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Indaial – 2020 EnvElhEcimEnto, QualidadE dE vida, FinitudE E mortE Prof.ª Natália Ferraz Mello 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Natália Ferraz Mello Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M527e Mello, Natália Ferraz Envelhecimento, qualidade de vida, finitude e morte. / Natália Ferraz Mello. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 186 p.; il. ISBN 978-65-5663-249-0 ISBN Digital 978-65-5663-248-3 1. Envelhecimento. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 361 aprEsEntação Caro acadêmico, como você já estudou, o número de idosos vem crescendo exponencialmente nas sociedades modernas, dando visibilidade a novas demandas. Assim, é necessário aprofundar nossos conhecimentos sobre o processo de envelhecimento. É de suma importância compreender o processo de envelhecimento, e no que consistem os termos biológicos, sociais e psicológicos, além da implicação para a sociedade. É preciso formar profissionais capazes de compreender o cuidado e prestar assistência adequada, atendendo às demandas do envelhecimento. Para tanto, precisamos contextualizar o cenário brasileiro, pois a “forma de envelhecer” é compreendida de forma diferente nas regiões, e pode mudar, dependendo do tempo e da cultura local, podendo também influenciar os aspectos fisiológicos do envelhecimento. Essas alterações ocorrem para todos, em diferentes proporções, pois têm relação com as questões genéticas e ambientais nas quais o idoso está inserido. Assim, inicialmente, discutiremos o processo fisiológico do envelhecimento. Em seguida, abordaremos, um pouco, a questão histórica e os conceitos de velhice. Por fim, adentraremos no processo de cuidado e na noção de finitude da vida humana. Então, vamos entender como o corpo envelhece? O que muda no decorrer da vida, e por que o envelhecimento é visto como algo negativo? Quais são os conceitos que definem essa faixa etária? Como desempenhar um cuidado equânime a essa população? Bons estudos! Prof.ª Natália Ferraz Mello Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO .................................. 1 TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS ................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 VISÃO GERAL ..................................................................................................................................... 3 3 FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS ...................................................................................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 32 TÓPICO 2 —ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS .......................................................... 33 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 33 2 ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS ................................................................................ 33 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 40 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 41 TÓPICO 3 —GENÉTICA E FATORES AMBIENTAIS .................................................................. 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 43 2 GENÉTICA E FATORES AMBIENTAIS ....................................................................................... 43 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 48 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 59 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 60 UNIDADE 2 —ASPECTOS SOCIOCULTURAIS E ENVELHECIMENTO .............................. 61 TÓPICO 1 —VELHICE: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA .................................................... 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63 2 VELHICE: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA ......................................................................... 65 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 78 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 85 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 86 TÓPICO 2 — IDOSO COMO ATOR SOCIAL: DIREITOS E RESPONSABILIDADES ........ 87 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87 2 IDOSO COMO ATOR SOCIAL: DIREITOS E RESPONSABILIDADES .............................. 87 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 98 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................99 TÓPICO 3 — QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE: FATORES BIOPSICOSSOCIAIS ... 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101 2 QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE: FATORES BIOPSICOSSOCIAIS ......................... 101 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 119 UNIDADE 3 — FINITUDE, ASPECTOS ÉTICOS E CUIDADOS PALIATIVOS.................. 121 TÓPICO 1 — CUIDADOS PALIATIVOS NA VELHICE ........................................................... 123 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 123 2 CUIDADOS PALIATIVOS NA VELHICE .................................................................................. 124 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 132 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 140 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 141 TÓPICO 2 — MORTE NA VISÃO DO IDOSO ........................................................................... 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 MORTE NA VISÃO DO IDOSO .................................................................................................. 143 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159 TÓPICO 3 — CUIDADOR/FAMILIAR NO PROCESSO DE MORTE: ASPECTOS ÉTICOS E MORAIS................................................................................................... 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161 2 CUIDADOR/FAMILIAR NO PROCESSO DE MORTE: ASPECTOS ÉTICOS E MORAIS ............................................................................................................................................ 162 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 178 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 179 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 181 1 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • contextualizar o cenário atual do envelhecimento; • apresentar as principais alterações fisiológicas da velhice; • destacar as mudanças no padrão alimentar dos idosos e quais suas causas; • discutir os fatores que tornam a velhice heterogênea. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS TÓPICO 2 – ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS TÓPICO 3 – GENÉTICA E FATORES AMBIENTAIS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, como você já estudou, o número de idosos vem crescendo exponencialmente nas sociedades modernas, dando visibilidade a novas demandas. Assim, é necessário aprofundar nossos conhecimentos sobre o processo de envelhecimento. É, de suma importância, compreender o processo de envelhecimento, e no que consistem os termos biológicos, sociais e psicológicos, além da implicação para a sociedade. É preciso formar profissionais capazes de compreender o cuidado e prestar assistência adequada, atendendo às demandas do envelhecimento. Para tanto, precisamos contextualizar o cenário brasileiro, pois a “forma de envelhecer” é compreendida de forma diferente nas regiões, e pode mudar, dependendo do tempo e da cultura local, podendo também influenciar os aspectos fisiológicos do envelhecimento. Essas alterações ocorrem para todos, em diferentes proporções, pois têm relação com as questões genéticas e ambientais nas quais o idoso está inserido Então, vamos entender como o corpo envelhece? O que muda no decorrer da vida, e por que o envelhecimento é visto como algo negativo? 2 VISÃO GERAL O aumento da população idosa e a transformação no perfil demográfico brasileiro constituem importantes modificações estruturais da sociedade moderna. Desde a década de 40, observou-se um declínio nos níveis de fecundidade, o que reflete a redução na taxa de crescimento populacional, causando alterações, ou mesmo uma inversão, na pirâmide etária e na análise estatística mundial, tendo, como resultado, o incremento mais lento do número de crianças e adolescentes paralelamente ao aumento contínuo de adultos e idosos (IBGE, 2016). Estimativas projetam que o número de idosos, até 2025, será superior a 30 milhões. UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 4 FIGURA 1 – PIRÂMIDE ETÁRIA BRASILEIRA NO DECORRER DOS ANOS FONTE: Adaptado de IBGE (2016) Além da transição demográfica, também se configuram uma mudança epidemiológica e novas demandas da política de saúde, especialmente com as doenças crônicas e incapacidades funcionais, resultando em um maior e mais prolongado uso de serviços de saúde. A projeção pode ser compreendida quando compararmos a quantidade de pessoas hipertensas e diabéticas em atendimento na atenção básica, se levarmos em consideração a velhice no Brasil (NERI, 2003). O processo de envelhecimento se dá desde o dia do nascimento até o dia da morte, ele é contínuo e todos estamos envelhecendo. Esse é um processo natural que acomete os indivíduos no decorrer das suas vidas e que provoca uma série de alterações no organismo. Nessa perspectiva, o envelhecer faz parte dos processos do crescimento e desenvolvimento do ser humano e, ao contrário do que a sociedade e muitos pensam, ele não está associado somente a fatores negativos, mas também a uma série de aspectos positivos que enriquecem a vida do indivíduo em diversas áreas (DEPONTI; ACOSTA, 2010). TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 5 FIGURA 2 – DESENVOLVIMENTO HUMANO - FASES DA VIDA FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2019/07/fases-davida-do-ser-hu- mano.