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0 ESPÍRITO SANTO DIMENSÕES DO ENVELHECIMENTO ASPECTOS FÍSICOS, NUTRICIONAIS E PSICOLÓGICOS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4 1 ENVELHECIMENTO ................................................................................... 5 2 O IDOSO E O ENVELHECIMENTO, PROCESSO DE TRANSIÇÃO DENTRO DO CONTEXTO PSICANALITICO .............................................................. 6 3 O ENVELHECIMENTO É DIVIDIDO EM BIOLÓGICO E PSÍQUICO ....... 12 3.1 Envelhecimento biológico ................................................................... 12 3.2 Aspectos neuropsicológicos do envelhecimento ................................ 14 3.3 Aspectos gerais do envelhecimento ................................................... 16 4 O ENVELHECIMENTO E AS SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES ............... 18 4.1 Envelhecimento psicológico ............................................................... 18 4.2 O envelhecimento nos diferentes aspectos ........................................ 23 4.3 Envelhecimento psicológico e social .................................................. 30 5 ENVELHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO ....................................... 33 5.1 Envelhecimento cognitivo/cerebral ..................................................... 35 6 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO .... 40 7 DÉFICIT COGNITIVO LIGEIRO ............................................................... 41 8 ALTERAÇÕES NEUROANATÓMICAS .................................................... 45 8.1 Atrofia do cérebro ............................................................................... 45 8.2 Aparecimento de placas senis/degenerescência neurofibrilar ............ 45 8.3 Morte neuronal ................................................................................... 45 8.4 Rarefacção da arborização dendrítica ................................................ 46 9 EFEITOS DO ENVELHECIMENTO NO DESEMPENHO COGNITIVO .... 47 10 PRINCIPAIS DE DEMÊNCIAS NA FASE DE ENVELHECIMENTO ...... 50 10.1 Demência: introdução e conceito .................................................... 50 10.2 Doença de alzheimer ...................................................................... 51 2 10.3 Localização dentro das demências ................................................. 52 10.4 Os fatores que explicam a involução cerebral ................................. 52 10.5 O cuidador familiar da pessoa com doença de alzheimer ............... 54 10.6 A terapia ocupacional e o cuidador familiar da pessoa com doença de alzheimer 57 10.7 Demência vascular .......................................................................... 58 10.8 Demência frontotemporal ................................................................ 60 10.9 Demência com corpos de lewy ....................................................... 61 10.10 Tipos de demências menos comuns ............................................... 62 10.11 Funções executivas e a instabilidade postural na dp ...................... 63 10.12 Perfil cognitivo da dp ....................................................................... 63 10.13 Psicologia na dp .............................................................................. 65 10.14 Doença de huntington ..................................................................... 66 10.15 Manifestações cognitivas ................................................................ 67 10.16 A atuação do psicólogo na doença de huntington .......................... 68 10.17 Doença de creutzfeldt-jakob (dcj) ................................................... 68 10.18 Manifestações comportamentais .................................................... 70 10.19 Manifestações cognitivas ................................................................ 71 11 FRAGILIDADE FÍSICA E O ENVELHECIMENTO ................................. 72 11.1 Depressão e demência ................................................................... 74 11.2 Pseudodemência depressiva .......................................................... 76 11.3 Reflexos da depressão no idoso ..................................................... 77 11.4 Intervenções psicossociais no tratamento da depressão no idoso . 78 12 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA ..................................... 79 12.1 Envelhecimento ativo ...................................................................... 81 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 88 14 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 93 3 4 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 1 ENVELHECIMENTO Para Moraes & Lima (2010), o envelhecimento representa o conjunto de consequências ou os efeitos da passagem do tempo. Todos os sistemas fisiológicos principais são afetados biologicamente, podendo ser considerado como a involução morfofuncional. Entretanto, esta involução não impede que a pessoa se mantenha ativa, independente e feliz. Do ponto de vista psíquico, representa a conquista da sabedoria e da compreensão plena do sentido da vida. Este processo do envelhecimento humano se dá em três níveis diferentes: biológico, psicológico e social. O envelhecimento biológico envolve mudanças fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e hormonais, acompanhadas de gradual declínio das capacidades do organismo, causando mais fragilidades no organismo às agressões externas e internas. Há evidências de que o envelhecimento é de natureza multifatorial e ligada à programação genética e das alterações que ocorrem em nível celular-molecular (Moraes et al.; 2010 apud Dani Andrea 2012). No processo do envelhecer, tanto normal quanto patológico, as funções executivas tendem a ficar prejudicadas. As alterações destas funções ocorrem de modo gradual e lento até os 60 anos, sendo considerado normal, tornando-se mais aceleradas a partir dos 70 anos. Segundo Ramos et al., (1993), embora a grande maioria dos idosos seja portadora de, pelo menos, uma doença crônica, não são todos que ficam limitados por essas doenças, e muitos levam vida perfeitamente normal, com as suas enfermidades controladas. Moraes e Lima (2010) consideram que as deficiências funcionais vão surgindo de maneira insidiosa no decorrer da vida, sendo apontada por senescência, sem comprometer as decisões, a organização e o planejamento de atividades rotineiras, não devendo ser considerado patologia. O envelhecimento psicológico transparece pelos comportamentos das pessoas em relação a si próprias ou aos outros, ligados a mudanças de atitude e limitações das capacidadesem geral, levando a inadequações, readaptações e reajustamentos dos repertórios comportamentais, face às exigências da vida. O envelhecimento social está associado às normas ou eventos sociais que é regido, por um critério de idade, como casamento e aposentadoria. 6 Estes três níveis de envelhecimento não tem uma ordem exata quanto ao seu aparecimento. Kristensen 2006 coloca que entender o envelhecimento a partir da sexta década de vida como atribuiu a O.M.S. seria um equívoco; porque ele está se processando durante a existência da pessoa. Por conta deste processo, enquanto um adolescente está maturando, paralelamente está ocorrendo o envelhecimento de certos sistemas do seu corpo, envelhecimento este que só irá parar com a morte. 2 O IDOSO E O ENVELHECIMENTO, PROCESSO DE TRANSIÇÃO DENTRO DO CONTEXTO PSICANALITICO Fonte: homecareidosos.com O desenvolvimento humano é um processo que dura à vida toda e que está sempre em constante evolução e este, continuará até o fim da vida. Desta forma, Papalia (2012) apresenta oito períodos do desenvolvimento humano que são: período pré-natal (da concepção ao nascimento); primeira infância (do nascimento aos 03 anos); segunda infância (03 a 06 anos); terceira infância (06 a 11 anos); adolescência (11 aproximadamente a 20 anos); início da idade adulta (20 a 40 anos); vida adulta (40 a 65 anos) e a vida adulta tardia (65 anos em diante). Sendo assim, é possível dizer que o desenvolvimento humano se dá de forma diferente de pessoa para pessoa e que, nesse contexto, considera-se as várias características herdadas, os fatores ambientais ou experiências que afetam ou que vêm ajudar no desenvolvimento, principalmente, quando se tratam do contexto familiar, vizinhança, nível socioeconômico, cultura e raça, entre outros fatores. 7 O envelhecimento é um fenômeno comum aos seres vivos, ou seja, é um processo natural da vida, que traz ao longo dos anos alterações sofridas pelo organismo sendo normal para esta fase e esse processo vai do nascimento até a morte. Papalia diz que, o envelhecimento é caracterizado como sendo um processo dinâmico, gradual, progressivo e inevitável, no qual interagem múltiplos fatores biológicos, psíquicos e sociais. Portanto, é possível dizer que esses fatores são visivelmente identificados, isso pelo declínio da saúde e das capacidades da pessoa, afetando aspectos funcionais, tais como: a memória, inteligência, fatores sensoriais que acarretam em alguns problemas físicos, psíquicos. (Papalia 2012, Roque Candice; 2017). Entretanto, o idoso busca alternativas para compensar esses problemas que enfrenta, com o objetivo de aproveitar mais e melhor o seu tempo, visam estratégias para enfrentar perdas pessoais e não cair em adoecimento, tentam relações mais carinhosas e tentam encontrar apoio nas relações familiares e com amigos para superar essa etapa. Neste sentido, é oportuno pontuar a origem da palavra idoso. Esta vem do latim “vetulus” e que significa “remoto, antigo, idoso, antiquado, gasto pelo uso”. No Dicionário Escolar: língua portuguesa (2015), a palavra idoso quer dizer, que tem muitos anos, senil, velho. Assim, a palavra envelhecer nos mostra: tornar velho, aparentar velhice ou fazer que pareça velho, tornar-se arcaico ou inútil, apagar-se, obliterar-se. Na visão de Perestrello (2004), o significado da palavra velho, envelhecer, envelhecimento veio sofrendo alterações e, além dos sentidos preconceituosos esse termo também devido essas alterações teve os ganhos. A palavra velho vem a ser substituída pela palavra ancião que se entende por uma pessoa de sabedoria. Dessa forma, a palavra envelhecimento passa a ser um processo. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS), (2002) define idoso como aquele indivíduo com 60 anos de idade ou mais. Limite este, válido para os países em desenvolvimento como o Brasil, pois nos países desenvolvidos admite-se um ponto de corte de 65 anos de idade. Sendo assim, Papalia (2012) destaca que o envelhecimento também é conceituado como um processo progressivo, onde ocorrem modificações funcionais, morfológicas, bioquímicas e psicológicas, determinando a perda da capacidade de 8 adaptação do sujeito e o meio-ambiente. Sua marca principal é o declínio, geralmente físico, levando a alterações sociais e psicológicas. A velhice ou envelhecimento é um processo natural. Segundo a mesma autora, pode-se definir que com a chegada da velhice observa-se que muitas mudanças ocorrem no corpo físico. Essas mudanças como: lentidão, fraqueza, diminuição do tamanho e outras situações e funções podem causar certo impacto nas pessoas. Essas transformações são praticamente inevitáveis. Elas têm grande influência quando relacionadas ao trabalho, vida pessoal, no lar, na saúde, tornando-se uma preocupação central em termos de inquietação, tempo e dinheiro. É importante dizer que envelhecer é um processo de mais uma etapa da vida, uma vez que, em cada fase/etapa da vida tem-se algo para vivenciar, aprender e desenvolver e assim acabar por elaborar as diversas formas de encarar os problemas, questões e experiências vivenciadas. Portanto, o sujeito acaba agindo por repetição na maioria das vezes, uma lembrança que está associada ao esquecimento, não estando relacionada exatamente com o fato. Assim “[...] repetir e recordar não são formas de reprodução” afirma (MUCIDA, 2017). Existe uma insistência por parte da repetição e que o inconsciente não resiste, tentando passar pelo recalque. Entretanto, como essa reprodução está barrada pelo recalque, ela guarda uma cota do fracasso. Isto é, uma satisfação pulsional. Ela traz algo de diferente e de igual, traçando formas de recordações, traços, determinando a forma de gozar. Seja a repetição da ordem da falta, algo que está por trás do que se repete uma perda do gozo, ou seja, o destino de uma pessoa se repete pela sua própria escolha, que ela mesma arranja e que se determina pelas influências infantis. No idoso, essa repetição coloca-se através do passado e que busca retornar, seja na sua infância ou seu passado, a busca por algo do que recorda. Dessa forma, o idoso envelhece da sua maneira e que não é um envelhecimento natural e passa a ser bastante particular, onde cada um inscreverá a sua forma de gozar. Conforme Golfarb (2009), quando o idoso sofre com as mudanças advindas do tempo cronológico, mudanças como: rugas, cabelos brancos, doenças degenerativas, entre outras, são muito significativas e que vem a questionar a imagem narcísica de potência. Por isso, quando o idoso fala do seu corpo, nesse sentido, ele está falando 9 de sofrimento, de um corpo que igualmente continua vivo, desejante, porém, um corpo que não o serve mais de instrumento. Ainda conforme Golfarb (2009), a constituição do Eu, ou confirmação de identidade é a primeira experiência do espelho positivo como ponto importante para o sujeito. Já no espelho negativo, as perdas físicas, a velhice e finitude confirmam-se nesse instante. Então, assiste-se à aproximação da velhice nessa forma. Assim, o psiquismo deverá trabalhar mecanismos para elaboração de aceitação desse novo corpo em forma avançada. No entanto, entende-se que o tempo de vida se dá entre o nascimento e a morte. Esses tempos medidos ou cronológicos quase não se têm a ver com o que foi vivido ou subjetivo, mas aí se encontra o sujeito que envelhece, que começa a contar e relatar o que resta para viver e ainda consegue planejar com o que está ou pode vir. Essa percepção de passagem da vida e que se sujeita a mudanças entende-se por tempo psicológico. Como o estádio do espelho é um momento de reconhecimento do sujeito, é através do espelho também que o idoso não se reconhece. Dessa forma: A velhice é um território desconhecido e particular a cada um. O homem vivencia a passagem do tempo com espanto, surpresa, desconcerto.É uma experiência inédita. Ele não reconhece em si as metamorfoses advindas, passo a passo, com a senescência. Reconhece-as no outro, é o outro que envelhece. Mas, com surpresa, não mais que de repente, ele vê sua velhice no olhar do outro, que tal como um espelho lhe retorna aquele “estrangeiro” em que se tornou. (PERES, 2004, apud Roque Candice; 2017). Devido a esses contrastes entre passado e presente, tornar-se-ia insuportável para alguns idosos o fato dessas subtrações como a falência do corpo, a imagem, confiança, desinteresse. Então, essa relação narcísica como pontuada por Peres (2004): “ ama-se a si mesmo, a seu corpo ou sente repulsa e desgosto pela atual imagem”. Consequentemente, o idoso que não aceita o envelhecimento, vai evitar o contato com o espelho que irá lhe devolver a imagem de um corpo que não quer. Sobre as mudanças na velhice, pode-se dizer que não somente as doenças acometem os idosos, mas, alguns buscam por envelhecer de forma mais saudável, assim vivem suas vidas de forma positiva, buscando manter-se em constante vida ativa. De acordo com Papalia (2012), estudos revelam que, atualmente, a expectativa de vida das pessoas é de 75 anos, isso porque os idosos vêm tendo um padrão de 10 vida muito melhor e foram muitas as vitórias sobre as doenças infecciosas com as medicações e vacinas. Com isso, a expectativa de vida sendo maior, tem-se um impacto sobre a sociedade. Com o aumento da percentagem de idosos na população, aumenta-se a necessidade de serviços para essa categoria, como cuidados médicos, seguro social, habitação, lazer e assim por diante. A expectativa de vida se entende por idade máxima que a pessoa possivelmente aproxima-se, considerando sua saúde e idade atual. Baseia-se na média de longevidade, ou no tempo de vida de certa população. Por conseguinte, idosos têm culturas diferentes e, assim sendo, seria necessário pensar em como trabalhar esse envelhecimento para que o idoso tenha acesso e disponibilidade para usufruir da vida já que está aumentando a expectativa. É nesse sentido que, devido à expectativa de vida, precisa-se pensar em formas de lazer entre outras atividades que possibilitem ao idoso acesso a uma melhor promoção de envelhecimento saudável e nesta perspectiva: Os cientistas sociais especialistas em envelhecimento dizem ter três grupos de idosos, o “idoso jovem”, o “idoso, idoso” e o “idoso mais velho”. Cronologicamente, os idosos jovens são pessoas entre 65 e 74 anos que, em geral, são ativas, animadas e vigorosas. O idoso, idoso, pessoas entre 75 e 84 anos, e o idoso mais velho, pessoas de 85 anos em diante, estão mais propensos a uma condição de fragilidade e doença. (PAPALIA, 2012, apud Roque Candice; 2017). No século XIX surgiram instituições que visavam à reincorporação dos idosos na sociedade, atribuindo ao idoso um novo local de moradia, asilos e/ou hospitais. A partir desse isolamento, a velhice veio a ser encarada como uma doença social passando então, a ser pensada no século XX como uma imagem altamente desvalorizada desse sujeito e, consequentemente, os idosos foram rotulados como incapazes e improdutivos. Esses discursos e rotulações aos idosos perduraram até os anos 80, juntamente com situações de pobrezas, isolamento social, solidão, doenças, essa era a vida dessas pessoas neste período. A palavra velhice era associada à imagem de saúde precária. Conforme Papalia (2012), sessenta anos é o marco que define a entrada na velhice nos países em desenvolvimento, sendo ela aceita como padrão para que a pessoa se defina como idosa. Já nos países desenvolvidos o marco se dá aos 65 anos 11 de idade. No Brasil, os índices de envelhecimento têm aumentado consideravelmente, mas é um mito pensar que a população idosa foi mais bem acolhida e tratada antigamente. Na mesma linha de pensamento, a mesma autora aponta que o Brasil, também apresenta uma mudança na estrutura demográfica e fala que até 2025 será o sexto a ocupar a posição em população de idosos, uma vez que, a expectativa de vida tem aumentado, até dobrado durante o século XX. Esses dados são de suma importância, pois envolvem a discussão e construção de políticas públicas, previdência social, assistência médica, por exemplo. Buscar alternativas para que o envelhecimento seja não só de abandono ou solidão, e sim, buscar programas específicos para essa faixa etária, coloca-se como um desafio para os governantes. Entende-se que velhice não somente é a disfunção motora, mas também se torna aparente o envelhecimento psíquico e físico do sujeito acarretando em várias formas o adoecimento do idoso. Em contrapartida, faz-se necessário falar também daquele idoso que não envelhece, o sujeito que, inconscientemente, não envelhece, pois se sabe que o inconsciente é atemporal, e assim, os idosos, em parte, acabam tendo uma vida normal, sem problemas de saúde, física ou psicologicamente falando. Assim, pode-se pensar que a figura social e cultural da velhice vem sendo construída diferentemente ao longo dos anos, pois a pessoa idosa era muito desvalorizada, rejeitada e que cumpria somente o destino biológico/ reprodutor. Dessa maneira, entendia-se que as escolhas e o destino eram arranjos das próprias pessoas e determinadas pelas influências infantis. Na questão cultural, verifica-se que os idosos têm mais condições de uma vida melhor nas sociedades ricas. Porém, existem outros fatores importantes a serem analisados. Uma sociedade em que a organização é complexa, por exemplo, o papel do idoso é diferenciado. O idoso tem um reconhecimento no que diz respeito à experiência. Contudo, para algumas pessoas, isso se torna desnecessário, pois acreditam que o idoso não tem mais razão. Se, para algumas culturas e, em outras formas de organização social, o suposto saber da experiência era um traço identificatório para o idoso, demarcando certo lugar social, hoje o suposto saber encontrase fora dele, nas faces diversas e irreconhecíveis do Outro, que dita as regras de 12 envelhecer bem ou, de modo geral, de não envelhecer. (MUCIDA, 2017; apud Roque Candice; 2017). A partir disso, o idoso tem um papel importante em algumas sociedades, sendo ele o suposto saber de experiências de vida, um saber a se aproveitar. Já em outras, esse saber não interessa, assim o idoso acaba por ser abandonado ou deixado de lado, não representando ou “agregando” nada nessas sociedades, uma vez que este não produz mais, o que nos dias de hoje é o que parece representar ser mais importante. O corpo real do idoso que se transforma marcado por uma imagem, imagem esta, que nem sempre é fácil de suportar. Portanto, na sequência, será tratado de assuntos que nos mostram um pouco sobre esse sujeito idoso, esse que envelhece somente a imagem real, mas que, inconscientemente não. Assuntos da ordem do sujeito em sua forma física, psíquica, biológica. 3 O ENVELHECIMENTO É DIVIDIDO EM BIOLÓGICO E PSÍQUICO 3.1 Envelhecimento biológico O envelhecimento biológico é implacável, ativo e irreversível, causando mais vulnerabilidade do organismo às agressões externas e internas. Existem evidências de que o processo de envelhecimento é de natureza multifatorial e dependente da programação genética e das alterações que ocorrem em nível celular-molecular. Pode haver, consequentemente, diminuição da capacidade funcional das áreas afetadas e sobrecarga dos mecanismos de controle homeostático, que passam a servir como substrato fisiológico para influência da idade na apresentação da doença, da resposta ao tratamento proposto e das complicações que se seguem. Os sinais de deficiências funcionais vão aparecendo de maneira discreta no decorrer da vida, sendo chamados de senescência, sem comprometer as relações e a gerência de decisões. Esse processo não pode ser considerado doença. Em condições basais, o idoso não apresentaalterações no funcionamento ao ser comparado com o jovem. A diferença manifesta-se nas situações nas quais se torna necessária a utilização das reservas homeostáticas, que, no idoso, são mais fracas. 