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Exercício I 1- Quais os crimes contra a vida? Os crimes contra a vida são aqueles descritos no capítulo I, título I do código penal. Isto é, o homicídio (art. 121), instigar ou induzir alguém a suicidar-se (art. 122), o infanticídio (art. 123) e o crime de abortamento (art. 124 ao art. 128). 2- Qual o bem jurídico protegido pelo artigo 121 do CP? O bem jurídico tutelado pelo art. 121 é a vida humana, ou na definição de Figueiredo Dias “a vida humana já nascida”. Ou ainda a vida extrauterina. 3- Qual o conceito de homicídio? De acordo com a definição legal, homicídio: matar alguém. Contudo existem diversas definições doutrinárias do que seria o crime de homicídio. Na definição clássica de Carmignani: “homicídio é a ocisão violenta de um homem injustamente praticado por outro homem”. Para Hungria, o homicídio é o crime por excelência, é o padrão da delinquência violenta, ou sanguinária que representa como que uma reversão atávica às eras primitivas”. Ou seja, é a destruição da vida humana praticada por outrem. 4- O que é homicídio preterdoloso? O homicídio preterdoloso é caracterizado pela prática de uma conduta anterior dolosa e deste decorre uma conduta posterior culposa. Isto é, o crime é dividido em dois momentos, primeiramente, o agente realiza uma ação dolosamente e em decorrência desta ação o agente produz um resultado culposamente. Para a doutrina, no primeiro momento há o dolo antecedente que provoca um resultado mais grave do que o esperado gerando um momento, a posteriori, de culpa no consequente. Por exemplo, no primeiro momento o agente pretende lesionar a vítima (dolo antecedente), contudo o resultado extrapola o dolo do agente e a vítima acaba morrendo (culpa consequente). Assim, no homicídio preterdoloso agente tem a intenção dolosa de realizar um crime, um ilícito penal, contudo o resultado obtido extrapola o dolo do agente, isto é, gera um resultado diferente do que pretendia o agente, no caso do homicídio, a morte da vítima, de maneira culposa. 5- Quem pode ser sujeito ativo no crime de homicídio? O homicídio é um crime comum, ou seja, o sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa humana, não sendo exigida qualquer condição especial. 6- Qual o momento consumativo no crime de homicídio? É possível a tentativa? e a desistência voluntária? e o arrependimento eficaz? De acordo com o código penal, art. 14, I: o crime consumado ocorre quando nele reúnem-se todos os elementos de sua definição legal. Assim, a consumação do crime de homicídio ocorre com a produção do resultado naturalístico, isto é, a morte da vítima. Portanto, o momento consumativo do homicídio se dá com a morte da vítima. Ainda, de acordo com a lei 9.434/97 estabelece que a morte ocorre com o fim da atividade cerebral, ou seja, com a morte encefálica. A tentativa, de acordo com o código penal, art. 14, II ocorre quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. O homicídio é um crime plurissubsistente, ou seja, a execução do tipo penal pode ser fracionada em vários atos. Assim, homicídio admite a tentativa, quando o agente inicia a execução do crime, isto é, com o dolo de matar a vítima e por circunstâncias alheias à sua vontade o crime não é consumado, ou seja, a vítima não morre. O agente irá responder por tentativa de homicídio. A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são regulados pelo art. 15 do CP que escreve: O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Assim, é mister diferenciar os dois institutos penais. No que tange a desistência voluntária, embora o agente tenha iniciado a execução este desiste voluntariamente de prosseguir com os atos executórios. O homicídio admite a possibilidade de desistência voluntária, ou seja, quando o agente inicia a execução, contudo, decide, mesmo que não tendo esgotado todos os atos executórios, não prosseguir com o homicídio. No que diz respeito ao arrependimento eficaz, o agente esgota todos os meios executórios que estão ao seu alcance, assim, encerrando a fase executória da conduta tipificada. O agente atua no sentido de impedir que o resultado da sua conduta seja consumado. Ensina o Ministro do STJ Cernicchiaro, o arrependimento eficaz situa-se entre a execução e a consumação. Nos casos de homicídio, ocorre a possibilidade do arrependimento eficaz. Ou seja, o agente esgota todos os meios executórios da conduta, contudo, arrepende-se e impede a consumação do crime, isto é, a morte da vítima. 7- Quando se inicia a vida extrauterina? Na doutrina, há certa divergência no que concerne ao entendimento de quando tem início a vida extrauterina. Para Nucci, “o correto seria considerar a vida extrauterina a partir do instante em que se instala o processo respiratório autônomo do organismo do ser que está nascendo, não dependente da mãe para sobreviver.” Para, Rogério Sanches Cunha e Luís Regis Prado, “a vida extrauterina de um indivíduo começa com o início do parto, isto é, o início das contrações expulsivas e nas hipóteses em que o parto não tem início naturalmente com o início da técnica médica ou intervenção cirúrgica.” Greco, argumenta, “a vida começa com o parto, com o rompimento do saco amniótico.” O entendimento majoritário é que a vida extrauterina tem início com o rompimento do saco amniótico. 8- O agente que, sabendo ser portador do vírus HIV, oculta a doença da parceira e com ela mantém conjunção carnal, pratica qual crime? Para os casos em que o agente transmite dolosamente o vírus causador da AIDS, ocultando do parceiro sexual ser portador do vírus HIV, a doutrina converge para o entendimento que o agente pratica fato típico, isto é, a doutrina concorda que o agente comete ilícito penal. Contudo, não há consenso no sentido de definir qual tipo penal deve ser imputado ao agente. Há na doutrina diversas posições divergentes do tipo penal que deve recair sobre o agente. A primeira corrente entende que o crime que deve ser imputado ao é o descrito no art. 131 do CP, ou seja, “praticar com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que se está contaminado, ato de produzir contágio”. A dificuldade na consolidação desse entendimento ocorre, pois não há consenso no que tange ao significado da expressão – moléstia grave. Há quem defenda que o ato descrito deve ser classificado como homicídio, isto é, o agente transmite a doença com o dolo de causar a morte a outrem, isto é, o agente transmite a doença objetivando que esta seja fatal a seu parceiro. Sendo considerado homicídio consumado quando ocorre a morte da vítima como desdobramento da doença e tentativa de homicídio quando a vítima não morre em decorrência da doença. Existe, também, uma terceira corrente que entende que o tipo penal praticado pelo agente é aquele descrito no art. 129 do CP, inciso segundo parágrafo segundo. Art. 129 §2º, II “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, §2º se resulta, II- enfermidade incurável. Ou seja, o crime imputado ao agente deve ser o de lesão corporal gravíssima. Ainda, há quem defenda, como no caso de Rogério Sanches Cunha, que há a possibilidade de aplicação das três apresentadas sendo necessário observar o dolo do agente. Nesse sentido, prevalece o terceiro entendimento doutrinário como majoritário, inclusive, sendo respaldado por decisões emitidas pelo STF e STJ, HC 98.712/ RJ e HC 160.982 DF, respectivamente. Ainda é possível fazer menção ao art. 130 do CP, expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado. No julgamento do HC 98.712/ RJ, o Ministro-relator Marco Aurélio defende que a síndrome da imuno deficiência humana não é tratada no art. 130 do CP e seguintes, tendo em vista que o artigo não faz menção a enfermidades em cura. 9- Explique e exemplifique o homicídio privilegiado. O homicídio privilegiado é aquele que está