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2020. Segundo Spirduso (2005, p. 220), o envelhecimento é “um processo ou conjunto de processos que ocorrem em organismos vivos e que, com o passar do tempo levam à limitação da adaptabilidade, deficiência funcional e, finalmente, à morte”. Assim, o idoso não pode mais ser visto como um ser que não tem mais nada a oferecer ou ser associado à imagem de doença, incapacidade e dependência (MATSUDO; MATSUDO; BARROS NETO, 2001). Envelhecer faz parte do processo do crescimento e desenvolvimento do ser humano, pois, desde que nascemos, estamos envelhecendo. NOTA Estudo de caso Vamos conhecer um pouco da vida da Dona Maria? Dona Maria tem 90 anos, é independente, faz todas as atividades domésticas sozinha e cuida da sua irmã Judite, 70 anos, portadora da doença de Alzheimer. Ambas sãoviúvas e vivem das suas aposentadorias. Dona Maria tem cinco filhos, Joana e Antônio dão muita assistência, já Ricardo, Marisa e Julieta quase nunca a visitam. Tem 8 netos e 2 bisnetos, que a visitam com frequência. Adora crianças e gosta quando os bisnetos passam a tarde com ela. Nesses dias, ela prepara NOTA UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 6 o lanche, bolo, biscoitos, enfim, faz tudo o que os bisnetos mais gostam. Às vezes, a irmã, Judite, fica mais irritada com a bagunça das crianças. A casa tem somente três cômodos, e muitos degraus que dificultam a locomoção de ambas. Dona Maria está sempre de bom humor e se diz satisfeita com a vida. Ninguém nunca a viu reclamar de nada. Sorridente o tempo todo, mesmo quando a irmã insiste em discordar das suas atitudes e esquecer quem ela é. Há cerca de dez anos, Dona Maria teve diagnóstico de câncer de mama, passou por uma mastectomia (retirada da mama) e a evolução foi ótima. Atualmente, nega qualquer dificuldade para suas atividades. É portadora de osteoporose e osteoartrose no joelho direito, que não trazem nenhuma limitação na sua mobilidade. Afinal, o que é envelhecer? Existem diferentes formas de envelhecer? Atualmente, tem-se pesquisado muito sobre o tema, incluindo formas de minimizar os efeitos degenerativos que ocorrem com a idade, buscando proporcionar, aos idosos, um envelhecimento saudável e com qualidade de vida. Para Neri (1993), existem três formas de velhice: • Normal: ausência de doenças biológicas e psicológicas. • Patológica: degenerações associadas a doenças. • Ótima: relacionada ao estado ideal de bem-estar pessoal e social. A partir desses conceitos, que tipo de velhice Dona Maria tem? E Dona Judite? O que será que é normal a nível fisiológico? Vamos entender melhor o processo? ATENCAO Podemos observar que, durante o processo de envelhecimento, ocorrem alterações biológicas, como o aumento do estresse oxidativo, disfunção mitocondrial, anormalidade de processos inflamatórios, diminuição da produção hormonal e diminuição da taxa metabólica, que podem levar ao catabolismo e déficit no funcionamento fisiológico dos sistemas (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2010). Esses processos podem levar a uma série de alterações, como perda progressiva de extensões nervosas, massa óssea, massa muscular esquelética e força (SPIRDUSO, 2005). TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 7 As alterações a níveis de células ocasionam mudanças nos sistemas neuromuscular, somatossensorial, vestibular, hormonal e visual, e podem estar associados a um estilo de vida, como um idoso sedentário, pode apresentar maiores disfunções (MARTIN; SHEAFF, 2007; ALFIERI; MORAES, 2008). As funções do organismo são relacionadas ao equilíbrio e postura dos indivíduos, o que se pode fazer para que o idoso tenha mais propensão a quedas e/ou mude o jeito de caminhar, para se adaptar ao novo esquema corporal. Não só isso, mas a maior inatividade, devido à aposentadoria e diminuição das relações sociais, podendo comprometer sua qualidade de vida e funções cotidianas (FREIBERGER et al., 2013). FIGURA 3 – FATORES QUE INFLUENCIAM O EQUILÍBRIO HUMANO visual hormonais somatossensorial vestibular neuromuscular FONTE: O autor As alterações anatômicas são as mais visíveis. A pele apresenta um aspecto seco, é opaca e áspera, reduz espessura e descama. Pequenos traumas podem determinar equimoses, manchas vermelhas ou púrpuras. Além disso, podem aparecer as manchas senis. Isso tudo é decorrente da diminuição dos fibroblastos e da vascularização, alterações na produção do colágeno que ocasionam perda de espessura e desorganização das fibras, degeneração das fibras elásticas e redução na quantidade de ácido hialurônico, o que resulta na diminuição da capacidade de retenção de água pela pele (FREITAS; WALDMAN, 2011). UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 8 FIGURA 4 – MANCHAS SENIS FONTE: <https://seucorpoperfeito.com.br/wp-content/uploads/2020/04/creme-caseiro-vaseli- na-para-manchas-pele-3-800x534.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2020. Os cabelos embranquecem, pela perda da pigmentação, e caem com maior frequência, devido à inativação de células do bulbo capilar. Além disso, há redução geral de pelos em todo o corpo, exceto: narinas, sobrancelhas e orelhas. No sexo feminino, ocorre o surgimento de pelos em mento e lábio superior (FREITAS; WALDMAN, 2011). O enfraquecimento da musculatura e da constituição óssea leva a mudanças na postura do tronco e das pernas, acentuando, ainda mais, as curvaturas da coluna torácica e lombar. As articulações se tornam mais endurecidas, reduzindo, assim, a extensão dos movimentos, e produzindo alterações no equilíbrio e na marcha. Contudo, é preciso falar que muitos idosos, por se manterem ativos, podem ter essas mudanças estruturais atenuadas (FREITAS; WALDMAN, 2011; SPIRDUSO, 2005). FIGURA 5 – MUDANÇAS POSTURAIS E ESQUEMA CORPORAL DO IDOSO idade de 55 anos idade de 65 anos idade de 75 anos FONTE: <http://www.luzimarteixeira.com.br/alteracoes-posturais-no-idoso>. Acesso em: 26 maio 2020. TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 9 Nas vísceras, produz-se uma alteração causada pelos elementos glandulares do tecido conjuntivo, além de certa atrofia secundária, como a diminuição de peso e aumento da massa de gordura, principalmente nas mulheres, devido à questão hormonal (MORAES, 2012). Quanto ao sistema cardiovascular, são próprias, das fases adiantadas da velhice, a dilatação aórtica, a hipertrofia e a dilatação do ventrículo esquerdo do coração, associadas a um ligeiro aumento da pressão arterial. Para De Vitta (2000), quando o idoso é submetido a um esforço, ocorre uma diminuição na capacidade do coração de aumentar o número e a força dos batimentos cardíacos. Com o envelhecimento, ocorre, também, redução da frequência cardíaca em repouso, aumento do colesterol, além da resistência vascular, com o consequente aumento da tensão arterial (DE VITTA, 2000). Na perspectiva de Shephard (2003), a atividade física regular atua significativamente na prevenção de algumas doenças cardiovasculares, como doença cardíaca isquêmica, AVC, hipertensão e doença vascular periférica. Já na compreensão de Gallahue e Ozmun (2005), a idade, as doenças e o estilo de vida, ou a combinação de ambos, são fatores que podem resultar em declínio nas funções circulatória e respiratória. FIGURA 6 – COMPARAÇÃO DE EXAMES DE IMAGEM ENTRE UM CORAÇÃO JOVEM E UM IDOSO FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/cardiogeriatria2-090330081248-phpapp02/95/o-co- rao-do-idoso-6-728.jpg?cb=1238400845>. Acesso em: 22 jun. 2020. Também podem ser observadas lentidão do pulso, do ritmo respiratório, da digestão e assimilação dos alimentos, devido às influências multifatoriais do envelhecimento que ocorrem no idoso, alterações nos reflexos de proteção e no controle do equilíbrio, prejudicando, assim, a mobilidade corporal (MORAES, 2012). UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 10 As alterações fisiológicas na senescência, no pulmão do idoso, podem ser ocasionadas pelas alterações anatômicas e a reorientação das fibras elásticas. Essas alterações fisiológicas são definidas pela diminuição da elasticidade pulmonar, redução da capacidade da difusão do oxigênio, redução dos fluxos expiratórios, elevação da complacência pulmonar, fecho das pequenas vias aéreas e fecho prematuro das vias aéreas (GORZONI; RUSSO, 2002). O envelhecimento biológico pode ser fisiológico, também chamado de senescência, ou patológico, chamado de senilidade. NOTA FIGURA 7 – COMPARAÇÃO EM EXAMES DE IMAGEM DA CAPACIDADE PULMONAR DE UM IDOSO (A) E UM JOVEM (B) FONTE: <https://www.jornaldepneumologia.com.br/detalhe_artigo.asp?id=1273>. Acesso