13 Além disso, todos os órgãos ou sistemas envelhecem de forma diferenciada, tornando a variabilidade cada vez maior diante desse processo: EVELHECIMENTO = VULNERABILIDADE+ VARIABILIDADE + IRREVERSIBILIDADE. O sistema nervoso central (SNC), embora tenha evoluído filogeneticamente há milhões de anos, só recentemente adquiriu propriedades anatômicas e moleculares altamente especializadas. Os neurônios, unidades formadoras desse sistema, possuem estabilidade e estrutura, atributo este que é pré-requisito para a cognição. Essa propriedade torna o SNC apto ao acúmulo de informações do presente, à lembrança do passado e à formulação de novos conceitos. O SNC é incapaz de realizar reparos nas alterações morfológicas adquiridas com o envelhecimento. O envelhecimento cerebral normal evidencia, a partir da segunda década de vida, um declínio ponderal discreto, lento e progressivo, que culmina com a diminuição do seu volume. O estudo microscópico dos neurônios revela mudanças caracterizadas por: diminuição do RNA citoplasmático e da substância de Nissl, acúmulo de lipofuscina; depósito amiloide nos vasos sanguíneos e células e de placa senil; e, menos frequentemente, emaranhado neurofibrilar - característico da demência de Alzheimer, que pode, entretanto, ser observado em cérebros de idosos sem indícios de demência e que resulta em atrofia neuronal reduzindo a quantidade de células nervosas. Essa perda celular não atinge as regiões corticais igualmente, pois neurônios da mesma região têm fenótipos moleculares únicos e, portanto, diferentes vulnerabilidades aos processos deletérios (córtex pré-frontal e é mais sensível às mudanças do envelhecimento). O envelhecimento normal associa-se, além das alterações microscópicas dos neurônios, a mudanças nos sistemas de neurotransmissores. Os sistemas dopaminérgicos e colinérgicos apresentam ações diminuídas. O declínio de memória não necessita, necessariamente, associar-se à lesão estrutural, podendo ocorrer devido à disfunção fisiológica e não à perda neuronal. O SNC, apesar de não ser capaz de recuperar seus neurônios, tem propriedades que podem diminuir o impacto das alterações do envelhecimento, como: redundância (existem muito mais neurônios no cérebro que o necessário); mecanismos compensadores (surgem em situações de lesão cerebral e são mais hábeis conforme o centro atingido); plasticidade (habilidade de neurônios maduros, 14 com sua rede de dendritos, desenvolverem e formarem novas sinapses, levando à formação de novos circuitos sinápticos). 3.2 Aspectos neuropsicológicos do envelhecimento O desenvolvimento de estudos de Psicologia e psiquiátricos no idoso proporcionou mudança no paradigma do envelhecer psíquico. Durante a velhice, não é comum o aparecimento de alterações na funcionalidade mental do idoso, ou seja, os idosos saudáveis, sem limitações físicas, podem ser bastante produtivos. A definição de quais e como as funções psíquicas se modificam no decorrer dos anos permitiu a consideração de que o idoso não seja tratado como um ser limitado cognitivamente, mas que requer a adaptação de estímulos ambientais para possuir funcionalidade comparável à de adultos jovens. O conhecimento sobre o envelhecimento neuropsicológico ajuda a fundamentar as mudanças exigidas pela sociedade para que os idosos sejam adequadamente valorizados em nosso meio. O termo cognição corresponde à faixa de funcionamento intelectual humano, incluindo percepção, atenção, memória, raciocínio, tomada de decisões, solução de problemas e formação de estruturas complexas do conhecimento. A grande dificuldade acerca do envelhecimento é o limite entre alterações cognitivas normais e patogênicas. O desenvolvimento do conhecimento sobre os vários tipos de demências, o avanço dos métodos de neuroimagem e estudos científicos apropriados permitiram o julgamento sobre o limite entre saúde e doença no idoso. Algumas das habilidades cognitivas se modificam em relação ao tempo, enquanto outras permanecem inalteradas. O conhecimento da evolução neuropsicológica permite aferir se alguma função cognitiva prejudicada significa doença. As habilidades que sofrem declínio com a idade são: memória de trabalho, velocidade de pensamento e habilidades visuoespaciais, enquanto as que se mantêm inalteradas são: inteligência verbal, atenção básica, habilidade de cálculo e a maioria das habilidades de linguagem. 15 As repercussões funcionais do envelhecimento fisiológico (senescência) do SNC são controversas e não afetam significativamente as funções cognitivas. Observa-se redução de: peso do encéfalo (10%), fluxo sanguíneo cerebral (15-20%), volume ventricular exavacuo, número de neurônios e depósito neuronal de liposfuscina. Surgem degeneração vascular amiloide, placas senis e degeneração neurofibrilar com comprometimento da neurotransmissão dopaminérgica e colinérgica, e lentificação da velocidade da condução nervosa. As regiões mais sensíveis às alterações do envelhecimento localizam-se no lobo frontal e, possivelmente, no lobo temporal medial. As alterações dos órgãos dos sentidos (visão, audição, etc.) dificultam o acesso às informações e o aprendizado. O lobo frontal não apresenta mudanças na sua porção ventromedial, responsável pela regulação do comportamento social e emocional. A porção dorsolateral da região pré-frontal, entretanto, possui alterações anatômicas e funcionais mais proeminentes, percebidas em sua dificuldade aumentada na realização de tarefas dependentes da função executiva e da memória de trabalho. Há mais comprometimento na atenção (registro) e resgate das informações previamente estocadas, tarefas dependentes da memória de trabalho e também na consolidação de informações recentes (memória episódica recente, por exemplo, localização de objetos, recados, etc.). Não há alteração da memória semântica. Observam-se, clinicamente, lentificação no processamento cognitivo, redução da atenção (déficit atentivo), mais dificuldade no resgate das informações aprendidas (memória de trabalho) e redução da memória prospectiva (“lembrar-se de lembrar”) e da memória contextual (dificuldades com detalhes). As informações estocadas (memória de longo prazo intermediária e remota) não são afetadas, e sim a análise e comparação (memória de trabalho) das informações que chegam constantemente ao cérebro, com as memórias explícitas e implícitas estocadas no neocórtex posterior. Essas alterações não trazem prejuízo significativo na execução das tarefas do cotidiano, não promovem limitação das atividades, nem restrição da participação social. A influência do tempo sobre a cognição também amplifica as diferenças entre os sexos, isto é, os homens mais velhos mostram mais facilidades nos cálculos matemáticos, enquanto as mulheres nas habilidades executivas. 16 O processo de atenção representa grupo complexo de comportamentos, em que o indivíduo pode selecionar informações e ignorar outras; sustentar a concentração em uma informação por um período de tempo; dividir a atenção entre dois ou mais aspectos ao mesmo tempo; e mudar o foco da atenção quando for necessário. A capacidade do idoso de dividir atenção entre vários estímulos para apreender uma situação é extremamente prejudicada. Outras funções da atenção não se modificam com o envelhecer. Função executiva se refere à capacidade de resolução de problemas, planejamento, inibição de resposta, abstração, processamento de informações. As capacidades cristalizadas ou os conhecimentos adquiridos no curso do processo de socialização tendem a permanecer estáveis. As capacidades fluidas, isto é, envolvidas na soluçãode novos problemas, tendem a declinar gradualmente. A velocidade na qual a informação é processada representa a alteração mais evidente do idoso. A lentidão cognitiva influencia todas as outras funções e pode ser responsável pelo déficit cognitivo em idosos. A lentidão no processamento de informações é observada em idosos em sua dificuldade em compreender textos, necessidade de explicações mais ricas e extensas e de mais tempo para executar cálculos. A presbiacusia prejudica a compreensão da fala, entretanto, o déficit periférico pode ser compensado pelos recursos e experiências cognitivas. O vocabulário e expressão verbal podem aumentar durante a vida toda. A linguagem espontânea pode se tornar menos precisa e mais repetitiva com o passar do tempo. A capacidade dos idosos em reconhecerem formas, objetos, dimensões e a distância não é prejudicada quando avaliada de forma simples. Os idosos, quando avaliados em testes mais complexos, entretanto, apresentam habilidades visuoespaciais e visuoperceptivas inferiores às dos de jovens. 3.3 Aspectos gerais do envelhecimento A senescência é o processo natural do envelhecimento, o qual compromete progressivamente aspectos físicos e cognitivos. Segundo a OMS, a terceira idade tem início entre os 60 e 65 anos. No entanto, esta é uma idade instituída para efeitos de 17 pesquisa, já que o processo de envelhecimento depende de três classes de fatores principais: biológicos, psíquicos e sociais. São estes fatores que podem preconizar a velhice, acelerando ou retardando o aparecimento e a instalação de doenças e de sintomas característicos da idade madura. O envelhecimento fisiológico compreende uma série de alterações nas funções orgânicas e mentais devido exclusivamente aos efeitos da idade avançada sobre o organismo, fazendo com que o mesmo perca a capacidade de manter o equilíbrio homeostático e que todas as funções fisiológicas gradualmente comecem a declinar. Tais alterações têm por característica principal a diminuição progressiva da reserva funcional. Ou seja, um organismo envelhecido, em condições normais, poderá sobreviver adequadamente, porém, quando submetido a situações de stress físico, emocional, etc., pode apresentar dificuldades em manter sua homeostase e, desta forma, manifestar sobrecarga funcional, a qual pode culminar em processos patológicos, uma vez que há o comprometimento dos sistemas endócrino, nervoso e imunológico (Firmino, 2006 apud Gomes Cancela 2007). O envelhecimento do ponto de vista fisiológico depende significativamente do estilo de vida que a pessoa assume desde a infância ou adolescência. O organismo envelhece como um todo, enquanto que os seus órgãos, tecidos, células e estruturas subcelulares têm envelhecimentos diferenciados. Com o envelhecimento, ocorrem alterações de vários aspectos perceptíveis do organismo. Destacam-se a: Diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, fígado e o cérebro; Diminuição da capacidade dos rins para eliminar toxinas e medicamentos; Diminuição da capacidade do fígado para eliminar toxinas e metabolizar a maioria dos medicamentos; Diminuição da frequência cardíaca máxima, mas sem alteração da frequência cardíaca em repouso; Diminuição do débito cardíaco (saída de sangue do coração) máximo; Diminuição da tolerância à glicose; Diminuição da capacidade pulmonar de mobilização do ar; 18 Aumento da quantidade de ar retido nos pulmões depois de uma expiração; Diminuição da função celular de combate às infecções; 4 O ENVELHECIMENTO E AS SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES Fonte: fef.unicamp.br O envelhecimento perceptivo é muito diferenciado. Algumas modalidades sensoriais, como o olfato, o gosto ou a cinestesia, são pouco afetadas pela idade, ao passo que outras, como a audição, a visão e o equilíbrio, são gravemente afetadas. De todas estas modalidades perceptivas, o envelhecimento afeta de forma mais significativa o equilíbrio, audição e visão, sendo que isto acarreta consequências importante, e por vezes graves, a nível psicológico e social. Por outro lado, os défices sensoriais de natureza auditiva e visual parecem causas importantes de declínio geral no funcionamento das atividades intelectuais (Fontaine, 2000). 4.1 Envelhecimento psicológico O envelhecimento psíquico ou amadurecimento não é naturalmente progressivo nem ocorre inexoravelmente, como efeito da passagem de tempo. Depende também da passagem do tempo, mas, sobretudo, do esforço pessoal contínuo na busca do autoconhecimento e do sentido da vida. O autoconhecimento, o estudo da estrutura e dinâmica do psiquismo e a superação dos conflitos do cotidiano são indispensáveis para que se possa atingir a independência psíquica, condição indispensável para a sabedoria. 19 O amadurecimento é conquista individual e se traduz pela modificação dos valores de vida ou pela aquisição da consciência (para que vivemos?). “Só é consciente a pessoa que se conhece, que conhece os reais motivos do seu viver, sua capacidade de controle desses motivos e de organização desse controle”. É a personalização do indivíduo, harmonizando-o consigo mesmo e com o mundo. (Figura 1). Envelhecimento psíquico Fonte: observatorionacionaldoidoso.id Com o envelhecimento psíquico há, portanto, redução da vulnerabilidade. A pessoa idosa torna-se suficientemente sábia para aceitar a realidade, tolerar a dor ou a perda da independência biológica, pois seus dispositivos de segurança são cada vez mais eficazes na relação com o mundo. É a liberdade plena ou independência psíquica, pois compreende o sentido da vida (para quê). Os valores que regem a sua vida (filosofia de vida) são cada vez mais elevados, racionais, inteligentes, enfim, conscientes. O idoso “entrega-se à existência com a pureza das crianças, mas sem a sua ingenuidade, com o vigor do adolescente, mas sem a sua pugnacidade, com a sensatez do homem maduro, mas sem o seu orgulho. Torna-se cidadão do Universo com a astúcia da raposa e a malícia da serpente, o que faz dele um sábio”. 20 A vida é uma grande viagem em busca da máxima felicidade ou êxtase místico. Para tanto, faz-se necessário o aproveitamento de todas as fases da vida, superando- se os conflitos inerentes a cada ciclo, na busca de um equilíbrio cada vez maior. (Quadro 1). Ciclos da vida Fonte: observatorionacionaldoidoso.id A infância psíquica é a fase inicial de preparação para a vida, na qual o indivíduo começa a se criar, isto é, instruir, disciplinar. Tem início no nascimento e perdura até os 12 anos, quando, usualmente, ocorre a instalação da sexualidade genital, com a primeira menstruação da menina e a primeira ejaculação do menino. Inicialmente, o comportamento da criança é regido pelo instinto (zero a nove meses), pois não se pode falar ainda em inteligência, que é a capacidade de resolver os problemas, nem em consciência, que é a compreensão do sentido da conduta (conhecimento da finalidade). É a fase de máxima dependência física e psíquica do indivíduo. Com o desenvolvimento, a criança alcança níveis mais sofisticados de percepção e atuação no mundo, passando pela angústia (zero a nove meses), medo (nove a 18 meses), obsessão (18 meses a três anos), farsa (três a seis anos) e praticidade (seis a 12 anos), quando surge a razão e a criança adquire a capacidade de reflexão. O indivíduo vai se tornando cada vez mais independente do adulto, capaz de atuar no mundo de forma prática ou ponderada. É capaz de compreender o que ocorreu para as coisas serem como estão sendo e o que ocorreria se o que foi feito pudesse ser desfeito e outra conduta tivesse tido lugar. 21 Está, assim, preparada a base sobre a qual vai assentar-se a construção progressiva do ser humano, que visa sempre a assimilar o mundo exterior, conquistar as coisas e a si próprio. Tem início, então, a adolescência(12 a 18 anos), quando o indivíduo se encontra no auge da preparação para a existência. Dois eventos modificam radicalmente a vida da criança, a puberdade e o raciocínio abstrato. Aos poucos, vai-se avolumando todo um caudal de modificações interiores, que deflagra uma série de atitudes novas, inusitadas, trazendo perplexidade para o indivíduo e para aqueles que o rodeiam. A criança latente, aparentemente equilibrada e madura (ser prático), torna-se um ser fisicamente desproporcional e com atitudes psíquicas desproporcionais aos eventos. A pré-adolescência (12 aos 15 anos) vive, mais uma vez, a angústia do desconhecido, sente fobia do seu novo corpo, raiva da liberdade e histeria do chamamento de papéis que não sabe ainda representar. Capaz de abstração, começa a questionar filosoficamente as diretrizes de vida que lhe vinham sendo impostas desde sempre. Ele retoma a dúvida do obsessivo, já agora pondo em questão não apenas os hábitos culturais, mas também, e principalmente, posições políticas, religiosas e filosóficas, em geral. Revolta-se contra a dependência infantil primitiva. Em seguida, na adolescência propriamente dita (15 a 18 anos), vive um período de acomodação e relativa acalmia. Procura considerar, sob um novo ângulo, sua sensação de angústia diante do desconhecido. Percebe que nem sempre os argumentos aguerridos levam ao resultado desejado. Percebe a sua independência psíquica, mas reconhece a sua dependência afetiva. Buscando a solução dos conflitos em um clima de reflexão sobre a noção da existência de uma mecânica da vida, passa a suspeitar da possibilidade de que essa mecânica tenha mais amplitude do que imaginava e obedeça a um direcionamento preestabelecido. Necessita, ainda, de muitas informações sobre a vida, principalmente sobre as regras do amor em geral. Percebe mais claramente que o bem e o mal podem ser complementares e que há uma “engrenagem” mais capaz de explicar as contradições da vida. Está, assim, consolidada a base sobre a qual se vinha assentando a construção progressiva do ser humano, que visa sempre a assimilar o mundo exterior, conquistar as coisas e a si próprio. 22 O período seguinte é o da adultez. A adultez é o período de realização da vida, em que o indivíduo adquire cada vez mais equilíbrio, atingindo estabilidade duradoura, propiciando o mergulho em profundidade que leva ao alargamento da consciência de si e de si mesmo no mundo. As etapas do período adulto são a adultez jovem (18 aos 30 anos), a adultez propriamente dita (30 aos 60 anos) e a adultez velha (acima de 60 anos). Adulto é o ser humano que se encontra preparado para existir. O indivíduo necessita, cada vez mais, para sobreviver, conhecer e se conhecer. O adulto jovem (18 aos 30 anos) é aquele que completa e efetiva os seus movimentos no sentido de garantir a sua sobrevivência e compreende as atitudes adequadas para atingir os seus fins. Tais fins incluem, necessariamente, os interesses da coletividade à qual está insofismavelmente ligado. Constata que não adianta tentar convencer as pessoas das suas verdades se elas não forem capazes de desenvolver conceitos próprios sobre o que se deseja que elas compreendam. É independente física e psiquicamente, sendo, assim, capaz de amar, devotar-se, sem criar problemas, sem deixar-se levar pelos conflitos inerentes às idades anteriores. Surge o interesse fraterno, em busca do bem comum. O adulto propriamente dito é aquele que, garantida sua sobrevivência, vive com mais empenho a busca pela compreensão, organização e interiorização, no sentido de cada vez mais personalização. Capaz de entender o mecanismo único que controla a “engrenagem” da vida e a lei geral que rege o movimento do universo como um todo, passa a suspeitar de que as percepções são ilusões que o afastam da verdade, do mergulho na visão direta no absoluto. Compreende a necessidade de adequar sua dependência afetiva aos interesses da humanidade como um todo. O amor retoma o seu ápice no sentido de ampliar seus benefícios além das fronteiras dos grupos dos quais participa. Pode ele experimentar o amor humanístico, sabendo que, sendo compreendido ou não, recebendo retribuição ou não, sua afetividade só se satisfaz na sua devoção ao bem- estar de todos os seus semelhantes. Sabe que não é o centro estático do mundo, mas fator na sua evolução. Percebe que o seu conhecimento não pode abarcar a verdade em si, mas apenas a do observador que é. Seu estilo de vida estando definido, participa, a seu 23 modo, do processo evolutivo, seu e dos grupos dos quais é membro, sempre em direção à integração pessoal e coletiva. A adultez velha (acima de 60 anos) ou velhice é a grande fase da vida, na qual o indivíduo, agora pessoa, atinge o grau máximo de compreensão do mistério da vida (consciência do absoluto) e do seu papel na unificação do universo. Vive a liberdade plena, permitindo-lhe compreender o lugar e a parte que cabem ao mal em um mundo em evolução. O sentido ético da sua existência permite a superação dos preconceitos e a participação ativa na evolução das pessoas e dos grupos aos quais esteja ligado. Está, assim, cumprido o destino do ser humano adulto, cuja fé em si mesmo e no destino do mundo o faz viver em um permanente comungar e servir 4.2 O envelhecimento nos diferentes aspectos São vários os fatores do envelhecimento do ser humano, e eles apontam para as perdas, sexualidade, mudanças físicas entre outros. Questões pertinentes a serem discutidas no que se refere aos diferentes aspectos que refletem no envelhecimento e, a partir desse estudo pode-se situar algumas. Papalia (2012) explica que as mudanças físicas que estão associadas ao envelhecimento, afetam mais algumas pessoas do que outras. Aqui fala-se sobre: a mudança na pele, palidez, elasticidade, gordura e músculos encolhem, cabelos branqueiam e ficam mais finos, os pelos do corpo que diminuem. Também ocorre a diminuição do tamanho devido ao atrofiamento dos discos entre as vértebras da espinha, pode ocorrer ainda afinamento dos ossos. Devido ao avanço e velocidade do desenvolvimento da evolução das tecnologias, Messina (2004) diz que realmente há uma idade cronológica para considerar o envelhecimento e de que forma os idosos se sobressaem nessa velocidade contemporânea. Visto que, presencia-se uma era global onde vivemos à mercê de muitas formas para não envelhecer à imagem que o outro vê, de introduzir na vida do idoso a era digital. Vivenciamos hoje uma realidade em que impera a ausência do estado do bem- estar social em nosso cotidiano, que produz um esvaziamento, bem como a falência 24 de nossas instituições em nome de um neoliberalismo que, na verdade, só produz a desigualdade, a exclusão, a violência, sem falar no empobrecimento do pensamento. (MESSINA, 2004,). Uma questão bastante relevante é o que apresenta Monteiro (2004), o qual assegura que tudo tem um começo e um fim, assim como as mudanças que acontecem nos sujeitos. Numa mesma perspectiva, Amendoeira (2004) afirma que os sujeitos sofrem transformações físicas, psicológicas e afetivas, e que o envelhecimento é uma etapa de evolução. As mudanças orgânicas são significativas no processo do envelhecimento e que são variáveis entre os idosos. Em alguns há o declínio rápido destas, em outros, pouco se observam. Ocorre um enfraquecimento da função imunológico devido ao estresse crônico, ao ponto que podem ficar mais suscetíveis às infecções respiratórias. O ritmo do coração torna-se mais lento, irregular e a pressão arterial tende a aumentar. Mas isso não impede de que os idosos tenham uma vida normal segundo Papalia (2012). Na mesma linha de pensamento, Caradec (2014) tradução por Marques e, aponta que o orgânico remete à saúde e às capacidades físicas, as limitações e doenças que são consideradas como sinais do envelhecimento.As funções sensoriais e psicomotoras também variam de pessoa para pessoa, alguns mantêm as funções ágeis, outras nem tanto. Essa diminuição das funções tende a ser maior em idosos mais avançados. A visão e audição onde se percebe uma maior perda, pois, na visão, os olhos dos idosos precisam de mais luminosidade, assim, problema de visão pode ser um pontapé para acidentes e quedas. Já na audição, a perda da mesma é bastante significativa causando um mal-estar já que a pessoa não entende o que os outros falam. Assim, para Papalia (2012) faz-se necessário uma mudança no ambiente desse idoso que sofre com esse tipo de disfunção. O sono já não é mais o mesmo, as pessoas idosas dormem menos e acordam mais facilmente em razão dos problemas físicos. 