a geração de indicadores, o decisor perguntará aos intervenientes (no caso, os internautas), quais são as dificuldades encontradas por eles ao usufruir do sistema de transporte coletivo por ônibus nacidade de Londrina. Figura 10 – Identificação do contexto decisório da MCDA-C. Fonte: Autor. 3.2 Avaliação das ações potenciais Com a sistemática de avaliação estruturada, ou seja, com as respostas que serão pelos internautas intervenientes – usuários ou não do transporte público urbano de Londrina - será montada as áreas de atuações de cada resposta de acordo com os atributos citados por FERRAZ e TORRES (2004), sendo eles: 32 acessibilidade, tempo de viagem, pontualidade, lotação, confiabilidade, características dos veículos, características dos locais de parada, sistema de informações, segurança e comportamento dos operadores. Dando assim, em seguida, a construção dos mapas de relações meios e fins, que consistirá em relacionar esses conceitos entre si, visualizando o problema de uma maneira global. Feito o mapa cognitivo, se dará início à etapa de identificação dos pontos de vistas fundamentais (PVFs), procurando sempre considerações chaves, para que os mesmos possam referenciar os aspectos considerados pelo decisor. Podendo ainda, para uma melhor clareza e compreensão do PVF, a construção dos PVEs. Desse modo, as definições dos descritores para cada PVF será produzida identificado na etapa anterior. Para a fase de avaliações, a mesma será obtida por método matemático, utilizando os valores de 0 a 100, com base nas repetições das respostas dos internautas a cada área de atuação dos problemas e com o total de relações meio e fim que o elemento obteve, ou seja, quanto mais repetições de resposta de um mesmo elemento relacionado ao problema e maior for a sua totalidade na relação meio e fim com outros elementos, maior será seu peso na fase de avaliações de ações potenciais. 3.3. Análise dos resultados e recomendações Na última etapa, serão definidas as conclusões e as recomendações, segundo a problemática de referência, além da geração de estratégias orientadas à ação perante o desempenho das ações. 4. RESULTADOS 4.1. Processo Decisório Este trabalho teve como objetivo avaliar o atual sistema de transporte público urbano de uma cidade de médio porte. A cidade de Londrina, atualmente com 537.566 habitantes (IBGE, 2013), apresenta características de cidade de médio porte e por isso foi tomada como referência para todo o andamento da pesquisa. A cidade possui um sistema de transporte coletivo consolidado e 33 operante desde a década de 50. O problema é que recentemente, mais pessoas vêm optando como meio de locomoção os veículos automotores particulares, desprezando os serviços do transporte coletivo urbano. Sendo assim, com o auxílio da metodologia MCDA-C será possível analisar quais são os principais problemas enfrentados pela população usuária do transporte público urbano e por quais motivos os ex-usuários optaram pelo automóvel particular. Para registrar e manipular os dados obtidos, facilitando o acesso de informações, houve a necessidade de se usar planilhas eletrônicas para poder aplicar os princípios da MCDA-C. 4.2. Os atores do processo decisório Como já explicado na metodologia, os atores envolvidos no processo decisório foram internautas usuários ou não do transporte coletivo por ônibus da cidade de Londrina. A intenção de se obter como atores esses internautas se deve ao fato de poder envolver a pesquisa para a maior quantidade de pessoas possíveis, para que se possa chegar a um resultado que consiga abranger a opinião de todos os envolvidos. 