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Érika Cerri dos Santos 
UFES 2022.1 
DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
HOMICÍDIO 
 
 
 
 
Matar -> eliminar a vida; ação dirigida à antecipação temporal do lapso de vida 
Alguém -> pessoa humana1 que não o agente 
 
Segundo Nucci (2022, b), o homicídio é a supressão da vida de um ser humano causada por outro. Segundo Bitencourt 
(2022), homicídio é a eliminação da vida de alguém levada a efeito por outrem. 
Pode-se observar que o bem jurídico tutelado, portanto, é a própria vida extrauterina. 
A proteção à vida tem seu fundamento jurídico na Constituição Federal, propagando-se para os demais ramos do 
ordenamento jurídico e considerado um direito fundamental indispensável ao desenvolvimento da pessoa humana 
(Nucci, 2022, a). A importância do bem da vida justifica a preocupação do legislador brasileiro, que não se limitou a 
protege-la com a tipificação do homicídio, mas lhe reservou outras figuras delituosas, como o aborto, o suicídio e o 
infanticídio (Bitencourt, 2022, b). 
Importante mencionar que, apesar de a vida ser protegida desde à sua concepção, o crime de homicídio apenas se 
configura quando há a supressão da vida a partir do início do trabalho de parto, quando se inicia a vida 
extrauterina2. Já a morte, segundo alguns doutrinadores, ocorre quando há o fim das atividades cerebrais3. 
Segundo Nucci (2022, a), a morte ocorre quando há a cessação das funções vitais do ser humano. 
 
Quando se inicia a vida? 
Trata-se de uma questão analisada e debatida por muitos 
pesquisadores. Para os fins do Direito Penal brasileiro, a 
vida se inicia a partir do início do trabalho de parto, 
com o rompimento do saco amniótico. 
 
 
 
1 Qualquer pessoa pode ser vítima de homicídio. E qualquer pessoa pode cometer um homicídio. Trata-se, portanto, de um crime comum. 
2 Quando normal, a partir das contrações. Quando cesárea, a partir do primeiro corte na barriga da mãe. 
3 De acordo com a Lei 9.434/97, para fins de transplante de órgãos, a morte é constituída pela interrupção da atividade encefálica, o 
estado irreversível de cessação de todo o encéfalo e funções neurais. 
Art. 121, CP: Matar alguém 
Pena – reclusão, de seis a vinte anos 
Simples doloso 
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ELEMENTOS DO TIPO HOMICÍDIO SIMPLES DOLOSO 
ELEMENTO OBJETIVO 
A ação de matar. Matar é o núcleo do tipo. 
A ação de matar é livre. 
ELEMENTO SUBJETIVO 
Dolo 
SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa 
SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa maior de 18 anos, que não a vítima 
ELEMENTO NORMATIVO Não possui. 
 
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE HOMICÍDIO 
O crime de homicídio é: 
❖ Crime comum; 
❖ Instantâneo; 
❖ Material; 
❖ Efeitos permanentes; 
❖ Naturalmente comissivo; 
❖ Plurissequente; 
❖ Unissubjetivo. 
 
A MATERIALIDADE DO HOMICÍDIO 
O homicídio é um crime material, ou seja, depende diretamente do resultado morte para que seja configurado4. 
A materialidade do homicídio, muitas vezes, pode ser verificada a partir da existência do cadáver. Entretanto, a 
ausência de cadáver por si só não é fundamento suficiente para negar a existência de homicídio, caso outros meios 
de prova levem à constatação do crime5. 
A consumação do crime de homicídio integra o próprio tipo penal6. Por isso, o Código de Processo Penal exige que sua 
materialidade seja comprovada por meio do auto de exame de corpo de delito quando há a existência de vestígios. 
Na impossibilidade da realização desse exame, admite-se a prova testemunhal (art. 167, CPP). 
. 
 
 
 
4 O crime material é aquele que depende de um resultado naturalístico para que seja consumado. 
5 Caso Goleiro Bruno e Elisa Samúdio. 
6 Para que o crime de homicídio seja configurado, é preciso que haja a morte do sujeito. O tipo tentado surgirá a partir da conjugação do 
art. 121 com o art. 13 do CP. 
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Art. 158, CPP: Quando a infração deixar vestígios, será 
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não 
podendo supri-lo a confissão do acusado. 
 
 
 
 
 
 
 
FORMAS 
No Brasil, o homicídio pode ser classificado penalmente nas seguintes formas: 
 
FORMAS PENAIS DO CRIME DE HOMICÍDIO 
Simples Doloso 
Simples Culposo 
Qualificado 
Privilegiado 
Majorado 
Tentativa 
 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: A consumação ocorre quando, de fato, tem-se o resultado morte (crime material). 
Trata-se da fase última do atuar do criminoso. 
Por se tratar de um crime material, o homicídio também admite a forma tentada, a qual é configurada a partir da 
cumulação entre os arts. 14, II, e 121, do CP. A tentativa ocorre quando, iniciada a execução do crime, esta é cessada 
por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
A tentativa pode ser classificada como cruenta ou branca, perfeita ou imperfeita. 
 