descrito no art. 121 §1, “Se o agente comete o crimeimpelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.” Assim, a legislação prevê três hipóteses em que o homicídio será considerado privilegiado. Quando o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social, isto é, diz respeito a interesses de toda uma coletividade. A doutrina utiliza um exemplo clássico, matar o traidor da pátria. Na segunda hipótese, relevante valor moral, o agente comete o tipo penal por interesses particulares, individuais, como sentimentos de piedade, compaixão. É o caso da eutanásia, o agente objetivando aliviar o sofrimento da vítima comete o ilícito. Contudo, é importante salientar que é necessário que os motivos para que ocorra o homicídio privilegiado devem ser relevantes. Ensina Cezar Roberto Bitencourt “não será qualquer motivo social ou moral que terá a condição de privilegiar o homicídio: é necessário que seja considerável, seja relevante, importante, digno de apreço.” A última hipótese que torna o homicídio privilegiado são os casos em que é cometido sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida de injusta provocação da vítima, também chamado de homicídio emocional. Nessa hipótese, a doutrina esclarece que se faz necessária a presença de três requisitos. O primeiro, domínio de violenta emoção, isto é, uma emoção violenta que seja capaz de fazer o agente perder o controle, que faça o agente ficar totalmente desgovernado. Segundo reação imediata. Ou seja, o agente deve reagir imediatamente após a injusta provocação da vítima não sendo admitido que haja um hiato temporal entre a provocação injusta e a reação do agente. E, por fim, a injusta provocação da vítima, diz respeito a uma ação injuriosa, não necessariamente uma agressão física, mas podendo ser qualquer conduta que incite o agente, inclusive podendo ser dirigida a terceiros. Por exemplo, um sócio que assassina outro ao descobrir que o primeiro o aplicou um golpe. 10- O homicídio simples pode ser crime hediondo? Em regra, o homicídio simples, isto é, aquele descrito no art. 121 caput, não é considerado crime hediondo. Contudo, a lei 8.072/ 90 prevê uma hipótese em que o homicídio simples será considerado crime hediondo, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. Para Cezar Roberto Bitencourt: “caracteriza-se a ação de extermínio mesmo que seja morta uma única pessoa, desde que se apresente a impessoalidade da ação, ou seja, pela razão exclusiva de pertencer ou ser membro de determinado grupo social, ético, econômico, étnico etc.” 11- O homicídio qualificado é crime hediondo? Em regra, todas as hipóteses de homicídio qualificado, aquele descrito no art. 121 § 2º I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX, são considerados pela lei 8.072/ 90 como crimes hediondos. Isso ocorre, pois, o legislador considera que o homicídio qualificado é um ato que possui notável reprovabilidade social, merecendo, assim, o agravo de crime hediondo. 12- Na hipótese de homicídio privilegiado a redução da pena é obrigatória ou fica a critério do magistrado? Sim, reconhecido o homicídio privilegiado é obrigatória a redução da pena pelo magistrado. A doutrina majoritária, bem como a jurisprudência entendem que o legislador ao utilizar a expressão pode reduzir, no art. 129 §1º, refere-se a fração de pena que pode ser reduzida pelo magistrado e não a possibilidade de escolha do magistrado de reduzir ou não a pena do agente, isto é, a expressão utilizada pelo artigo não faculta ao magistrado a escolha de reduzir a pena, quando reconhecido o homicídio privilegiado a redução da pena é imperativa. 13- No homicídio mercenário, a qualificadora da torpeza se aplica ao mandante, ao executor ou a ambos? No que concerne ao homicídio mercenário, a doutrina entende que o executor do ilícito, ou seja, aquele que executa a vítima, sempre responderá por homicídio qualificado, nos moldes do art. 121, § 2º, I. Isso porque, a motivação do executor reside no recebimento de paga ou recompensa futuro, por isso, caracterizando o motivo torpe, portanto enquadrando-se como homicídio qualificado. Contudo, no que tange o mandante há diversas correntes doutrinárias que sustentam posições diferentes. A primeira entende que o caráter de torpeza se comunica automaticamente ao mandante, independente da motivação que o levou a contactar o executor. A segunda entende que o caráter de torpeza pode se comunicar ou não ao mandante, devendo ser observado o caso concreto. É nesse sentido que escreve Greco: Imagine um pai que tem sua filha de 15 anos estuprada. Quando este soube da notícia, não tendo coragem por si mesmo para causar a morte do estuprador da filha decide contratar um justiceiro para executar o serviço. Greco salienta que o mandante deverá responder por homicídio simples, ainda com diminuição de pena devido o relevante valor moral, o executor homicídio mercenário art. 121 §2º, I. A terceira entende que é impossível realizar a comunicação, pois a paga não é o motivo do mandante, mas sim a exteriorização que o faz concorrer ao crime, diferente do executor que tem a paga como motivação para cometer o fato típico. No STJ, há decisões proferidas em todos os sentidos, contudo a corrente doutrinária que tem prevalecido é a que prega que é possível realizar a comunicação, dada a motivação do mandante no caso concreto. 14- É correto dizer que o mandante de um crime, de acordo com a teoria restritiva, é considerado partícipe, enquanto, conforme a teoria do domínio do fato, é considerado coautor. De acordo como a teoria restritiva, adotada pelo código penal em seu art. 29, entende-se que autor é aquele que realiza a conduta típica descrita no tipo penal e partícipe aquele que de alguma forma concorre para o crime, ou seja, no crime de homicídio, por exemplo, autor é aquele que efetivamente mata a vítima, partícipe podendo ser aquele de algum modo instiga o autor a realizar a conduta típica. Na teoria do domínio do fato, idealizada, a priori, por Wenzel e desenvolvida, posteriormente, por Roxin entende que autor não necessariamente é apenas aquele que realiza a ação descrita no tipo penal, mas aquele que efetivamente exerce domínio sobre o fato, isto é, aquele que decide quando se dará a execução, a forma de execução, a cessação e demais condições do fato, ou seja, a teoria do domínio do fato amplia as possibilidades de quando o agente poderá ser considerado autor do crime. Nesse sentido, podemos conceber como autores do tipo penal. A) o autor intelectual, aquele que planeja o fato típico, contudo a execução se dá por outro agente. B) autor propriamente dito ou imediato, aquele que, por sua vontade, realiza a ação tipificada como crime. C) autor mediato, aquele que se vale de um não culpável, utilizando-o como instrumento para o cometimento de fato típico. Participe, por sua vez, é aquele que colabora dolosamente para o resultado, contudo não exerce domínio sobre a ação. Nessa perspectiva, no crime de homicídio mercenário, se considerarmos a teoria restritiva, o mandante não poderá ser considerado autor do fato, pois não realiza a ação prevista como delituosa, sendo considerado partícipe. Já sobre a égide da teoria do domínio do fato, o mandante pode ser considerado coautor, visto que exerce domínio sobre o fato. Podendo enquadrar-se como autor intelectual ou ainda autor mediato se utiliza não culpável para realizar o crime. 