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Literatura PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE Desmitificar a história e a literatura A literatura também contribuía com uma visão idealizada da história do estado, mascarando a violência, a opressão dos heróis sanguinários contra uma população subjugada. O TEMPO E O VENTO - ÉRICO VERÍSSIMO O CONTINENTE: a fundação do mito epopeia paradigmática do ‘código’ gaúcho concepção circular de história na qual o presente duplicaria o passado Duas histórias: a da família, e a da formação do RS ESTRUTURA NARRATIVA - intermezzos Preencher vazios, tanto na construção de personagens secundários quanto em aspectos históricos rio-grandenses que não foram suficientemente elaborados nos episódios. a) Reforçar o caráter simultaneamente épico e brutal da conquista do território chamado continente de São Pedro. b) Apresentar um contraponto social, na figura dos Carés, gente sem eira nem beira, desvalidos, arranchados na fazenda do Angico. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Índia (que não é das Missões) morre após dar a luz a um menino de pele mais clara (provável fruto de um relacionamento entre a índia e um Vicentista) Alonzo decide chamá-lo de Pedro ( nome do marido que Alonzo iria assassinar) A criação mística de Pedro Missioneiro: Cacique Rafael , Padre Alonzo, Alfares Sepé Tiaraju Pedro cresce, fascinado pela figura de Sepé As visões de Pedro: revela a Alonzo que conversa no cemitério com sua mãe ( a Rosa Mística – Nossa Senhora), que desceria dos céus, bem como com seu pai ( um índio como Sepé) Tratado de Madri: indignação de Alonzo 1756. Visões de Pedro: morte de Sepé (Pedro afirma que o próprio Sepé veio lhe contar) Fuga de Pedro Missioneiro ( leva o punhal de prata de Alonzo) O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O que destacar em A fonte a) A confluência da cultura mística católica e a consciência mágica dos índios na figura de Pedro, explicando a sua tendência a visões e premonições. b) A criação de uma origem mitológica para o estabelecimento da sociedade rio- grandense, na medida em que Pedro, mais tarde, fecundará Ana Terra, dando início - em termos simbólicos - a um tipo local, o gaúcho. É visível - neste romance de "fundação" de um mundo regional - a influência de Iracema, de José de Alencar. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Ana Terra: um estranho estirado perto da sanga O punhal é tirado do índio ainda desacordado Pedro se apresenta : Explica sua origem, Fuga das Missões, Acampamento Militar Luta contra os castelhanos pela Coroa Portuguesa, Ofício de Fé assinado por Rafael Pinto Bandeira ( nenhum Terra sabe ler) Pedro improvisa uma barraca de palha perto da sanga Pedro se revela talentoso na lida do campo, toca flauta Inquietação de Ana Terra: repulsa e atração Confiança: Maneco devolve o punhal a Pedro 1778 – Pedro conta lendas ( Teinaguá e Boitata) Relação: Pedro + Ana Terra gravidez : quer a fuga Pedro: “demasiado tarde” – premonição da própria morte Pedro entrega o punhal a Ana ; assassinado pelos cunhados 1779 nasce Pedro Terra ( renegado pelo vô e pelos tios) 1881 Horácio se muda para Rio Pardo e Antônio se casa com Eulália 1886 nasce Rosa (filha de Antônio) ; morte de Henriqueta 1889 plantação de trigo nasce : aproximação entre neto e avô O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Pedro recebe o punhal de prata Invasão dos Castelhanos : Eulália, Rosa e Pedro se escondem no mato Maneco, Antônio e escravos assassinados Ana Terra : estupro coletivo, desmaio Ana desenterra as economias do pai, salva a roca da mãe Ana não cogita a ida a Rio Pardo: envergonharia o irmão Comboio de Marciano Bezerra : rumo às terras do Coronel Ricardo Amaral : estância de Santa Fé Ricardo Amaral lutou na Guerra das Missões, recebeu terras como recompensa do governo (dizem que teria matado Sepé) Ricardo Amaral, homem de ditados : “mulher, arma e cavalo de andar, nada de emprestar” ( CONTOS GAUCHESCOS ) O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Estância de Santa Fé : Ana e Rosa se fixam Ana = parteira oficial , “era boa com a tesoura” Pedro nova com Arminda Silva Guerra contra os castelhanos: recrutamento obrigatório Cel. Ricardo Amaral, Chico Amaral (filho) e Pedro partem Eulália ( amigada com um viúvo) “abandona” Ana Morte do Coronel Ricardo Amaral Três meses depois: retorno de Chico Amaral e Pedro 1803: Pedro se casa com Arminda 1804: nasce Juvenal Terra ; Santa Fé se povoa 1806: nasce Bibiana Terra 1811: Nova Guerra : Pedro parte novamente, novamente Ana fica esperando o seu retorno ( destino das mulheres: esperar a volta dos homens das guerras ) O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O que destacar em Ana Terra Ana Terra é o capítulo definitivo de O tempo e o vento. Além da representatividade histórica da personagem (símbolo da mulher rio-grandense), devemos atentar para: a) Seu erotismo, ampliado pela solidão e pela sensação de infelicidade de viver naquele mundo perdido que é a fazenda do pai. Daí a sua entrega corpórea a Pedro Missioneiro. b) A consciência natural (e quase a-histórica) do tempo. Este é determinado primitivamente pelo ritmo das estações, assim como os dias o são pelo nascer e pelo desaparecer do sol. Não há calendários e as referências aos anos são imprecisas. c) A sua garra, obstinação e capacidade de resistência. A forma que sobrevive interiormente à violência do estupro dos bandidos castelhanos indica não apenas resignação ao destino, mas estupenda força subjetiva e crença na vida. No limite mais dramático e profundo, estes serão os valores de todas as mulheres no romance. d) A profissão de parteira que Ana adota como uma metáfora da vida, enquanto a seu redor guerras e revoluções campeiam com todo um tributo à destruição e à morte. Decorre daí também o seu ardente pacifismo e seu entranhado ódio à violência em que os homens parecem se comprazer. e) A relação que Ana estabelece entre o vento e as coisas importantes de sua vida, a associação entre as "noites de vento, noite dos mortos" e, por fim, a própria ligação do vento com a memória feminina. Esta memória - açulada pela natureza - é ao mesmo tempo o tormento, o consolo e a arma de defesa das mulheres contra a falta de sentido da existência. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO BIBIANA TERRA Bibiana tinha crescido à sombra de Ana Terra, com a qual aprendera a fiar, a bordar, a fazer pão e doces e principalmente a avaliar as pessoas. Depois que Ana Terra morrera, Pedro às vezes tinha a impressão de que ela continuava a falar pela boca da neta. Bibiana repetia frases da avó. Quando à noite ventava e eles estavam dentro de casa em silêncio, esperando a hora de irem para a cama, a moça de repente murmurava: “Noite de vento, noite dos mortos”. Bibiana via muito os homens com os olhos desconfiados e cautelosos de Ana Terra. Pedro nunca pudera descobrir a razão por que a mãe tinha tanta malquerença pelos homens em geral. Às vezes fugia deles como o diabo da cruz. Era com frequência que falava, com má vontade e repugnância, em “cheiro de homem”. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Rodrigo pede conselho a Pedro : “deveria investir em plantação ou gado?” ; resposta de Pedro: “deveria ir embora de Santa Fé” Bibiana, que rejeitava Bento Amaral (filho do Cel. Ricardo Amaral Neto, dono de Santa Fé), sentia atração e repulsa em relação a Rodrigo ( lembrar Ana e Pedro Missioneiro) Bibiana ouvia de casa a cantoria e o violão de Rodrigo e parecia se enfeitiçar (lembrar Ana e Pedro Missioneiro ) Padre Lara se apresenta a Rodrigo e lhe pede que parta ( ordens do Cel. Amaral). Rodrigo pede um encontro com o Coronel, o Padre promove este encontro: Rodrigo apresenta uma Carta Ofício de Bento Gonçalves ao CoronelAmaral (asseverando sua lealdade e bravura como soldado) (lembrar o ofício que Pedro Missioneiro apresenta aos Terras); o Coronel mostra-se irredutível, Rodrigo avisa que não irá partir da cidade. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO 1829: Festa no terreiro de Joca Rodrigues, toda a Santa Fé comparece, Rodrigo quer tirar Bibiana para dançar, Bento Amaral se intromete; discussão; tapa de Bento na cara de Rodrigo; marcação de duelo de adagas Duelo : Rodrigo “desenha” um P no rosto de Bento que, covardemente, desfere um tiro a queima roupa em Rodrigo Bento Amaral visto como um covarde por toda a Santa Fé Rodrigo entre a vida e a morte: Padre Lara se apresenta para a confissão final de Rodrigo : “uma figa” Na cidade, corre o boato do milagre do Padre Lara que teria curado Rodrigo após este ter se confessado Rodrigo passa um mês de cama em recuperação Rodrigo elogia um punhal de prata que o amigo Juvenal detém , decidem abrir sociedade : uma Venda Rodrigo pede ao Padre que fale a Pedro Terra sobre Bibiana O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Pedro Terra indaga Bibiana que, por sua vez, afirma querer se casar com Rodrigo; Pedro avisa ao Padre que permite o casamento, mas que Rodrigo não conte com sua amizade. 1829 – natal : casamento Rodrigo Cambará + Bibiana Terra Rodrigo começa a fazer viagens longas sob o pretexto de buscar mercadorias para a venda : motivo real – amantes 1830 – dia de finados : nasce Bolívar Terra Cambará Tesoura de parteira de Ana Terra 1831: nasce Anita Terra Cambará Rodrigo : vícios – jogatina, bebedeiras, amantes (amante fixa : Honorina) Bibiana : ” O vício dela era Rodrigo. Suportaria tudo, se sujeitaria a todos os rebaixamentos contanto que ele não fosse embora.” O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO 1834: Povoado de Santa Fé Vila de Santa Fé Inverno, Rodrigo, na jogatina, recebe chamado urgente de Bibiana, mas decide permanecer no jogo; ao voltar para casa, encontra o Padre Lara que lhe dá a notícia da morte de Anita; Rodrigo desaba no choro. Rodrigo se acalma ( menos bebida e jogatinas) Nasce Anita Terra Cambará ( Rodrigo mente dizendo que é o nome de sua mãe, na verdade, era o nome de uma antiga amante) Amizade entre Bolívar e Florêncio ( filho de Juvenal e Maruca) 1835: Juvenal retorna de Rio Pardo com as notícias sobre a Revolução Farroupilha Cel. Ricardo Amaral determina lealdade ao Governo Federal Pedro Terra é preso por se opor, depois será solto mas seguirá sendo vigiado, bem como Juvenal O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Rodrigo parte para se reunir como os homens do General Bento Gonçalves Bibiana, aflita, fica no aguardo do retorno de Rodrigo ( como Ana Terra, que ficava sempre no aguardo do retorno do filho Pedro, que ia para guerras) 1836: a revolução chega a Santa Fé definitivamente Retorno de Rodrigo A tomada do casarão dos Amaral : mortes de Ricardo Amaral e de Rodrigo Cambará Enterro de Rodrigo e de Ricardo ( mais gente comparece ao de Rodrigo, ou seja, o Capitão, antes indesejado por todos, tinha conquistado o carinho de toda a cidade ) O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Bibiana olhou para a sepultura de Ana Terra e achou estranho que Rodrigo estivesse agora "morando" tão pertinho da velha. E não deixava de ser ainda mais estranho estarem os dois à sombra do jazigo perpétuo da família Amaral, onde se achavam os restos mortais do cel. Ricardo. Agora estavam todos em paz. Bibiana levantou-se. Era hora de voltar para casa, pois em breve o cemitério estaria cheio de visitantes, e ela detestava que lhe viessem falar em Rodrigo com ar fúnebre. Não queria que ninguém a encontrasse ali. Em breve tiraria o luto do corpo: vestira-se de preto porque era um costume antigo e porque ela não queria dar motivo para falatório. Mas no fundo achava que luto era uma bobagem. Afinal de contas para ela o marido estava e estaria sempre vivo. Homens como ele não morriam nunca. Ergueu Leonor nos braços, segurou a mão de Bolívar, lançou um último olhar para a sepultura de Rodrigo e achou que afinal de contas tudo estava bem. Podiam dizer o que quisessem, mas a verdade era que o cap. Cambará tinha voltado para casa. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O que destacar em Um certo Capitão Rodrigo a) O fato do personagem central ter se transformado - mesmo que não fosse a intenção de E. V. - no símbolo do gaúcho, com seu misto de bravura, fanfarronice, generosidade e pensamento libertário. Talvez os gaudérios da época não tivessem o mesmo carisma. Documentos da época pintam esses homens "sem rei nem lei" quase como párias. No caso de Rodrigo, contudo, "a mentira histórica vira verdade artística". b) A paixão instintiva (próxima do mundo animal) que o Capitão experimenta pela vida e seus prazeres, especialmente os da cama e da mesa. Apesar disso, há em sua conduta um substrato ético que o leva, por exemplo, a se posicionar contra os tiranos e a respeitar sua mulher, Bibiana. c) O forte sopro épico que percorre todo o episódio. A exemplo de Aquiles e de outros heróis das epopéias gregas, Rodrigo Cambará acredita que só a ação guerreira dá sentido à vida dos homens. A domesticidade e o cotidiano são os maiores inimigos desses personagens, que só se sentem felizes no fragor das batalhas e das conquistas. Antológica é a cena do Capitão, transformado em dono de venda: "Rodrigo foi até a porta (da venda) e olhou para o alto. O vento trazia um cheiro bom de capim e, aspirando-o, ele como que se embriagava. O fedor de cebola, alho e banha que havia dentro de casa nauseava-o. Meter-se naquele negócio tinha sido a maior estupidez de sua vida." O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O que destacar em Um certo Capitão Rodrigo d) A criação de um modelo de Cambará: o macho audacioso, mulherengo e sempre metido em revoluções. De certa forma, os valores caudilhescos e machistas desse personagem cristalizam o ideal de hombridade vigente na província até meados do século XX. e) A cena espetacular da extrema-unção que o padre Lara oferece a Rodrigo moribundo, exigindo antes que o seu amigo se arrependesse de todos os pecados. Reunindo suas últimas forças, o Capitão Cambará faz uma figa ao sacerdote que sai dali horrorizado. f) Igualmente importante é a cena - já referida no resumo - do duelo entre Rodrigo e Bento Amaral, e a marca incompleta que o Capitão deixa no rosto do último. g) A paixão de Bibiana pelo gaudério é a melhor realizada entre todos os casos amorosos que povoam O tempo e o vento. Independentemente dos adultérios de que é vítima, do abandono e do desprezo do marido pela vida doméstica, ela continua amando-o como no primeiro dia em que o viu. "Queria vê-lo mais uma vez, só uma vez"- pensa ela durante a Revolução e um pouco antes do último encontro amoroso, numa sublime confissão de desejo e afeto. h) O fato de Bibiana reproduzir sua avó, Ana, tanto na obstinação, nos silêncios, no ódio à guerra e às revoluções, na profissão de parteira e na lembrança dos mortos, dando sequência ao arquétipo feminino do romance. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Sim, um dia Pedro Terra necessitara de recursos para plantar uma lavoura de linho e trigo (sempre a mania do trigo!) e por isso fora obrigado a pedir dinheiro emprestado a Aguinaldo Silva, dando-lhe como garantia sua casa e o terreno de esquina, cujo valor era três vezes maior que o do empréstimo. Numa sucessão de safras infelizes a lavoura se fora águas abaixo e como, vencido o prazo da hipoteca, Pedro não tivesse dinheiro para resgatá-la e Aguinaldo não quisesse dar-lhe a menor prorrogação, as propriedades dos Terras passaram inteiras para as mãos do avô de Luzia. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Sante Fé tem novo Padre: Otero A história de Aguinaldo Silva : fuga do Nordeste após assassinar o amante de sua esposa e sua esposa, chegada em Santa Fé - Construçãodo Sobrado : casa maior do que a dos Amaral, construída sobre as terras de Pedro Terra - Aguinaldo também é dono de uma Fazenda: Angico - Aguinaldo adota coma neta uma menina de um orfanato e a manda para o RJ estudar : Luzia Silva - Luzia chega a Santa Fé e causa admiração em todos por sua beleza e cultura ( toca cítara, recita poemas) - Florêncio e Bolívar ( primo-irmãos) se apaixonam por Luzia 1853: casamento entre Bolívar e Luzia O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Dr. Winter sobre os gaúchos: O código de honra daqueles homens possuía um nítido sabor espanhol. Falavam muito em honra. No fim de contas o que realmente importava para eles era “ser macho”. Outra preocupação dominante era a de “não ser corno”. Não levar desaforo para casa, saber montar bem e ter tomado parte pelo menos numa guerra eram as glórias supremas daquela gente meio bárbara que ainda bebia água em guampas de boi. E a importância que o cavalo tinha na vida da Província! Para os continentinos o cavalo era um instrumento de trabalho e ao mesmo tempo uma arma de guerra, um companheiro, um meio de transporte; para alguns gaúchos solitários as éguas serviam eventualmente de esposa. Winter conhecia ali homens que à força de lidar com cavalos começavam já a ter no rosto traços equinos. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Dr. Winter compara Luzia a Teinaguá : Luzia é sádica, como a teiniaguá, uma lenda gaúcha que conta a história de uma princesa moura transformada em lagartixa com cabeça de diamante, a qual gosta de ver outros sofrerem, mas sua beleza atrai todos os homens (O raciocínio proposto pelo episódio ―A teiniaguá, ao proceder à leitura de ―A Salamanca do Jarau, é linear: transplantada a bela princesa do mundo da idealidade mítica para o da materialidade histórica, ela só poderia se mostrar louca e má. Somente uma pessoa malévola aceitaria a missão de perder os homens; apenas um indivíduo de tendência sádica teria prazer em assistir à destruição dos demais. É linear e simples, porém correto: a princesa moura, colocada no patamar realista com que Erico a pensa, mostra-se um ser que provoca a desgraça dos outros, não por desamá-los, mas por ser este um componente de seu caráter. Dá-se um rebaixamento do status da personagem, ao passar do âmbito da magia para o do mundo ordinário, resultado da desmitificação; contudo, Luzia não perde em fascínio, nem em densidade, apenas se aproxima dos homens, mostrando-se e mostrando-os tais como são.) O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Luzia observa ( quase orgasticamente) o enforcamento de um escravo condenado; “negro não é gente” 1854: Aguinaldo cai do cavalo e Luzia passa ao seu lado ate a hora da morte ( por respeito ou para ver a morte de perto?) Juvenal Terra exibe um punhal de prata... Luzia grávida : Licurgo Cambará Bibiana revela que Leonor (sua filha) mora em Santa Cruz e está casada com um fazendeiro, mas não tem filhos 1855: Florêncio Terra se casa com Ondina O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Florêncio se torna pai : Juvenal Neto 1856: viagem de Bolívar e Luzia a Poa: Epidemia de cólera – A Peste ( mais de mil mortos ) Retorno do casal a Santa Fé : Cel. Bento Amaral ordena quarentena ao Sobrado Dr. Winter era o único que poderia entrar e sair; guardas vigiavam 24hs o Sobrado Bibiana impede Bolívar e Luzia de chegarem perto de Licurgo (medo da peste) Discussão forte entre Bibiana e Luzia Luzia acaba esbofeteada por Bolívar Bolívar transtornado decide descumprir as ordens de Bento Amaral, sai à rua e acaba assassinado pelos guardas Dr. Winter relata que no enterro de Bolívar, Luzia parecia uma esposa inconsolável diante da morte do marido O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O que destacar em A teiniaguá a) O caráter doentio de Luzia, indicando, de certa forma, que todas as mulheres que ousassem quebrar o silêncio e a aceitação resignada da dominação masculina, teriam um preço muito alto a pagar por sua autonomia. b) A identificação - feita pelo Dr. Winter - entre Luzia e a lenda da teiniaguá - a princesa moura transformada em lagartixa e que leva os homens à perdição. c) A quebra da hegemonia masculina nas relações afetivas e sexuais. Bolívar é um escravo de Luzia, em proporção semelhante à prisão amorosa e social de que Bibiana