25 Os distúrbios do sono devem ser tratados e, quando não são tratados, eles podem ser um princípio de depressão de acordo com Papalia (2012). Assim, o sujeito vem a ter consequências que o afetam além do dormir, mas que vem a prejudicar o corpo como um todo. Assim, como as questões do corpo físico são facilmente detectadas na velhice, a questão da sexualidade ainda é um tabu, onde os idosos acabam por serem vistos como assexuados. Mas, ao contrário disso, eles mantêm uma vida sexual ativa. A realidade do inconsciente é a realidade sexual; é o fantasma que estrutura a relação do sujeito com seu objeto de desejo e o sustenta como desejante; o sujeito “se sustenta como desejante em relação a um conjunto significante cada vez mais complexo”. Não é a idade que determina a ausência do desejo e, muito menos, a ausência ou a presença de relações sexuais, mesmo que estas possam ser inscritas na velhice sob tecidos diferentes daqueles encontrados na adolescência, nos quais computar os orgasmos é uma forma usual. A sexualidade do idoso pode encontrar caminhos inéditos nos quais o desejo, que não morre, encontra outras maneiras de inscrição. (MUCIDA, 2017, apud Roque Candice; 2017). Assim, os idosos buscam uma forma de satisfação particular e, quando há reconhecimento da satisfação ela passa a ser saudável e normal. A satisfação, ou seja, desejo e libido não têm idade. Dessa forma, a sexualidade adulta é também a infantil, ela se representa durante toda a vida do sujeito, em que as pulsões parciais são marcadas, já que não existe uma pulsão genital para unir os dois sexos. Entende-se, portanto, que a sexualidade está presente igualmente a todos os sujeitos, desde criança até adultos. Ela se apresenta pela relação dos sujeitos com seu objeto de desejo, conforme Mucida (2017). A sexualidade na velhice segundo Gabbay (2004), não era vista, e sim se imaginava o idoso como um ser assexuado, aquele ser bondoso, sereno, assim correspondendo a um recalque da sexualidade idosa. E isso para a psicologia significa destituir o sujeito da sua condição de desejante. Nesta mesma perspectiva, Viorst (2005) pontua que as pessoas, ainda pensam que o idoso não sente desejo sexual sendo inconveniente para essa etapa da vida. Porém, ao contrário do que se pensa, os idosos não são assexuados. 26 Na mesma linha, Monteiro (2004) aponta que a sexualidade e afetividade estão articuladas aos conceitos de troca e relação, e trata do sujeito como um ser desejante. A mesma autora ainda aborda que a libido e a energia psíquica se manifestam nas formas: sexuais, afetivas, lúdicas, entre outras. Essas manifestações necessitam ser vivenciadas. Essa sexualidade será então conduzida como o sujeito melhor se identificar. Mas, não se pode deixar de pontuar que o idoso acaba sofrendo modificações corporais, e essas mudanças podem trazer algumas sensações de perdas, seja pela falta de sensibilidade ao tocar o outro, pela diminuição da libido, ereção, entre outras perdas, atribuindo um trabalho de luto e aceitamento dessa condição. Neste sentido, pode-se falar da menopausa que conforme Mucida (2017) relata, para as mulheres pode ser a perda fálica e para outras representa a possibilidade de vivência da sexualidade. Nos homens também existem mudanças, algumas hormonais, outras pela ilusão de manter a virilidade. Em todas as fases da vida, o sujeito passa por perdas de várias formas e tipos. Peres (2004) afirma que, o idoso, com características de perdas, transcorre por um período bastante delicado e que, às vezes, ela se inscreve em resposta a esse sofrimento como um luto, pois pode ser uma perda significativa para esse sujeito. Ademais, se o envelhecimento se caracteriza pelo período de perdas, Gabbay (2004) apresenta que a pessoa idosa necessitaria de um forte narcisismo para atravessar esse período de provocações. A angústia, apaziguamento, reações que cercam o idoso, é o quadro mais comum encontrado nas clínicas onde existe a procura de idosos para a terapia. Todavia, percebe-se que os idosos não buscam ajuda para tratar seus problemas e que, muitas vezes, a família, seu cuidador (a), pessoas fora do meio do convívio, não fazem questão de que o mesmo vá atrás de ajuda, não tendo a percepção que esse sujeito necessita de um acompanhamento de profissionais que façam a escuta. Mas, em outra direção Gabbay (2004), aborda que para o adulto que está na fase do envelhecimento, deve se dar o direito de falar, e assim, o apoio familiar torna-se imprescindível para que a escuta dessa pessoa seja feita. 27 Os dispositivos legais admitem que, nos dias atuais a responsabilidade sobre o idoso é da família, sociedade e do Estado. A família é com ajuda do estado a principal responsável. Porém, às vezes, ao invés da pessoa idosa estar segura, muitas vezes, o cenário é outro, sendo de inúmeros tipos de violência contra essa pessoa que hoje depende deles. Assim também acontece não somente no ambiente familiar, mas também na sociedade em geral e que acabam cometendo uma violação e, muitas vezes, a rejeição ao idoso. Conforme Lopes e Goldfarb (2009), as primeiras pessoas que o ser humano se relaciona são os membros da família. Assim, ao perceber que era necessário para sua sobrevivência o contato com o outro, o homem passou a constituir família e o trabalho passou a ser o primeiro colaborador na comunidade. Tem-se a partir disso, uma visão de que o amor é quem dá origem à família, esse amor não só de homem e mulher, mas o amor de pais, filhos, irmãos. Um amor que deixa de ser somente sexual e sim afetivo. Sendo assim, as autoras descrevem que a função de transmissão psíquica é exercida pela família, e é ela quem faz os investimentos, garantindo uma transmissão intersubjetiva. Mas, devido às grandes mudanças na sociedade, em que nos surpreendem os novos modelos de famílias, onde se encontram muitas instabilidades de vínculos, deve-se pensar o valor do legado geracional. Essas transmissões se apresentam em duas formas: uma como identificação – identificação essa aos modelos parentais; e outra, na forma de transmissões culturais que é aquela constituída pelas gerações anteriores. É, portanto, a partir das estruturas familiares que se regulam as gerações. A família como intermediadora privilegiada para a constituição da vida psíquica e a transmissão geracional atua então em dois eixos: um eixo horizontal que oferece o apoio necessário através das identificações com seus semelhantes e um eixo vertical que inscreve o sujeito no movimento histórico das várias gerações de sua família. (GOLDFARB; LOPES, 2009). Essa família atual está em desordem, há confusão com os papéis, valores, autoridades, instabilidades de laços. Ao mesmo tempo surge também uma nova formação social de afinidade. 28 E esses novos sujeitos se modificam através do tempo. Dentro deste contexto de mudanças, e devido às tantas demandas do mundo atual, as famílias acabam levando idosos para lares, ou asilos, onde ali eles acabam por ser medicados e entrando numa rotina, e com esse excesso de medicaçãopara acalmar a pessoa que, insistentemente, não quer se calar, forçando ao esquecimento das suas lembranças, hábitos, gostos, escolhas, ficando alienados ao mundo dos lares de idosos onde foram submetidos pela família. Dessa forma, essa situação desencadeia uma diversidade de sintomas nesse sujeito, conforme Goldfarb (2009) e Lopes (2009). No entendimento desses autores relacionados acima, a família já não dá mais importância para o idoso, diferentemente do que o idoso diz essa família corresponder para si. As gerações mais jovens buscam pessoas da mesma idade para fazer vínculos sociais, todavia, esse idoso aguarda a visita dos seus familiares. Contudo, considera-se para que as pessoas idosas desfrutem de um bem- estar psíquico emocional façam amizades, vizinhos, e boa relação com a família que é primordial, pois é ela que faz a identificação com o espaço social. É através da estrutura familiar que o idoso pode se transformar num ser desenvolvido. Esse papel estruturado do idoso sofre alterações, ele perdeu o protagonismo, que é o lugar que o idoso amarra os sentimentos. Por conseguinte, entra-se na questão do mal-estar do idoso perante as faltas que se sobrepõem perante sua pessoa. Com tantas questões que surgem através dessa etapa do envelhecer, encontra-se a perda como algo sumamente importante para o idoso. Por isto, busca- se entender as questões do luto, depressão, neste período de vida do ciclo vital. O homem sofre com o corpo que está em metamorfose. Esse corpo é aquele que sofre ao visualizar sua própria imagem frente ao espelho. A satisfação e reconhecimento que buscava nessa imagem já não são as mesmas, explica Peres (2004), que diferentemente da criança que se reconhece a partir do espelho, o idoso já não tem mais esse reconhecimento. É aí que a mesma autora discute que essa falta de identificação entre passado e presente pode tornar-se insuportável perante as tantas transformações que o corpo sofreu. 29 A partir dessa experiência que a pessoa idosa vivencia, algumas consequências são inevitáveis, como: perda de confiança, sentimento de inutilidade, desânimo. Desta forma, Peres explica que “e se o idoso não aceita o envelhecimento, envergonha-se de seu corpo, evita o espelho que lhe devolve o corpo flácido, rugas, olhos encovados, ou seja, a imagem com que não quer conviver”. (PERES, 2004). O idoso então busca uma forma de sair de cena, onde o luto é a resposta para essa perda gigantesca no seu ponto de vista. Essa visão é de pessoa para pessoa. Como explicita Peres (2004), este sujeito precisa de energia psíquica para elaborar esse luto, e cada sujeito tem um tempo próprio. Essas perdas de funcionalidade trazem muitas ansiedades, e como Amendoeira (2004) revela, sente-se o corpo como estranho e isso está vinculado ao desejo que continua inserido, mas que o corpo não corresponde mais como mediador da satisfação. A imagem do idoso que para muitas pessoas é uma imagem de uma pessoa que não produz mais e muitos idosos acabam sofrendo ao se depararem com essa situação, uma vez que, essa imagem vai trazer questões e interrogações, principalmente, quando vem da ordem do trabalhar, isso poderá ser uma alavanca para o sentimento de desprezo pelo fato de que o idoso é visto como aquele que não produz e não se mantém. Compreende-se que o trabalho é um vinculador social, e para a pessoa idosa ele pode ser um aliado quando de problemas psicossomáticos na vida social. Além disso, ele tem o papel fundamental de identidade, diferenciando-se ainda entre importância para o homem e para a mulher. Viorst (2005) destaca que, a aposentadoria precoce pode trazer vivências antigas que foram grandes temores e que já causaram muito sofrimento. Por isso, a aposentadoria deve ser bem elaborada ao sujeito idoso, para que não absorva as energias desse ser. A mesma autora ainda enfoca que: É mais fácil envelhecer quando não somos entediados nem tediosos, quando temos interesses por pessoas e projetos, quando temos o espírito aberto, flexível e maduro o bastante para nos submeter, quando necessário, às perdas imutáveis. O processo começado na infância, de amar e deixar partir pode nos preparar para essas perdas finais. Mas privados, pela idade, de alguma coisa que amamos em nós mesmos, podemos descobrir que o envelhecimento exige uma capacidade para aquilo que chamamos “transcendência do ego”. (VIORST, 2005 apud Roque Candice; 2017). 30 A transcendência do ego diz respeito ao Eu real, aquilo que o idoso pode sentir através do outro, permitindo a conexão para o futuro através dos outros. Essa transcendência dá a ideia de mortalidade. Uma forma de estabelecer um traço intelectual ou material, podendo ser físico, espiritual. É uma construção do enfrentamento do sofrimento ou perda de si, conforme afirma Viorst (2005). Assim, o idoso projetará no próximo àquilo que tem necessidade e vontade de vivenciar. 4.3 Envelhecimento psicológico e social Cançado e Horta (2002) não encontram dificuldade para relacionar deficiências cognitivas associadas ao envelhecimento com deficiências colinérgicas. O envelhecimento normal reúne um declínio gradual nas funções cognitivas (CANINEU E BASTOS, 2002). A capacidade intelectual do indivíduo idoso pode ser mantida sem dano cerebral até os 80 anos. No entanto, dificuldades de aprendizagens e esquecimento sem importância podem ser incluídos, juntamente com algumas alterações subtis que normalmente ocorrem em idosos com idade até 70 anos (CANÇADO E HORTA, 2002). Para Shephard (2003) dificuldades com a cognição, aprendizagem de novas tarefas e memória de curto prazo são devido ao envelhecimento do cérebro. Shephard (2003) expressa que “o ritmo de aprendizado torna-se mais lento em uma pessoa idosa e uma abordagem mais simples leva a uma redução no aprendizado dos elementos periféricos de uma tarefa. E a extensão da perda funcional pode ser ilustrada por mensurações, tais com o desempenho de grandes mestres de xadrez, que comumente atingem o seu máximo por volta dos 35 anos. ” Dificuldades para recordar nomes, números de telefones e objetos guardados são as recordações de memória que mais chamam a atenção das pessoas idosas, pois estas temem que as perdas possam evoluir para um possível quadro demencial (CANINEU E BASTOS, 2002). O declínio cognitivo com o envelhecimento varia quanto ao início e progressão, pois depende de fatores como educações, saúde, personalidade, nível intelectual global, capacidade mental específica, entre outros. 31 Para Zimerman (2000), o ser humano apresenta uma série de mudanças psicológicas com o envelhecimento, as quais resultam da dificuldade de adaptações a novos papéis sociais, falta de motivações, baixa-estima, autoimagem baixa, dificuldade de mudanças rápidas, perdas orgânicas e afetivas, suicídios, somatizações, paranoia, hipocondria, depressão. Assis (2004) afirma que a prática regular de exercício físico no idoso contribui para o controle da depressão e diminuição da ansiedade, possibilitando a esta maior familiaridade com o seu corpo e funções. Desta maneira, a atividade física em qualquer idade pode reduzir os riscos de depressão e declínio cognitivo (SPIRDUSO E CRONIN, 2001). Na perspectiva de Cress et al. (1999), idosos que ao longo da vida se mantêm ativo apresentam ganhos para a sua saúde, beneficiando-se com melhoras no campo do bem-estar psicológico e da qualidade de vida. Motta (2004) afirma que o envelhecimento é reflexo de inter-relações sociais e individuais, oriundas da educações, trabalho e experiência de vida. A cada idade a sociedade determina certas funções, adequando o indivíduo a certos papéis sociais (estudante, marido, trabalhador, aposentado, etc.) que este deve desempenhar. Já na compreensão de Zimerman (2000), o envelhecimento social da população modifica o status do idoso e a sua formade se relacionar com as pessoas. Estas modificações ocorrem em função de uma: Crise de identidade – perda da autoestima, ocasionada pela ausência de papel social; Mudanças de papéis – adequações a novos papéis decorrentes do aumento do seu tempo de vida. Essas mudanças ocorrem no trabalho, na família e na sociedade; Aposentadoria (reforma) – os idosos devem estar preparados para não ficarem isolados, deprimidos e sem rumo; Perdas diversas – aqui se incluem perdas no campo aquisitivo, na autonomia, na independência, no poder de decisão, e na perda de parentes e amigos; e Diminuição dos contatos sociais – esta redução decorre de suas possibilidades. 32 Teixeira (2004) reputa como uma das maiores dificuldades que acompanham o idoso a angústia relacionada com os processos de prejuízos e declínio físicos, e das reflexões sobre a própria vida acerca da própria morte. Zimerman (2000) pensa que, ao envelhecer, é necessário aprender um estilo de vida novo, com o único objetivo de promover a minimizações das perdas que estes idosos apresentam na sociedade. Para Assis e Araújo (2004), as mudanças fisiológicas do envelhecimento, combinadas com a inatividade física, ocasionam processos patológicos que podem levar o idoso a uma perda progressiva de autonomia e independência. Assim, idosos que se mantêm ativo ao longo da vida apresentam ganhos na saúde, com maior autonomia e independência (CRESS ET AL., 1999). Na compreensão de Shephard (2003), atividades físicas regulares além de influenciar beneficamente as capacidades funcionais e a qualidade de vida do indivíduo, também influenciam a saúde mental dos idosos. Este mesmo autor constata que a atividade física regular pode aumentar de 6 a 10 anos a expectativa de vida, aliada à qualidade. Assim, aumento na qualidade de vida refletirá também maior bem-estar, melhor autoestima, sensações de auto eficácia, redução do risco de ansiedade e depressão. No entendimento de Assis (2004), o envelhecimento e suas alterações de saúde levam o idoso ao estreitamento da sua inserção social. As alterações físicas, como perdas sensoriais (déficit auditivo e visual), déficits cognitivos, problemas osteoarticulares, sequelas ou descontrole de doenças crônicas, são fatores que limitam a mobilidade e a independência do idoso, prejudicando sua sociabilidade, atividades diárias e bem-estar. Desta maneira, um estado de saúde satisfatório permite ao ser humano usufruir do potencial de realização e desenvolvimento pessoal em todos os momentos da vida. É importante também destacar o fato de que questões sociais que permeiam o envelhecimento são enraizadas pelas ideologias e valores de determinado contexto histórico e cultural. Teixeira (2004) expressa que as condições de vida e as oportunidades que os sujeitos desempenham ao longo da vida influenciam diretamente o envelhecimento saudável do idoso, pois, para este, velhice é fruto da trajetória social exercida pelo indivíduo desde o nascimento. 33 Afirma, assim, que os sofrimentos físicos, econômicos e psicológicos muitas vezes intrínsecos ao ser humano são produtos estruturais da sociedade, possuindo influência negativa nas condições de vida daqueles que envelhecem. Assis e Araújo (2004) acentuam que o exercício físico possui importante papel de integrador social, pois a atividade física permite ao indivíduo manter-se ativa, aumentando suas disposições para atividades diárias. Shephard (2003) destaca que “há relativamente poucas informações sobre interações entre atividade física e o funcionamento social. Entretanto, é amplamente reconhecido que muitas pessoas idosas vivem muito solitárias e têm vidas isoladas. Uma razão para esse isolamento social é que os idosos frágeis não têm a força física necessária para dirigir-se à comunidade, encontrar as pessoas e participar de eventos. Uma melhoria na condição física poderia obviamente auxiliar a preencher essas necessidades e, se a atividade tomar a forma de um programa de grupo, ela também fornece uma fonte mais direta de apoio e interações social”. 