15- A vingança é motivo torpe? A doutrina entende que a vingança pode ou não ser considerada motivo torpe, dependendo da causa originária. Decidiu o STF: A vingança, por si só, não substantiva o motivo torpe, a imputação da torpeza do crime há de ser aferida à luz do contexto do fato. Por exemplo, um pai que mata o estuprador da filha, por vingança, não deverá responder por motivo torpe. O homem que mata, por vingança, o homem que o fez perder a vaga de concurso público, por ter conseguido nota superior em prova.16- A premeditação constitui circunstância qualificadora do homicídio? O homicídio qualificado, descrito no art. 121 § 2º I a IX não prevê a premeditação como qualificadora do crime de homicídio. Contudo, a doutrina esclarece que poderá ser usada, a depender do caso concreto, como circunstância judicial que agrava a pena do agente, enquadrando-se no art. 59 do CP. 17- No caso de homicídio qualificado-privilegiado surge uma pergunta: o crime será hediondo? O homicídio qualificado-privilegiado ocorre quando o homicídio é cometido por motivo de relevante valor moral, relevante valor social ou domínio de violenta emoção, de acordo com o §1º e recaindo também em uma das qualificadoras descritas no §2º, ambos do art.121. É importante salientar que para que ocorra o homicídio qualificado-privilegiado é necessário que não haja incompatibilidade entre as circunstâncias qualificadoras e privilegiadoras. Ou seja, dada as características subjetivas das privilegiadoras, necessariamente, para que possa ocorrer homicídio qualificado-privilegiado, o caso concreto deve recair em uma qualificadora objetiva (§2º, III, IV, IV, VIII, IX, depende VII. No sentido de considerar o homicídio privilegiado-qualificado crime hediondo, visto que homicídio qualificado é um crime hediondo, existem correntes nos dois sentidos. A primeira entende que o privilégio é preponderante sobre a qualificadora, assim, não sendo considerado crime hediondo. A segunda corrente entende que não se pode considerar que uma característica prepondere sobre a outra, assim, não se pode afastar a hediondez do fato, considerando o crime como hediondo. A primeira concorrente é a preponderante, inclusive, com decisão do STJ nesse sentido. O STJ entende que por incompatibilidade e por falta de previsão legal, sendo vedada a interpretação in malam partem, o crime não pode ser considerado hediondo. 18- Explique e exemplifique o homicídio culposo. De acordo com o CP, art. 18 II, o crime culposo ocorre quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Assim, o homicídio culposo ocorre quando o agente agindo por imprudência, negligência ou imperícia acaba provocando a morte de outrem. Exemplo, um motorista que não para no sinal vermelho, acaba colidindo com um motociclista que vem a óbito. O motorista não possuía o dolo de matar, ou seja, a intenção, contudo por imprudência mata a vítima. Enquadrando-se, assim, como homicídio culposo. 19- Qual a diferença entre homicídio praticado através da tortura do crime de tortura com resultado morte? A diferença reside no animus do agente, isto é, no dolo do agente. Enquanto no crime de homicídio praticado através da tortura o agente, desde o início, possui o animus de matar, o dolo de matar a vítima e utiliza a tortura como meio de realizar o homicídio, no crime de tortura com resultado morte, o agente possui o animusde torturar a vítima e da atitude sobrevém o resultado morte, culposamente. 20- Quais as hipóteses em que o homicídio é qualificado? O homicídio qualificado é aquele que se enquadra em algum dos incisos hospedados no §2º do art. 121, considerado sempre crime hediondo pela lei 8.072/90. São circunstâncias que qualificam o homicídio: I- mediante paga ou promessa de recompensa ou por motivo torpe, ou seja, quando a agente mata alguém objetivando receber recompensa por efetuar o ato ou por motivo torpe, isto é, motivo vil, ignóbil, repugnante. Exemplo: matar alguém para receber herança. II- Por motivo fútil, ou seja, por motivo insignificante, banal, desproporcional ao ato realizado pelo agente, exemplo: matar alguém que o fechou no trânsito. III- Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum, exemplo: matar alguém usando cianeto. IV - À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido, exemplo: matar alguém convidando-o para encontro romântico. V - Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime, exemplo: matar testemunha de crime cometido anteriormente. VI - Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, ou seja, o feminicídio, exemplo: matar esposa que o traiu. VII – Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, exemplo: matar policial que efetuou sua prisão. VIII - Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, exemplo: matar alguém usando como meio arma proibida, IX - Contra menor de 14 (quatorze) anos, exemplo: matar criança de 2 anos. Exercício II 1- Quais as condutas previstas no artigo 122 do CP? O artigo 122 do CP prevê uma série de condutas distintas. Induzimento ao suicídio ou à automutilação, Induzir, nessa hipótese a vítima não cogitava suicidar-se ou automutilar-se, o agente faz nascer na vitima a ideia, a vítima é convencida pelo agente. Instigação ao suicídio ou à automutilação, nessa hipótese a vítima já possuía a vontade, a ideia de suicidar-se ou automutilar-se, o agente reforça a vontade da vítima. Em ambas as hipóteses temos a participação moral. Ou seja, o autor incita a vítima a cometer o ato, contudo não participa materialmente. A última conduta tipificado no art. 122 é o auxílio ao suicídio ou à automutilação, aqui o agente possui uma participação material, o agente fornece meios que facilitem a execução, meios necessários para a execução, meios utilizados na execução, etc. 2- Qual o conceito de suicídio? Para Hungria, “a eliminação voluntária e direta da própria vida". Para que haja suicídio é imprescindível a intenção positiva de despedir-se da vida. Para Masson, “É a eliminação, supressão, destruição deliberada, voluntária e consciente da própria vida.” Ou seja, suicídio é ação voluntária e consciente em que o indivíduo implica a própria morte. 3- O suicídio é punido pelo CP? O suicídio não é punido pelo código penal ou mesmo sua tentativa, mas sim a conduta de terceiro que instiga, induz ou auxilia pessoa a ceifar a própria vida. 4- Quais os bens jurídicos protegidos pelo artigo 122 do CP? O art. 122 do CP está localizado no título I- dos crimes contra a pessoa e capítulo I- dos crimes contra a vida. Portanto, por lógica o bem jurídico tutelado pelo artigo deveria ser a vida. E, de fato, até o surgimento da lei 13.968/19, não havia qualquer dúvida que o artigo em questão tutelava apenas a vida. Todavia, a lei 13.968/19 acrescentou ao artigo o induzimento, instigação ou auxílio à automutilação, assim, o artigo passou a tutelar também a integridade física. Assim, o art. 122 tutela dois bens jurídicos: a vida e a integridade física. 5- Por que se diz que o artigo 122 é um tipo misto alternativo? Misto alternativo é aquele artigo plurinucleado, ou seja, que traz na sua redação dois ou mais verbos, duas ou mais condutas distintas. Como por exemplo, induzir, instigar ou auxiliar. Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso. No caso, a prática de somente uma ou mais dessas condutas, é suficiente para a caracterização do crime. A prática de uma ou mais condutas, no mesmo contexto fático e sucessivamente responderá por crime único. 6- É possível a prática do crime de participação em suicídio por omissão? Sim, há a possibilidade de participação no suicídio por omissão. Para a maioria da doutrina a participação por omissão só pode ocorrer quando a colaboração é material. Contudo, há uma corrente doutrinária que afirma que é possível a participação por omissão na hipótese de instigação. Explica José da Costa Junior: quando o sujeito exprime a terceiro a intenção de suicidar-se, o terceiro exercendo grande influência sobre o sujeito escolhenão o dissuadir da vontade, da ideia, mantendo-se calado e passivo. Sua conduta omissiva poderia em tese incriminá-lo. Nesse sentido, concorda Rogério Sanches Cunha, mas acrescenta “desde que o terceiro tenha o dever jurídico de evitar o evento.” Nos casos de participação material, há quem defenda que inexiste a possibilidade omissiva. Para José Frederico Marques, o auxílio ao suicídio é sempre comissivo, respondendo o omitente, conforme o caso, apenas por omissão de socorro (art. 135 do CP). Para a maioria da doutrina, entretanto, o art. 122 admite a possibilidade de omissão. Hungria ensina: “a prestação de auxílio pode ser comissiva ou omissiva. Nesse último caso só se apresenta quando haja o dever jurídico de impedir o suicídio”. 