em: 26 maio 2020. Quer saber mais sobre as alterações que ocorrem no sistema respiratório? Você pode acessar o site http://www.jornaldepneumologia.com.br/detalhe_artigo.asp?id=1273. Lá, você encontrará muitos artigos sobreo assunto, além de imagens e exames. Bom estudo! DICAS TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 11 A condução dos impulsos nervosos também fica reduzida, ocasionando lentidão dos movimentos e respostas cognitivas. Além disso, surgem alterações, como redução do número de neurônios, redução da velocidade de condução nervosa, redução da intensidade dos reflexos, restrição das respostas motoras, do poder de reações e da capacidade de coordenações (DE VITTA, 2000). Há uma discreta redução da massa encefálica, aumentando os sulcos do encéfalo, e redução da função da memória operacional, que é a memória que utilizamos para realizar as atividades do dia a dia, por isso, é normal que o idoso se sinta mais esquecido (MORAES, 2012). FIGURA 8 – COMPARAÇÃO ENTRE UM CÉREBRO DE UM ADULTO E DE UM IDOSO Cérebro adulto normal Cérebro envelhecido Aumento dos ventrículos Perda da substância cinzenta em virtude da morte celular neuronal e/ou da atrofia cortical Perda da substância branca em virtude da perda axônica ou da diminuição da mielinização FONTE: O autor É importante lembrarmos que o envelhecimento se dá de forma particular, e que algumas alterações podem ser maiores em um indivíduo do que em outro. Você deve conhecer algum caso de um idoso super ativo, mas lembre-se de que são exceções, pois as alterações biológicas acontecem em todos, com diferentes níveis de acometimento. IMPORTANT E O sistema urinário apresenta alterações relacionadas ao envelhecimento, que ocorrem mesmo na ausência de doenças. A força de contração da musculatura detrusora, a capacidade vesical e a habilidade de adiar a micção aparentemente diminuem, no homem e na mulher (FREITAS; WALDMAN, 2011). UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 12 O declínio hormonal também é observado, sendo que, no sexo masculino, é caracterizado pela baixa dos níveis do hormônio testosterona no sangue. Esse processo tende a acontecer a partir da meia-idade (em torno dos quarenta anos), acompanhado por sintomas característicos, como fadiga, depressão, perda da libido, disfunção erétil, diminuição do tecido muscular etc. (THIAGO; RUSSO; CAMARGO JÚNIOR, 2016). No sexo feminino, a menopausa é a fase da vida da mulher que interrompe a capacidade reprodutiva. Os ovários deixam de funcionar e a produção de esteroides e peptídeo hormonal diminui e, consequentemente, se produzem, no organismo, diversas mudanças fisiológicas, algumas resultantes da função ovariana e de fenômenos menopáusicos a ela relacionados, e outras, devido ao processo de envelhecimento. Pode-se afirmar que a chegada dessa fase da vida, ou a passagem pelos 40 anos, é imbuída de significantes biopsicossociais. Isso ocorre porque muitas são as transformações e transições pelas quais a mulher passa nesse período, segundo conceitos socialmente construídos (FERREIRA et al., 2013). Todas as alterações podem implicar na redução das atividades de vida diária (AVDS) do idoso, as quais são fundamentais para a manutenção da autonomia e participação social do indivíduo, e referem-se às tarefas do cotidiano necessárias para o cuidado com corpo e da mente, como tomar banho, vestir-se, higiene pessoal, transferência, continência esfincteriana e se alimentar sozinho (MORAES, 2012). A partir dessa informação, reflita sobre as duas senhoras que conhecemos no início deste tópico, Dona Maria e Dona Judite. Como será que é a autonomia das duas? Quais tarefas elas conseguem desenvolver? ATENCAO O declínio funcional se inicia com dificuldades na realização de tarefas rotineiras vinculadas ao asseio corporal. Sua progressão varia de caso para caso, mas, nos casos mais complexos, a limitação torna o idoso dependente de cuidados de terceiros, tanto na higiene corporal, quanto no controle esfincteriano. O comprometimento do controle esfincteriano, isoladamente, pode não refletir maior grau de dependência, por ser uma função, e não uma tarefa (MORAES, 2012). A maioria dos idosos tem doenças ou disfunções que, na maioria das vezes, não interferem ou não estão associadas à limitação das atividades ou à restrição da participação social (MORAES, 2012). Assim, mesmo com doenças, o idoso pode continuar desempenhando os papéis sociais. TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 13 O foco da saúde está estritamente relacionado à funcionalidade do indivíduo, a capacidade de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo. Isso consiste em, por exemplo, o idoso conseguir se locomover de um ponto a outro sem ajuda ou, até mesmo, produzir suas próprias refeições. A pessoa é considerada saudável quando é capaz de realizar suas atividades sozinha, de forma independente e autônoma, mesmo que tenha doenças (MORAES, 2012). FIGURA 9 – FATORES QUE INTERFEREM NA CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS FONTE: <http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca>. Acesso em: 9 jun. 2020. A portaria que institui a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa considera que o conceito de saúde, para o indivíduo idoso, se traduz mais pela sua condição de autonomia e independência do que pela presença ou ausência de doença orgânica (BRASIL, 2006). Quer entender melhor sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa? Acesse o site http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_2006.html e leia na íntegra. DICAS Para poder quantificar essas alterações, a Sociedade Brasileira de Gerontologia desenvolveu a Avaliação Geriátrica Ampla e, a partir dela, é possível avaliar como está o nível de participação, além da saúde dos idosos. Vamos conhecê-la? UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 14 FIGURA 10 – FICHA DE AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA (AGA) TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 15 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 16 TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 17 FONTE: <https://sbgg.org.br/publicacoes-cientificas/avaliacao-geriatrica-ampla/>. Acesso em: 22 jun. 2020. Para entender melhor a avaliação, acesse https://sbgg.org.br/wp-content/ uploads/2014/10/aula-aga.pdf. Vamos tentar aplicar? Que tal fazer algumas perguntas a algum idoso que você conhece? DICAS Vamos refletir um pouco sobre como é envelhecer? Ouça a música e confira a visão de Arnaldo Antunes, na qual ele fala sobre as questões biológicas e sociais que ocorrem no processo. Veja se você consegue identificar de qual dimensão cada estrofe fala: Envelhecer (Arnaldo Antunes) A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer. Não quero morrer, pois quero ver como será que deve ser envelhecer eu quero é viver pra ver qual é e dizer venha pra o que vai acontecer. ATENCAO UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 18 Eu quero que o tapete voe no meio da sala de estar, eu quero que a panela de pressão pressione e que a pia comece a pingar. Eu quero que a sirene soe e me faça levantar do sofá, eu quero por Rita Pavone no ringtone do meu celular. Eu quero estar no meio do ciclone pra poder aproveitar e quando eu esquecer meu próprio nome que me chamem de velho gagá. Pois ser eternamente adolescente nada é mais démodé com os ralos fios de cabelo sobre a testa que não param de crescer não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr. Não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer, eu quero é viver pra ver qual é e dizer venha pra o que vai acontecer. Eu quero que o tapete voe… FONTE: https://www.letras.mus.br/arnaldo-antunes/1547283/. 3 FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS A cognição é um conjunto de capacidades mentais que permite, ao ser humano, compreender e resolver os problemas do cotidiano. Em termos práticos, consiste: • Capacidade de armazenamento de informações (memória). • Planejamento, antecipação, sequenciamento emonitoramento de tarefas. • Linguagem. • Capacidade de executar um movimento. • Reconhecimento de estímulos visuais, auditivos e táteis. • Capacidade de localização no espaço e percepção das relações dos objetos entre si. Ela é responsável pela capacidade de posicionamento e tomada de decisões. Com a motivação, é importante para a manutenção da autonomia. Nesse sentido, quando se trabalha a cognição com idosos, deve-se sempre levar em consideração o que ele deseja, a fim de obter a cooperação, o que pode facilitar o alcance de bons resultados (MORAES, 2012). O declínio cognitivo no envelhecimento varia quanto ao início e progressão, pois depende de fatores, como educação, saúde, personalidade, nível intelectual global, capacidade mental específica etc., que serão trabalhados mais adiante. A perda da cognição ou incapacidade cognitiva é, portanto, o “desmoronamento” ou o “apagamento” da identidade que define a pessoa como ser humano (MORAES, 2012). Um exemplo dessa situação é quando o idoso é acometido pela doença de Alzheimer, como a Dona Judite, que conhecemos no início deste capítulo. Ocorrendo a nível de sistema nervoso central, a morte de