Exame de Corpo de Delito 
Perícia destinada à comprovação da materialidade 
das infrações que deixam vestígios 
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HOMICÍDIO SIMPLES DOLOSO: É o mencionado no caput do art. 121 do CP. Essa forma de homicídio pode levar de seis 
a vinte anos de reclusão e tem como elemento subjetivo fundamental o dolo, ou seja, a vontade de matar ou a 
assunção do resultado. 
Para o homicídio doloso, seja qualificado, simples ou privilegiado, o Código Penal prevê duas causas de aumento de 
pena (majorantes): 
 
Art. 121, §4º, CP: Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é 
praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos. 
 
Art. 121, §6º, CP: A pena é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado por 
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança ou por grupo de 
extermínio. 
 
HOMICÍDIO SIMPLES CULPSO: É o homicídio causado devido à imprudência, negligência ou imperícia, casos em 
que não há o elemento do dolo, mas sim a culpa. 
Nos crimes culposos, o núcleo existente consiste na divergência entre a ação efetivamente praticada e a que devia 
ter sido realizada, em virtude da observância do dever objetivo de cuidado. 
 
Art. 18, CP 
NEGLIGÊNCIA Inobservância de norma a que se estava 
sujeito por dever de conduta. 
IMPRUDÊNCIA Desnecessária aceitação de um perigo. 
IMPERÍCIA Inabilidade para certas tarefas. 
 
A doutrina, muitas vezes, faz a separação entre culpa consciente e culpa inconsciente. A culpa consciente é aquela 
em que o agente prevê o resultado, mas tem a convicção de que ele nunca ocorrerá 7. Já a culpa inconsciente se trata 
daquela em que o agente não prevê o resultado. 
Para o homicídio simples culposo, é prevista uma causa de aumento de pena (majorante): 
 
Art. 121, §4º, CP: No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3, se o crime resulta 
de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou oficio, ou se o agente deixa de 
 
7 Difere da hipótese de dolo eventual, na qual o agente prevê o resultado, mas assume o risco e o resultado. Nesse caso, o crime será de 
homicídio doloso. 
Um dos principais fatores 
para a avaliação da culpa é a 
previsibilidade do agente. 
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prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, 
ou foge para evitar prisão em flagrante. 
 
Além disso, o Código Penal também prevê a possibilidade de perdão judicial: 
 
Art. 121, §5º, CP: Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a 
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave 
que a sanção penal se torne desnecessária. 
 
Nesse caso, as consequências do crime foram tão graves, que a própria imposição da pena não tem mais qualquer 
eficácia na ressocialização ou aprendizagem para o indivíduo, vez que as próprias consequências já lhe causaram o 
suficiente de sofrimento e/ou aprendizagem. 
 
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO: O homicídio privilegiado tem a natureza jurídica de causa de diminuição de pena, ou 
minorante. Em linhas gerais, há a diminuição da pena em 1/6 a 1/3 nos casos previstos pelo art. 121, §1º, do CP. 
 
Art.121, §1º, CP: Se o agente comete o crime compelido por motivo de relevante valor 
social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta 
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
 
Os dois elementos que configuram o homicídio privilegiado têm relação com os motivos determinantes do crime. 
 
RELEVANTE VALOR MORAL 
A motivação tem relação com sentimento de ordem 
pessoal. Trata-se de valor aprovado pela ordem moral, 
como por exemplo a compaixão e a piedade. 
RELEVANTE VALOR SOCIAL 
Trata-se de valor compartilhado socialmente, tipo pela 
sociedade como um motivo que justifica o crime. 
Tem como motivação os interesses coletivos. 
DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO 
Trata-se de emoção intensa, violenta, absorvente, que 
seja capaz de reduzir quase que completamente a vis 
electiva, em razão dos motivos que a eclodiram, 
dominando o autocontrole do agente. 
 
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O homicídio privilegiado pode ser qualificado. Entretanto, a lei não prevê a hediondez deste, como prevê a do homicídio 
puramente qualificado. Por isso, reconhecer o privilégio do homicídio qualificado retira sua qualidade de 
hediondo. 
Além disso, não é possível se ter um crime privilegiado cumulado com uma qualificadora subjetiva, vez que não se 
pode acumular dois elementos subjetivos dessa forma no crime de homicídio. Ou o crime foi cometido por relevante 
valor moral ou foi cometido por motivo fútil8. 
 