7- O tempo entre a indução e a concretização do resultado deve ser considerado pela lei, com o fim de imputar ao agente ativo a responsabilidade pelo ato? Sim, na teoria da imputação objetiva de Roxin, o tempo entre a indução e a concretização do resultado é um fator relevante a ser considerado. A imputação objetiva ocorre quando o comportamento do agente cria um risco proibido e esse risco se materializa no resultado. Portanto, se houver um intervalo significativo de tempo entre a conduta do agente e o resultado, a análise deve levar em conta se o risco criado pelo agente ainda estava presente e se contribuiu de forma significativa para a ocorrência do resultado. Se for determinado que o agente continuou a exercer influência sobre a situação durante esse período, sua responsabilidade pelo resultado pode ser mantida. 8- Qual o momento consumativo do crime previsto no artigo 122 do CP? O momento consumativo, tanto do induzimento, instigação ou auxilio, seja no que concerne ao suicídio seja no que tange a lesão corporal, com a atual redação do art. 122. Sendo entendimento pacificado, se dá no momento em que o agente induz, instiga ou auxilia a vítima, ou seja, sem a necessidade que haja a morte ou a lesão. Contudo, ressaltamos que antes da alteração legislativa de 2019, a lei 13.968, o entendimento era que o momento consumativo ocorre com a prática do núcleo verbal descrito no art., mas que a punição do crime estaria condicionada a superveniência da morte ou da lesão. 9- Discorra sobre os parágrafos do artigo 122 do CP O art. 122 possui 7 parágrafos. § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código. Ou seja, se do induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou autolesão sobrevém a vítima lesão grave ou gravíssima. § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte Ou seja, se do induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou autolesão é produzido o resultado naturalístico: morte. Seja dolosa, no caso do suicídio. Seja culposa, no caso da autolesão. § 3º A pena é duplicada: I - Se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil. Ou seja, motivo torpe aquele, motivo vil, ignóbil, repugnante. Motivo fútil, motivo banal, desproporcional ao ato realizado pelo agente. II- Se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. Ou seja, se é cometida pela internet, transmitida ao vivo, etc. Ou seja, se a vítima é menor de 18 anos ou por qualquer causa se torne mais vulnerável a resistir à coação, à influência realizada pelo autor. § 5º Aplica-se a pena em dobro se o autor é líder, coordenador ou administrador de grupo, de comunidade ou de rede virtual, ou por estes é responsável. Ou seja, se aquele que comete o ato típico é líder ou possui cargo administrativo em rede social. § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. (lesão corporal gravíssima). Ou seja, nos casos em que ocorre a consumação da autolesão ou tentativa de suicídio, quando a vítima é menor de 14 anos, enferma ou deficiente mental e não possui discernimento para a pratica do ato e não pode oferecer resistência, a pena aplicada deverá ser a de lesão corporal gravíssima, art. 129, parágrafo segundo. § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. Ou seja, nos casos em que ocorre tentativa do suicídio ou a autolesão com e resultado morte, quando a vítima é menor de 14 anos, enferma ou deficiente mental e não possui discernimento para a pratica do ato e não pode oferecer resistência, a pena aplicada deverá ser o do art. 121 caput, na modalidade culposa, isto é, nos casos de autolesão com resultado morte. Nos casos dolosos, suicídio consumado, a pena aplicada deverá ser a do art. 121, parágrafo segundo, inciso nono. 10- É possível o induzimento ao suicídio de forma genérica? O induzimento de forma genérica, ou seja, aquele dirigido contra pessoas indeterminadas, pessoas incertas não basta para que seja configurado crime previsto no art. 122. Ou seja, obras literárias, músicas, quadros, páginas na internet, vídeos, publicações, que façam apologia ao suicídio dirigidas ao público em geral não são consideradas crime. Ou seja, para que seja considerado crime, a apologia deve ser realizada contra uma pessoa certa ou um grupo determinado de pessoas 11- Explique o crime de infanticídio. O crime de infanticídio é uma especialidade do crime de homicídio, isto é, o infanticídio é o homicídio praticado pela progenitora contra seu próprio filho durante ou logo após o parto, sob a influencia de estado puerperal. A doutrina considera, ainda, que o infanticídio seria uma forma especial (privilegiada) de homicídio em razão dos sentimos fisiopsicológicos da gestante. 12- Quem pode ser sujeito ativo no crime de infanticídio? O infanticídio é um crime especial, ou seja, exige um sujeito ativo especifico. No caso, do infanticídio, o sujeito ativo é a progenitora, ou melhor, a parturiente que age sob influencia do estado puerperal. 13- Qual o momento consumativo do crime de infanticídio? É possível a tentativa? A consumação do tipo penal ocorre com a morte da nascente ou recém-nascido. Sim, por se tratar de crime plurissubsistente, ou seja, quando a execução pode ser fracionada em diversos atos, admite-se a tentativa. Ou seja, é iniciada a execução, mas não ocorre o resultado morte, por circunstâncias alheias a vontade do agente 14- O que é estado puerperal? Estado puerperal é o período de readaptação do corpo da mulher às suas condições normais, após o nascimento do bebe. Esse período enseja uma série de mudanças físicas e psicológicas, sendo marcado por diversas alterações hormonais, inclusive sendo comum a existência da depressão pós parto. É importante salientar que toda mãe passa pelo estado puerperal, embora algumas apresentem perturbações menores e outras mais gravosas, as últimas capazes de subtrair da mãe a plena consciência do que está fazendo. Além disso, não existe duração de tempo precisa de quanto duraria o período do estado puerperal, isto é, o tempo é indeterminável e variável. 15- Explique o critério fisiopsicológico que fundamenta o artigo 123 do CP. O critério fisiopsicológico adotado pelo código penal leva em consideração os desequilíbrios físicos e psicológicos oriundos do processo do parto, ou seja, as perturbações ocorridas durante o estado puerperal. Diferentemente do critério psicológico que levaria em consideração a ocultação da própria desonra, ou seja,quando a criança apresentasse alguma deficiência, quando o recém-nascido é fruto de relações extraconjugais, etc. Há também menção na doutrina do critério misto, no qual ocorreria a fusão de ambos os critérios. 