neurônios e a redução da massa encefálica são causadas pelas alterações bioquímicas no cérebro. TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 19 FIGURA 11 – COMPARAÇÃO DE UM CÉREBRO SAUDÁVEL E DE UM COM DOENÇA DE ALZHEIMER Células cerebrais Células cerebrais lesadas Placa amilóide Proteína Tau hipocampo Atrofia do hipocampo Aumento dos ventrículos Afilamento do córtex Córtex normal Normal Alzheimer avançado Alterações do cérebro na Doença de Alzheimer FONTE: <https://www.nacientifico.com.br/wp-content/uploads/2019/06/DA-altera%C3%A7%- C3%B5es1.png>. Acesso em: 22 jun. 2020. Para compreender melhor essa doença relacionada à cognição, você pode assistir a alguns filmes e documentários. O documentário Alive Inside mostra diversas experiências positivas no uso da música, para reavivar a memória de idosos com Alzheimer ou outros tipos de demências. Também pode assistir ao filme Longe Dela (2006) – o que você faria se seu grande amor não o reconhecesse mais e se apaixonasse por outra pessoa? Essa é a trama do filme protagonizado por Julie Christie e Gordon Pinsent, no qual ela interpreta uma mulher que sofre de Alzheimer. A história é baseada num conto da escritora Alice Munro, que assinou o roteiro com a diretora, Sarah Polley. DICAS UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 20 O filme Iris narra a história de amor entre um casal e se passa em duas épocas distintas, mostrando desde o momento em que o casal se conheceu na juventude, até as dificuldades que enfrenta na velhice, quando Iris se descobre com mal de Alzheimer. O filme Aurora Boreal aborda a relação de um neto com seus avós, e o jovem começa a trabalhar na instituição onde os avós estão vivendo. Para Sempre Alice retrata a vida da Dra. Alice Howland, uma renomada professora de linguística que, aos poucos, começa a esquecer certas palavras e se perder pelas ruas de Manhattan. Quando diagnosticada com Alzheimer, a doença coloca em prova a força da sua família e sua relação com o marido. Outra série sobre o assunto é The Alzheimer’s Project. As histórias mostram desde a rotina de quem vive com a doença até seus avanços científicos. O filme, produzido nos EUA, contou com o apoio do National Institute on Aging (Instituto Nacional do Envelhecimento), instituição que ficou encarregada de garantir que as informações transmitidas fossem sempre verdadeiras. A principal queixa dos idosos é ligada à memória. Quando você se esquece de alguma coisa, normalmente diz “Nossa, acho que estou ficando velho!”, não é mesmo? Pois é, a memória executiva, aquela chamada de operacional, que regula as atividades do dia a dia, que faz com que você não se esqueça de uma panela no fogão ligado, acaba sendo prejudicada com o processo de envelhecimento. Além disso, a resposta a um estímulo também pode ficar prejudicada. Isso pode ocorrer diante de um estímulo cognitivo, como a demora mais para responder a uma pergunta ou dificuldade para executar duas coisas ao mesmo tempo, ou sensitivo/doloroso, quando, por exemplo, encostar em uma superfície que esteja quente. Existem alguns testes que podem avaliar as funções cognitivas dos idosos, como o Miniexame do Estado Mental e o teste do relógio. Vamos conhecê-los? Que tal colocar em prática? Tente aplicar em alguém que você conhece. IMPORTANT E TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 21 TESTE MINIEXAME DO ESTADO MENTAL O teste de Miniexame do Estado Mental é muito utilizado em níveis de pesquisa para triagem de uma amostra, por exemplo, mas também pode auxiliar os profissionais a conhecerem melhor o idoso. A pontuação abaixo de 18 é indicativo de déficit na capacidade cognitiva. TESTE DO RELÓGIO Você deve disponibilizar um papel e uma caneta ao idoso e pedir para desenhar um relógio com um horário específico, como 13h50, e ver o que ele consegue fazer. A seguir, está a pontuação do teste e o que pode representar, sendo 0 o mais grave e 5 o normal. UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 22 Já sobre questões motoras, De Vitta (2000) afirma que modificações se tornam evidentes no sistema musculoesquelético, ocorrendo a diminuição no comprimento, elasticidade e número de fibras musculares. Também são notáveis a perda de massa muscular e óssea, a elasticidade dos tendões e ligamentos (tecidos conectivos) e a viscosidade dos fluidos sinoviais (líquidos articulares). As mudanças ocasionam alteração do esquema corporal do idoso, favorecendo o aumento da massa de gordura, e é preciso uma reorganização postural. Quando você pensa em um idoso, o que vê? Normalmente, imagina-se alguém com uma curvatura maior da coluna. Isso não é, necessariamente, uma regra, mas ocorre devido às alterações posturais decorrentes do envelhecimento associadas ao estilo de vida e biotipo físico. Gallahue e Ozmun (2005) ressaltam que, provavelmente, essa perda de tecido muscular resulta numa diminuição de força muscular, e acrescentam que o pico de força máxima aconteça por volta dos 30 anos, com estabilização até os 50 anos e, seu declínio, aos 70 anos. Na prática, essa diminuição da força pode gerar maior sobrecarga para desenvolver atividades que antes eram mais fáceis. Esse declínio, muitas vezes, é confundido com patologias. Essas alterações musculares e ósseas, que levam a alterações posturais, ocasionam instabilidade. Associada a outros déficits que já mencionamos no tópico anterior (sistema visual, somatossensorial, auditivo), pode causar TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 23 desequilíbrio no idoso, a dificuldade motora mais frequente nos idosos. Como complicações, a dificuldade de se locomover, as quedas e a imobilidade (ALFIERI; MORAES, 2008). Muitas vezes, o idoso muda também a maneira como reage a desequilíbrios, devido à pouca mobilidade das articulações. Normalmente, quando percebe que pode se desequilibrar e cair, usa a estratégia do tornozelo ou quadril, uma flexão para frente, como um pêndulo, capaz de impedir ou minimizar as sequelas da queda. Como o idoso não tem mais tanta mobilidade, acaba usando a estratégia de dar um passo, e a recuperação do equilíbrio fica mais difícil, o que favorece a queda (ALFIERI; MORAES, 2008). As quedas apresentam problemas, como a fratura de ossos, causando imobilidade parcial, total ou, até mesmo, a morte (VERAS, 2011). Além das alterações normais do processo de envelhecimento, também existem outros fatores que favorecem as quedas: FIGURA 12 – FATORES QUE FAVORECEM AS QUEDAS Fatores de risco para quedas Intrínsecos Extrínsecos Comportamentos de risco > 75 anos, sexo feminino Declínio cognitivo Inatividade Déficit visual e/ou auditivo Distúrbios do equilíbrio e mancha Antecedente de AVC Comprometimento de AVD Polifarmácia, psicotrópicos Hipotensão postural Problemas médicos Má iluminação ObstáculosPisos escorregadios Tapetes soltos Mobiliário inadequado Falta de elementos de apoio Vestuário e calçados inadequados FONTE: Perracini (2005, p. 7) UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 24 É muito importante observar o equilíbrio dos idosos. Existem alguns testes que podem ser utilizados para avaliação, como o Timed Up and Go Test e o teste de Romberg. O primeiro teste avalia o idoso em movimento e como está seu equilíbrio dinâmico. Quanto mais rápido se levantar da cadeira, andar 3 metros e retornar, melhor. IMPORTANT E TESTE TIMED UP AND GO Já o teste de Romberg avalia o equilíbrio estático, parado, ou seja, quando estamos em pé sem se movimentar. O idoso deve ficar parado olhando para um ponto fixo, e você deve observar as oscilações do corpo. Também pode ser feito de olhos fechados. TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 25 TESTE DE ROMBERG Vamos tentar aplicar? Pode ser feito com qualquer pessoa. Tente aplicar com pessoas de diferentes faixas etárias. Ainda, observe a diferença entre cada uma, e quais seriam os motivos dela. Para Assis e Araújo (2004), as mudanças fisiológicas do envelhecimento, combinadas com o sedentarismo, considerado o grande problema do nosso século, associado a uma má alimentação, ocasionam processos patológicos que podem levar o idoso a uma perda progressiva de autonomia, independência, quedas e a disfunções cognitivas. Quer entender mais sobre o envelhecimento das questões cognitiva e motora? Leia o livro de Spirduso, Dimensões Físicas do Envelhecimento (2005). Esse livro é um clássico quando falamos das repercussões biológicas, principalmente na questão física, e trata da velhice como parte do desenvolvimento humano. DICAS UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 26 Que tal escutar uma música? Na canção, Lucas Laypold fala sobre o esquecimento progressivo enfrentado pelo avô nos últimos anos, o qual teve diagnóstico de Alzheimer. Reflita sobre o quanto a doença interfere na vida da pessoa e dos seus familiares: Vê Se Não Me Esquece Mais (part. Vô Cabelo) – (Lucas Laypold) Pensei em mil maneiras de como essa canção começar No fim já comecei, então vem cá dançar Mesmo assim, deixa eu pensar um pouco mais No que eu vou te dizer Vai, tu é muito importante, alma aconchegante Paparapapa que nunca tem fim Sempre quer que eu cante, a todo instante Tu não para nunca, assim não dá pra mim A vida é uma loucura, às vezes não é justa Mas por favor