5 ENVELHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO O sistema biológico mais comprometido com o envelhecimento é o Sistema Nervoso Central (SNC), responsável pelas sensações, movimentos, funções psíquicas (vida de relações) e pelas funções biológicas internas (vida vegetativa). (CANÇADO E HORTA, 2002). Com o envelhecimento, o sistema nervoso apresenta alterações com redução no número de neurônios, redução na velocidade de condução nervosa, redução da intensidade dos reflexos, restrição das respostas motoras, do poder de reações e da capacidade de coordenações (DE VITTA, 2000, apud Fechine Brasílio e Trompieri Nicolino, 2012). Para Cançado e Horta (2002), o que preocupa no envelhecimento é o fato de o SNC não possui capacidade reparadora. Esses autores expressam que o SNC é definido como unidades morfofuncionais pós-mitóticas, sendo estas sem possibilidades reprodutoras, estando sujeito ao envelhecimento decorrente de fatores intrínsecos (genética, sexo, sistema circulatório e metabólico, radicais livres, etc.) e extrínsecos (ambiente, sedentarismo, tabagismo, drogas, radiações, etc.). Esses fatores continuam exercendo ações deletéria com o tempo. 34 Gallahue e Ozmun (2005) constatam que, no período compreendido entre os 20 e 90 anos, o córtex cerebral experimenta perda de 10% a 20 % de massa, podendo ocorrer em outras partes do cérebro prejuízo de até 50%. Assim, à medida que o cérebro envelhece, a atividade bioquímica (neurotransmissores) é afetada frequentemente. Desta maneira, com o envelhecimento normal, ocorre decréscimo no número de células nervosas, podendo ocorrer variações com uma mínima perda celular em uma região e prejuízos mais pronunciados em outras (Cançado e Horta, 2002). A figura 1 ilustra a diferença entre o cérebro de um adulto normal e o cérebro envelhecido. Fonte: idosos.com.br No nascimento, o encéfalo possui peso de 0,360 a 0,380 kg, aos dois anos, de 1,040 a 1,120 kg; e dos 3 aos 21 anos, o encéfalo possui um aumento progressivo de peso de até 1,350 kg, sendo atingido na metade da segunda década de vida. A partir da segunda década de vida, começa a acontecer um declínio ponderal discreto e lentamente progressivo, de 1,4 a 1,7% por década (CANÇADO E HORTA, 2002). Para Cançado e Horta (2002), o declínio é mais precoce nas mulheres do que nos homens, acontecendo uma correlação entre cérebro, peso do corpo e altura, principalmente nas duas primeiras décadas. 35 Até os 45 anos, ocorre pequena alteração positiva. Acima dos 45 anos, em relações ao peso do cérebro, este é alvo de redução. Ocorre um decréscimo discreto na década de 60 anos, com acentuação entre as décadas de 70 e 90 anos, com decréscimo de até 80%. Assim da segunda à terceira década, até os 90 anos, o peso do cérebro em média diminui gradualmente em cerca de 10% por década (CANÇADO E HORTA, 2002). Gallahue e Ozmun (2005) indicam que, com o envelhecimento, o cérebro é passível de hipóxia (quantidade inadequada de oxigênio). Assim, com o envelhecimento, alterações na estrutura do sistema circulatório e na inatividade física, acarretam declínio na circulação sanguínea que conduz o oxigênio. Desta maneira, para Gallahue e Ozmun (2005), o fluxo sanguíneo para o cérebro e a quantidade de oxigênio que alcança as células nervosas no envelhecimento pode ser melhorado pelo aumento do nível de atividade física. Algumas mudanças cerebrais ocorrentes com o envelhecimento incluem depósito de lipofuscina nas células nervosas; depósito amilóide nos vasos sanguíneos e células nervosas; aparecimento de placas senis; menos frequentemente emaranhados fibrilares; mudanças nos neurotransmissores, principalmente os dopaminérgicos; diminuição da produção de acetilcolina; atrofia da plasticidade dereceptores colinérgicos muscaríneos; redução da função desses receptores; função colinérgica diminuída (CANÇADO E HORTA, 2002). Haywood e Getchell (2004) chamam à atenção para o fato de que o exercício físico é de fundamental importância para redução de alguns declínios com o envelhecimento no sistema nervoso. 5.1 Envelhecimento cognitivo/cerebral No âmbito das perdas, declínios em todos os campos sensoriais são observados durante o processo de envelhecimento. Ocorrem comprometimentos graduais no campo auditivo, visual, olfativo e gustativo. A força muscular e de coordenação são diminuídas, e aos 60 anos cerca de 10 a 15% da força muscular se perde. O tempo de reação a estímulos também aumenta, e os reflexos tornam-se mais lentos cerca de 20% (PAPALIA, 2006). 36 Muitas vezes são encontrados, nos estudos, padrões de funcionamento em idosos normais que chegam a assemelhar-se com processos iniciais de demência. Principalmente no que tange à memória. Mesmo em idosos saudáveis é possível notar alterações a nível discursivo no que tange à narrativa e omissão de detalhes a respeito de determinada estória contada. Até mesmo anatomicamente o limite entre normal e patológico muitas vezes se confunde (DAMASCENO, 1999). Goldberg (2006) reconhece que o cérebro humano é sim afetado pela velhice, ainda que esta seja bem-sucedida e saudável, e admite que este é um processo natural, sendo algumas dessas mudanças processos globais para todos os indivíduos, como é o caso da diminuição do volume de massa cinzenta em cerca de 2% a cada década vivida, o aumento dos ventrículos e a proeminência dos sulcos. As ligações entre neurônios e a densidade das sinapses se tornam esparsas e o fluxo sanguíneo que corre para o cérebro, bem como o oxigênio que circula nele, se tornam mais escassos, dentre outras partes do cérebro que também são afetadas. A atividade neural muda no envelhecimento, as áreas do cérebro relacionadas às funções cognitivas mostram menor ativação coordenada na velhice e isso acaba por gerar menor desempenho cognitivo. Estes dados foram evidenciados em estudos através da imagem funcional do cérebro. É possível reafirmar que até mesmo no cérebro de um idoso saudável essas mudanças na fisiologia sináptica, são evidenciadas (BISHOP et al., 2010). O envelhecimento compreende uma ampla gama de mudanças corpóreas e psíquicas. O sujeito idoso pode sofrer alterações até mesmo na capacidade de manutenção da homeostase corporal, e no todo, todas as outras funções fisiológicas começam a declinar gradualmente. Essas alterações têm como sua característica principal a diminuição da reserva funcional. Um organismo envelhecido pode sobreviver em condições normais, porém se exposto a situações de stress pode ser muito mais afetado que um organismo jovem, por exemplo (FIRMINO, 2006 apud CANCELA, 2007). O impacto do envelhecimento tem efeito, até mesmo, sobre as reações a mudanças de temperatura, sensações táteis e de dor, audição, visão e equilíbrio. 37 Há, também, alterações relacionadas à frequência cardíaca e fluxo sanguíneo, mudanças na capacidade de funcionamento de alguns órgãos, e alterações na imunoproteção (CANCELA, 2007). Além disso, no geral, as queixas mais frequentes dos idosos ainda são relacionadas à memória (SANTOS et al., 2009). A condição de isolamento social na velhice é outra questão a ser debatida, devido à sua capacidade de, inclusive, ser causa de diversos transtornos cognitivos, incluindo a depressão. A partir do momento em que surgem transtornos depressivos em idosos, cerca de 50% dos acometidos por essa enfermidade evoluem posteriormente para processos demenciais. Essa comorbidade compromete a capacidade funcional do idoso e muitas vezes o quadro de depressão provoca alterações cognitivas temporárias, que dificultam o diagnóstico diferencial entre depressão e demência (STELLA et al., 2002). O funcionamento cognitivo influi na capacidade de adequação daquele sujeito idoso e no seu potencial para resolução de problemas cotidianos. Assim, quando as funções cognitivas estão prejudicadas alteram a qualidade de vida do idoso. O bom funcionamento cognitivo é, então, determinante para uma vida ativa e funcional na velhice. Perdas nesse sentido afetam o funcionamento físico, social e emocional destes idosos (RIBEIRO e YASSUDA, 2007). Todo este processo acontece ainda que o envelhecimento do indivíduo seja normal e junto com as mudanças cerebrais há sim um declínio cognitivo. Porém, Goldberg (2006) deixa claro, ainda, que focar-se apenas no lado ruim do envelhecimento restringe o olhar sobre essa fase da vida, pois segundo o autor, já foi observado que apesar de todo esse prejuízo inerente da velhice, os indivíduos senis apresentam um bom desempenho em atividades relacionadas ao dia a dia, ao trabalho e à vida real. Muitas vezes incluindo até atividades profissionais e executivas de alto nível. Na maturidade, várias esferas da cognição podem sofrer declínios ou não, sofrendo influência de processos patológicos ou não (AMODEO, NETO e FONSECA, 2010). Porém, alguns domínios cognitivos podem ser mantidos ou até aprimorados em capacidade, como é o caso da memória implícita e da semântica (DRAG et al., 2010; GLINSKY & GLINSKY, 2008; PARK & REUTER – LORENZ, 2009). 38 As tarefas cognitivas de criação de novas imagens mentais parecem diminuir em capacidade com o tempo, no entanto, se pensarmos na solução de problemas, o cérebro envelhecido parece demonstrar maior habilidade. Essa solução de problemas constitui-se num reconhecimento de padrões na velhice, muito mais que a simples descoberta de uma resposta, sendo este reconhecimento de padrões um mecanismo poderoso para a cognição bem-sucedida (GOLDBERG, 2006). A respeito do potencial de funcionalidade dos idosos, Goldberg (2006) defende que não só é possível manter um perfil ativo e funcional durante todas as fases da vida, como ainda é possível que hajam indivíduos brilhantes e que atingem seu ponto máximo em uma idade já avançada, e cita como alguns dos exemplos o escritor alemão Goethe (1749-1832), que publicou a primeira parte de sua grande obra Fausto aos 59 anos de idade, e o visionário arquitetônico catalão Antoni Gaudí i Cornet (1852- 1926), que construiu a catedral da Sagrada Família em Barcelona, projeto que culminou apenas no final de sua vida, dentre outros grandes exemplos. A misteriosa habilidade cognitiva, que tem a estranha capacidade de resistir aos efeitos indesejáveis do envelhecimento, se reflete em dois outros traços muito estimados, geralmente associados à idade madura: a competência e a sabedoria. Aqui parece existir um paradoxo [...] esse paradoxo se torna uma questão neurobiológica a ser resolvida pelo neurocientista (GOLDBERG, 2006, apud Lemos Camila, 2012). De acordo com Goldberg (2006), é um erro pensar que o envelhecimento do cérebro é um processo negativo unicamente, segundo ele, a mensagem central de seu livro é que o envelhecimento cerebral também traz grandes trunfos. Estamos num momento em que se faz necessária a mudança de olhar para este processo de senescência como algo que carrega apenas perdas. Ao passo, que ao envelhecermos perdemos capacidades ligadas à memória e concentração, ainda assim obtemos ganhos no que tange à sabedoria, habilidade e competência. A Neuropsicologia enquanto área de conhecimento ligada ao envelhecimento aponta que esta última fase de desenvolvimento é uma das mais emblemáticas justamente por contrastar perdas cognitivas e ao mesmo tempo ganhos ligados à sabedoria (GOLDBERG, 2006). 39 Apesar da redução de volume cerebral e demais alterações morfológicas no mesmo, estudos apontam que a ativação dos dois hemisférios cerebrais é um grande aliado dos idosos, enquanto que os jovens ativariam apenas um dos hemisférios ao realizar a mesma tarefa,os idosos utilizam esta “estratégia” adaptativa a seu favor. A explicação para isso seria uma forma de compensação para a sobrecarga em um dos componentes do cérebro (BADDELEY, ANDERSON e EYSENCK, 2011). Houve ainda um consenso durante muitos anos de que a perda neuronal decorrente da velhice não era passível de renovação (STUART-HAMILTON, 2002). No entanto, devido à neuroplasticidade, que pode ser estimulada pelo histórico de vida dos idosos, já ficou comprovado que mesmo nesta fase da vida é possível haver renovação (GOLDBERG, 2006). Goldberg (2006) diz que, alguns detalhes a respeito do armazenamento de dados no cérebro e quais desses dados resistem mais fortemente os possíveis danos cerebrais, na velhice ou em qualquer ocasião em que o indivíduo se depare com uma falha de funcionamento cerebral. Ele diz que quanto mais genérico for um padrão de memória mais resistente ele será aos efeitos do dano cerebral. Por exemplo, um idoso com demência irá lembrar-se mais facilmente de um nome genérico para um animal (ex: “este é um cachorro”), do que do nome de um cachorro específico (ex: “este é o totó”). O autor explica, ainda, que o cérebro ao longo do desenvolvimento, passa por um processo de estimulação alternada, onde o Hemisfério direito fica responsável pelos novos aprendizados, enquanto que o Hemisfério esquerdo é responsável pelo conhecimento já adquirido. A medida que o indivíduo vai envelhecendo novas situações e aprendizados se somam no Hemisfério direito concomitantemente ou em tempos diferentes e vão gradualmente sendo armazenados no hemisfério esquerdo. Assim, se forem comparados os cérebros, fica evidente que existe uma maior ativação do córtex pré-frontal do hemisfério direito nos adultos jovens, ao passo que em idosos o córtex pré-frontal do hemisfério esquerdo é muito mais ativo (GOLDBERG, 2006). Goldberg (2006) conclui afirmando que este processo de transferência de ativação entre os hemisférios é um processo que dura a vida inteira e permanece ao longo da velhice, no que ele chama de “Mudança da direita para a esquerda do centro de gravidade cognitiva” (GOLDBERG, 2006). Desta forma, o hemisfério direito do cérebro é o dominante na juventude, enquanto que na velhice o hemisfério esquerdo ganha lugar. 40 Finalmente, o processo de envelhecimento cognitivo e cerebral possui uma dinâmica complexa que envolve diversos fatores intrincados, incluindo mudanças morfológicas cerebrais e mudanças nas funções cognitivas. Essas mudanças que são gerais para todos, não são únicas, pois mesmo na velhice é possível que hajam ganhos em diversos âmbitos. Além disso, as perdas e ganhos não são vividos da mesma forma e na mesma intensidade. Diversos fatores influem na vivência e no enfrentamento das limitações e mudanças fisiológicas decorrentes da idade avançada. Para cada indivíduo idoso temos uma situação de vida e de funcionalidade, diferente. O envelhecimento pode ser uma experiência carregada de eventos positivos em maior ou menor intensidade. Fatores culturais e da história de vida vão moldar a existência de uma atitude saudável em relação à vida ou uma atitude oposta à essa. A saúde cognitiva é um dos grandes aliados no bem-estar e longevidade. Desta forma, a Neuropsicologia pode ajudar na promoção do bem-estar na velhice, através de suas contribuições para o bom funcionamento cognitivo. 6 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO Existem uma série de fatores que parecem influenciar o grau de alteração cognitiva que as pessoas manifestam com a idade. São eles (Spar e La Rue, 2005): Fatores genéticos - Cerca de 50% da variabilidade cognitiva na terceira- idade pode ser devida a fatores genéticos. Saúde: Idosos de ótima saúde ultrapassam em muitos testes cognitivos os que não tem doenças do foro médico. Instrução: A instrução explica até 30% da variabilidade cognitiva na terceira idade. Atividade mental: Atividades mentalmente estimulantes estão com correlação com melhor desempenho cognitivo e menor declínio longitudinal. Conhecimentos especializados: Especialistas a envelhecer podem desenvolver estratégias compensadoras para manterem um alto nível de desempenho, apesar de certa erosão das capacidades cognitivas subjacentes. Personalidade e humor: A depressão está em correlação com insuficiência autopercebida da memória e com défices do desempenho se os sintomas são graves. 41 Meio social e cultura: Os lapsos quotidianos da memória poderão ser julgados mais severamente quando experimentados por idosos do que por adultos jovens. Treino cognitivo: idosos cognitivamente intactos beneficiam da prática e do treino em capacidades cognitivas específicas. Diferenças entre os sexos: as tendências cognitivas no envelhecimento são semelhantes nos dois sexos, mas em mulheres podem revelar défices em tarefas espaciais numa idade inferior à dos homens e estes podem mostrar défices em tarefas verbais numa idade inferior à das mulheres. Diferenças raciais e étnicas: Foram descritas em alguns testes cognitivos diferenças no desempenho a favor dos idosos brancos, mas quando o grau de instrução está equiparado entre os grupos estas diferenças são menores. 7 DÉFICIT COGNITIVO LIGEIRO O envelhecimento dito “normal” é marcado pela presença de déficits cognitivos, no entanto, esses défices devem ser cuidadosamente avaliados, no sentido de perceber a sua gravidade e impedir a sua evolução para quadros mais graves, entre os quais incluindo a demência. No gráfico seguinte podemos verificar que é normal o envelhecimento ser acompanhado de um declínio cognitivo; no entanto, a partir de determinado ponto (que será caracterizado por determinadas características específicas) esse declínio passa a ser patológico e, portanto, merecedor de um cuidado e atenção especiais. Fonte: psicologia.pt/idoso 42 A categoria de declínio cognitivo relacionado à idade, indica o funcionamento de pessoas idosas com alterações cognitivas ligeiras que se encontram dentro dos limites normais para a idade e que não sejam atribuíveis a uma perturbação do foro médico. Contudo, foram propostos critérios de diagnóstico para uma categoria análoga, mais restrita, de défice de memória associado à idade (DMAI- Degeneração macular associada à sociedade). As pessoas com DMAI devem ter idade igual ou superior a 50 anos, ter queixas subjacentes de perda de memória que afeta atividades de vida diária e o seu desempenho em testes padronizados de memória deve ser inferior ao nível médio dos adultos jovens. Com base em avaliações objetivas, a prevalência do DMAI tem sido estimada em 85% para pessoas com mais de 80 anos, o que significa que 5 em cada 6 indivíduos saudáveis, com idade muito avançado, tenham um desempenho em testes de memória comprometido e tenham também lapsos ligeiros de memória em atividades de vida diária (Larrabee e Crook, 1994 Cit in Spar e La Rue, 2005). Para além do DMAI, podem existir adultos idosos cujas capacidades cognitivas estejam um pouco mais deterioradas do que se esperava para a idade, mas que em geral ainda lidam bem e não parecem dementes. Fala-se então de défice cognitivo ligeiro (DCL- Défice cognitivo ligeiro). A área mais frequentemente afetada no DCL é a aprendizagem e memorização de nova informação, embora nalguns casos possam notar-se problemas de linguagem, das capacidades visuoespaciais ou do raciocínio. Muitas vezes pode haver uma dificuldade subtil nas atividades de ordem mais elevada da vida diária tais como a gestão dos bens, mas esta é com frequência intermitente e pode ser resolvida por meio de um esforço suplementar ou por abordagens compensatórias, como tomar notas ou verificar duas vezes o trabalho (Spar e La Rue, 2005). Recentemente foram descritos três tipos diferentes de defeito cognitivo ligeiro: Puramente amnésico; Defeito isolado não mnésico; Defeitos cognitivos múltiplos. 43 De acordo com os critérios da Mayo Clinic Alzheimer, considera-se a existência de defeito cognitivo ligeiro se houver: Queixas de memória pelo doente, família ou médico; Atividades de vida diária normais; Função cognitiva geral normal; Alteração objetiva numa área do funcionamento cognitivo evidenciado pelas pontuações > 1,5 desvio - padrão das normas para a idade ou função mnésica anormal para a idade; Pontuação de 0,5 na Clinical Dementia Rating Scale; Ausência de demência (Castro - Caldas e Mendonça, 2005). Fonte: bvsalud.com Uma vez que uma proporção significativa de pessoas com DCL acaba por desenvolver demência, as intervenções precoces são susceptíveis de proporcionar benefícios tornando mais lenta a evolução clínica. É também importante o acompanhamento permanente do sujeito diagnosticado com DCL, no sentido de ir avaliando a sua evolução, adaptando o profissional uma postura próxima do paciente, explicando-lhe o que é o défice cognitivo ligeiro e qual a importância de acompanhar o seu desempenho ao longo do tempo, encorajando a compensação ativa do impacto funcional do défice, sob a forma de simplificação de listas, tomada de notas, aumento da organização e partilha com outras pessoas da responsabilidade por tarefas mentalmente mais exigentes. 44 O idoso com DCL, assim como todos os idosos, deve ser alvo de um programa de estimulação cognitiva que ajude a superar e compensar os défices adquiridos. O treino, estimulação e / ou reabilitação cognitiva melhoram a capacidade intelectual do sujeito. Reisberg e col. elaboraram uma escala de classificação do declínio cognitivo que facilita a identificação do estado do sujeito. Escala de declínio cognitivo de Reisberg e col. (1982). Quadro. Escala de declínio cognitivo de Reisberg e col. (1982). Fonte:docplayer.br 45 8 ALTERAÇÕES NEUROANATÓMICAS Estudos neuropatológicos e de neuroimagiologia documentaram alterações amplas no cérebro humano envelhecido. 8.1 Atrofia do cérebro Esta atrofia do cérebro é acompanhada de perda de peso, diminuição do volume cortical e aumento dos sulcos e parece ser provocada sobretudo pela redução da substância branca (leucoaraiose). Uma análise macroscópica demonstra ainda uma dilatação ventricular, causada pelo aumento do líquido cefalorraquidiano. 8.2 Aparecimento de placas senis/degenerescência neurofibrilar Hebb postulou que toda a aprendizagem se traduz pelo reforço ou pela criação de novas dendrites e de novas sinapses - a sinapse estabelece uma junção entre dois neurônios e permite assim a circulação sinal nervoso. A hipótese de Hebb foi confirmada pelos neuropsicólogos. Ao envelhecer esta neuroplasticidade parece menos ativa e menos eficaz, o que deveria traduzir-se por uma diminuição das capacidades de aprendizagem. O indivíduo torna-se então incapaz de realizar novas aprendizagens (Fontaine, 2000). 8.3 Morte neuronal As regiões mais afetadas pela morte dos neurônios são as circunvoluções frontal superior, temporal superior e frontal ascendente, bem como o córtex visual, ao passo que as circunvoluções parietais ascendentes e temporal inferior conservariam a sua integridade. A esta perda neuronal parece vir associar-se uma atrofia dos corpos celulares (Fontaine, 2000). As consequências desta morte neuronal ficam evidentes se pensarmos que as pessoas mais idosas têm de recrutar mais sistemas neurais para realizar mesmo operações mentais relativamente simples. 