16- É punível o infanticídio praticado na forma culposa? No que tange ao crime de infanticídio não existe a modalidade culposa, isto é, admite-se apenas o dolo, ou seja, quando a mãe, sob influência do estado puerperal mata dolosamente o próprio filho. Seja dolo direto, quando a mãe age diretamente no sentido de provocar a morte do próprio filho, exemplo asfixiando-o; seja dolo eventual, quando a mãe age indiretamente para matar o próprio filho, quando ele deixa de amamentá-lo. Quanto à possibilidade de punição do fato, há posições divergentes na doutrina. A primeira corrente entende que o fato é atípico, tendo em vista que o legislador não faz referência a modalidade culposa, bem como deve-se levar em consideração o desequilíbrio físico e mental experimentado pela mulher durante o estado puerperal. Contudo, existe outra corrente doutrinária que sustenta o ato de ceifar a vida de alguém, seja por imprudência, negligência ou imperícia, independentemente do momento em que ocorra deve configurar homicídio culposo, haja vista a importância do bem jurídico tutelado pelo art. 123 do CP, a vida. 17- Um homem que auxilia a mãe a matar o filho recém-nascido responde por infanticídio ou homicídio? O entendimento majoritário é de que todos respondem por infanticídio, haja vista, a adoção da teoria monista pelo código penal impedindo a imputação de crimes diversos aos concorrentes do mesmo fato. Art. 30: Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Por se tratar de condição elementar do tipo penal deverá ser comunicada a todos que concorrem para o crime. Há outra corrente doutrinária, vencida, que sustentava que a condição descrita no art. 123 é personalíssima e não pessoal, portanto, sendo impossível a comunicação do mesmo crime a mulher ao homem que a auxilia. Contudo, tendo em mente que o código penal não realiza essa distinção o entendimento não é mais aplicado. 18- Qual o conceito de aborto? O conceito mais difundido na doutrina é o de Mirabete “aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção”. Para Fragoso: “o aborto consiste na interrupção da gravidez com a morte do feto”. De modo geral, o aborto ou abortamento consiste em interromper a gravidez e destruição do produto da concepção, ou seja, eliminação da vida intrauterina. A doutrina identifica diversas espécies de aborto. Aborto natural, oriundo de causas espontâneas, geralmente de saúde da gestante. (indiferente ao direito penal). Aborto acidental, deriva de quedas, traumatismos, acidentes. (em regra atípico). Aborto criminoso, previsto no art. 124 a 127. Aborto legal ou permitido, art. 128. Aborto miserável ou econômico-social, por motivos de miséria ou incapacidade de financeira de sustentar a vida futura. Aborto eugênico: praticado em face de riscos que o feto nasça com deformidades físicas ou mentais. Aborto honoris causa. Realizado para ocultar gravidez adulterina. Aborto ovular, ate a oitava semana. Aborto, embrionário, até a décima quinta semana. Aborto fetal, após a décima quinta semana. 19- Qual o termo inicial da gravidez para o direito penal? Para o direito penal o termo inicial da gravidez ocorre com a nidação, ou seja, a fixação do óvulo fecundado nas paredes do endométrio. 20- Qual infração penal prática quem anuncia produtos ou métodos abortivos? De acordo com a lei 3.688, lei das contravenções penais, em seu art. 20: Anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto, isto é, quem anuncia produtos abortivos pratica contravenção penal, ou seja, há a ofensa a um bem jurídico, contudo a agente pratica uma infração penal com menor potencial ofensivo, a contravenção penal. 21- Discorra sobre o artigo 128 do CP. O artigo 128 prevê duas hipóteses em que o aborto não será considerado penalmente ilícito, ou seja, quando o aborto será permitido. No primeiro inciso o legislador faz referência ao aborto necessário, ou seja, quando é preciso escolher entra a vida do feto e da gestante, é imprescindível que o aborto seja o único meio de salvar a vida da gestante. Para que o fato possa incorrer nessa possibilidade é necessário que preencha três condições. 1) aborto praticado por médico, é importante ressaltar que o legislador faz referência a essa condição nos casos em que é possível aguardar a assistência médica, contudo, em caso de necessidade poderá ser executado por qualquer pessoa que tenha conhecimento para tanto (enfermeira, parteira, farmacêutica, etc.), inclusive a própria gestante, afastando-se a antijuridicidade do ato com base no estado de necessidade, art. 24 do CP. 2) O perigo de vida da gestante, não basta que a gravidez comprometa a saúde da gestante, mas tem que implicar em um real perigo de vida. 3) a impossibilidade do uso de outro meio para salvá-la, o aborto deve ser o único meio para salvar a vida da gestante e não apenas o mais cômodo ou mais fácil. Não deve haver outra maneira para salvar a vida da gestante. A doutrina entende que não há a necessidade do consentimento da gestante para realização do aborto ou autorização judicial, bastando a constatação que é indispensável realizar o aborto por profissional competente. Na segunda hipótese, o legislador prevê o aborto sentimental, ou seja, quando a gravidez é proveniente de estupro. Para Nelson Hungria: “nada justifica que se obrigue a mulher a aceitar uma maternidade odiosa, que dê vida a um ser que lhe recordará, perpetuamente, o horrível episódio da violência sofrida”. Para que se enquadre nessa hipótese o fato tem que se enquadrar em três categorias. 1) Que o aborto seja praticado por médico, nessa hipótese caso o aborto seja praticado por pessoa sem habilitação legal haverá crime, claro, resguardada a hipótese de perigo de vida da gestante. 2) que a gravidez seja resultante de estupro, ou seja que a gravidez seja fruto de crime contra a liberdade sexual da gestante. 3) prévio consentimento prévio da gestante ou representante legal, ou seja, para que possa haver o aborto é necessário prévia autorização da gestante ou de seu representante legal. Não é exigida, para realização do procedimento, qualquer espécie de autorização judicial. 22- Explique o artigo 124 do CP. O art. 124 prevê duas formas de aborto criminoso: o autoaborto, ou seja, quando a gestante provoca em si mesmo aborto; ou consentir que terceiro pratique aborto. Necessariamente o sujeito ativo do crime é a mulher, praticando o autoaborto ou consentindo que alguém pratique. Podendo haver concurso de agentes, contudo respondendo pelo art. 126 do CP. No que tange o sujeito passivo, há duas correntes doutrinárias. A primeira sustenta que o sujeito passivo é Estado; a segunda, majoritária, sustenta que o sujeito passivo é o produto da concepção. Ainda o crime não é punido a título de culpa, sendo admitido apenas o dolo. A consumação do crime ocorre quando há a morte do produto da concepção não importando se ocorreu dentro ou fora do ventre, contudo a morte deve decorrer de manobras abortivas. Admite-se a tentativa, ou seja, quando é realizada a prática abortiva, contudo, o feto não morre. 23- Explique o artigo 127 do CP De acordo com o art. 127 se a conduta descrita nos artigos anteriores (125 e 126) resultar em lesão corporal grave a pena deverá ser aumentada em um terço e se causa a morte da gestante deverá ser duplicada. Ou seja, se o agente provoca aborto sem o consentimento da gestante e do ato resulta lesão corporal grave ou morte da gestante deverá ter sua pena aumentada conforme as regras do art. 127. No caso do art. 126, só a agente provoca aborto com o consentimento da gestante e da ação decorre lesão corporal grave ou a morte da gestante deverá ter sua pena aumentada em conformidade com o art. 127. Para que o agente incorra no art. 127 não é necessárioque o aborto seja consumado, sendo necessário lesionar gravemente a agente ou provocar sua morte. Exercício III 1- Qual o bem jurídico protegido no crime de lesão corporal? O bem jurídico tutelado pelo art. 129 é a incolumidade física, corporal e mental pessoal do indivíduo. 2- Quem pode ser sujeito ativo do crime de lesão corporal? A lesão corporal é um crime comum, ou seja, qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo do delito. 