não muda, não muda nunca A vida é uma loucura, às vezes não é justa Mas por favor não muda Vê se não me esquece mais Eu tava lembrando de lembrar você De acordar só quando o dia amanhecer Vê se não me esquece mais Eu tô cantando só pra te dizer Que eu te amo e que a tristeza eu não sei cadê Eu sei que um dia você não vai mais lembrar da gente Mas quero que saiba que eu fico contente Por teu sorriso deixar meu coração quente E que ver você cantando é meu maior presente Ai, ai, ai, ai, você é luz pra tudo E sei que lá no fundo você não vai me esquecer jamais Ai, ai, ai, ai, para por um segundo Vem e canta junto, e encanta o mundo E vê se não me esquece mais Eu tava lembrando de lembrar você De acordar só quando o dia amanhecer Vê se não me esquece mais Eu tô cantando só pra te dizer Que eu te amo e que a tristeza eu não sei cadê ATENCAO TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 27 Vê se não me esquece mais Eu tava lembrando de lembrar você De acordar só quando o dia amanhecer Vê se não me esquece mais Eu tô cantando só pra te dizer Que eu te amo e que a tristeza eu não sei cadê Eu não sei cadê A tristeza eu não sei fazer FONTE: https://www.letras.mus.br/lucas-laypold/ve-se-nao-me-esquece-mais/. O Ministério da Saúde produziu um material sobre dicas para evitar quedas em idosos, assim, vamos dar uma olhada? O que podemos fazer para evitá-las? DICAS EM SAÚDE: QUEDAS EM IDOSOS A queda é um evento comum e devastador em idosos. Embora não seja uma consequência inevitável do envelhecimento, pode sinalizar o início da fragilidade ou indicar doença aguda. Os fatores de risco que mais se associam às quedas são: idade avançada (80 anos ou mais); sexo feminino; história prévia de quedas; imobilidade; baixa aptidão física; fraqueza muscular de membros inferiores; fraqueza do aperto de mão; equilíbrio diminuído; marcha lenta com passos curtos; dano cognitivo; doença de Parkinson; uso de medicamentos sedativos, hipnóticos, ansiolíticos; e uso de vários medicamentos. Fatores relacionados ao idoso: - diminuição da força muscular; - osteoporose; - anormalidades para caminhar; - arritmia cardíaca (batimento cardíaco irregular); - alteração da pressão arterial; - depressão; - senilidade; - artrose, fragilidade de quadril ou alteração do equilíbrio; - alterações neurológicas (derrame cerebral, doença de Parkinson, esclerose múltipla e mal de Alzheimer); - disfunção urinária e da bexiga; - uso controlado de determinadas drogas; - diminuição da visão; - diminuição da audição; - câncer que afeta os ossos; - deformidades nos pés (unhas grandes, joanetes dolorosos etc.). IMPORTANT E UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 28 Fatores relacionados ao ambiente: - iluminação: ambientes mal iluminados favorecem a ocorrência de quedas; - arquitetura: casas mal planejadas aumentam o risco de quedas; - móveis: disposição inadequada atrapalha a locomoção e, quando instáveis, não servem como apoio; - espaço: oferecem risco os objetos escorregadios espalhados pela casa; - cores: ambiente muito escuro aumenta a chance de quedas. Orientações gerais para prevenir quedas: - faça exames oftalmológicos e físicos anualmente, especialmente para detectar a existência de problemas cardíacos e de pressão arterial; - mantenha, na sua dieta, uma ingestão adequada de cálcio e vitamina D; - tome banhos de sol diariamente; - participe de programas de atividade física que visem ao desenvolvimento de agilidade, força, equilíbrio, coordenação e ganho de força do quadríceps e mobilidade do tornozelo; - elimine, da sua casa, tudo aquilo que possa provocar escorregões, e instale suportes, corrimão e outros acessórios de segurança; - use sapatos com sola antiderrapante; - amarre o cadarço do seu calçado; - substitua os chinelos que estão deformados ou estão muito frouxos; - use uma calçadeira ou sente-se para colocar seu sapato; - evite sapatos altos e com sola lisa; - evite ingestão excessiva de bebidas alcoólicas; - mantenha uma lista atualizada de todos os medicamentos que está tomando ou que costuma tomar, e a dê para os médicos com quem faz consulta; - informe-se, com o seu médico, sobre os efeitos colaterais dos remédios que você está tomando e do consumo em excesso; - certifique-se de que todos os medicamentos estejam claramente rotulados e guardados em local adequado (que respeite as instruções de armazenamento); - tome os medicamentos nos horários corretos e da forma que foi receitada pelo médico, na maioria dos casos, acompanhados com um copo d'água; - nunca ande só de meias; - fadiga muscular e confusão mental aumentam o risco de quedas; - mulheres que não conseguem encontrar sapatos esportivos suficientemente largos para o formato do seu pé devem comprar na seção masculina, pois esses sapatos têm formas maiores. Simples cuidados e adaptações podem diminuir o risco de quedas dentro da sua casa. Basta verificar algumas orientações quanto a modificações na organização dos móveis, da casa e iluminação. Em seu quarto: - coloque uma lâmpada, um telefone e uma lanterna perto da sua cama; - durma em uma cama na qual você consiga subir e descer facilmente (cerca de 55-65 cm); - os armários devem ter portas leves e maçanetas grandes para facilitar a abertura, assim como iluminação interna para facilitar a localização dos pertences; - dentro do seu armário, arrume as roupas em lugares de fácil acesso, de preferência, evitando os locaismais altos; - substitua os lençóis e o acolchoado por produtos feitos com materiais não escorregadios, como algodão e lã; - instale algum tipo de iluminação ao longo do caminho da sua cama ao banheiro; - não deixe o chão do seu quarto bagunçado. TÓPICO 1 — FUNÇÕES COGNITIVAS E MOTORAS 29 Na sala e corredor: - organize os móveis de maneira que você tenha um caminho livre para passar sem ter que ficar desviando muito; - mantenha as mesas de centro, descansos de pé e plantas fora da zona de tráfego; - instale interruptores de luz na entrada das dependências de maneira que você não tenha que andar no escuro até que consiga ligar a luz. Interruptores que brilham no escuro podem servir de auxílio; - ande somente em corredores, escadas e salas bem iluminadas; - não acumule ou deixe caixas próximas do caminho da porta ou do corredor; - deixe sempre o caminho livre de obstáculos; - mantenha fios de telefone, elétricos e de ampliação fora das áreas de trânsito, mas nunca debaixo de tapetes; - não deixe extensões cruzarem o caminho; reorganize a distribuição dos móveis; - coloque, nas áreas livres, tapetes com as duas faces adesivas ou com a parte de baixo não deslizante; - não sente em uma cadeira ou sofá muito baixo, porque o grau de dificuldade exigido para se levantar é maior, sendo que estes devem ser confortáveis e com braços; - conserte imediatamente as áreas em que o carpete está desgastado; - remova peitoril de porta maior que 1,3 m. Na cozinha: - remova os tapetes que promovem escorregões; - limpe imediatamente qualquer líquido, gordura ou comida que tenha sido derrubado no chão; - armazene a comida, a louça e demais acessórios culinários em locais de fácil alcance; - as estantes devem estar bem presas à parede e ao chão, permitindo o apoio do idoso, quando necessário; - não suba em cadeiras ou caixas para alcançar os armários que estão no alto; - no piso, utilize ceras que, após a aplicação, não o deixem escorregadio; - a bancada da pia deve ter de 80 a 90 cm do chão, para permitir uma posição mais confortável ao se trabalhar. Na escada: - não deixe malas, caixas ou qualquer tipo de bagunça nos degraus; - interruptores de luz devem estar instalados tanto na parte inferior quanto na parte superior da escada. Uma outra opção é instalar detectores de movimento que fornecem iluminação automaticamente; - a iluminação deve permitir a visualização desde o princípio da escada até o fim, assim como as áreas de desembarque; - mantenha uma lanterna guardada em algum lugar próximo em caso de apagão; - remova os tapetes que estejam no início ou fim da escada; - carpete fixo na escada: selecione um carpete que tenha uma cor sólida (sem desenhos ou muitas formas), através do qual seja possível visualizar claramente as bordas dos degraus; - coloque tiras adesivas antiderrapantes em cada borda dos degraus; - instale corrimãos por toda a extensão da escada e em ambos os lados. Eles devem estar em uma altura de 76 cm acima da escada; - conserte imediatamente as áreas em que o carpete esteja desgastado (principalmente as bordas dos degraus). UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 30 No banheiro: - coloque um tapete antiderrapante ao lado da banheira ou do box para sua segurança na entrada e saída; - instale, na parede da banheira ou do box, um suporte para sabonete líquido; - instale barras de apoio nas paredes do seu banheiro; - duchas móveis são mais adequadas; - mantenha algum tipo de iluminação durante a noite; - use, dentro da banheira, ou no chão do box, tiras antiderrapantes; - substitua as paredes de vidro do box por um material não deslizante; - ao tomar banho, utilize uma cadeira de plástico firme com cerca de 40 cm, caso não consiga se abaixar até o chão ou se sinta instável. FONTE: Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO). Dicas em saúde: quedas em idosos. Brasília: Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, 2009. 