46 8.4 Rarefacção da arborização dendrítica Trata-se de uma diminuição média do número de dendrites dos neurônios. As áreas especialmente afetadas são o córtex pré-frontal e algumas zonas do hipocampo. Ao envelhecerem, certas zonas cerebrais sofrem assim uma degenerescência, ao mesmo tempo que outras parecem crescer, havendo uma “compensação”. No entanto, este aspecto parece não ocorrer em todos os idosos. Assim, podemos interpretar essa compensação como característica do envelhecimento normal, ao passo que a sua inexistência seria um sinal de senilidade. Estamos assim perante uma concepção dinâmica do envelhecimento cerebral (Fontaine, 2000). Todos os conhecimentos relativos ao envelhecimento cerebral foram elaborados a partir de comparações, pos mortem, entre amostras de cérebros jovens e cérebros de pessoas idosas, resultando daqui diversas dificuldades metodológicas. As amostras são, por razões técnicas, pequenas e as colheitas de tecidos nervosos são aleatórias. Daqui resulta que as diferenças interindividuais não são conhecidas, embora sejam consideradas de grande importância pelos investigadores. As alterações neuroanatómicas estão associadas a mudanças celulares e químicas. Destacam-se: Aumento da proteína amiloide: A proteína amilóide é produzida ao longo de toda a vida, sendo que há medida que o organismo envelhece vai perdendo a capacidade para a sintetizar, acabando esta por se acumular no organismo. Emaranhados neurofibrilares: São resíduos do metabolismo celular que a célula não consegue expulsar e que, portanto, se vão acumulando no seu interior. Estes resíduos prejudicam o funcionamento da célula e esta acaba por morrer. A célula ao morrer produz restos celulares, que se unem à proteína amilóide, formando as placas neuríticas (ou senis). As placas senis vão ocupar o espaço entre os neurónios, impedindo a comunicação neuronal. As alterações biológicas e psicológicas devidas ao envelhecimento ocorrem habitualmente de forma gradual, ao longo de anos ou décadas e, em consequência, não existe uma idade determinada em que as pessoas possam ser consideradas velhas. 47 9 EFEITOS DO ENVELHECIMENTO NO DESEMPENHO COGNITIVO Os estudos relativos ao desempenho intelectual demonstraram que as aptidões cognitivas atingem o seu pico pelos 30 anos, continuam estáveis até à década dos 50 – 60 anos e, a partir daí começam a diminuir. O declínio acelera-se a partir dos 70 anos. O declínio das funções intelectuais não é uniforme para todas elas. Segundo Spar e La Rue (cit in Firmino, 2006): A capacidade de comunicar eficazmente através da linguagem mantém- se estável em toda a vida adulta. Contudo as pessoas idosas têm maior dificuldade em compreender mensagens longas ou complexas e em recuperarem e reproduzirem rapidamente nomes ou termos específicos. O discurso tende também a ser mais repetitivo. Os idosos evidenciam uma maior dificuldade nas tarefas de raciocínio que envolvem uma análise lógica e organizada de material abstrato ou não familiar. No desempenho de tarefas que implicam planear, executar e avaliar sequências complexas de comportamento os idosos costumam revelar-se mais lentos do que os jovens. Os idosos são mais lentos nos aspectos perceptivos, mnésicos e cognitivos bem como nas funções motoras. No que respeita às aptidões visuais em relação ao espaço, os idosos mantêm a capacidade de reconhecerem os lugares e as caras que lhes são familiares, bem como de reproduzirem e identificarem formas geométricas vulgares. No entanto, revelam um declínio na capacidade de reconhecerem e reproduzirem configurações complexas ou que não lhes sejam familiares. Quanto à atenção, as pessoas idosas mantêm a mesma capacidade dos jovens em dirigirem e manterem a atenção sobre um determinado tópico ou acontecimento. No entanto, apresentam dificuldade em filtrarem informação ocasional, em repartirem a atenção por múltiplas tarefas ou desviarem a atenção de um para outro aspecto. Em relação à inteligência, esta tende a manter-se estável durante a maior parte da vida adulta, sendo que essa estabilidade atinge a aptidão 48 para definir e usar palavras, para aceder a conhecimentos de cultura geral e para o envolvimento em raciocíniospráticos e sociais. O vocabulário, a capacidade de acesso à informação e a compreensão não são muito prejudicados com a passagem dos anos. As alterações cognitivas que surgem com o avançar da idade estão relacionadas com o declínio de três recursos fundamentais do processamento cognitivo: a velocidade a que a informação pode ser processada, a memória de trabalho e as capacidades sensorial e perceptual (Park, 1999 cit. in Spar e La Rue, 2005). Velocidade de Processamento De todas as alterações cognitivas a mais fácil de predizer é a diminuição da velocidade de processamento da informação e da resposta. A lentificação da execução de componentes perceptuais e operações mentais pode afetar a atenção, a memória e a tomada de decisão, influenciando também o desempenho mesmo em tarefas que não têm requisitos de velocidade óbvios (Salthouse, 1996 cit. in Spar e La Rue, 2005). Memória de Trabalho A memória de trabalho está relacionada com a retenção a curto prazo e a manipulação de informação registada na memória consciente. Exemplos disto são a recordação consciente de números de telefone durante o tempo suficiente para tomar nota deles, calcular mentalmente o preço de venda de um artigo que tem um desconto ou percorrer mentalmente um percurso em que se tenciona viajar. A informação desvanece-se da memória de trabalho no espaço de cerca de dois segundos, e por isso, para manter os pormenores “vivos” durante um período mais longo é necessário ensaiar ou continuar a concentrar a atenção (Baddeley, 1986 cit. in Spar e La Rue, 2005). O envelhecimento está associado a um declínio das aptidões da memória de trabalho, especialmente quando é necessária a manipulação ativa da informação (por exemplo, repetir números por ordem inversa). Por sua vez, as diminuições da memória de trabalho colocam limites a outras aptidões cognitivas complexas, como o raciocínio e outros processos executivos ou aprender e recordar informação nova. 49 Alterações sensoriais e perceptuais A maior parte dos adultos idosos experimenta decréscimos da acuidade visual e auditiva, bem como outras alterações perceptuais. Os efeitos combinados da lentificação do sistema nervoso central, do decréscimo da memória de trabalho e das alterações sensoriais e perceptuais limitam os recursos de processamento que as pessoas idosas podem utilizar em determinadas circunstâncias. Isto aumenta a probabilidade de ocorrer uma sobrecarga de processamento em situações que anteriormente se apresentavam fáceis. Na velhice avançada, mesmo as atividades básicas como andar ou manter o controle postural tornam-se menos automáticas, tendo como resultado que as pessoas mais velhas têm de dedicar recursos cognitivos mais conscientes a estas atividades. Algumas das alterações comportamentais registadas com o envelhecimento, tais como a lentificação do processamento da informação e da resposta, podem estar relacionadas com alterações generalizadas, tais como a diminuição do volume do cérebro e da densidade da substância branca. A afetação da memória de trabalho, os problemas com o aumento do esforço para aprender e recordar e as alterações da eficiência das funções executivas são alguns dos achados que sugerem um ligeiro grau de disfunção cerebral frontal / subcortical no envelhecimento normal. Para além das alterações frontais, são também importantes as alterações no hipocampo, que parecem desempenhar um papel crucial na memória. Técnicas de imagiologia por ressonância magnética demonstraram uma diminuição do volume do hipocampo, levando a concluir que esse menor volume hipocampo estaria relacionado com as alterações da memória ou ainda aumentando a probabilidade de demência (Spar e La Rue, 2005). 50 10 PRINCIPAIS DE DEMÊNCIAS NA FASE DE ENVELHECIMENTO 10.1 Demência: introdução e conceito Atualmente, define-se demência como condição na qual ocorre decréscimo cognitivo comparado a um nível prévio do indivíduo, com comprometimento de suas funções sociais e funcionais. Há várias propostas para a definição a ser adotada de demência, entre elas a do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM IV), na qual o comprometimento de memória é exigido necessariamente na apresentação, ademais deverá haver declínio em relação a um padrão prévio cognitivo e não poderá haver delirium concomitante durante a avaliação. Outras, como a do Grupo de Trabalho do National Institute on Aging (NIA) e Alzheimer’s Association (AA), propõem novos critérios que não exigem comprometimento de memória inicialmente, possibilitando sua aplicação para várias etiologias de demência. Esses últimos são, portanto, os critérios recomendados para a aplicação no Brasil pela Academia Brasileira de Neurologia. Na avaliação inicial dos pacientes, idealmente, seria interessante comparar longitudinalmente suas performances cognitivas para se realizar com acurácia tal diagnóstico, contudo, como esses dados são de difícil obtenção no âmbito prático, determina-se o diagnóstico através de exames cognitivos com escore e resultados padronizados para a média da população. Considerando a crescente prevalência populacional, as demências tornam-se uma questão primordial em saúde pública, ocasionando gastos diretos e indiretos, com aposentadorias, internações, assim como repercussões em trabalhadores ativos por acometimento de familiares que requerem seus cuidados. Medidas públicas de saúde e conscientização tornam-se urgentes para o cuidado e atendimento dessa parcela da sociedade em ascensão demográfica comparativa aos outros grupos etários. Podem-se dividir as demências em categorias diversas para estudos e pesquisas direcionadas, a exemplo das divisões em degenerativas e não degenerativas, corticais e subcorticais, com início precoce (ou pré-senil – antes dos 65 anos de idade) e tardio (a partir dos 65 anos), reversíveis ou irreversíveis, e rapidamente ou lentamente progressivas. 51 Em sua maior parte, as demências têm início insidioso e evolução lenta, entretanto as mais diversas formas de apresentação se fazem possíveis e uma acurada suspeição diagnóstica em relação às diversas formas de apresentação das síndromes demenciais é imprescindível para evitar erros ou atraso no diagnóstico de doenças potencialmente tratáveis. 10.2 Doença de alzheimer A Doença de Alzheimer (DA) é um dos desafios sociais e de saúde que são mais importantes nas sociedades industrializadas. O aumento da expectativa de vida e o progressivo envelhecimento facilitam o desenvolvimento de condições associadas com o envelhecimento. Entre estas patologias é o DA principal etiologia demenciante. A DA como a demência mais prevalente, juntamente com câncer e doenças cardiovasculares, são responsáveis pela principal causa de morte nas sociedades industriais. O envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida sugerem que este seja um problema dificilmente aceitável para a uma sociedade pouco acostumada com dor. A institucionalização dos idosos é, em muitos casos, a perda de apoio emocional e social que tem sido desenvolvido. Faz-se necessário, para o bem dos pacientes, que seja feita uma valorização das capacidades reais de assistência, com o objetivo de aumentar a formação e assessoramento da família, na tentativa de tentar melhorar a qualidade de vida para esses pacientes, como também para atenuar as repercussões sócio assistenciais dessa enfermidade. Hoje em dia não se pode curar a DA, mas se pode conseguir que o enfermo seja bem atendido e proporcionar-lhe a melhor qualidade de vida possível. Conhecer e compreender a DA é o primeiro passo que deve acontecer com os cuidadores para que seja dirigido e canalizado os esforços com eficácia. De acordo com Lozano, aproximadamente em 80% dos casos é a família quem seresponsabiliza pelo enfermo. Em muitas vezes isso é feito em condições dramáticas e sem nenhum tipo de ajuda, subvenção (subsídio ou auxílio pecuniário), informação, apoio ou consideração, (Lozano 1997 apud Ribeiro Cleris 2010). 52 O problema tem dimensão psicológica muito importante no que diz respeito a manutenção do equilíbrio psicológico da família. Em certa porcentagem de casos, a família que atende o idoso demente, sofre desequilíbrios ou disfunções em todos os membros que a integram, levando, inclusive a ruptura total da família, com o qual gerando uma problemática psicopatológica muito mais ampla do que se tentava corrigir. Por isso é necessário, cada vez mais, desenvolver programas terapêuticos integrais na família, baseados na monitoração, na ajuda e sempre, também, na possibilidade de ajudas econômicas adequadas. 10.3 Localização dentro das demências As formas mais comuns da demência são: a Doença de Alzheimer (DA), a demência pré-senil e a demência senil. Alguns neurologistas consideram a DA como uma entidade independente, já outros afirmam que forma uma parte do quadro geral da demência senil idiopática. Ambos processos são patologicamente análogos, contudo, a DA começa antes e tem um curso clínico mais rápido e grave. Sua manifestação clínica é uma perda lenta e progressiva da capacidade do pensamento abstrato, da possibilidade de assimilar novos conhecimentos e da habilidade de se expressar com claridade. 10.4 Os fatores que explicam a involução cerebral O envelhecimento prematuro do cérebro e a degeneração neurofibrilar dos neurônios: Desde a descrição de Alois Alzheimer em 1907, pensou-se que havia uma destruição acelerada das células do cérebro e que se acumulavam muitas proteínas dentro e fora dos neurônios. Esses processos podem aparecer debilmente em anciãos, mas são intensos na DA. Tenta-se impedir o desenvolvimento do processo de involução celular e da formação de placas, já que é muito lento (superior a 30 anos) e poderia realizar-se um bom trabalho de prevenção obtendo resultados na investigação em andamento (Correa, 1996). 53 As alterações metabólicas: Já foram descritas muitas alterações metabólicas na DA, tanto de glucídios, lipídios e prótidos, como da respiração. A redução da entrada sanguínea tem como consequência uma diminuição da entrada do oxigênio e da glicose, que são elementos indispensáveis para o bom funcionamento das células cerebrais. As alterações dos neurotransmissores: Em certas regiões do cérebro, foi-se constatada uma diminuição da concentração de acetilcolina, redução de uma enzima indispensável para a síntese da acetilcolina e uma perda de neurônicos colinérgicos. Parece que os neurônicos colinérgicos de certas regiões reguladores do cérebro sofrem uma evolução seletiva que desencadeia uma séria de alteração nos neurônios do córtex cerebral. Sua disfunção origina a aparição dos sintomas da DA. Essa teoria colinérgica deu origem aos fármacos cujo mecanismo de ação é prolongar a vida da acetilcolina (Correa, 1996). A vulnerabilidade celular: Certos autores assinalam a existência de células cerebrais de “alto risco” que sofrem mais que outras e que são de alguma forma frágeis”. Entre essas células figurariam os neurônios colinérgicos e algumas regiões do córtex cerebral. Os desequilíbrios dos “fatores de crescimento” e os “fatores de envelhecimento” no sistema nervoso central: nos últimos anos foram encontradas uma série de substâncias que se produzem uma pequena quantidade, mas mantém a sua função, defendem as células e faz com que se adaptem as sobreviventes para suplantar a função dos neurônios que morrem (“fatores de crescimento”) (Correa, 1996). Quando não se formam esses fatores, não se produzem as mudanças adaptativas próprias da fase adulta e da senil, trazendo a degeneração dos neurônios e a demência. Ao mesmo tempo, outros “fatores de envelhecimento” ou “morte neuronal” torna-se mais agudo o processo involutivo. A perda de fatores tróficos e o aumento de fatores de envelhecimento são, atualmente, as características mais definitórias da DA, assim como a linha mais importante para o desenvolvimento de novos fármacos. É uma doença progressiva e variável, podendo ser caracterizada em estágios degenerativos classificados em: leve, moderado e severo, mesmo considerando as diferenças individuais que possam existir (Luzardo et al., 2006; Ximenes, 2014). O estágio leve tem duração de dois a três anos, com sintomas vagos e difusos, em que há perda de memória episódica e grande dificuldade de aprendizagem de novos eventos (Gallucci, Tamelini, & Forlenza, 2005, apud Amélia Ximenes, Duarte Rico, Duarte Rico). 54 Enfim, a DA é caracterizada por prejuízos de funções neuropsiquiátricas e cognitivas superiores com manifestações de alterações de comportamento e de personalidade, interferindo nas habilidades do indivíduo em desempenhar suas atividades normais do dia a dia e, somente nos estágios finais da doença, ele se torna apático, apresentando sua função motora inteiramente prejudicada (Daily, 2004). 10.5 O cuidador familiar da pessoa com doença de alzheimer A complexidade dos problemas sociais relacionados ao impacto provocado pelo aumento da expectativa de vida das pessoas reflete diretamente na manutenção da saúde dos idosos e na preservação de sua permanência junto à família (Luzardo, Gorini & Silva, 2006). Neste contexto está inserida a Doença de Alzheimer como uma forma de demência que afeta o idoso e compromete sua integridade física, mental e social, acarretando uma situação de dependência total com cuidados cada vez mais complexos, quase sempre realizados no próprio domicílio (Valim, Damasceno, Abi- acl, Garcia & Fava, 2010). É uma doença degenerativa e progressiva, geradora de múltiplas demandas e altos custos financeiros, fazendo com que isso represente um novo desafio para o poder público, instituições e profissionais de saúde, tanto em nível nacional, quanto mundial (Luzardo et al., 2006). Sabe-se que poucas pessoas estão preparadas para lidar com a responsabilidade e sobrecarga que é cuidar de um idoso demenciado, pois em geral, existe um desconhecimento sobre a doença, como agir, como entender a pessoa afetada e seus próprios sentimentos, produzindo desgastes de ordem emocional, física e psicológica para o cuidador e a família, pelo fato de o tratamento ser longo e de o paciente perder gradualmente suas funções cognitivas e evoluir para quadros de total dependência, exigindo cada vez mais a dedicação daqueles que com ele convivem (Inouye, Pedrazzani & Pavarini, 2008). 55 Por mudar profundamente o cotidiano das famílias, a Doença de Alzheimer é considerada como uma doença familiar. A carga de ministrar cuidados torna os familiares vítima da doença, espoliando suas reservas, incertezas e a imprevisibilidades abala sua moral e crença de que estejam proporcionando um cuidado digno ao seu familiar (Pelzer & Fernandes, 1997). Os cuidadores ainda se deparam com numerosos fatores, que incluem desde a aceitação do diagnóstico, o lidar com um estresse cada vez maior, administrar o conflito dentro da família e até mesmo planejar o futuro. Tudo isso gera uma vulnerabilidade a doenças físicas, depressão, perda de peso, insônia, a abusar física e verbalmente do paciente, de álcool e de medicamentos psicotrópicos (Pendlebury & Solomon, 1996). Uma explicação para tal pesado impacto seria a hipótese do desgaste, ou seja, quando a exposição prolongada ao estresse do trabalho afeta o bem-estar de quem cuida, promovendo desgastes físicos e psicológicos. De acordo com o que hipotetizam os autores, o bem-estar declinaria linearmente ao longo do tempo com a exposição contínua a uma situação estressante (Townsend, Noelker, Deimling, & Bass, 1989; Garrido & Menezes, 2004). O impacto na vida do cuidadorfamiliar pode ser classificado como objetivo e subjetivo. Poulshock e Deimling (1984) referem como impacto objetivo os problemas de ordem prática, ocorridos no cotidiano dos cuidadores, tais como: dificuldades financeiras, problemas de saúde e com a vizinhança. Garrido (2001) descreve como componentes do impacto subjetivo os sentimentos de sobrecarga, ressentimento, exclusão e embaraço. A demência por ser reconhecidamente um processo irreversível de deterioração progressiva, em que a intervenção farmacológica, tal qual a institucionalização, não garantem efetivos benefícios; a assistência prestada pelo cuidador familiar ou formal mostra-se, em diversos estudos, associada ao desgaste físico e emocional de quem cuida, evidenciando uma sobrecarga ainda maior diante do idoso demenciado que apresenta sintomas não cognitivos (Neri, 2002). 56 Silveira, Caldas e Carneiro (2006) concordam que cuidar de um idoso com doença crônica mobiliza sentimentos diversos e opostos num espaço de tempo curto, tais como: amor e raiva, paciência e intolerância, carinho e tristeza, irritação, desânimo, pena, revolta, medo, insegurança, solidão, dúvida, medo da morte do idoso. Ou seja, dilemas e conflitos interpessoais. Dessa forma, a necessidade de dividir com outras pessoas o desgaste provocado pelas situações de enfrentamento de eventos negativos indica a necessidade de suavizar os efeitos provocados pela carga de tarefas (Luzardo, Gorini & Silva, 2006). A Academia Brasileira de Neurologia recomenda programas educacionais e treinamento do cuidador, somados ao suporte psicológico e dos serviços de saúde, e afirma que este tipo de intervenção melhora os níveis de estresse, retarda a institucionalização, e evita, muitas vezes, o uso de fármacos (Engelhardt, 2005 apud Amélia Ximenes, Duarte Rico, Duarte Rico). É importante que o cuidador possa receber apoio de pessoas da família, mesmo que este ocorra nos momentos de visita, pois a exposição prolongada a uma situação potencialmente geradora de estresse contribui fortemente para o esgotamento geral do indivíduo e seu consequente sentimento de sobrecarga pelos efeitos psicossociais da doença (Luzardo, Gorini & Silva, 2006). Estudos comprovam que os cuidadores apresentam uma piora na saúde física (Garrido & Menezes, 2004), um prejuízo no sistema imunológico, que pode persistir até quatro anos após o falecimento do paciente (Haley, 1997; Cruz & Hamdan, 2008). Os cuidadores que têm um suporte social, ou seja, que se engajam em atividades na comunidade e participam de grupos de apoio adaptam-se melhor à função de cuidador, apresentando um menor impacto negativo (Cerqueira & Oliveira, 2002; Dunkin & Hanley, 1998; Garrido & Almeida, 1999; Haley, 1997). A equipe multidisciplinar é fundamental nesse cuidado. O acompanhamento nutricional, fisioterápico, fonoaudiológico, e terapêutico ocupacional, é necessário nos diversos estágios da doença. As intervenções de enfermagem são importantes em questões que giram em torno do uso correto dos medicamentos, cuidados com a pele, hidratação, e no manejo das intercorrências clínicas. 