3- Quem pode ser sujeito passivo no crime de lesão corporal? Em geral o sujeito passivo é o homem vivo, contudo há exceções. Nos casos do §1º Se resulta: IV da aceleração do parto e §2º Se resulta: V aborto, o sujeito passivo necessariamente deve mulher grávida. No caso do §7º, se a lesão é cometida contra menor de 14 anos ou maior de 60. No caso do §9º, se a lesão é efetuada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro. No caso do §12º, se a lesão é cometida contra membros do sistema prisional, da Força Nacional de Segurança Pública no exercício de sua função ou decorrência dela ou contra parente, cônjuge, companheiro em decorrência dessa condição. No caso do art. 13º, se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino. 4- Qual o momento consumativo do crime de lesão corporal? O crime é consumado no instante em que ocorre a ofensa à integridade corporal ou à saúde física ou mental da vítima. 5- A autolesão pode configurar infração penal? Em regra, a autolesão não é considerada crime. Contudo a autolesão pode ser utilizada como meio para o cometimento de crime, como por exemplo fraude para receber valor de indenização. 6- Cortar o cabelo contra a vontade da pessoa configura qual crime? Depende do dolo do agente, se o agente tem o dolo de lesionar responderá por lesão corporal. Se o agente tem a intenção de zombar, envergonhar a vítima, constranger, responderá por injúria real. 7- A pluralidade de ferimentos gera concurso de crimes? Depende, se todas as lesões são produzidas no mesmo contexto fático não, ou seja, se a pluralidade de atos que causaram as lesões pertence são realizadas no contexto de uma mesma conduta não haverá concurso de crimes. Contudo, se a pluralidade de lesões é realizada fora de um mesmo contexto fático, se as lesões são cometidas fora de uma mesma conduta, haverá concurso de crimes. 8- O que vem a ser uma lesão leve? A lesão corporal será de natureza leve quando não encaixar-se em nenhum dos resultados previstos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 129, ou seja, o critério utilizado para saber se a lesão corporal é de natureza leve é excludente, ela será leve quando não for nem grave, nem gravíssima e nem seguida de morte. 9- Qual o tipo de ação penal no crime de lesão corporal leve? De acordo com a lei 9099/95, lei dos juizados especiais cíveis e criminais, dispõe em seu art. 88: Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. Logo, a lesão corporal de natureza leve será pública condicionada à representação do ofendido. Contudo, há uma exceção. De acordo com a súmula 542 do STF: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. Ou seja, independentemente da natureza da lesão corporal, se cometida contra a mulher em contexto de violência doméstica será pública incondicionada. 10- Prostituta pode ser sujeito passivo do crime previsto no inciso I do parágrafo 1, do artigo 129? explique No caso do art. 129, §1º, I. Se a lesão corporal resulta: incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias; O presente inciso faz referência a incapacidade física ou mental para as ocupações habituais, por mais de trinta dias. A doutrina entende ocupação habitual como qualquer atividade corporal costumeira, tradicional, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, desde que lícita, ainda que imoral. Assim, de acordo com esse entendimento não há nenhum impedimento para que uma prostituta seja vítima do crime tipificado no art. 129, §1º, I. Podendo, assim, ser sujeito passivo do crime. 11- Explique o exame complementar necessário na lesão do inciso I, parágrafo 1, 129, CP? Nos casos do art. 129, §1º, I. O exame complementar para a averiguar a natureza da lesão será realizado num prazo de 30 dias a partir da data do cometimento do crime. Para, de fato, confirmar se a lesão pode ser enquadrada no referido dispositivo legal, através do laudo médico. Nos moldes do art. 168 §2º do CCP. A falta do exame médico complementar só poderá ser suprimida pela prova testemunhal. Art. 168 §3º do CPP. 12- A vítima não foi trabalhar por mais de 30 dias por vergonha da lesão. Caracteriza lesão grave? De acordo com Damásio de Jesus: “A relutância, por vergonha, de praticar as ocupações habituais não agrava o crime, se o ofendido deixa de trabalhar por mais de 30 dias em face de apresentar ferimentos no rosto”. Ou seja, se por simples constrangimento das lesões a vítima deixa de realizar suas ocupações habituais, não basta para que o crime seja agravado. 13- Discorra sobre o perigo de vida previsto no inciso II do parágrafo 1 do artigo 129. O perigo de vida, previsto no art. 129, §1º, II. Significa expor a vítima a uma possibilidade grave e imediata de morte, devendo ser um perigo efetivo, concreto, comprovado por perícia médica. Devendo o perito especificar qual o perigo de vida decorrente da lesão. Como por exemplo, grande perda de sangue, ferimento de órgão vital, necessidade de cirurgia de emergência, etc. Claro que não pode haver o dolo de matar a vítima, pois, assim seria configurada a tentativa de homicídio. 14- Discorra sobre o parágrafo 2º do artigo 129 do CP. No parágrafo segundo do artigo 129 do CP o legislador prevê as possibilidades de lesão corporal de natureza gravíssima, apesar de tal nomenclatura não estar presente no CP é amplamente difundida na doutrina. a- Incapacidade permanente para o trabalho, Mirabete explica que a incapacidade permanente para o trabalho deve ser para o exercício de trabalho de qualquer espécie de trabalho, ficando a vítima incapacitada apenas para a atividade específica que estava exercendo, mas podendo exercer outra, não configura lesão corporal gravíssima. Há, no entanto, entendimento minoritário no sentido de que bastaria a incapacidade para a ocupação específica anteriormente exercida pela vítima. b- enfermidade incurável, ou seja, transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estágio atual da medicina. A doutrina também considera incurável a enfermidade se o restabelecimento da saúde depender de intervenções cirúrgicas arriscadas ou tratamentos incertos. Ainda salienta a doutrina que não cabe revisão criminal caso a medicina evolua, permitindo a reversão da doença. c- Perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou seja, perda (amputação ou mutilação), inutilização (tornar inoperante, sem qualquer capacidade de exercer suas capacidades próprias). Tratando-se de órgãos duplos, a lesão para ser qualificada deve atingir a ambos. (olhos, rins, pulmões, orelhas). d- Deformidade permanente, dano estético aparente considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória. Desconforto para quem olha e humilhação para quem vê. e- Aborto, ou seja, a lesão corporal que provoca abortamento, isto é, interrupção da gravidez. É necessário diferenciar o tipo penal contido no art. 129 e aqueles contidos nos artigos 125 e 126. A diferença reside, exatamente, no dolo do agente. Enquanto nos artigos 125 e 126 o agente tem o dolo de provocar o aborto, no art. 29 o dolo do agente é lesionar e a título de culpa causa o aborto. É necessário salientar que é indispensável que o agente saiba da gravidez da vítima ou que esteja evidente que a vítima está grávida, jamais querendo ou aceitando o resultado mais gravoso. 15- O que é vitriolagem? O crime de vitriolagem é aquele perpetrado contraa vítima mediante o arremesso de ácido sulfúrico contra a vítima, com o objetivo de causar lesões corporais deformantes na pele e dos tecidos adjacentes, caracterizando, assim, lesão corporal gravíssima, em razão da deformidade permanente em conformidade com o art. 129, parágrafo 2º, IV. 16- estabeleça a diferença entre o art. 127 CP com o art. 129, §2º, V, CP A diferença reside, exatamente, no dolo do agente. Enquanto no art. 127 o agente possui o dolo de provocar aborto na vítima e em decorrência disso acaba lesionando ou provocando a morte da gestante, no crime de lesão corporal gravíssima do art. 129, parágrafo segundo e inciso V, o agente tem o dolo de lesionar a vítima e acaba culposamente provocando o abortamento. 