4.3. Levantamento dos Elementos Primários de Avaliação Para dar início ao processo de levantamento dos elementos realizados aos problema, o questionário foi disponibilizado online no dia 21 de julho de 2014, aberto para todos internautas responderem às questões, 24 (vinte e quatro) horas por dia, tendo o como data de encerramento das atividades o dia 15 de setembro de 2014. A divulgação do documento se deu através de redes sociais com grande demanda de usuários. Na atividade desenvolvida, o autor exemplificou a questão dos autores levantarem os problemas relacionados ao uso do transporte coletivo de forma clara e objetiva (Figura 11). Desse modo, os internautas puderam se expressar de maneira livre suas opiniões e visões do sistema. 34 Figura 11 – Questão final do questionário elaborado pelo autor para os internautas identificarem os principais problemas no sistema de transporte público urbano na cidade de Londrina. Fonte: Autor. Com o resultado final de 147 respostas, a população internauta idosa foi minoria no meio, quase não havendo – infelizmente – a participação dos mesmos no levantamento dos elementos. Sendo assim, a maioria das respostas dos envolvidos apresentava faixa etária dos 18 aos 30 anos. Com relação ao sexo, não houve exacerbada diferença, totalizando 78 usuários do sexo masculino e 69 do sexo feminino (Figura 12). Figura 12 – Resumo das respostas dos usuários – Faixa etária e sexo. Fonte: Autor 35 A quantidade de elementos se limitou ao tempo destinado a atividade, embora tenha sido de longo período. Foi levantado um total de 31 elementos relacionados ao problema (Tabela 1). ID Elementos relacionados ao problema 1 Frotal Mal Dimensionada 2 Lotação 3 Atraso 4 Comunicação com Usuários 5 Tempo de Viagem (Dentro do Veículo) 6 Qualidade / Estado dos Veículos 7 Integração Entre os Pontos de Embarque/Desembarque 8 Preço da Passagem 9 Tempo de Espera no Ponto de Embarque/Desembarque 10 Vias em estados precários 11 Acessibilidade à deficientes 12 Monopolização do Serviço 13 Insegurança nas Viagens (Assaltos) 14 Falta de Pontos de Recarga de Passagem 15 Poucas Alternativas de Horários 16 Desconforto (Térmico/Acústico/Físico) 17 Qualidade dos Pontos de Embarque/Desembarque 18 Falta de Funcionários em Determinados Horários 19 Falta de Educação dos Operadores 20 Falta de Profissionalismo dos Operadores 21 Passageiros Mal Educados 22 Planejamento dos Pontos de Embarque/Desembarque 23 Falta de Canaletas Exclusivas 24 Planejamento dos Itinerários 25 Veículos Mal Dimensionados (Interiormente) 26 Trânsito Engarrafado 27 Veículos de Madrugada 28 Falta de Incentivo (para andar de ônibus) 29 Intervalos Entre Veículos Muito Longos 30 Necessidade de Tomar Mais que um Veículo 31 Falta de Higiene dos Passageiros Tabela 1 – Quantidade de elementos relacionados ao problema, fruto das respostas dos internautas. Fonte: Autor. 36 Apesar do alto número de respostas recebidas, houve a necessidade de separar as respostas repetidas pelos usuários, pois não foi possível realizar um brainstorming com os internautas a fim de se obter maiores diversificação de respostas (Tabela 2). Tabela 2 – Repetições dos elementos relacionados ao problema 4.4. Áreas de atuação nº FREQUÊNCIA % 1 33 8,11 2 97 23,83 3 33 8,11 4 6 1,47 5 29 7,13 6 19 4,67 7 6 1,47 8 16 3,93 9 15 3,69 10 4 0,98 11 1 0,25 12 1 0,25 13 12 2,95 14 1 0,25 15 18 4,42 16 20 4,91 17 2 0,49 18 4 0,98 19 7 1,72 20 8 1,97 21 9 2,21 22 7 1,72 23 1 0,25 24 13 3,19 25 5 1,23 26 1 0,25 27 1 0,25 28 1 0,25 30 19 4,67 31 14 3,44 32 4 0,98 407 100,00 Necessidade de Tomar Mais que um Veículo Falta de Higiene dos Passageiros RESPOSTAS Veículos Mal Dimensionados (Interiormente) Trânsito Engarrafado Veículos de Madrugada Falta de Incentivo (para andar de ônibus) Intervalos Entre Veículos Muito Longos Falta de Profissionalismo dos Operadores Passageiros Mal Educados Planejamento dos Pontos de Embarque/Desembarque Falta de Canaletas Exclusivas Planejamento dos Itinerários Poucas Alternativas de Horários Desconforto (Térmico/Acústico/Físico) Qualidade dos Pontos de Embarque/Desembarque Falta de Funcionários em Determinados Horários Falta de Educação