57 O atendimento familiar proporciona discussões, orientações e aconselhamentos que visam à melhora do cuidado e à prevenção de problemas. Através desse atendimento, é possível identificar de forma mais eficaz as necessidades do idoso demenciado e de seus cuidadores para, então, planejar estratégias de sucesso junto ao paciente (Pestana & Caldas, 2009). Finalmente, Neri e Carvalho (2002) explicam que, no início do exercício do papel, as exigências parecem mais fortes, mas, ao longo tempo, em virtude do próprio processo de adaptação e da variedade de processos que ocorrem na vida do familiar que cuida, o senso de sobrecarga pode se estabilizar ou diminuir. Nesse sentido, não se deve pensar no cuidado como uma atividade que necessariamente traz efeitos negativos. Apesar de ser tarefa onerosa, nem todos os cuidadores estão insatisfeitos, doentes ou estressados, bem como também existe a possibilidade de transformar cognitivamente a situação de modo a lidar com o ônus. 10.6 A terapia ocupacional e o cuidador familiar da pessoa com doença de alzheimer A terapia ocupacional atua no desempenho funcional, cognitivo e social de indivíduos que apresentam déficits em alguma destas áreas, reestruturando seu cotidiano, de modo que possam se inserir na vida comunitária e social (Ferrari, 2002), por meio do uso de atividades significativas e estruturadas. Dessa forma, o objetivo da terapia ocupacional no atendimento de pessoas com DA é manter suas funções intelectuais pelo maior tempo possível e melhorar seu desempenho funcional, como forma de contribuir para uma melhor qualidade de vida. No entanto, para que esse atendimento seja eficaz, necessita-se de uma aliança terapêutica com o cuidador familiar (pessoa direta e primariamente responsável pelos cuidados). Torna-se necessário desenvolver um relacionamento terapêutico entre o profissional e o familiar cuidador. Neste, é de vital importância a troca de informações entre as partes, considerando os valores culturais familiares. A qualidade do relacionamento entre os familiares também deve ser considerada. Esse relacionamento terapêutico promove uma parceria, por meio do compartilhamento do controle e do conhecimento (Ferrari, 2007). O conhecimento sobre o familiar cuidador é essencial principalmente os aspectos que mais o afetam como: os sentimentos de desespero, raiva, frustrações 58 que se alternam com os de culpa por “não estar fazendo o bastante” pelo paciente; a perda da atividade social e dos amigos que não entendem as mudanças ocorridas com a pessoa que cuida e que, aos poucos se torna doente, são aspectos considerados e tratados pelo terapeuta ocupacional. Dessa forma, a terapia ocupacional entende que o cuidador familiar também necessita de cuidados, assistência e orientação. O programa de atendimento deve abranger os aspectos psicológicos, informativos e/ou educacionais e de apoio social, como também o encaminhamento para outros profissionais (Ferrari, 2007). Assim, para uma abordagem mais otimizada, é de extrema importância que o terapeuta ocupacional habilite o cuidador, indicando tarefas para serem executadas ao longo da semana. Além disso, este profissional deve estar atento para perceber a capacidade de aprendizagem e de processamento de informação e intervenção do cuidador, a fim de que possa alcançar resultados mais satisfatórios (Abreu & Tamai, 2002; Jefferson, 2000). Por fim, Ferrari (2007) explica que, no atendimento terapêutico ocupacional, o apoio social é fundamental, tanto para o cuidador familiar, como para a pessoa com DA e, inclui desde o acompanhamento ambulatorial do doente até o suporte estratégico, emocional, e institucional para quem cuida. Essas estratégias possibilitam prevenir maior desgaste da saúde do cuidador familiar, proporcionando-lhe melhor qualidade de vida. 10.7 Demência vascular É reconhecido hoje o fato de a doença vascular tratar-se do fator de risco mais identificável para demência, ao lado da idade, e de ser passível de controle. Atualmente, o critério para demência vascular mais aceito é o do National Institute of Neurological Disorders and Stroke – Association Internationale pour la reserche et L’enseignement en Neurosciences (NINDS-AIREN), no qual constam que deve haver demência, associada a doença cerebrovascular - esta, por sua vez, definida pela presença de alterações ao exame neurológico ou através de exames de imagem e uma relação estabelecida entre ambos. 59 Esta relação pode ser, por exemplo, por início de uma síndrome demencial dentro de três meses após um AVC reconhecido, ou por uma deterioração abrupta das funções cognitivas, ou por déficits cognitivos com aparecimento em “degraus”. Algumas características reforçamo diagnóstico, como presença precoce de distúrbios da marcha, tais como marcha em petit-pas ou apraxia, relato de desequilíbrio, paralisia pseudobulbar e urgência urinária precoce, além de mudanças na personalidade ou humor. A presença de déficit amnéstico precoce e progressivo, assim como ausência de lesões vasculares em exames de imagem ou ausência de sinais neurológicos focais tornam o diagnóstico menos provável. A fisiopatologia no comprometimento cognitivo vascular (CCV), termo bastante utilizado atualmente, envolve alterações em vasos cerebrais pequenos, acometendo a substância branca cerebral, chamada de leucoaraiose, assim como infartos pequenos estratégicos ou extensos, e lesões subcorticais extensas, com comprometimento de redes neurais. Os sintomas são bastante variáveis, dependendo do território vascular afetado, e a velocidade de progressão também varia entre os acometidos. Nos infartos subcorticais predominam alterações de funções executivas, podendo também estar presentes alterações de memória, linguagem, praxias, entre outros, como alucinações, delírios, alterações da marcha e esfincterianas. Os principais fatores de risco para doença vascular cerebral são hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e tabagismo. Estudos epidemiológicos têm demonstrado que estes também são fatores de risco para DA, e estudos neuropatológicos mais atuais demonstram que a associação de alterações vasculares cerebrais e doença de Alzheimer é muito frequente. Ainda é incerto, entretanto, se os fatores de risco para doença vascular aumentam o risco de DA ou agravam e antecipam as manifestações clínicas da DA devido à presença concomitante de lesões vasculares. A taxa de progressão também é variável, e pode progredir mais devagar do que a DA. A taxa de mortalidade, entretanto, é mais alta, embora com o advento de melhores terapêuticas para o AVC e para os fatores de risco tal constatação venha a ser mudada nos próximos anos. 60 10.8 Demência frontotemporal A Degeneração Lobar FrontoTemporal (DLFT) corresponde a um grupo heterogêneo de diagnósticos neuropatológicos e também de diferentes síndromes clínicas. Trata-se da segunda causa de demência degenerativa mais frequente na população com menos de 65 anos (a primeira é a DA). Quando a alteração comportamental é predominante, denomina-se variante comportamental da DLFT. Se, por sua vez, ocorrer principalmente alteração das habilidades linguísticas, têm-se as afasias progressivas primárias (demência semântica e afasia progressiva não fluente). Na DLFT há macroscopicamente atrofia assimétrica dos lobos frontais e temporais, e, atualmente, são reconhecidos três tipos de proteínas anômalas – DLFT- TAU, DLFT- TDP (proteína TDP-43) e DLFT-FUS (fused in sarcoma). Com relação aos aspectos genéticos, aproximadamente 40% dos pacientes possuem história familiar positiva, e cerca de 10 a 20% apresentam padrão de herança autossômica dominante. Na variante comportamental há sintomas decorrentes de lesão em áreas de lobo pré-frontal, como redução de empatia, afeto inapropriado, irritabilidade e perda de autocrítica. Apatia é marcadamente presente no quadro clínico, associada à lesão na parte anterior do giro de cíngulo; alterações da preferência alimentar, hipersexualidade e comportamento de utilização estão ligadas por sua vez a acometimento orbitofrontal. Pacientes com o lobo temporal direito acometido apresentam comportamento antissocial, hiper- religiosidade e comportamento compulsivo. No exame cognitivo é detectada disfunção executiva, com relativa preservação da memória e habilidades visuoespaciais. Sinais e sintomas de parkinsonismo estão associados a cerca de 20% dos casos. A demência semântica é uma síndrome clínica com distúrbio da linguagem fluente, ocorre perda progressiva do conhecimento de palavras e compreensão delas, com parafasias semânticas. Patologicamente, há atrofia temporal anterior assimétrica e a maior parte é composta por TDP43. A afasia progressiva não-fluente é caracterizada por agramatismo, apraxia de fala e parafasias fonêmicas. Percebe-se redução da produção de palavras e dificuldade de articulação. 61 Para o diagnóstico é importante a pesquisa com exames de imagem – ressonância de encéfalo e PET-FDG- e em casos pré-senis, o exame do líquido cefalorraquidiano também é indicado. 10.9 Demência com corpos de lewy Hoje é considerada a segunda causa de demência degenerativa, atrás apenas da DA. As características principais são um quadro demencial progressivo com parkinsonismo em geral simétrico e com pouco tremor, alucinações visuais recorrentes e flutuação cognitiva. A resposta do parkinsonismo à levodopa é pequena. Nos critérios diagnósticos existe uma regra arbitrária na qual a demência deve anteceder ou suceder no máximo em um ano os sintomas parkinsonianos, para distinguir da demência na Doença de Parkinson. A flutuação cognitiva é o sintoma mais prevalente na DCL, podendo ocorrer em até 90% dos pacientes. Desta forma, há sonolência variável ao longo do dia e diferentes respostas cognitivas da atenção e do nível de consciência. As alucinações visuais já podem surgir desde as fases iniciais da doença, o que ajuda a diferir da DA, na qual aparecem de forma mais tardia. Existem características que apoiam o diagnóstico, entre elas estão a hipersensibilidade aos neurolépticos, quedas repetidas, distúrbio comportamental do sono REM, uma parassonia na qual ocorre atuação durante os sonhos por ausência da perda de tônus desse período. Este distúrbio do sono está presente em outras doenças e atualmente é atribuído às alfa-sinucleinopatias, não apenas à DCL. Para o diagnóstico, além da triagem inicial, o exame cognitivo demonstra pior desempenho em testes de atenção, habilidades visuoespaciais e praxias construcionais, em relação à memória relativamente preservada. A neuroimagem funcional pode ajudar no diagnóstico. O SPECT e o PET cerebral demonstram alteração de perfusão ou do metabolismo em regiões parietais posteriores e occipitais. Para definir uma síndrome demencial é necessário declínio cognitivo suficiente para gerar prejuízo funcional em relação a um nível prévio do indivíduo. Hoje são exigidos acometimento de dois domínios cognitivos afetados, não necessariamente a memória na maior parte dos critérios em voga. 62 Faz-se necessária investigação extensa inicial, sobretudo em casos pré-senis (antes dos 65 anos), casos de demências potencialmente reversíveis e demências rapidamente progressivas. Com o atual avanço da neuroimagem funcional e dos biomarcadores, novos critérios para as diferentes demências tenderão a adotar esse arsenal terapêutico no âmbito clínico e não apenas como critérios de pesquisa. 10.10 Tipos de demências menos comuns Doença de Parkinson A doença de Parkinson (DP) é a segunda enfermidade neurodegenerativa mais frequente das desordens de movimento, acometendo o sistema nervoso central. Caracteriza-se pela redução da influência dopaminérgica nigroestriatal e cortical. A prevalência da DP na população é de 550 casos por 100.000 habitantes aos 70 anos de idade. A doença de Parkinson (DP) é uma situação frequente, que provoca grande diminuição da qualidade de vida dos doentes e acarreta custos sociais, familiares e económicos elevados. O diagnóstico é feito essencialmente com base na clínica e há um extenso conjunto de diagnósticos diferenciais, pelo que é fundamental saber reconhecer o quadro clínico típico da DP, sendo então possível proceder ao tratamento eficaz, com o intuito de melhorar a incapacidade e a qualidade de vida dos doentes. Esta revisão, alicerçada em conhecimentos baseados na evidência e na experiência clínica, aborda a patogênese, o quadro clínico, a metodologia do diagnóstico e os conceitos atuais no tratamento da DP, de uma forma pragmática eatual. Para que os sinais clínicos da doença se tornem evidentes é necessário que haja perda de pelo menos 80% dos neurônios dopaminérgicos na substância negra e o mesmo grau de depleção de dopamina no corpo estriado (NATIONAL PARKINSON FOUDATION, 2008 apud Christine Saito). Esta doença está associada à degeneração dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina, que tem seus corpos celulares na substância negra compacta e enviam seus axônios para os núcleos da base. A perda de células da substância negra é mais prevalente no grupo celular ventral e a perda de neurônios que contêm melanina produz alterações características de despigmentação. 63 À medida que a doença progride e os neurônios se degeneram, eles desenvolvem corpos citoplasmáticos inclusos, os corpos de Lewis (O´SULLIVAN; SHIMITZ, 1993). Clinicamente a DP é caracterizada por três sinais clássicos: rigidez, bradicinesia e tremor. O aparecimento destes sinais é causado pela deficiência da dopamina que desempenha importante papel no funcionamento dos núcleos da base (O´SULLIVAN; SHIMITZ, 1993). Em situação normal, o equilíbrio dos eventos inibitórios e excitatórios nos núcleos da base e no córtex motor permitem a manutenção da postura e do movimento normal. Quando este equilíbrio é prejudicado, sobrevêm sinais e sintomas de rigidez, alterações posturais e bradicineisa, como podem ser observados na DP (STOKES, 2000). 10.11 Funções executivas e a instabilidade postural na dp Existe evidência da associação entre marcha, quedas e cognição na DP. A instabilidade postural na DP está associada com o pior desempenho em testes de atenção e funções executivas (Nocera et al., 2010) e pacientes que caem realizam piores testes de atenção do que pacientes que não caem (Allcock et al., 2009). Mesmo na condição “on” da medicação dopaminérgica, pacientes que caem têm pior função executiva do que pacientes que não caem (Plotnik et al., 2011). Estes resultados também enfatizam a relação entre sintomas cognitivos e motores na DP. 10.12 Perfil cognitivo da dp As alterações neuropsiquiátricas presentes na DP estão relacionadas a alterações neurobiológicas próprias da doença ou resultam do efeito de fármacos utilizados em seu tratamento. O substrato neural subjacente envolve a participação de circuitos frontoestriatais não motores e mesmo de estruturas não relacionadas aos núcleos da base, como os núcleos colinérgicos do prosencéfalo basal (Barbosa et al., 1997). 64 A depressão é considerada o distúrbio neuropsiquiátrico mais comum na DP. Sua prevalência varia entre 4% e 70% em diferentes estudos, porém situa-se em torno de 40% em pesquisas que utilizaram escalas de avaliação mais adequadas, como as de Beck e de Hamilton (Prado e Barbosa, 2005). A depressão parece ser mais comum em pacientes em que predominam rigidez e bradicinesia do que naqueles com tremor como sintoma principal (Starkstein et al., 1998). Uma das dificuldades do diagnóstico de depressão na DP está correlacionada com a observação de Cummings (1992), para quem a depressão na DP tem padrão diferente do transtorno de humor depressivo, caracterizando-se por: maior ansiedade e irritabilidade, maior frequência de tentativa de suicídio e menor ideação autopunitiva. O perfil neuropsicológico da DP também é caracterizado por disfunções executivas evidentes, como prejuízos em testes de Fluência Verbal (Cools et al., 2010). Esta alteração também inclui prejuízos no planejamento, como testado pela torre de Londres, bem como dificuldade em tarefas de atenção dividida e memória operacional (Owen et al., 1992). As disfunções executivas podem estar presentes desde os estágios iniciais da doença em 20% e 70% dos casos (Elgh et al., 2009) e outras formas de prejuízo cognitivo leve podem evoluir para demência nos estágios mais graves da doença. Déficits nas funções executivas e na recuperação da memória de curto prazo são preditores de demência na DP (Barker e; Williams-Gray, 2014; Kawada et al., 2015). Os déficits neuropsicológicos na DP variam de disfunção executiva leve nos estágios iniciais a comprometimento cognitivo leve (CCL) e demência nos estágios avançados. Em pacientes recém-diagnosticados e não tratados, o prejuízo cognitivo foi mensurado em 18% (Aarsland et al., 2009). Com a progressão da doença, alguns pacientes mostram características de CCL (Aarsland et al., 2009), que tem uma prevalência média de 27% (Litvan et al., 2011). O critério diagnóstico para CCL na DP foi recentemente proposto por uma força tarefa da Movement Disorder Society (MDS) (Litvan et al., 2012). CCL pode incluir disfunção executiva, prejuízo de atenção e memória operacional, assim com déficits de linguagem, memória ou domínios visuoespaciais. CCL é um preditor de demência na DP, a qual, a longo prazo, desenvolve-se em até 80% dos pacientes (Aarsland et al., 2003; Pigott et al., 2015). A avaliação das funções 65 cognitivas e motoras na DP é importante para prescrição de programas de reabilitação adequados e específicos. 10.13 Psicologia na dp Doenças progressivas, como a DP, causam várias mudanças na vida do portador da doença e de seus cuidadores. A família vivência todas as mudanças e sentimentos gerados pela presença de uma doença crônica em seu ambiente. E quando se trata de Parkinson, estas dificuldades são multiplicadas, pois além da sua cronicidade, trata-se de uma doença neurodegenerativa e progressiva, que afeta o físico, mental e social do indivíduo, gerando dependências e necessidades vivenciadas também pela família (PETERNELLA; MARCON, 2009). As dificuldades podem começar no momento do diagnóstico, pois existe ainda falta de informação sobre a doença e seus sintomas, tornando-se muito importante o esclarecimento do quadro clínico por parte do profissional de saúde. As reações das pessoas frente ao diagnóstico de uma doença crônica podem ser muito complexas, os sentimentos são diversificados, mas quase sempre negativos, como por exemplo, a não aceitação, tristeza, revolta, raiva, depressão e decepção por saber o prognóstico incurável da doença (PETERNELLA; MARCON, 2009). Portanto, o apoio psicológico é fundamental para o enfrentamento da doença. A Doença de Parkinson normalmente é acompanhada de um quadro de depressão, provavelmente causado pela carência de dopamina no organismo (ASSOCIAÇÃO BRASIL PARKINSON, 2011). A Psicologia desempenha um papel importante no apoio ao cuidador e ao parkinsoniano, contribuindo na aceitação da doença, no convívio com as perdas constantes; facilitando na compreensão de seus sentimentos e emoções. O cuidador e o doente sentem-se apoiados e compreendidos, não se sentem mais só, são incentivados ao convívio social, a reestruturar seu estilo de vida, escala de valores e forma de enfrentamento (ASSOCIAÇÃO BRASIL PARKINSON, 2011). Vale lembrar, que cabe a todos profissionais de saúde buscar amenizar o impacto da doença para o paciente e para a família, por meio de atitudes humanitárias e esclarecedoras no momento de comunicar o diagnóstico. 66 Além disso, no decorrer do tratamento procurar dar suporte técnico de reabilitação e cuidado, e, sobretudo contribuir para a manutenção de uma boa qualidade de vida para o parkinsoniano e sua família (PETERNELLA; MARCON, 2009). 10.14 Doença de huntington A doença de Huntington (DH) é uma doença neurodegenerativa de transmissão autossômica dominante que resulta de uma repetição instável citosina-adenina- guanina (CAG) no gene da Huntington (HTT) localizado no cromossoma. Este gene é expresso de forma ubiquitária, sendo os neurónios espinais médios do estriado os alvos preferenciais de deposição da HTT mutada (mHTT). O diagnóstico é efetuado na presença de sintomas motores inequívocos, em conjunto com um teste genético positivo e/ou história familiar de DH confirmada. Clinicamente adoença caracteriza-se por uma tríade de sintomas motores, cognitivos e psiquiátricos, apresentando um curso invariavelmente fatal, os sintomas motores surgem em média pelos 35-40 anos, sendo a coreia a apresentação mais frequente, podendo ainda surgir distonia, parkinsonismo, ataxia ou sinais piramidais. A nível comportamental são frequentes a síndrome depressiva, apatia, ansiedade e irritabilidade, alterações que podem preceder a sintomatologia motora. Alguns doentes apresentam ainda sintomatologia psicótica ou obsessivo- compulsiva, doença bipolar, alterações da libido e personalidade. Em termos cognitivos, a deterioração é considerada uma demência subcortical, caracterizando- se inicialmente por redução da velocidade de processamento psicomotor, atingimento da memória de curto prazo, fluência verbal, atenção e posteriormente, das funções executivas, orientação visoespacial e em estágios mais avançados também do pensamento abstrato. Vários estudos sugerem que os défices cognitivos têm potencial para detecção precoce da DH naqueles com risco genético. No entanto, a idade com que surgem os primeiros défices cognitivos, o padrão de atingimento das diferentes funções, assim como a sua velocidade de progressão, apresenta uma variabilidade individual significativa. 