17- Explique a lesão corporal seguida de morte. Na lesão corporal seguida de morte, 129, parágrafo terceiro, o agente tem a intenção de ofender a integridade física ou a saúde de outrem, contudo acaba por matar alguém culposamente. Ou seja, o agente possui o dolo de ofender a integridade de outrem, contudo o resultado obtido extrapola o esperado e o agente acaba matando a vítima. 18- A lesão corporal seguida de morte é julgada pelo Tribunal do Júri? O tribunal do júri possui a competência de julgar os crimes dolosos, ou intencionais, contra a vida. No caso de lesão corporal seguida de morte, o agente não possui o dolo de matar, apenas de lesionar, contudo, de forma culposa, acaba matando a vítima, assim, não ceifando a vida da vítima de maneira dolosa, ou seja, intencional, assim, não sendo competência do tribunal do júri. 19- Quais os elementos do crime de lesão corporal seguida de morte? O tipo penal possui três elementos. Primeiramente, uma conduta dolosa, dirigida a ofender a integridade corporal ou à saúde de outrem. Segunda o, um resultado culposo mais grave (a morte). Terceiro, um nexo causal que liga conduta e resultado. Exercício IV 1- Qual o conceito de honra? A honra pode ser conceituada como o conjunto de atributos morais, intelectuais e físicos referentes a uma pessoa ou o conjunto de predicados, condições conferidas a pessoa por si mesma ou pela sociedade. 2- O que é honra objetiva? A honra objetiva refere-se ao respeito que cerca cada pessoa no ambiente social em que vive, a reputação que conquista e da qual desfruta pela soma de valores sociais, éticos e jurídicos. É o reconhecimento do valor social do indivíduo pelos seus concidadãos. Como explica Pedroso. 3- O que é honra subjetiva A honra subjetiva refere-se ao sentimento íntimo que cada cidadão possui em relação às suas qualidades morais. É o apreço próprio que o ser humano confere às suas virtudes e caráter. 4- Qual a conduta típica no crime de calúnia? Imputar a alguém, implícita ou explicitamente fato criminoso sabidamente falso. O agente pode utilizar-se de palavras, gestos ou escritos. A calúnia atinge a honra objetiva do agente. É importante salientar que no crime de calúnia o agente deve imputar fato específico, bem descrito e marcado no tempo. Além disso, o agente poderá ser imputado se atribui a vítima fato que jamais ocorreu, mas também se o fato ocorreu, contudo não foi a vítima que o praticou. Comete crime não apenas quem cria, ou seja, que inventa, mas também quem divulga e propala fato sabidamente falso. 5- Qual a conduta típica no crime de difamação? Imputar a alguém fato sabidamente falso, embora o fato não seja criminoso. Contudo, ofensivo à reputação, a honra da pessoa a quem se atribuiu. A difamação atinge a honra objetiva do agente. Comete crime não apenas quem cria, ou seja, que inventa, mas também quem divulga e propala fato sabidamente falso. 6- Qual a conduta típica no crime de injúria? Diferentemente dos artigos anteriores, no crime de injúria o bem tutelado é a honra subjetiva da vítima. No crime de injúria o agente insulta, ofende, por ação, pessoa determinada, ofendendo-lhe a dignidade ou decoro. No crime de injúria não há, em regra, imputação de fatos, mas emissão de conceitos vagos e negativos sobre a vítima. 7- Pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime de calúnia? Na doutrina há posições divergentes, a primeira corrente entende que com advento da lei 9.605/98, crimes ambientais e responsabilidade penal da pessoa jurídica. A empresa pode constar como sujeito ativo do crime de calúnia e, assim, como tal, pode figurar como sujeito passivo do mesmo crime quanto lhe imputar falsamente crime contra o meio ambiente. Há outra corrente, no entanto, que entende que a pessoa jurídica não pratica crime, nem mesmo os ambientais, portanto não podendo figurar como sujeito passivo do crime de calúnia. Há também uma corrente que entende que admite a possibilidade da pessoa jurídica cometer crimes ambientais, no entanto, não podendo figurar como sujeito passivo do crime de calúnia. 8- Qual o momento consumativo do crime de calúnia? O crime consuma-se no momento em que terceiro toma conhecimento da imputação criminosa feita à vítima. 9- É possível a tentativa no crime de calúnia? Sim, contudo, a tentativa só é admitida quando o crime for cometido por escrito. 10- O que é exceção da verdade? A exceção da verdade consiste na possibilidade jurídica dada ao querelado de provar que o fato que imputa a outrem é verdadeiro. Ou seja, é um meio de defesa que se faculta ao acusado por crime de calúnia ou de difamação de funcionário público, no exercício das funções, para provar a veracidade do fato atribuído por ele à pessoa que se julga ofendida e o processou por isso. É importante salientar que a exceção da verdade só é admitida nos crimes contra a honra objetiva do agente. A exceção da verdade, no caso de calúnia, não será admitida: I- Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Nos casos de difamação só será admitido se o ofendido é funcionário público no exercício de suas funções. 11- O que é exceção de notoriedade? A exceção da notoriedade faculta ao réu demonstrar que suas afirmações são do domínio público, ou seja, que a conduta já era de amplo conhecimento público. 12- É punível a calúnia contra os mortos? Quem é sujeito passivo? Sim, de acordo com o art. 138 §2º: É punível calúnia contra os mortos. A honra é um direito atribuído aos vivos, assim, o sujeito passivo do crime poderão ser seus parentes, interessados na preservação da sua memória. 13- Pode o réu fazer prova da verdade do fato que imputou? Sim, o réu pode fazer prova da verdade do fato que imputou no caso da exceção da verdade. Isso significa que ele deve apresentar evidências concretas e convincentes para demonstrar que as declarações que fez são verdadeiras. Se o réu conseguir provar a veracidade das declarações difamatórias, ele pode ser absolvido do crime de difamação ou calúnia. No entanto, é importante ressaltar que a legislação e os procedimentos específicos podem variar de acordo com a jurisdição. 14- Estabeleça as diferenças entre exceção da verdade e exceção de notoriedade. As exceções da verdade e da notoriedade são defesas utilizadas em casos de difamação ou calúnia, mas têm diferenças significativas: Exceção da verdade: Nesse caso, o réu alega que a declaração supostamente difamatória é verdadeira, ou seja, que o que foi dito ou escrito sobre a pessoa é factualmente correto. Se comprovada a veracidade da declaração, o réu pode ser absolvido. Exceção da notoriedade: Aqui, o réu argumenta que a pessoa mencionada nas declarações difamatórias já é notória pelo fato em questão. Ou seja, a pessoa já é amplamente conhecida pelo que está sendo difamado, o que torna as declarações menos prejudiciais à sua reputação. Se essa defesa for aceita, o réu pode ser absolvido mesmo que as declarações sejam falsas. Em resumo, enquanto a exceção da verdade se concentra na veracidade das declarações difamatórias, a exceção da notoriedadese concentra na reputação prévia da pessoa mencionada. 15- Qual a diferença entre calúnia e denunciação caluniosa? A calúnia ocorre quando alguém imputa falsamente a outra pessoa a prática de um crime. Ou seja, é quando uma pessoa faz uma declaração falsa que atinge a reputação de outra ao acusá-la injustamente de cometer um crime. Por outro lado, a denunciação caluniosa ocorre quando alguém, sabendo ser inocente o acusado, o denuncia como autor de um crime à autoridade competente, com o objetivo de que se instaure investigação policial ou processo judicial contra ele. Ou seja, é quando alguém, de forma consciente e intencional, faz uma denúncia falsa à autoridade com o propósito de prejudicar a pessoa acusada. Ou seja, enquanto na calúnia a falsa imputação de crime é feita diretamente à reputação da pessoa, na denunciação caluniosa, essa falsa imputação é feita às autoridades, com o intuito de iniciar um processo contra a pessoa acusada. 