dos Operadores Vias em estados precários Acessibilidade à deficientes Monopolizaçãodo Serviço Insegurança nas Viagens (Assaltos) Falta de Pontos de Recarga de Passagem Tempo de Viagem (Dentro do Veículo) Qualidade / Estado dos Veículos Integração Entre os Pontos de Embarque/Desembarque Preço da Passagem Tempo de Espera no Ponto de Embarque/Desembarque ANÁLISE DAS RESPOSTAS - QUESTIONÁRIO ONLINE Frotal Mal Dimensionada Lotação Atraso Comunicação com Usuários 37 Posteriormente à etapa acima, foram então analisados e agrupados os elementos relacionados ao problema de acordo com os atributos já estudados por FERRAZ e TORRES (2004) – acessibilidade, tempo de viagem, pontualidade, lotação, confiabilidade, características dos veículos, características dos locais de parada, sistema de informações, segurança e comportamento dos operadores - levando em conta a característica de cada elemento para que melhor se adeque aos atributos dos autores para a formação das áreas de atuação. Precisou-se, no entanto, a criação de mais uma área de atuação, por motivo de alguns elementos não estarem de acordo com nenhuma outra área já citada. A área de atuação “extra” foi a de planejamento do sistema de transporte urbano. Cada área de atuação foi representada por uma cor na tabela, a fim de facilitar a visualização da segregação dos elementos relacionados ao problema (Tabelas 3 e 4). ID Expressão Alternativas A Acessibilidade Aspectos relacionados a características da rede, como sua configuração, localização. B Tempo de Viagem Análise da velocidade média, distância percorrida e geometria das linhas. C Pontualidade Análise dos horários de chegada e saída dos transportes públicos D Lotação Projeto, implantação, demanda e oferta do sistema. E Confiabilidade Procedimento para funcionamento regular (sem inconvenientes) do sistema de transporte público urbano. F Características dos Veículos Projeto, implantação e manutenção dos veículos. G Características dos locais de parada Projeto, implantação e manutenção dos locais de parada. H Segurança Atributos relacionados a proteção dos usuários e dos transportes públicos. I Sistema de Informações Atualização dos diferentes meios de comunicações para divulgação dos serviços. J Comportamento dos operadores Aspectos culturais relacionados ao trabalho no STU. K Planejamento do sistema de TPU Análises de demanda e oferta de sistemas de transportes. Tabela 3 – Áreas de atuação dos elementos. Fonte: Autor. 38 ID Elementos relacionados ao problema 1 Frotal Mal Dimensionada 2 Lotação 3 Atraso 4 Comunicação com Usuários 5 Tempo de Viagem (Dentro do Veículo) 6 Qualidade / Estado dos Veículos 7 Integração Entre os Pontos de Embarque/Desembarque 8 Preço da Passagem 9 Tempo de Espera no Ponto de Embarque/Desembarque 10 Vias em estados precários 11 Acessibilidade à deficientes 12 Monopolização do Serviço 13 Insegurança nas Viagens (Assaltos) 14 Falta de Pontos de Recarga de Passagem 15 Poucas Alternativas de Horários 16 Desconforto (Térmico/Acústico/Físico) 17 Qualidade dos Pontos de Embarque/Desembarque 18 Falta de Funcionários em Determinados Horários 19 Falta de Educação dos Operadores 20 Falta de Profissionalismo dos Operadores 21 Passageiros Mal Educados 22 Planejamento dos Pontos de Embarque/Desembarque 23 Falta de Canaletas Exclusivas 24 Planejamento dos Itinerários 25 Veículos Mal Dimensionados (Interiormente) 26 Trânsito Engarrafado 27 Veículos de Madrugada 28 Falta de Incentivo (para andar de ônibus) 29 Intervalos Entre Veículos Muito Longos 30 Necessidade de Tomar Mais que um Veículo 31 Falta de Higiene dos Passageiros Tabela 4 – Elementos relacionados à ação representados pelas cores de suas áreas de atuação. Fonte: Autor. 