31 Neste tópico, você aprendeu que: • O processo de envelhecimento é contínuo e progressivo, desde o nascimento até a morte. • Existem três formas de velhice: normal, patológica e ótima. • Ocorrem alterações e declínio em vários sistemas e órgãos, contudo, o mais importante é a funcionalidade do idoso. • Na pele e no cabelo, são vistas as primeiras mudanças a serem notadas, porém, também ocorrem alterações nos sistemas ósseo, muscular, somatossensorial, circulatório, respiratório, hormonal, digestivo e nervoso. • Essas alterações podem repercutir de forma negativa na vida do idoso, e favorecer o aparecimento de doenças, as quais não estão diretamente ligadas ao processo de envelhecimento, mas a hábitos de vida. • A cognição é responsável pela nossa capacidade de decidir com a motivação. É importante para a manutenção da autonomia do idoso. • A perda cognitiva patológica faz com que o indivíduo perca a identidade, e uma doença em que isso ocorre é o Alzheimer. • A memória operacional é a mais prejudicada no processo de envelhecimento, e é a responsável pelas tarefas cotidianas. Também pode ocorrer lentidão nos movimentos decorrentes de um declínio na velocidade dos impulsos nervosos. • A principal consequência das alterações motoras é o grande risco de quedas. • As quedas podem trazer inúmeras complicações ao idoso e, inclusive, levar à morte. RESUMO DO TÓPICO 1 32 1 Sobre o processo de envelhecimento, é correto afirmar: a) ( ) Ocorre da mesma forma para todas as pessoas, sem exceção. b) ( ) O nível de funcionalidade, ou seja, o quanto o idoso tem autonomia nas atividades do dia a dia não deve ser levado em consideração quando avaliamos sua qualidade de vida. c) ( ) É o processo dinâmico e progressivo que ocorre no decorrer da vida, desde o nascimento até a morte. d) ( ) Só tem efeitos deletérios e negativos para os indivíduos, e é considerado como o fim da vida. 2 Descreva, brevemente, as alterações fisiológicas que ocorrem nos sistemas e quais suas repercussões na vida do idoso. 3 Mariana, 82 anos, viúva, possui cinco filhos, mora sozinha no interior do Rio Grande do Sul, hipertensa e diabética, relata ter esquecimentos frequentes e que sua pele fica com hematomas com facilidade. Tem dificuldade para ir ao mercado, pois se cansa para caminhar longas distâncias. Ela pergunta a si mesma se essas alterações são normais ou precisa procurar um médico. A partir do estudado, o que você diria a Mariana? O que você questionaria, além do relatado? 4 Quais os motivos que podem favorecer a queda em idosos? Quais estratégias podem ser traçadas para evitar? 5 O que quer dizer cognição? Quais alterações ocorrem no sistema cognitivo do idoso e que são consideradas parte do processo? 6 O processo de envelhecimento é dinâmico e progressivo, e pode acarretar disfunções em vários sistemas, inclusive no Sistema Nervoso Central, ocasionando alterações cognitivas. Sobre essas alterações, podemos afirmar que: a) ( ) O Alzheimer pode ser considerado uma doença inerente ao processo de envelhecimento. b) ( ) A memória operacional é a mais afetada, ou seja, o idoso pode ter maior dificuldade de lembrar coisas cotidianas. c) ( ) A cognição não interfere na vida do idoso, pois as atividades do seu dia a dia são automáticas. d) ( ) Os impulsos nervosos não sofrem alteração no envelhecimento, e a lentidão dos movimentos é considerada patológica. AUTOATIVIDADE 33 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS 1 INTRODUÇÃO Já é consenso, na literatura, o quanto o fator nutricional interfere na qualidade de vida do ser humano e, em especial, no idoso. O fator também influencia os sistemas, principalmente o digestivo. Vamos entender um pouco mais sobre o assunto? Você sabia que a nutrição é definida como a capacidade de transformação, utilização e assimilação de nutrientes, provenientes da nossa alimentação, para a realização dasfunções celulares vitais, ou seja, funcionamento do nosso organismo? Nesse sentido, neste tópico, aprofundaremos o conhecimento sobre a nutrição e sua influência no processo de envelhecimento. 2 ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS As nossas preferências alimentares, o que é ingerido, sofrem mudanças ao longo da vida. Atualmente, pode-se observar uma redução da desnutrição e um aumento significativo da obesidade em idosos, considerado, também, um grave problema de saúde pública. Isso está diretamente relacionado ao aumento do consumo de calorias e baixa prática de atividades físicas, como já mencionamos no tópico anterior (SANTOS; REZENDE, 2006). Você já sabe que o envelhecimento ocorre desde o nascimento até a morte, não é mesmo? Pensando nisso, como você está se preparando para ele? Tem praticado atividades físicas? Lembre-se: todos nós estamos em um processo contínuo de envelhecimento. NOTA 34 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO A avaliação nutricional no grupo etário deve ser realizada de forma reflexiva, crítica e mais humanizada. A comida é muito mais que se nutrir, ela também tem um papel emocional na vida das pessoas. Você já percebeu que, muitas vezes, ela é o motivo para uma reunião familiar? Nesse contexto, muitas vezes, o patriarca ou a matriarca da família tem papel central e é representado por um idoso. Além disso, deve ser levada em consideração uma rede complexa de fatores determinantes diretos e indiretos inerentes ao processo de envelhecimento, como isolamento social, doenças, incapacidades, alterações fisiológicas e biológicas (TAVARES et al., 2015). FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO DO PAPEL SOCIAL DA ALIMENTAÇÃO FONTE: <https://media.istockphoto.com/vectors/cheerful-cartoon-family-having-dinner-vector- -id102691215>. Acesso em: 22 jun. 2020. Uma nutrição deficitária pode levar a uma série de agravos nas questões inerentes ao processo de envelhecimento. Observe: QUADRO 1 – ALTERAÇÕES NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E POSSÍVEIS AGRAVOS Alterações Agravos Redução da massa muscular Sarcopenia e redução da capacidade funcional Redução da água corporal Desidratação Redução da massa mineral óssea Osteoporose Aumento e redistribuição de gordura corporal Obesidade, diabetes, dislipidemias, doenças cardiovasculares FONTE: Tavares et al. (2015, p. 645) TÓPICO 2 — ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS 35 Algumas alterações que ocorrem no processo de envelhecimento interferem diretamente na alimentação e nutrição dos idosos. Assim, vamos conhecê-las? FIGURA 14 – ALTERAÇÕES QUE INTERFEREM NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO FONTE: O autor Alterações sensoriais: a diminuição das sensações do paladar, olfato, audição, visão e tato pode reduzir o apetite e/ou perder o prazer pela comida, levando à redução na ingestão de alimentos, ocasionando a desnutrição (HARRIS, 2005). Você já deve ter escutado um idoso falar que parece que a comida não tem mais o mesmo sabor, isso ocorre devido às alterações sensoriais. Muitas vezes, eles acabam usando mais sal ou açúcar, pelo mesmo motivo, o que acaba prejudicando sua saúde, e propiciando o aparecimento de doenças, como diabetes e hipertensão arterial. As alterações podem ser devidas a vários fatores, como: diminuição das papilas gustativas e terminações nervosas, uso de prótese dentária, uso de medicações, intervenções médicas e cirúrgicas ou, ainda, ocasionadas por determinadas doenças neurodegenerativas (HARRIS, 2005). Baixa produção de saliva: a produção e o fluxo salivar diminuem no idoso, com influência pelo de muitos medicamentos, como diuréticos e anti- inflamatórios, que favorecem a redução salivar, prejudicando a saúde oral e facilitando a perda dentária, inflamação de gengivas ou da mucosa oral (PHILLIPI et al., 1999; BÓS, 2007). A saliva é importante para a umidificação dos alimentos, além de facilitar a mastigação e a remoção de restos alimentares ao redor dos dentes, neutralizando a ação bacteriana. Sistema digestivo: Há uma redução da produção de ácido gástrico e pepsina, os quais são responsáveis pela digestão e degradação das vitaminas, fazendo com que haja uma redução na absorção da vitamina B12, ácido fólico, cálcio e ferro. Também há a redução da secreção pancreática e da sensibilidade da vesícula biliar, que podem interferir na digestão de gorduras e proteínas, 36 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO produzindo efeitos negativos (LUNN, 2007). O idoso pode ter mais desconforto gástrico ao consumir alimentos gordurosos ou à base de proteína, como carnes com gordura. Com o avançar da idade, há uma tendência da ocorrência de constipação intestinal, geralmente relacionada a sedentarismo e baixa ingestão de fibras e líquidos. Taxa metabólica basal (TMB): A quantidade mínima de energia necessária para manter as funções do corpo em repouso diminui com a idade. Os fatores que interferem na TMB são a diminuição da massa magra e aumento da massa gorda, alterações nos líquidos e temperatura corporal, alterações hormonais, estresse, genética e, principalmente, a inatividade física (LUNN, 2007). Assim, é possível afirmar que, com o envelhecimento, mudanças fisiológicas, metabólicas e na capacidade funcional podem resultar em alterações nas necessidades nutricionais (TAVARES et al., 2015). É importante uma dieta equilibrada em carboidratos, proteínas e gorduras para os idosos, conforme recomendado na pirâmide alimentar a seguir. O atendimento das necessidades de vitaminas e minerais é também essencial, pois esses nutrientes atuam como reguladores de diversas funções no organismo, agindo como antioxidantes, retardando efeitos do envelhecimento e o aparecimento de doenças (FUZARO JUNIOR et al., 2016). FIGURA 15 – PIRÂMIDE DOS ALIMENTOS FONTE: <https://www.einstein.br/PublishingImages/info-nova-piramide-alimentar.