e as demais mulheres sofriam em seus relacionamentos com os homens. d) A personalidade complexa do Dr. Winter, que, além de suas penetrantes análises da vida provinciana, revela forte ambigüidade diante do universo local. O que um europeu educado e sensível faz naquela sociedade "tosca e carnívora, que cheirava a sebo frio, suor de cavalo e cigarro de palha"? Ao mesmo tempo, aquele mundo primitivo o prende com o fascínio de sua selvageria, com a beleza de suas paisagens e com a disposição hercúlea de seus homens e mulheres que iniciam uma nova sociedade. e) De alguma maneira, o Dr. Winter é a expressão da acentuada curiosidade européia pela vida nas regiões remotas, traduzida, por exemplo, em centenas (ou talvez milhares) de viajantes cultos que estiveram no Brasil, no século XIX, e que sobre suas viagens deixaram uma significativa quantidade de belos relatos. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Repare numa dessas fascinantes observações do Dr. Winter sobre a vida em Santa Fé, dirigidas ao intelectual alemão Carlos von Koseritz: "Mein lieber Baron. Faz hoje quatro anos que estou em Santa Fé. Já não uso mais chapéu alto, minhas roupas européias se acabam e eu desgraçadamente me vou adaptando. Sinto que aos poucos, como um pobre camaleão, vou tomando a cor do lugar onde me encontro. Já aprendi a tomar chimarrão, apesar de continuar detestando essa amarga beberagem. (...) Estes invernos rigorosos de Santa Fé, em que às vezes sentimos mais frio dentro das casas que fora delas, me ensinaram a beber uma mistura deliciosa. É cachaça com mel e suco de limão. Positivamente divino! Se te contarem, Carlos, que morri embriagado numa sarjeta em Santa Fé, podes acreditar na história, apenas com uma restrição: é que em Santa Fé não tem sarjetas pela simples razão que não tem calçadas, como também não tem lampiões nas ruas e como, em última análise, não tem nada. Talvez seja essa carência de tudo que me fascina e me prende." O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Fandango, Jose Meneses, 60 anos, arquétipo do gaúcho, tal qual BLAU NUNES ( Contos Gauchescos) Índio velho sem governo, Minha lei é o coração. Quando me pisam no poncho, Descasco logo o facão, E se duvidam perguntem À moçada do rincão. Fandango cita vários ensinamentos, provérbios, ditos gauchescos ( todos retirados de Artigos de Fé, de Contos Gauchescos) Educação gauchesca de Licurgo Bibiana : “ainda que a guerra no Paraguai tenha terminado, a daqui – Sobrado - ainda não terminou O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O que destacar em A guerra a) A astúcia do narrador que começa o capítulo falando da Guerra do Paraguai e, em seguida, abandona o conflito bélico para revelar a luta surda e odiosa das duas mulheres pela posse dos bens e de Licurgo. A guerra entre nações transforma-se em guerra de mulheres. b) A obstinação cruel de Bibiana em destruir a nora, Luzia. Isso serve para quebrar uma certa idealização - construída nos capítulos anteriores - a respeito das mulheres da linhagem Terra. c) A cena terrivelmente dramática em que Luzia, tocando cítara em surdina, diz várias vezes a Licurgo que vai morrer por causa do tumor em seu estômago e que ele ficará abandonado, completamente sozinho, ao contrário de outros jovens que têm pai e mãe, levando o rapaz à exasperação. d) A figura de Fandango, calcada em Blau Nunes, de Simões Lopes Neto. Depositário de todo um mundo gauchesco de referências, de uma linguagem de rica originalidade, centrada em ditos e provérbios regionais, ele encarna a sabedoria popular dos homens do campo. É com ele que Licurgo faz sua educaçãoinformal. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Licurgo publica no Democrata que dará uma grande festa na qual anunciará alforria a todos os seus escravos, enfurecendo Bento Amaral Fandango : “negro nasceu para ser mandado” A Cavalhada ( festa teatral , tradição portuguesa cristã) Licurgo x Alvarino Amaral Princípio de confusão, chegada de Bento Amaral com pistola em punho, Padre Romano se interpõe, a confusão se desfaz Festa de Licurgo : abolição de 30 escravos Toribio Rezende lê poemas de Castro Alves Ismália revela estar grávida; Alice também estava Dr. Winter mostra trechos do diário de Luzia ( morta por câncer) a Licurgo; algumas páginas estavam arrancadas ( por Bibiana? ) O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O que destacar em Ismália Caré a) O quadro vivo da contenda política entre as frações dirigentes (Amaral versus Cambará), cujos rancores e ódios já estão latentes antes da República e do triunfo do castilhismo. b) A ambiguidade moral de Licurgo perante a sua futura esposa, Alice, pois não pretende se livrar (nem se livrará) da amante, Ismália Caré. c) A sua ambiguidade ética no caso da libertação dos escravos. Apesar da grandeza de seu gesto, subjetivamente ele sente raiva e irritação com "aqueles negros" que pisam na sala do Sobrado, alguns aturdidos e outros, arrogantes. d) O surgimento de Maria Valéria Terra, cunhada de Licurgo, de grande importância em episódios seguintes. O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Bibiana sentencia : “noite de ventos, noite dos mortos” Licurgo pensa em Ismália Caré, como estaria ela no Angico? Licurgo relembra com dor a “traição” política de seu amigo Toríbio Rezende, que se uniu aos Federalistas Morre Tinoco Fandango conta a lenda do Negrinho do Pastoreio aos meninos Rodrigo e Toríbio Antero se arrisca e sai na tentativa de buscar o Dr. Winter, pois Alice piora ainda mais Venta forte O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Licurgo, convencido por Maria Valéria, com medo de perder a esposa, decide perder trégua, mas, antes de tremular a bandeira branca de rendição, percebe a chegada de Antero, Winter e do Padre Romano, a revolução acabara com a vitória dos republicanos O sobrado não se rendeu! Toríbio e Rodrigo tocam o sino da igreja Licurgo imagina o telegrama que deveria enviar a Julio de Castilhos Fandango encontra Florêncio morto Fandango decide contar a Bibiana, mas não consegue O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO Provável questão: os homens Rodrigo Cambará : morre ao invadir o casarão dos Amarais (combate) Bolívar Cambará : morre por não aceitar o cerco imposto pelos Amarais ao Sobrado (combate) Licurgo Cambará: vence a família Amaral (resistência) O C O N TIN EN TE PROF. DANTE GONZATTO UMA ANÁLISE DE O CONTINENTE Flávio Loureiro Chaves "Uma crônica de sangue pontuada por sucessivas guerras, eis o cenário onde brota a gênese da Província de São Pedro. Ao início de O continente, no episódio de Ana Terra, o espaço físico foi inteiramente destruído após um ataque de castelhanos que massacraram todos os homens válidos da fazenda de Maneco Terra. Sob a imensidão do campo, duas mulheres e duas crianças sepultam os seus mortos. Desses escombros surge a personagem de Ana Terra, armada de uma confiança absurda em si mesma, que se integra na caravana pioneira para fundar, muito distante, a vila de Santa Fé. Com ela segue o filho, que será o pai de Bibiana; e assim fica assegurada a continuidade da vida. A mesma intriga, distribuída por diferentes níveis de temporalidade, repete-se várias vezes na sucessão de gerações de Terras e Cambarás. (...) Na personagem Ana Terra se reedita o primeiro dia da criação, a imagem primitiva da fecundação, enquanto antítese da morte. Diz Erico: 'Penso nela como uma espécie de sinônimo de mãe, ventre, terra, raiz, verticalidade, permanência, paciência, espera, perseverança, coragem moral.' Há um estranho paradoxo em O continente. Essa epopéia, cuja linha episódica foi traçada no encadeamento dos feitos guerreiros, parece ter sido escrita para reafirmar a insanidade da guerra. Enquanto a seqüência cronológica avança mediante lutas fratricidas entre Cambarás e Amarais, a visão de mundo do autor, sua crença nos valores permanentes da vida, está expressa na saga de Ana Terra e nos silêncios de Bibiana."
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