16- A autocalúnia é crime? Não, em regra a autocalúnia não é considerada crime. Contudo, é necessário salientar a existência do art. 341 do CP: Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem. 17- Advogado tem imunidade profissional? Em decorrência do art. 142 do CP, os advogados não possuem imunidade ao delito de calúnia, pertencendo ao raio de inviolabilidade profissional apenas a difamação e a injúria, desde que cometidas no exercício regular de suas funções. 18- Qual o momento consumativo no crime de difamação? O crime se consuma quando terceiro toma conhecimento do fato inverídico atribuído à vítima. Trata-se de crime formal, ou seja, não sendo exigido o dano à reputação do imputado. 19- É possível a exceção da verdade no crime de difamação? Sim, contudo a exceção da verdade no crime de difamação admite-se apenas se o ofendido é funcionário público no exercício de suas funções. 20- Qual o bem jurídico protegido no crime de injúria O bem jurídico tutelado pelo art. 140 do CP é a honra subjetiva da pessoa, ou seja, sua autoestima, a forma que o próprio indivíduo enxerga a si mesmo. É o apreço próprio que o ser humano confere às suas virtudes e caráter. 21- A autoinjúria é crime? De acordo com Noronha: “não existe delito de autoinjúria, a menos que o dito e a expressão ultrapassem a órbita da personalidade do indivíduo”. Ou seja, em regra, não existe crime de autoinjúria, a menos que o fato ultrapasse a honra subjetiva do próprio indivíduo, por exemplo, quando a esposa se denomina de traída, ofendendo, assim, a honra subjetiva de seu marido. 22- É possível a exceção da verdade no crime de injúria? Na injúria, como não há imputação de fato, mas opinião que o agente emite sobre o ofendido, assim a exceção da verdade não é permitida. 23- É possível a exceção da notoriedade na injúria? Sustenta Nucci: “é impossível o expediente da exceção da notoriedade, pois este delito atinge a honra subjetiva, que é o amor próprio ou a autoestima do ofendido, e não a honra objetiva que é a sua imagem perante a sociedade”, ou seja, tornando impossível a notoriedade exigida para que seja admitida a exceção da notoriedade. 24- O que é injúria real? A injúria real ocorre quando, objetivando ofender a vítima, o agente utiliza violência ou vias de fato, como por exemplo: cuspir em alguém ou em sua direção, puxar o cabelo, etc. Para Hungria: “mais que o corpo, é atingida a alma.” 25- Discorra sobre o parágrafo 3 do artigo 140 do CP. O parágrafo 3º do art. 140, redação dada pela lei 14.532 de 2023, traz hipóteses em que o crime de injúria pode ser considerado mais gravoso, ou seja, trata-se de uma qualificadora. Se a injúria é realizada através de elementos que evoquem a religião ou a condição da pessoa idosa ou com deficiência. Contudo, é necessário salientar que antes da alteração legislativa ocorrida em 2023 o referido dispositivo a raça, cor, etnia, religião ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Assim, havia uma confusão na doutrina e na jurisprudência no que tange ao crime de injúria racial e o crime de racismo tipificado na lei 7.716/89, crime imprescritível, imprescritível e incondicional. Após a alteração legislativa houve a supressão das palavras raça, cor, etnia do dispositivo, que migraram para lei 7.716/89. 26- É possível retratação no crime de injúria? Não, a retratação é admitida apenas nos crimes de calúnia e difamação, visto que a retratação implica reconhecer o erro ao imputar fato inverídico a outra pessoa. No caso da injúria, não há fato para ser desmentido, logo, não admite a retratação. 27- Até quando o agente deve se retratar para extinguir a punibilidade? Para que seja extinta a punibilidade a retratação deve ocorrer antes da prolação da sentença ainda em primeira instância. Ainda, é necessário ressaltar que a retratação é um ato unilateral, ou seja, não necessita do consentimento do indivíduo. 28- Discorra sobre o artigo 145 do CP. O artigo 145 do CP informa que os crimes presentes no capítulo V do código penal, ou seja, os crimes contra honra, a exceção do 140 parágrafo segundo a ação penal se procede mediante queixa. Ou seja, a modalidade de ação penal desses casos é a ação penal privada. Exercício V 1- Qual a diferença entre crime de dano e crime de perigo? Nos crimes de dano exige-se a efetiva lesão ou dano ao bem juridicamente protegido pelo direito penal. Nos crimes de perigo exige-se uma prática, um comportamento típico que representa um perigo, que exponha o bem jurídico tutelado a possibilidade real de lesão. 2- Qual a diferença entre crime de perigo individual e perigo concreto? Nos crimes de perigo individual o delito causa perigo a uma pessoa ou a um grupo determinado de pessoas. Nos crimes de perigo coletivo o delito causa perigo a um grupo indeterminado de pessoas. No crime de perigo concreto é exigida uma comprovação de que realmente houve perigo de risco e de que houve uma lesão ao bem jurídico. No crime de perigo abstrato é exigida apenas o cometimento da ação descrita na norma. 3- Por que se diz que o crime previsto no artigo 130 é um crime de perigo? Isso ocorre, pois o art. 130 do CP prevê a punição não do contágio venéreo, mas a relação sexual perigosa, quando o agente sabendo ou devendo saber que está contaminado com doença venérea expõem ao perigo de, por meio de relações sexuais, contaminação da vítima. Ou seja, basta apenas que o agente pratique a conduta, expor alguém a contágio de moléstia venérea, não exigindo que a efetiva contaminação, mas expondo ao perigo de contaminação. 4- No caso do artigo 130, se a vítima estiver imune ou já estiver contaminada o autor responde por alguma infração penal? Se a vítima já está contaminada com a doença ou é imune a esta, não há perigo de contágio, tendo em vista que já se está contagiado ou é impossível contagiar. Assim, trata-se de um crime impossível (art. 17), não havendo infração penal. 5- No caso do marido contagia a esposa, e esta, o amante, o marido responderá pelos dois crimes? Não, o marido responde pela exposição que realizou a esposa e a esposa deverá responder pelo perigo que causou ao amante. Isso, pois o art. exige que o perigo seja causado em decorrência de relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso, ou seja, é necessário que haja contato corpóreo entre autor e vítima, de modo que aquele possa transmitir diretamente a doença para esta, 6- No caso de contágio ocorrer por outro ato que não o sexual? Ocorre o delito? Em regra, não, pois o art. 130 exige que ocorra a relação sexual ou ato libidinoso, ou seja, que haja contato corpóreo entre autor e vítima com fins libidinosos. Assim, se não há relação sexual, exigida no tipo, não haverá crime, salvo as hipóteses dos arts. 131 e 132 do CP. 7- Se, em decorrência da doença venérea, há produção do perigo de vida, o agente responde pelo artigo 130 do CP? Para Damásio de Jesus, se o agente expõe o ofendido a moléstia venérea que sabia estar contaminado e assumiu o risco de contaminação do ofendido, o expondo a perigo de vida,deverá responder por lesão corporal seguida de perigo de vida. Quando o agente expõe o ofendido, devendo saber ser portador da existência de moléstia venérea, responderá pelo crime de contágio venéreo simples. 8- Qual o momento consumativo do crime previsto no artigo 131 do CP? O momento consumativo do art. 131 ocorre quando há a prática do ato perigoso capaz de produzir o contágio. 9- O artigo 131 é uma norma penal em branco? Explique. Norma penal em branco é aquela lei que depende de outro ato normativo para que tenha sentido, uma vez que seu conteúdo é incompleto. Ou seja, que precisa de um complemento para que tenha sentido. O art. 131 é uma norma penal em branco, pois necessitamos que seja definido o que é moléstia grave.
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