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2020. TÓPICO 2 — ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS 37 O consumo de proteínas também é essencial, devido à necessidade da presença de aminoácidos para importantes funções estruturais, motoras, metabólicas, hormonais e imunológicas (FUZARO JUNIOR et al., 2016). Os alimentos têm sido relacionados tanto à ocorrência quanto à prevenção de doenças crônicas, como as vitaminas A, E e C na prevenção do câncer e de doenças cardiovasculares (FUZARO JUNIOR et al., 2016). Alterações naturais nos mecanismos de defesa do organismo ou dificuldades nos processos de mastigação e deglutição podem tornar a pessoa idosa mais suscetível a complicações decorrentes do consumo de alimentos, reforçando a necessidade de cuidados diários para preparar refeições seguras (FUZARO JUNIOR et al., 2016). Planejar as refeições e utilizar medidas corretas durante o preparo dos alimentos podem contribuir para a satisfação com a alimentação, além do respeito à vontade do idoso, permitindo que ele seja o ator principal da sua alimentação, quando possível (BRASIL, 2009). Assim, cria-se uma condição propícia para discutir a necessidade de eventuais mudanças nos procedimentos associados à compra, ao armazenamento, à higiene pessoal e ao preparo dos alimentos. Os objetivos são facilitar o dia a dia e favorecer uma alimentação segura (BRASIL, 2005). O Ministério da Saúde, com o intuito de orientar os profissionais que atuam com idosos, elaborou uma cartilha com os 10 passos para uma alimentação saudável: 1. Faça três refeições ao dia (café da manhã, almoço e jantar) e, caso necessite de mais, faça outras refeições nos intervalos. Procure fazer as refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) em horários semelhantes todos os dias. Nos intervalos entre essas refeições, prefira realizar pequenas refeições saudáveis com alimentos frescos. Coma sempre devagar e desfrute do que está comendo, procurando comer em locais limpos e onde você se sinta confortável, evitando ambientes ruidosos ou estressantes. 2. Dê preferência aos grãos integrais e aos alimentos na sua forma mais natural. Inclua, nas principais refeições,alimentos como arroz, milho, batata, mandioca/macaxeira/ aipim. Esses alimentos são as mais importantes fontes de energia e, por isso, devem ser os principais componentes das principais refeições, devendo-se dar preferência às formas integrais. As atividades de planejar as compras de alimentos, organizar a despensa doméstica e definir, com antecedência, o cardápio da semana podem contribuir para a sua satisfação com a alimentação. Em supermercados e outros estabelecimentos, utilize uma lista de compras, para não comprar mais do que o necessário. IMPORTANT E 38 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 3. Inclua frutas, legumes e verduras em todas as refeições ao longo do dia. Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas, minerais e fibras. Por essa razão, eles devem estar presentes diariamente na sua alimentação. O consumo desses alimentos contribui para diminuir o risco de várias doenças e ajuda a evitar a constipação (prisão de ventre). Feiras livres, “sacolões” ou “varejões” são boas opções para a compra de alimentos frescos da safra (época) e com menor custo. 4. Coma feijão com arroz, de preferência no almoço ou no jantar. Esse prato brasileiro é uma combinação completa e nutritiva e é a base de uma alimentação saudável. Varie os tipos de feijões usados (preto, manteiga, carioquinha, verde, de corda, branco e outros) e use, também, outros tipos de leguminosas (como soja, grão- de-bico, ervilha, lentilha ou fava). Se você tem habilidades culinárias, procure desenvolvê-las e partilhá-las com familiares e amigos. Se você não tem tais habilidades, converse com as pessoas que sabem cozinhar, peça receitas a familiares, amigos e colegas, leia livros, consulte a internet e descubra o prazer de preparar o seu próprio alimento. Para evitar o desperdício, cozinhe pequenas porções e congele o alimento sempre que isso for possível, para a sua utilização em dias posteriores. 5. Lembre-se de incluir carnes, aves, peixes, ovos, leite e derivados em, pelo menos, uma refeição durante o dia. Retirar a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da preparação torna esses alimentos mais saudáveis. Os leites e derivados são ricos em cálcio, que ajuda no fortalecimento dos ossos. Já as carnes, as aves, os peixes e os ovos são ricos em proteínas e minerais. Quanto mais variada e colorida for a sua alimentação, mais equilibrada e saborosa ela será. 6. Use pouca quantidade de óleos, gorduras, açúcar e sal no preparo dos alimentos. Esses ingredientes culinários devem ser usados com moderação para temperar alimentos e para criar preparações culinárias. Procure evitar o açúcar e o sal em excesso, substituindo-os por temperos naturais (como cheiro verde, alho, cebola, manjericão, orégano, coentro, alecrim etc.) e optando por receitas que não levam açúcar na preparação. 7. Beba água mesmo sem sentir sede, de preferência nos intervalos das refeições. A quantidade de água que precisamos ingerir por dia é muito variável e depende de vários fatores, incluindo a idade e o peso da pessoa, a atividade física que ela realiza, o clima e a temperatura do ambiente onde ela vive. É importante estar atento ao consumo diário de água para evitar casos de desidratação, principalmente em dias muito quentes. Vale lembrar que bebidas açucaradas (como refrigerantes e sucos industrializados) não devem substituir a água. Uma dica é aromatizar a água com hortelã ou frutas, como rodelas e cascas de laranja ou limão. 8. Evite bebidas açucaradas (refrigerantes, sucos e chás industrializados), bolos e biscoitos recheados, doces e outras guloseimas como regra da alimentação. Produtos processados (como biscoitos recheados, guloseimas, ‘salgadinhos’, refrigerantes, sucos industrializados, sopa e macarrão ‘instantâneo’, ‘tempero pronto’, embutidos, produtos prontos para aquecer) devem ser evitados ou consumidos ocasionalmente. Embora convenientes e de sabor pronunciado, esses e outros produtos processados tendem a ser nutricionalmente desequilibrados e, em sua maioria, contêm quantidades elevadas de açúcar, gordura e sal. TÓPICO 2 — ASPECTOS NUTRICIONAIS E SISTEMAS 39 9. Fique atento(a) às informações nutricionais dos rótulos dos produtos processados e ultra processados para favorecer a escolha de produtos alimentícios mais saudáveis. Os rótulos dos produtos processados e ultra processados (como biscoitos, pães de forma, iogurtes, barras de cereais etc.) são uma forma de comunicação entre esses produtos e os consumidores e contêm informações importantes sobre a sua composição. Mais formas de esclarecimento podem surgir no diálogo com outras pessoas no local de compra, por meio do serviço de atendimento ao consumidor (SAC) ou, até mesmo, em uma consulta com um profissional de saúde. Fique atento (a) às informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais, pois, o que, geralmente, a propaganda busca, é aumentar a venda dos produtos, em vez de informar. 10. Sempre que possível, coma acompanhado (a) de alguém. A companhia de familiares, amigos ou vizinhos, na hora das refeições, colabora para o comer com regularidade e atenção, proporciona mais prazer e favorece o apetite. Escolha uma ou mais refeições na semana para desfrutar da alimentação na companhia de alguém, mantendo o convívio social com as pessoas próximas. FONTE: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentação saudável para a pessoa idosa: um manual para profissionais de saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 40 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A alimentação do idoso depende de diversos fatores, incluindo dimensões sociais, emocionais e biológicas. • Uma nutrição deficitária pode levar a uma série de agravos em relação às questões inerentes ao processo de envelhecimento. • As principais alterações fisiológicas que interferem na alimentação do idoso ocorrem no sistema sensorial, diminuição da saliva, menor taxa metabólica e alterações relacionadas à digestão. • Assegurar a participação da pessoa idosa no planejamento da alimentação diária e no preparo das refeições possibilita envolvimento com a alimentação. 41 1 Quais são as principais alterações do processo de envelhecimento que modificam a alimentação? 2 Que medidas podem ser tomadas para que o idoso tenha uma alimentação mais saudável? 