HOMICÍDIO QUALIFICADO: Trata-se de homicídio de natureza hedionda (art. 1º, I, da Lei 8.072/90). Para esse tipo de 
crime, a lei prevê pena de 12 a 30 anos de reclusão. 
A qualificação do crime aumentada a cominação de pena para 12 a 30 anos. 
As qualificadoras do crime de homicídio estão previstas no §2º do art. 121: 
 
M
O
TI
VO
S 
Q
UA
LI
FI
CA
DO
RE
S 
Mediante paga ou promessa de recompensa 
(Qualificadora subjetiva) 
Crime característico de execução mercenária. Segundo 
Bitencourt, se trata de uma das modalidades de torpeza na 
execução do homicídio. 
Trata-se de modalidade de crime de concurso necessário, no qual é 
indispensável a participação de, no mínimo, duas pessoas: quem 
paga e quem executa. 
Quem paga apenas responderá pela qualificadora caso seja 
demonstrado o motivo torpe pelo qual mandou pelo crime. 
Motivo torpe 
(Qualificadora subjetiva) 
Torpe é o motivo que atinge mais profundamente o sentimento 
ético-social da coletividade. Motivo repugnante, vil, abjeto, indigno. 
A torpeza do motivo está na causa de sua existência. 
Motivo fútil 
(Qualificadora subjetiva) 
É o motivo insignificante, banal, desproporcional à ação criminosa. 
M
EI
O
S 
Q
UA
LI
FI
CA
DO
RE
S 
Meio insidioso9 
(Qualificadora objetiva) 
Recurso dissimulado, que oculta o verdadeiro propósito do 
agente. 
Uso de veneno, quando de modo dissimulado, como cilada, sendo 
indispensável que a vítima desconheça a circunstância de estar 
sendo envenenada. 
Veneno – qualquer substancia que tenha idoneidade para provocar 
lesões no organismo. 
 
8 Em outras palavras: o crime privilegiado não pode ser qualificado por uma qualificadora subjetiva, apenas por qualificadoras objetivas, 
que têm relação com a forma com que o homicídio foi praticado. 
9 Segundo o Dicionário, o termo insidioso significa “que parece benigno, mas pode ser ou tornar-se grave e perigoso”. 
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Meio cruel 
(Qualificadora objetiva) 
Forma brutal de perpetrar o crime, meio bárbaro, martirizante. 
Homicídio por asfixia ou tortura. 
Administração de veneno forçada, com a consciência da vítima. 
Meio que possa resultar em perigo comum 
(Qualificadora objetiva) 
Trata-se de meio que pode atingir diversas vítimas além da que se 
pretende atingir, 
Meio extensivamente perigoso, como fogo e explosivo. Estes 
também podem ser considerados meios cruéis, a depender das 
circunstâncias do crime. 
Emprego de arma de fogo de uso restrito 
(Qualificadora objetiva) 
- 
 
M
O
DO
S 
Q
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LI
FI
CA
DO
RE
S 
Traição, emboscada, dissimulação, surpresa 
(Qualificadora objetiva) 
Ataque sorrateiro ou inesperado. 
Tocaia, espreita. 
Ocultação da intenção hostil. 
Recurso que dificulte ou impossibilite defesa 
da vítima 
(Qualificadora objetiva) 
A vítima não teve nenhuma chance de evitar o resultado 
morte. 
FI
N
S 
Q
U
AL
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AD
O
RE
S 
Assegurar a execução, ocultação, impunidade 
ou vantagem de outro crime 
(Qualificadora subjetiva) 
Essas qualificadoras constituem o especial fim de agir. 
Q
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LI
FI
CA
DO
RA
S 
ES
PE
CI
AI
S 
Homicídio contra integrantes de órgãos da 
segurança pública e seus familiares 
(Qualificadora objetiva) 
São qualificadoras quando o crime ocorre no exercício da 
função ou em razão dela, ou contra seus familiares em 
razão dessa condição. 
Feminicídio 
(Qualificadora objetiva/subjetiva) 
O agente comete o crime contra a mulher em razão de 
sua condição de ser mulher. 
A lei prevê que o feminicídio se configura nos casos de 
violência doméstica, hipótese em que a qualificadora é 
objetiva, nos casos de misoginia, hipótese em que a 
qualificadora é subjetiva. 
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É possível a cumulação de qualificadoras, com exceção das qualificadoras subjetivas. Ou seja, não é possível cumular 
duas qualificadoras subjetivas, mesmo porque elas se ligam à vontade do agente. 
Além disso, os motivos que qualificam o crime, na hipótese de concurso de pessoas, são diferentes, uma vez que a 
motivação é individual. 
 
FEMINICÍDIO: O crime de feminicídio é aquele cometido contra a mulher por razões intrínsecas à condições de ser 
mulher. 
O Código Penal prevê essa situação como uma qualificadora do crime de homicídio, atribuindo-lhe a pena de 12 a 30 
anos de reclusão (art. 121, §2º, VII, CP). 
Além disso, o §7º do art. 121 ainda indica as majorantes relacionadas ao crime de feminicídio, quais sejam: 
❖ Quando o crime é praticado contra gestante; 
❖ Quando o crime é praticado contra puérpera, 3 meses após o parto; 
❖ Contra mulher menor de 14 anos; 
❖ Contra mulher maior de 60 anos; 
❖ Contra mulher portadora de deficiência; 
❖ Contra mulher portadora de doenças degenerativas; 
❖ Quando o crime é pratica na presença de descendente ou ascendente da vítima; 
❖ Quando há descumprimento das medidas protetivas de urgência.

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