39 4.5. Criação dos conceitos orientados à ação Depois de classificados de acordo com suas áreas de atuação, para os elementos foram criados os conceitos orientados à ação e os polos negativos respectivos. Esses conceitos consistem em atribuir uma ação expressa referente a cada elemento, e os polos negativos sendo seu oposto psicológico (Tabela 5). 40 Tabela 5 – Elementos relacionados à ação com seus respectivos conceitos orientados à ação e pólo negativo. Fonte: Autor. ID 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Readequação dos pontos de embarque e horários Risco de assaltos de madrugada Falta de interesse do governo Readequação dos horários dos TCs Viagens cansativas e demoradas Falta de interesse dos usuários Falta de interesse dos operadores Falta de interesse dos usuários Investimento dos órgãos responsáveis Investimento do governo Readequação das redes viárias Dificuldade do motorista manobrar um TC maior Falta de investimento da companhia Readequação dos horários dos usuários Investimento da companhia Investimentos dos órgãos responsáveis Custo de mão de obra Falta de interesse dos operadores Aumento do preço da passagem Readequação dos usuários aos novos horários Manter vias em estado precário Treinamento dos Operadores Despadronização de ônibus, rede viária horários e tarifas Facilitar assaltos Informação confusa Risco de acidentes Manter os veículos sujos Limitação da quantidade de linhas do usuário Pólo Negativo Maior concentração de veículos nas ruas Aumentar frota de veículos Não cumprir os horários acordados Readequação dos horários de passagem dos ônibus Criar linhas unicas que liguem regiões muito distantes Incentivo da higiene no transporte urbano coletivo Implantação das canaletas exclusivas nas principais vias Verificar junto aos usuários os melhores trajetos para trafego Readequar o espaço interno dos TCs Optar por vias menos movimentadas Aumentar a frota de veículos de madrugada Campanha de incentivo ao uso do TC Assentos confortáveis, proteção de chuva e sol intenso Admissão de funcionários Orientação de postura pessoal Orientação de postura profissional Incentivo a boa harmonia no transporte urbano Melhor planejamento dos pontos Mais acessibilidade a pessoas com deficiência Concorrência no serviço prestado Melhorar a segurança Aumentar a quantidade de pontos de recarga Pesquisar melhores horários para uso do TU Ar condicionado, assentos confortáveis e isolamento acústico Menos passageiros nos veículos Cumprir os horários acordados Informatização do serviço por diversos meios de comunicação Redução ou estagnação do preço da passagem Padronização dos horários dos ônibus nos pontos Manutenção preventiva das vias Diminuir o tempo de trajeto Manutenção e limpeza preventiva dos veículos Aumentar os pontos de integração da passagem Trânsito Engarrafado Veículos de Madrugada Falta de Incentivo (para andar de ônibus) Intervalos Entre Veículos Muito Longos Necessidade de Tomar Mais que um Veículo Falta de Higiene dos Passageiros Falta de Profissionalismo dos Operadores Passageiros Mal Educados Planejamento dos Pontos de Embarque/Desembarque Falta de Canaletas Exclusivas Planejamento dos Itinerários Veículos Mal Dimensionados (Interiormente) Falta de Pontos de Recarga de Passagem Poucas Alternativas de Horários Desconforto (Térmico/Acústico/Físico) Qualidade dos Pontos de Embarque/Desembarque Falta de Funcionários em Determinados Horários Falta de Educação dos Operadores Preço da Passagem Tempo de Espera no Ponto de Embarque/Desembarque Vias em estados precários Acessibilidade à deficientes Monopolização do Serviço Insegurança nas Viagens (Assaltos) Lotação Atraso Comunicação com Usuários Tempo de Viagem (Dentro do Veículo) Qualidade / Estado dos Veículos Integração Entre os Pontos de Embarque/Desembarque Elementos relacionados ao problema Conceitos Orientados à Ação Frotal Mal Dimensionada Aumentar a frota de veículos nos horários de pico 41 4.6. Criação do mapa de relações meios e fins Após a criação
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