3 Sobre a alimentação do idoso, é incorreto afirmar que: a) ( ) A avaliação nutricional nesse grupo etário deve ser realizada de forma reflexiva, crítica e mais humanizada. b) ( ) A comida é muito mais que se nutrir, ela também tem um papel emocional na vida das pessoas, e essa premissa deve ser levada em consideração para a alimentação do idoso. c) ( ) O idoso não deve ingerir alimentos com sal e/ou açúcar, mesmo que não tenha doença prévia, e sua vontade não deve ser levada em consideração. d) ( ) É importante uma dieta equilibrada com carboidratos, proteínas e gorduras para os idosos. AUTOATIVIDADE 42 43 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 GENÉTICA E FATORES AMBIENTAIS 1 INTRODUÇÃO Conforme visto anteriormente, muitos fatores interferem no processo de envelhecimento. Os genéticos e ambientais se destacam notoriamente, pois eles são responsáveis pela heterogeneidade do envelhecimento humano. As grandes diferenças entre idosos são decorrentes, de um lado, da maior ou menor influência dos fatores ambientais, de outro, da grande amplitude da faixa etária da velhice. Assim, é difícil definir, em uma população de pessoas idosas, aquelas que podem ser consideradas “normais” tanto para fins de estudo quanto para o cotidiano. Nessa perspectiva, discutiremos, no próximo tópico, a influência desses fatores na velhice e o que é considerado “normal” no processo. 2 GENÉTICA E FATORES AMBIENTAIS É consenso, na literatura, a dificuldade de conceituar o que é normal em geriatria, o que levou os autores Fox e Hollander (1990 apud FREITASet al., 2011) a criarem a expressão e o conceito de envelhecimento normativo. Eles afirmam que a expressão representa o processo natural de desenvolvimento em fases avançadas da vida (FREITAS et al., 2011). O envelhecimento normativo pode ser de dois tipos: primário e secundário. • Primário seria universal, presente em todas as pessoas, geneticamente determinado ou pré-programado. • Secundário seria resultante de algumas influências ambientais, variável entre indivíduos em diferentes meios. Seria decorrente de fatores cronológicos, geográficos e culturais. Esses fatores devem ser considerados, pois as diferenças encontradas entre grupos de idosos podem ser erroneamente atribuídas ao envelhecimento intrínseco, primário ou genético, quando, na verdade, são consequentes a influências externas ou ambientais (NERI, 2007). 44 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO Vale lembrar que é muito difícil separar a ação ambiental dos programas genéticos no envelhecimento, pois, com grande frequência, eles se sobrepõem, ou se complementam. Além disso, o ambiente não é necessariamente a causa dessas mudanças, embora possa, sem dúvida, influenciar o ritmo (NERI, 2007). O envelhecimento apresenta uma imensa diversidade de padrões individuais, seja por motivos ambientais, seja pela variabilidade genética entre os indivíduos (FREITAS et al., 2013). Pode-se considerar o envelhecimento como a fase que começa no nascimento e termina com a morte, como já aprendemos anteriormente. Ao longo da vida, é possível observar fases de desenvolvimento, puberdade e maturidade, que são marcadores biológicos, e determinam limites de transição (FREITAS et al., 2013). Um exemplo é a primeira menstruação, como marcador do início da puberdade na mulher. O que torna o envelhecimento tão difícil de definir é que, ao contrário do que acontece com as outras fases, o ser humano não possui um marcador biológico de início, pois compreende toda a vida de uma pessoa. De qualquer forma, a definição entre maturidade e envelhecimento é considerada mais por fatores socioeconômicos (aposentadoria etc.) e ambientais do que por um marco biológico. E se fosse ao contrário, você nascesse velho e morresse jovem? Você vê no filme O curioso caso de Benjamin Button (2008), no qual o personagem nasce com a aparência e as enfermidades de um ancião e vai ficando jovem com o passar dos anos, mostrando, de forma inversa, o processo de envelhecimento humano. DICAS A dificuldade de se definir o envelhecimento se deve à questão de definir idades: A falta de clareza para mensurar o fenômeno do envelhecimento está ligada à dificuldade de definir a idade biológica, e é justamente ela que justifica a falta de segurança para adotar quaisquer das teorias existentes sobre o fenômeno, pelo fato de que, na realidade, não existem início, meio e fim (FREITAS et al., 2013, p. 62). TÓPICO 3 — GENÉTICA E FATORES AMBIENTAIS 45 Contudo, o envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando vulnerabilidade e incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte. As alterações fisiológicas da velhice são caracterizadas pela redução da capacidade funcional, calvície, redução da capacidade de trabalho e da resistência etc. Associam-se perdas dos papéis sociais, solidão, perdas psicológicas e motoras, e afetivas. Essas manifestações se tornam mais evidentes a partir dos 40 anos ou pouco mais, ou seja, muito antes de 65 anos, idade cronológica que demarca, socialmente, o início da velhice (NERI, 2007). Você já deve ter percebido que algumas pessoas parecem velhas aos 45 anos de idade e, outros, jovens aos 70. Por que será que isso acontece? Lembra do estudo de caso que vimos no início deste capítulo? Será que a idade cronológica de Dona Maria e Dona Judite define suas velhices? Segundo Beauvoir (1990), a velhice, enquanto alterações no sistema biológico, é uma realidade irredutível, embora os destinos psicológico e social da pessoa idosa sejam construídos pelo tempo, meio e cultura em que ela vive. Contudo, é consenso que o processo tem início logo depois da maturidade sexual, e acelera-se a partir da quarta década de vida, pela cessação ou diminuição da possibilidade de reproduzir a espécie e por mudanças fisiológicas e morfológicas típicas (NERI, 2007). Doenças e incapacidades dependentes da ação conjunta da genética, do comportamento e do acesso a recursos científicos, tecnológicos e sociais podem acelerar a senescência e conduzir a estados finais de forte desorganização e indiferenciação. Em contrapartida, sob condições ótimas de influência da genética, do ambiente e dos comportamentos ao longo de toda a vida, os indivíduos podem envelhecer bem (NERI, 2007). Podem apresentar mudanças normativas da senescência, com pequenas perdas funcionais e doenças crônicas estáveis, garantindo a manutenção da atividade e da participação social. Convencionou-se chamar esse desfecho positivo de velhice bem-sucedida, ótima, ativa, saudável ou produtiva, denominações que encerram forte apelo ideológico por fazerem referência a um permanente ideal da humanidade, mesmo quando envelhecer era experiência compartilhada por poucos e, envelhecer com saúde e bem-estar, um milagre ou uma conquista pessoal (NERI, 2007). 46 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO A trajetória do envelhecimento humano comporta expressiva variabilidade, dependendo do nível de desenvolvimento biológico e psicológico atingido pelos indivíduos e pelas cortes em virtude da ação conjunta da genética, dos recursos sociais, econômicos, médicos, tecnológicos e psicológicos. NOTA Para entender diferentes formas de envelhecer, você pode assistir ao filme O amor não tem fim (2011), que retrata a vida de um casal, os dois são recém-chegados à casa dos 60. Ela assume a idade e toma as devidas providências para adaptar a casa, instalando, inclusive, barras de segurança no banheiro. Ele, ao contrário, rejeita qualquer possibilidade de declínio. DICAS Para aprofundar seus conhecimentos sobre questões de definição da velhice, leia o livro de Simone de Beauvoir, A Velhice, publicado em 1970. A autora procurou refletir sobre a exclusão dos idosos em sua sociedade, mas do ponto de vista de que sabia que iria se tornar um deles. É um livro antigo, mas muito contemporâneo, e traz reflexões importantes sobre a questão. DICAS Será que a sociedade está preparada para envelhecer? Estamos preparados? Você percebe que hoje você é mais velho do que ontem? E que não é só seu vizinho que envelhece? Em algum momento da sua vida, você já tentou negar a velhice? O que você pensa sobre isso? TÓPICO 3 — GENÉTICA E FATORES AMBIENTAIS 47 FIGURA 16 – REFLEXÃO FONTE: <https://www.otempo.com.br/>. Acesso em: 9 jun. 2020. 48 UNIDADE 1 — ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO LEITURA COMPLEMENTAR Você já parou para pensar o que é velho? O que será que o idoso acredita ser velhice? Neste artigo, os autores mostram a visão dos idosos sobre velhice, e constatam que a gente sempre acha que velho é o outro. Vamos conferir? SE VELHO É O OUTRO, QUEM SOU EU? A CONSTRUÇÃO DA AUTOIMAGEM NA VELHICE RESUMO Este estudo investigou como o idoso constrói sua autoimagem a partir da representação social da velhice. Foram realizadas sete entrevistas semiestruturadas, com idosos de 72 a 91 anos, de ambos os sexos, diferentes classes sociais e diferentes graus de escolaridade, residentes em Porto Alegre e grande Porto Alegre. As entrevistas abordaram as seguintes áreas de interesse: autoimagem na velhice, representações sociais da velhice e vivências pessoais. Os resultados indicaram que existem duas possibilidades para a construção dessa autoimagem, e ambas estão permeadas pela representação social que o outro tem da velhice.
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