67 “A doença comumente se inicia por leves abalos dos músculos da face, que aumentam gradativamente em violência e variedade. As pálpebras são mantidas piscando, a testa franzida depois elevada, o nariz torcido para um lado e depois para o outro e a boca se volta em direções variadas, dando ao paciente a aparência mais ridícula que se possa imaginar. Parece haver alguma forca oculta, algo que esta de certa forma brincando com a vontade e de algum modo dificultando e pervertendo seus desígnios; e depois que a vontade para de exercer sua forca numa direção qualquer, assume o controle e mantém a pobre vitima numa agitação continua enquanto ela permanece acordada” (HUNTINGTON, 1872, apud Garcia da Costa, Cavenago Fillus, Gisele Arruda e A. C. Follador, 2013). A coreia é o sinal mais relevante que pode ser observado nessa doença e pode ser descrito como movimento involuntário e ondulante, que ocorre do sentido distal para o proximal e axial. Um exemplo é o movimento dorsolombar de extensão o que particulariza a postura desse acometimento e oferece dificuldades a marcha, além da extensão e flexão dos dedos, e cruzar e descruzar das pernas. Esses movimentos podem estar presentes no estado de vigília do doente, e também se manifestar na face, como a elevação das sobrancelhas, ataxia ocular, contrações da bochecha e trejeitos nos lábios. Há ainda a presença de movimentos com o pescoço e rotação da cabeça. A distonia, que envolve movimentos lentos anormais e alterações na postura, está presente no início do aparecimento dos sintomas, assim como movimentos oculares anormais. Já a bradicinesia e rigidez são prevalentes no estágio final da DH, assim como a disfagia (CHEMALE et al., 2000; JANUÁRIO, 2011). 10.15 Manifestações cognitivas Declínio cognitivo é invariável e progressivo em DH. Os pacientes tornam-se incapazes de adquirir novas habilidades motoras com certo nível de complexidade. Classicamente descreve-se demência subcortical, com disfunção executiva, apatia e redução da fluência verbal. A maioria dos enfermos possui dificuldades na produção do discurso. Quanto à linguagem, Podoll e cols. (1998), aplicaram uma bateria de testes em 45 pacientes com DH e concluíram que a disartria, lentidão e o maior tempo para o início da pronúncia produzem prejuízo no funcionamento da fluência e fala espontânea. Contudo, estruturas de ordem semântica, o vocabulário e a percepção do discurso estavam preservados. 68 O declínio da capacidade cognitiva global está presente na maioria dos pacientes com DH. Em geral, encontra-se lentidão de pensamento, alterações da personalidade e diminuição da capacidade de integrar novos conhecimentos (KIRKWOOD et al., 1999). 10.16 A atuação do psicólogo na doença de huntington É visível a tendência crescente da atuação do psicólogo na prática da saúde, assim havendo mais especialização de psicólogos nesta área. Uma dentre essas áreas a qual o psicólogo é mais solicitado é o aconselhamento genético. O aconselho genético estuda a hereditariedade e suas variações. Esta tem como objetivo prognóstico e tratamentos de doenças hereditárias, que serão desenvolvidas através de um ambiente, este “ ambiente” é aonde o psicólogo atua, um exemplo: uma pessoa que tem predisposição na família para desenvolver um câncer, e consome cigarros diariamente, desenvolve um câncer. O que desencadeou o câncer foi o hábito, e não uma predisposição, o psicólogo deve trabalhar com o comportamento, para que o indivíduo consuma menos cigarros. Também é importante para a compreensão dos conflitos psicoemocionais de familiares do paciente. 10.17 Doença de creutzfeldt-jakob (dcj) A doença de Creutzfeldt-Jakob é uma doença por príons caracterizada pela deterioração progressiva da função mental, levando à demência, espasmos musculares (mioclonia) e andar cambaleante. Uma forma variante é adquirida ao comer carne contaminada. A doença de Creutzfeldt-Jakob, também conhecida como encefalopatia espongiforme subaguda, é uma desordem cerebral rara e fatal que produz contrações musculares involuntárias (paralisia facial) e uma perda progressiva da função mental. É uma patologia que afeta toda a população e ocorre com maior incidência entre os 50 e os 70 anos de idade. 69 Trata-se de uma perturbação estimulada pela formação de partículas proteicas infecciosas nas células nervosas do cérebro, denominadas de priões. Estas proteínas patogénicas têm a capacidade de alterar as proteínas saudáveis do cérebro e, com o avançar da doença, acabam por as destruir. Esta doença pode ser contagiosa, mas os priões não se transmitem de pessoa para pessoa com grande facilidade. A doença Creutzfeldt-Jakob clássica Esta doença foi descrita no início do século XX pelos neurologistas alemães Hans Gerhard Creutzfeldt e Alfons Maria Jakob. Neste tipo de doença, a proteína defeituosa resulta de um procedimento médico (equipamento contaminado), de tecido contaminado (tais como as córneas que são usadas para transplante) ou de injeções de hormonas extraídas de tecidos humanos infetados com a doença. Por outro lado, também é de realçar que o prião pode ser produzido pelos próprios genes do paciente, sendo assim hereditário. A nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob Em 1996, o governo britânico e alguns investigadores reconheceram a existência de um novo tipo de doença: a nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob. Trata-se de um tipo de perturbação específica que atinge as pessoas que apresentam cerca de 20 anos de idade e diferencia-se da clássica pela ocorrência inicial de sintomas sensoriais e psiquiátricos. Estima-se que esta nova forma de doença é causada pela transmissão de priões que foram adquiridos através do consumo de carne bovina proveniente de animais afetados pela Encefalopatia Espongiforme Bovina, conhecida como a doença das vacas loucas (BSE). Sintomas A Doença de Creutzfeldt-Jakob pode desenvolver-se em qualquer idade, porém, nos adultos é mais típica entre 50 e 70 anos de idade (80% dos casos). Os sintomas pré-clínicos (prodrômicos) da Doença de Creutzfeldt-Jakob podem incluir fadiga, ansiedade ou problemas com apetite, sono e de concentração. Após algumas semanas pode aparecer falta de coordenação motora, afasia, confusão mental, visão alterada, 70 marcha e outros movimentos anormais, juntamente com uma Demência de rápida progressão. Nos estados finais da doença o paciente acaba ficando imóvel (acinético). O tempo médio de sobrevida é de 5 meses e 80% dos pacientes falecemem um ano. A doença tipicamente progride com muita rapidez ao longo de alguns meses, embora em alguns casos possa progredir ao longo de anos, assemelhando-se a outras Demências. Não existem achados distintivos na análise do líquor e uma atrofia inespecífica pode aparecer na neuroimagem. É sempre bom lembrar da Doença de Creutzfeldt-Jakob diante de um quadro demencial claramente progressivo e acompanhado de mioclonias. Os diagnósticos diferenciais importantes da doença de Creutzfeldt-Jakob são sífilis terciária, panencefalite esclerosante subaguda, intoxicação por bismuto, lítio ou brometos, e casos de doença de Alzheimer que apresentam mioclonias. 10.18 Manifestações comportamentais Alterações psiquiátricas são comuns na DH, e podem estar presentes em sujeitos ainda em fase assintomática sob o ponto de vista motor, sendo considerada como um dos principais marcadores clínicos (DUFF et al., 2007). Para Julien et al. (2007), os sintomas psiquiátricos são uma característica comum da doença da DH e muitas vezes precedem o aparecimento das alterações motoras e deficiências cognitivas. O início clínico geralmente é caracterizado por um período de depressão. Segundo Rosenblatt (2007), além de sintomas depressivos identificados logo nas fases iniciais da doença, durante a evolução da doença os pacientes com a DH apresentam apatia e irritabilidade. Em um estudo de revisão feito para analisar os principais sintomas psiquiátricos presentes na DH, a maior prevalência foi para a depressão. Comumente, todos os estudos apontam para o surgimento deste sintoma antes mesmo do surgimento de alterações cognitivas e motoras, o que segundo os autores contribui de certa maneira para o subdiagnóstico da doença. A depressão pode estar associada a sintomas psicóticos. Este último pode apresentar quadros clínicos variados, que poderão ir da psicose até a 71 esquizofrenia, com maior risco relacionado ao aparecimento precoce da doença (SLAUGTHER JR et al., 2001 apud Mendonça Attoni 2016). Outros sintomas relacionados a DH são a irritabilidade, perda de controle e agressão. Além disso, são descritas alterações sexuais e ansiedade (OLIVER et al., 1970; DEWHURST et al., 1970; PFLANZ et al., 1991). Em um estudo, os autores examinaram os processos de atenção em 20 pacientes com DH. Os resultados mostraram prejuízo nas funções de atenção e este se relacionou com as alterações de percepção visual. Entretanto, não foram detectadas alterações de alerta (KIRKWOOD et al., 1999). 10.19 Manifestações cognitivas Declínio cognitivo é invariável e progressivo em DH. Os pacientes tornam-se incapazes de adquirir novas habilidades motoras com certo nível de complexidade. Classicamente descreve-se demência subcortical, com disfunção executiva, apatia e redução da fluência verbal. A maioria dos enfermos possui dificuldades na produção do discurso. Quanto à linguagem, Podoll e cols. (1998), aplicaram uma bateria de testes em 45 pacientes com DH e concluíram que a disartria, lentidão e o maior tempo para o início da pronúncia produzem prejuízo no funcionamento da fluência e fala espontânea. Contudo, estruturas de ordem semântica, o vocabulário e a percepção do discurso estavam preservados. O declínio da capacidade cognitiva global está presente na maioria dos pacientes com DH. Em geral, encontra-se lentidão de pensamento, alterações da personalidade e diminuição da capacidade de integrar novos conhecimentos (KIRKWOOD et al., 1999). Na década de 80, Josiassen e cols. (1983) compararam pacientes em diferentes estágios da doença, e observaram redução significativa da competência para memorizar, sendo que a memória visual, espacial e auditiva é inicialmente prejudicada e a verbal é afetada mais posteriormente. No entanto, existe a descrição de que a orientação temporal e espacial permanece intactas até o estágio final da doença. Em uma investigação de cunho neuropsicológico aplicada a pacientes com DH (DECRUYENAERE, 2004), as funções executivas, de percepção e atenção, se apresentaram bastante comprometidas. 72 Existem problemas na memória de trabalho, aprendizagem verbal, memória de longo prazo verbal e da aprendizagem de associações aleatórias, são as primeiras manifestações cognitivas (SOLOMON et al., 2007). É demonstrado que estes portadores da DH apresentem prejuízos de ordem cognitiva, relacionados com um déficit no controle da função inibitória, de atenção e fluência fonêmica e semântica. Esses dados reforçam a ideia que alterações de ordem cognitiva, venham a ser as primeiras manifestações da DH (SNOWDEN et al., 2002; MONTOYA et al., 2006, apud Mendonça Attoni 2016). 11 FRAGILIDADE FÍSICA E O ENVELHECIMENTO Fonte: jornal.usp.br Durante a vida adulta, todas as funções fisiológicas gradualmente declinam. A capacidade de síntese de proteínas diminui, existe um declínio nas funções imunológicas, aumento da massa gorda, perda de força e massa muscular e uma diminuição da densidade de cálcio nos ossos (Jacob e Souza, 1994). 73 A maioria dos que alcançam idade avançada irá morrer de problemas cardiovasculares, arteriosclerose, câncer ou demência, mas com o aumento do número de idosos saudáveis, a perda da força muscular é um fator que limita as chances de viver uma vida independente (revisado por Pereira et al., 2004). A deficiência da idade é caracterizada por uma fraqueza generalizada, mobilidade e equilíbrio debilitados. Na idade avançada, esse estado é chamado de fragilidade física, que é definido como "um estado de reservas fisiológicas reduzidas associado a um aumento da susceptibilidade para a incapacidade" (Jacob e Souza, 1994). Isso ocasiona quedas, fraturas, debilidade nas atividades do dia-a-dia e perda da independência (revisado por Pereira et al., 2004; Bulcão et al., 2004 apud Aline Garcia 2006). A perda da força muscular é um fator importante no processo de fragilidade. Tal fraqueza pode ser causada pelo envelhecimento das fibras musculares e suas enervações, osteoartrite e doenças debilitantes em geral. Contudo, um estilo de vida sedentário e a diminuição da atividade física também são determinantes (Jacob e Souza, 1994). Entretanto, parte do processo de envelhecimento, em ambos os sexos, que afeta a composição corporal (perda do tamanho e força muscular, perda óssea, e acréscimo de massa gorda) também está relacionado com mudanças no sistema endócrino gonadal e extragonadal (Molle et al., 2004; Bulcão et al., 2004). No processo de envelhecimento diversas modificações fisiológicas podem ser observadas, comprometendo a manutenção do equilíbrio homeostático, gerando gradual declínio das funções fisiológicas (Jacob e Souza, 1994). A principal característica dessas mudanças seria a queda progressiva da reserva funcional. O envelhecer, sob um ponto de vista fisiológico, depende significativamente do estilo de vida que a pessoa assume desde a infância ou adolescência, tais como fumar cigarros, praticar regularmente exercícios físicos ou esportes, ingerir alimentos saudáveis, tipo de atividade ocupacional, etc. O estilo de vida adotado por uma pessoa desde jovem, como alimentação, práticas esportivas e ocupação, influenciará de forma significativa o seu envelhecimento fisiológico (Bulcão et al., 2004; Leite, 1990). Hoje, sabe-se que o processo de envelhecimento não é uniforme. O organismo envelhece como um todo, enquanto que seus órgãos, tecidos, células e estruturas subcelulares têm envelhecimentos diferenciados, parecendo este fenômeno ser determinado, basicamente, pela hereditarie-dade. 74 Atualmente, sabe-se que o processo de envelhecimento ocorre de forma diferenciada, pois apesar de o organismo envelhecer como um todo, suas estruturas (órgãos, tecidos, células) envelhecem diferenciadamente. Este fato, aparentemente, é determinado pela hereditariedade (Weineck, 1991). 11.1 Depressãoe demência Demência é caracterizada por déficits cognitivos que incluem comprometimento da memória (APA, 1994), e implicam num comprometimento importante e irreversível na qualidade de vida da pessoa. A Doença de Alzheimer é apontada como a principal causadora de demência, seguida pela Demência Vascular (Wetterling, 2001). Importante ressaltar que estas etiologias implicam em quadro neurodegenerativo e, embora haja opções terapêuticas - principalmente através de inibidores de acetilcolinesterase o quadro continua irreversível. As alterações neurofisiológicas associadas ao envelhecimento podem começar a aparecer em torno dos 40-50 anos e, dependendo de fatores genéticos, ambientais e antecedentes médicos pessoais, evoluem de forma muito variável entre as pessoas. Segundo dados do IBGE, no ano de 2000, a população de 60 ou mais anos representava cerca de 8,6% do total de brasileiros, o que representa um número próximo a 15 milhões de habitantes. As recentes projeções indicam que os idosos serão responsáveis por quase 15% da população nacional em 2020 (IBGE, 2003), o que ressalta ainda mais a importância de estudos brasileiros referentes a estas populações. As queixas de perda de memória são muito comuns em idosos, e podem estar associadas à desempenho normal em testes neuropsicológicos ou a comprometimento cognitivo múltiplo (Brucki, 2004). Percebe-se que queixas de memória não implicam na existência de processos neurodegenerativos, o que certamente aumenta a dificuldade em estabelecer o diagnóstico correto. A partir de amostra comunitária de 71 idosos saudáveis, Mattos e colaboradores (2003) constataram que queixas subjetivas de memória em questionamento direto estavam mais relacionados a mau desempenho em tarefa de memorização de lista de palavras (RAVLT) se comparados a questionários auto preenchidos. 75 Esses achados sugerem que a auto percepção de comprometimento mnemônico na vida diária tende a estar preservado em idosos saudáveis, fato este de extrema importância diagnóstica. Segundo dados do IBGE, no ano de 2000, a população de 60 ou mais anos representava cerca de 8,6% do total de brasileiros, o que indica um número próximo a 15 milhões de habitantes. As recentes projeções indicam que os idosos serão responsáveis por quase 15% da população nacional em 2020 (IBGE, 2003). As habilidades mais preservadas no idoso são aquelas resultantes da substancial aprendizagem, isto é, habilidades bem consolidadas e, portanto, mais resistentes à deterioração mnemônica. Avaliar essas habilidades sólidas é um dos primeiros passos para o diagnóstico de demência. Embora os testes neuropsicológicos possam ser de grande auxílio na identificação de declínio mnemônico associado a processos mórbidos, são poucas as opções de testes com padronização brasileira. Atualmente, Mini Exame do Estado Mental (MMSE) é a escala mais utilizada para o rastreamento de demências, sua utilidade é confirmada por estudos brasileiros (Almeida, 1998; Brucki et al., 2003). A avaliação do nível de consciência global deve levar em conta também o nível de conhecimentos gerais do paciente. Para tal, lança-se mão de "testes" e este último será sempre consequente à educação formal do paciente. O exame da leitura costuma ser conjunto à avaliação da compreensibilidade, ou seja, não se avalia apenas a leitura em voz alta, mas também a interpretação do que foi lido (Almeida, 1998; Brucki et al., 2003). Existem diferentes comprometimentos nas habilidades verbais que aparecem no exame da comunicação. Em geral, as alterações de linguagem ocorrem ao nível léxico-semântico. Neste caso, investiga-se a lembrança de palavras, a nomeação de objetos, a fluência verbal e o nível discursivo-pragmático. Porém, o vocabulário deve ser avaliado com algum cuidado, relevando-se os discretos déficits de nomeação frequentes em qualquer pessoa. Excluída essa possibilidade fisiológica, a dificuldade de dar nomes às coisas (disnomia) será considerada um dado valioso na avaliação cognitiva. Ainda na avaliação da comunicação, os pródromos demenciais costumam mostrar alguma dificuldade de narração de histórias, interpretação da eventual 76 mensagem da história ou do ditado e dificuldades de informar adequadamente sobre a situação global a que se refere a história. Quanto à memória dos idosos normais, o declínio ocorre de modo discreto acometendo principalmente a memória operacional. Vale ressaltar que o aprendizado e a capacidade de retenção também tendem a declinar, mas o idoso normal manterá a capacidade de gerir a própria vida, sendo capaz de manter na memória a maior parte das solicitações cotidianas. 11.2 Pseudodemência depressiva A depressão comumente produz um déficit mnemônico, especialmente após os 40 anos, e esse prejuízo de memória do depressivo pode ser confundido com um quadro inicial de demência. Essa confusão depressão-demência pode ser maior ainda, levando-se em conta o fato da depressão frequentemente ter características atípicas nos idosos. O termo pseudodemência depressiva pode sugerir, erroneamente, que os déficits observados serão reversíveis com o tratamento adequado da depressão. Embora isso ocorra em alguns casos, não pode ser considerado como regra geral. Boa parte dos pacientes inicialmente diagnosticados como deprimidos (pseudodementes) apresentaram, depois de algum tempo, verdadeiros sinais de demência, apesar da melhora inicial com o uso de antidepressivos (Satlin e Wasserman, 1997; Scalco, 1997). Os próprios estudos de imagem cerebral podem revelar sinais mais compatíveis com demência do que da depressão nos pacientes diagnosticados com pseudodemência depressiva (Stefanis e Stefanis, 2005). De fato, embora possa haver no idoso um déficit cognitivo compatível com a idade e de pequena monta, a presença concomitante de depressão aumenta essa deficiência ao ponto de, aos menos avisados, parecer um verdadeiro quadro de denunciação pura. O benefício de se saber da existência da Pseudodemência Depressiva e de se questionar esse diagnóstico está, primeiramente, no fato de minimizar o prejuízo cognitivo com o tratamento da depressão. Em segundo, diante da possibilidade de melhora, estimular familiares e médicos para o tratamento daquele que se tinha por exclusivamente demenciado. 77 Mas, é bom que se tenha em mente, que embora o tratamento com antidepressivos traga melhora aos sintomas cognitivos, esses pacientes normalmente estão mais comprometidos que seus pares não-deprimidos. Embora possa haver comprometimento da disfunção cognitiva pela depressão, isso não exclui a presença de demência subjacente. No caso de idosos deprimidos, uma das principais características do exame neuropsicológico é a discrepância entre os resultados e as queixas apresentadas. O exame neuropsicológico pode também ser normal em alguns casos de demência incipiente, principalmente em indivíduos com elevada escolaridade. Isso ocorre porque, embora tenha ocorrido declínio de funções cognitivas, o desempenho ainda permanece dentro da faixa de normalidade. 11.3 Reflexos da depressão no idoso As queixas de memória ruim são muito comuns em pessoas deprimidas. Entretanto, essa queixa de "memória ruim", denominada dismnésia, muitas vezes não é suficiente para o clínico suspeitar da depressão. Após os 60 anos, as dificuldades de memória e/ou cognitivas podem ser tão evidentes que chegam a levantar suspeita de um quadro demencial (Mattos et al., 2003), quadro que passou a ser chamado por Kiloh, em 1961, de pseudodemência (APA, 1994). Não está errada a expressão pseudodemência depressiva na intenção de se enfatizar um tipo de comprometimento cognitivo associado à depressão. Uma das questões fundamentais ao se avaliar um paciente deprimido e, simultaneamente, com queixas cognitivas importantes, é saber se a depressão interfere na cogniçãoe em que grau isso ocorre. Esta questão pode ser respondida através do exame neuropsicológico e da anamnese. Embora o prejuízo de memória seja evidente na depressão, isso não é a única alteração cognitiva observada. Embora esse sintoma chame mais a atenção, nos idosos podem estar alteradas, a atenção, a velocidade de processamento de informações, a destreza e capacidade de formular hipóteses e modificá-las de acordo com ensaio-e-erro (Brucki, 2004; Almeida, 1997). 78 Diversos fatores contribuem para uma diminuição mais rápida da competência imunológica e a Depressão é um deles, por isso, é importante tentar evitá-la ou atenuá-la através de intervenções de natureza psicossocial (Spar e La Rue, 1997). Considerado um peso social, o idoso frustra-se com a subtração de seu espaço existencial, anteriormente vivido com plenitude e sucesso e, portanto, experimenta uma profunda reação de perda, tanto de pessoas queridas quanto de si próprio (revisado por Pereira et al., 2004). 11.4 Intervenções psicossociais no tratamento da depressão no idoso A velhice no nosso mundo é encarada como algo complicado e incômodo já que os idosos necessitam de uma atenção especial principalmente pela sua saúde deficiente. Como coloca Ballone (2002) "o velho é sempre colocado numa posição de forma a proporcionar menor incômodo a dinâmica familiar. Além de não dispor de espaço importante no seio da família, geograficamente quando não é alocado numa dependência isolada da casa ou numa cadeira bem no cantinho da sala, é levado para algum local de repouso, longe dos olhos dos familiares". Sendo assim, uma intervenção primordial para manter uma certa competência imunológica é o apoio social e, principalmente familiar. Sentindo-se amparado, o velho mantém sua saúde psicológica e acaba contribuindo para um bom funcionamento orgânico. O exercício e o relaxamento físicos constituem outras formas de intervenção, já que a atividade física reduz o risco da diminuição funcional e da mortalidade (Weineck, 1991; Leite, 1990). Um programa de exercícios moderados melhora a saúde física e psicológica, pois aumenta a resistência, o número e a atividade do sistema imunológico, além de melhorar às condições comuns desta fase, tais como osteoporose, doenças cardiovasculares e, ainda, o diabetes (revisado por Pereira et al., 2004). 79 Para usar adequadamente os psicofármacos em idosos, é de extrema importância que sejam consideradas as alterações fisiológicas próprias do envelhecimento, já que a farmacocinética de praticamente todos os psicotrópicos será afetada por estas mudanças (Scalco, 1997; Satlin e Wasserman, 1997). Os antidepressivos mais populares são: Compostos tricíclicos, como a imipramina, que bloqueia a recaptação de noradrenalina e serotonina; ISRSs (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina), como a fluoxetina, que age somente nos terminais que liberam serotonina; Inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina, como a reboxetina e; Inibidores da MAO, como a fenelzina, que reduz a degradação enzimática da serotonina e da noradrenalina. Todas essas substâncias elevam os níveis de neurotransmissores monoaminérgicos no encéfalo, mas, como já foi dito, sua ação terapêutica leva várias semanas para aparecer. Novos fármacos que atuam como antagonistas dos receptores para CRH estão em fase de desenvolvimento para futuro uso como antidepressivos. Mas existem algumas peculiaridades sobre o uso dos diversos grupos de psicotrópicos em idosos (Schatzberg et al., 1997). O benefício de se saber da existência da Pseudodemência Depressiva e de se questionar esse diagnóstico está, primeiramente, no fato de minimizar o prejuízo cognitivo com o tratamento da depressão. Em segundo, diante da possibilidade de melhora, estimular familiares e médicos para o tratamento daquele que se tinha por exclusivamente demenciado. 12 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA A principal característica do envelhecimento é o declínio, geralmente físico, que leva a alterações sociais e psicológicas. Esses declínios podem ser classificados de duas maneiras, como senescência e senilidade. Senescência: É caracterizada como um fenômeno fisiológico, arbitrariamente identificado pela idade cronológica, que pode ser considerado como um envelhecimento sadio, 80 em que o declínio físico e mental é lento, sendo compensado, de certa forma, pelo organismo (SIMÕES, 1994). Senilidade: Caracteriza-se pelo declínio físico associado à desorganização mental. Ela não é exclusiva da idade avançada e pode ocorrer prematuramente, pois se identifica com uma perda considerável do funcionamento físico e cognitivo, observável pelas alterações na coordenação motora, a alta irritabilidade, além de uma considerável perda de memória. A senilidade pode ser exacerbada através de atitudes pessimistas em relação à vida, ao futuro, a si mesmo e aos outros. Oficialmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera idoso o indivíduo com idade igual ou superior a 65 anos residentes em países desenvolvidos e com 60 anos ou mais para países em desenvolvimento (MAZO, LOPES; BENEDETTI, 2001 apud Efigênia Passarelli Mantovani 2003). A Organização Mundial de Saúde subdivide a idade adulta em quatro estágios: meia idade: 45 a 59 anos, idoso: 60 a 74 anos, ancião: 75 a 90 anos e velhice extrema: acima de 90 anos (Weineck, 1991). Esta classificação considera apenas o aspecto cronológico da idade do indivíduo, desprezando os aspectos biológicos, psicológicos e sociológicos. No entanto, é comum encontrarmos indivíduos com a mesma idade cronológica, porém com capacidades diferenciadas. Mais tarde, SPIRDUSO (1995) propôs uma classificação de acordo com a idade cronológica considerando como adulto da meia idade o indivíduo com idade entre 45 e 64 anos; o idoso-jovem aquele entre 65 e 74 anos; o idoso aquele com idade entre 75 e 84 anos; o idoso-idoso de 85 a 99 anos e o idoso-velho que seriam indivíduos acima de 100 anos de idade. A qualidade de vida está diretamente ligada às condições de vida e ao estilo de vida. Segundo Lessa (1999, p.288) o estilo de vida “inclui hábitos e comportamentos autodeterminados, adquiridos social ou culturalmente, de modo individual ou em grupos”. Estariam incluídos nesse contexto alguns hábitos como tabagismo, alcoolismo, preferências alimentares e opção por lazer sedentário, entre outros. Em resumo, quando se trata de estilo de vida, pressupõe-se que o indivíduo tem controle sobre suas ações, que podem ser prejudiciais ou benéficas à saúde (LESSA, 1999; MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000). 81 Admite-se que na forma de envelhecimento comum os fatores extrínsecos (como dieta, sedentariedade, causas psicossociais, etc.) intensificariam os efeitos adversos que ocorrem com o passar dos anos, enquanto na forma de envelhecimento saudável estes não estariam presentes ou, quando existentes, seriam de pequena importância. A crença sobre a importância desses fatores se acha expressa na ênfase que atualmente tem sido dada para a ação benéfica potencial dos exercícios, para a moderação da ingestão de bebidas alcoólicas, para a cessação do hábito de fumar, para a observância de dieta adequada, entre outras medidas (papaléo Netto, Brito, 2001). 12.1 Envelhecimento ativo O envelhecimento deve ser vivido de uma forma ativa (OMS, 2005). Para esta organização há três pilares basilares em que se apoia o envelhecimento ativo: saúde, segurança e participação (OMS, 2005). Mencionando que a Saúde se refere ao bem-estar físico, mental e social. É importante manter os níveis baixos os fatores de risco que interferem no aparecimento das doenças crónicas e no declínio funcional. Por sua vez quando os fatores de proteção são elevados, as pessoas beneficiam de uma melhor qualidade de vida, são capazes de cuidar de si, mantendo- se maissaudáveis. À medida que vão envelhecendo as pessoas idosas precisam de tratamentos médicos constantes e de serviços assistenciais, por vezes onerosos. A segurança que as políticas e os programas abordam diz respeito às necessidades e aos direitos das pessoas idosas à segurança social, física e financeira. Ficam assim, asseguradas a proteção, a dignidade e o auxílio às pessoas idosas que não se podem sustentar e proteger (OMS, 2005). A participação está relacionada com a educação, as políticas sociais de saúde e os programas que apoiam a participação na íntegra em atividades sociais, culturais e espirituais, de acordo com os direitos humanos, as capacidades, as necessidades e vontades das pessoas contribuem para que continuem a ter um desempenho na sociedade com atividades não remuneradas enquanto envelhecem (OMS, 2005). 82 É importante salientar que a OMS, associa o termo “ativo” não somente à capacidade de estar fisicamente ativo. Assim, o envelhecimento ativo tem como objetivo “aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas” que se encontram neste processo (OMS, 2005, apud Adães Azevedo 2015). Por isso, a OMS (2005) advoga que os projetos de envelhecimento ativo, os programas e as políticas que promovam a saúde mental e relações sociais são tão importantes como as atividades que melhoram as condições físicas de saúde. O envelhecimento ativo também preconiza que as pessoas idosas participem na sociedade de acordo com as suas necessidades, desejos e capacidades. Para além disto, também propicia proteção, segurança e cuidados adequados quando necessários (OMS, 2005). Para Ribeiro e Paúl (2011) a saúde é um dos aspetos cruciais no processo do envelhecimento. Estes autores salientam ainda que os cuidados com a alimentação, o consumo de álcool e de tabaco podem ser considerados como medidas preventivas e como atuação positiva na saúde. Segundo Ribeiro e Paúl (2011) a segurança está associada ao local de residência do idoso, ao meio ambiente e, essencialmente, aos climas sociais de não violência na sua comunidade. Já a participação, envolve os grupos sociais onde as pessoas idosas estão inseridas. Por isso, para um envelhecimento bem-sucedido é essencial a presença da família e dos amigos, assim como o envolvimento no exercício da cidadania e uma participação ativa nos diferentes contextos sociais (Ribeiro e Paúl, 2011). Como refere Ferreira (2009) o envelhecimento ativo aplica-se a toda a comunidade e tem como objetivo principal aumentar a expectativa de uma vida saudável e de qualidade. Para isso é necessário que os indivíduos entendam o seu potencial para o seu bem-estar físico, social e mental, proporcionando deste modo a participação ativa das pessoas idosas, nas questões económicas, culturais, espirituais e cívicas. O envelhecimento ativo depende de vários determinantes que envolvem os indivíduos, as famílias e as nações que segundo a OMS (2005) são determinantes: Transversais; Relacionados com os serviços de saúde e sociais; Comportamentais; 83 Relacionados com aspetos pessoais; Relacionados com aspetos psicológicos Relacionados com ambiente físico; Sociais; Econômicos. Transversais: eles são a cultura e o género, eles são essenciais para compreender o envelhecimento ativo, pois envolvem todos os outros determinantes. A cultura engloba todos os indivíduos e populações e determina, de certa forma, o envelhecimento das pessoas. Os serviços de saúde e o serviço social: Englobam: a promoção da saúde e prevenção de doenças; serviços curativos; cuidados a longo prazo e serviços de saúde mental, é essencial que os sistemas de saúde tenham uma perspectiva de vida dos indivíduos que proponha a promoção da saúde, prevenção de doenças, acesso equitativo a cuidados primários de qualidade e a tratamentos a longo prazo como promotores do envelhecimento ativo. Os serviços de saúde mental também têm um papel determinante no envelhecimento ativo e deviam ser parte integrante nos cuidados a longo prazo. É necessário estar particularmente atento aos subdiagnósticos de doença mental, nomeadamente à depressão e às taxas de suicídio entre pessoas idosas (OMS, 2005). Os comportamentais: Estão associados aos estilos de vida saudáveis e ao cuidar da saúde como bem essencial ao longo de todo o ciclo de vida. Compreendem: o consumo do tabaco; a atividade física; a alimentação saudável, a saúde oral; o álcool e a gestão do regime medicamentoso (OMS, 2005). Estes determinantes são cruciais para um envelhecimento ativo, pois a adoção de estilos de vida saudáveis e a participação ativa dos indivíduos nos seus próprios cuidados são muito importantes em todas as fases do ciclo vital. A adoção destes comportamentos pode prevenir doenças, prolongar a vida e a qualidade de vida das pessoas (OMS, 2005). 84 A atividade física se for regular e moderada pode trazer grandes benefícios à saúde de todos os indivíduos e pode retardar o declínio funcional. É muito importante, nomeadamente na vida da pessoa idosa, pois além de se sentirem uteis na sociedade adquirem mais autonomia nas suas atividades de vida diárias (OMS, 2002). A atividade física é também considerada uma mais-valia para as pessoas alcançarem um envelhecimento bem-sucedido. Mas, é de salientar que o conceito de atividade inclui não só atividades físicas, como também, atividades mentais (Sé, 2009). O exercício e a estimulação das capacidades cognitivas nas pessoas idosas têm importância, uma vez que, apesar de não fazerem desaparecer as diferenças de idade, tendem a contribuir para um declínio mais tardio do que as capacidades não exercitadas (Denney, 1982, cit por Fonseca, 2006). Embora a evidência comprove os benefícios da atividade física, a maioria da população idosa leva uma vida sedentária o que é preocupante. Os aspetos pessoais: Englobam a biologia e a genética, componentes com grande influência no processo do envelhecimento, visto este resultar de um conjunto de processos geneticamente determinados. O envelhecimento consiste numa “deterioração funcional progressiva e generalizada, ” que resulta da perda de algumas “faculdades” e do aumento do risco de doenças relacionadas com as pessoas idosas (Kirkwood, 1996 cit por OMS, 2002). Ou seja, as pessoas idosas ficam doentes com mais facilidade do que os jovens, pois como viveram mais, estiveram mais tempo de contato com fatores externos, comportamentais e ambientais (Gray, 1996 cit por OMS, 2005). É importante salientar que a evidência comprova que a longevidade é um processo familiar. Contudo, apesar da evidência subsiste um consenso de que “a trajetória de vida, de saúde e de doença de cada indivíduo resulta de uma combinação genética, ambiental, alimentação e de estilo de vida” (Kirkwood, 1996 cit por OMS 2005). Devido a estes fatores, pode dizer-se que a influência da genética em várias doenças crónicas varia de indivíduo para indivíduo (OMS, 2005). Os aspetos psicológicos: Nos fatores psicológicos estão incluídos a inteligência e a capacidade cognitiva e são preponderantes e indicativos do envelhecimento ativo e da longevidade das 85 pessoas idosas (Smits et al., 1999 cit por OMS, 2005). Algumas das capacidades cognitivas como a memória e a aprendizagem diminuem com o envelhecimento. Contudo, estas perdas podem trazer outros ganhos do ponto de vista na sabedoria, conhecimento e experiência da pessoa idosa. Há ainda outros fatores que as pessoas idosas foram adquirindo ao longo do ciclo vida que interferem no seu envelhecimento, como a auto eficiência que está ligada às escolhas de comportamentos pessoais do indivíduo ao longo da vida e à preparação para a reforma (OMS, 2002). O ambiente físico: Estes podem marcar a diferença entre a independência e a dependência das pessoas idosas.A existência de inúmeras barreiras arquitetônicas contribui para maior predisposição ao isolamento social, à depressão, à redução da resistência física e a um aumento de problemas relativos à mobilidade. As quedas, os acidentes rodoviários, os acidentes domésticos, as catástrofes naturais podem causar lesões irreversíveis e incapacitantes na pessoa idosa. É fundamental estar atento a estes fatores, pois são muito importantes para o bem-estar e qualidade de vida da pessoa idosa, porque lhes transmite segurança para viver o seu processo de envelhecimento. Para as pessoas idosas a localização da sua residência perto da família, dos transportes, entre outros é muito importante para promover interação social (OMS, 2002). As quedas ocorridas nas pessoas idosas são uma problemática comum a todos os países. A OMS alerta que as quedas são a segunda principal causa de morte por lesão acidental ou não intencional em todo o mundo, logo após os acidentes rodoviários (OMS, 2010 apud Adães Azevedo 2015). Os aspectos sociais: Incluem o apoio social, a aprendizagem permanente, as oportunidades de educação, a paz e a proteção contra a violência e os maus tratos são conceitos chave para que a pessoa idosa tenha um processo de envelhecimento saudável. A falta deste tipo de apoios pode levar ao isolamento social e, consequentemente provocar a sua morte (OMS, 2002). Os aspectos econômicos: Englobam três aspetos relevantes para o envelhecimento ativo: o rendimento, a proteção social e o trabalho. O rendimento para as pessoas idosas é um problema, 86 pois a maioria tem reformas muito pequenas que não lhes permite pagar as várias despesas e por vezes, também não possuem bens ou poupanças para fazer face a esta problemática. Isto contribui para a falta de acesso à alimentação saudável e a cuidados de saúde e consequentemente as pessoas idosas tem maior risco de desenvolver patologias tornando-os mais vulneráveis (OMS, 2002). A proteção social é essencial para todas as pessoas idosas. Nos países em desenvolvimento as pessoas idosas tendem a pedir ajuda à família ou então utilizar as suas economias, pois nestes países o serviço social não consegue dar resposta à maioria das necessidades. O trabalho é muito importante durante a vida de uma pessoa. As pessoas que conseguem ter um trabalho digno com remuneração de acordo com a lei, com certeza que quando chegarem à velhice, manifestarão maior tranquilidade. Em anos recentes, a promoção do envelhecimento saudável foi assumida como propósito basilar da Política Nacional de Saúde do Idoso no Brasil (GORDILHO et al., 2000). O sentido da promoção da saúde neste documento é, contudo, principalmente comportamental e compreende: O desenvolvimento de ações que orientem os idosos e os indivíduos em processo de envelhecimento quanto à importância da melhoria constante de suas habilidades funcionais, mediante a adoção precoce de hábitos saudáveis de vida e a eliminação de comportamentos nocivos à saúde. (GORDILHO et al. 2000 apud Assis Monica 2005). Os hábitos saudáveis incluem: alimentação balanceada, prática regular de exercícios físicos, convivência social estimulante, atividade ocupacional prazerosa e mecanismos de atenuação do estresse. Tabagismo, alcoolismo, automedicação são os hábitos nocivos a serem desestimulados. É ressaltada a importância de processos informativos e educativos continuados no SUS e campanhas para estimular comportamentos saudáveis. O enfoque comportamental é um ponto de inflexão que carreia boa parte das ambiguidades e polêmicas sobre o que é ou deve ser a promoção da saúde. Intenso debate tem internacionalmente caracterizado este campo que, segundo Rootman et al. (2001), está longe de ser monolítico e é cheio de tensões mal resolvidas. Delinear uma posição neste contexto é ponto de partida necessário ao desenvolvimento de ações educativas em saúde com idosos. 87 O envelhecimento ativo é uma aspiração básica que potencializa o viver e depende, em grande parte, de condições sociais e políticas públicas que garantam direitos básicos de cidadania e possibilitem práticas tendencialmente saudáveis, como alimentação equilibrada, atividade física, uso prazeroso do corpo, inserção social e ocupacional dotadas de significado, lazer gratificante, além do acesso a serviços assistenciais e preventivos. Trata-se de metas complexas, em torno das quais são necessários movimentos individuais e coletivos que anunciem e apontem a construção de uma nova ordem societária. As ações educativas em saúde não determinam diretamente a interferência nos determinantes sociais do envelhecimento ativo, produzindo ambientes e políticas públicas favoráveis à saúde, mas podem oferecer contribuição significativa ao expressarem vivamente o compromisso social do sistema de cuidados e partilharem com os idosos os desafios nesta direção. Ao enfatizar a participação e oportunizar seu exercício, elas vislumbram um “abrir portas” ao pensamento criativo sobre a vida e ao desejo de atuar na construção de outras realidades possíveis, mais propícias à qualidade de vida no envelhecimento. 88 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, M. (Org.) Promoção da saúde e envelhecimento: orientações para o desenvolvimento de saúde com idosos. Rio de Janeiro: UERJ/Unaí, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER.15 abr. 2010. ALVAREZ, A. M. Tendo que cuidar: a vivência do idoso e sua família cuidadora no processo de cuidar e ser cuidado em contexto domiciliar. Florianópolis (SC): UFSC, 2001. 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